Buscar

A HISTÓRIA DA FILOSOFIA GRECO ROMANA

Prévia do material em texto

A HISTÓRIA DA FILOSOFIA GRECO ROMANA: DOS PRÉ-SOCRÁTICOS AOS HELENÍSTICOS E A FORMAÇÃO DO PENSAMENTO OCIDENTAL
A filosofia é a perseguição do conhecimento último e primordial, a sabedoria em sua totalidade. O conhecimento filosófico é inerente ao indivíduo quando este atinge a sua capacidade de se questionar perante o seu meio: filosofar é a sua necessidade primária. Entretanto, esse campo do pensamento de forma coesa e estruturada só é concebido na figura de Tales de Mileto, que vivia na Grécia Antiga. Preocupado em explicar os fenômenos naturais de forma que não tivessem ligações a mitos, e sim, à razão, tales irá iniciar a busca pelo princípio único originário de todas as coisas, a physis. A physis irá ser adotada pelos intelectuais da época, causando uma revolução na civilização grega antiga, a qual será uma herança recebida de forma gradual e também impulsionadora a outros princípios que ajudarão na formação do pensamento ocidental. Segundo Tales, esse princípio é a causa de todas as coisas, sustentando-se na água, sendo a fonte originária de todas as coisas, a substância última de todas as coisas e o suporte infindável de todas as coisas (REALE; ANTISERI, 2005, pg. 30). 
Os filósofos que se apossaram deste princípio foram chamados de Naturalistas, sendo fundamental na busca do logos humano rumo à apreensão da realidade na sua totalidade, fazendo assim surgir posteriormente o que possibilita os avanços no pensamento ocidental: as ciências. Esse período esteve presente entre os séculos VI e V, e sua dissolução se deu através dos sofistas, principalmente, com Sócrates que embarcou na busca por determinar a essência do homem. 
Os sofistas transferiram a preocupação filosófica para a totalidade humana, isto é, para o homem e o que lhe concerne, sendo este um agente social, e passava seus conhecimento sob pagamento. Seus temas principais formaram a cultura na qual, nós ocidentais, vivemos: a retória, religião, arte, ética e política. Suas indagações impulsionaram o surgimento do período Humanista, cujo desenvolvimento se deu devido a mudanças econômicas e culturais, já que a expansão comercial superava as barreiras de cada cidade promovendo um contato maior com um mundo amplo. 
Protágoras é um célebre filosofo desse período. Seu princípio está calcado na antilogia, propondo o axioma do homo mensura. Por homo mensura, Protágoras entende que um critério absoluto é inexistente, sendo o homem o único critério: “O homem é a medida de todas as coisas”. Portanto para ele tudo é relativo, não existe um verdadeiro absoluto, o que pode ser para você, pode não o ser para mim. Assim, por intermédio do subjetivismo do homem, ensinou seus seguidores a edifcarem o seu mundo e serem os próprios produtores da sua própria história, viajando por diversas cidades gregas por cerca de 40 anos. 
Entretanto, foram os sofistas que deram inicio a possibilidade da filosofia moral, apesar de não alcançarem seu objeivo, o de determinar a natureza do homem enquanto homem. Destruíram antiga imagem poética do homem e a imagem tradicional da pré filosofia, porém, não conseguiu construir uma nova. Compreenderam que para o poder reconhecer a si mesmo, este deveria encontrar uma base mais sólida. Foi com Sócrates que essa base filósofica fora encontrada. 
Quando a cidade de Atenas tornou-se um importante centro cultural, logo após a vitória dos gregos contra os persas nas chamadas guerras médicas, assim, ficou caracterizada como um berço de influência tanto cultural quanto política e economica, em relação as outras cidades-estados. Nesse contexto histórico desenrola-se os primeiros passos para um período da filosofia comumente conhecido como Clássico ou como muitos preferem designar: período sócratico. Uma vez que o filosofo grego Sócrates é associado como sendo o divisor de águas do pensamento filosófico dessa fase. Em outras palavras, Sócrates redirecionou a filosofia para as questões que envolvem os seres humanos, ocorre um distaciamento da physis e, consequentemente, uma aproximação da psique. Assim, como diria mais tarde o pensador romano Cícero, coube ao grego "trazer a filosofia do céu para a terra". A cosmogonia e a cosmologia aos poucos foram tornando-se ausentes em detrimento de uma filosofia sócratica que buscava primeiramente a verdade.
Qualquer um que visitasse as praças públicas de Atenas poderia em algum momemto depara-se com um homem corpulento, baixo, nariz chato, boca grande, olhos saltados, vestes rotas, pés descalços, que vagava pelos ambitos da cidade lançando perguntas como “o que é a justiça ?” “O que é o bem?”, mas não em busca de respostas meramente simplificadoras ou adjetivadas, mas em busca do conceito em sí, do que ele chamava de verdade. As caracteristicas físicas e comportamentais faz pensar que esse homem, descrito acima, só pode ser Sócrates. O filosofo possuia um ansia em buscar o conhecimento, pois só em contato com ele que os seres humanos poderiam alcançar a virtude. Sendo assim, Sócrates sempre utilizava-se da indagação, da conversa, do diálogo, isto é, buscava um contato direto com seus interlocutores. Valorizava demasiadamente a modestia, o reconhecimento da própria ignorância, afirmando que um verdadeiro sábio nunca intitulava-se como sábio, justamente por isso a tão famosa alegação “só sei que nada sei”. Para Sócrates, a perfeição humana só conseguiria ser atingida através do uso da razão, para isso, o filosofo deixava um conselho “Conhece-te a ti mesmo”.
Ademais, Sócrates direcionava sua atenção para questões morais, como o dever, o bem e a justiça. Criando assim, um método de indagação que custaria sua vida. O método sócratico tem como objetivo levar o aluno a um processo de reflexão e descoberta. Primeiramente, ele empregava a irônia com o objetivo de desmontar as certezas para o outro reconhecer a própria ignorância. Na segunda parte do método, Sócrates utiliza a maieutica, que consiste na fase em que a verdade é parida, ou seja, “dava luz” a ideias novas.
Portanto, Sócrates não queria um conhecimento vendido semelhante ao dos sofistas, ele buscava um saber natural que o proprio ser humano pudesse encontrar dentro do seu interior, não apenas algo fantasioso. Desse modo, enquanto os sofistas vendiam conhecimentos decorados e relativos, Sócrates queria a troca. Logo, buscou ela até nos seus últimos instantes de vida, defendeu seus principios, incomodando, desse modo, os detentores do poder em Atenas. Levado ao tribunal acusado de não reverenciar os deuses de Atenas, Sócrates foi condenado a morrer ingerindo um veneno denominado Circunta. Por luta por aquilo que todos necessitam: a liberdade de expressão.
Ao valorizar demasiadamente o diálogo, Sócrates não escreveu nenhuma obra, os maiores pensamentos do filosofo foi Platão quem transmitiu em suas obras, principalmente uma denominada Apologia a Sócrates. Platão foi o mais importante discipulo de Sócrates, sua filosofia é orientada em muitos pontos pela politica, mas também busca a natureza do conhecimento. 
A filosofia de Platão fundamenta-se basicamente no chamado Mito da Caverna, um dialogo que Platão utiliza Sócrates e Glauco para transmitir seus pensamentos acerca do mundo. Para ele, estamos presos em uma caverna escura de costas para um fogo e de frente a uma parede branca enxergando apenas sombras que são atribuidas como a realidade. Porém, a partir do momento que os prisoneiros conseguem sair da caverna e ir em direção a luz, o conhecimento verdadeiro pode ser alcançado. O mito da caverna auxilia tanto para explicar a teoria das ideias do filosofo como para elucidar a teoria política.
Dessa forma, a teoria das ideias consiste na separação do mundo em dois: mundo sensível e mundo inteligível. O primeiro é mortal, só pode ser percebido pelos sentidos, ilusório, onde tudo é devir. Já o segundo é imortal, eterno e imutável. No mundo sensível as coisas são meras aparencias, assim como, as sombras na parede da caverna, as verdadeiras formas estão no mundo das ideias, isto é, são provenientes de um modelo ideal. Logo, na visãode Platão não é possível realmente aprender, pois conhecer é reconhecer, aprender é lembrar.
Outrossim, a teoria de Platão também é muito voltada para o campo político, um vez que o mesmo é filho de uma família com veia política em Atenas, até dizem que Platão queria seguir carreira política. Contudo, arrasado com a morte de seu mestre desencantou-se em exercer tal função. Todavia, não deixou de escrever sobre o campo político, uma de suas mais importantes obras denonimada A républica comprova bem essa afirmação. No livro, Platão direcionou suas ideias na construção de uma pólis ideal , um modelo de governo intitulado Sofrocacia, em outras palavras, poder da sabedoria. Os que seriam destinados a ocupar esse governo era o filosofo-Rei que para tal, passaria por um treinamento de cerca de 50 anos. Porém, aqueles que não conseguissem tal prodigiosidade ocupariam os outros lugares da hierarquia. Resumidamente, no topo o filosofo-rei, logo depois os guardas que serviriam para a defesa da pólis e, no fim, os comerciantes e artesãos os quais ficariam responsaveis pela subsistencia da cidade. 
Portanto, a filosofia de Platão é simultaneamente política e ética, ao mesmo tempo em que fala da educação fala de uma metafísica da Alma e do Bem, sua filosofia é teologia, antropologia, estética, é cosmologia e crítica social e, por isso, como afirma Tiago Lara (1989) continua sendo estudada ainda hoje, mesmo depois de dois mil anos de sua existência. 
Ainda em Atenas, a filosofia se desenvolvia em suas veias históricas. Aristóteles trouxe uma gama de contribuição para a mesma. Discípulo de Platão, Arístóteles estruturou o estudo da Metafísica, introduziu a ética e sua filosofia também abrangeu o Estado, sendo uma enorme influência no desenvolvimento do pensamento ocidental, principalmente, para a filosofia de São Tomás de Aquino, na idade média. 
A metafísica é uma ciência que tem um fim em si mesmo, não sendo voltada para objetivos práticos ou empíricos, não respondendo as necessidades materiais, mas sim, as espirituais, que se tornam presentes quando a satisfação das materiais estão ausentes. Assim, dividiu a ciência em três ramos: ciêncas teóreticas, que buscam o saber em si mesma; ciências práticas, que buscam o saber para alcançar a perfeição moral; e as ciências poiéticas, que buscam o saber para produzir determinado objeto. E definiu a metafísica em: indagações sobre as causas dos príncipios primeiros ou supremos; indagações sobre o ser enquanto ser; indagações sobre a substância; indagações sobre Deus e a substância supra-sensível.
A ética aristótelica gira em torno do fim supremo, a felicidade. Tudo tende ao bem. A felicidade para aristóteles consiste em o homem aperfeiçoar-se enquanto homem. Portanto, não basta apenas viver como homem, pois até seres vegetativos assim o vive; nem viver na vida sensitiva, pois assim, os animais também o vivem. Se o homem quer viver bem deve viver segundo a razão. O gozo não pode ser felicidade, pois este escraviza o homem; nem o acúmulo de riqueza, pois este é meio e portanto, não pode ser o fim. Entretanto, esta não pode estar ausente podendo comprometer a felicidade.
Outrossim, Aristóteles também voltou sua teoria para a lógica:
“Objeto da lógica é a proposição, que exprime, por meio da linguagem, os juízos formulados pelo pensamento. A proposição é a atribuição de um predicado a um sujeito: S é P. O encadeamento do juízos constitui o raciocínio e este se exprime logicamente por meio da conexão de proposições; essa conexão chama-se silogismo. A lógica estuda os elementos que constituem uma proposição, os tipos de proposições e de silogismo e os princípios necessários a que toda proposição e todo silogismo devem obedecer pra serem verdadeiros.” (CHAUI, 2009, p. 108). 
Assim, a lógica não era uma ciência teóretica, nem prática ou produtiva, mas sim, uma ferramenta para estas ciências. Eis que as obras lógicas de Aristóteles recebeu o nome de “órganon”, palavra grega que significa instrumento. 
Portanto, o periodo clássico finaliza-se com uma ampla bagagem cultural que, querendo ou não, influenciaria no cotidiano de toda a população grega e mais tarde romana. O novo periodo que inicia-se mesmo sendo posterior aos sócraticos diverge em alguns pontos das visões a respeito do mundo de Sócrates, Platão e Aristoteles.
Com isso, diante de um contexto histórico conturbado, a conquista do Oriente empreitada por Alexandre Magno produziu uma revolução de grande importância, pois, de acordo com Reale (2006) encerrou uma era e abriu outra. A política de Alexandre Magno destruiu a pólis em todos os sentidos. Esse contexto histórico marca o último período da filosofia intitulado de Helenístico, ou ainda greco-romano, é evidente nessa fase o desaparecimento da polis grega deixando de ser o centro cultural do império romano. É uma ruptura na ligação de pertencimento do homem em relação a sua pólis. Em palvras mais claras, ocorre uma mudança no viés espiritual do cidadão grego, ele passa a ser um súdito e não mais um cidadão livre, é um contexto político conturbado. A filosfia helenistica tenta adequa-se a nova realidade histórica, muito mais intensas do que as obras que tratavam do político no período anterior. O periodo Helenistico pode ser conhecido também como pós-socratico, pois promoveu um retorno a filosofia sócratica, no sentido do homem buscar realmente em sí, aquilo que precisava. Não obstante, o conhecimento Helinístico mudou o curso da filosofia a volta de suas preocupações para os problemas éticos, questões como : a felicidade, ataraxia, o ideal sábio.
As escolas do período helenistico são precisamente divididas em : Estoicos, Epicuristas, Céticos, os pequenos socráticos são: cínicos, cineraicos e megáricos.
Portanto, a filosofia molda as bases históricas e induz primeiramente a busca pela reflexão acerca da origem do universo, posteriormente, a caminhada em direção a verdade, fundamentada em Aristóteles pelas questões lógicas e metafisicas e, por último, trata das questões muito ligadas as condições do homem enquanto ser humano. A filosfia exerceu também grande influição no campo político transformando as estruturas da pólis fazendo pensar sobre a democracia e até hoje cuida do pensar e sentir dos homens, assim como do autoconhecimento, ela trata das indagações dos homens. Para finalizar, “filosofo não é quem sabe apenas pensar e construir sistemas, mas é, sobretudo, quem sabe viver e morrer em acordo com o seu sistema”. (REALE, 2006, pg. 3). Assim, é possivel perceber claramente a interligação da história com a filosfia greco-romana e como uma acaba andando junta com a outra e influenciando no pensamento ocidental.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANTISERI, Dario; REALE, Giovanni; História da filosofia: Antigüidade e Idade Média. 3ed. São Paulo: PAULUS, 1990.
CHAUI, Marilena; CONVITE A FILOSOFIA. 4ed. São Paulo: Loyola, 2006.
ARANHA, Maria Lucia Andrade; FILOSOFANDO: Introdução à Filosofia. 4ed. São Paulo: Moderna, 2009. p. 149-165.

Continue navegando