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Septicemia Hemorrágica em tilápias causadas pela bactéria Aeromonas. Etiologia As principais espécies patogênicas do gênero Aeromonas para peixes são a Aeromonas hydrophila, A. caviae e A. sóbria (bacilos gram-negativos, mesófilo, pertencente à família Aeromonadaceae, não formador de esporo, possuem flagelos polares e são anaeróbicos facultativo, considerado patógeno aquático emergente, amplamente distribuído no meio ambiente e representa um problema preocupante para a Saúde Pública e para a saúde animal, devido à alta patogenicidade). Entre elas, a bactéria A. hydrophila destaca-se como patógeno importante para o homem e os peixes, o patógeno tem sido descrito como causador de doenças em várias espécies de sangue frio (peixes, répteis e anfíbios), capaz de ser transmitida de animais para humanos, e vice-versa caracterizado, portanto, como zoonose. Aeromonas hydrophila. Coloração Gram negativa. Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Aeromonas Bactérias do gênero Aeromonas são capazes de sobreviver e multiplicar em baixas temperaturas em grande variedade de produtos alimentícios estocados entre 2 e 10ºC, possuem fatores de virulência, tais como hemolisinas, aerolisinas, proteases, adesinas, enterotoxinas, lipases e fosfolipases. Essas bactérias são encontradas em diversos habitats, tanto em ambiente aquático quanto em terrestres, e fazem parte da flora intestinal normal dos peixes. São considerados patógenos facultativos, ou oportunistas, que só irão causar a doença quando os peixes forem submetidos a fatores estressantes. Espécies susceptíveis As infecções por bactérias do gênero Aeromonas são comuns em diversas espécies animais, inclusive no homem, e é especialmente importante para a aquicultura devido à capacidade de infectar uma variedade enorme de peixes de cultivo e silvestres, incluindo a tilápia (Oreochromis spp.), o pintado (Pseudoplatystoma corruscans) e o pacu (Piaractus mesopotamicus). Epidemiologia da doença Essas bactérias são encontradas em diversos habitats (ambientes terrestres, aquáticos, no homem e nos animais) e são comuns em ambientes aquáticos, podendo, inclusive, fazer parte da microbiota de peixes. Para os peixes, bactérias do gênero Aeromonas são consideradas bactérias oportunistas, organismos patogênicos facultativos e manifestam- -se em hospedeiros enfraquecidos. Transmissão A transmissão é horizontal pelo contato direto entre animal infectado e animais saudáveis ou via água ou sedimentos. Para o homem, a principal via de transmissão é a oral (água e alimentos contaminados), ou por via cutânea em aquaristas, piscicultores ou manipuladores de alimentos. Pessoas expostas ao contato direto com peixes, como exemplo, trabalhadores de pisciculturas, pescadores, comerciantes e processadores de peixes devem ser cuidadosas ao manipular esses produtos, pois os peixes podem estar infectados por cepas de Aeromonas e algumas delas, como A. hydrophila, podem causar afecções de pele, principalmente em pessoas imunocomprometidas Sintomatologia clínica no peixe Os sinais clínicos observados em peixes infectados por Aeromonas móveis, como o próprio nome da enfermidade sugere, são típicos de uma septicemia bacteriana, muitas vezes com presença de hemorragias. Segue abaixo alguns sintomas normalmente associados a esta enfermidade. Deve-se ressaltar que, estes sintomas também podem estar associados a outras bacterioses. Sinais clínicos externos no peixe · Lesões hemorrágicas de pele em diferentes regiões do corpo, especialmente na base das nadadeiras. (fig. 1); · Lesões de pele típicas de erosões (fig. 2 e 3); · Natação lenta e falta de apetite. Estes sintomas podem aparecer em conjunto ou individualizados. · Escamas eriçadas, olhos hemorrágicos e ascite (líquido na cavidade abdominal). · Palidez de brânquias e mucosas (pode indicar anemia). Em muitas ocasiões, o intestino e a cavidade abdominal podem apresentar líquido sanguinolento além de aumento do baço e também dos rins. fig 1 fig 2 fig 3 Sinais clínicos em humanos A gastroenterite é a mais prevalente forma de infecção humana causada por Aeromonas sp. No entanto, esses microrganismos já foram descritos como agentes causais de outras infecções, tais como: septicemias, endocardites, meningites e pneumonias, embora estas possam ocorrer com menor frequência e, normalmente, estejam associadas a pacientes imunodeprimidos Outras infecções também têm sido associadas a bactérias desse gênero, como: infecções de pele, do trato urinário, oculares, síndrome urêmica hemolítica. Pode ocorrer quadros de diarreia aguda, agente complicador em pacientes apresentando cirrose hepática e, mais raramente, fasceíte necrosante, a qual pode acometer pacientes imunodeprimidos, apresentando queimaduras ou que tenham sofrido trauma físico em ambientes aquáticos onde a bactéria se faz presente. Embora a dose infectante de Aeromonas para o ser humano não seja conhecida e a cocção adequada provavelmente inative essas bactérias, a manipulação e a contaminação cruzada podem representar um perigo à saúde, principalmente para populações susceptíveis, tais como: crianças, idosos e imunocomprometidos. Patogenicidade A gravidade da infecção dependerá do estado imunológico dos animais. Nos casos mais graves, as bactérias podem acometer diferentes órgãos, prejudicando funções vitais dos peixes e os levando à morte. Necroses e infiltrados inflamatórios são relatados em exames histopatológicos, particularmente em rins e baço, evidenciando grande impacto na saúde dos animais. A multiplicação e consequente liberação de endotoxinas ou LPS por bactérias Gram negativas, como A. hydrophila, desencadeia o processo séptico ou endotoxemia, que pode levar à mortalidade do homem e de animais (RAU et al., 2007). A propriedade endotóxica dos LPS está relacionada à liberação de sua fração denominada lipídeo A, que é oriunda da lise das bactérias e promove a grande reação inflamatória conhecida como choque séptico. O processo séptico tem sua origem a partir do contato do organismo com componentes microbianos que ativam o sistema de defesa, o qual, por sua vez é responsável pela liberação de mediadores inflamatórios. Nesse sentido, citocinas como TNF-α, IL-6 e IL-8 são inicialmente produzidas no sítio de infecção, favorecendo a migração e ativação das células do sistema de defesa. As consequências desta resposta inflamatória exacerbada e descontrolada são o comprometimento de muitos órgãos e o quadro evolui para o choque e a síndrome da insuficiência múltipla dos órgãos, que é acompanhada de alta mortalidade. Diagnóstico O diagnóstico de doenças de peixes geralmente é estabelecido por sinais clínicos e demonstração da presença dos patógenos nas lesões. Os sinais clínicos e alterações histopatológicas fornecem vantagens para o diagnóstico das doenças bacterianas de peixes, porém para um diagnóstico preciso são necessárias técnicas microbiológicas para o isolamento e identificação dos agentes patogênicos. Ademais, a análise histopatológica dos órgãos permite detectar sinais das doenças que não são facilmente identificados no exame macroscópico, auxiliando assim na manutenção da saúde dos peixes. Impacto econômico O impacto econômico causado por esta enfermidade deve-se diretamente às mortalidades observadas e também à diminuição de ganho de peso dos animais doentes. Normalmente, a mortalidade está associada a manejos grosseiros, transportes, classificações e queda na qualidade de água. Quanto maiores os animais e mais graves as infecções, maiores serão os impactos econômicos desta doença junto às criações. Não existem dados precisos sobre as perdas econômicas referentes à esta enfermidade, mas sabe-se de seu grande impacto econômico nas criações de tilápias no Brasil. Tratamento Sendo uma doença de origem bacteriana, a Septicemia Hemorrágica Bacteriana pode ser tratada com o uso de antimicrobianos especificamente desenvolvidos e registrados para uso aqüícola. O uso de vacinas específicas também pode ser realizado como método preventivo. De um modo geral, as espécies de aeromonassão sensíveis à tetraciclina, gentamicina, cloranfenicol, sulfonamidas, amicacina, nitrofurantoína, tobramicina e cefalosporina de terceira geração e apresentam- se resistentes à penicilina, ampicilina, carbenicilina, eritromicina e vancomicina. Prevenção, manejo e controle Adquirir alevinos e juvenis provenientes de estações de reprodução que garantam a qualidade dos animais e pratiquem um bom manejo sanitário. Realizar a desinfecção química de tanques e utensílios. Trabalhar com densidades de animais compatíveis com a estrutura e localização dos viveiros escavados ou tanques-redes. Evitar as sobras de ração por meio do monitoramento das mortalidades e da realização de biometrias semanais ou quinzenais para ofertar a quantidade correta de ração. Retirar, rapidamente, dos tanques ou viveiros peixes mortos ou moribundos, pois constituem a principal fonte de infecção para os outros animais. Evitar a manipulação excessiva dos peixes. o Quarentena de alevinos antes de introduzi-los na piscicultura. Boas práticas de manipulação, juntamente com procedimentos de sanitização adequados, podem ser úteis para prevenir a exposição do ser humano a essas doenças.
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