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CONHECIMENTO E MÉTODOS DO CUIDAR EM ENFERMAGEM Alexandra Bulgarelli do Nascimento O cuidado Objetivos de aprendizagem Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados: Definir o cuidado integral em saúde. Identificar as dimensões do cuidado de enfermagem. Descrever as ações de enfermagem associadas ao cuidado humani- zado em saúde. Introdução A Enfermagem tem como objeto de sua atuação profissional o cuidado ao indivíduo, a famílias, a grupos sociais e coletividades, devendo ser oferecido de forma integral e humanizado, haja vista que as necessidades em saúde das pessoas se mostram a partir de diferentes dimensões existenciais. Essas dimensões são de natureza biológica, social, cultural, epide- miológica, psicológica, entre tantas outras, as quais impactam a forma de adoecimento e morte de diferentes populações. Neste capítulo, você compreenderá que o cuidado de enfermagem deve ser centrado em práticas integrais, visando ao bem-estar, e que o enfermeiro deve se utilizar da análise de diferentes dimensões da existên- cia humana para prover esses cuidados organizados a partir da atuação assistencial, de educação em saúde, gerencial e de construção e consumo do conhecimento científico. Integralidade do cuidado em saúde A prática profi ssional de enfermagem se relaciona ao cuidar de indivíduos, famílias e coletividades, oportunizando bem-estar a essas pessoas (TAYLOR et al., 2014). Para isso, é fundamental que o profi ssional de enfermagem com- preenda o processo de saúde e doença de forma ampliada, ou seja, para além das disfunções orgânicas relacionadas à esfera biológica do cuidado em saúde. Essa forma de atuação é essencial, uma vez que há situações em que o conhecimento das patologias e as condutas direcionadas para contê-las não são suficientes para responder às necessidades em saúde das pessoas (TAYLOR et al., 2014). Uma enfermeira que trabalha no pronto-socorro de um hospital geral foi acionada, em um de seus plantões, para atender um idoso que estava sem se alimentar há dois dias. Ao avaliar esse paciente, a profissional identificou que ele estava extremamente emagrecido e fazendo uso de uma sonda nasoenteral para administração de dieta, a qual estava sendo produzida pela esposa idosa do paciente, que comprava os alimentos e os processava no liquidificador. Entretanto, ela relatou que o líquido da dieta não estava descendo pelo frasco, sendo assim, o paciente não estava se alimentando. Analisando essa situação, percebe-se que essa enfermeira precisa ter conhecimentos sobre a avaliação clínica do paciente, mas, além disso, ela deve ter competências direcionadas à compreensão da dinâmica familiar do paciente e da sua cuidadora, bem como da inserção social deles, a fim de subsidiar as orientações adequadas sobre o processo de produção da dieta em domicílio. A compreensão ampliada do processo de saúde e doença tem como pres- suposto entender que a saúde não se refere à ausência de doença, mas, sim, a um conjunto de aspectos provenientes do meio de organização social e de viver das pessoas, os quais influenciam as formas de adoecer e morrer. A organização social é um elemento que determina os desfechos clínicos das pessoas pertencentes a grupos sociais específicos. O cuidado2 Em uma determinada localidade, foi identificado um elevado número de mortes decorrentes de doença arterosclerótica. A análise demonstrou que as pessoas que vivem nesse local não têm acesso a espaços que oportunizem a prática de atividade física regular, tampouco ao diagnóstico precoce desse tipo de doença e, consequentemente, ao tratamento indicado em tempo hábil. Em contraponto a essa realidade, cita-se outra região — a 10 km de distância — onde as pessoas dispõem de um espaço público para a realização de atividades aeróbicas diárias e de um sistema de encaminhamento para a realização de exames complemen- tares mais ágeis, o que traz como resultado melhores indicadores da condição de saúde desse grupo social, evidenciados pela menor ocorrência de doenças arteroscleróticas e pela maior sobrevida nos casos. A comparação entre essas duas situações demonstra que a organização social — denotada por meio do acesso à atividade física regular, bem como a serviços de saúde efetivos — impactou o desfecho de mortalidade nos territórios. Nesse sentido, emerge a integralidade do cuidado em saúde como posi- cionamento profissional obrigatório para o atendimento às necessidades em saúde individuais, de grupos familiares e de coletividades. Assim, a integralidade se configura como um ponto central para o sucesso da implementação das ações de saúde que venham a ser propostas, uma vez que impõe, ao profissional de enfermagem, a necessidade de compreensão das diferentes esferas que compõem a existência humana, as quais são de natureza biológica, psicológica, cultural, social, geográfica, epidemiológica, entre outras, e que influenciam o resultado na condição de saúde das pessoas (TAYLOR et al., 2014). 3O cuidado Para a efetividade das ações em saúde, é fundamental a adoção de práticas pautadas na integralidade do cuidado, uma vez que o processo de saúde e doença tem grande complexidade, o que exige do profissional de enfermagem um posicionamento ampliado para responder às necessidades de saúde individuais, de grupos familiares e sociais, bem como de coletividades, possibilitando a garantia de bem-estar a essas pessoas. Dimensões do cuidado de enfermagem Uma ideia inicial e do senso comum, ao se pensar sobre como o cuidado de enfermagem é oferecido às pessoas, está atrelada à realização de procedimentos, principalmente em ambiente hospitalar, como aferição de pressão arterial, medição da temperatura, administração de medicamentos, entre outros. Entretanto, o cuidado de enfermagem é muito mais amplo do que essa ideia inicial e que a população em geral tem sobre as práticas de enfermagem. Para compreender a maneira como ocorrem os cuidados de enfermagem, é fundamental considerar a integralidade do cuidado, que se materializa na realidade dos serviços de saúde, por meio das dimensões do cuidado de en- fermagem, incluindo a dimensão assistencial, de educação, gestão e pesquisa. Dimensão assistencial A dimensão assistencial do cuidado de enfermagem se refere ao cuidado direto ou indireto ao paciente. O cuidado direto é aquele em que o profi ssional de enfermagem realiza os cuidados, propriamente ditos, no paciente. Esse tipo de cuidado se refere à mensuração dos sinais vitais (pressão arterial, frequência cardíaca, frequência respiratória e temperatura), à me- dição da dor, à administração de medicamentos por via oral, subcutânea, intramuscular e/ou endovenosa, ao encaminhamento e à supervisão do banho de aspersão, ao auxílio no banho de cadeira, à realização de banho no leito e a procedimentos de reanimação, diante de uma parada cardiorrespiratória, de hemodiálise, avaliação clínica, anamnese, entre outros. O cuidado4 Já o cuidado indireto se relaciona à supervisão realizada pelo enfermeiro junto a auxiliares e técnicos de enfermagem, os quais precisam estar aptos para organizar e acompanhar a assistência direta prestada, identificando instabilidades clínicas dos pacientes, bem como a potencialidade de eventos adversos que devem ser prevenidos, além de intervir nas situações em que é necessária a sua atuação de forma direta (CHULAY; BURNS, 2012). Dimensão de educação em saúde A dimensão de educação em saúde é muito presente na prática profi ssional do enfermeiro, o qual se utiliza dos seus conhecimentos para orientar tanto a equipe de enfermagem, quanto os pacientes e familiares (CHULAY; BURNS, 2012). Para uma atuação de excelência nessa dimensão do cuidado de enfer- magem, o enfermeiro deve ter conhecimento técnico-científico consistente sobre o tema que necessita atuar como educador. Além disso, é preciso que ele tenha competências comportamentais e habilidades direcionadas ao uso de linguagemadequada conforme o público-alvo, bem como para a escolha da estratégia de intervenção que seja coerente com a situação em que atuará. Dimensão gerencial A dimensão gerencial de atuação do enfermeiro se refere à gestão do cuidado em saúde, o qual é compreendido a partir da integralidade, demanda desse profi ssional conhecimentos acerca dos recursos de saúde necessários para a proposição de um plano assistencial de qualidade. Os recursos para que a assistência de qualidade seja oferecida ao paciente envolvem qualificação profissional, planejamento financeiro e alocação de materiais, medicamentos e equipamentos. Isso exige do enfermeiro um sólido conhecimento para reconhecer as necessidades em saúde dos pacientes, bem como sobre os recursos pertinentes para responder a essas necessidades com eficiência, ou seja, no momento correto, para o paciente correto e com o menor custo possível. Dimensão de pesquisa A dimensão de pesquisa se ocupa de construir, organizar e consumir conhe- cimentos científi cos que embasam as práticas de enfermagem (CHULAY; BURNS, 2012). 5O cuidado Essa dimensão do cuidado de enfermagem é de extrema relevância, haja vista que sustenta o consenso em relação à forma como o cuidado direto e/ou indireto será prestado ao paciente. Além disso, ela tem como pressuposto o desenvolvimento de pesquisas, a partir do rigor científico preconizado, bem como do consumo dos resultados dessas pesquisas, visando a trazer melhorias no cuidado de enfermagem ao paciente. Um enfermeiro atuante em uma Unidade Básica de Saúde tem acolhido um número crescente de situações de violência doméstica contra crianças e adolescentes. Para nortear e organizar a sua prática como enfermeiro, ele buscou, na literatura científica, artigos que se propuseram a discutir a atuação do profissional enfermeiro nesses casos. Diante do apresentado, o enfermeiro fez uso da dimensão de pesquisa para embasar a sua prática profissional, o que permitiu a ele um maior embasamento técnico-científico sobre a condução de casos de violência doméstica contra crianças e adolescentes. Cuidado humanizado em saúde A humanização do cuidado em saúde é um tema em debate, devido à crescente especialização dos profi ssionais da saúde, à incorporação de tecnologias duras (p. ex., equipamentos, dispositivos, medicamentos, procedimentos invasivos, entre outros), à fragmentação do processo de cuidar e à utilização de sistemas informacionais, os quais resultam na menor interação entre o paciente/familiar e os profi ssionais da saúde. Em 2004, o Ministério da Saúde publicou a Política Nacional de Humani- zação, a qual se propõe a resgatar, por meio de intervenções na condução do processo de cuidar, a humanização do cuidado em saúde. O cuidado6 Acesse o link a seguir para ler a Política Nacional de Humanização, publicada em 2004. https://qrgo.page.link/93E7 O resgate da interação humanizada no processo de cuidar é fundamental, sendo assim, a Enfermagem se destaca como uma área do conhecimento que tem, em sua essência, o cuidado como objeto profissional. As ações de enfermagem estão ancoradas na compreensão integral do cuidado em saúde, o que exige o desenvolvimento de processos de trabalho colaborativos para o acolhimento biopsicossocial das pessoas — considerando a singularidade das necessidades de saúde dos pacientes e das suas famílias. Para o acolhimento efetivo dessas necessidades, o paciente deve ser colocado como protagonista no processo de cuidar. A sua rede de apoio, representada pelos familiares, deve estar envolvida nesse processo, de forma a valorizar a autonomia de ambos, os conhecimentos prévios e a potencialidade para a contribuição no processo cuidativo do paciente (BRASIL, 2004). Os elementos da comunicação efetiva, por meio da escuta qualificada dos trabalhadores de enfermagem para com os pacientes e familiares, mostra-se como uma competência fundamental para que o acolhimento se dê de forma a contribuir para desfechos clínicos salutogênicos e pautados na humanização do cuidado (BRASIL, 2004). O fortalecimento da ambiência é compreendido como os espaços de fa- vorecimento às práticas salutogênicas que colaboram para a manutenção da privacidade do paciente-família, bem como para a exposição de dúvidas, questionamentos e sentimentos acerca do processo de saúde e doença, eviden- ciando, assim, a prestação de cuidados pautados na humanização. 7O cuidado BRASIL. Ministério da Saúde. HumanizaSUS: Política Nacional de Humanização: a huma- nização como eixo norteador das práticas de atenção e gestão em todas as instâncias do SUS. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004. (Série B. Textos Básicos de Saúde). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/humanizasus_2004.pdf. Acesso em: 22 abr. 2019. CHULAY, M.; BURNS, S. M. Fundamentos de enfermagem em cuidados críticos da AACN. 2. ed. Porto Alegre: AMGH, 2012. TAYLOR, C. R. et al. Fundamentos de enfermagem: a arte e a ciência do cuidado de enfermagem. Porto Alegre: Artmed, 2014. Leituras recomendadas BRASIL. Ministério da Saúde. Orientações técnicas para a implementação de Linha de Cuidado para Atenção Integral à Saúde da pessoa Idosa no Sistema Único de Saúde — SUS. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/ publicacoes/linha_cuidado_atencao_pessoa_idosa.pdf. Acesso em: 22 abr. 2019. PEREIRA, E. H. P.; BARROS, R. D. B. Humanização. In: DICIONÁRIO da Educação Profissional em Saúde. Fiocruz, 2009. Disponível em: http://www.sites.epsjv.fiocruz.br/dicionario/ verbetes/hum.html. Acesso em: 22 abr. 2019. O cuidado8
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