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120 Unidade III Unidade III 7 PLANEJAMENTO DIDÁTICO DO PROFESSOR As discussões acerca de como se ensina e como se aprende devem ser consideradas na atividade que julgamos ser essencial na didática do professor: referimo-nos ao planejamento. Se todos nós precisamos de um planejamento para as atividades da vida diária, para viajar, para comprar uma casa ou um carro, para controlar as despesas, o que diríamos em relação às atividades educativas? O planejamento é essencialmente o que dá a segurança de um trabalho didático reflexivo, organizado e estruturalmente bem articulado. Figura 37 – Planejamento é uma das atividades mais importantes para os professores. O plano é o resultado desse planejamento Disponível em: https://bit.ly/3uSExiy. Acesso em: 11 fev. 2022. Exemplo de aplicação Você sabe qual é a diferença entre planejamento e plano? Para que serve o planejamento didático no campo da atividade docente? 121 DIDÁTICA GERAL Segundo Haydt (2002), o planejamento é um processo mental que envolve análise, reflexão e previsão. É uma atividade tipicamente humana, que está presente na vida de todos os indivíduos, nos mais variados momentos. O plano é o resultado desse processo, se refere à sistematização do planejamento, como um esboço das conclusões resultantes do processo de planejar, podendo ou não assumir uma forma escrita. Sua função primeira é delimitar os objetivos de ensino e aprendizagem e evitar a improvisação desprovida de comprometimento e conhecimento teórico. O planejamento é importante para: • prever as dificuldades e potencialidades que poderão surgir durante todo o processo educativo; • evitar repetir as aulas de maneira desordenada e mecânica; • adequar o trabalho de acordo com os recursos disponíveis, as características dos educandos, os conteúdos, as atividades, os procedimentos de avaliação e os objetivos propostos; • garantir a gestão do tempo e dos espaços. O planejamento permite ao professor a organização antecipada da ação didática, contribuindo para o aprimoramento da prática docente e para o aproveitamento dos estudantes. Infelizmente, muitos professores não se preocupam com o planejamento, o que repercute negativamente na qualidade da educação dos estudantes. Exemplo de aplicação E você, tem em mente outro aspecto que justifica a importância do planejamento didático para o ensino? Afinal, quais são os componentes necessários para se fazer um bom planejamento? Quais são os tipos ou modalidades de planejamento que o professor pode desenvolver? Existem diferentes níveis de planejamento? 7.1 O planejamento didático e a sua relação com o currículo Para planejar é preciso ter um ponto de partida, mas qual será a procedência do planejamento didático do professor? Por onde começar? Observação A discussão proposta a seguir é de suma importância para a sua formação inicial e continuada. Ao assumir uma classe de estudantes, é obrigatório saber quais são as bases fundamentais do planejamento didático. O primeiro elemento a ser considerado no planejamento didático do professor se refere ao currículo. 122 Unidade III Exemplo de aplicação Afinal, qual é o significado de currículo no contexto educacional? Por ser um termo utilizado socialmente, é preciso compreender quais são as definições da palavra currículo no cenário da educação. De acordo com o estudo etimológico da palavra currículo, podemos encontrar interpretações como as de Silva (1995), Sacristán (1998) e Kishimoto (1996). Segundo Silva (1995, p. 15): Se quisermos recorrer à etimologia da palavra “currículo”, que vem do latim “curriculum”, “pista de corrida”, podemos dizer que no curso desta “corrida”, que é o currículo, acabamos por nos tornar o que somos. Nas discussões cotidianas, quando pensamos em currículo, pensamos apenas em conhecimento, esquecendo-nos de que o conhecimento que constitui o currículo está inextricavelmente, centralmente, vitalmente envolvido naquilo que somos, naquilo que nos tornamos: na nossa identidade, na nossa subjetividade. Para Sacristán (1998, p. 125) “o termo currículo provém da palavra latina currere, que se refere a carreira, a um percurso que deve ser realizado e, por derivação, à sua representação ou apresentação”. Kishimoto (1996) afirma que o termo latino currus significa carro, carruagem. Por extensão, currículo significa o lugar no qual se corre. Figura 38 – Sentido social da palavra currículo Disponível em: https://bit.ly/3sDuAmy. Acesso em: 11 fev. 2022. 123 DIDÁTICA GERAL Exemplo de aplicação Socialmente o significado de currículo está atrelado ao percurso, aos conhecimentos adquiridos ao longo da nossa história. E no contexto educativo, como o currículo pode ser compreendido? De acordo com Souza (2008, p. 7): O uso do termo currículo é relativamente recente no Brasil. Para muitos professores esse é um termo confuso e impreciso. Alguns o relacionam aos programas escolares ou planos de ensino (o rol de conteúdos a ser ensinados numa série e/ou nível de ensino), terminologia tradicionalmente empregada no país, desde o século XIX, para referir-se aos conteúdos estabelecidos a serem transmitidos nas escolas. De forma correlata, há professores que associam o termo ao sentido restrito de grade curricular (distribuição do número de aulas de cada matéria em cada série). Sacristán (1998, p. 126) adverte que “o conceito de currículo é bastante elástico; poderia ser qualificado de impreciso porque pode significar coisas distintas, segundo o enfoque que o desenvolve”. Nos últimos 40 anos, questões relativas ao currículo têm ocupado um lugar de destaque na política nacional e internacional sobre a educação, suscitando interessantes debates e discussões sobre a sua elaboração, implementação e legislação. De acordo com Sônia Kramer (1997, p. 15): Na verdade, desde o momento em que reconquistamos o direito de eleger, pelo voto, os projetos (e não só os governamentais) de gestões, em primeiro lugar estaduais (1982), em seguida municipais (1985) e, mais recentemente, para o governo federal (1990), tem-se mostrado concreta a possibilidade de desenvolver diferentes alternativas práticas de ação no campo educacional. Nesse contexto, podemos situar as discussões e os avanços consideráveis a respeito do currículo principalmente a partir da década de 1980, em que houve em nosso país a valorização das políticas públicas acerca da educação. No Brasil, no ano de 1988, a Constituição Federal representou um “divisor de águas”. Nesse período histórico, foi conferido à educação um direito inalienável, prevendo e partilhando responsabilidades nos setores de investimento e acompanhamento das políticas públicas. A análise dos arts. 205 e 206 da Constituição Brasileira mostra que eles se referem à abrangência de todas as possibilidades e condições para a garantia do direito à educação. 124 Unidade III Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 206. O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios [...]: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber; III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e coexistência de instituições públicas e privadas de ensino [...] (BRASIL, 1988). Sabendo que todo currículo expressa uma leitura do contexto social, cultural e político, a oferta democrática do ensino e a garantia de direitos repercutiram diretamente nas discussões sobre o currículo escolar. Para o cumprimento da lei, houve a construção de um novo currículo, tendo em vista a superação de modelos tradicionais e conservadores, que até então acentuavam ainda mais as diferenças e injustiças sociais. A organização do ensino em séries, conteúdos rigidamente estabelecidose um sistema de avaliação seletivo, classificatório e meritocrático acabou constituindo-se numa representação de escola incoerente com os princípios da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948) e da Constituição Federal (1988). A denúncia do caráter reprodutivo e seletivo do sistema educacional feita na metade do século XX e a pressão em prol da democratização do ensino e do reconhecimento da educação como direito de todos levantaram uma problemática complexa: como desenvolver um currículo de qualidade para todos? Devido à diversidade cultural, às desigualdades sociais e à autonomia dos estados e municípios, as redes de ensino brasileiras têm a responsabilidade de construírem seus currículos, cabendo às escolas a elaboração de propostas pedagógicas “que considerem as necessidades, as possibilidades e os interesses dos estudantes, assim como suas identidades linguísticas, éticas e culturais” (BRASIL, 2018, p. 15). É importante considerar que, para assegurar as aprendizagens essenciais para cada etapa da educação básica, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e os currículos são complementares. As aprendizagens essenciais só ganharão forma mediante o conjunto de decisões que caracterizam o currículo. Tais decisões dizem respeito às adequações das proposições da BNCC ao currículo de cada rede de ensino, considerando o contexto, as características dos alunos e as modalidades de ensino. E quais seriam essas decisões? De acordo com o próprio documento (BRASIL, 2018, p. 16-17): — contextualizar os conteúdos dos componentes curriculares, identificando estratégias para apresentá-los, representá-los, exemplificá-los, conectá-los e torná-los significativos, com base na realidade do lugar e do tempo nos quais as aprendizagens estão situadas; 125 DIDÁTICA GERAL — decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão do ensino e da aprendizagem; — selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas diversificadas, recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares, se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de socialização etc.; — conceber e pôr em prática situações e procedimentos para motivar e engajar os alunos nas aprendizagens; — construir e aplicar procedimentos de avaliação formativa de processo ou de resultado que levem em conta os contextos e as condições de aprendizagem, tomando tais registros como referência para melhorar o desempenho da escola, dos professores e dos alunos; — selecionar, produzir, aplicar e avaliar recursos didáticos e tecnológicos para apoiar o processo de ensinar e aprender; — criar e disponibilizar materiais de orientação para os professores, bem como manter processos permanentes de formação docente que possibilitem contínuo aperfeiçoamento dos processos de ensino e aprendizagem; — manter processos contínuos de aprendizagem sobre gestão pedagógica e curricular para os demais educadores, no âmbito das escolas e sistemas de ensino. Saiba mais A discussão sobre a qualidade do currículo, apesar de ter se iniciado na década de 1980, ainda é atual e necessária. Apenas no ano de 2017 foi aprovada a BNCC referente às etapas da Educação Infantil e do Ensino Fundamental; em 2018, foi aprovada a do Ensino Médio. Veja mais detalhes sobre o assunto consultando: BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. [s.d.]. Disponível em: https://bit.ly/3h8SJfs. Acesso em: 22 fev. 2022. 126 Unidade III A elaboração da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996, apresenta avanços significativos ao assumir a concepção de educação num sentido abrangente, englobando, além do processo de escolarização, a formação que ocorre no seio da família, na escola, no trabalho e na convivência em geral. O art. 26 da LDBEN trata especificamente sobre os currículos do Ensino Fundamental e Médio, ficando evidente a intencionalidade de definir bases e diretrizes nacionais para a educação brasileira, desde que os propósitos de garantia dos direitos humanos e o respeito à diversidade sejam assegurados nas diferentes regiões do território brasileiro. Art. 26. Os currículos do Ensino Fundamental e Médio devem ter uma base nacional comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da clientela (BRASIL, 1996). A LDBEN, no parágrafo 1º do seu art. 26, apresentou a obrigatoriedade do estudo da língua portuguesa, da matemática e das ciências naturais, humanas e sociais como conteúdos exclusivos e necessários à cidadania: § 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil. No que diz respeito ao tratamento e relevância dos diversos componentes curriculares, desde o ano 2000 a LDBEN vem sofrendo alterações significativas, como as apresentadas nos parágrafos a seguir (BRASIL, 1996): 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões regionais, constituirá componente curricular obrigatório nos diversos níveis da educação básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos alunos. (Redação dada pela Lei n. 12.287, de 2010) 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola, é componente curricular obrigatório da educação básica, sendo sua prática facultativa ao aluno. (Redação dada pela Lei n. 10.793, de 1º.12.2003) 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, africana e europeia. 5º Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira 127 DIDÁTICA GERAL moderna, cuja escolha ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição. 6º A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2o deste artigo. (Incluído pela Lei n. 11.769, de 2008) 7º Os currículos do ensino fundamental e médio devem incluir os princípios da proteção e defesa civil e a educação ambiental de forma integrada aos conteúdos obrigatórios. (Incluído pela Lei n. 12.608, de 2012) Observa-se que as adequações são condizentes com as necessidades da sociedade contemporânea. Por exemplo: as abordagens interdisciplinares e transversais agregadas à educação ambiental, visto que nos últimos três séculos a humanidade passou por grandes transformações, como o processo de industrialização, a migração do meio rural para as cidades, o rápido desenvolvimento das ciências e da tecnologia, o acelerado crescimento populacional e a própria globalização. Após a promulgação da Lei n. 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que trata das relações étnico-raciais, a LDBEN revisou a apresentação do estudo da história e da cultura afro-brasileira, tornando-o um componente obrigatório e essencial para a formação do cidadão brasileiro (BRASIL, 1996): Art. 26-A. Nos estabelecimentos de Ensino Fundamental e de Ensino Médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. (Redação dada pela Lei n. 11.645, de 2008) § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígenabrasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. (Redação dada pela Lei n. 11.645, de 2008) § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. (Redação dada pela Lei n. 11.645, de 2008) Os princípios de igualdade apontados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, na Constituição Federal de 1988 e na própria LDBEN evidenciam a necessidade de construir uma sociedade melhor, com uma escola de qualidade, que supere práticas excludentes do paradigma elitista de educação. Sendo assim, em cumprimento a todas essas legislações, a partir da década de 1990 o Ministério da Educação 128 Unidade III e do Desporto e o Conselho Nacional de Educação passaram a elaborar documentos curriculares para as diferentes etapas da Educação Básica, sendo eles: • PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (1997); • RCNEI: Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998); • PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (2000); • Diretrizes Curriculares para a Educação Básica (2010); • Base Nacional Comum Curricular (2017-2018). Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental (1997) Diretrizes Curriculares para a Educação Básica (2010) Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n. 9.394/96 Constituição Federal (1988) Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998) Base Nacional Comum Curricular (Educação Infantil e Ensino Fundamental) (2017) Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (2000) Base Nacional Comum Curricular (versão final, com a inclusão do Ensino Médio) (2018) Figura 39 – Legislações e currículos prescritos no Brasil De acordo com Sacristán (1998), os documentos oficiais são denominados currículo prescrito: conjunto de prescrições ou orientações gerais definidas em nível nacional. O currículo prescrito define conteúdos mínimos na intenção de respeitar a igualdade de oportunidades de aprendizagem no território nacional brasileiro (tanto na rede pública quanto na rede privada de ensino). Por isso, a BNCC é uma referência para as redes de ensino organizarem seus currículos e para as escolas organizarem seus planos de ensino procurando atender as proposições e orientações dos currículos prescritos, que definem o que deve ser ensinado em cada nível e ano de escolarização. 129 DIDÁTICA GERAL É importante ressaltar que no Brasil a BNCC tem conferido aos estados e municípios a liberdade de adaptar e organizar os seus próprios currículos, incorporando as suas especificidades e necessidades em consonância com a base nacional. Como destaca Sacristán (2000, p. 15): “O currículo é a forma de ter acesso ao conhecimento, não podendo esgotar seu significado em algo estático, mas através das condições em que se realiza como uma forma particular de entrar em contato com a cultura”. O currículo deve ser entendido de uma forma concreta e dinâmica, que necessita de adaptações constantes para sua implementação nos espaços educativos. Por isso, não pode ser reduzido ao currículo oficial. Para Sacristán o currículo prescrito tem os seus desdobramentos no contexto escolar, ou seja, existem outras instâncias curriculares. • Currículo apresentado: conjunto de materiais pedagógicos, tais como guias de ensino e livros didáticos, elaborados com o objetivo de traduzir para os professores o significado e os conteúdos do currículo prescrito. • Currículo moldado: cada professor molda o currículo com base na sua cultura profissional, nas orientações oficiais e nos conteúdos de guias e materiais didático-pedagógicos; refere-se aos planos de ensino. • Currículo em ação: concretização curricular que ocorre na sala de aula a partir da prática pedagógica. • Currículo realizado: o que foi possível de ensinar no período letivo e que se traduz nas aprendizagens dos estudantes. • Currículo avaliado: os conteúdos e objetivos abordados nas avaliações. Não podemos deixar de mencionar o currículo oculto, que se refere à transmissão de valores, normas e comportamentos simplesmente pela interação entre professor e estudante. O currículo oculto é representado pelas influências que afetam a aprendizagem dos alunos e o trabalho do professor provenientes da experiência cultural, dos valores e significados trazidos pelas pessoas de seu meio social e vivenciados na própria escola, ou seja, das práticas e experiências compartilhadas em escola e na sala de aula (LIBÂNEO, 2004, p. 172). 130 Unidade III Figura 40 – Sentido educacional da palavra currículo Disponível em: https://bit.ly/3sHxMxt. Acesso em: 11 fev. 2022. Pesquisas têm apontado para a enorme distância existente entre os currículos prescritos e demais instâncias curriculares e a realidade vivida pelos estudantes. Como destaca Sacristán (2000), o currículo é o coração da escola e o caminho que todos percorrem nos diferentes níveis do processo educacional, sendo o professor peça fundamental para sua construção. Por isso, deve haver compromisso, participação crítica e colaborativa na elaboração e execução dos currículos. E o caminho para isso sem dúvida é o planejamento. Lembrete Os currículos prescritos (documentos oficiais) se constituem como ponto de partida para os diferentes tipos de planejamento no contexto escolar. 7.2 Os diferentes níveis e modalidades do planejamento escolar Vimos anteriormente que o planejamento de um sistema educacional – currículo prescrito – envolve as diferentes esferas administrativas – nacional, estadual e municipal. Enquanto o planejamento do sistema educacional é decidido num âmbito maior, adiante vamos detalhar melhor os próximos níveis e modalidades de planejamento no contexto da escola, uma vez que sobre eles o professor tem influência direta. No contexto escolar, existem diversos níveis de planejamento, que variam em abrangência e complexidade. São eles: • planejamento escolar ou planejamento da escola (projeto político pedagógico); • planejamento didático ou de ensino; 131 DIDÁTICA GERAL • dentro deste último, temos as diferentes modalidades organizativas de planejamento diário, semanal, mensal, bimestral e semestral do professor (plano de aula, sequência didática, projeto, e as atividades permanentes, ocasionais e de sistematização). Figura 41 – Diferentes níveis de planejamento Disponível em: https://bit.ly/3sHLccE. Acesso em: 11 fev. 2022. 7.2.1 Projeto político pedagógico O planejamento escolar envolve todas as atividades de uma escola, o que ela tem para oferecer em termos de formação a seus alunos e suas ações administrativas e pedagógicas. O desenvolvimento desse planejamento, ao contrário do que muitos pensam, não é para ser feito exclusivamente pelo diretor da escola, mas acompanhado por todos os professores, funcionários, pais e alunos, de maneira democrática e participativa. O resultado desse planejamento é o projeto político pedagógico. Mas, afinal, o que é um projeto? No sentido etimológico, o termo vem do latim projectu, particípio passado do verbo projicere, que significa lançar para diante. Remete a plano, intento, desígnio. 132 Unidade III Projeto é metaforicamente “arriscar-se num jogo”, é estipular metas e objetivos a serem alcançados no futuro. Ele nasce de uma utopia, que é a chave principal para valer a pena “jogar”, é o eixo norteador para a delimitação da trajetória em busca dos objetivos. Se o projeto nasce de uma utopia e de uma necessidade local, para trazer resultados à instituição escolar, deve ter como característica principal a originalidade. De nada adianta querer adaptar a uma comunidade escolar um projeto de outra instituição, com necessidades (utópicas e ideológicas)divergentes, pois este certamente não atenderá aos seus sonhos e exigências. É preciso que o projeto seja a identidade da escola, sendo construído a partir de suas raízes determinantes: social, cultural, política e econômica. O projeto político pedagógico nunca esteve tão em voga como nos dias atuais. Ele tem sido objeto de estudo de inúmeros pensadores e de autores ligados à área educativa, que, preocupados com a realidade educacional vigente e com a busca da melhoria da qualidade de ensino, acreditam que ele, quando colocado em prática e não utilizado apenas como documento burocrático, é a “espinha dorsal” da instituição, de onde devem ser desencadeadas medidas preventivas e soluções de diversas problemáticas. Mas por que político e pedagógico? Político por estar intimamente articulado ao compromisso sociopolítico e aos interesses reais e coletivos da comunidade escolar, por ter como objetivo a formação do cidadão para um tipo de sociedade e por não ser neutro (ou seja, ter uma intencionalidade). Pedagógico por efetivar ações educativas que servirão como molas propulsoras para o cumprimento dos propósitos e da intenção da escola. Político e pedagógico são elementos indissociáveis, ou seja, estão intrinsecamente ligados. “A dimensão política se cumpre na medida em que ela se realiza enquanto prática especificamente pedagógica” (SAVIANI apud VEIGA, 1995, p. 13). Após definirmos os termos pedagógico e político, faz-se necessário compreendermos qual é o principal objetivo do projeto político pedagógico. Seu objetivo consiste na luta contra a fragmentação e mecanização do trabalho pedagógico, em busca da autonomia para a construção legítima da identidade da escola. Por ter um caráter que prevê a autonomia, o projeto político pedagógico deve ser alvo de reflexão constante, tendo em vista a busca de soluções para os diversos problemas que impedem que a escola realize suas intenções. Nesse sentido, deve-se considerar o projeto político pedagógico um processo permanente de reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de alternativas viáveis para a efetivação de sua intencionalidade, que “não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva” (MARQUES 1990, p. 23). 133 DIDÁTICA GERAL Sendo objeto de ação-reflexão-ação, o projeto político pedagógico deve contemplar uma vivência harmoniosa, propiciando a participação de todos os membros da comunidade escolar. Torna-se, assim, um trabalho organizado, que consideramos primordial para a superação de conflitos, da competitividade, do autoritarismo e da hierarquização de poder. Salientamos que isso dependerá do tipo de gestão exercido na instituição. Historicamente, a administração escolar oscila entre os modelos burocráticos e tecnocráticos, que, objetivando atender a demanda política e social do país, apoiam os paradigmas positivistas das ciências, ou seja, reforçam a educação em prol da produtividade e da fragmentação do trabalho. Hoje com a globalização mais do que nunca são necessárias mudanças de paradigmas administrativos da instituição educacional que atendam às exigências da sociedade contemporânea. As teorias e as práticas administrativas são indissociáveis das pedagógicas. A formação administrativa será insuficiente se não levar em conta a especificidade da escola e da educação. Percebemos na gestão democrática a mais pertinente ao desenvolvimento do trabalho pedagógico e social, em especial por dois motivos. Primeiro porque ela não abrange apenas as questões administrativas e financeiras, mas também as dimensões pedagógicas; ela não restringe o papel do gestor às atividades puramente burocráticas. Segundo porque ela repensa a estruturação da relação de poder entre os profissionais que trabalham na escola, objetivando a socialização e opondo-se à perspectiva reducionista que impõe o autoritarismo como tomada de decisão. A escola é um texto escrito por várias mãos e sua leitura pressupõe o entendimento não apenas de suas conexões com a sociedade, mas também de seu interior. E, tendo a escola a autonomia de criar sua própria história, ela poderá delimitar sua concepção em diferentes enfoques pedagógicos: ensino, aprendizagem, estudante, avaliação, educação, entre outros. O momento propício para essa discussão é a elaboração do currículo, que é a organização do conhecimento escolar e quando há a possibilidade de livre escolha de um referencial teórico que sustente a sistematização do conhecimento historicamente construído. Lembrete O projeto político pedagógico é a identidade da escola. Portanto, para o desenvolvimento dos demais níveis de planejamento, o professor deverá consultar as prescrições dos currículos oficiais e do projeto político pedagógico da escola onde trabalha. Haydt (2002) sugere algumas etapas que contribuem para a construção do projeto político pedagógico. São elas: • sondagem e diagnóstico da realidade da escola (características da comunidade e da clientela escolar, recursos humanos e materiais disponíveis, avaliações anteriores do desempenho da escola); 134 Unidade III • definição dos objetivos e das prioridades da escola; • proposição da organização geral da escola (quadro curricular e distribuição de carga horária, calendário escolar, critérios de agrupamento dos estudantes, definição do sistema de avaliação, recuperação, reposição de aulas, compensação de ausência e promoção dos alunos); • elaboração de plano de curso contendo as programações das atividades curriculares; • elaboração do sistema disciplinar da escola; • atribuição de funções a todos os participantes da equipe escolar (direção, corpo docente, corpo discente, equipe pedagógica, equipe administrativa, equipe de limpeza etc.). Saiba mais Uma discussão muito interessante sobre o tema do projeto político pedagógico é feita no texto: MARQUES, M. O. Projeto pedagógico: a marca da escola. Revista Educação e Contexto, Ijuí, v. 18, n. 2, abr./jun. 1990. 7.2.2 Plano de ensino Haydt (2002) afirma que o planejamento didático ou de ensino especifica e operacionaliza as proposições do currículo oficial e do planejamento escolar. Isso significa que o seu desenvolvimento compreende a definição anual dos objetivos (gerais e específicos) a serem alcançados ao longo do ano letivo, a seleção de todos os conteúdos a serem ensinados, a escolha dos métodos e procedimentos mais interessantes para cada turma, assim como a forma de avaliar todo o trabalho que será realizado. Para isso, são necessárias uma análise criteriosa da realidade dos estudantes e a verificação dos recursos disponíveis na escola, depois das quais é definido o restante do planejamento. O ponto crucial desse processo é a elaboração do plano como documento escrito, pois se trata do registro do que foi estabelecido como previsão das atividades docentes e discentes. Observação Comumente no início do ano letivo, os diretores e coordenadores solicitam aos professores o desenvolvimento de um plano de ensino. 135 DIDÁTICA GERAL O modo de registrar vai depender do modelo de cada escola. Entretanto, o plano de ensino torna-se um instrumento pessoal e subjetivo de trabalho do professor. Por isso, não se pode emprestá-lo a outros professores e imaginar que o trabalho será igual. Isso porque um plano específico foi pensado e estruturado de forma peculiar e outra pessoa muito provavelmente não terá uma compreensão satisfatória do que foi planejado. Por isso, a clareza é essencial, a fim de que não restem dúvidas nem para o professor nem para quem quiser acompanhar seu processo didático-pedagógico. Para que possamos alcançar uma excelente qualidade nesse tipo de planejamento, algumas recomendações são valiosas: • ter um elevado grau de coerência e de unidade, pois a conexão entre objetivos e meios mais adequados deve estabelecer um par inseparável; • ter continuidade e sequência, pois o trabalho deve ter início, meio e fim, de maneira gradativa, para ajudar os estudantes a garantirem a aprendizagem; • ter flexibilidade,de modo que o que foi escrito e estabelecido possa ser mudado de acordo com as necessidades que serão notadas, dando espaço para incluir ou excluir elementos previamente selecionados; • ter objetividade e funcionalidade, atendendo às possibilidades, necessidades e interesses dos estudantes de maneira prática; • ter precisão e clareza, apresentando uma linguagem simples e acessível, para que não haja dupla interpretação. Uma última recomendação é que esse planejamento não seja encarado como mera formalidade ou como exigência burocrática, a fim de que não seja um plano vazio e sem sentido. Trata-se de algo importante demais para ser relegado apenas a uma tarefa burocrática, pois é uma organização essencial para o professor, conferindo segurança ao seu trabalho. O plano didático ou de ensino é que norteará o trabalho diário do professor. Por isso, o seu desdobramento resulta nas diferentes modalidades organizativas de planejamento. Não há um único modelo de plano de ensino. Sua estrutura varia de acordo com a escola. Contudo, a seguir apresentamos um exemplo de plano de ensino, com o intuito de elucidar como é a sua estrutura e quais os elementos principais que o compõem: 136 Unidade III Quadro 1 – Estrutura de plano de ensino Nome da escola Plano de ensino Ano vigente: Disciplina: Ano (turma): Professor(es): Objetivos gerais da escola Objetivos gerais da disciplina para a modalidade de ensino (Fundamental ou Médio) Bimestres Conteúdos Objetivos específicos Procedimentos didáticos e metodológicos Avaliação 1º 2º 3º 4º As primeiras informações do plano de ensino se referem ao seu contexto geral, ou seja, qual é o nome da instituição (escola); o ano letivo do planejamento escolar; o nome da disciplina (português, matemática, história, geografia, ciências etc.); o ano (turma) de escolarização (Ensino Fundamental 6º, 7º, 8º ou 9º ano ou Ensino Médio 1º, 2º ou 3º ano). O plano de ensino tem origem nos: • objetivos gerais da escola, elencados no projeto político pedagógico; • objetivos gerais da disciplina, previstos no currículo prescrito (oficial). 137 DIDÁTICA GERAL A organização do plano de ensino pode ser bimestral, semestral ou anual. Isso vai depender de cada instituição. No esboço apresentado neste livro-texto, o plano de ensino está organizado por bimestres. Nesse caso, espera-se que o professor indique, em cada um deles: • Conteúdos: comumente os currículos oficiais delimitam os conteúdos (conhecimentos) que devem ser ensinados em cada modalidade de ensino e ano de escolarização. No plano de ensino, o professor tem a autonomia de organizá-los ou revê-los, considerando as necessidades dos estudantes, estabelecendo prioridades, organizando-os de acordo com a gradação de complexidade e/ou articulação com os projetos da escola previstos para o ano letivo. • Objetivos específicos: devem ser articulados aos objetivos gerais da disciplina, bem como aos conteúdos. • Procedimentos didáticos e metodológicos: se referem aos “caminhos”, recursos e estratégias utilizados pelo professor para ensinar os conteúdos. Podemos dizer que envolvem a didática propriamente dita, pois, para ensinar, o professor deverá considerar a natureza e as características do conteúdo, bem como da realidade da sua sala de aula. Tais indicativos tornam-se decisivos para a escolha dos procedimentos didáticos e metodológicos. Por exemplo: resolução de problemas, jogos, aula expositiva, trabalho em grupo, tecnologias etc. • Avaliação: devem-se considerar os tipos de avaliações utilizados pelo professor (diagnóstica, formativa, contínua, processual etc.), inclusive as internas (promovidas pela escola, como os simulados) e as externas (realizadas em larga escala pelos sistemas educacionais brasileiros da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios). Portanto, é a partir do plano de ensino que o professor poderá desenvolver a sua rotina de planejamento diário, semanal e mensal. Exemplo de aplicação Existem diferentes modelos de planos de ensino. Pesquise mais sobre eles. 8 MODALIDADES ORGANIZATIVAS DE PLANEJAMENTO De acordo com Nery (2007), o planejamento é o princípio de todo o trabalho didático-pedagógico, num movimento contínuo e interdependente em que se planeja, se registra e se avalia. De acordo com a autora, em se tratando de planejamento, há uma questão fundamental a ser enfrentada no trabalho cotidiano do professor: o tempo. 138 Unidade III Para Nery (2007), o tempo deve ser organizado de forma flexível, possibilitando que se retomem perspectivas e aspectos dos conhecimentos tratados em diferentes situações didáticas. Além disso, variar a forma de organizar o trabalho pedagógico pode criar oportunidades diferenciadas para cada estudante, o que representa um ganho significativo para a sua formação. As modalidades organizativas se referem, assim, às diferentes maneiras como o professor pode organizar o seu tempo didático. De acordo com Nery (2007, p. 109) trata-se dos variados “processos de organização do trabalho pedagógico”. Para este livro-texto, selecionamos algumas modalidades que podem contribuir significativamente com a gestão do tempo durante as aulas: o plano de aula3, a sequência didática, o projeto didático e as atividades permanentes, ocasionais e de sistematização. 8.1 Plano de aula Na organização didática do professor, dentre as diferentes modalidades organizativas, o plano de aula é o mais simples e objetivo. Trata-se da menor unidade de planejamento. A elaboração de um bom plano de aula é o ponto de partida para organizar e garantir a boa qualidade do ensino. Um planejamento simples, claro e com objetivos bem definidos pode ajudar na organização diária do trabalho pedagógico. Dentre as vantagens que o plano de aula proporciona ao professor, podemos mencionar: • contribuir para o desenvolvimento e o atendimento dos objetivos de ensino; • proporcionar a otimização e a administração do tempo didático; • lembrar o professor de elementos essenciais à aula; • permitir a organização do trabalho pedagógico; • contribuir para o registro reflexivo do trabalho didático do professor; • facilitar a avaliação e a realização de eventuais adequações necessárias para um melhor desenvolvimento da aula. Muitas vezes o plano de aula é concebido como uma estrutura rígida, o que não condiz com o que realmente é: um planejamento flexível, que permite ao docente organizar-se em relação a espaço, tempo e conteúdo. Para quebrar alguns mitos e paradigmas sobre o tema, é fundamental lembrar que o plano de aula existe para o professor, e não o professor para o plano de aula. Por isso, é imprescindível que cada 3 Na literatura os autores da área não indicam o plano de aula como uma modalidade organizativa. Portanto, trata-se de uma interpretação e consideração dos autores deste livro-texto. 139 DIDÁTICA GERAL professor descubra como organizar e estruturar a aula de acordo com seu repertório, concepções e criatividade, considerando a especificidade da sua turma, ou seja, as fragilidades apresentadas por seus alunos, com o intuito de superá-las, e principalmente suas potencialidades, com o intuito de ampliá-las. Exemplo de aplicação Uma forma de saber se o plano de aula está bom é tentar imaginar se outro professor seria capaz de compreendê-lo e aplicá-lo. Portanto, o plano deve ser elaborado detalhadamente e com uma linguagem clara. Como é a estrutura do plano de aula? Quais são os elementos que constituem essa modalidade de planejamento? Veja, a seguir, um modelo de estrutura para plano de aula: Quadro 2 – Estrutura de plano de aula Plano de aula Tema da aula: Duração: Público-alvo: Disciplina: Conteúdos: Objetivos: Recursos: Etapas da aula: 1. Introdução ao tema da aula: 2. Desenvolvimento da aula: 3. Atividades para os estudantes: Avaliação: Fontes/referências: Exemplo de aplicação Para estruturar bem e com facilidade o plano de aula é necessário compreender rigorosamente cadaum dos seus itens. 140 Unidade III O tema da aula se refere ao assunto que será abordado durante a aula. Deve estar articulado aos conteúdos propostos. Lembrete Para elaborar o plano de aula, é imprescindível a consulta ao plano de ensino da disciplina. No item duração, o professor deve prever quantas aulas (a hora-aula varia de acordo com cada sistema de ensino) serão necessárias para o desenvolvimento do plano na prática. É importante estipular um tempo para cada uma das etapas a fim de prever o período total da execução do plano de aula. No item público-alvo, o professor deve informar a modalidade e o ano de escolarização da turma. Exemplo: Ensino Fundamental II – 8º ano. Os conteúdos se referem aos conhecimentos selecionados de uma determinada disciplina, que serão ensinados durante a aula. Lembrete Conteúdos de ensino são o conjunto de conhecimentos, habilidades, hábitos, modos valorativos e atitudinais de atuação social, organizados pedagógica e didaticamente, tendo em vista a assimilação ativa e a aplicação pelos alunos na sua prática de vida (LIBÂNEO, 1990, p. 128). Os objetivos, articulados aos conteúdos, devem expressar as habilidades que se pretende que os estudantes desenvolvam durante a aula. Por isso, a pergunta “Ao término da aula, o estudante será capaz de...?” auxilia o professor na definição dos objetivos. Para um plano de aula, estimam-se no máximo três objetivos, que devem iniciar com um verbo para caracterizar a habilidade a ser desenvolvida. Por exemplo: conhecer, identificar, descrever, classificar, definir, reconhecer, relatar, compreender, concluir, discutir, deduzir, localizar, empregar, estruturar, operar, organizar, praticar, selecionar, comparar, debater, diferenciar, investigar etc. Observação Nunca inicie o objetivo com verbos que remetam à ação do professor – por exemplo: ensinar, transmitir, estimular, motivar e outros semelhantes. A expressão “fazer com que o aluno...”, carregada de imposição e autoritarismo, também deve ser evitada, pois a função do professor é ensinar, auxiliando o estudante na construção do conhecimento. 141 DIDÁTICA GERAL Todo material necessário para a aula proposta deve ser apresentado no item recursos. A descrição e antecipação dos materiais é importante para que o professor evite improvisos durante a aula. O item etapas da aula tem três momentos para o detalhamento acerca da organização didática da condução da aula. Cada etapa possui uma função específica, que deve ser respeitada para que os objetivos sejam atingidos. 1. Introdução ao tema da aula: etapa dedicada à sensibilização, à contextualização e ao levantamento dos conhecimentos prévios dos estudantes. Refere-se à articulação do tema da aula com as experiências e saberes do grupo de estudantes, envolvendo-os no assunto. Deve ser descrita a estratégia utilizada (roda de conversa, debate, apreciação de uma imagem, obra de arte ou filme etc.) para a abordagem da temática, salientando a necessidade real do tema em suas vidas (contextualização do tema). Essa etapa precisa ser bem planejada para influenciar positivamente o processo de ensino e aprendizagem. 2. Desenvolvimento da aula: etapa destinada ao desenvolvimento do conteúdo. Trata-se do “corpo” da aula; a maneira como os conteúdos serão ensinados. Neste item, assim como nos demais, é importante descrever, com riqueza de detalhes, o que será explicado para os estudantes e de que forma. 3. Atividades para os estudantes: etapa que se refere à proposição de atividades e trabalhos individuais e/ou coletivos, que os estudantes poderão realizar com autonomia. Tais atividades auxiliam a sistematização dos conhecimentos construídos durante a aula. A avaliação consiste na mensuração do que foi “aprendido”, o mais objetivamente possível, contemplando os aspectos cognitivos. Há diversas formas de avaliar se os estudantes compreenderam os conteúdos trabalhados na aula, desde uma simples conversa, na qual o professor faz algumas perguntas e fica atento às respostas dos estudantes, dialogando com eles, até a sugestão de alguma atividade em que os educandos demonstrem se houve assimilação dos conceitos. Lembre-se de que os estudantes devem ser avaliados de acordo com os objetivos previstos no plano de aula. Nesse momento, cabe perguntar: “Ao final da aula meu aluno foi capaz de...?”. Quadro 3 – Guia para planejar a avaliação Fazer-se a pergunta Propósito O que será avaliado? Retomar os objetivos Como será a avaliação? Definir quais são os recursos e as estratégias Quando a avaliação será realizada? Indicar o momento da aula, especificamente Por fim, nas fontes/referências da aula, caso sejam utilizados sites, livros ou apostilas para pesquisa, eles devem ser mencionados. 142 Unidade III Exemplo de aplicação Existem diferentes modelos de planos de aula. Pesquise mais sobre eles e veja a qual você melhor se adapta. Contudo, tenha sempre em mente que, ao redigir um plano de aula, você o está escrevendo para que outro professor seja capaz de aplicá-lo, se necessário. Assim, você vai conseguir redigi-lo a partir de um texto descritivo, com riqueza de detalhes. 8.2 Sequência didática Sequência didática é um conjunto de atividades gradativas de planos de aulas que compartilham os mesmos objetivos. Conforme Dolz e Schneuwly (1996), esse tipo de planejamento envolve uma sequência de módulos de ensino, organizados conjuntamente, para ensinar um determinado conteúdo, tema ou assunto. Para Nery (2007), as atividades sequenciais pressupõem um trabalho pedagógico organizado numa determinada sequência, durante um determinado período, estruturado pelo professor. Constituem-se em uma modalidade de planejamento mais orgânica: o conteúdo que vem na sequência depende do que já foi realizado (e aprendido) anteriormente. As atividades sequenciais contribuem para cumprir objetivos didáticos variados. Por isso, são compostas por atividades coletivas e/ou individuais. A sequência didática possibilita, por exemplo, que se amplie o conhecimento acerca de um determinado conceito ou conteúdo que não tenha ficado claro para o estudante. Podemos dizer que a sequência didática: • é um conjunto de atividades estratégicas de intervenções articuladas entre si, planejadas, etapa por etapa, para que o entendimento do conteúdo ou tema proposto seja alcançado pelos estudantes; • pode ser utilizada em qualquer disciplina para ensinar e retomar qualquer conteúdo por meio de uma sequência de propostas em ordem crescente de dificuldade, focando conteúdos mais específicos, com começo, meio e fim. • constitui uma sequência de várias aulas, com o objetivo de ensinar um determinado conteúdo, abrangendo diversas estratégias de ensino. Observação Para fins desta disciplina, entende-se sequência didática como a organização sistemática e sequencial de mais de uma aula sobre o mesmo conteúdo a ser ensinado. 143 DIDÁTICA GERAL Vejamos como a sequência didática pode ser organizada e estruturada: Quadro 4 – Estrutura de sequência didática Sequência didática Tema da aula: Quantidade de aulas: Público-alvo: Disciplina: Conteúdos: Objetivos gerais: Aula 1 Duração: Conteúdo: Objetivos específicos: Recursos: Etapas da aula: 1. Introdução ao tema da aula: 2. Desenvolvimento da aula: 3. Atividades para os estudantes: Avaliação: Fontes/referências: Aula 2 Duração: Conteúdo: Objetivos específicos: Recursos: Etapas da aula: 1. Introdução ao tema da aula: 2. Desenvolvimento da aula: 3. Atividades para os estudantes: Avaliação: Fontes/referências: É importante a ênfase aos itens quantidade de aulas (quantos planos de aulas comporão a sequência didática) e objetivos gerais. Por tratar-se de um planejamento mais amplo e complexo, os objetivos gerais aparecem na sequência didática para nortear os objetivos específicos, a serem definidos nos planos de aulas. Para a definição e compreensão da complexidade e dos níveis dos objetivos gerais, bem como dos objetivos específicos,recorremos à Escala de Bloom (apud PILETTI, 2010), que, apesar de ser destinada à avaliação, apresenta-nos os verbos que representam as habilidades no processo de aquisição do conhecimento. 144 Unidade III Relembrar Compreender Aplicar Analisar Avaliar Criar Figura 42 – Escala de Bloom Os degraus da Escala de Bloom apresentam habilidades em graus de complexidade. São degraus gradativos, que se referem ao processo de aprendizagem e contribuem para a compreensão dos objetivos gerais e específicos. Vejamos as características fundamentais de cada habilidade: • Relembrar: se refere ao conhecimento prévio do estudante acerca de um determinado assunto ou conteúdo. Para relembrar é preciso que o estudante: liste, reconheça, descreva, relate e nomeie o que já se sabe. • Compreender: trata-se da ampliação do conhecimento que o estudante possui. No atendimento a esta habilidade, objetiva-se que o estudante: interprete, classifique e explique. • Aplicar: habilidade mais complexa, que envolve as anteriores, tendo em vista que o estudante precisa aplicar na prática o conhecimento compreendido. A aplicação exige do estudante as habilidades de usar, executar e implementar. • Analisar: é atingido quando os alunos são preparados, suficientemente, para desdobrar o assunto em partes e estudar cuidadosamente cada uma delas. A análise requer do estudante comparar, organizar e desestruturar o que já se sabe. • Avaliar: nível que compreende as demais habilidades (gerais e específicas). Para avaliar, o sujeito necessita criticar, contestar, julgar e decidir. Observa-se a complexidade pelo fato de exigir não só o saber mas, sobretudo, o saber fazer. • Criar: último estágio ou degrau a ser atingido, quando o estudante, após passar por todos os demais, consegue desenvolver as habilidades de planejar, inventar, consertar e produzir. Mas como podemos definir os objetivos gerais e específicos a partir da compreensão da Escala de Bloom? 145 DIDÁTICA GERAL Veja um exemplo: Quadro 5 – Estrutura de sequência didática Sequência didática Tema da aula: meio ambiente Quantidade de aulas: 4 Público-alvo: 6º ano do Ensino Fundamental II Disciplina: ciências naturais Conteúdos: reciclagem Objetivos gerais: compreender a caracterização dos materiais recicláveis e os processos de reciclagem do lixo Aula 1 Conteúdo: classificação dos materiais recicláveis Objetivos específicos: classificar e explicar a composição dos materiais recicláveis (papel, vidro, madeira, plástico e orgânico) No quadro anterior podemos identificar dois aspectos gerais e específicos. O primeiro se refere ao conteúdo. No cabeçalho da sequência didática, o conteúdo é reciclagem. Na aula 1, o conteúdo necessita ser mais restrito, enxuto, delimitado, ou seja, a classificação dos materiais recicláveis é a delimitação de um processo mais amplo – a reciclagem. Isso significa que na aula 2, por exemplo, o professor poderá abordar outros conteúdos específicos, como o processo de descarte e reciclagem do lixo. O segundo aspecto está atrelado aos objetivos. Observe: • Objetivo da sequência didática: compreender a caracterização dos materiais recicláveis e os processos de reciclagem do lixo. • Objetivo da aula 1: classificar e explicar a composição dos materiais recicláveis (papel, vidro, madeira, plástico e orgânico). Observa-se, conforme a Escala de Bloom, que classificar e explicar são habilidades específicas de uma ação mais complexa que é compreender. Portanto, para compreender a caracterização dos recicláveis, é necessário que o estudante classifique e explique como é a composição dos materiais. É desse modo que podemos perceber a gradação dos conteúdos e dos objetivos dentro de uma sequência didática, garantindo a ordem crescente de dificuldade, abrangendo diversas estratégias de ensino. Exemplo de aplicação Escolha um conteúdo que faça parte da sua área de conhecimento e reflita acerca dos objetivos gerais e específicos conforme a Escala de Bloom. 146 Unidade III 8.3 Projeto didático O projeto didático é uma modalidade organizativa que pode ser planejada num contexto macro (da escola) e/ou micro (sala de aula). Já discutimos o projeto político pedagógico – que não se refere a um projeto didático, mas acontece num contexto macro – e agora passaremos para a etapa da compreensão sobre o projeto didático na perspectiva micro. O projeto didático ou projeto de trabalho é um planejamento pedagógico mais complexo, se comparado ao plano de aula e à sequência didática. Existem algumas diferenças consideráveis do projeto para as demais modalidades organizativas, sendo elas: • Produto final: o projeto deve apresentar, obrigatoriamente, um fechamento, um evento final para caracterizar o seu encerramento. Existem inúmeras possibilidades para a definição do produto final, desde o desenvolvimento de um livro, jornal, sarau ou vídeo até a organização de uma mostra cultural ou excursão. • Dimensionamento do tempo: trata-se de um planejamento que requer um período considerável (de um mês ou mais), diferentemente das demais modalidades. • Interdisciplinaridade: por ser um planejamento mais amplo e complexo, o projeto didático pode envolver a articulação entre duas ou mais disciplinas. • Planejamento compartilhado: enquanto o plano de aula e a sequência didática nascem de uma necessidade inerente ao processo de ensino, o projeto didático deve ter origem numa necessidade particular do grupo – por exemplo, a temática da obesidade – ou da própria curiosidade e interesse dos estudantes. Por isso, o planejamento e as etapas do projeto devem ser compartilhados, com o intuito de desenvolver uma responsabilidade coletiva. Observação Não é porque a temática, os objetivos e o produto final são compartilhados com os estudantes que o professor não irá assumir uma intencionalidade didática. Assim como nas demais modalidades organizativas, deverá estruturar o projeto didático não perdendo de vista o plano de ensino da disciplina. Vejamos, a seguir, como pode ser a estrutura de um projeto didático: 147 DIDÁTICA GERAL Quadro 6 – Estrutura de projeto didático Projeto didático Tema: Justificativa: Público-alvo: Duração: Disciplinas: Conteúdos: Objetivos gerais: Objetivos específicos: Recursos materiais: Desenvolvimento Etapa 1: Etapa 2: Etapa 3: Cronograma: Produto final: Avaliação: Referências: O tema do projeto didático comumente nasce dos interesses dos estudantes ou das necessidades e anseios da comunidade escolar. A definição do tema, portanto, deve partir de um problema particular, explicitando o que de fato se quer resolver, pesquisar e aprender ao longo do projeto. O problema também serve para justificar a relevância do projeto didático. Por isso, no item justificativa, além de apresentar a sua potencialidade formativa, é importante descrever a origem, como nasceu a escolha do tema. Pelo fato de o projeto poder envolver mais de uma turma ou disciplina, no público-alvo é necessário indicar quem são os envolvidos (estudantes, professores, funcionários e outros). Em alguns projetos, solicita-se até mesmo o nome de um professor responsável. No item duração, apresenta-se o período previsto para o desenvolvimento do projeto, que pode ser flexível. Não há um tempo ideal; depende estritamente dos objetivos didáticos, podendo durar meses, bimestres ou semestres. As disciplinas ou áreas de conhecimento devem ser indicadas. Um projeto pode ser desenvolvido agregando apenas uma disciplina, mas devido à sua estrutura, o projeto didático comumente é utilizado como um planejamento interdisciplinar. Elencadas as disciplinas, é preciso identificar quais conteúdos estão atrelados à temática do projeto. 148 Unidade III Observação Nem sempre (e não necessariamente) todos os conteúdos elencados no plano de ensino devem ser contemplados no projeto didático; podem sê-lo apenas aqueles que compreendem o tema. Nos objetivos gerais é importante ter clareza na definição, delimitandomuito bem o que se quer alcançar com o projeto. Por isso a importância da sua articulação com o problema, ou seja, como resolvê-lo. Recomenda-se o uso de verbos que caracterizam uma ação mais ampla – por exemplo: possibilitar, proporcionar, contribuir, propiciar, oportunizar, dentre outros. Os objetivos específicos são decorrentes dos objetivos gerais e dos conteúdos de cada área de conhecimento indicada no projeto. Lembrete A escrita dos objetivos, tanto gerais quanto específicos, deve obedecer a determinadas regras, para garantir clareza e coerência. Vejamos algumas regras: • Deixe-se guiar pela seguinte frase: ao final da aula (ou algum outro período de tempo no trabalho educativo, como o ano escolar, por exemplo), os estudantes serão capazes de... • Complete a sentença anterior com um verbo no infinitivo, como falar, analisar, explicar, desenvolver, aprender etc. Vale resgatar a Escala de Bloom. • Lembre que os objetivos sempre se referem aos estudantes, conforme a frase “Que os alunos sejam capazes de...”. Isso deve ficar bem claro para que o professor não cometa o equívoco na descrição de evidenciar a sua ação, como em “Fazer os estudantes falarem sobre o processo de reciclagem”. No item recursos, devem ser descritos os materiais (tecnológicos, espaciais, gráficos, alimentares etc.) e os recursos humanos (agente de saúde, palestrantes, comandante de guarda municipal etc.) necessários para o desenvolvimento do projeto. As etapas de desenvolvimento constituem, talvez, a principal parte do projeto didático. É neste item que deve ser descrito, com riqueza de detalhes, como será o processo de execução do projeto, apresentando “o que”, “quando” e “como” essas etapas serão desenvolvidas na prática a partir de uma ordem cronológica. 149 DIDÁTICA GERAL Por ser um planejamento mais complexo e amplo, o projeto didático requer um cronograma que indique o período de início e término de cada uma das etapas de desenvolvimento – por exemplo: divulgação, inscrição dos participantes, datas dos encontros e realização de atividades, datas de eventos e culminância do projeto, e avaliação. O produto final refere-se ao fechamento do projeto, uma decisão que deve ser definida conjuntamente pelos participantes. Pode ser uma apresentação ou exposição cultural; um livro; um CD-ROM com a coletânea dos melhores momentos e produções no decorrer do projeto; um álbum ou slides com fotografias; a construção de um portfólio; enfim, a criatividade deve ser estimulada para a escolha de como será o encerramento do projeto. As estratégias de avaliação do desenvolvimento do projeto didático também devem ser definidas. Além das modalidades de avaliação referentes à avaliação do processo de ensino e aprendizagem, a avaliação também deve ocorrer de maneira coletiva com o intuito de avaliar se a resolução do problema foi atendida, se os objetivos foram alcançados, se o produto final ficou como o esperado etc. Por fim, nas referências devem ser indicadas as fontes de todos os conteúdos pesquisados, consultados ou citados, impressos ou veiculados na rede (internet). 8.4 Atividades permanentes, ocasionais e de sistematização Nossa discussão até aqui contemplou a estrutura dos diferentes tipos de planejamento. Mas quais são as atividades que o professor pode planejar no desenvolvimento do plano de aula, da sequência didática e do projeto? A seguir apresentamos as definições e algumas sugestões de atividades permanentes, ocasionais e de sistematização. De acordo com Nery (2007), a atividade permanente é um trabalho regular, diário, semanal ou quinzenal que objetiva uma familiaridade maior com um determinado conteúdo ou informação. Pode-se afirmar que as atividades permanentes são tarefas sistemáticas que possibilitam um contato assíduo do estudante com uma situação didática. Para essa modalidade organizativa, sugere-se que o professor inclua em sua rotina de trabalho atividades de acompanhamento contínuo ao estudante de maneira a incentivar, orientar e mediar o processo de aprendizagem. As atividades permanentes são importantes para o desenvolvimento de procedimentos, hábitos ou atitudes nos estudantes. Na sala dos professores, são comuns comentários como: “Os estudantes não têm hábito de leitura. Não conseguem localizar ou interpretar as informações básicas – explícitas – num texto!” ou “Ler e interpretar problemas matemáticos é um verdadeiro desafio para os alunos!”. Esse tipo de comentário dos professores remete a uma dificuldade que perpassa praticamente todas as áreas de conhecimento: ler e interpretar textos de diferentes gêneros. 150 Unidade III Nesse caso, a atividade permanente pode ser útil, pois sua organização diária/rotineira permite o acompanhamento do estudante de maneira constante. A seguir, algumas sugestões de atividades permanentes: • Leitura compartilhada: o professor, independentemente da disciplina que leciona, pode iniciar a aula com a leitura de um texto científico, instrucional, narrativo, jornalístico, dentre outros, diversificando as possibilidades de apreciação do texto: num momento o leitor pode ser o professor, e em outro, os estudantes. Dessa forma, poderá contribuir para o desenvolvimento do hábito de leitura de seus alunos. Uma forma de diversificar o momento de leitura compartilhada é solicitar que os próprios estudantes sugiram a leitura de um texto. • Roda de conversa ou debate: atentando-se para os fatos atuais, o professor pode iniciar a aula a partir de um debate sobre um tema vigente ou polêmico. Falar e defender a sua opinião sobre um dado assunto é uma habilidade que precisa ser desenvolvida pelos estudantes. É importante que o professor selecione assuntos que estejam articulados à sua disciplina, de maneira que o estudante possa relacionar o conteúdo estudado às situações do cotidiano, fazendo uso do conhecimento científico para analisar os fatos de maneira crítica e construir uma opinião fundamentada. • Desafios/resolução de problemas: os estudantes comumente sentem-se motivados a aprender quando se deparam como uma situação inusitada, que desafia as suas próprias habilidades. O professor pode propor no início ou no final da aula uma situação-problema que esteja atrelada ao conteúdo da aula. Nessa proposta, não é necessário que a resposta seja encontrada de maneira imediata; o desafio pode ficar “pendente” por dias ou semanas até que o problema seja resolvido. • Você sabia? ou Descobri na web: propor aos alunos que pesquisem informações complementares ao conteúdo explicado na sala de aula sem dúvida é desafiante. Esse tipo de atividade pode contemplar também assuntos de interesse dos estudantes a partir do uso consciente de pesquisa nas páginas da internet. As atividades ocasionais são aquelas que não foram planejadas a priori, mas que fazem sentido num determinado momento. Essa modalidade pode, por exemplo, estar relacionada aos interesses do professor, dos estudantes ou da própria instituição escolar. Podemos considerar como atividades ocasionais aquelas que não estão previstas no plano de ensino, mas que, de acordo com o andamento das aulas, se faz necessário incluir. A discussão sobre um problema sazonal que afete a todos, a abordagem de um assunto de interesse dos estudantes, a organização de um evento esportivo ou cultural na escola são exemplos de atividades ocasionais. Além do seu caráter imprevisível, também identificamos as atividades ocasionais como aquelas que estão previstas na rotina do professor, porém com menos frequência. As atividades de sistematização, como o nome já diz, são atividades destinadas ao processo de sistematização de conhecimentos aprendidos pelos estudantes. A compreensão de sistematização deste livro-texto está relacionada à habilidade de comunicar-se a partir de diferentes representações – oral, gráfica ou escrita – dos conceitos principais de um determinado conteúdo (conhecimento). 151 DIDÁTICA GERAL A atividade de sistematização pode ser propostaao final do plano de aula, da sequência didática e do projeto a partir das seguintes situações: • Produção de texto: solicitar a produção de um texto – determinar o gênero que melhor se adéqua ao conteúdo: científico (resumo e resenha), narrativo, dissertativo, instrucional etc. –, contemplando os principais conceitos da aula. • Entrevista (oral ou escrita): propor o planejamento de uma entrevista a partir do conteúdo estudado. A ideia é a de que um aluno entreviste outro a partir de perguntas que contemplem os principais conceitos, ideias e assuntos vistos nas aulas. Os estudantes, nesse caso, podem elaborar desde questões mais simples até questionamentos mais complexos. • Mapa conceitual: propor o desenvolvimento de esquemas para representação das ideias principais e dos aspectos gerais e específicos dos conceitos aprendidos. Exemplo de aplicação Considerando a sua área de conhecimento, a partir das sugestões anteriores, use a criatividade e pense em diferentes possibilidades de atividades permanentes, ocasionais e de sistematização. É a partir da combinação de diferentes tipos de atividades que o professor pode enriquecer e flexibilizar o seu planejamento. Além disso, o processo de organização do trabalho pedagógico contribui para um aspecto muito importante da didática: referimo-nos à dinâmica das aulas. Observação As atividades permanentes, ocasionais e de sistematização devem estar atreladas ao conteúdo e objetivos do plano de aula, da sequência didática e do projeto para manter a coerência e não perder de vista o que se pretende ensinar. E como colocar em prática na rotina diária e semanal do professor tantas modalidades organizativas de planejamento? É sobre isso que falaremos a partir de agora. 8.5 Semanário O semanário serve para organizar as modalidades de planejamento ao longo de uma semana. Geralmente, é solicitado pelo coordenador pedagógico da escola, pois trata-se de um instrumento para acompanhar, com assiduidade, o trabalho do professor. 152 Unidade III O desenvolvimento do semanário é importante pelo fato de permitir ao professor refletir sobre o trabalho realizado ao longo da semana que se encerra, sendo esta reflexão o ponto de partida para o planejamento da semana que se inicia. Por isso, quanto mais detalhado e completo for o semanário (em relação aos aspectos gerais do plano de aula, da sequência didática e do projeto), melhor será a avaliação do professor e do coordenador pedagógico sobre o atendimento do trabalho pedagógico. Vejamos um exemplo de semanário referente à disciplina de geografia de um professor que leciona no 6º, 7º e 8º anos do Ensino Fundamental II nas duas primeiras aulas de uma escola fictícia. Quadro 7 – Exemplo de semanário Semanário Geografia – 6º, 7º e 8º anos do Ensino Fundamental II Aulas Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira 1ª Aula 6º A Sequência didática Desenvolvimento da geografia urbana Etapa 1 Atividade permanente Leitura compartilhada (realizada pelos estudantes) de texto jornalístico sobre as problemáticas das grandes cidades (violência, poluição e desigualdade social) Atividade ocasional Análise crítica de fotografias de espaços urbanos (antes e depois) Atividade de sistematização Produção de uma resenha crítica a partir das principais partes do texto jornalístico e da análise das fotografias 7º B Projeto Interligados: Evolução das Tecnologias Etapa 2 Atividade permanente Debate sobre o uso consciente das tecnologias da informação e da comunicação Atividade ocasional Vídeo sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no século XXI: aspectos positivos e negativos Atividade de sistematização Planejamento de uma entrevista oral sobre uso consciente das tecnologias da informação e da comunicação 8º A Plano de aula Ambientalismo Atividade permanente Pesquisa na internet sobre a Agenda 21: relações nacionais e internacionais na questão ambiental Atividade de sistematização Produção de um resumo com as principais ações da Agenda 21 em prol do meio ambiente 7º C Projeto Interligados: Evolução das Tecnologias Etapa 2 Atividade permanente Debate sobre o uso consciente das tecnologias da informação e da comunicação Atividade ocasional Vídeo sobre o uso das tecnologias da informação e da comunicação no século XXI: aspectos positivos e negativos Atividade de sistematização Planejamento de uma entrevista oral sobre uso consciente das tecnologias da informação e da comunicação 6º B Sequência didática Desenvolvimento da geografia urbana Etapa 1 Atividade permanente Leitura compartilhada (realizada pelo professor) de texto jornalístico sobre as problemáticas das grandes cidades (violência, poluição e desigualdade social) Atividade ocasional Análise crítica de fotografias de espaços urbanos (antes e depois) Atividade de sistematização Produção de um mapa conceitual a partir das principais partes do texto jornalístico e da análise das fotografias 2ª Aula 153 DIDÁTICA GERAL Exemplo de aplicação Ao analisar o semanário, procure atentar-se aos seguintes aspectos: Qual modalidade organizativa de planejamento é utilizada para cada ano/turma do Ensino Fundamental II? Compare as atividades previstas para cada ano do Ensino Fundamental. Há alguma diferença nas atividades planejadas para os estudantes das turmas do 6º ano? E para as turmas do 7º ano? Quais seriam essas diferenças? A análise do semanário permite compreender que se trata de uma organização sistemática e sintética das diferentes modalidades organizativas na semana. Como o professor dispõe previamente do planejamento detalhado de cada modalidade organizativa, no semanário basta apresentar as informações gerais – por exemplo: a informação da turma, o tipo de modalidade organizativa, o número da aula ou etapa (somente para a sequência didática ou projeto, para o plano de aula não é necessário) e a breve descrição das atividades que serão desenvolvidas. Observando o quadro anterior, é possível perceber que, apesar de o professor dispor de um planejamento para turmas do mesmo ano (6º e 7º anos, como no exemplo) é possível realizar algumas modificações para atender às características e necessidades específicas de cada turma. No semanário analisado, as atividades de sistematização são diferentes. Enquanto no 6º A pede-se a produção de uma resenha, pelo fato de os estudantes terem familiaridade com o tipo de texto e terem facilidade com a escrita, no 6º B é solicitado o desenvolvimento de um mapa conceitual, que requer uma habilidade menos complexa, sem perder de vista o objetivo didático do professor. Outra diferença concentra-se na atividade permanente: no 6º B a leitura é realizada pelo professor. As necessidades de cada turma, os ritmos de aprendizagem, a gestão do tempo das aulas de acordo com o calendário letivo etc. devem ser avaliados pelo professor para que o seu planejamento semanal seja adequado. Para as turmas do 7º ano, por exemplo, não há diferença, pois os grupos possuem perfis semelhantes. Observa-se, no plano de aula do 8º A, que a atividade ocasional não é mencionada, o que significa que não é obrigatório fazer sempre esse tipo de atividade. Deve haver bom senso do professor na gestão do tempo e na organização das aulas, o que por vezes pode significar suprimir uma atividade para ter mais tempo de desenvolver outra. Observação Para organizar um semanário é necessário que o professor tenha em mãos os seguintes planejamentos: o plano de aula, a sequência didática e o projeto. 154 Unidade III 8.6 Métodos de ensino Métodos de ensino são procedimentos, estratégias, métodos e técnicas que contribuem para a organização didática de “como ensinar”. Entretanto, apesar de os métodos de ensino serem complementares, existem diferenças importantes entre eles, e falaremos delas a partir de agora. Figura 43 – Métodos de ensinoDisponível em: https://bit.ly/3LxZzsB. Acesso em: 11 fev. 2022. Segundo Piletti (2010), a estratégia é uma descrição dos meios disponíveis ao professor para atingir os objetivos específicos. Já o método é um caminho a seguir para se alcançar um fim, o que, para o professor, acaba sendo um roteiro geral para a atividade; é um caminho que leva até certo ponto, e não o veículo, pois este é a técnica. A técnica é um modo de operacionalizar o método, como a escolha de diferentes formas de aplicar o ensino – por exemplo, dinâmica de grupo, dramatização etc. Já os procedimentos são a maneira de efetuar algo, consistem na descrição das atividades desenvolvidas pelo professor e pelos estudantes. Conforme escrevemos, basicamente, todos esses termos são complementares, voltam-se para a prática de como conduzir as atividades. Ao professor, cabe a tarefa de direção e estímulo do processo de ensino em função da necessidade de aprender dos estudantes, utilizando-se intencionalmente de um conjunto de ações, passos, condições externas e procedimentos que podemos chamar de métodos de ensino. Para exemplificar, a atividade de explicação de um determinado conteúdo pode ser entendida como o método de exposição, e a atividade de diálogo ou discussão com os estudantes pode ser chamada de método de elaboração conjunta. Observação A prática do professor é permeada de uma concepção pedagógica que interfere diretamente na escolha dos procedimentos, estratégias, métodos e técnicas para a condução das suas aulas. 155 DIDÁTICA GERAL Os métodos de ensino, portanto, não se reduzem a quaisquer medidas, procedimentos e técnicas, pois se baseiam em uma concepção de sociedade, antes até de se constituírem em passos, medidas e procedimentos. Fundamentam-se em formas de reflexão, ações sobre a realidade educacional e interna, e relações entre objetos, fatos, problemas dos conteúdos de ensino, vinculando a todo momento o processo de conhecimento e a atividade prática humana no mundo. O método de ensino deve implicar a visão do objeto de estudo nas suas propriedades e nas suas relações com outros objetos e fenômenos sob várias perspectivas, especialmente em seu envolvimento com a prática social, uma vez que a apropriação de conhecimentos se justifica na sua ligação com as necessidades da vida humana e com a transformação da realidade social. Devido a isso, os métodos de ensino dependem dos objetivos que o professor formula tendo em vista o conhecimento e a transformação da realidade, pois é por meio desse processo de construção e assimilação dos conhecimentos que os jovens, a partir de uma compreensão mais ampla da realidade social, podem tornar-se agentes ativos de transformação dessa realidade. Como já vimos, o processo de ensino e aprendizagem é bilateral. Nele, professor e estudante atuam reciprocamente. Os métodos é que tornam esse processo possível; assim, quando é utilizada a exposição lógica da matéria, predomina a atividade do professor, que sempre está preocupado com a compreensão e a assimilação por parte do estudante. Os métodos correspondem, dessa maneira, à sequência de atividades do professor e dos estudantes, supondo objetivos do professor e os meios e as formas de organização do ensino. Libâneo (1990), explicando a utilização de métodos ativos, defende que, em vez de adotar a máxima do “aprender fazendo”, deve-se adotar a do “aprender pensando naquilo que se faz”. E, para isso, sugere algumas recomendações práticas em relação a esse princípio, como: • esclarecer os estudantes sobre os objetivos da aula e sobre a importância dos novos conhecimentos para a sequência dos estudos ou para atender necessidades futuras; • provocar a explicitação da contradição entre ideias e experiências que os estudantes possuem sobre um fato ou objeto de estudo e o conhecimento científico sobre esse fato ou objeto de estudo; • criar condições didáticas nas quais os estudantes possam desenvolver estratégias próprias de compreensão e assimilação de conceitos e habilidades (explicar como resolveu um problema, tirar conclusões sobre dados da realidade, fundamentar uma opinião, seguir regras para desempenhar uma tarefa etc.); • estimular os estudantes a expor e defender pontos de vista e conclusões sobre uma observação ou experimento e a confrontá-los com outras opiniões; • formular perguntas ou propor tarefas que requeiram a exercitação do pensamento e soluções criativas; 156 Unidade III • criar situações didáticas (discussões, exercícios, provas, conversação dirigida etc.) em que os estudantes possam aplicar conteúdos a situações novas ou a problemas do meio social; • desenvolver formas didáticas variadas de aplicação do método de solução de problemas. Lembrete No início deste livro-texto, perguntamos se a natureza da área de conhecimento por si só pode decidir o dinamismo e a postura do professor em sala de aula. Esta discussão sobre o planejamento e os métodos de ensino responde a essa questão. A dinâmica da aula depende do planejamento e das metodologias de ensino adotadas pelo professor. Portanto, é uma opção didática. O professor precisa fazer os estudantes pensarem e não apenas memorizarem palavras, fórmulas ou expressões. A compreensão deve vir sempre em primeiro lugar. Por isso é tão importante quanto essencial o professor se basear nos conhecimentos prévios de seus estudantes a fim de estabelecer um processo mais coerente com a realidade deles. Há inúmeras classificações de métodos de ensino, conforme os critérios de cada autor. Adotaremos a visão de Libâneo (1990), pois é a que mais está de acordo com o que foi dito até aqui. Em função disso, podemos classificar os métodos de ensino segundo seus aspectos externos – método de exposição pelo professor, método de trabalho relativamente independente dos estudantes, método de elaboração conjunta (ou de conversação) e método de trabalho em grupos. No método de exposição pelo professor ou aula expositiva, os conhecimentos, as habilidades e as tarefas são apresentadas, explicadas ou demonstradas pelo professor, que expõe a matéria buscando provocar a reflexão nos estudantes e tentando combinar outros procedimentos, como trabalho independente, conversação e trabalho em grupo. Este é o método mais utilizado nas escolas. No método de trabalho independente, as tarefas são dirigidas e orientadas pelo professor para que os estudantes as resolvam de modo individual e criativo. Esse método pressupõe determinados conhecimentos, a compreensão de tarefas e do seu objetivo e o domínio do método de solução, de modo que os estudantes possam aplicar conhecimentos e habilidades sem a orientação direta do professor. Pode ser desenvolvido em três etapas: • Tarefa preparatória: os estudantes devem escrever o que pensam sobre o assunto tratado, colhendo dados e observações, respondendo a um breve questionário ou teste, fazendo uma redação sobre um tema; dessa forma, verificam-se os conhecimentos prévios dos sujeitos. • Tarefas de assimilação do conteúdo: consistem em atividades de aprofundamento e aplicação dos temas tratados, estudo dirigido, solução de problemas, pesquisa com base em um problema novo, leitura de livro, desenho de mapas depois de uma aula de geografia etc. 157 DIDÁTICA GERAL • Tarefas de elaboração pessoal: atividades nas quais os estudantes produzem respostas por meio do seu próprio pensamento. O modo prático de solicitar esse tipo de tarefa é fazer uma pergunta ao estudante que o leve a pensar: o que aconteceria se..., o que devemos fazer quando... O estudante também pode relatar o que viu ou observou (uma planta, um animal, uma experiência, um estudo do meio etc.). Libâneo (1990, p. 167) sugere o cumprimento de alguns pré-requisitos para que o trabalho independente cumpra sua função didática. O professor precisa: — propor tarefas claras, compreensíveis e adequadas, à altura dos conhecimentos e da capacidade de raciocínio dos estudantes; — assegurar condições de trabalho (local,
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