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A Vitorino & Mendonça é uma empresa especializada em estratégias de comunicação e gestão de crise para institui- ções governamentais, políticos, partidos e candidatos. Suas ações compreendem a comunicação intermeios (televisivo, digital e impresso) aliada ao uso da tecnologia como ferra- menta de pesquisa, propagação, engajamento e monitora- mento. Tem como sócios, Marcelo Vitorino e Natália Mendonça. Ambos com experiência em ambiente político e eleitoral, com participações em campanhas de todas as regiões do Brasil, como as de Gilberto Kassab, José Serra, Marcelo Crivella, Raimundo Colombo, Camilo Santana e Confúcio Moura, além de outros nomes da política brasileira. A campanha digital de Crivella para a prefeitura do Rio de Janeiro conseguiu dialogar com o eleitor médio, gerenciar crises de imagem e mobilizar os militantes para ações dentro e fora da rede virtual. SUMÁRIO Introdução A campanha Contexto da campanha digital .................................................................................................................... A formação da equipe e o engajamento de militantes ............................................................................... A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador no alcance e nos acessos ............................................. Campanha digital não é só Facebook ......................................................................................................... A crise de cada dia ...................................................................................................................................... O caminho do virtual para o real ................................................................................................................ Considerações finais Lições aprendidas e contextos futuros ...................................................................................................... Anexo - Destaques Evento na Cinelândia ................................................................................................................................. Produção de videoclipe .............................................................................................................................. Gestão de crise .......................................................................................................................................... 8 17 27 41 51 67 78 93 102 107 ...................................................................................................................................................... 4 Toda campanha que participo, termino com boas histórias para contar que incluem desafios e momentos decisivos. Com Marcelo Crivella para a prefeitura do Rio de Janeiro não foi diferente. Com um cenário pós-reforma política de 2015, que alterou as regras para as candi- daturas, a experiência dessa campanha foi vivida em meio a novas variáveis, que aqui busco relatar. Sistematizei neste material o que conside- ro os principais elementos e confesso que foi difícil decidir o que deixar de fora. Importante ressaltar que este e-book trata das estratégias utilizadas durante o segundo turno da campanha, em que Mar- celo Crivella e Marcelo Freixo disputaram o eleitorado nas ruas e também na internet. INTRODUÇÃO É um material que além de trazer aberta- mente os destaques da campanha digital, se propõe a ser uma trilha de aprendi- zado para profissionais da área. A ideia de documentar os ocorridos veio antes de começarmos a campanha, em uma conversa que tive com Crivella. Para mim, os desafios de trabalhar com a frente digital de um candidato bastante popular em determinado segmento, mas com baixa penetração nos demais, merecia ser documentado. Logo após a campanha, já com os ânimos menos exaltados, escrevi o conteúdo que você acompanhará nas próximas páginas. O livro está dividido em três partes para facilitar a leitura não apenas de especialis- tas e candidatos, mas também de curiosos sobre o tema. Introdução 4| Introdução 5| Na primeira parte, que chamo de “A Campa- nha”, são abordados o contexto da campanha, a formação da equipe e o engajamento de mili- tantes; as mudanças no conteúdo; o uso da internet além das redes sociais; a gestão de crise e o efeito transmídia. Em resumo, as estratégias e ações da campanha, como se operacionalizaram as ideias e quais foram os resultados. Em “Considerações Finais”, compartilho os aprendizados e as projeções para as próximas campanhas brasileiras. Ao fim, aprofundo três situações que considero destaques da experiência: a realização de um grande evento de rua, a produção de um video- clipe e a gestão de crise perante um fato midiá- tico às vésperas da votação. Certa vez me perguntaram se eu não achava arriscado abrir as estratégias que realizo junto a meus clientes como se isso fosse “entregar o ouro ao bandido”, ensinando o concorren- te. Penso muito diferente. Entendo que, ao compartilhar experiências com colegas, contribuo positivamente para o desenvolvi- mento do mercado. Essa é a razão deste este e-book. Ele tem como objetivo ser uma peça de referência para profissionais de comunicação e marke- ting político, seja no aspecto tradicional, nas ruas ou nas redes digitais. Essa amplitude se dá pela característica mais forte do trabalho: a transição do virtual para o real. Importante lembrar que todo o relato da experiência a seguir foi resultado de uma equipe focada no resultado final. Agradeço os aprendizados que cada um me permitiu e garanto, no caso dessa campanha, foram de uma dimensão imensurável. Boa leitura! Marcelo Vitorino Para este e-book contei com o apoio de Natália Mendon- ça e Maíra Moraes, responsáveis pela curadoria dos elementos visuais e pela revisão do material, respectiva- mente. O conteúdo a seguir é de propriedade da Vitorino & Mendonça. Uso permitido desde que citada a fonte. Introdução 6| A CAMPANHA Contexto da campanha digital A formação da equipe e o engajamento de militantes A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador no alcance e nos acessos Campanha digital não é só Facebook A crise de cada dia O caminho do virtual para o real A CAMPANHA Contexto da campanha digital A formação da equipe e o engajamento de militantes A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador no alcance e nos acessos Campanha digital não é só Facebook A crise de cada dia O caminho do virtual para o real Já havia disputado também a prefeitura do Rio de Janeiro em duas ocasiões anteriores, 2004 e 2008. Apesar de ter um bom desempenho na disputa por cargos legislativos, a segmentação de seu eleitorado principal, composto em sua grande parte por evangélicos, não lhe permitia chegar a maioria absoluta dos votos válidos necessária para um cargo executivo. Marcelo Crivella é um político experiente com duas vitórias para o cargo de senador e duas derrotas na disputa para o governo do estado. Contexto da campanha digital 9| HISTÓRICO ELEITORAL DE MARCELO CRIVELLA ELEIÇÕES VOTOS % COLOCAÇÃO 2002 (Senador) 2004 (Prefeito) 2006 (Governador) 2008 (Prefeito) 2010 (Senador) 2014 1º turno (Governador) 2014 2º turno (Governador) 2016 1º turno (Prefeito) 2016 2º turno (Prefeito) 3.243.289 753.189 1.531.431 625.237 3.332.886 1.619.165 3.442.713 842.201 1.700.030 21,60% 21,83% 18,54% 19,00% 22,66% 20,26% 44,22% 27,77% 59,36% 2º (Eleito) 2º 3º 3º 2º (Eleito) 2º 2º 1º 1º (Eleito) Contexto da campanha digital 10| Antonio Pedro Indio da Costa / PSD Idade: 46 anos Ocupação: Deputado Federal Carlos Roberto de Figueiredo Osorio / PSDB Idade: 51 anos Ocupação: Deputado Estadual Pedro Paulo Carvalho Teixeira / PMDB Idade: 44 anos Ocupação: Secretaria Executiva de Coordenação de Governo - SEGOV Flávio Bolsonaro / PSC Idade: 35 anos Ocupação: Deputado Estadual Jandira Feghali / PCdoB Idade: 59 anos Ocupação: Deputada Federal Alessandro Molon /REDE Idade: 45 anos Ocupação: Deputado Federal PRINCIPAIS ADVERSÁRIOS Marcelo Ribeiro Freixo / PSOL Idade: 49 anos Ocupação: Deputado Estadual Contexto da campanha digital 11| Para conquistar a prefeitura carioca Crivella teve um grande desafio: Dialogar com os eleitores médios sem perder seus eleitores cativos. Foi nesse contexto que o uso estratégico da internet em sua campanha destacou-se. eleitores aptos para votar RIO DE JANEIRO 4.898.044 Ao analisar o perfil do eleitorado carioca, por meio de entrevistas pessoais, observamos que não havia um posicionamento ideológico e opiniões fechadas em questões consideradas polêmicas como aborto, religião, homossexualidade, entre outros. O mesmo eleitor, dependendo do tema, alinhou-se ora com posicionamentos mais próximos à esquerda, ora à direita. Este perfil pode ser observado no gráfico da próxima página. Contexto da campanha digital 12| - 1 0 - 9 - 8 - 7 - 6 - 5 - 4 - 3 - 2 - 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 1 0 A posse de armas deve ser proibida, pois ameaça a vida de outras pessoas Pobres que migram contribuem com o desenvolvimento A homossexualidade deve ser aceita por toda a sociedade Boa parte da pobreza está ligada à falta de oportunidades iguais A pena de morte não cabe, mesmo que a pessoa tenha cometido um crime grave Os sindicatos são importantes para defender os interesses dos trabalhadores A maior causa da criminalidade é a falta de oportunidades iguais para todos Aqueles adolescentes que cometem crimes devem ser reeducados O uso de drogas não deve ser proibido, pois o usuário é o mais penalizado Acreditar em Deus não necessariamente torna uma pessoa melhor O aborto não deve ser proibido, pois a mulher deve ter o direito de terminar uma gravidez indesejada de forma segura Arma legalizada deve ser um direito do cidadão para se defender Pobres que migram acabam criando problemas para a cidade A homossexualidade deve ser desencorajada por toda a sociedade Boa parte da pobreza está ligada à preguiça de pessoas que não querem trabalhar A pena de morte é a melhor punição para indivíduos que cometem crimes graves Os sindicatos servem mais para fazer política do que para defender os trabalhadores A maior causa da criminalidade é a maldade das pessoas Aqueles adolescentes que cometem crimes devem ser punidos como adultos O uso de drogas deve ser proibido, pois a sociedade é a mais penalizada Acreditar em Deus torna as pessoas melhores O aborto deve ser proibido em defesa da vida, pois pode se tornar um método contraceptivo Fonte: Instituto Informa Método: Quantitativo através de questionário estruturado aplicado por entrevista pessoal. Número de entrevistas: 1200. Margem de erro esperada: ± 2,83%. Nível de confiança: 95%. Data de campo: 08 a 09 de outubro de 2016 COMO O ELEITOR CARIOCA PENSA Respostas com alinhamento ideológico à direitaRespostas com alinhamento ideológico à esquerda Contexto da campanha digital 13| A rede virtual possibilitou ao candida- to segmentar os discursos e a lingua- gem, de acordo com cada público. A segmentação é uma forma de disponi- bilizar conteúdo que a televisão não permite dada sua característica de transmissão em massa. Mas o uso intensificado das ferramen- tas digitais só foi possível após o enten- dimento do candidato sobre a dinâmi- ca da comunicação nas redes sociais. Ainda na fase de planejamento, Crivella foi alertado para as alterações neces- sárias na sua linha de conteúdo publi- cado, assim como os desdobramentos possíveis. Mesmo exigindo uma grande mudança de postura e de crenças sobre redes sociais – principalmente aquela que conta likes como resultados -, o candi- dato apostou na mobilização e concor- dou com a proposta de mudar o foco da comunicação de seus canais. Esse entendimento pôde ser visto em vários momentos. Um deles aconteceu a caminho da coletiva de imprensa para anunciar a vitória. Mesmo eufórico com a notícia do resultado das urnas, parou e gravou um vídeo para a mili- tância. Até o momento da publicação deste texto, o post ultrapassou 7 milhões de alcance e mais 1 milhão de visualiza- ções. Contexto da campanha digital 14| VÍDEO GRAVADO A CAMINHO DA COLETIVA Oi gente, estou com muita alegria aqui comunicando a vocês que acabou de sair o resultado do TRE de que nós fomos eleitos, não foi só eu, vocês todos. Aqueles que militaram comigo incansavelmente no dia a dia nas redes sociais. Deus abençoe vocês! E que a gente possa estar junto neste governo para construir um Rio de Janeiro melhor, Rio de Janeiro dos nossos sonhos. Eu peço a Deus que me dê a esperança dos que sempre lutam e a fé dos que nunca desistem, para a gente conquistar esses lindos nossos sonhos. Valeu gente, muito obrigado! TRANSCRIÇÃO DO VÍDEO Contexto da campanha digital 15| Clique na imagem para assistir o vídeo. https://youtu.be/uuIhDoZCkxM Atuando na frente digital, tive toda a liber- dade para escolher as pautas, os formatos, a linguagem e a periodicidade das publica- ções. Pude fazer exatamente o que com- partilho e ensino nos cursos que desenvol- vi, como o "Marketing político e eleitoral: a vez do digital", tanto pela Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), quanto na plataforma de educação a distância da Presença Online. Meu objetivo neste texto é compartilhar a experiência vivida em uma campanha elei- toral digital de sucesso, que transformou os canais e a imagem digital do candidato e ultrapassou as fronteiras das redes sociais, tornando-se também um case de engaja- mento de militância para além do mundo virtual. Os pontos a serem destacados como fato- res que mais influenciaram o resultado da campanha, envolvem: (1) a gestão da equipe digital; (2) o comprometimento do candidato com as ações em ambiente virtual; (3) a produção de conteúdo orientada ao eleitor indeciso; (4) a força de combate e a organização da militância no enfrentamento aos boatos e no gerenciamento das crises; (5) o caráter transmidiático das ações na internet. Contexto da campanha digital 16| A CAMPANHA Contexto da campanha digital A formação da equipe e o engajamento de militantes A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador no alcance e nos acessos Campanha digital não é só Facebook A crise de cada dia O caminho do virtual para o real Para o primeiro turno foi monta- da uma equipe bastante enxuta para a comunicação digital, com- posta basicamente por: CONTEÚDO RELACIONAMENTO MOBILIZAÇÃO TECNOLOGIA MONITORAMENTO Quando assumi o segundo turno, investi na profissionalização da equipe e a campanha foi dividida em cinco áreas: 2º TURNO1º TURNO CRIAÇÃO RELACIONAMENTO A formação de equipe e o engajamento de militantes 18| CONTEÚDO RELACIONAMENTO MOBILIZAÇÃO TECNOLOGIA MONITORAMENTO Gerente de Operação Coordenador de Criação Coordenador de Relacionamento e Mobilização Estrategista Coordenador de Monitoramento e Crises Coordenador de Tecnologia Redatores Designers Produtores de vídeo Analistas de Relacionamento Analistas de Monitoramento Programadores EQUIPE DIGITAL ORGANOGRAMA 2º TURNO A formação de equipe e o engajamento de militantes 19| Em cada uma das áreas havia poucos profissionais com experiência em comunicação polí- tica, a maior parte vinha do mercado corporativo. Esse cenário ocorre por falta de profis- sionalização no segmento do marketing político e impacta negativamente qualquer cam- panha no Brasil. Isso também acontece porque na legislação eleitoral brasileira as equipes de campanha devem ser formadas em pouquíssimo tempo e os profissionais contratados, por falta de experiência na lógica eleitoral, têm uma longa curva de aprendizado sobre a dinâmica da comunicação política. No segundo turno, minimizamos essa fragilidade aliando a boa qualidade técnica da equipe a um planejamento de ações detalhado do início ao fim da campanha, assim como ferramentas de controle e gestão de produtividade. DIAGNÓSTICO PLANEJAMENTO OPERAÇÃOMONITORAMENTO RELATÓRIOS Premissas Estratégias Plano de Ação Métricas SWOT Pesquisas Entrevistas Canais Próprios Canais Externos Diários SemanaisTextos Áudios Vídeos Fotos CRM Mobilização Gestão de Respostas Cobertura Treinamento Ativação PRODUÇÃO ATIVAÇÃO EVENTOS FLUXOGRAMA DA OPERAÇÃO A formação de equipe e o engajamento de militantes 20| Para mensurar a produtividade de toda a equipe de relaciona- mento foi implementado um sistema de controle individual, por meio de formulário eletrônico. A cada interação, uma inserção no formulário. Foi esse controle que possibilitou acompanhar o tra- balho realizado mesmo à distância, dar feedbacks individualiza- dos e gerar relatórios mais detalhados. Também cabe ressaltar a necessidade de fazer escalas de traba- lho, dado que a internet não abre suas portas às 9h e fecha às 18h. Em campanhas, há eventos que acontecem em horários diversos como debates, reuniões e caminhadas que também precisam ser acompanhados por parte da equipe. Formulário eletrônico de controle individual A formação de equipe e o engajamento de militantes 21| Estruturamos a equipe considerando o caráter de uma campanha municipal bastante concorrida, além disso, precisávamos nos preparar para uma tendência: O USO DA INTERNET COMO FERRAMENTA DE DISSEMINAÇÃO DE BOATOS POR MEIO DE REDES SOCIAIS, BLOGS, E-MAIL E FERRAMENTAS COMO WHATSAPP. QUALQUER CAMPANHA PASSOU A SER ALVO DE GUERRILHA VIRTUAL. Daí a importância de ter uma área de monitoramento capaz de identificar o potencial de risco de cada crise, bem como os canais que estão sendo usados naquele momento para a guerrilha. A formação de equipe e o engajamento de militantes 22| DASHBOARD DE MONITORAMENTO A formação de equipe e o engajamento de militantes 23| Para combater as crises identificadas no monitoramento, outra necessidade foi a organização da militância por níveis de comprometimento. A área de relacionamento captava simpatizantes nas redes sociais e a área mobilização, durante todo o segundo turno, dava orientações à militância virtual para combater os boatos. Modelos de mensagens enviadas à militância A formação de equipe e o engajamento de militantes 24| Vídeo com resultado de mobilização de militantes. Clique para assistir. Print com Trend Topics do Twitter referente ao debate promovido pela Globo Exemplos de peças disseminadas na militância. A formação de equipe e o engajamento de militantes 25| https://youtu.be/EJNVzPJpRgc Importante lembrar que contamos com uma equipe dedicada à produção de vídeos feitos exclusivamente para a web que, pela qualidade e potencial de engajamento, foram selecionados para exibição no horário da propaganda eleitoral obrigatória de televisão, como o clipe musical produzido com a participação de Sandra Sá, que descrevo na parte “Destaques” deste material. Foi com essa rede – bem planejada e monitorada – que as ações digitais ultrapassaram a barreira da web como, por exemplo, a idealização do maior evento da campanha, na Cinelândia, palco de manifestações políticas do Rio de Janeiro e local favorito do adversário para seus discursos. A formação de equipe e o engajamento de militantes 26| A CAMPANHA Contexto da campanha digital A formação da equipe e o engajamento de militantes A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador no alcance e nos acessos Campanha digital não é só Facebook A crise de cada dia O caminho do virtual para o real Na maioria das campanhas a internet acaba tendo um papel secundário, fazen- do a replicação da comunicação da televi- são e funcionando como cobertura de eventos e da agenda de rua do candidato. Realizamos pesquisas em dois anos elei- torais, 2014 e 2016, para identificar como o eleitor conectado à internet gostaria de ver o conteúdo e também as suas expec- tativas quanto a composição. Em ambas, o resultado mostrou-se dife- rente da prática comum das campanhas. O eleitor quer saber do histórico, da traje- tória, das propostas e como os candidatos pensam. Em contrapartida, a internet é subutiliza- da com conteúdos que não interessam a quase ninguém a não ser os próprios mi- litantes. A comunicação feita até então, na forma tradicional, não seria suficiente para o que enfrentaríamos no segundo turno. Foi preciso encontrar uma fórmula que impactasse eleitores indecisos e que mantivesse eleitores cativos. Em uma conversa franca, alertei ao can- didato que a mudança implicaria em uma queda inicial no número de likes, mas que seria necessária para atingir o objetivo. Com a aprovação, passamos para o planejamento. Nas próximas páginas você encontrará detalhes como a matriz SWOT e a guia de estratégias que foram utilizadas na campanha. Os formatos e os resultados estão logo em seguida. A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 28| Candidato reverteu recursos para causas sociais Ficha limpa Passado como missionário na África Engenheiro com muitas obras Boa desenvoltura e carisma Boa produção legislativa Capacidade de agregar Imagem passa serenidade Visto como conservador Ligação política com ex-governador impopular Aparência frágil Foi ministro de um governo impopular Indisponibilidade de agenda para web Imagem ligada à Edir Macedo e a Record População tem temor pelo Freixo / PSOL Desgaste dos partidos de esquerda Militância numerosa Apoiadores populares Aproximação com a direita Fãs pouco digitais Militância desorganizada População não crê na ficha limpa Militância do oponente é muito presente na web FO R ÇA S O PO R TU N ID A D ES FR A Q U EZA S A M EA ÇA S PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 29| OBJETIVO ESTRATÉGIAS AÇÕES IMPACTAR POSITIVAMENTE ELEITORES INDECISOS, DE FORMA A PROMOVER JUÍZO DE VALOR E SUPERAR AS LIMITAÇÕES DO PÚBLICO DE SEGMENTO AÇÃO E REAÇÃO FORA DA BOLHA A FORÇA DO ENGAJAMENTO DA TELA PARA AS RUAS Estruturar monitoramento e definir métricas de alerta Organizar estrutura de gestão de crise Produzir conteúdo de combate a boatos Ativar canais próprios e de parceiros Identificar e expor manipulação de informações Simplificar a comunicação do plano de governo Produzir conteúdo visual não motivacional Aumentar o alcance das publicações Responder interações nos canais digitais Ativar canais de simpatizantes Organizar a militância Treinar militantes para ações digitais Construir canais de comunicação e mobilização Produzir conteúdo de engajamento Ativar bases com regularidade Produzir música com tema "tolerância" Fazer vídeoclipe musical "Rio de todos" Mobilizar grupos para evento de rua Realizar grande evento na Cinelândia A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 30| Com base no SWOT e nos objetivos da campanha, o planejamento do conteú- do foi disposto em um documento que era atualizado em tempo real, permi- tindo alterações rápidas, gerando pro- dutividade e eliminando retrabalhos. PLANEJAMENTO DE CONTEÚDO A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 31| De olho nos votos do eleitor indeciso, que exige mais informações sobre a candidatura, tratei de banir as famosas frases motivacionais e as fotos de caminhadas ou com poses ensaiadas que a maioria das campanhas publica nas redes sociais. Com as ações objetivando impactar os indecisos e também os militantes, em vez do pacote tradi- cional de conteúdos, optei por: (1) Fazer transmissões ao vivo com o candidato; (2) Publicar vídeos com depoimentos em primeira pessoa; animações; (3) Usar formatos diferenciados como: Facebook Canvas, fotos panorâmicas, GIF’s animados, imagens 360˚; (4) Publicar chamadas para propostas ou áreas específicas Exemplos de mensagens publicada no 1º turno. A seguir, a mudança de narrativa do 2º turno. A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 32| A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 33| Na página de Crivella no Facebook foram raros os momentos de reprodução de pro- grama eleitoral. Vários fatoresmotivaram essa decisão, sendo os dois principais: as diferenças entre o meio televisivo e a inter- net; e o algoritmo de exposição orgânica adotado pelo Facebook. Toda propaganda de televisão é baseada em repetição de mensagem, essa é a lógica de produção dos meios de comunicação em massa. Os conteúdos feitos para internet baseiam- -se em um complexo de entretenimento e informação, com a possibilidade de segmen- tação, de acordo com o perfil de interesse de cada usuário. Propagandas eleitorais, via de regra, são bem produzidas, mas seguem um roteiro engessado para o ritmo dos canais on-line. A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 34| A duração dos programas eleitorais também é uma bar- reira. No segundo turno, os programas eram de dez mi- nutos e dificilmente um usuário de redes sociais dedica mais de três minutos para assistir a um vídeo no Face- book, canal em que há uma certa superficialidade no consumo de conteúdo, pois tudo é muito dinâmico. Dificilmente tomo uma decisão sem testar inúmeras possibilidades e variáveis. A internet permite isso. Para convencer outros assessores da campanha, que tinham dificuldade de entender a máxima “menos é mais”, parti para a testagem: quanto maior a quantidade de conteúdos publicados, menor a possibilidade de alcance dos mesmos. Essa é a lógica de exposição adotada pelo Facebook. Ob- servamos que publicar mais do que quatro conteúdos diários diminui o alcance das publicações e, baseado nisso, mais uma vez, optamos por publicar conteúdos produzidos exclusivamente para a web, em detrimento dos conteúdos feitos para a televisão. A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 35| A comunicação passou a ser mais direta e mais didática no segundo turno. Investimos no desenvolvimento de vídeos com animações para explicar as propostas do candidato Nas imagens, demos lugar aos infográficos, em vários formatos, tanto para Facebook, quanto para envio por e-mail e WhatsApp. Abrir mão de publicar conteúdo da campa- nha televisiva, cobertura de agendas de rua e frases motivações, deram espaço para que os conteúdos propositivos tivessem um grande ganho em alcance e envolvimento. Clique na imagem acima para assistir o vídeo. A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 36| https://youtu.be/GEa0mAQIc3o https://youtu.be/GEa0mAQIc3o https://youtu.be/GEa0mAQIc3o 4 publicações alcançaram 2.543.833pessoas12 OUTUBRO 9 publicações alcançaram 1.341.198pessoas18 OUTUBRO MENOS PUBLICAÇÕES, MAIS ALCANCE A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 37| A nova linha de comunicação repercutiu bem nas redes sociais. O aumento no número de comentários demonstrou a repercussão, conforme o gráfico abaixo: 600 1.300 5.000 COMENTÁRIOS POR DIA, NA PRÉ-CAMPANHA COMENTÁRIOS POR DIA, NO PRIMEIRO TURNO COMENTÁRIOS POR DIA, DURANTE O SEGUNDO TURNO A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 38| Na pré-campanha, as publicações chegavam a cerca de 500MIL pessoas por dia No primeiro turno, ficavam perto de 800MIL impactos E no segundo, já excluindo os conteúdos “motivacionais” e reduzindo a quantidade de publicações, cerca de 1,7 milhões de pessoas foram diariamente impactadas, praticamente o dobro do primeiro turno e quase o quádruplo da pré-campanha 1,7 MILHÕES As variáveis “volume de comentários” e “número de pessoas impactadas” por dia não são métri- cas de resultado eleitoral, mas servem de base de comparação de performance com conteúdos anteriormente publicados. IMPACTOS POR DIA A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 39| Devido ao crescimento da exposição da campanha, a militância adversária não deu trégua: em cada conte- údo, dezenas de comentários ofensivos surgiam e uma decisão estratégica precisou ser tomada: dialo- gar com os detratores ou os bloqueá-los? Considerando o tamanho da equipe disponível para fazer o relacionamento nas redes sociais, decidi abrir mão da tentativa de diálogo com os militantes do adversário. Com pouco tempo e uma equipe enxuta para o volume de comentários que chegavam, optei por bloquear os detratores e manter a energia e foco da equipe na relação com os indecisos ou simpatizantes. A fórmula era simples. Quando havia menção de questionamento, a equipe de relacionamento res- pondia. Se fosse sinal de simpatia, convidava o elei- tor para a plataforma de militância. Se fosse ataque, bloqueava. Reprodução de gestão de resposta a um simpatizante A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador 40| A CAMPANHA Contexto da campanha digital A formação da equipe e o engajamento de militantes A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador no alcance e nos acessos Campanha digital não é só Facebook A crise de cada dia O caminho do virtual para o real Campanha digital não é só Facebook 42| Campanhas políticas brasileiras na internet costumam se resumir no uso de redes sociais, o que é um equívoco. Muitos dos meus alunos e clientes perguntam: quem visita um site quando pode ficar distraindo-se no Facebook? Minha resposta é simples: quem é estimulado. O Facebook é um ótimo canal de entrega de con- teúdo, porém dada a sua organização por linha do tempo, que não nos permite elencar priorida- des como precisamos, não serve para ancorar conteúdos e nem para alimentar mecanismos de busca. Em momentos de crise de imagem é preciso ter um ambiente preparado para receber acessos de todas as origens como e-mails, redes so- ciais, WhatsApp e Google. Daí a necessidade de ter um bom site. MAS O QUE É UM BOM SITE? Campanha digital não é só Facebook 43| É um site que, além de contar com um bom conteúdo, (1) funciona bem em qualquer navegador, (2) consegue ter um grande número de acessos simultâneos ao seu banco de dados, (3) tem facilidade para ser indexado pelos mecanismos de busca, (4) possibilita aos produtores de conteúdo per- sonalizar os campos para compartilhamen- to em redes sociais (título, descrição e imagem), (5) dificulta invasões ou ataques de terceiros e (6) permite integrar facilmen- te ferramentas de envio de e-mails, (7) tudo isso sem perder a velocidade para quem acessa, independente da origem do acesso ser via smartphone, tablet ou desktop. Durante o primeiro turno, o site não estava adequado e por esse motivo poucos links eram compartilhados. Quando algum link era compartilhado, recebia uma quantidade de cliques tão grande que o servidor ficava instável e o site ficava indisponível. Prevendo que haveria um número cada vez maior de militantes – pois essa também era meta da campanha digital –, bem como mais necessidade de divulgação, foi necessário reconstruir o site no segundo turno, em tempo recorde. Mantive o Wordpress como gerenciador de conteúdo, mas o uso de plug-ins foi revisto para dar mais velocidade e segurança ao canal. Com a equipe de conteúdo atenta ao preenchimento correto dos campos para compartilhamento em redes sociais, quando os links do site foram compartilhados geraram engajamento muito superior quando comparado com aos do primeiro turno. Campanha digital não é só Facebook 44| Exemplo sem preenchimento correto dos campos de compartilhamento Exemplo com preenchimento correto dos campos de compartilhamento Campanha digital não é só Facebook 45| Com as mudanças realizadas no site, quase triplicamos o acesso comparado ao primeiro turno e o site permaneceu estável. SEGUNDO TURNO Visitas Visitantes únicos Visualizações de página 56.334 48.167 96.827 156.896 133.975 253.288 PRIMEIRO TURNO De 15 de agosto a 02 de outubro 03 de outubro a 31 de outubro MÉTRICAS DE ACESSO AO SITE Dados de audiência do Google Analytics. Sessões. Campanha digital não é só Facebook 46| Conhecendo a base de fãs do candidato, implementei uma plataforma de mobili- zação virtual para organizar os militan- tes, o site “Eu apoio”, em que os visitan- tes podiam se cadastrar, marcando opções sobre como poderiam contribuir para campanha ou indicar amigos. Emalguns programas de televisão foram exi- bidas chamadas para a plataforma. Comercial de divulgação da plataforma “Eu apoio”. Clique em uma das imagens para assistir. Campanha digital não é só Facebook 47| https://youtu.be/PcFWwx4YlNA https://youtu.be/PcFWwx4YlNA https://youtu.be/PcFWwx4YlNA https://youtu.be/_nNYXzCWjXs O uso de e-mails ficou aquém do que esperávamos. Mesmo com uma base consistente de apoiadores, que se inscreveram em nossos formulários de mi- litantes, as ferramentas de envio estão bloqueando contas recém-criadas com muita facilidade. Tivemos que mudar algumas vezes de ferramenta e dosar bastante o volume de envio de mensagens. Mesmo assim, cada envio contou com taxa de abertura superior a 30%, o que pode ser considerado muito bom para um meio em que as médias variam entre 10% e 20%. WhatsApp chegamos a 13 MIL CONTATOS. Com essa base e um canal direto de comunicação estabelecido passamos a contar com os militantes cadastrados para combater boatos utilizando todos os meios digitais. Batemos as metas de adesão em poucas semanas. Apenas no Campanha digital não é só Facebook 48| ESTATÍSTICAS DE ENVIOS DE E-MAILS Relatório de três disparos de mensagens de e-mail realizados pela plataforma Mailchimp e suas respectivas taxas de abertura e clique em links das mensagens. Campanha digital não é só Facebook 49| Também fizemos uso de plataformas de terceiros como o Twibbon, que permite ao usuário trocar com facilidade as suas fotos de perfil no Facebook e no Twitter para mostrar apoio a causas. Usamos este recurso como estratégia de gestão de crise no episódio em que Crivella estampava a capa da Revista Veja, que explico adiante. Montamos uma imagem de apoio ao candidato que constava a data da eleição e os dizeres “Crivella 10” e “Veja mente”. Em menos de 12h, 13 mil pessoas já tinham alterado as suas fotos. Reprodução do site Twibbon Campanha digital não é só Facebook 50| A CAMPANHA Contexto da campanha digital A formação da equipe e o engajamento de militantes A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador no alcance e nos acessos Campanha digital não é só Facebook A crise de cada dia O caminho do virtual para o real Em uma campanha para a segunda maior capital brasileira, com um orça- mento que beira R$30 bilhões anuais, é inerente ao contexto esperar que qual- quer candidatura seja alvo de escrutí- nio público e de ataques. Ao longo do segundo turno da campa- nha, lidei com pelo menos dez episó- dios de crise, praticamente um a cada dois dias: fuga de dabates, posiciona- mentos conservadores, machismo, capa da Veja, viúva do Amarildo, entre outros. Diferentemente do primeiro turno, o adversário Freixo passou a ser comba- tivo no segundo, mudando a estratégia de sua comunicação que concentrou- -se em ataques de diversas dimensões a Crivella. Essa mudança de tom veio com a inclu- são na equipe de Marcelo Freixo de pro- fissionais que trabalharam na campa- nha de Pedro Paulo, candidato do PMDB derrotado no primeiro turno. Reprodução de sites de notícias A crise de cada dia 52| Já nos primeiros dias do segundo turno sua campanha buscava vincular Crivella à imagem de Garotinho - ex-governador do Rio de Janeiro com alto índice de rejeição por parte do eleitorado -, à Igreja Universal e a milicianos. Momento em que Freixo questiona Crivella sobre milícias. Clique para assistir o vídeo divulgado por whatsApp. Foto dos bastidores do debate Esse posicionamento ficou marcado nas diversas inserções feitas na televisão, internet e também na postura durante os debates televisionados entre os concorrentes ao pleito. A crise de cada dia 53| https://youtu.be/G-NpG-5q0Qw Outros fatores na gestão de crise, frequentes na era do digital, são a propagação de vídeos editados para manipular discursos, suprimindo falas e tirando-as do contexto. Tratávamos esses casos disseminando a comparação entre os vídeos. Abaixo dois exemplos de vídeos publicados pela campanha: (1) publicação do site Mídia Ninja em que trechos da fala de Crivella foram suprimidos para vinculá-lo a um discurso de cunho higienista e (2) a não veiculação da resposta do candidato ao ser questionado pelo repórter do RJTV sobre proposta para a região de Campo Grande. A CAMPANHA Vídeo completo da edição feita pelo site Mídia Ninja. Clique para assistir. Vídeo completo da edição feita pelo RJTV. Clique para assistir. A crise de cada dia 54| https://youtu.be/LKQKPxg0hxI https://youtu.be/dOmdqHHw54E A agenda de Crivella no Senado o impediu de cumprir alguns compromissos com a mídia. Uma emissora cance- lou um debate e utilizamos a rede para combater a disse- minação negativa que o adversário promovia. O não comparecimento a entrevistas marcadas no RJTV, da Rede Globo, e na CBN, geraram ainda mais mídia nega- tiva, o que levou o candidato a manifestar-se contra a co- bertura realizada pela Rede Globo durante a campanha. A nota de Crivella foi lida no ar pela apresentadora do RJTV, que seguiu realizando a entrevista com a cadeira vazia. Reprodução de sites de notícias A crise de cada dia 55| O monitoramento também mostrou que Crivella não tinha a preferência da mídia. Em uma das análises, foi identifica- do que o jornal O Globo publicara um número similar de pautas dos dois candidatos, cerca de 70, apenas no segundo turno. Mas o percentual de matérias negativas entre eles era muito diferente, chegando Cri- vella a ter três vezes mais do que Freixo. Ao analisar o conteúdo das matérias negativas, também ficou evidente que havia “peso” editorial diferente com o jornal atuando na desconstru- ção de Crivella, enquanto com Freixo limitou-se a temas “leves” – em comparação - como pontos ocul- tos no plano de governo, queda nas pesquisas ou sobre a militância do PSOL, deixando de lado assuntos “polêmicos” como sua ligação com grupos de Blackblocs ou o caso da arrecadação em nome da viúva de Amarildo, entre outros. A crise de cada dia 56| CRIVELLA FREIXO NUVEM DE TAGS REPRESENTATIVA DOS TEMAS DAS MATÉRIAS SOBRE OS CANDIDATOS Quali�cação das menções Vermelho - negativo Verde - positivo Roxo - neutro A crise de cada dia 57| H1 H2 H3 H4 H5 H6 H7 H8 H9 H10 H11 H12 H13 H14 H15 H16 H17 H18 H19 H20 H21 H22 H23 H24 H25 Dia seguinte Capa da Veja (Prisão) Ausência entrevistas na última semana Desabafo da �lho do cinegra�sta morto Delação Lavaja Jato Machismo no debate Esposa do Amarildo Livro Documentos e Áudios (Prisão) Vídeo editado pela Mídia Ninja (Jantar com empresários) 80.000 70.000 60.000 50.000 40.000 30.000 20.000 10.000 - Volume de compartilhamento Horas GRÁFICO COM A EVOLUÇÃO DO VOLUME DE COMPARTILHAMENTO DE MATÉRIAS NEGATIVAS AO LONGO DAS HORAS APÓS A PRIMEIRA PUBLICAÇÃO IR AO AR. A cada crise criávamos um histórico de evolução por hora, mensurando a replicação da fonte original do problema. Foi baseado nesse histórico que tomamos as decisões de posicionamento. A crise de cada dia 58| Pudemos observar também que há pautas mais suscetíveis à reverberação do que outras. O caso em que Mariana Godoy, uma das mediadoras do debate da Rede TV, se despediu dando “tchau de miss” após Crivella ter feito referência a sua beleza física, causou o maior volume de compartilhamentos contrários - de todo o segundo turno - a Crivella, acusado de machismo. Na mesma noite do debate, o candidato publicou uma nota em seu perfil oficial no Facebook destacando também as quali- dades profissionais das duas jornalistas que mediaram o debate. Posteriormente, Mariana Godoy declarou não ter se senti- do ofendida, contudo o estrago midiático estava feito. Reprodução do post no Facebook A crise de cada dia 59| Reprodução de sites de notícias A crise de cada dia 60| Mais alertas foram gerados quando assuntos como a denúncia da esposa do Amarildo tomaram proporções nacionais, gerando publicações em portaisque antes não haviam se ma- nifestado sobre o candidato, como Exame, El País e Estadão. Mas durante o monitoramento identi- ficamos que, apesar de veículos de credibilidade e alcance falarem sobre os assuntos, nenhum deles extrapo- lou o volume de compartilhamentos que o caso do “tchau de miss” gerou. Reprodução de sites de notícias A crise de cada dia 61| Outro fato ocorreu há uma semana da elei- ção, quando a revista Veja publicou, somente para o Rio de Janeiro, a capa “A foto que Cri- vella esconde há 26 anos”. Este foi o caso mais marcante da gestão de crise e por isso detalho em “Anexo - Destaques”. Importante destacar que conseguimos criar estratégias para estancar as crises porque monitorávamos 24h as menções ao candida- to. Estabelecemos critérios para identificar o que responder, baseado no volume de cres- cimento das pautas e no percentual de res- postas públicas às acusações. O gráfico da próxima página mostra a quan- tidade de compartilhamentos sobre os temas, durante o segundo turno. A crise de cada dia 62| Reprodução da revista Veja veiculada apenas no Rio de Janeiro Matérias com teor negativo Matérias com teor positivo GESTÃO DE CRISE: VOLUME DE COMPARTILHAMENTO DAS MATÉRIAS ENVOLVENDO CRIVELLA A crise de cada dia 63| A CAMPANHA Em todos os alertas de crise, o monitora-mento teve um papel importante na identi-ficação de ruptura do comportamento do eleitor conectado. Ao analisarmos os comentários no Face- book e nos canais de notícias, analisamos que após a publicação da capa, aumenta- ram os depoimentos desacreditando notí- cias veiculadas pela mídia em geral. Por esse lado, podemos considerar que a estratégia da Veja foi um grande marco, gerando um efeito de fortalecimento do candidato. Ao final da campanha havia muito mais comentários condenando o posicionamento dos portais, do que de fato dando relevância para o conteúdo das matérias, no pior dos casos, chegamos a metade dos comentá- rios positivos, mas na maioria o percentual ficou próximo de 80%. Imagens compartilhadas em redes sociais A crise de cada dia 64| A campanha de Crivella utilizou, basicamente, os próprios canais para se posicionar durante as crises. No caso da capa da Veja, por exemplo, cogitou-se dar uma entrevista coletiva, mas em vez disso o candidato gravou um vídeo curto na sua casa e sem produção de estúdio, explicando o ocor- rido. Com o vídeo publicado na sua página do Facebook e replicado no site da campanha, atingimos mais de 6 milhões de alcance em menos de 12 horas, tendo o conteúdo reproduzido também pelos veícu- los de comunicação. Transcrição do vídeo ‘’A história da foto na capa da Veja’’. Alô meus amigos. Vocês devem estar se perguntando sobre a capa da revista Veja, vou esclarecer. Nunca fui preso. O que ocorreu é que há 26 anos como engenheiro eu fui chamado para fazer a inspeção da estrutura de um muro que tinha risco de cair e machucar as pessoas. O terreno era da Igreja Universal, mas estava invadido e os invasores não deixaram eu entrar, deu uma confusão danada, foi todo mundo para a delegacia. Lá o delegado resolveu identi�car a todos, por isso esta foto que você viu na capa. Mas não deu processo, nada, absolutamente nada. Pelo contrário, eu é quem iniciei um processo contra ele por abuso de autoridade. Eu repito, nunca fui preso, nunca respondi nenhum processo e posso provar com todas as certidões que apresentei no momento em que me inscrevi para ser candidato a prefeito do Rio de Janeiro. Fiquem tranquilos, eu sou �cha limpa. Muito obrigado, um grande abraço. Vídeo de esclarescimento de Crivella. Clique para assistir. A crise de cada dia 65| https://youtu.be/uuIhDoZCkxM Fica o aprendizado de que a grande mídia tem um limite de influência eleitoral, tanto no tom das matérias para desconstruir alguém que tem uma militância e fãs reais, quanto para alcance. A campanha acertou em transformar suas redes sociais na primeira tela para posicionamentos e, com isso, destacar sua relevância e uso por parte do eleitorado. Print de comentário feito por usuário do Facebook. A crise de cada dia 66| A CAMPANHA Contexto da campanha digital A formação da equipe e o engajamento de militantes A mudança no conteúdo e o efeito multiplicador no alcance e nos acessos Campanha digital não é só Facebook A crise de cada dia O caminho do virtual para o real Com o crescimento da presença digital de Crivella, aumentaram também os ataques e os boatos. Em contrapartida, mais conteúdo foi produzido e o combate às informações foi intensificado. O candidato adversário detinha uma militân- cia numericamente superior à de Crivella. Eram cerca de 40 mil em sua ferramenta de mobilização, enquanto que para Crivella, até o segundo turno começar, nem ferramenta desenvolvida a campanha tinha. Treinar a militância e agrupar apoiadores em ferramentas de comunicação passou a ser uma das prioridades da comunicação digital. O resultado foi imediato, a ponto da campa- nha adversária afirmar na imprensa que a campanha digital de Crivella estava utilizan- do robôs para multiplicar postagens. Imagem de uma das chamadas disseminadas para divulgação da ferramenta de mobilização. O caminho do virtual para o real 68| Reprodução de sites de notícias O caminho do virtual para o real 69| As ações com a militância resultaram em mais 10 mil pessoas cadastradas, que apoiavam o candi- dato e que cumpriam as orientações compartilhadas como desafios diários. Por exemplo, toda a militância foi orientada a não atacar e nem responder a ataques de militantes adversários. A narrativa com a militância tinha foco no "acolhimento" das pessoas, depois do acolhi- mento, o convencimento e por fim a multiplicação. Eventos de formação da militância digital O caminho do virtual para o real 70| Além disso, todas as páginas e canais que tinham sim- patia pela candidatura foram mapeadas e passaram a receber conteúdos produzidos pela campanha. Essa estratégia foi essencial porque o algoritmo do Fa- cebook cria uma espécie de bolha de conteúdo em que os usuários recebem informações filtradas de acordo com seu perfil de consumo de informação. Para utrapassarmos essa fronteira, distribuímos con- teúdos para influenciadores que não tinham alinha- mento direto com a campanha ou com o tema eleições e política. Reprodução de canais de terceiros em apoio ao candidato O caminho do virtual para o real 71| O clima bélico entre os candidatos agravou-se e para desvincular a imagem de conflito sobre Crivella, optei por gravar um clipe leve e com bom astral, especialmente feito para disseminação pela inter- net. Sandra de Sá foi uma das vozes es- colhidas para dar o tom de música brasileira do jeito carioca. Com sua aceitação testada em grupos focais, além da web, o vídeo passou a ser veiculado também nos horários eleitorais da televisão e fez parte do programa de encerramento da campanha. O caminho do virtual para o real 72| https://youtu.be/rUgwvmtOjH4 Bem posicionada na internet, estava na hora da campanha transformar o virtual em real: a rua era o próximo espaço de ação. A meta era fazer um grande evento na Cine- lândia, até então o palco principal do adversário. Exemplo de ações de Freixo na Cinelândia O caminho do virtual para o real 73| O evento, organizado em menos de uma semana, reuniu milhares de pessoas. Resul- tado que também é reflexo da organização e execução das estratégias digitais que compilaram dados e perfis dos usuários de redes e militantes digitais. Convites para o evento O caminho do virtual para o real 74| O caminho do virtual para o real 75| https://youtu.be/CzDVQNmhndE É impossível dimensionar em votos qual a contribuição da internet no resultado eleitoral, contudo fica claro que o meio é a força de propagação de mensa- gens, de mobilização de militan- tes, de combate a boatos e de realização de eventos. Para isso é preciso abrir mão do modelo convencionalde comu- nicação, apenas replicando o que vem da campanha televisiva, sem envolvimento do candidato e sem pensar em ações com foco transmídia. Mesmo o evento tendo sido um sucesso evidente, boa parte da mídia não cobriu o acontecimento e preferiram se abster a dizer que Crivella havia conquistado um marco em sua campanha. O caminho do virtual para o real 76| CONSIDERAÇÕES FINAIS Lições aprendidas e contextos futuros CONSIDERAÇÕES FINAIS Lições aprendidas e contextos futuros As estratégias de comunicação política que eram comuns até 2014 não puderam ser uti- lizadas em 2016. As regras alteradas pela reforma política deixaram o período eleitoral mais curto, eliminou as doações corporati- vas e reduziu também o período de propa- ganda gratuita. Além disso, cada vez mais a internet se posiciona como um canal midiá- tico poderoso, capaz até mesmo de fazer frente às forças da “grande mídia tradicio- nal”, tornando-se uma grande força mobili- zadora e de reverberação de conteúdo. Mesmo que uma nova reforma mude as regras novamente, dificilmente voltaremos ao mesmo modelo de propaganda eleitoral marcado por programas de televisão faraô- nicos e recursos em abundância. A eleição municipal do Rio de Janeiro é um bom exemplo para os futuros candidatos e profissionais da área. A análise deve ser feita pela definição dos candidatos que foram ao segundo turno, Cri- vella (27% dos votos válidos) e Freixo (18% dos votos válidos). Apesar de muito distintos em conteúdo e forma, os dois concentram militâncias pró- prias, capital eleitoral que a maioria dos outros candidatos derrotados não possuem. Lições aprendidas e contextos futuros 79| RESULTADO ELEITORAL 1° TURNO RIO DE JANEIRO NOME VOTOS % Marcelo Crivella Marcelo Freixo Pedro Paulo Flávio Bolsonaro Índio da Costa Carlos Roberto de Figueiredo Osorio Jandira Feghali Alessandro Molon Carmen Migueles Cyro Garcia Thelma Bastos 842.201 553.424 488.775 424.307 272.500 261.386 101.133 43.426 38.512 5.759 1.436 27,77% 18,25% 16,12% 13,99% 8,98% 8,62% 3,33% 1,43% 1,27% 0,19% 0,05% Lições aprendidas e contextos futuros 80| Seguindo Crivella e Freixo, o que mais se aproxima no critério de mi- litância seria Flávio Bolsonaro, que obteve 14% dos votos válidos. Desse resultado para baixo vem o “modelo tradicional político”. Pedro Paulo, candidato do então prefeito Eduardo Paes, não foi capaz de passar de 16%. Índio da Costa e Osório ficaram próximo a 8%. Jandira Fhegali, Alessandro Molon e os demais não chegaram a 5%. Crivella não é apenas um político, é uma liderança política e religiosa. Freixo é o destaque de sua geração no mapa da esquerda partidária. Com poucos recursos para campanhas e pouco tempo para exposição, qualquer candidato que deseja estar em um segundo turno em 2018 precisará constituir uma base sólida de militantes, caso contrário será atropelado por alguém que fez a lição de casa. Constantemente, o discurso que coloca a internet com papel importante é feito por algum candidato ou político, mas a prática é muito diferente. Quando analisado o investimento necessário, bem como o tempo que o político deve dedicar-se, a maioria opta por não fazer o que precisa ser feito. Lições aprendidas e contextos futuros 81| Inicialmente, Crivella também não queria gravar vídeos e questionou algumas ações, mas aos poucos percebeu que o caminho para o político na internet não é o mesmo que em outras mídias. Um exemplo é a qualidade da produção de vídeos para campanha eleitoral em redes so- ciais, que diferentemente da televisão, aceita uma produção simples, quando o candidato é o personagem principal e dialoga diretamente com o eleitor. Diferenças estéticas para televisão e para internet Lições aprendidas e contextos futuros 82| Transmissões ao vivo também são bem-vindas, desde que devidamente roteirizadas, progra- madas com antecedência e estimuladas perante a militância. O Facebook agora é a “TV Globo” de qualquer político e junto com esse poder vem também a necessidade de investi- mento em bons profissionais e de uma estratégia eficiente na busca por votos, o que é muito diferente da busca por likes. Momentos ao vivo do candidato no Facebook Lições aprendidas e contextos futuros 83| É nessa mudança de entendimento do uso da web que está o maior desafio para os políticos. Os conteúdos que geram likes, mas não formam opinião, são muito fáceis de serem produzidos, basta uma frase motivacional e uma foto bacana. O problema é que essa comunicação não é capaz de formar uma militância ideológica. Os políticos precisam também aprender a deixar o ego de lado, não se preocupando tanto em aparecer em muitas publicações. É preciso equilibrar as aparições com conteúdos relevantes. O “ELEITOR-MILITANTE” NÃO ESPERA QUE UM POLÍTICO ATUALIZE SUAS REDES SOCIAIS DIARIAMENTE, ELE QUER CONSISTÊNCIA QUANDO VIR ALGO DO POLÍTICO, MESMO QUE DE FORMA DESCONTRAÍDA. Lições aprendidas e contextos futuros 84| 14 OUTUBRO LINHA DO TEMPO DE PUBLICAÇÕES DO FACEBOOK - DIA 1 Separamos as publicações feitas na fanpage do candidato em três dias diferentes para exemplificar a variedade de conteúdos, for- matos e frequência. Chamada para militância Combate ao boato Destaque de pesquisa eleitoral Depoimento de eleitor Lições aprendidas e contextos futuros 85| LINHA DO TEMPO DE PUBLICAÇÕES DO FACEBOOK - DIA 2 14 OUTUBRO 20 OUTUBRO Vídeo de proposta de transporte (motion) Depoimento de influenciador Chamada para ação social Vídeo de discurso Lições aprendidas e contextos futuros 86| LINHA DO TEMPO DE PUBLICAÇÕES DO FACEBOOK - DIA 3 23 OUTUBRO Infográficos com propostas Chamada para militância Série “Você sabia” Fragmento do programa eleitoral Lições aprendidas e contextos futuros 87| Parece óbvio, mas não é: para produ- ção de um conteúdo profissional não há outro caminho que não o investi- mento em bons profissionais. A equipe de criação digital de Cri- vella foi muito bem montada, com designers, editores de vídeo e reda- tores qualificados. Aliás, cabe res- saltar que foi uma das melhores equipes que trabalhei do ponto de vista técnico. Entendo ser muito difícil manter uma equipe tão boa durante os intervalos de campanhas, contudo cabe fazer um esforço em peças chaves como um bom redator, com técnicas de publicação para mecanismos de busca, e um diretor de arte com competência para editar vídeos. Assim, quando chegar no perío- do eleitoral a estética e o conteúdo estarão definidos, ampliando em muito a eficiência da campanha e a eficácia da comunicação. Aos demais integrantes da campanha, que forem incorporados em cima da hora, é ne- cessário fazer uma espécie de imersão na po- lítica e no marketing. Transmitindo a eles conceitos sobre ideologia, sistema eleitoral, legislação, comunicação, mobilização e gestão de crise. Idealmente seria bom alocar pelo menos uma semana para essa contextualização, dado que a maio- ria dos profissionais são oriundos do mercado corporativo. Lições aprendidas e contextos futuros 88| Legalmente o período eleitoral foi reduzi- do, porém o período de campanha foi am- pliado. A legislação hoje permite que o candidato se coloque midiaticamente a qualquer tempo em seus canais de comunicação e quem se adiantar com certeza será benefi- ciado. Neste ponto reforço a necessidade da construção, manutenção e alimentação de um bom site para o político. Cabe a centralização de todos os esforços da comunicação no ambiente que somente o proprietário tenha controle e defina as regras, no caso, o candidato, situação que não ocorre no uso de ferramentas de ter- ceiros, como as redes sociais. A verdade é que não sabemos os rumos das redes so- ciais. Em 2008 tínhamos o Orkut, em 2010 o Twitter se mostrou uma grande força, de lá para cá o Facebook entrou, mas acompanhado também de Instagram e WhatsApp. Com esse cenário, é imprescindível constituir reputação nos mecanismos de buscas nostemas relevantes para o candidato, pois qual- quer que seja o futuro, haverá um público cativo e isso só é possível com um bom site. Lições aprendidas e contextos futuros 89| O grande volume de votos de Crivella não veio prioritariamente do PRB, mas sim de sua reputação perante determinados seg- mentos. Essa reputação pode ser construída e a internet pode ajudar muito nesse processo dada a sua característica de segmentação de conteúdo e público. No âmbito jurídico, eu já havia notado em outras campanhas a dificuldade dos advoga- dos em atuar perante ações relacionadas ao digital e com Crivella não foi diferente. Não fosse a militância cadastrada e treina- da não teríamos estabelecido o domínio digital da forma com que ocorreu. Mesmo supridos de argumentos e comprovações, os advogados da campanha não conseguiram dar sustentação às ações como poderiam. Como a internet está cada vez mais determi- nante para campanhas, os partidos e candi- datos devem pensar em profissionais do direito especializados em questões digitais, com familiaridade nos termos e nas ferra- mentas. Lições aprendidas e contextos futuros 90| A mídia off-line tem um grande papel na formação de opinião? Sim. Mas sua influência caiu muito com a entrada da população na internet e essa mudança é resultado da descentralização da informação. O que antes era quase um monopólio de poucos, agora está distribuído por milhões de canais, muitas vezes com produtores de conteúdos como pessoas físicas e não mais como instituições. Mesmo com a maioria da população não sendo adepta do consumo de conteúdo em quantidade, o eleitor não está mais tão suscetível a “com- prar” uma informação para formar sua opinião. O posicionamento de alguns conglomerados midiáticos contra Crivella não fizeram mais do que levar os próprios canais ao descrédito. Para os candidatos em 2018 cabe um alerta: a campanha já começou. Lições aprendidas e contextos futuros 91| DESTAQUES ANEXO Evento na Cinelândia Produção de videoclipe Gestão de crise DESTAQUES ANEXO Evento na Cinelândia Produção de videoclipe Gestão de crise O primeiro debate realizado no segundo turno (RedeTV, 18/11/16) trouxe um adversá- rio diferente. Freixo abandonou o tom conci- liador e partiu para o embate frontal. Utilizou tom agressivo em todos os blocos e buscou vincular a imagem de Crivella a milicianos. Acompanhei a transmissão do debate junto a um grupo focal de pesquisa qualitativa, me- dindo a percepção de um grupo de eleitores sobre o desempenho dos candidatos. Por um lado, o eleitor não gostou do tom bélico de Freixo, de outro, parte dos defensores de Crivella já mostravam sinais de ansiedade ao não ver seu candidato retribuindo os ata- ques. Esse último grupo também mostrava insa- tisfação sobre a falta de grandes eventos do candidato Crivella, aos moldes do organiza- do por Freixo. Evento na cinelândia 94| Identifiquei aí uma lacuna que precisava ser preenchida. Realizar um evento presencial com o candidato foi entendido por muitos assessores como não sendo uma atribuição minha, responsável pela campanha digital. O que eles ainda não tinham entendido é que hoje, na comunicação de uma campanha, só existe um caráter: O TRANSMIDIÁTICO É com a potência dos canais digitais que mo- bilizamos e engajamos. Assim nasceu o evento na Cinelândia. Logo após o debate da Rede TV, desenhei o evento e apresentei ao Crivella que imediatamente aceitou o desafio com uma ressalva: para evitar problemas com a mídia, entendemos que o evento não deveria ser composto majoritariamente por militantes ligados a qualquer ativida- de religiosa, pois esse vínculo reforçaria os ataques de parte da imprensa. Evento na cinelândia 95| A Cinelândia é o maior palco de manifestações políticas do Rio de Janeiro, uma grande praça, em frente à Câmara de Vereadores. Posso dizer que Freixo tem uma história de sucesso no espaço. Seus eventos mobili- zavam um grande público e isso nos obrigava a elevar nosso patamar de resultados, pois não poderíamos passar a mensagem de fraqueza na mobilização. Aquecimento para o evento, clique para assistir Evento na cinelândia 96| O caminho encontrado foi o da mobilização política. Após realizar um mapeamento de informações estratégicas procurei alguns vereadores e lideranças políticas para que estes ajudassem na mobilização das pessoas. Em um primeiro momento, quase todos os envolvidos na campanho foram con- trários ao evento, principalmente o responsável pela comunicação televisiva da campanha, que considerava a realização “um risco desnecessário”. Outras pessoas próximas ao candidato também eram contrárias pelos mesmos motivos: “corre o risco de ter pouca gente” e “vai ter Black Blocs”. Evento na cinelândia 97| Percebi que toda insegurança tinha uma razão: a falta de experiência do PRB e dos aliados de campanha com eventos políticos envolvendo outros partidos. O partido não tem em sua ba- gagem muitas disputas pelo poder executivo e até então tudo que se conhecia de Crivella era o seu poder de mobilização de religiosos. Lembro de ter recebido uma ligação do presi- dente do PRB, Eduardo Lopes, muito incomo- dado com as prováveis repercussões negati- vas, solicitando que o evento fosse cancelado. Pude explicar a ele o significado que o evento teria: “NA INTERNET JÁ SOMOS MAIS FORTES DO QUE O ADVERSÁRIO, MAS A RUA AINDA É DE FREIXO, PRECISAMOS ‘TOMAR’ A CINELÂNDIA “ “ Evento na cinelândia 98| “ Lopes ouviu, pensou, concordou e solicitou que mudássemos a data marcada de 25/11 para 27/11, uma quinta-feira, véspera do debate na Globo, o último a ser televisionado.Mudamos a data e passamos a organizar, com o apoio do PRB e dos responsáveis pela mobilização da campanha. O planejamento estava sendo seguido e tínhamos certeza do sucesso do evento. Quando Romário gravou chamadas de apoio ao Crivella para o pro-grama de televisão, aproveitei a oportunida-de e gravei um convite para o evento. Após as gravações, há poucos dias do evento, muitos interlocutores baseados na falta de experiência e insegurança, pres-sionaram Crivella para mudar o local para o Clube Olaria, Zona Norte da cidade. Com esta decisão, alteramos toda a comunicação e geramos alertas aos envolvidos. Romário faz convite para o evento na Cinelândia Imagem informando o novo local: Clube Olaria Evento na cinelândia 99| É com a potência dos canais digitais que mo- bilizamos e engajamos. Assim nasceu o evento na Cinelândia. Quando o alerta começou a repercutir, o presidente do PRB intercedeu novamente, dessa vez a favor da permanência da Cinelândia como local, que ficou como definitivo, fazendo a equipe de comunicação retrabalhar em regime de plantão para avisar a todos da nova mudança. Mesmo com todos os obstáculos relatados, atingi- mos o objetivo. Lotamos a Cinelândia de uma forma que até os apoiadores se surpreenderam. A classe política compareceu em peso no palco, um claro sinal de apoio à candidatura. “NUNCA TINHA VISTO TANTA GENTE DE FORA DO SEGMENTO RELIGIOSO EM UM EVENTO DE CRIVELLA.” Imagem informando o novo local de�nitivo Evento na cinelândia 100| Evento na cinelândia 101| Clique para assistir o aquecimento https://youtu.be/pfFkZZTxVnE DESTAQUES ANEXO Evento na Cinelândia Produção de videoclipe Gestão de crise Produção de videoclipe | 100 Logo no primeiro dia de programa eleitoral do segundo turno, Freixo veio com o que tinha de melhor: a aura romântica da es- querda idealista. Essa aura foi brilhante- mente traduzida no clipe “Vai ser desse jeito”, que começa com a narração do ator Wagner Moura e que tem participações de músicos consagrados como Caetano Veloso e Chico Buarque. A música, com versos cantados por muitos artistas conhecidos e um refrão marcante, levava o eleitor a um universo do Rio de Ja- neiro ideal, humano, integrado e inclusivo. Durante a maior parte do clipe o foco con- centrou-se nos artistas, que nos refrãos eram substituídospor imagens da cidade. A direção e a fotografia do clipe não ficaram devendo nada a qualquer produção cinema- tográfica profissional. Crivella, por outro lado, usava em seus co- merciais o formato padrão de jingle. Nas co- munidades as marchinhas eram substituí- das por uma versão de “Baile de Favela”, um funk conhecido no Rio. Como os jingles foram elaborados para fina- lidades distintas, dar sustentação a campa- nha televisiva ou para os eventos de rua, nenhum deles “conversava” com o público digital. Diante desse cenário, comecei a pro- dução de um clipe exclusivo para a internet. Produção de videoclipe 103| Clique para assistir o clipe “Eu boto fé”. https://youtu.be/D7etHSRMa0Y O primeiro passo foi encontrar uma produ- tora que pudesse fazer o material em tempo recorde, pois o segundo turno é curto. Em seguida, precisávamos de uma música que tivesse os elementos certos para com- bater os ataques do adversário, dialogar com o indeciso, enaltecer qualidades do candidato, marcar o posicionamento inclusivo da candidatura e também dar um tom alegre na campanha. Já havia trabalhado com Tiago Mocotó em outras campanhas e chamamos o músico para o desafio. Surgiu o “Carioca da Gema” (letra ao lado). Letra e melodia prontas, começamos a pro- cura pelos intérpretes. O dia nem clareou e já tem gente de pé Cada um na sua luta, cada um com a sua fé Cada um com a sua força, cada um do seu jeito Mas todos em busca de amor e respeito O dia segue passando e vem mais gente pra rua Nossa cidade é 10, ela é minha, ela é sua É hora de buscarmos o que é nosso por direito De fazer o bem junto com quem faça bem feito Sou carioca da gema, sou 10 Um Rio sem preconceito Vamos votar no Crivella ele é 10 10 é o nosso prefeito No terreiro, sinagoga, no templo e na capela No subúrbio, no asfalto, no centro e na favela No funk, no carnaval, na parada, na passarela Todo mundo aqui é 10, nós estamos com Crivella Não importa a minha classe, coxinha ou mortadela O Crivella abraça todos, seja ele ou seja ela Se você tá indeciso, de bobeira, tá naquela Tome logo uma atitude, vote 10, vote Crivella Produção de videoclipe 104| Reeditamos todo material e inserimos, como protago- nistas, cidadãos comuns, no seu dia a dia na cidade. Cada um, a sua maneira cantava uma parte da música sempre olhando para a câmera, dialogando com seus pares, com seus iguais. A voz escolhida para ser a principal do clipe foi a de Sandra Sá. Junto com ela es- tavam Eliomar (Pique Novo), Marquinho (Art Samba), MC China, Mulher Melão e MC Doca. Outros nomes foram convida- dos, mas por desencontro de agenda aca- baram não entrando. Com a primeira verão pronta, avaliamos que não conseguimos transmitir a men- sagem que buscávamos. Partimos para o desenho de um plano B. Com a repercussão positiva, o material produzido exclusivamente para veicula- ção na internet foi exibido no último pro- grama eleitoral a pedido do candidato. Mais uma ação transmidiática. Produção de videoclipe 105| Marquinho Art’Samba canta o refrão da música, clipe para ouvir https://youtu.be/d-li5plK6y0 https://youtu.be/rUgwvmtOjH4 Produção de videoclipe 106| Clique para assistir o clipe https://youtu.be/rUgwvmtOjH4 DESTAQUES ANEXO Evento na Cinelândia Produção de videoclipe Gestão de crise A relação entre parte da mídia e Marcelo Crivella não era muito boa no segundo turno. A ausência do candidato a entrevistas e sabatinas dos veículos de comunicação liga- dos à Globo e declarações dadas a jornalistas trataram de acirrar ainda mais os ânimos. Experiente, Crivella já estava vacinado para a maioria das armadilhas, mas ninguém na campanha previa o que estava por vir. Faltando exatamente uma semana para a eleição, as bancas estampavam a foto de Crivella fichado pela polícia, reproduzida na capa da revista Veja. Antes disso, na sex- ta-feira, com a divulgação da capa antecipada na internet, as imagens foram repercu- tidas de todas as formas. A chamada dizia: “A FOTO QUE MARCELO CRIVELLA ESCONDE HÁ 26 ANOS” Gestão de crise 108| Eduardo Cunha havia sido preso na mesma semana e o caso estampou a capa da revista para todo o Brasil, exceto no estado do Rio de Janeiro ‐ mesmo Eduardo Cunha sendo eleito deputado pelo mesmo estado ‐, que trouxe as fotos Crivella preso na década de 1990. Pode ter ocorrido, mas não me lembro de outra ocasião em que a revista Veja tenha produzido duas capas diferentes para a mesma edição. Como todos na equipe, fui pego de surpresa no final da sexta-feira, dia 21/10, às 19h27. A partir daí seguiram-se momentos de espe- culação, porque até então nada relacionado àquele caso havia sido divulgado. A revista, de forma bastante sensacionalista, soltou a capa sem oferecer ao seu leitor o conteúdo que rechearia o miolo. No mesmo dia, identificamos o imaginário popular durante o grupo focal. “Crivella deve ter cometido algum tipo de crime muito grave, caso contrário não seria fichado, nem teria a foto com numeração” ou “com certe- za é grave, se o problema não fosse sério, Cunha estaria na capa”. No fim da pesquisa, me dirigi à residência do candidato para organizarmos os próximos passos. Ao chegar pude ler o processo a que se referia a revista Veja, inclusive saber a história da foto da “prisão”. Gestão de crise 109| Crivella, quando trabalhava como engenheiro para a Igreja Universal, foi desocupar um terreno que havia sido invadido por terceiros. Houve bate-boca e a polícia foi chamada. Na delegacia, exaltou-se e o delegado resolveu que deveria lhe deixar “uma noite na cadeia para se acal- mar”, conta. Depois do ocorrido, Crivella iniciou um processou contra o delegado por abuso de autoridade, mas retirou a pedido do mesmo. A foto divulgada pela revista fazia parte do processo em posse de Crivella. Por um meio que não identificamos, chegou ao conheci- mento da Veja a existência da imagem. O candidato não vendo problema com o ocorrido cedeu aos repórteres todo o processo que havia guardado, sem imaginar que teria parte dele retirada do contexto e explorada na capa da revista. A publicação poderia gerar dúvidas à respeito da reputa- ção do candidato caso não tivéssemos uma resposta rápida e eficaz, já que na internet o assunto já havia se popularizado e o pior, sem a explicação completa dos acontecimentos. Reprodução da capa da revista Veja de 23 de outubro 2016 Gestão de crise 110| Teríamos que ocupar espaço. Tirar da mídia o gosto do sensacionalismo. Durante a reunião emergencial, diversas so- luções foram propostas pela equipe que acompanhava de perto o candidato, inclusive uma coletiva com todos os apoiadores políti- cos já no sábado pela manhã, o que na minha opinião daria uma relevância desnecessária à matéria. Os responsáveis pela comunicação com a imprensa queriam dar notas para os veícu- los explicando os fatos. Expliquei a inutilida- de da ação, visto que a postura de parte da mídia não era receptiva. Do ponto de vista estratégico, a melhor solu- ção seria um vídeo ao vivo na página do can- didato ou um vídeo gravado e que a dissemi- nação fosse feita nos canais próprios da campanha. Se todos estavam curiosos para saber o que Crivella diria, que essa fala fosse em nosso território. A solução do vídeo foi aceita por Crivella. Gravamos e, contrariando os assessores de imprensa, que defendiam o envio do vídeo primeiro para os veículos, publiquei apenas às 7h do sábado, na página do candidato no Facebook. Reprodução do vídeo gravado por Crivella Clique para assistir Gestão de crise 111| https://youtu.be/qVbXBkWlA40 EM MENOS DE 24H O VÍDEO TINHA ALCANÇADO CERCA DE 5 MILHÕES DE PESSOAS. Os principais veículos de comunicação deram espaço para a resposta de Crivella, inclusive colocando o vídeo que publicamos, gerando ainda mais tráfego para o canal próprio. Em um balanço final, se a publicação da revista Veja tinha qualquer intenção de alterar o resultado das urnas, o efeito foi contrário.Mais de 10 mil pessoas mudaram as fotos de seus avatares no Facebook em apoio a Crivella, uti- lizando a ferramenta Twibbon. Durante esse fim de semana, dialoguei com diversas pessoas desconhecidas sobre a capa da revista. Garçons, taxistas, porteiros, recep- cionistas, motoristas de Uber, entre outros. O descaso com a revista Veja era uma unanimida- de, mesmo aos eleitores de Freixo que gosta- ram da capa: “claro que eu gostei da capa, mas a gente sabe que a Veja mente”. Após esse incidente, até mesmo opositores mostraram-se solidários ao candidato, repu- diando o sensacionalismo da revista com a pu- blicação. Antes daquela capa, quando havia pu- blicações críticas a Crivella, os comentários eram divididos quase que igualmente entre ataques e defesas. Depois da capa, 80% defen- diam o candidato. Gestão de crise 112| PR1iS1iNCAONLIN1i.CON TELEFONE (11) 2548-98 WHATSAPP (61) 98347- CONTATO@PRESENCAO MASTER CLASS(:) PRESENÇA ONLINE A Presença Onllne é a prlnclpal escola de marketing e comunlca�ão digital política do Brasil. Focada na produção de cursos sobre gestão estratégica da campanha ao mandato, a escola desenvolveu mais de dez cursos junto com Marcelo Vitorino, tendo como âncora o programa "Marketing Político Eleitoral: a vez do digital", também realizado presencialmente nas cidades de São Paulo e Brasília, em parceria e com a certificação da Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM. 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