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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA DA FAZENDA PÚBLICA DA COMARCA DE RECIFE-PE ASSOCIAÇÃO DOS AMIGOS DO RECIFE ANTIGO, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ sob o nº 02.313.050/0001-00, com sede e foro na Rua da Moeda, nº 234, Recife Antigo, Recife-PE, 50123-520, neste ato representada por seu presidente Joaquim Ribeiro, brasileiro, casado, administrador, portador da cédula de identidade – RG 6.952.650, inscrito no CPF/MF nº 023.320.555-61, residente e domiciliado à Rua José Osório, nº 65, Casa Amarela, Recife-PE, vem, respeitosamente, por intermédio de seu advogado (procuração anexa), com escritório profissional à Rua da Moeda, nº 56, Recife Antigo, Recife-PE, 50123-520, onde recebe intimações, com fulcro no artigo 1º, I da Lei nº 7347/85 propor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/C PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA em face de TRUKULENTOS CONSTRUÇÕES LTDA, pessoa jurídica de direito privado, inscrita no CNPJ nº 02.313.050/0001-00, com sede na Rua Coronel Agripino de Oliveira Costa, nº 171, Jardim Estelionato, na cidade de Recife-PE, CEP nº 50123-520, representada por seu sócio administrador Henrique Gomes, brasileiro, casado, administrador, portador do RG nº6.952.650, inscrito sob o CPF/MF 000.562.984-55, residente e domiciliado à Rua José Osório, nº 37, Casa Amarela, Recife-PE, CEP nº 50123-520, pelos motivos de fato e direito a seguir aduzidos. I) DOS FATOS A Associação dos Amigos do Recife Antigo foi informada que a construtora domiciliada no estado de Pernambuco, TRUKULENTOS CONSTRUÇÕES LTDA, bastante influente, resolveu edificar no bairro do Recife Antigo, bairro que sedia vários patrimônios históricos de Pernambuco, um ambicioso empreendimento imobiliário destinado à moradia de empresários integrantes da elite econômica do estado. O projeto foi submetido à aprovação perante a Secretaria Executiva de Licenciamento e Urbanismo/ SELURB. A empresa também ingressou no Agência Estadual de Meio Ambiente (CPRH), eis que o projeto de construção aterra parte do mangue integrante do estuário do rio Capibaribe. Assim, ao querer realizar construção, destruindo patrimônio público e causando danos ambientais, descumprindo as exigências legais, acaba por provocar danos ao meio ambiente, praticando ilícito civil, por ofensa a bens de interesse difuso. II) DA LEGITIMIDADE ATIVA De acordo com o artigo 1º, I da Lei nº 7347/85, é cabível o ajuizamento da ação civil pública, para prevenir ou reprimir danos materiais causados ao meio ambiente. Dispõe, ainda, da legitimidade ativa da Associação em seu artigo 5º, V, alíneas a e b, tendo em vista que está constituída há mais de 10 (dez) anos, constituída há mais de dez anos, cujos estatutos sociais se encontram registrados no cartório competente, instituído com a finalidade de proteção do meio ambiente e da preservação do Recife antigo, bem como inclui entre suas finalidades a proteção ao meio ambiente. III) DO DIREITO A nossa Constituição Federal dispõe acerca do patrimônio cultural brasileiro: Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico- culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1° - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. (grifo nosso) Art. 216. Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: I - as formas de expressão; II - os modos de criar, fazer e viver; III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1° - O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. (grifo nosso) No Brasil, tem sido o meio ambiente cultural (abrangendo o patrimônio histórico) objeto da proteção da lei. A Constituição Federal, em seu artigo 216, já é expressa nesse sentido: "Art. 216 - Constituem patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial tomados individualmente ou em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira nos quais se incluem: (...) V - Os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico. § 1o- O Poder Público, com a colaboração da comunidade, promoverá e protegerá o patrimônio cultural brasileiro, por meio de inventários, registros, vigilância, tombamento e desapropriação, e de outras formas de acautelamento e preservação. (...) § 4o. Os danos e ameaças ao patrimônio cultural serão punidos na forma da lei. A Lei n.º 7.347 de 24 de junho de 1985, que disciplina a Ação Civil Pública, cria os mecanismos para que efetivamente se proteja o patrimônio histórico e sejam punidos os responsáveis por danos causados a esses bens. O bem não necessita ser tombado para ser considerado patrimônio histórico, e em razão desta sua natureza, ser protegido. A Ação Civil Pública possui uma incomensurável utilidade na defesa dos Manguezais, à medida que atua como lei procedimental, isto é, estabelece a forma, o procedimento a ser seguido. O mangue é considerado o principal responsável pela produção de nutrientes da fauna aquática, e, em virtude da cadeia alimentar, da fauna terrestre, assim como refúgio de inúmeras espécies animais em diversas fases do seu desenvolvimento. O ambiente, compreendendo os fenômenos físicos, biológicos e sociais com os quais se encontra envolvido o sujeito, é bem jurídico elevado à categoria de direito fundamental à vida do homem. A Constituição Federal, em capítulo específico de nº IV, estatui: DO MEIO AMBIENTE Artigo 225 - Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Parágrafo 1º - para assegurar a efetividade desse direito incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II - preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulaçãodo material genético; III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a operação e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção; IV - exigir, na forma da lei, para a instalação de obra ou qualquer atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; Parágrafo 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. Parágrafo 4º - A Floresta Amazônica Brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira são patrimônio nacional, e sua utilização far-se-á na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais. III.1) DA RESPONSABILIDADE CIVIL OBJETIVA A responsabilidade civil ambiental é de cunho objetivo, não se questionando a respeito da culpa, onde se perquire o nexo de causalidade, adequado a relacionar a conduta ao resultado danoso, bastando assim a ocorrência da conduta e do dano ambiental, ligados pelo nexo causal para ensejar a responsabilidade, fato gerador de obrigação de reparar o patrimônio ambiental lesado, independente de culpa, conforme dispõe o artigo 14, § 1º da Lei 6938/81 e o § 3º do artigo 225 da Carta Magna: Lei 6938/81 Art. 14 (…) § 1º. Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente. Constituição Federal Art. 225 (…) § 3º. As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. No caso em pauta, não há que se negar a conduta ou mesmo a ocorrência do resultado danoso, pois encontra-se devidamente caracterizados através dos boletins, laudos e fotos que levam à inequívoca conclusão da ocorrência de danos ao meio ambiente. Portanto, requer-se que o réu paralise imediatamente e em definitivo, qualquer atividade de despejo de efluentes no Córrego do Maçarico (obrigação de não fazer) e, em caso de descumprimento, aplicação de multa coercitiva, prevista na Lei 7347/85, artigo 11 e artigo 536 do NCPC, que é um meio de coação que visa a compelir o devedor à observância da ordem judicial: Lei 7347/85 Art. 11. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor. Novo Código de Processo Civil Art. 536. No cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou de não fazer, o juiz poderá, de ofício ou a requerimento, para a efetivação da tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente, determinar as medidas necessárias à satisfação do exequente. IV) DA TUTELA DE URGÊNCIA Nestas condições, face a todo o exposto, requer-se a concessão de MEDIDA LIMINAR para obstar o prosseguimento de qualquer atividade degradadora na região, inclusive movimentação de terras e edificações de qualquer gênero, com a cominação de multa diária para o caso de descumprimento, nos termos do artigo 11 da lei 7.347/85. V) DOS PEDIDOS: a) A concessão da tutela de urgência b) A citação dos Réus nos termos do artigo 221, do CPC, para tomem ciência da ação, e, querendo, apresentem defesa, no prazo legal, sob pena de revelia; c) A imposição de multa para o caso de descumprimento das medidas determinadas por ocasião da sentença definitiva, não inferior ao mínimo legal, consoante art. 11 da lei 7.347/85; d) Sejam, ao final, julgados procedentes os pedidos formulados na petição inicial, consistente no encerramento das atividades nocivas (obrigação de não fazer), e, em caso de descumprimento, aplicação de multa coercitiva, prevista na Lei 7347/85, artigo 11 e artigo 536 do NCPC e a condenação da empresa-ré a reparar os danos sofridos; e) A condenação da ré nas custas processuais e honorários advocatícios; f) A intimação do Ministério Público para acompanhar a presente ação, conforme artigo 6º da Lei 7347/85; Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial a juntada de novos documentos, perícias, depoimento pessoal do réu e testemunhas. Dá-se à causa o valor de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais). Nestes termos, Pede deferimento. Recife, 22 de setembro de 2022. Catarina Cavalcanti OAB nº 25974
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