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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL 1. APRESENTAÇÃO Direito penal é um ramo do Direito Público que regula as condutas ofensivas aos bens jurídicos mais relevantes para a sociedade, reprimindo (punindo), através de sanções (penas), aos que se comportarem contrários ao estabelecido pela lei, visando, por fim, uma convivência harmônica da sociedade. Tem a função de garantir os direitos da pessoa humana frente ao poder punitivo do Estado. Sendo assim, tem-se que o Direito Penal também tem uma conotação garantista na formulação das normas penais, a fim de poder evitar que o Estado de Polícia se manifeste e se sobreponha ao Estado de Direito. Deve ser encarado como o último recurso (ou meio) do Estado para evitar determinadas condutas, devendo assim somente ser utilizado quando todos os outros ramos do Direito (tais como o Civil, administrativo, tributos, etc.) não forem suficientes. Nesse sentido, é denominado ultima ratio, ou seja, de intervenção mínima, ultima razão, ultima forma de regular certa atividade. Deve-se primeiro, tentar resolver a situação através de outras formas, caso não se tenha um resultado esperado, aí sim, recorrer ao Direito Penal. E o Processo Penal? Processo penal é a instrumentalização do próprio Direito Penal (Direito abstrato). Sem o processo penal, não adiantaria apenas dizer que matar alguém é crime, com pena de 6 a 20 anos, não é mesmo? Como faríamos para aplicarmos essa pena? Como que o homicida poderia ficar preso antes de uma sentença penal condenatória? Quem poderia pedir sua prisão? O que aconteceria na cena do crime? Quais os primeiros procedimentos na cena do crime? Tudo isso pode ser encontrado no Código de Processo Penal, que nada mais é do que a regulamentação do processo de persecução penal, em síntese, aquele processo que determinada pessoa responde! COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(O gmail.com Desde a inquirição de testemunhas em fase de inquérito Penal até um recurso de uma sentença em tribunal do júri, tem previsão nesse código de processo penal. Posto isto, o objetivo geral da disciplina Direito Penal e Processual Penal é trazer os principais conceitos, princípios e crimes, que todo Policial Militar deve saber, para que possa, ao deparar com uma ocorrência, perceber o caráter ilícito daquela situação apresentada, agir como representante do Estado de Direito e tomar iniciativas para garantir a preservação da ordem pública e a incolumidade das pessoas e patrimônio cumprindo assim sua função constitucional. Na parte de Direito Penal será tratado, sem exaurir o assunto, os principais ilícitos que a Polícia Militar lida diariamente. Será abordado também algumas teorias básicas para entendermos como que funciona o Direito Penal, bem como as excludentes de ilicitudes. Na parte de Processo Penal, de forma mais sucinta e também sem exaurir o assunto, discorreremos sobre a Prisão em Flagrante, atividade típica da Polícia Militar, ressaltando suas principais espécies de acordo com a doutrina moderna. Atrelado à Prisão em Flagrante, será abordado aspectos gerais da Audiência de Custódia, implantada no Brasil desde o ano de 2015 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Portanto, o objetivo da disciplina é capacitar a praça policial militar, em especial aquela que não é Bacharel em Direito, a atuar dentro da legalidade, reconhecendo de imediato o caráter ilícito da situação para tomar as medidas cabíveis. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com 2. CONTEÚDOS MÓDULO | - PARTE GERALDIREITO PENAL . Fontes do Direito Penal - Princípios . Infração Penal e Classificação 3.1. Fato Típico 3.2. Fato llícito ou Antijurídico 3.3. Culpabilidade . Tempo do Crime . Lugar do Crime . Crime Permanente e Crime Continuado MÓDULOIl - PARTE ESPECIAL DIREITO PENAL 1. Dos Crimes Contra a Vida 1.1. Homicídio 1.2. Lesão Corporal 1.3. Da Periclitação da Vida e da Saúde 2. Dos Crimes Contra a Liberdade Individual 2.1. Sequestro e Cárcere Privado 3. Dos Crimes Contra o Patrimônio COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(gmail.com 3.1. 3.2. 3.3. 3.4. 3.5. 3.6. Sd Furto Furto de Coisa Comum Roubo Extorsão Extorsão Mediante Sequestro Estelionato Receptação 4. Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual 4.1. 4.2. 4.3. 4.4. 4.5. Estupro Violência Sexual Mediante Fraude Importunação Sexual Registro não autorizado da intimidade sexual Estupro de Vulnerável MÓDULOIll DIREITO PROCESSUAL PENAL 1. Da Ação Penal 2. Da Prisão em Flagrante 3. Espécies da Prisão em Flagrante 4. Audiência de Custódia COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com MÓDULO | - PARTE GERALDO DIREITO PENAL 1 — Fontes do Direito Penal: As fontes do direito ou origens das normas jurídicas subdividem-se em fontes materiais, substanciais ou de produção e em fontes formais, de conhecimento ou de cognição. Aquelas indicam o órgão encarregado da produção do direito penal. Em nosso ordenamento jurídico, somente a União possui competência legislativa para criar normas penais (CF, art. 22, |). No entanto, o parágrafo único do dispositivo constitucional citado prevê que lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões específicas acerca de matérias penais. As fontes formais, por sua vez, subdividem-se em imediatas e mediatas. Somente a lei pode servir como fonte primária e imediata do direito penal, porquanto não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (CF, art. 5º, XXXIX, e CP, art. 1º). 2 — Princípios Basilares: 2.1 O princípio da Dignidade da Pessoa Humana: É um princípio fundamental incidente a todos os seres humanos desde a concepção no útero materno, não se vinculando e não dependendo da atribuição de personalidade jurídica ao titular, a qual normalmente ocorre em razão do nascimento com vida. A dignidade é essencialmente um atributo da pessoa humana pelo simples fato de alguém “ser humano”, se tornando automaticamente merecedor de respeito e proteção, não importando sua origem, raça, sexo, idade, estado civil ou condição socioeconômica. O artigo 5º da Constituição Federal enumera vários incisos que denotam a dignidade da pessoa humana, como por exemplo: Ill - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante; COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(O gmail.com VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suasliturgias; XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação judicial; XLVII - não haverá penas: a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX; b) de caráter perpétuo; c) de trabalhos forçados; d) de banimento; e) cruéis; XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral; 2.2 - O Princípio da Legalidade: A Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio da legalidade no art. 5º, XXXIX, de modo que, no Brasil, constitui cláusula pétrea; não pode ser suprimido sequer por emenda à Constituição. Já no Código Penal Brasileiro, a legalidade é disciplinada no artigo 1º, que diz: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem prévia cominação legal”. Acrescente-se, por fim, que o princípio da legalidade tem importância ímpar em matéria de segurança jurídica, pois salvaguarda os cidadãos contra punições criminais sem base em lei escrita, de conteúdo determinado e anterior à conduta. Exige, ademais disso, que exista uma perfeita e total correspondência entre o ato do agente e a lei penal para fins de caracterização da infração e imposição da sanção respectiva. O princípio da legalidade desdobra-se em quatro subprincípios: anterioridade da lei; lei escrita, lei no sentido formal ou reserva legal; proibição de analogia in malam partem; e taxatividade da lei ou mandato de certeza. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(gmail.com a) Anterioridade ou lege praevia: Dos aspectos acima indicados, destacamos em primeiro lugar a necessidade de que a lei seja anterior ao ato. Com efeito, de nada adiantaria assegurar que o direito penal se fundamenta na lei, caso esta pudesse ser elaborada ex post facto, isto é, depois do cometimento do fato. A incriminação de comportamentos anteriores à vigência da lei destrói por completo a segurança jurídica que se pretende adquirir com a legalidade. Por tal razão, não há legalidade sem a correlata anterioridade. b) Reserva legal ou lege scripta: É preciso, também, que a incriminação se baseie em lei no sentido formal. Não pode o direito consuetudinário (costumeiro) ou o emprego de analogia embasar a punição criminal de um ato, ou mesmo o agravamento das consequências penais de uma infração penal definida em lei. Os usos e costumes, por mais arraigados que possam ser em determinada comunidade, não podem embasar a existência de um crime. c) Proibição de analogia ou lege strictai A analogia constitui método de integração do ordenamento jurídico, em que se aplica uma regra existente para solucionar caso concreto semelhante, para o qual não tenha havido expressa regulamentação legal. A vedação atinge somente a analogia in malam partem,isto é, aquela prejudicial ao agente, porcriar ilícito penal ou agravar a punição dosjá existentes. d) Taxatividade ou lege certa: A lei penal deve ser determinada em seu conteúdo. Não se permite a construção de tipos penais excessivamente genéricos, os quais são denominados tipos penais vagos. Uma lei penal incriminadora que punisse uma conduta vaga e indeterminada provocaria insegurança jurídica e acabaria por aniquilar a garantia constitucional em apreço. 2.3 - Princípio da irretroatividade da lei penal gravosa (ou retroatividade benéfica): De acordo com nossa Constituição Federal, a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu (art. 5º, XL). O mesmo princípio encontra-se no Código Penal, em seu artigo 2º, que diz: COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(O gmail.com Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei posterior deixa de considerar crime, cessando em virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença condenatória. Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado. Como exemplo podemoscitar o adultério. Até pouco tempo era considerado crime o a prática de adultério. Alterações no Código Penal foram realizadas para adequar a nova realidade da sociedade brasileira e o artigo que tipificava o adultério como crime, foi revogado. O enunciado do Art. 2º do Código Penal contém duas regras: a lei penal possui caráter irretroativo, afinal, de nada adianta estabelecer que a norma penal deve se basear numa lei escrita se for possível elaborá-la depois da conduta, punindo fatos anteriores à vigência da lei ou agravando as consequências de tais fatos. r A retroatividade benéfica, entretanto, não é proibida, já que não abala a confiança no Direito Penal e, ademais, justifica-se como medida de isonomia. Não teria sentido que alguém cumprisse pena depois de uma lei considerar a conduta pela qualfoi condenado como penalmente irrelevante, sob pena de, em não sendo assim, conviverem, ao mesmo tempo, alguém cumprindo pena pelo fato enquanto outros o praticam sem sofrer qualquer consequência penal. 2.4 - Princípio da insignificância ou da bagatela: O princípio da insignificância ou da bagatela foi desenvolvido por Claus Roxin. Para o autor, a finalidade do Direito Penal consiste na proteção subsidiária de bens jurídicos. Logo, comportamentos que produzam lesões insignificantes aos objetos COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com jurídicos tutelados pela norma penal devem ser considerados penalmente irrelevantes. A aplicação do princípio produz fatos penalmente atípicos. 2.5 - Princípio da alteridade ou transcendentalidade: Tem como precursor Claus Roxin e significa que não é possível incriminar atitudes puramente subjetivas, ou seja, aquelas que não lesionem bens alheios. Se a ação ou omissão for puramente pecaminosa ou imoral, não apresenta a necessária lesividade que legitima a intervenção do Direito Penal. Por conta desse princípio, não se pune a autolesão, salvo quando se projeta a prejudicar terceiros, como no art. 171, 8 2º, V, do CP (autolesão para fraudar seguro); a tentativa de suicídio não é crime (nosso CP somente pune a participação no suicídio alheio — art. 122); o uso pretérito de droga não é crime (o porte é punido porque, enquanto o agente detém a droga, coloca em risco a incolumidade pública). 2.6 - Princípio da intervenção mínima: Somente se deve recorrer à intervenção do direito penal em situações extremas, como a última saída (ultima ratio). A princípio, portanto, deve-se deixar aos demais ramos do Direito a disciplina das relações jurídicas. A subtração de um pacote de balas em um supermercado, já punida com a expulsão do cliente do estabelecimento e com a cobrança do valor do produto ou sua devolução, já foi resolvida por outros ramos do Direito, de modo que não necessitaria da interferência do Direito Penal. 3 — Infração Penal — Classificação Bipartida e Tripartida: Crime é a prática da conduta descrita no artigo (tipo penal). Igualmente é o conceito de contravenção penal. Para que exista um crime, devem estar presentes COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com alguns elementos. Uma parcela da doutrina adota a teoria bipartida, que considera como elementos do crime a existência de fato típico e ilícito. A outra parte da doutrina adota a teoria tripartida, que considera como elementos do crime: fato típico, ilícito ou antijurídico (ilegal) e culpável (reprovável), integrando o elemento culpabilidade. 3.1 — O fato típico: fato típico é a conduta comissiva (por ação) ou omissão produtora de um resultado reprovável peloDireito Penal, podendo ser crime ou contravenção penal. É o primeiro elemento que constitui o conceito de crime, e se subdivide em 4 elementos: Conduta, Resultado, Nexo de Causalidade e Tipicidade. Para que um determinado fato seja considerado típico deve-se considerar os quatro elementos juntos, de forma que, ausente quaisquer destes elementos, a conduta será atípica. Os elementosdo fato típico são conceituados da seguinte forma: a) Conduta: Ação ou comportamento humano. b) Resultado: Modificação do mundo exterior, causada pela conduta. c) Nexo de Causalidade: Vínculo entre a conduta e o resultado. Tipicidade: Adequação da conduta praticada com o modelo abstrato previsto nalei. 3.2 — Ilícito ou antijurídico: O Direito brasileiro prevê as causas que excluem a antijuridicidade do fato típico. São os chamados tipos permissivos, e excluem a antijuridicidade por permitirem a prática de um fato típico. Ou seja, somente será típico o fato que também for antijurídico e, presentes os requisitos de uma discriminante, não há que se falar em conduta típica. O Art. 23 do Código Penal Brasileiro ao tratar das excludentes da ilicitude, dispõe que: Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato: | - em estado de necessidade; COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com Il - em legítima defesa; Il - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito. Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou culposo. 3.2.1 Estado de necessidade: Segundo o artigo 24 do Estatuto Repressivo (Código Penal Brasileiro), considera- se estado de necessidade quem pratica o fato para salvar-se de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. Para a configuração desta excludente legal da ilicitude é necessário: - haver um perigo atual. Para boa parte da doutrina poderia ser iminente, mas nunca futuro ou remoto; - que não tenha sido provocado pela vontade do agente (dolosamente), nem poderia de outra forma evitá-lo (sendo possível, deve ser escolhida a forma menos gravosa); -Cujo sacrifício não era razoável exigir. Demanda uma análise do princípio da proporcionalidade e da razoabilidade em face dos bens jurídicos em confronto. Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o perigo, segundo preceitua o Art. 24, 8 1º, CPB. 3.2.2 Legítima defesa: COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com Segundo NUCCI, “é a defesa necessária empreendida contra agressão injusta, atual ou iminente, contra direito próprio ou de terceiros, usando para tanto, moderadamente, os meios necessários. O agente responderá pelo excesso doloso ou culposo, quando do uso da legítima defesa, conforme preceitua o Parágrafo único doart. 23, CPB. São os requisitos da legítima defesa: a) a reação a uma agressão atual ou iminente e injusta: atual é a agressão que está desencadeando-se, iniciando-se ou que ainda está desenrolando-se porque não se concluiu; iminente é a que está para ocorrer, que não permita demora à repulsa. No entanto, não há que se falar em legítima defesa contra uma agressão futura, que pode ser evitada por outro meio. O temor, ainda que fundado, não é suficiente para legitimar a conduta do agente, ainda que verossímil. b) a defesa de um direito próprio ou alheio: Isto é, a defesa pode ser de um bem ou interesse juridicamente protegido próprio ou de terceiros. c) a moderação no emprego dos meios necessários à repulsa: são definidos por NUCCI da seguinte forma: “são os eficazes e suficientes para repelir a agressão ao direito, causando o menor dano possível ao atacante. Deve haver proporcionalidade entre a defesa empreendida e o ataque sofrido, que deverá ser apreciada no caso concreto, não se tratando, portanto, de um conceito rígido. Se o meio fundar-se, por exemplo, no emprego de arma de fogo, a moderação basear-se-á no número de tiros necessários para deter a agressão. A escolha do meio defensivo e o seu uso importarão na eleição daquilo que constitua a menor carga ofensiva possível, pois a legítima defesa foi criada para legalizar a defesa de um direito e não para a punição do agressor.” Segundo NUCCI, a possibilidade de legítima defesa contra legítima defesa, ou contra outra excludente de ilicitude não é possível, pois a agressão não pode serinjusta, ao mesmo tempo, para duas partes distintas e opostas. Entretanto, admite a possibilidade de haver legítima defesa real contra legítima defesa putativa ou contra outra excludente putativa. Isso porque a legítima defesa real é reação contra agressão verdadeiramente injusta e a chamada legítima defesa putativa é uma reação a uma COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(O gmail.com agressão imaginária. Segundo o autor, no primeiro caso exclui-se a antijuridicidade; no segundo, afasta-se a culpabilidade. Já de acordo com NORONHA, pode ocorrer legítima defesa putativa contra a real ou objetiva e exemplifica: “se A, julgando justificadamente que vai ser agredido por B, dispara um tiro de revólver neste que, antes de ser atirado pela segunda vez, atira também contra A. Esse age em legítima defesa putativa, pois as circunstâncias o levaram a erro de fato essencial, e B atua em legítima defesa objetiva. As situações, porém, são diversas: um tem a seu favor uma dirimente ou causa de exclusão da culpa (em sentido amplo), ao passo que o outro se socorre de excludente de antijuridicidade ” d) o elemento subjetivo: É a consciência do sujeito que atua sob o manto de qualquer excludente de ilicitude acerca da sua utilização e dos requisitos e elementos fáticos que a envolvem. Atuar em legítima defesa exige a plena noção de que se está defendendo de agressãoinjusta, atual ou iminente, contra direito próprio ou de terceiros. 3.2.2.1 Legítima defesa protetiva No ano de 2019, entrou em vigor a Lei Federal nº 13.964, de 24 de dezembro de 2019 (a qual aperfeiçoa a legislação penal e processual penal brasileira), trazendo consigo uma inovação, em particular, que repercutirá na atividade operacional das polícias, haja vista envolver ação perpetrada por agente de segurança pública durante eventos de preservação da vida. Trata-se do reconhecimento do instituto por nós chamado de "legítima defesa protetiva", que abrangerá não apenas injusta agressão, mas sim, e também, o risco a ela. Segue-se a alteração citada: Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem. Parágrafo único. Observados os requisitos previstos no caput deste artigo, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. Segundo o atual art. 25 do Código Penal, já estudado anteriormente, entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual(acontecendo) ou iminente (prestes a acontecer), a direito seu ou de outrem. Agora, graças ao parágrafo único acrescido ao tipo em questão, considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. Essa ação difere da chamada “legítima defesa antecipada ou preventiva”, eis que, nestas, a iminência da agressão, em princípio, está afastada. Difere, também, da denominada “legítima defesa pré-ordenada”, caracterizada pela ação dos chamados “ofendículos”, isto é, de aparatos usados para a defesa do patrimônio, como cercas elétricas e cacos de vidro. No caso em comento, para fins de reconhecimento da excludente, a lei agora considera que a vítima mantida refém durante a prática de crimes passa a estar em constante perigo, dada a imprevisibilidade temporal de um ataque que poderá ocorrer a qualquer instante. Assim, num cenário real o agente de segurança pública está agora licenciado a repelir não apenas a iminência ou a atualidade da agressão injusta, mas, também, o risco a ela. E para tanto ele deve focar no perigo, que é o causador do risco. Será então necessário que a vítima esteja com uma arma de fogo apontada para a cabeça ou sofrendo iminente agressão similar? Não mais. Se os agentes de segurança pública avaliarem que o risco, embora não atual ou iminente, é de fato real, isto é, que o perpetrador, sem prejuízo dos apelos de rendição feitos pelo Estado, representa perigo efetivo (porta explosivos, produtos inflamáveis, encontra-se psiquicamente abalado, enverga armas de maneira agressiva etc.), o ataque protetivo deve ser feito, buscando-se a incapacitação imediata do agressor e a preservação da vida inocente. Isso, frise-se, encontra guarida na conjugação “ou” (alternativa ou opcionalidade) usada pela lei, a qual se contenta com a agressão “ou” com o risco de agressão (ações apartadas). COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(O gmail.com 3.2.3 Estrito cumprimento de dever legal ou no Exercício regular de direito: O estrito cumprimento de dever legal é o instituto jurídico penal que compreende as normas e princípios relativos à atuação de quem, sob comando legal, pratica conduta descrita em um tipo legal. A lei não determina apenas a faculdade, a escolha do agente em obedecer ou não a regra por ela estabelecida. Há, em verdade, o dever legal de agir; o dever de agir tem origem na lei, exclusivamente. Entende-se por dever legal toda e qualquer obrigação direta ou indiretamente derivada de lei, isto é, preceito obrigatório e derivado da autoridade pública competente para emiti-lo. Ainda, o cumprimento deve ser estritamente dentro da lei, sendo, assim, mais um elemento a atuação do agente pautado aos ditames da lei. Exige-se que o agente se contenha dentro dosrígidos limites de seu dever, fora dos quais desaparece a excludente. Fora dos limites traçados pela lei, surge o excesso ou abuso de autoridade, o fato torna-se ilícito e, além de livrar do cumprimento aquele a quem se dirigia a ordem, abre-lhe espaço para utilização da legítima defesa. Assim, por exemplo, o policial que, ao cumprir o dever legal de realizar prisão em flagrante delito (art. 301, do CPP), em primeiro lugar, deve tentar executá-la utilizando simplesmente a chamada “voz de prisão”. Caso não seja atendido, deverá empreender a força física necessária para deter o infrator. Não poderá, porém, com o intento de evitar a fuga do fugitivo, usar arma de fogo para matá-lo ou até mesmo feri-lo. O emprego da força pela Polícia, no estrito cumprimento de dever legal, deverá nortear-se pelos princípios da intervenção mínima, da proporcionalidade e da inviolabilidade dos direitos fundamentais. O que se exige do agente do cumprimento da lei não é que execute, a qualquer custo, o que nela estiver previsto, mas que realize o comando legal, de forma que lese o menos possível os interesses particulares. 3.3. CULPABILIDADE Culpável: é o conceito relacionado ao chamado juízo de reprovação do agente pelo que fez. A doutrina majoritária adota a chamada teoria normativa pura para definir a culpabilidade, dividindo em três elementos: COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(O gmail.com e Imputabilidade: Capacidade que o infrator possui de entender o caráterilícito do fato porele praticado. e Potencial consciência da ilicitude: O agente tem que praticar o fato sabendo, ou ao menostendo a possibilidade de saber que a conduta era ilícita. e Exigibilidade de conduta diversa: A prática da conduta deve ser realizada numa situação regular, normal. O exemplo mais conhecido da ausência de culpabilidade é o que envolve os menores de idade, entre 12 e 17 anos. Em nosso país, por força do chamado critério biológico, considera-se que nessa faixa etária o indivíduo é inimputável, faltando-lhe a imputabilidade, isto é, a capacidade de entender o caráterilícito dos fatos que pratica. Nesse sentido, um adolescente de 17 anos que pratique um roubo, sem qualquer causa que justifique sua conduta (resultando num fato típico e antijurídico), não praticará crime, pois lhe falta a imputabilidade e, consequentemente, a culpabilidade. O que ele pratica é um ato infracional. 4 — Tempo do Crime: Teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro. 4.1 - Atividade: Art. 4º — Considera-se praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do resultado. Assim, se 'A', com inequívoco animus necandi (Vontade de matar), atira contra 'B' em data de 10 de janeiro de 2015, na cidade de Osasco/SP, vindo este a óbito em data de 27 de abril do citado ano, porém na cidade de São Paulo/SP. Ter-se-á praticado o crime de homicídio em 10/01/2015. Isso ocorre, por que como diz o artigo 4º do CP, considera-se praticado o crime no momento da ação, e o momento da ação no nosso exemplo acima,foi no dia 10/01/2015. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Dpm.go.gov.br/ ead.apmgo(Dgmail.com 5 - Lugar do crime: Teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro. LUGAR DO CRIME - TEORIA DA UBIQUIDADE OU MISTA Refere-se como lugar do crime aquele em que ocorre a conduta (dolosa ou culposa) ou é aquele em que o resultado foi produzido e esta é a teoria adotada pelo Código Penal. 5.1 Ubiquidade ou mista: Art. 6º — Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte, bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado. 6 - Crime Permanente e Crime Continuado: Configuram crimes permanentes aqueles cujo momento consumativo se prolonga no tempo, por exemplo, sequestro (enquanto a vítima for mantida com sua liberdade privada, considera-se prolongado o momento da consumação). Fala-se em crime continuado, por outro lado, quando vários crimes são praticados em continuidade delitiva (art. 71 do CP). Se durante a permanência ou a continuidade delitiva entrar em vigor nova lei, ainda que mais gravosa, ela se aplica a todo o evento, vale dizer, ao crime permanente e a todos os delitos cometidos em continuidade delitiva. Assim, por exemplo, se uma pessoa recebeu droga em julho de 2006 (quando estava em vigor a Lei n. 6.368/76) e a guarda em um depósito com o objetivo de comercializá-la até janeiro de 2007 (quando já estava em vigor a Lei n. 11.343/2006), ficará sujeita às penas mais severas da nova legislação, uma vez que se trata de crime permanente,cujo momento consumativo iniciou-se com a lei antiga mas persistiu durante a nova lei. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com 7 - Lei excepcional e lei temporária (CP,art. 3º): Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência. De acordo com o art. 3º do CP, “A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”. Excepcional é a lei elaborada para incidir sobre fatos havidos somente durante determinadas circunstâncias excepcionais, como situações de crise social, econômica, guerra, calamidades etc. Temporária é aquela elaborada com o escopo de incidir sobre fatos ocorridos apenas durante certo período de tempo. A regra constante do art. 3º do CP tem uma razão prática evidente, declarada na Exposição de Motivos da Parte Geral do Código Penal: “Esta ressalva visa impedir que, tratando-se de leis previamente limitadas no tempo, possam ser frustradas as suas sanções por expedientes astuciosos no sentido do retardamento dos processos penais”. Em suma, devemos ter em mente, que para a teoria do delito, o crime se divide em: 1) Fato típico. 2) Antijurídico/llícito. 3) Culpável. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com Quadro esquematizado dos elementos do crime. Fato típico Ilícito Culpabilidade — Apenas elementos normativos. Elementos Elementos objetivos: Potencial subjetivos conhecimento da ilicitude Conduta (dolo e 1) Estado de Imputabilidade necessidade, culpa) 2) Legitima defesa, 3) Exercício regular de direito e Estrito cumprimento de deverlegal. Desvalor do Exigibilidade de resultado conduta diversa Exercícios de Fixação 1) De acordo com os princípios basilares do Direito Penal, assinale a alternativa correta: a) Pelo princípio da Legalidade, ninguém pode ser punido por fato quelei posterior deixa de considerar crime. b) A retroatividade benéfica é proibida pois abala a confiança do Direito Penal, e coloca em xequeo princípio da isonomia. c) Pelo princípio da bagatela comportamentos que produzam lesões insignificantes aos objetos jurídicos tutelados pela norma penal devem ser considerados penalmente irrelevantes. d) O princípio da Dignidade Humana não é afeto ao Direito Penal, posto está previsto na Constituição Federal. 2) Considerando o conceito de infração penal, assinale a alternativa correta: COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com 3) Para que exista crime, é necessário que esteja presente um dos seguintes elementos: fato típico, ou ilícito, ou reprovabilidade. O fato típico é composto pelos elementos Conduta, Resultado, Nexo de Causalidade e Tipicidade. Somente será típico o fato que não for antijurídico Estando presente alguma discriminante (excludente de ilicitude), o fato continua sendo típico e antijurídico. Sobre as excludentes de ilicitudes, pode-se afirmar: a) b) Na legítima defesa o agente responderá apenas pelo excesso doloso. Inovação recente do Direito Penal é a figura da Legítima Defesa Protetiva onde considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes. O estado de necessidade é o instituto jurídico penal que compreende as normas e princípios relativos à atuação de quem, sob comando legal, pratica conduta descrita em um tipo legal. Considera-se em estrito cumprimento de dever legal quem pratica o fato para salvar-se de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com MÓDULO II PARTE ESPECIAL DIREITO PENAL 1 - Dos crimes contra a vida: Os crimes contra a vida são aqueles nos quais o bem jurídico tutelado é a vida humana. A vida é o bem jurídico mais importante do ser humano. A vida humana, para efeitos penais, pode ser tanto a vida intrauterina quanto a vida extrauterina. Os arts. 121 a 123 cuidam da tutela da vida extrauterina (de quem já nasceu), enquanto os crimes dos arts. 124/127 tratam da tutela da vida intrauterina (dos nascituros). A morte pode ser provocada de maneira comissiva (ação positiva) ou de maneira omissiva (negativa de ação) Art. 13, 82º do CP, e consuma-se com a morte encefálica (art. 3º, Lei 9439/97). Dolo: É a consciência e a vontade de matar a vítima. Dolo de matar. O dolo do crime de homicídio tem o nome de “animus necanad?. Culpa: É a inobservância do dever objetivo de cuidado, causadora de um resultado não desejado, mas objetivamente previsível. Não há crime culposo sem a produção de resultado. A culpa se materializa por meio da imprudência, negligência ou imperícia. 2. Crimes Contra a Pessoa 2.1. Homicídio 2.1.1. Conceito de Homicídio Segundo o Professor Rogério Sanches, trata-se da injusta morte de uma pessoa praticada por outrem. Conforme proclama Nelson Hungria, homicídio é o tipo central dos crimes contra a vida. É o ponto culminante na orografia dos crimes. É o crime por excelência. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO EB Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com 2.1.2. Homicídio simples Art. 121. Matar alguém: Pena - reclusão, de seis a vinte anos. O homicídio simples pode ser considerado hediondo? Vai ter natureza hedionda quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por um só agente. (Art. 1º, | da Lei 8.072/90) Caso de diminuição de pena (Homicídio Privilegiado) 8 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Relevante valor moral: É aquele que atende aos interesses do próprio cidadão (piedade, compaixão, misericórdia). Ex: eutanásia (homicídio piedoso); Relevante valor social: É aquele que atende aos interesses da coletividade. Ex: matar um estuprador, um cruel traficante de drogas, sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima. Outro exemplo é o homicídio do traído afetivamente. 2.1.3. Homicídio Qualificado 8 2º Se o homicídio é cometido: | - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe; Il - por motivo fútil; Ill - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo comum; IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido; COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone:(62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Dpm.go.gov.br/ ead.apmgo(Dgmail.com V — para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime: Pena — reclusão, de doze a trinta anos. A paga ou promessa de recompensa (homicídio mercenário) é um exemplo de torpeza (Inciso |). O motivo fútil é a desproporcionalidade do crime em relação à sua causa moral. É a pequeneza do motivo (Inciso Il). Ex: briga de trânsito. O inciso III também emprega a fórmula casuística inicial e, ao final, usa fórmula genérica, permitindo ao seu aplicador encontrar casos outros que denotem insídia, crueldade ou perigo comum advindo da conduta do agente (interpretação analógica). — Trabalha com interpretação analógica (exemplos seguidos de encerramentos genéricos). Observações Obs.1: Asfixia é qualquer método para se impedir a respiração. Obs.2: Veneno é qualquer substancia capaz de matar quando inoculada no corpo da vítima. Segundo Rogério Sanches, o veneno consiste em qualquer substancia biológica ou química, animal, mineral ou vegetal capaz de perturbar ou destruir funções vitais do organismo humano. O açúcar, por exemplo, empregado em face de um diabético, pode ser considerado um veneno. Atenção! Para caracterizar a qualificadora do veneficio, é imprescindível que a vítima desconheça que nela está sendo ministrada a substância letal. Veneno é a substância biológica ou química, animal, mineral ou vegetal, capaz de perturbar ou destruir as funções vitais do homem. Insidioso é a utilização de fraude para cometer o crime sem que a vítima perceba. Exemplo: retirar o óleo de direção do automóvel para provocar um acidente fatal contra seu proprietário. Meio cruel: proporciona à vítima um intenso e desnecessário sofrimento físico ou mental, quando a morte poderia ser provocada de forma menos dolorosa. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com O inciso IV trabalha com a interpretação analógica (exemplos seguidos de encerramentos genéricos). Traição, Emboscada e Dissimulação são apenas exemplos de modos que dificultam a defesa do ofendido. > Traição: é o ataque desleal, por exemplo,atirar na vítima pelas costas. A traição é marcada pela deslealdade. > Emboscada: pressupõe ocultamento do agente, que ataca a vítima com surpresa. > Dissimulação: o agente oculta sua intenção. A traição pode ser física, exemplo: atirar pelas costas ou moral, exemplo: atrair a vítima para um precipício. Emboscada é a tocaia. A dissimulação pode ser: e Material: emprego de algum aparato, tal como umafarda policial, ou e Moral: demonstração de falsa amizade ou simpatia pela vítima, para, exemplificativamente, levá-la a um local ermo e matá-la. Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima: matar a vítima com surpresa, enquanto dorme, quando se encontra em estado de embriaguez, em manifesta superioridade numérica de agentes (linchamentos) etc. 2.1.4. Feminicídio VI — contra a mulher por razões da condição de sexo feminino. Conforme o parágrafo 2ºA/CPB, considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou discriminação à condição de mulher. A Lei nº 13.104 de 2015 inseriu o inciso VI para incluir no art. 121 o feminicídio, entendido como a morte de mulher em razão da condição de sexo feminino,leia-se, violência de gênero quanto ao sexo. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO e Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(gmail.com Entrou em vigor em 10 de Março de 2015. Em se tratando de uma lei que agrava a situação do réu, consagra uma nova hipótese qualificadora, não pode ser aplicada a conduta praticada antes da referida data. Trata-se de homicídio cometido por razões de gênero do sexo feminino (preconceito, discriminação, desprezo pela condição de mulher). 8 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo feminino quando o crime envolve: | - violência doméstica e familiar Il - menosprezo ou discriminação à condição de mulher. 2.1.5. Homicídio contra autoridades VII — contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição: Pena — reclusão, de doze a trinta anos. Em 2015 as hipóteses de homicídio qualificado foram alteras pelo advento das leis nº 13.104 e 13.142. Atenção: Diferentemente do homicídio simples, o homicídio qualificado é sempre hediondo, não importando a qualificadora. Nesse sentido, é a Lei nº 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos). COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Es Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Dpm.go.gov.br/ ead.apmgo(Dgmail.com 2.1.6. Homicídio culposo 8 3º Se o homicídio é culposo: Pena — detenção, de um a três anos. Ocorre o homicídio culposo quando o agente, com manifesta imprudência, negligência ou imperícia, deixa de aplicar a atenção ou diligência de que era capaz, provocando, com sua conduta, o resultado morte, previsto (culpa consciente) ou previsível (culpa inconsciente), jamais querido ou aceito. Imprudência: precipitação, afoiteza (ação); Negligência: ausência de precaução (omissão); Imperícia: falta de aptidão técnica para exercício de arte, ofício ou profissão. 3. Lesão corporal O crime de lesão corporal é de forma livre, não havendo previsão de forma específica para sua prática. É comum, não exigindo nenhuma qualidade específica do sujeito ativo. É delito de dano, consumando-se com a lesão ao bem jurídico tutelado. Cuida-se de crime plurissubsistente, de acordo com o entendimento majoritário, razão pela qual se admite a tentativa. A conduta típica é ofender, de forma direta ou indireta, a integridade corporal ou a saúde de outra pessoa, aqui compreendido um ser humano vivo. Pode haver mais de um ferimento na vítima, o que não prejudica a unidade do delito. Trata-se de infração penal classificada como material, isto é, a ocorrência do resultado naturalístico é imprescindível para a sua consumação. O sujeito passivo não pode ser o mesmo do sujeito ativo, especialmente em decorrência do princípio da alteridade ou da transcendentalidade, que preconiza não ser punível a conduta que não saia da esfera da disponibilidade do agente. Por isso, não se pune, por si só, a autolesão. O elemento subjetivo do delito é o denominado animus nocendi ou animus laedendi, ou seja, é a vontade livre e consciente de produzir uma lesão ou um dano à COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com integridade corporal ou de prejudicar a saúde de outrem. Também há punição a título de preterdolo e de culpa, como veremos. A lesão corporal de natureza leve se diferencia da contravenção de vias de fato em uma relação de subsidiariedade, de modo que, se não se configurar o crime, haverá a prática da contravenção penal. O delito de lesão corporal exige que haja ofensa à integridade física ou mental do indivíduo ou à saúde da vítima, como no caso de serem provocados hematomas e equimoses. A mera provocação de dor ou de uma mancha avermelhada não implicam na configuração do crime, o que pode ser o casode consumação da contravenção de vias de fato. Além disso, tanto o crime como a contravenção penal se diferenciam da chamada injúria real, que é a conduta de injuriar alguém por meio de violência ou devias de fato. Para configuração da injúria real, é imprescindível que a violência ou as vias de fato empregadas tenham a natureza de aviltantes, sendo que o elemento subjetivo do agente, que é o animus injuriandi (Vontade de Injuriar), a diferencia das outras infrações penais mencionadas. A lesão corporal possui diversas modalidades, havendo o tipo penal simples, o qualificado e o privilegiado. A lesão qualificada pode ser de natureza grave, de natureza gravíssima, com resultado morte ou a que envolve violência doméstica e familiar contra a mulher. Além disso, prevê-se a punição da forma culposa, bem como algumas causas de aumento de pena. O esquema abaixo demonstra as espécies de lesões corporais: COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com Lesões corporais Lesão Grave Simples Lesão Gravíssima Qualificada Lesão Seguida de Morte Lesão corporal Privilegiada Violência doméstica Obs.: Os policiais militares devem observar junto à sociedade o grande volume de violência domestica e familiar contra mulher, sendo assim, a titulo de conhecimento listamos todas ostipos de lesões, porém os operadores da segurança pública devem ter uma atenção especial a lesão prevista no artigo 129, 89º do CP (Violência doméstica). 3.1. LESÃO CORPORALDE NATUREZA LEVE O tipo penal básico ou simples da lesão corporal é denominado pela doutrina de lesão corporal de natureza leve, estando prevista no artigo 129 do Código Penal: Lesão corporal Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem: Pena - detenção, de três meses a um ano. Vale lembrar que a ação penal no crime de lesão corporal leve é pública condicionada à representação da vítima, conforme preceitua o art.88 da lei 9.099/95. Cabe a lavratura de TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), caso a vítima queira representar contra o autor. Neste caso, o Policial Militar deverá preencher o Termo de Manifestação do Ofendido, e o autor e a vítima, de pronto já saem intimados da data de audiência em juízo. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com 3.2. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE O artigo 129, em seu parágrafo primeiro, prevê a forma qualificada do delito, com a denominação legal de lesão corporal de natureza grave e com pena de reclusão, de um a cinco anos: São delitos qualificados pelo resultado, que pode ter sido praticado a título de dolo ou de culpa, sendo que somente no último caso recebem a denominação de crimes preterdolosos. O perigo de vida, entretanto, só pode ter sido produzido por culpa, sob pena de configuração de um crime autônomo, como por exemplo o homicídio. Vejamos as hipóteses: 8 1º Se resulta: l. se resulta incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias: Il. se resulta perigo de vida Ill. se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou função. IV. se resulta aceleração de parto: 3.3. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVÍSSIMA O artigo 129, em seu parágrafo segundo, prevê outros resultados que qualificam o delito, sob a mesma denominação de lesão corporal de natureza grave. A doutrina, para diferenciar os casos do parágrafo primeiro dos previstos no parágrafo segundo, com pena diferenciada, de dois a oito anos de reclusão, denomina-os de lesão corporal de natureza gravíssima. Como nos casos do parágrafo primeiro (lesão corporal de natureza grave), temos crimes qualificados pelo resultado, o qual pode ter sido praticado a título de dolo ou de culpa, sendo que somente no último caso recebem a denominação de crimes preterdolosos. A exceção é o caso do aborto que, se praticado por dolo, configura o crime autônomo. Estudemos cada um dos resultados que qualificam o delito, tornando-o de natureza gravíssima: COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com |. se resulta incapacidade permanente para o trabalho: Il. se resulta enfermidade incurável: Ill. se resulta perda ou inutilização do membro, sentido ou função: IV. se resulta deformidade permanente: V. se resulta aborto: 3.4. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE A lesão corporal seguida de morte também pode ser chamada de homicídio preterdoloso. Constitui-se no crime de lesão corporal, praticado com dolo direto ou eventual, com o resultado, advindo de culpa, de morte da vítima. Ou seja, há dolo no antecedente e culpa no consequente. Lesão corporal seguida de morte 8 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi- lo: Pena - reclusão, de quatro a doze anos. A diferenciação com o homicídio reside no elemento subjetivo do agente. No homicídio, o agente quer a morte da vítima. Na lesão corporal seguida de morte, ele quer causar umalesão (é o seu dolo), mas, por culpa, acaba matando a vítima. Pode-se exemplificar com o agente que, querendo dar uma paulada na vítima para agredi-la, para apenas causar uma lesão, acaba derrubando-a e ela bate a cabeça na aresta de um móvel e, com isso, sofre traumatismo craniano. O sujeito passivo morre em decorrência da lesão. Neste caso, o crime será de lesão corporal seguida de morte. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com 3.5. LESÃO CORPORALPRIVILEGIADA Configura-se quando o agente comete o crime por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta provocação da vítima. A previsão está no artigo 129, 8 4º, do CP: Diminuição de pena: 8 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço. Substituição da pena: 8 5º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois contosde réis: | - Se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior; Il - se as lesões são recíprocas. 3.6. LESÃO CORPORAL CULPOSA 8 6º Se a lesão é culposa: Pena - detenção, de dois meses a um ano. Convém ressaltar que a ação penal no crime de lesão corporal culposa é pública condicionada à representação da vítima, conforme preceitua o art.88 da lei 9.099/95. Cabe a lavratura de TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), caso a vítima queira representar contra o autor. Neste caso, o Policial Militar deverá preencher o Termo de Manifestação do Ofendido. 3.7. LESÃO CORPORAL COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR. Há também qualificadora para o caso de a lesão corporal ser praticada em contexto de violência doméstica e familiar, em que a pena será de três meses a três anos de detenção,se a lesão for leve, nos termos do parágrafo nono do artigo 129: COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.comViolência Doméstica: Artigo 129, 8 9º, CP: Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade: Pena - detenção, de 3 (três) mesesa 3 (três) anos. Deve-se atentar que o caso é de violência doméstica e familiar, o que se configura se a vítima for ascendente, descendente, irmã, cônjuge ou companheira do agente. Configura-se, ainda, se o agente se valer das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade do ofendido. Registre-se, por relevante, que o ofendido pode ser homem ou mulher, não se limitando ao último gênero mencionado, de forma diversa do que prevê a Lei Maria da Penha. São situações em que caracterizam a lesão corporal no ambiente doméstico e familiar: º a) contra ascendente, descendente ou irmão: nessa situação é dispensável a coabitação entre autore vítima. o b) Contra cônjuge ou companheiro: prevalece incidir a incidência do 89º mesmona hipótese de separação de fato. o c) Contra pessoa com quem conviva ou tenha convivido: ainda que não tenha relação de parentesco, se convive ou tenha convivido, haverá a incidência do 89º. o d) Prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade. De acordo com Nucci, a expressão “com quem conviva ou tenha convivido o agente” deve ser analisada em conjunto com as situações anteriores apresentadas, exigindo que o agente e vítima convivam ou tenham convivido. Observaçõesfinais: COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com Obs.1: para caracterizar as qualificadoras do 889º, 10 e 11, a vítima não precisa ser necessariamente mulher. Obs.2: em sendo a vítima mulher, além do código penal, terá na sua proteção a incidência da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha). Obs.3: Mesmo quando homem, se a vítima for vulnerável, é possível aplicar as medidas protetivas da Lei Maria da Penha. Se a lesão corporal for grave, gravíssima ou seguida de morte e estiverem presentes as circunstâncias configuradoras da violência doméstica e familiar, previstas no parágrafo nono, a pena será aumentada de um terço. Assim, será o caso de lesão qualificada com causa de aumento de pena, nos termos do parágrafo décimo: 8 10. Nos casos previstos nos 88 1o a 30 deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no 8 9o deste artigo, aumenta- se a pena em 1/3 (um terço). Há, ainda, a previsão de aumento de pena, ou seja, de crime majorado, se a forma qualificada do parágrafo nono envolvervítima deficiente: 8 11. Na hipótese do $ 9º deste artigo, a pena será aumentada de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência. 3.8. LESÃO CORPORAL FUNCIONAL A Lei 13.142/2015 trouxe nova forma majorada do crime de lesão corporal, referente à prática do crime contra agentes das Forças Armadas ou do sistema de Segurança Pública, bem como a seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau. Sua previsão está no parágrafo décimo segundo doartigo 129: Causa de aumento de pena 8 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a pena é aumentada de um a dois terços. Vale recordar que a hipótese é de proteção especial da função, sendo que o delito praticado, seja contra o agente ou autoridade, seja contra sua família, deve ter relação com a função pública ou com a condição pessoal para que a majorante incida. 4. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA Sem a menor pretensão de esgotar os crimes desse capitulo, neste tópico será tratado forma breve sobre os crimes dos artigos 131, 132, concatenando com os artigos 268 e 330 do CP, bem como pontuais apontamentos a lei federal 13979/20, preceitos legais que servirão de norte para o desempenho de um trabalho rotineiro junto à sociedade no combate a epidemias, por exemplo a Covid-19. A emergência sanitária desencadeada pela covid-19 em 2020 não está imune à enérgica pretensão de aplicação do Direito Penal, especialmente no Brasil, em que há uma tradição de utilização da ameaça da sanção penal como instrumento de persuasão para a observância de políticas públicas. Nos parágrafos a seguir, tem-se um breve panorama dos crimes relacionadas às epidemias: Perigo de contágio de moléstia grave Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa. Iniciando pelos crimes de periclitação da vida e da saúde, a imputação ao artigo 131 do Código Penal está condicionada à comprovação do dolo específico, isto é, não basta o agente ter ciência de que foi infectado, devendo, adicionalmente, ter a intenção de transmitir a doença grave. Na hipótese de, por exemplo, a pessoa contaminada pela covid-19, intentando transmitir a doença a outrem, provocar um contato físico capaz de COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com provocar a contaminação, aparentemente poderá ser enquadrada no mencionado tipo penal, que prevê pena de reclusão de um a quatro anos e multa. O tipo penal demanda que a moléstia transmitida seja grave. Por essa razão, caso o vírus, do ponto de vista médico, caracterize-se apenas por sua fácil e difusa transmissibilidade, mas não tenha um índice de letalidade elevado, a justificar a aplicação do tipo penal, esse poderá ser afastado no caso em concreto, a menos que a pessoa para a qual se tenha intenção de transmitir a doença faça parte do grupo derisco, hipótese em que a gravidade da patologia passa a ser discutível. Os profissionais da segurança pública deverão ficar atentos a tal crime, devendo de forma direta conduzir o infrator ao órgão competente para que assim seja feito o procedimento cabível contra o mesmo, sanando assim, o crime com a maior eficácia possível, a fim de evitar um maior dano a sociedade. Perigo para a vida ou saúde de outrem Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente: Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não constitui crime mais grave. Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as normaslegais. A conduta de expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente é aplicável somente se o fato não constitui crime mais grave. Em que pese à abrangência da conduta narrada no tipo penal, há interessantes limitantes para a sua aplicação. O tipo exige que o perigo seja direto, isto é, imediatamente vinculado à vítima, e, além disso, iminente (próximo). Não basta, portanto, que o perigo seja iminente e indireto ou direto e não iminente. Além disso, deve existir um dolo de expor o outro a esse perigo, ainda que em COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GOFone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com sua modalidade eventual (assumir o risco de expor ao perigo). O perigo sempre deve ser concreto, devendo ser comprovado que o comportamento do agente efetivamente desencadeou a exposição ao perigo direto e iminente. É importante que esse perigo não expresse um risco permitido. É por essa razão, inclusive, que não responde por esse crime, pessoa que exponha outrem ao contágio de uma gripe ou demais patologias de transmissão corriqueira e com pouca gravidade, por exemplo. No que diz respeito à covid-19, com a promulgação da Lei nº 13.979/20, fica evidente a carência de permissividade do risco, posto que caracterizado como "emergência de saúde pública de importância internacional”. Suponhamos que a um médico ou enfermeiro tenham sido negados equipamentos de proteção individual (álcool em gel 70%, máscaras cirúrgicas, luvas descartáveis, vestimentas apropriadas, óculos/proteção facial, etc.) para atendimento das pessoas contagiadas pela covid-19. Nessas hipóteses, a administração do hospital assume, em tese, o risco de expor tais profissionais a perigo direto e, ainda mais que iminente, um perigo atual. 4.1. Infração de Medida Sanitária: Diante das determinações elencadas nos Decretos Estaduais para o enfrentamento da Covid-19, no ano de 2020, impende analisar o tipo penal previsto no artigo 268 do Código Penal, já mencionado linhas acima, para entender o seu alcance. Este se encontra inserido no Capítulo referente aos crimes contra a saúde pública e assim disciplina a infração de medida sanitária preventiva: Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa: Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro. Observa-se que a conduta punível é infringir (violar) determinação do poder público, destinada a impedir a introdução ou propagação de doença contagiosa. A referência à violação de “determinação do poder público” indica tratar-se de norma penal em branco, dependendo de norma regulamentadora, a qual pode ser exarada pela União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, podendo decorrer de lei ou de ato administrativo, tais como decreto, regulamento ou portaria. Infringir, segundo Luiz Régis Prado (Curso de Direito Penal Brasileiro, 2020) “significa quebrantar, transgredir, violar, desobedecer. As determinações do poder público são leis, decretos, regulamentos, portarias, emanados de autoridade competente, visando impedir a introdução ou propagação de doença contagiosa, suscetível de transmitir-se por contato mediato ou imediato”. In casu, diante da pandemia do coronavírus, temos como normas complementadoras a Lei nº 13.979/20 e suas regulamentações, como os Decretos Estaduais goianos n. 9.633, 9.634, 9.637 e 9.638. A título de exemplo, praticará o crime de infração de medida sanitária preventiva o agente que, mesmo após receber determinação para que realize compulsoriamente exame médico, deixar de realizá-lo (artigo 3º, inciso Ill, alínea “a”, da Lei 13.979/20). De igual modo, se o agente isolado por determinação vier a fugir, também praticará o crime previsto no artigo 268 do Código Penal (artigo 3º, inciso |, da Lei 13.979/20). Saliente-se que a expressão “determinação” revela tratar-se de uma ordem de cunho imperativo ou obrigatório. Nesse sentido, Cleber Masson (Direito Penal,2020) assenta que a “expressão 'determinação do poder público' nada mais é do que a ordem emanada das autoridades responsáveis pela realização das finalidades do Estado (exemplos:leis, decretos, portarias, resoluções, etc.), voltada a preservar a saúde pública. Esta ordem, evidentemente, dever ser de cunho imperativo ou obrigatório excluindo-se meros conselhos ou advertências”. No mesmo sentido, Luiz Régis Prado para quem “as COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(O gmail.com determinações dever ser de cunho obrigatório, não podendo ser apenas conselhos ou advertências”. Trata-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado, consumando-se com a violação da determinação do poder público, pouco importando venha a doença contagiosa a ser efetivamente introduzida ou propagada. A tentativa é admissível e ocorrerá quando o agente descumprir a determinação do poder público, iniciando os atos executórios, e for impedido de continuar por circunstâncias alheias à sua vontade. Por exemplo: pessoa que está impedida de sair de casa em virtude de isolamento domiciliar, mastenta sair e é flagrada pela polícia. Constitui-se, também, crime de perigo comum ou abstrato, sendo que a simples probabilidade de contágio causado à sociedade em virtude do descumprimento de determinação do poder público já é suficiente para a caracterização do delito, ainda que desse descumprimento não derive resultado concreto, posto que este perigo já foi considerado pela lei de maneira presumida (presunção absoluta). Qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo do crime (crime comum), mas cabe a ressalva de que a causa de aumento de pena, prevista no parágrafo único do artigo 268 do Código Penal, só se aplica quando o agente for funcionário da saúde pública ou exercer a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro, tratando- se, nesse caso, de crime próprio. Importa mencionar cuidar-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja competência é dos juizados especiais criminais, aplicando-se o rito da Lei nº 9.099/95. No caso em tela, o policial militar, deve individualizar o infrator, e lavrar o procedimento legal para o crime, que no caso será o TCO,e assim sanar o crime e eventual risco de contagio a sociedade e também a equipe de policiais que estão de serviço e como sempre buscar combater a Covid-19, ou outra moléstia que possa surgir. Após a análise de tais crimes, percebe-se o quão desesperador é a violação normativa, sendo lei federal, estadual ou municipal, e no momento em que a sociedade se encontra sofrendo por um agente invisível, os policiais militares devem cumprir e fazer a sociedade aceitar e cumprir as ordens legais, provenientes dos órgãos públicos em absoluto para evitar desavenças referentes à Saúde Pública e seu infringimento, com o fim de garantir o bem e a saúde de toda a coletividade. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(O gmail.com Desobediência: Art. 330 - Desobedecer à ordem legal de funcionário público: Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa. Por derradeiro, cabe mencionar o crime de desobediência, tipificado no artigo 330, do Código Penal, nas hipóteses de não observância das determinações do poder público destinadas a impedir introdução ou propagação do COVID-19, ou de outras moléstias graves, o que subsistirá nas hipóteses de não configuração de crimes mais graves. 5. Sequestro e cárcere privado Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: Pena - reclusão, de um a três anos. 5.1. Introdução No caput do 148 do Código Penal estão descritas as condutas que tipificam o sequestro e o cárcere privado. Ao narrá-las o legislador assim dispôs:“privar alguém, de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado”. Há uma diferença entre ambos os crimes, pois no sequestro a vítima tem maior liberdade de locomoção (vítima presa numa fazenda). Já no cárcere privado, a vítima vê- se submetida a uma privação de liberdade num recinto fechado, como por exemplo: dentro de um quarto ou armário. O crime de cárcere privado pode se dar de duas formas, por meio da detenção e sequestro. A detenção ocorre quando a violência exercida sobre a pessoa consiste no impedimento ou obstáculo de sair de um certo determinado lugar; e já no sequestro compreende-se o fato de conservar a pessoa em lugar solitário e ignorado, de modo que difícil seria a vítima obter socorro de outro. Art. 148 — Privar alguém de sualiberdade, mediante sequestro ou cárcere privado: Pena — reclusão, de um a três anos. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com 8 1º —- A pena é dereclusão, de dois a cinco anos: 5.2. DoS$1º,incisol |- se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos; Na antiga redação deste inciso não havia proteção penal relacionado aos companheiros, com a nova redação do artigo atual foi incluído essa proteção. E a pena é de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, conforme estabelecido. Houve uma necessidade de igualdade entre “conjugue e companheiro”, para que no sentido apontado ensejasse punição mais severa ao réu (ou à ré), vedada em razão da ausência de expressa cominaçãolegal. 5.3. DoS$1º, inciso ll Il — se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital; Quando o crime for praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital. É preciso que tal internação ocorra com o dissentimento do indivíduo, para que a internação configure o delito em estudo. É, do mesmo modo, exigido que a internação não decorra de permissão legal ou não seja tolerada pelo meio social — se houverjusta causa para a privação da liberdade física, não há que se falar no crime em tela, ou seja, “a razão da maior punibilidade reside no emprego de meio fraudulento 5.4. Dogs 1º, inciso II ll — se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze) dias; É irrelevante o tempo de duração da restrição de liberdade para configurar o delito, mas se ultrapassar o tempo de 15 dias, o crime passa a ser qualificado. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO O Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com 5.5. Do $ 1º, inciso IV + Lei nº 11.106/2005 IV-— se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos; A nova lei acrescentou ao 8 1º o inc. IV com a seguinte redação: “se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito) anos”. A modificação é bem vinda, pois, com ela, fica estabelecida a harmonia no sistema de proteção ao menor de 18 (dezoito) anos, em coerência com o disposto na segundafigura do 8 1º do art. 159 do Código Penal. Considerando que o crime de sequestro ou cárcere privado é de natureza permanente, em algumas situações a privação da liberdade poderá iniciar quando a vítima for menor de dezoito anos e terminar após ela ter completado tal idade. Ainda será possível, em outra situação, que a privação da liberdade tenha se iniciado antes da nova lei e perdurado para além de seu ingresso no ordenamento. A tentadora compreensão inversa levaria à conclusão no seguinte sentido: se a privação da liberdade iniciar quando a vítima ainda contar com menos de 18 (dezoito) anos, porém, se estender para além da data em que atingida tal idade, a qualificadora estará afastada. Se verificada a hipótese exatamente como acima citada; com o prolongamento da privação da liberdade o réu estaria a se beneficiar, deixando de incidir em pena de dois a cinco anos, acabando por ser “agraciado” com a adequação típica de sua conduta no preceito primário, com pena cominada entre um e três anos, de reclusão. Aqui, a prolongação do sofrimento da vítima seria benéfica ao réu, o que não se pode admitir eticamente, tampouco à luz do disposto no art. 4º do Código Penal, conforme anotado. Na outra situação indicada, onde a privação da liberdade do menor de dezoito anos teve início antes da lei e se alongou para depois de sua vigência, a natureza permanente do crime impede, por absoluto, o não reconhecimento da qualificadora, hipótese claramente incogitável. COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com 5.6. DoS 1º, inc. V: crime praticado para fins libidinosos V- seo crime é praticado com finslibidinosos. A última alteração feita no art. 148 decorre do inciso V, que também foi acrescido ao 8 1º. Pela nova previsão, se o sequestro ou o cárcere privado for praticado para fins libidinosos o crime também será qualificado e contará, obviamente, com pena mais elevada (reclusão, de dois a cinco anos). Atos libidinosos são aqueles praticados com a finalidade de satisfazer a lascívia, o prazer sexual. Se o crime for cometido para o fim de manter relação sexual (cópula vagínica) ou para a prática de qualquer ato libidinoso diverso da conjunção carnal (coito anal ou felação, por exemplo), a forma qualificada estará presente. 5.7. Do$2º $ 2º- Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral: Pena — reclusão, de dois a oito anos. Qualifica-se o sequestro e o cárcere privado pelo resultado no $ 2º do artigo 148, de modo que, em virtude dos maus-tratos ou da natureza da detenção, o agente provoque à vítima lesões corporais ou a sua morte, haverá concurso material entre o sequestro qualificado e o resultado atingido. No caso de vias de fato, estas serão absorvidas; da mesma forma, em virtude da natureza da detenção, a qual possa trazer sofrimento físico ou moral à vítima, haverá a incidência da qualificadora. 5.8 Sujeito ativo Como se trata de crime comum, pode ser qualquer pessoa, não requerendo nenhuma qualidade ou condição particular; se, no entanto, apresentar a qualidade de funcionário público, e praticar o fato no exercício de suas funções, poderá configurar-se o crime de abuso de autoridade (Lei n. 4.898/65). Igualmente e recebe e/ou recolher COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO o Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(Dgmail.com alguém à prisão, sem ordem escrita da autoridade competente, também incorre em crime de abuso de autoridade. 5.9 Sujeito passivo Qualquer pessoa 5.10 Consumação e tentativa Consumação- consuma-se no instante em que a vítima se vê privada de sua liberdade de ir e vir. Assim, não há que se falar em consumação apenas quando a vítima ficar um tempo razoável em poder do agente. Como dito alhures, o dolo é específico: privar a liberdade de pessoa humana. Ou seja: privada a liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado, nem que seja por cinco minutos, restará consumadoo delito. Tentativa- como crime material admite-se a tentativa, que se verifica com a pratica de atos de execução, sem chegar à restrição da liberdade da vítima, como, por exemplo, quando o sujeito ativo está encerrando vítima em um deposito é surpreendido e impedido de consumarseu intento. Tratando-se, porém, da forma omissiva, a tentativa é de difícil ocorrência. 5.11 Pena e ação penal A pena cominada é de
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