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Direito Penal e Processo Penal CONSULTA

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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL
1. APRESENTAÇÃO
Direito penal é um ramo do Direito Público que regula as condutas ofensivas aos
bens jurídicos mais relevantes para a sociedade, reprimindo (punindo), através de
sanções (penas), aos que se comportarem contrários ao estabelecido pela lei, visando,
por fim, uma convivência harmônica da sociedade. Tem a função de garantir os direitos
da pessoa humana frente ao poder punitivo do Estado. Sendo assim, tem-se que o
Direito Penal também tem uma conotação garantista na formulação das normas penais, a
fim de poder evitar que o Estado de Polícia se manifeste e se sobreponha ao Estado de
Direito.
Deve ser encarado como o último recurso (ou meio) do Estado para evitar
determinadas condutas, devendo assim somente ser utilizado quando todos os outros
ramos do Direito (tais como o Civil, administrativo, tributos, etc.) não forem suficientes.
Nesse sentido, é denominado ultima ratio, ou seja, de intervenção mínima, ultima razão,
ultima forma de regular certa atividade. Deve-se primeiro, tentar resolver a situação
através de outras formas, caso não se tenha um resultado esperado, aí sim, recorrer ao
Direito Penal.
E o Processo Penal? Processo penal é a instrumentalização do próprio Direito
Penal (Direito abstrato). Sem o processo penal, não adiantaria apenas dizer que matar
alguém é crime, com pena de 6 a 20 anos, não é mesmo? Como faríamos para
aplicarmos essa pena? Como que o homicida poderia ficar preso antes de uma sentença
penal condenatória? Quem poderia pedir sua prisão? O que aconteceria na cena do
crime? Quais os primeiros procedimentos na cena do crime?
Tudo isso pode ser encontrado no Código de Processo Penal, que nada mais é
do que a regulamentação do processo de persecução penal, em síntese, aquele
processo que determinada pessoa responde!
COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR
Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM
Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO
Fone: (62) 32011790 Fax: (62) 32011606 - Emails: ead(Opm.go.gov.br / ead.apmgo(O gmail.com
 
 
Desde a inquirição de testemunhas em fase de inquérito Penal até um recurso de
uma sentença em tribunal do júri, tem previsão nesse código de processo penal.
Posto isto, o objetivo geral da disciplina Direito Penal e Processual Penal é trazer
os principais conceitos, princípios e crimes, que todo Policial Militar deve saber, para que
possa, ao deparar com uma ocorrência, perceber o caráter ilícito daquela situação
apresentada, agir como representante do Estado de Direito e tomar iniciativas para
garantir a preservação da ordem pública e a incolumidade das pessoas e patrimônio
cumprindo assim sua função constitucional.
Na parte de Direito Penal será tratado, sem exaurir o assunto, os principais ilícitos
que a Polícia Militar lida diariamente. Será abordado também algumas teorias básicas
para entendermos como que funciona o Direito Penal, bem como as excludentes de
ilicitudes.
Na parte de Processo Penal, de forma mais sucinta e também sem exaurir o
assunto, discorreremos sobre a Prisão em Flagrante, atividade típica da Polícia Militar,
ressaltando suas principais espécies de acordo com a doutrina moderna. Atrelado à
Prisão em Flagrante, será abordado aspectos gerais da Audiência de Custódia,
implantada no Brasil desde o ano de 2015 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).
Portanto, o objetivo da disciplina é capacitar a praça policial militar, em especial
aquela que não é Bacharel em Direito, a atuar dentro da legalidade, reconhecendo de
imediato o caráter ilícito da situação para tomar as medidas cabíveis.
COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR
Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM
Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO
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2. CONTEÚDOS
MÓDULO | - PARTE GERALDIREITO PENAL
. Fontes do Direito Penal
- Princípios
. Infração Penal e Classificação
3.1. Fato Típico
3.2. Fato llícito ou Antijurídico
3.3. Culpabilidade
. Tempo do Crime
. Lugar do Crime
. Crime Permanente e Crime Continuado
MÓDULOIl - PARTE ESPECIAL DIREITO PENAL
1. Dos Crimes Contra a Vida
1.1. Homicídio
1.2. Lesão Corporal
1.3. Da Periclitação da Vida e da Saúde
2. Dos Crimes Contra a Liberdade Individual
2.1. Sequestro e Cárcere Privado
3. Dos Crimes Contra o Patrimônio
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3.1.
3.2.
3.3.
3.4.
3.5.
3.6.
Sd
Furto
Furto de Coisa Comum
Roubo
Extorsão
Extorsão Mediante Sequestro
Estelionato
Receptação
4. Dos Crimes Contra a Dignidade Sexual
4.1.
4.2.
4.3.
4.4.
4.5.
Estupro
Violência Sexual Mediante Fraude
Importunação Sexual
Registro não autorizado da intimidade sexual
Estupro de Vulnerável
MÓDULOIll DIREITO PROCESSUAL PENAL
1. Da Ação Penal
2. Da Prisão em Flagrante
3. Espécies da Prisão em Flagrante
4. Audiência de Custódia
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MÓDULO | - PARTE GERALDO DIREITO PENAL
1 — Fontes do Direito Penal:
As fontes do direito ou origens das normas jurídicas subdividem-se em fontes
materiais, substanciais ou de produção e em fontes formais, de conhecimento ou de
cognição. Aquelas indicam o órgão encarregado da produção do direito penal. Em
nosso ordenamento jurídico, somente a União possui competência legislativa para criar
normas penais (CF, art. 22, |). No entanto, o parágrafo único do dispositivo constitucional
citado prevê que lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões
específicas acerca de matérias penais.
As fontes formais, por sua vez, subdividem-se em imediatas e mediatas.
Somente a lei pode servir como fonte primária e imediata do direito penal, porquanto não
há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal (CF,
art. 5º, XXXIX, e CP, art. 1º).
2 — Princípios Basilares:
2.1 O princípio da Dignidade da Pessoa Humana:
É um princípio fundamental incidente a todos os seres humanos desde a
concepção no útero materno, não se vinculando e não dependendo da atribuição de
personalidade jurídica ao titular, a qual normalmente ocorre em razão do nascimento com
vida. A dignidade é essencialmente um atributo da pessoa humana pelo simples fato de
alguém “ser humano”, se tornando automaticamente merecedor de respeito e proteção,
não importando sua origem, raça, sexo, idade, estado civil ou condição socioeconômica.
O artigo 5º da Constituição Federal enumera vários incisos que denotam a dignidade da
pessoa humana, como por exemplo:
Ill - ninguém será submetido a tortura nem a tratamento desumano ou
degradante;
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VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo
assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma
da lei, a proteção aos locais de culto e a suasliturgias;
XI - a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar
sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou
desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinação
judicial;
XLVII - não haverá penas:
a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84,
XIX;
b) de caráter perpétuo;
c) de trabalhos forçados;
d) de banimento;
e) cruéis;
XLIX- é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;
2.2 - O Princípio da Legalidade:
A Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio da legalidade no art. 5º,
XXXIX, de modo que, no Brasil, constitui cláusula pétrea; não pode ser suprimido sequer
por emenda à Constituição. Já no Código Penal Brasileiro, a legalidade é disciplinada no
artigo 1º, que diz: “Não há crime sem lei anterior que o defina. Não há pena sem
prévia cominação legal”.
Acrescente-se, por fim, que o princípio da legalidade tem importância ímpar em
matéria de segurança jurídica, pois salvaguarda os cidadãos contra punições criminais
sem base em lei escrita, de conteúdo determinado e anterior à conduta. Exige, ademais
disso, que exista uma perfeita e total correspondência entre o ato do agente e a lei penal
para fins de caracterização da infração e imposição da sanção respectiva.
O princípio da legalidade desdobra-se em quatro subprincípios: anterioridade
da lei; lei escrita, lei no sentido formal ou reserva legal; proibição de analogia in malam
partem; e taxatividade da lei ou mandato de certeza.
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a) Anterioridade ou lege praevia: Dos aspectos acima indicados, destacamos em
primeiro lugar a necessidade de que a lei seja anterior ao ato. Com efeito, de nada
adiantaria assegurar que o direito penal se fundamenta na lei, caso esta pudesse ser
elaborada ex post facto, isto é, depois do cometimento do fato. A incriminação de
comportamentos anteriores à vigência da lei destrói por completo a segurança jurídica
que se pretende adquirir com a legalidade. Por tal razão, não há legalidade sem a
correlata anterioridade.
b) Reserva legal ou lege scripta: É preciso, também, que a incriminação se
baseie em lei no sentido formal. Não pode o direito consuetudinário (costumeiro) ou o
emprego de analogia embasar a punição criminal de um ato, ou mesmo o agravamento
das consequências penais de uma infração penal definida em lei. Os usos e costumes,
por mais arraigados que possam ser em determinada comunidade, não podem embasar
a existência de um crime.
c) Proibição de analogia ou lege strictai A analogia constitui método de
integração do ordenamento jurídico, em que se aplica uma regra existente para
solucionar caso concreto semelhante, para o qual não tenha havido expressa
regulamentação legal. A vedação atinge somente a analogia in malam partem,isto é,
aquela prejudicial ao agente, porcriar ilícito penal ou agravar a punição dosjá existentes.
d) Taxatividade ou lege certa: A lei penal deve ser determinada em seu
conteúdo. Não se permite a construção de tipos penais excessivamente genéricos, os
quais são denominados tipos penais vagos. Uma lei penal incriminadora que punisse
uma conduta vaga e indeterminada provocaria insegurança jurídica e acabaria por
aniquilar a garantia constitucional em apreço.
2.3 - Princípio da irretroatividade da lei penal gravosa (ou retroatividade benéfica):
De acordo com nossa Constituição Federal, a lei penal não retroagirá, salvo para
beneficiar o réu (art. 5º, XL). O mesmo princípio encontra-se no Código Penal, em seu
artigo 2º, que diz:
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Art. 2º - Ninguém pode ser punido por fato que lei
posterior deixa de considerar crime, cessando em
virtude dela a execução e os efeitos penais da sentença
condenatória.
Parágrafo único - A lei posterior, que de qualquer modo
favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores, ainda
que decididos por sentença condenatória transitada em
julgado.
Como exemplo podemoscitar o adultério. Até pouco tempo era considerado crime o
a prática de adultério. Alterações no Código Penal foram realizadas para adequar a nova
realidade da sociedade brasileira e o artigo que tipificava o adultério como crime, foi
revogado.
O enunciado do Art. 2º do Código Penal contém duas regras: a lei penal possui
caráter irretroativo, afinal, de nada adianta estabelecer que a norma penal deve se
basear numa lei escrita se for possível elaborá-la depois da conduta, punindo fatos
anteriores à vigência da lei ou agravando as consequências de tais fatos.
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A retroatividade benéfica, entretanto, não é proibida, já que não abala a
confiança no Direito Penal e, ademais, justifica-se como medida de isonomia. Não teria
sentido que alguém cumprisse pena depois de uma lei considerar a conduta pela qualfoi
condenado como penalmente irrelevante, sob pena de, em não sendo assim,
conviverem, ao mesmo tempo, alguém cumprindo pena pelo fato enquanto outros o
praticam sem sofrer qualquer consequência penal.
2.4 - Princípio da insignificância ou da bagatela:
O princípio da insignificância ou da bagatela foi desenvolvido por Claus Roxin.
Para o autor, a finalidade do Direito Penal consiste na proteção subsidiária de bens
jurídicos. Logo, comportamentos que produzam lesões insignificantes aos objetos
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jurídicos tutelados pela norma penal devem ser considerados penalmente irrelevantes. A
aplicação do princípio produz fatos penalmente atípicos.
2.5 - Princípio da alteridade ou transcendentalidade:
Tem como precursor Claus Roxin e significa que não é possível incriminar
atitudes puramente subjetivas, ou seja, aquelas que não lesionem bens alheios. Se a
ação ou omissão for puramente pecaminosa ou imoral, não apresenta a necessária
lesividade que legitima a intervenção do Direito Penal. Por conta desse princípio, não se
pune a autolesão, salvo quando se projeta a prejudicar terceiros, como no art. 171, 8 2º,
V, do CP (autolesão para fraudar seguro); a tentativa de suicídio não é crime (nosso
CP somente pune a participação no suicídio alheio — art. 122); o uso pretérito de droga
não é crime (o porte é punido porque, enquanto o agente detém a droga, coloca em
risco a incolumidade pública).
2.6 - Princípio da intervenção mínima:
Somente se deve recorrer à intervenção do direito penal em situações extremas,
como a última saída (ultima ratio). A princípio, portanto, deve-se deixar aos demais
ramos do Direito a disciplina das relações jurídicas. A subtração de um pacote de balas
em um supermercado, já punida com a expulsão do cliente do estabelecimento e com a
cobrança do valor do produto ou sua devolução, já foi resolvida por outros ramos do
Direito, de modo que não necessitaria da interferência do Direito Penal.
3 — Infração Penal — Classificação Bipartida e Tripartida:
Crime é a prática da conduta descrita no artigo (tipo penal). Igualmente é o
conceito de contravenção penal. Para que exista um crime, devem estar presentes
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alguns elementos. Uma parcela da doutrina adota a teoria bipartida, que considera
como elementos do crime a existência de fato típico e ilícito.
A outra parte da doutrina adota a teoria tripartida, que considera como elementos
do crime: fato típico, ilícito ou antijurídico (ilegal) e culpável (reprovável), integrando o
elemento culpabilidade.
3.1 — O fato típico: fato típico é a conduta comissiva (por ação) ou omissão produtora de
um resultado reprovável peloDireito Penal, podendo ser crime ou contravenção penal. É
o primeiro elemento que constitui o conceito de crime, e se subdivide em 4 elementos:
Conduta, Resultado, Nexo de Causalidade e Tipicidade. Para que um determinado fato
seja considerado típico deve-se considerar os quatro elementos juntos, de forma que,
ausente quaisquer destes elementos, a conduta será atípica.
Os elementosdo fato típico são conceituados da seguinte forma:
a) Conduta: Ação ou comportamento humano.
b) Resultado: Modificação do mundo exterior, causada pela conduta.
c) Nexo de Causalidade: Vínculo entre a conduta e o resultado.
Tipicidade: Adequação da conduta praticada com o modelo abstrato previsto nalei.
3.2 — Ilícito ou antijurídico: O Direito brasileiro prevê as causas que excluem a
antijuridicidade do fato típico. São os chamados tipos permissivos, e excluem a
antijuridicidade por permitirem a prática de um fato típico. Ou seja, somente será típico o
fato que também for antijurídico e, presentes os requisitos de uma discriminante, não há
que se falar em conduta típica. O Art. 23 do Código Penal Brasileiro ao tratar das
excludentes da ilicitude, dispõe que:
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o
fato:
| - em estado de necessidade;
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Il - em legítima defesa;
Il - em estrito cumprimento de dever legal ou no
exercício regular de direito.
Parágrafo único - O agente, em qualquer das hipóteses
deste artigo, responderá pelo excesso doloso ou
culposo.
3.2.1 Estado de necessidade:
Segundo o artigo 24 do Estatuto Repressivo (Código Penal Brasileiro), considera-
se estado de necessidade quem pratica o fato para salvar-se de perigo atual, que não
provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo
sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.
Para a configuração desta excludente legal da ilicitude é necessário:
- haver um perigo atual. Para boa parte da doutrina poderia ser iminente, mas
nunca futuro ou remoto;
- que não tenha sido provocado pela vontade do agente (dolosamente), nem
poderia de outra forma evitá-lo (sendo possível, deve ser escolhida a forma menos
gravosa);
-Cujo sacrifício não era razoável exigir. Demanda uma análise do princípio da
proporcionalidade e da razoabilidade em face dos bens jurídicos em confronto.
Não pode alegar estado de necessidade quem tinha o dever legal de enfrentar o
perigo, segundo preceitua o Art. 24, 8 1º, CPB.
3.2.2 Legítima defesa:
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Segundo NUCCI, “é a defesa necessária empreendida contra agressão injusta,
atual ou iminente, contra direito próprio ou de terceiros, usando para tanto,
moderadamente, os meios necessários. O agente responderá pelo excesso doloso ou
culposo, quando do uso da legítima defesa, conforme preceitua o Parágrafo único doart.
23, CPB.
São os requisitos da legítima defesa:
a) a reação a uma agressão atual ou iminente e injusta: atual é a agressão que
está desencadeando-se, iniciando-se ou que ainda está desenrolando-se porque não se
concluiu; iminente é a que está para ocorrer, que não permita demora à repulsa. No
entanto, não há que se falar em legítima defesa contra uma agressão futura, que pode
ser evitada por outro meio. O temor, ainda que fundado, não é suficiente para legitimar a
conduta do agente, ainda que verossímil.
b) a defesa de um direito próprio ou alheio: Isto é, a defesa pode ser de um bem
ou interesse juridicamente protegido próprio ou de terceiros.
c) a moderação no emprego dos meios necessários à repulsa: são definidos por
NUCCI da seguinte forma: “são os eficazes e suficientes para repelir a agressão ao
direito, causando o menor dano possível ao atacante. Deve haver proporcionalidade
entre a defesa empreendida e o ataque sofrido, que deverá ser apreciada no caso
concreto, não se tratando, portanto, de um conceito rígido. Se o meio fundar-se, por
exemplo, no emprego de arma de fogo, a moderação basear-se-á no número de tiros
necessários para deter a agressão. A escolha do meio defensivo e o seu uso importarão
na eleição daquilo que constitua a menor carga ofensiva possível, pois a legítima defesa
foi criada para legalizar a defesa de um direito e não para a punição do agressor.”
Segundo NUCCI, a possibilidade de legítima defesa contra legítima defesa, ou
contra outra excludente de ilicitude não é possível, pois a agressão não pode serinjusta,
ao mesmo tempo, para duas partes distintas e opostas. Entretanto, admite a
possibilidade de haver legítima defesa real contra legítima defesa putativa ou contra
outra excludente putativa. Isso porque a legítima defesa real é reação contra agressão
verdadeiramente injusta e a chamada legítima defesa putativa é uma reação a uma
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agressão imaginária. Segundo o autor, no primeiro caso exclui-se a antijuridicidade; no
segundo, afasta-se a culpabilidade.
Já de acordo com NORONHA, pode ocorrer legítima defesa putativa contra a real
ou objetiva e exemplifica: “se A, julgando justificadamente que vai ser agredido por B,
dispara um tiro de revólver neste que, antes de ser atirado pela segunda vez, atira
também contra A. Esse age em legítima defesa putativa, pois as circunstâncias o
levaram a erro de fato essencial, e B atua em legítima defesa objetiva. As situações,
porém, são diversas: um tem a seu favor uma dirimente ou causa de exclusão da culpa
(em sentido amplo), ao passo que o outro se socorre de excludente de antijuridicidade ”
d) o elemento subjetivo: É a consciência do sujeito que atua sob o manto de
qualquer excludente de ilicitude acerca da sua utilização e dos requisitos e elementos
fáticos que a envolvem. Atuar em legítima defesa exige a plena noção de que se está
defendendo de agressãoinjusta, atual ou iminente, contra direito próprio ou de terceiros.
3.2.2.1 Legítima defesa protetiva
No ano de 2019, entrou em vigor a Lei Federal nº 13.964, de 24 de dezembro
de 2019 (a qual aperfeiçoa a legislação penal e processual penal brasileira), trazendo
consigo uma inovação, em particular, que repercutirá na atividade operacional das
polícias, haja vista envolver ação perpetrada por agente de segurança pública durante
eventos de preservação da vida. Trata-se do reconhecimento do instituto por nós
chamado de "legítima defesa protetiva", que abrangerá não apenas injusta agressão,
mas sim, e também, o risco a ela. Segue-se a alteração citada:
Art. 25 - Entende-se em legítima defesa quem, usando
moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem.
Parágrafo único. Observados os requisitos previstos
no caput deste artigo, considera-se também em legítima
defesa o agente de segurança pública que repele
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agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém
durante a prática de crimes.
Segundo o atual art. 25 do Código Penal, já estudado anteriormente, entende-se
em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta
agressão, atual(acontecendo) ou iminente (prestes a acontecer), a direito seu ou de
outrem. Agora, graças ao parágrafo único acrescido ao tipo em questão, considera-se
também em legítima defesa o agente de segurança pública que repele agressão ou risco
de agressão a vítima mantida refém durante a prática de crimes.
Essa ação difere da chamada “legítima defesa antecipada ou preventiva”, eis
que, nestas, a iminência da agressão, em princípio, está afastada. Difere, também, da
denominada “legítima defesa pré-ordenada”, caracterizada pela ação dos chamados
“ofendículos”, isto é, de aparatos usados para a defesa do patrimônio, como cercas
elétricas e cacos de vidro.
No caso em comento, para fins de reconhecimento da excludente, a lei agora
considera que a vítima mantida refém durante a prática de crimes passa a estar em
constante perigo, dada a imprevisibilidade temporal de um ataque que poderá ocorrer a
qualquer instante. Assim, num cenário real o agente de segurança pública está agora
licenciado a repelir não apenas a iminência ou a atualidade da agressão injusta, mas,
também, o risco a ela. E para tanto ele deve focar no perigo, que é o causador do risco.
Será então necessário que a vítima esteja com uma arma de fogo apontada
para a cabeça ou sofrendo iminente agressão similar? Não mais. Se os agentes de
segurança pública avaliarem que o risco, embora não atual ou iminente, é de fato real,
isto é, que o perpetrador, sem prejuízo dos apelos de rendição feitos pelo Estado,
representa perigo efetivo (porta explosivos, produtos inflamáveis, encontra-se
psiquicamente abalado, enverga armas de maneira agressiva etc.), o ataque protetivo
deve ser feito, buscando-se a incapacitação imediata do agressor e a preservação da
vida inocente. Isso, frise-se, encontra guarida na conjugação “ou” (alternativa ou
opcionalidade) usada pela lei, a qual se contenta com a agressão “ou” com o risco de
agressão (ações apartadas).
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3.2.3 Estrito cumprimento de dever legal ou no Exercício regular de direito:
O estrito cumprimento de dever legal é o instituto jurídico penal que compreende
as normas e princípios relativos à atuação de quem, sob comando legal, pratica
conduta descrita em um tipo legal. A lei não determina apenas a faculdade, a escolha
do agente em obedecer ou não a regra por ela estabelecida. Há, em verdade, o dever
legal de agir; o dever de agir tem origem na lei, exclusivamente.
Entende-se por dever legal toda e qualquer obrigação direta ou indiretamente
derivada de lei, isto é, preceito obrigatório e derivado da autoridade pública competente
para emiti-lo. Ainda, o cumprimento deve ser estritamente dentro da lei, sendo, assim,
mais um elemento a atuação do agente pautado aos ditames da lei. Exige-se que o
agente se contenha dentro dosrígidos limites de seu dever, fora dos quais desaparece a
excludente. Fora dos limites traçados pela lei, surge o excesso ou abuso de
autoridade, o fato torna-se ilícito e, além de livrar do cumprimento aquele a quem se
dirigia a ordem, abre-lhe espaço para utilização da legítima defesa.
Assim, por exemplo, o policial que, ao cumprir o dever legal de realizar prisão em
flagrante delito (art. 301, do CPP), em primeiro lugar, deve tentar executá-la utilizando
simplesmente a chamada “voz de prisão”. Caso não seja atendido, deverá empreender a
força física necessária para deter o infrator. Não poderá, porém, com o intento de evitar a
fuga do fugitivo, usar arma de fogo para matá-lo ou até mesmo feri-lo. O emprego da
força pela Polícia, no estrito cumprimento de dever legal, deverá nortear-se pelos
princípios da intervenção mínima, da proporcionalidade e da inviolabilidade dos
direitos fundamentais. O que se exige do agente do cumprimento da lei não é que
execute, a qualquer custo, o que nela estiver previsto, mas que realize o comando legal,
de forma que lese o menos possível os interesses particulares.
3.3. CULPABILIDADE
Culpável: é o conceito relacionado ao chamado juízo de reprovação do agente pelo que
fez. A doutrina majoritária adota a chamada teoria normativa pura para definir a
culpabilidade, dividindo em três elementos:
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e Imputabilidade: Capacidade que o infrator possui de entender o caráterilícito do
fato porele praticado.
e Potencial consciência da ilicitude: O agente tem que praticar o fato sabendo, ou
ao menostendo a possibilidade de saber que a conduta era ilícita.
e Exigibilidade de conduta diversa: A prática da conduta deve ser realizada numa
situação regular, normal.
O exemplo mais conhecido da ausência de culpabilidade é o que envolve os
menores de idade, entre 12 e 17 anos. Em nosso país, por força do chamado critério
biológico, considera-se que nessa faixa etária o indivíduo é inimputável, faltando-lhe a
imputabilidade, isto é, a capacidade de entender o caráterilícito dos fatos que pratica.
Nesse sentido, um adolescente de 17 anos que pratique um roubo, sem qualquer
causa que justifique sua conduta (resultando num fato típico e antijurídico), não praticará
crime, pois lhe falta a imputabilidade e, consequentemente, a culpabilidade. O que ele
pratica é um ato infracional.
4 — Tempo do Crime: Teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro.
4.1 - Atividade:
Art. 4º — Considera-se praticado o crime no momento
da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento
do resultado.
Assim, se 'A', com inequívoco animus necandi (Vontade de matar), atira contra
'B' em data de 10 de janeiro de 2015, na cidade de Osasco/SP, vindo este a óbito em
data de 27 de abril do citado ano, porém na cidade de São Paulo/SP. Ter-se-á praticado
o crime de homicídio em 10/01/2015. Isso ocorre, por que como diz o artigo 4º do CP,
considera-se praticado o crime no momento da ação, e o momento da ação no nosso
exemplo acima,foi no dia 10/01/2015.
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5 - Lugar do crime: Teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro.
LUGAR DO CRIME - TEORIA DA UBIQUIDADE OU MISTA
Refere-se como lugar do crime aquele em que ocorre a conduta (dolosa ou
culposa) ou é aquele em que o resultado foi produzido e esta é a teoria adotada pelo
Código Penal.
5.1 Ubiquidade ou mista:
Art. 6º — Considera-se praticado o crime no lugar em
que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o
resultado.
6 - Crime Permanente e Crime Continuado:
Configuram crimes permanentes aqueles cujo momento consumativo se prolonga
no tempo, por exemplo, sequestro (enquanto a vítima for mantida com sua liberdade
privada, considera-se prolongado o momento da consumação). Fala-se em crime
continuado, por outro lado, quando vários crimes são praticados em continuidade delitiva
(art. 71 do CP).
Se durante a permanência ou a continuidade delitiva entrar em vigor nova lei,
ainda que mais gravosa, ela se aplica a todo o evento, vale dizer, ao crime permanente e
a todos os delitos cometidos em continuidade delitiva.
Assim, por exemplo, se uma pessoa recebeu droga em julho de 2006 (quando
estava em vigor a Lei n. 6.368/76) e a guarda em um depósito com o objetivo de
comercializá-la até janeiro de 2007 (quando já estava em vigor a Lei n. 11.343/2006),
ficará sujeita às penas mais severas da nova legislação, uma vez que se trata de crime
permanente,cujo momento consumativo iniciou-se com a lei antiga mas persistiu durante
a nova lei.
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7 - Lei excepcional e lei temporária (CP,art. 3º):
Art. 3º - A lei excepcional ou temporária, embora decorrido o
período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a
determinaram, aplica-se ao fato praticado durante sua
vigência.
De acordo com o art. 3º do CP, “A lei excepcional ou temporária, embora
decorrido o período de sua duração ou cessadas as circunstâncias que a determinaram,
aplica-se ao fato praticado durante sua vigência”. Excepcional é a lei elaborada para
incidir sobre fatos havidos somente durante determinadas circunstâncias excepcionais,
como situações de crise social, econômica, guerra, calamidades etc. Temporária é
aquela elaborada com o escopo de incidir sobre fatos ocorridos apenas durante certo
período de tempo.
A regra constante do art. 3º do CP tem uma razão prática evidente, declarada na
Exposição de Motivos da Parte Geral do Código Penal: “Esta ressalva visa impedir que,
tratando-se de leis previamente limitadas no tempo, possam ser frustradas as suas
sanções por expedientes astuciosos no sentido do retardamento dos processos penais”.
Em suma, devemos ter em mente, que para a teoria do delito, o crime se divide
em:
1) Fato típico.
2) Antijurídico/llícito.
3) Culpável.
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Quadro esquematizado dos elementos do crime.
 
Fato típico Ilícito Culpabilidade — Apenas
elementos normativos.
 
 
 
Elementos Elementos objetivos: Potencial
subjetivos conhecimento da
ilicitude
Conduta (dolo e 1) Estado de Imputabilidade
necessidade,
culpa)
2) Legitima defesa,
3) Exercício regular
de direito e Estrito
cumprimento de
deverlegal.
Desvalor do Exigibilidade de
resultado conduta diversa 
Exercícios de Fixação
1) De acordo com os princípios basilares do Direito Penal, assinale a alternativa
correta:
a) Pelo princípio da Legalidade, ninguém pode ser punido por fato quelei posterior
deixa de considerar crime.
b) A retroatividade benéfica é proibida pois abala a confiança do Direito Penal, e
coloca em xequeo princípio da isonomia.
c) Pelo princípio da bagatela comportamentos que produzam lesões
insignificantes aos objetos jurídicos tutelados pela norma penal devem ser
considerados penalmente irrelevantes.
d) O princípio da Dignidade Humana não é afeto ao Direito Penal, posto está
previsto na Constituição Federal.
2) Considerando o conceito de infração penal, assinale a alternativa correta:
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3)
 
Para que exista crime, é necessário que esteja presente um dos seguintes
elementos: fato típico, ou ilícito, ou reprovabilidade.
O fato típico é composto pelos elementos Conduta, Resultado, Nexo de
Causalidade e Tipicidade.
Somente será típico o fato que não for antijurídico
Estando presente alguma discriminante (excludente de ilicitude), o fato continua
sendo típico e antijurídico.
Sobre as excludentes de ilicitudes, pode-se afirmar:
a)
b)
Na legítima defesa o agente responderá apenas pelo excesso doloso.
Inovação recente do Direito Penal é a figura da Legítima Defesa Protetiva onde
considera-se também em legítima defesa o agente de segurança pública que
repele agressão ou risco de agressão a vítima mantida refém durante a prática
de crimes.
O estado de necessidade é o instituto jurídico penal que compreende as
normas e princípios relativos à atuação de quem, sob comando legal, pratica
conduta descrita em um tipo legal.
Considera-se em estrito cumprimento de dever legal quem pratica o fato para
salvar-se de perigo atual, que não provocou por sua vontade, nem podia de
outro modo evitar, direito próprio ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias,
não era razoável exigir-se.
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MÓDULO II
PARTE ESPECIAL DIREITO PENAL
1 - Dos crimes contra a vida:
Os crimes contra a vida são aqueles nos quais o bem jurídico tutelado é a vida
humana. A vida é o bem jurídico mais importante do ser humano. A vida humana, para
efeitos penais, pode ser tanto a vida intrauterina quanto a vida extrauterina.
Os arts. 121 a 123 cuidam da tutela da vida extrauterina (de quem já nasceu),
enquanto os crimes dos arts. 124/127 tratam da tutela da vida intrauterina (dos
nascituros).
A morte pode ser provocada de maneira comissiva (ação positiva) ou de maneira
omissiva (negativa de ação) Art. 13, 82º do CP, e consuma-se com a morte encefálica (art.
3º, Lei 9439/97).
Dolo: É a consciência e a vontade de matar a vítima. Dolo de matar. O dolo do
crime de homicídio tem o nome de “animus necanad?.
Culpa: É a inobservância do dever objetivo de cuidado, causadora de um
resultado não desejado, mas objetivamente previsível. Não há crime culposo sem a
produção de resultado. A culpa se materializa por meio da imprudência, negligência ou
imperícia.
2. Crimes Contra a Pessoa
2.1. Homicídio
2.1.1. Conceito de Homicídio
Segundo o Professor Rogério Sanches, trata-se da injusta morte de uma pessoa
praticada por outrem. Conforme proclama Nelson Hungria, homicídio é o tipo central dos
crimes contra a vida. É o ponto culminante na orografia dos crimes. É o crime por
excelência.
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2.1.2. Homicídio simples
Art. 121. Matar alguém:
Pena - reclusão, de seis a vinte anos.
O homicídio simples pode ser considerado hediondo?
Vai ter natureza hedionda quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio,
ainda que cometido por um só agente. (Art. 1º, | da Lei 8.072/90)
Caso de diminuição de pena (Homicídio Privilegiado)
8 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o
juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Relevante valor moral: É aquele que atende aos interesses do próprio cidadão
(piedade, compaixão, misericórdia). Ex: eutanásia (homicídio piedoso);
Relevante valor social: É aquele que atende aos interesses da coletividade. Ex:
matar um estuprador, um cruel traficante de drogas, sob o domínio de violenta emoção,
logo em seguida a injusta provocação da vítima. Outro exemplo é o homicídio do traído
afetivamente.
2.1.3. Homicídio Qualificado
8 2º Se o homicídio é cometido:
| - mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro
motivo torpe;
Il - por motivo fútil;
Ill - com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou
outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resultar perigo
comum;
IV - à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou
outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do
ofendido;
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V — para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou
vantagem de outro crime:
Pena — reclusão, de doze a trinta anos.
A paga ou promessa de recompensa (homicídio mercenário) é um exemplo de
torpeza (Inciso |). O motivo fútil é a desproporcionalidade do crime em relação à sua
causa moral. É a pequeneza do motivo (Inciso Il). Ex: briga de trânsito. O inciso III
também emprega a fórmula casuística inicial e, ao final, usa fórmula genérica, permitindo
ao seu aplicador encontrar casos outros que denotem insídia, crueldade ou perigo comum
advindo da conduta do agente (interpretação analógica). — Trabalha com interpretação
analógica (exemplos seguidos de encerramentos genéricos).
Observações
Obs.1: Asfixia é qualquer método para se impedir a respiração.
Obs.2: Veneno é qualquer substancia capaz de matar quando inoculada no corpo
da vítima.
Segundo Rogério Sanches, o veneno consiste em qualquer substancia biológica
ou química, animal, mineral ou vegetal capaz de perturbar ou destruir funções vitais do
organismo humano. O açúcar, por exemplo, empregado em face de um diabético, pode
ser considerado um veneno.
Atenção! Para caracterizar a qualificadora do veneficio, é imprescindível que a
vítima desconheça que nela está sendo ministrada a substância letal. Veneno é a
substância biológica ou química, animal, mineral ou vegetal, capaz de perturbar ou
destruir as funções vitais do homem.
Insidioso é a utilização de fraude para cometer o crime sem que a vítima perceba.
Exemplo: retirar o óleo de direção do automóvel para provocar um acidente fatal contra
seu proprietário.
Meio cruel: proporciona à vítima um intenso e desnecessário sofrimento físico ou
mental, quando a morte poderia ser provocada de forma menos dolorosa.
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O inciso IV trabalha com a interpretação analógica (exemplos seguidos de
encerramentos genéricos). Traição, Emboscada e Dissimulação são apenas exemplos de
modos que dificultam a defesa do ofendido.
> Traição: é o ataque desleal, por exemplo,atirar na vítima pelas costas. A
traição é marcada pela deslealdade.
> Emboscada: pressupõe ocultamento do agente, que ataca a vítima com
surpresa.
> Dissimulação: o agente oculta sua intenção.
A traição pode ser física, exemplo: atirar pelas costas ou moral, exemplo: atrair a
vítima para um precipício.
Emboscada é a tocaia.
A dissimulação pode ser:
e Material: emprego de algum aparato, tal como umafarda policial, ou
e Moral: demonstração de falsa amizade ou simpatia pela vítima, para,
exemplificativamente, levá-la a um local ermo e matá-la.
Outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa da vítima: matar a vítima
com surpresa, enquanto dorme, quando se encontra em estado de embriaguez, em
manifesta superioridade numérica de agentes (linchamentos) etc.
2.1.4. Feminicídio
VI — contra a mulher por razões da condição de sexo feminino.
Conforme o parágrafo 2ºA/CPB, considera-se que há razões de condição de sexo
feminino quando o crime envolve violência doméstica e familiar, menosprezo ou
discriminação à condição de mulher.
A Lei nº 13.104 de 2015 inseriu o inciso VI para incluir no art. 121 o feminicídio,
entendido como a morte de mulher em razão da condição de sexo feminino,leia-se,
violência de gênero quanto ao sexo.
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Entrou em vigor em 10 de Março de 2015. Em se tratando de uma lei que agrava
a situação do réu, consagra uma nova hipótese qualificadora, não pode ser aplicada a
conduta praticada antes da referida data.
Trata-se de homicídio cometido por razões de gênero do sexo feminino
(preconceito, discriminação, desprezo pela condição de mulher).
8 2º-A Considera-se que há razões de condição de sexo
feminino quando o crime envolve:
| - violência doméstica e familiar
Il - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
2.1.5. Homicídio contra autoridades
VII — contra autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144
da Constituição Federal, integrantes do sistema prisional e da
Força Nacional de Segurança Pública, no exercício da função
ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge, companheiro
ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição:
Pena — reclusão, de doze a trinta anos.
Em 2015 as hipóteses de homicídio qualificado foram alteras pelo advento das
leis nº 13.104 e 13.142.
Atenção: Diferentemente do homicídio simples, o homicídio qualificado é sempre
hediondo, não importando a qualificadora. Nesse sentido, é a Lei nº 8.072/90 (Lei dos
Crimes Hediondos).
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2.1.6. Homicídio culposo
8 3º Se o homicídio é culposo:
Pena — detenção, de um a três anos.
Ocorre o homicídio culposo quando o agente, com manifesta imprudência,
negligência ou imperícia, deixa de aplicar a atenção ou diligência de que era capaz,
provocando, com sua conduta, o resultado morte, previsto (culpa consciente) ou
previsível (culpa inconsciente), jamais querido ou aceito.
Imprudência: precipitação, afoiteza (ação);
Negligência: ausência de precaução (omissão);
Imperícia: falta de aptidão técnica para exercício de arte, ofício ou profissão.
3. Lesão corporal
O crime de lesão corporal é de forma livre, não havendo previsão de forma
específica para sua prática. É comum, não exigindo nenhuma qualidade específica do
sujeito ativo. É delito de dano, consumando-se com a lesão ao bem jurídico tutelado.
Cuida-se de crime plurissubsistente, de acordo com o entendimento majoritário, razão
pela qual se admite a tentativa. A conduta típica é ofender, de forma direta ou indireta, a
integridade corporal ou a saúde de outra pessoa, aqui compreendido um ser humano
vivo. Pode haver mais de um ferimento na vítima, o que não prejudica a unidade do
delito.
Trata-se de infração penal classificada como material, isto é, a ocorrência do
resultado naturalístico é imprescindível para a sua consumação. O sujeito passivo não
pode ser o mesmo do sujeito ativo, especialmente em decorrência do princípio da
alteridade ou da transcendentalidade, que preconiza não ser punível a conduta que não
saia da esfera da disponibilidade do agente. Por isso, não se pune, por si só, a
autolesão.
O elemento subjetivo do delito é o denominado animus nocendi ou animus
laedendi, ou seja, é a vontade livre e consciente de produzir uma lesão ou um dano à
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integridade corporal ou de prejudicar a saúde de outrem. Também há punição a título de
preterdolo e de culpa, como veremos.
A lesão corporal de natureza leve se diferencia da contravenção de vias de
fato em uma relação de subsidiariedade, de modo que, se não se configurar o crime,
haverá a prática da contravenção penal. O delito de lesão corporal exige que haja
ofensa à integridade física ou mental do indivíduo ou à saúde da vítima, como no caso de
serem provocados hematomas e equimoses. A mera provocação de dor ou de uma
mancha avermelhada não implicam na configuração do crime, o que pode ser o casode
consumação da contravenção de vias de fato. Além disso, tanto o crime como a
contravenção penal se diferenciam da chamada injúria real, que é a conduta de injuriar
alguém por meio de violência ou devias de fato.
Para configuração da injúria real, é imprescindível que a violência ou as vias de
fato empregadas tenham a natureza de aviltantes, sendo que o elemento subjetivo do
agente, que é o animus injuriandi (Vontade de Injuriar), a diferencia das outras infrações
penais mencionadas.
A lesão corporal possui diversas modalidades, havendo o tipo penal simples, o
qualificado e o privilegiado. A lesão qualificada pode ser de natureza grave, de
natureza gravíssima, com resultado morte ou a que envolve violência doméstica e
familiar contra a mulher. Além disso, prevê-se a punição da forma culposa, bem como
algumas causas de aumento de pena.
O esquema abaixo demonstra as espécies de lesões corporais:
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Lesões corporais
Lesão Grave
Simples
Lesão Gravíssima
 
 
 
 Qualificada
 
 
Lesão Seguida de Morte
Lesão corporal Privilegiada
Violência doméstica
 
 
 
Obs.: Os policiais militares devem observar junto à sociedade o grande volume
de violência domestica e familiar contra mulher, sendo assim, a titulo de conhecimento
listamos todas ostipos de lesões, porém os operadores da segurança pública devem ter
uma atenção especial a lesão prevista no artigo 129, 89º do CP (Violência doméstica).
3.1. LESÃO CORPORALDE NATUREZA LEVE
O tipo penal básico ou simples da lesão corporal é denominado pela doutrina de
lesão corporal de natureza leve, estando prevista no artigo 129 do Código Penal:
Lesão corporal Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a
saúde de outrem:
Pena - detenção, de três meses a um ano.
Vale lembrar que a ação penal no crime de lesão corporal leve é pública
condicionada à representação da vítima, conforme preceitua o art.88 da lei 9.099/95.
Cabe a lavratura de TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), caso a vítima
queira representar contra o autor. Neste caso, o Policial Militar deverá preencher o
Termo de Manifestação do Ofendido, e o autor e a vítima, de pronto já saem intimados
da data de audiência em juízo.
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3.2. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVE
O artigo 129, em seu parágrafo primeiro, prevê a forma qualificada do delito, com
a denominação legal de lesão corporal de natureza grave e com pena de reclusão, de um
a cinco anos:
São delitos qualificados pelo resultado, que pode ter sido praticado a título de
dolo ou de culpa, sendo que somente no último caso recebem a denominação de crimes
preterdolosos. O perigo de vida, entretanto, só pode ter sido produzido por culpa, sob
pena de configuração de um crime autônomo, como por exemplo o homicídio. Vejamos
as hipóteses:
8 1º Se resulta:
l. se resulta incapacidade para as ocupações habituais, por
mais de trinta dias:
Il. se resulta perigo de vida
Ill. se resulta debilidade permanente de membro, sentido ou
função.
IV. se resulta aceleração de parto:
3.3. LESÃO CORPORAL DE NATUREZA GRAVÍSSIMA
O artigo 129, em seu parágrafo segundo, prevê outros resultados que qualificam
o delito, sob a mesma denominação de lesão corporal de natureza grave. A doutrina,
para diferenciar os casos do parágrafo primeiro dos previstos no parágrafo segundo, com
pena diferenciada, de dois a oito anos de reclusão, denomina-os de lesão corporal de
natureza gravíssima.
Como nos casos do parágrafo primeiro (lesão corporal de natureza grave), temos
crimes qualificados pelo resultado, o qual pode ter sido praticado a título de dolo ou de
culpa, sendo que somente no último caso recebem a denominação de crimes
preterdolosos. A exceção é o caso do aborto que, se praticado por dolo, configura o
crime autônomo. Estudemos cada um dos resultados que qualificam o delito, tornando-o
de natureza gravíssima:
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|. se resulta incapacidade permanente para o trabalho:
Il. se resulta enfermidade incurável:
Ill. se resulta perda ou inutilização do membro, sentido ou
função:
IV. se resulta deformidade permanente:
V. se resulta aborto:
3.4. LESÃO CORPORAL SEGUIDA DE MORTE
A lesão corporal seguida de morte também pode ser chamada de homicídio
preterdoloso. Constitui-se no crime de lesão corporal, praticado com dolo direto ou
eventual, com o resultado, advindo de culpa, de morte da vítima. Ou seja, há dolo no
antecedente e culpa no consequente.
Lesão corporal seguida de morte
8 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o
agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-
lo:
Pena - reclusão, de quatro a doze anos.
A diferenciação com o homicídio reside no elemento subjetivo do agente. No
homicídio, o agente quer a morte da vítima. Na lesão corporal seguida de morte, ele quer
causar umalesão (é o seu dolo), mas, por culpa, acaba matando a vítima.
Pode-se exemplificar com o agente que, querendo dar uma paulada na vítima
para agredi-la, para apenas causar uma lesão, acaba derrubando-a e ela bate a cabeça
na aresta de um móvel e, com isso, sofre traumatismo craniano. O sujeito passivo morre
em decorrência da lesão. Neste caso, o crime será de lesão corporal seguida de morte.
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3.5. LESÃO CORPORALPRIVILEGIADA
Configura-se quando o agente comete o crime por motivo de relevante valor
social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida à injusta
provocação da vítima. A previsão está no artigo 129, 8 4º, do CP:
Diminuição de pena:
8 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de
relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta
emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o
juiz pode reduzir a pena de um sexto a um terço.
Substituição da pena:
8 5º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir
a pena de detenção pela de multa, de duzentos mil réis a dois
contosde réis:
| - Se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
Il - se as lesões são recíprocas.
3.6. LESÃO CORPORAL CULPOSA
8 6º Se a lesão é culposa:
Pena - detenção, de dois meses a um ano.
Convém ressaltar que a ação penal no crime de lesão corporal culposa é pública
condicionada à representação da vítima, conforme preceitua o art.88 da lei 9.099/95.
Cabe a lavratura de TCO (Termo Circunstanciado de Ocorrência), caso a vítima queira
representar contra o autor. Neste caso, o Policial Militar deverá preencher o Termo de
Manifestação do Ofendido.
3.7. LESÃO CORPORAL COM VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR.
Há também qualificadora para o caso de a lesão corporal ser praticada em
contexto de violência doméstica e familiar, em que a pena será de três meses a três
anos de detenção,se a lesão for leve, nos termos do parágrafo nono do artigo 129:
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Artigo 129, 8 9º, CP: Se a lesão for praticada contra
ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou
com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda,
prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade:
Pena - detenção, de 3 (três) mesesa 3 (três) anos.
Deve-se atentar que o caso é de violência doméstica e familiar, o que se
configura se a vítima for ascendente, descendente, irmã, cônjuge ou companheira do
agente. Configura-se, ainda, se o agente se valer das relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade do ofendido. Registre-se, por relevante, que o ofendido
pode ser homem ou mulher, não se limitando ao último gênero mencionado, de forma
diversa do que prevê a Lei Maria da Penha.
São situações em que caracterizam a lesão corporal no ambiente doméstico e
familiar:
º a) contra ascendente, descendente ou irmão: nessa situação é dispensável
a coabitação entre autore vítima.
o b) Contra cônjuge ou companheiro: prevalece incidir a incidência do 89º
mesmona hipótese de separação de fato.
o c) Contra pessoa com quem conviva ou tenha convivido: ainda que não
tenha relação de parentesco, se convive ou tenha convivido, haverá a incidência do
89º.
o d) Prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de
hospitalidade.
De acordo com Nucci, a expressão “com quem conviva ou tenha convivido o
agente” deve ser analisada em conjunto com as situações anteriores apresentadas,
exigindo que o agente e vítima convivam ou tenham convivido.
Observaçõesfinais:
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Obs.1: para caracterizar as qualificadoras do 889º, 10 e 11, a vítima não precisa
ser necessariamente mulher.
Obs.2: em sendo a vítima mulher, além do código penal, terá na sua proteção a
incidência da Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha).
Obs.3: Mesmo quando homem, se a vítima for vulnerável, é possível aplicar as
medidas protetivas da Lei Maria da Penha.
Se a lesão corporal for grave, gravíssima ou seguida de morte e estiverem
presentes as circunstâncias configuradoras da violência doméstica e familiar, previstas
no parágrafo nono, a pena será aumentada de um terço. Assim, será o caso de lesão
qualificada com causa de aumento de pena, nos termos do parágrafo décimo:
8 10. Nos casos previstos nos 88 1o a 30 deste artigo, se as
circunstâncias são as indicadas no 8 9o deste artigo, aumenta-
se a pena em 1/3 (um terço).
Há, ainda, a previsão de aumento de pena, ou seja, de crime majorado, se a
forma qualificada do parágrafo nono envolvervítima deficiente:
8 11. Na hipótese do $ 9º deste artigo, a pena será aumentada
de um terço se o crime for cometido contra pessoa portadora
de deficiência.
3.8. LESÃO CORPORAL FUNCIONAL
A Lei 13.142/2015 trouxe nova forma majorada do crime de lesão corporal,
referente à prática do crime contra agentes das Forças Armadas ou do sistema de
Segurança Pública, bem como a seu cônjuge, companheiro ou parente consanguíneo até
terceiro grau. Sua previsão está no parágrafo décimo segundo doartigo 129:
Causa de aumento de pena
8 12. Se a lesão for praticada contra autoridade ou agente
descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de
Segurança Pública, no exercício da função ou em decorrência
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dela, ou contra seu cônjuge, companheiro ou parente
consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa condição, a
pena é aumentada de um a dois terços.
Vale recordar que a hipótese é de proteção especial da função, sendo que o
delito praticado, seja contra o agente ou autoridade, seja contra sua família, deve ter
relação com a função pública ou com a condição pessoal para que a majorante incida.
4. DA PERICLITAÇÃO DA VIDA
Sem a menor pretensão de esgotar os crimes desse capitulo, neste tópico será
tratado forma breve sobre os crimes dos artigos 131, 132, concatenando com os artigos
268 e 330 do CP, bem como pontuais apontamentos a lei federal 13979/20, preceitos
legais que servirão de norte para o desempenho de um trabalho rotineiro junto à
sociedade no combate a epidemias, por exemplo a Covid-19.
A emergência sanitária desencadeada pela covid-19 em 2020 não está imune à
enérgica pretensão de aplicação do Direito Penal, especialmente no Brasil, em que há
uma tradição de utilização da ameaça da sanção penal como instrumento de persuasão
para a observância de políticas públicas.
Nos parágrafos a seguir, tem-se um breve panorama dos crimes relacionadas às
epidemias:
Perigo de contágio de moléstia grave
Art. 131 - Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia
grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o
contágio:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Iniciando pelos crimes de periclitação da vida e da saúde, a imputação ao artigo
131 do Código Penal está condicionada à comprovação do dolo específico, isto é, não
basta o agente ter ciência de que foi infectado, devendo, adicionalmente, ter a intenção de
transmitir a doença grave. Na hipótese de, por exemplo, a pessoa contaminada pela
covid-19, intentando transmitir a doença a outrem, provocar um contato físico capaz de
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provocar a contaminação, aparentemente poderá ser enquadrada no mencionado tipo
penal, que prevê pena de reclusão de um a quatro anos e multa.
O tipo penal demanda que a moléstia transmitida seja grave. Por essa razão,
caso o vírus, do ponto de vista médico, caracterize-se apenas por sua fácil e difusa
transmissibilidade, mas não tenha um índice de letalidade elevado, a justificar a aplicação
do tipo penal, esse poderá ser afastado no caso em concreto, a menos que a pessoa para
a qual se tenha intenção de transmitir a doença faça parte do grupo derisco, hipótese em
que a gravidade da patologia passa a ser discutível.
Os profissionais da segurança pública deverão ficar atentos a tal crime, devendo
de forma direta conduzir o infrator ao órgão competente para que assim seja feito o
procedimento cabível contra o mesmo, sanando assim, o crime com a maior eficácia
possível, a fim de evitar um maior dano a sociedade.
Perigo para a vida ou saúde de outrem
Art. 132 - Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e
iminente:
Pena - detenção, de três meses a um ano, se o fato não
constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de um sexto a um terço
se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre
do transporte de pessoas para a prestação de serviços em
estabelecimentos de qualquer natureza, em desacordo com as
normaslegais.
A conduta de expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente é
aplicável somente se o fato não constitui crime mais grave.
Em que pese à abrangência da conduta narrada no tipo penal, há interessantes
limitantes para a sua aplicação. O tipo exige que o perigo seja direto, isto é,
imediatamente vinculado à vítima, e, além disso, iminente (próximo).
Não basta, portanto, que o perigo seja iminente e indireto ou direto e não
iminente. Além disso, deve existir um dolo de expor o outro a esse perigo, ainda que em
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sua modalidade eventual (assumir o risco de expor ao perigo). O perigo sempre deve ser
concreto, devendo ser comprovado que o comportamento do agente efetivamente
desencadeou a exposição ao perigo direto e iminente. É importante que esse perigo não
expresse um risco permitido.
É por essa razão, inclusive, que não responde por esse crime, pessoa que
exponha outrem ao contágio de uma gripe ou demais patologias de transmissão
corriqueira e com pouca gravidade, por exemplo.
No que diz respeito à covid-19, com a promulgação da Lei nº 13.979/20, fica
evidente a carência de permissividade do risco, posto que caracterizado como
"emergência de saúde pública de importância internacional”.
Suponhamos que a um médico ou enfermeiro tenham sido negados
equipamentos de proteção individual (álcool em gel 70%, máscaras cirúrgicas, luvas
descartáveis, vestimentas apropriadas, óculos/proteção facial, etc.) para atendimento das
pessoas contagiadas pela covid-19. Nessas hipóteses, a administração do hospital
assume, em tese, o risco de expor tais profissionais a perigo direto e, ainda mais que
iminente, um perigo atual.
4.1. Infração de Medida Sanitária:
Diante das determinações elencadas nos Decretos Estaduais para o
enfrentamento da Covid-19, no ano de 2020, impende analisar o tipo penal previsto no
artigo 268 do Código Penal, já mencionado linhas acima, para entender o seu alcance.
Este se encontra inserido no Capítulo referente aos crimes contra a saúde pública e assim
disciplina a infração de medida sanitária preventiva:
Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a
impedir introdução ou propagação de doença contagiosa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
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Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o
agente é funcionário da saúde pública ou exerce a profissão de
médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
Observa-se que a conduta punível é infringir (violar) determinação do poder
público, destinada a impedir a introdução ou propagação de doença contagiosa. A
referência à violação de “determinação do poder público” indica tratar-se de norma penal
em branco, dependendo de norma regulamentadora, a qual pode ser exarada pela União,
Estados, Distrito Federal ou Municípios, podendo decorrer de lei ou de ato administrativo,
tais como decreto, regulamento ou portaria.
Infringir, segundo Luiz Régis Prado (Curso de Direito Penal Brasileiro, 2020)
“significa quebrantar, transgredir, violar, desobedecer. As determinações do poder público
são leis, decretos, regulamentos, portarias, emanados de autoridade competente, visando
impedir a introdução ou propagação de doença contagiosa, suscetível de transmitir-se por
contato mediato ou imediato”.
In casu, diante da pandemia do coronavírus, temos como normas
complementadoras a Lei nº 13.979/20 e suas regulamentações, como os Decretos
Estaduais goianos n. 9.633, 9.634, 9.637 e 9.638.
A título de exemplo, praticará o crime de infração de medida sanitária preventiva o
agente que, mesmo após receber determinação para que realize compulsoriamente
exame médico, deixar de realizá-lo (artigo 3º, inciso Ill, alínea “a”, da Lei 13.979/20).
De igual modo, se o agente isolado por determinação vier a fugir, também
praticará o crime previsto no artigo 268 do Código Penal (artigo 3º, inciso |, da Lei
13.979/20).
Saliente-se que a expressão “determinação” revela tratar-se de uma ordem de
cunho imperativo ou obrigatório. Nesse sentido, Cleber Masson (Direito Penal,2020)
assenta que a “expressão 'determinação do poder público' nada mais é do que a ordem
emanada das autoridades responsáveis pela realização das finalidades do Estado
(exemplos:leis, decretos, portarias, resoluções, etc.), voltada a preservar a saúde pública.
Esta ordem, evidentemente, dever ser de cunho imperativo ou obrigatório excluindo-se
meros conselhos ou advertências”. No mesmo sentido, Luiz Régis Prado para quem “as
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determinações dever ser de cunho obrigatório, não podendo ser apenas conselhos ou
advertências”.
Trata-se de crime formal, de consumação antecipada ou de resultado cortado,
consumando-se com a violação da determinação do poder público, pouco importando
venha a doença contagiosa a ser efetivamente introduzida ou propagada. A tentativa é
admissível e ocorrerá quando o agente descumprir a determinação do poder público,
iniciando os atos executórios, e for impedido de continuar por circunstâncias alheias à sua
vontade. Por exemplo: pessoa que está impedida de sair de casa em virtude de
isolamento domiciliar, mastenta sair e é flagrada pela polícia.
Constitui-se, também, crime de perigo comum ou abstrato, sendo que a simples
probabilidade de contágio causado à sociedade em virtude do descumprimento de
determinação do poder público já é suficiente para a caracterização do delito, ainda que
desse descumprimento não derive resultado concreto, posto que este perigo já foi
considerado pela lei de maneira presumida (presunção absoluta).
Qualquer pessoa pode figurar como sujeito ativo do crime (crime comum), mas
cabe a ressalva de que a causa de aumento de pena, prevista no parágrafo único do
artigo 268 do Código Penal, só se aplica quando o agente for funcionário da saúde
pública ou exercer a profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro, tratando-
se, nesse caso, de crime próprio.
Importa mencionar cuidar-se de infração de menor potencial ofensivo, cuja
competência é dos juizados especiais criminais, aplicando-se o rito da Lei nº 9.099/95. No
caso em tela, o policial militar, deve individualizar o infrator, e lavrar o procedimento legal
para o crime, que no caso será o TCO,e assim sanar o crime e eventual risco de contagio
a sociedade e também a equipe de policiais que estão de serviço e como sempre buscar
combater a Covid-19, ou outra moléstia que possa surgir.
Após a análise de tais crimes, percebe-se o quão desesperador é a violação
normativa, sendo lei federal, estadual ou municipal, e no momento em que a sociedade
se encontra sofrendo por um agente invisível, os policiais militares devem cumprir e
fazer a sociedade aceitar e cumprir as ordens legais, provenientes dos órgãos públicos
em absoluto para evitar desavenças referentes à Saúde Pública e seu infringimento,
com o fim de garantir o bem e a saúde de toda a coletividade.
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Desobediência:
Art. 330 - Desobedecer à ordem legal de funcionário público:
Pena - detenção, de quinze dias a seis meses, e multa.
Por derradeiro, cabe mencionar o crime de desobediência, tipificado no artigo
330, do Código Penal, nas hipóteses de não observância das determinações do poder
público destinadas a impedir introdução ou propagação do COVID-19, ou de outras
moléstias graves, o que subsistirá nas hipóteses de não configuração de crimes mais
graves.
5. Sequestro e cárcere privado
Art. 148 - Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro
ou cárcere privado:
Pena - reclusão, de um a três anos.
5.1. Introdução
No caput do 148 do Código Penal estão descritas as condutas que tipificam o
sequestro e o cárcere privado. Ao narrá-las o legislador assim dispôs:“privar alguém, de
sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado”.
Há uma diferença entre ambos os crimes, pois no sequestro a vítima tem maior
liberdade de locomoção (vítima presa numa fazenda). Já no cárcere privado, a vítima vê-
se submetida a uma privação de liberdade num recinto fechado, como por exemplo:
dentro de um quarto ou armário.
O crime de cárcere privado pode se dar de duas formas, por meio da detenção e
sequestro. A detenção ocorre quando a violência exercida sobre a pessoa consiste no
impedimento ou obstáculo de sair de um certo determinado lugar; e já no sequestro
compreende-se o fato de conservar a pessoa em lugar solitário e ignorado, de modo que
difícil seria a vítima obter socorro de outro.
Art. 148 — Privar alguém de sualiberdade,
mediante sequestro ou cárcere privado:
Pena — reclusão, de um a três anos.
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8 1º —- A pena é dereclusão, de dois a cinco anos:
5.2. DoS$1º,incisol
|- se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge
ou companheiro do agente ou maior de 60 (sessenta) anos;
Na antiga redação deste inciso não havia proteção penal relacionado aos
companheiros, com a nova redação do artigo atual foi incluído essa proteção. E a pena é
de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, conforme estabelecido.
Houve uma necessidade de igualdade entre “conjugue e companheiro”,
para que no sentido apontado ensejasse punição mais severa ao réu (ou à ré), vedada
em razão da ausência de expressa cominaçãolegal.
5.3. DoS$1º, inciso ll
Il — se o crime é praticado mediante internação da vítima em
casa de saúde ou hospital;
Quando o crime for praticado mediante internação da vítima em casa de saúde
ou hospital. É preciso que tal internação ocorra com o dissentimento do indivíduo, para
que a internação configure o delito em estudo. É, do mesmo modo, exigido que a
internação não decorra de permissão legal ou não seja tolerada pelo meio social — se
houverjusta causa para a privação da liberdade física, não há que se falar no crime em
tela, ou seja, “a razão da maior punibilidade reside no emprego de meio fraudulento
5.4. Dogs 1º, inciso II
ll — se a privação da liberdade dura mais de 15 (quinze)
dias;
É irrelevante o tempo de duração da restrição de liberdade para configurar o
delito, mas se ultrapassar o tempo de 15 dias, o crime passa a ser qualificado.
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5.5. Do $ 1º, inciso IV + Lei nº 11.106/2005
IV-— se o crime é praticado contra menor de 18 (dezoito)
anos;
A nova lei acrescentou ao 8 1º o inc. IV com a seguinte redação: “se o crime é
praticado contra menor de 18 (dezoito) anos”.
A modificação é bem vinda, pois, com ela, fica estabelecida a harmonia no
sistema de proteção ao menor de 18 (dezoito) anos, em coerência com o disposto na
segundafigura do 8 1º do art. 159 do Código Penal.
Considerando que o crime de sequestro ou cárcere privado é de natureza
permanente, em algumas situações a privação da liberdade poderá iniciar quando a
vítima for menor de dezoito anos e terminar após ela ter completado tal idade. Ainda será
possível, em outra situação, que a privação da liberdade tenha se iniciado antes da nova
lei e perdurado para além de seu ingresso no ordenamento.
A tentadora compreensão inversa levaria à conclusão no seguinte sentido: se a
privação da liberdade iniciar quando a vítima ainda contar com menos de 18 (dezoito)
anos, porém, se estender para além da data em que atingida tal idade, a qualificadora
estará afastada.
Se verificada a hipótese exatamente como acima citada; com o prolongamento
da privação da liberdade o réu estaria a se beneficiar, deixando de incidir em pena de
dois a cinco anos, acabando por ser “agraciado” com a adequação típica de sua conduta
no preceito primário, com pena cominada entre um e três anos, de reclusão.
Aqui, a prolongação do sofrimento da vítima seria benéfica ao réu, o que não se
pode admitir eticamente, tampouco à luz do disposto no art. 4º do Código Penal,
conforme anotado.
Na outra situação indicada, onde a privação da liberdade do menor de dezoito
anos teve início antes da lei e se alongou para depois de sua vigência, a natureza
permanente do crime impede, por absoluto, o não reconhecimento da qualificadora,
hipótese claramente incogitável.
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5.6. DoS 1º, inc. V: crime praticado para fins libidinosos
V- seo crime é praticado com finslibidinosos.
A última alteração feita no art. 148 decorre do inciso V, que também foi acrescido
ao 8 1º. Pela nova previsão, se o sequestro ou o cárcere privado for praticado para fins
libidinosos o crime também será qualificado e contará, obviamente, com pena mais
elevada (reclusão, de dois a cinco anos).
Atos libidinosos são aqueles praticados com a finalidade de satisfazer a lascívia,
o prazer sexual.
Se o crime for cometido para o fim de manter relação sexual (cópula vagínica) ou
para a prática de qualquer ato libidinoso diverso da conjunção carnal (coito anal ou
felação, por exemplo), a forma qualificada estará presente.
5.7. Do$2º
$ 2º- Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da
natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena — reclusão, de dois a oito anos.
Qualifica-se o sequestro e o cárcere privado pelo resultado no $ 2º do artigo 148,
de modo que, em virtude dos maus-tratos ou da natureza da detenção, o agente
provoque à vítima lesões corporais ou a sua morte, haverá concurso material entre o
sequestro qualificado e o resultado atingido. No caso de vias de fato, estas serão
absorvidas; da mesma forma, em virtude da natureza da detenção, a qual possa trazer
sofrimento físico ou moral à vítima, haverá a incidência da qualificadora.
5.8 Sujeito ativo
Como se trata de crime comum, pode ser qualquer pessoa, não requerendo
nenhuma qualidade ou condição particular; se, no entanto, apresentar a qualidade de
funcionário público, e praticar o fato no exercício de suas funções, poderá configurar-se o
crime de abuso de autoridade (Lei n. 4.898/65). Igualmente e recebe e/ou recolher
COMANDO DA ACADEMIA DE POLICIA MILITAR
Núcleo de Ensino a Distância e Tecnologia da Informação do CAPM
Rua 252 nº 21 St. Leste Universitário CEP 74.603-240 Goiânia-GO o
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alguém à prisão, sem ordem escrita da autoridade competente, também incorre em crime
de abuso de autoridade.
5.9 Sujeito passivo
Qualquer pessoa
5.10 Consumação e tentativa
Consumação- consuma-se no instante em que a vítima se vê privada de sua
liberdade de ir e vir. Assim, não há que se falar em consumação apenas quando a vítima
ficar um tempo razoável em poder do agente. Como dito alhures, o dolo é específico:
privar a liberdade de pessoa humana. Ou seja: privada a liberdade, mediante sequestro
ou cárcere privado, nem que seja por cinco minutos, restará consumadoo delito.
Tentativa- como crime material admite-se a tentativa, que se verifica com a
pratica de atos de execução, sem chegar à restrição da liberdade da vítima, como, por
exemplo, quando o sujeito ativo está encerrando vítima em um deposito é surpreendido
e impedido de consumarseu intento. Tratando-se, porém, da forma omissiva, a tentativa
é de difícil ocorrência.
5.11 Pena e ação penal
A pena cominada é de

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