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Implicações da pandemia na escolha de recursos, na documentação e no desenvolvimento profissional do professor de matemática Implications of the pandemic on the choice of resources, documentation and professional development of the mathematics teacher Vanderson Sizino Menezes Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP vandersmenezes@hotmail.com https://orcid.org/0000-0002-1120-3183 Sonia Barbosa Camargo Igliori Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP sigliori@pucsp.br https://orcid.org/0000-0002-6354-3032 Valdete Aparecida do Amaral Miné Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP valdetemine@yahoo.com.br https://orcid.org/0000-0003-2087-1017 Eixo 17: Identidade docente e desenvolvimento profissional de professores que ensinam matemática Resumo Este artigo apresenta dados de uma investigação realizada com dois de professores de matemática dos Anos Finais do Ensino Fundamental que lecionaram no Ensino Remoto Emergencial e retornaram às aulas presenciais. Trata-se de resultados parciais de uma pesquisa mais ampla, cujo objetivo é avaliar alterações efetivadas nas práticas profissionais desses professores, relativamente à implementação de recursos e seus esquemas de utilização, ou seja, a suas documentações, nos períodos remotos e presenciais. Os constructos teóricos que apoiam a investigação, recurso, esquema de utilização e documentação se inserem na teoria da Abordagem Documental do Didático, e os procedimentos metodológicos utilizados são aqueles da investigação reflexiva, adequada às investigações que se apoiam nesse referencial teórico. Os dados colhidos indicaram como se deu a incorporação de novos recursos digitais ao conjunto de recursos dos professores, além de novas estratégias de ensino proporcionadas pelo distanciamento físico. Eles permitiram ainda observar que, apesar das dificuldades iniciais, os professores mantiveram uma avaliação positiva do uso dessa modalidade de recursos, e incorporação de novos de utilização, criando por eles expectativas de não só manter os recursos incorporados, mas ampliar o sistema de recursos, constatando com a prática remota que eles favorecem a aprendizagem. Palavras-chave: Ensino Remoto Emergencial. Professores de Matemática. Recursos. Documentação Abstract mailto:vandersmenezes@hotmail.com https://orcid.org/0000-0002-1120-3183 mailto:sigliori@pucsp.br https://orcid.org/0000-0002-6354-3032 mailto:valdetemine@yahoo.com.br https://orcid.org/0000-0003-2087-1017 This article presents data from an investigation carried out with two mathematics teachers from the Final Years of Elementary School who taught in Emergency Remote Teaching and returned to face-to-face classes. These are partial results of a broader research whose objective is to evaluate changes carried out in the professional practices of these teachers, regarding the implementation of resources and their use schemes, that is, their documentation, in remote and on-site periods. The theoretical constructs that support the investigation, resource, use scheme and documentation fall within the theory of the Documentary Approach of Didactics, and the methodological procedures used are those of reflective investigation, suitable for investigations based on this theoretical framework. The data collected indicated how the incorporation of new digital resources into the teachers' set of resources took place, as well as new teaching strategies provided by physical distancing. They also made it possible to observe that, despite the initial difficulties, the teachers maintained a positive evaluation of the use of this modality of resources, and the incorporation of new ones of use, creating expectations for them not only to keep the resources incorporated, but to expand the system of resources, noting with remote practice that they favor learning. Keywords: Emergency Remote Teaching. Mathematics Teachers. Resources. Documentation Introdução As grandes mudanças que o COVID-19 trouxe ao mundo, impactaram fortemente a educação. A pandemia da COVID-19 parou o mundo e várias medidas foram adotadas para interromper o contágio, uma delas foi o isolamento social, com restrições e fechamento provisório de escolas e universidades, no Brasil, em conformidade a Lei nº 13.979, de 06 de fevereiro de 2020 e Portaria MEC nº 343, de 17 março de 2020. Por esse motivo, foram adotadas diferentes modalidades de ensino, para que o aluno não fosse privado de ter acesso à aprendizagem, como forma de uma educação emergencial. A modalidade de Ensino Remoto Emergencial ocupou um espaço de destaque no território nacional, com a utilização das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação e, em caráter de urgência, professores e estudantes tiveram que se adaptar abruptamente a elas. Com isso, a tecnologia digital se tornou um dos principais recursos para manter o processo educacional, além da adoção de materiais impressos que podiam ser retirados por alunos/responsáveis nas escolas. Nesse contexto da pandemia da COVID-19, atuando no Ensino Remoto Emergencial, os professores se depararam com recursos tecnológicos, como por exemplo as plataformas de reuniões remotas, sem a realização prévia de um treinamento básico, atestando desconhecer as potencialidades desses recursos disponíveis para o planejamento e desenvolvimento de suas respectivas aulas. Assim, verificam a necessidade de se reinventarem e consequentemente realizarem modificações em seu sistema de recursos didáticos. Diante desse contexto, o professor fez alterações e adaptações em seus recursos, visando atender às condições impostas nesse período de pandemia. Por meio desse processo de reforma em sua documentação, o professor estrutura novos documentos necessários para realizar suas aulas, ou seja, esse processo impulsiona o desenvolvimento profissional desse professor. Essa problemática das alterações dos hábitos, recursos e documentos de forma obrigatória, nos leva a buscar novas informações sobre o período, com vistas a compreender a prática docente, uma possível nova condição para ela com implicações nos recursos e esquemas de utilização, em consequência de documentação. Esse artigo é resultante de uma pesquisa com a intenção enunciada, e tem por objetivo responder ao seguinte questionamento: Como, a necessidade de utilizar novos recursos nas aulas, de modo não intencional, impactou a prática docente dos professores? Referencial Teórico Abordagem Documental do Didático – ADD O professor de matemática no decorrer da atividade de planejamento de sua aula, em tempos de pandemia ou não, tem à sua disposição uma gama de possibilidades de escolhas de recursos a serem utilizados, como por exemplo as atividades encontradas nos livros didáticos, os recursos advindos das realidades dos alunos, o espaço escolar e as ferramentas digitais. Recursos como esses estão no centro de interesse da Abordagem Documental do Didático – ADD – (Gueudet; Trouche, 2008, 2010; Trouche; Gueudet; Pepin, 2018; Trouche; Gueudet; Pepin; et al. 2020). A abordagem documental do didático é uma teoria da didática da matemática francesa, tendo como seu principal objetivo compreender o desenvolvimento profissional dos professores por meio do estudo de suas interações com os recursos, seus esquemas de utilização e projetos em/para seu ensino (Trouche, Gueudet, Pepin, et al. 2020). Gueudet, Pepin & Trouche (2012) elencam alguns “elementos” que constituem a teoria e os processos que estão atrelados aos mesmos. Para uma melhor compreensão são definidos os seguintes constructos: recursos curriculares, documentos, esquemas, gênese, instrumentação e instrumentalização. Os recursos curriculares são todos os recursos (ex. livros didáticos digitais/tradicionais, recursos interativos digitais) desenvolvidos e usados por professores e alunos em suas interações com a matemática,dentro e fora da sala de aula. Integram-se a eles os recursos curriculares digitais que Pepin e Gueudet (2018) distinguem das TICE (Tecnologias de Informação e Comunicação para o Ensino). Esses recursos curriculares podem ser organizados em recursos curriculares materiais (livros didáticos, recursos digitais, instrumentos de manipulação ou calculadoras), recursos sociais (uma conversa na web/fórum) e recursos cognitivos (quadros/ferramentas teóricos usados para trabalhar com professores). À medida que os professores planejam suas aulas, torna-se necessária a escolha de recursos com objetivo de ensinar um conteúdo específico. Nesse momento ele tem como possiblidade optar por um recurso utilizado anteriormente, ou se preferir, pode explorar um novo recurso baseado na experiência que tem com o conteúdo do saber a ser ensinado. Caso o professor escolha novos recursos que estão de acordo com os seus objetivos, ele está se apropriando de recursos que passam a fazer parte do seu conjunto de recursos. O conjunto dos recursos que ele dispõe, a forma como organiza e os interliga constituem o seu sistema de recursos. Gueudet e Trouche (2009) pontuam que o sistema de recursos do professor não é estático, mas sim, dinâmico porque está em constante movimento podendo ser retirados ou inseridos novos recursos e reorganizados, a depender do objetivo didático do professor. A Abordagem Documental do Didático conceitua e distingue o recurso de um documento personalizando a dinâmica da construção do documento como elemento da atividade profissional do professor. O documento na ADD está na perspectiva em que ocorre a combinação de um recurso disponível para o professor e os esquemas que esse docente desenvolve ou constrói para subsidiar sua prática. Gueudet e Trouche (2011) simbolizam o processo de produção de um documento pela estrutura: documento = recurso + esquemas de utilização. Os esquemas podem ser denominados quando são estabelecidas regularidades na ação do professor referente ao uso do recurso para uma mesma situação de aula em contextos variados. São os esquemas que orientam o trabalho sobre os recursos mobilizados para um dado objetivo de ensino (GUEUDET; TROUCHE, 2008, p. 11). Escolhemos, para esta investigação, focar a atenção nos recursos e documentação que o professor selecionou, utilizou, e/ou realizou adaptações para ensinar matemática no período de pandemia da COVID-19, em um sistema de Ensino Remoto Emergencial. Nossa escolha está pautada no que Gueudet e Trouche (2010) descrevem ao mencionar que as pesquisas acerca da evolução dos recursos do professor estão diretamente relacionadas à evolução do seu desenvolvimento profissional, pois, a atividade do professor é mediada, dentre outras coisas, pelos recursos, seja no planejamento como também na prática em sala de aula. Figura 1: Uma representação de uma gênese documental Fonte: Trouche; Gueudet; Pepin; et al. 2020 Tendo se baseado na abordagem instrumental, a ADD estabelece a diferença entre os recursos que o professor de matemática utiliza para explorar uma determinada classe de situações, dos recursos que ele elabora, seleciona ou transforma, caracterizando assim o processo de gênese documental que está ligada a dois movimentos que resultam da AI: a instrumentação e a instrumentalização. Na instrumentação, as características do(s) recurso(s) influencia(m) a prática dos professores (o processo de instrumentação); enquanto que a partir de suas experiências, hábitos e conhecimentos os professores orientam-se para as escolhas de apropriação e os processos de transformação dos diferentes recursos (o processo de instrumentalização), conforme ilustrado na figura 1. Essas interações entre professores e recursos, destacadas pela abordagem documental do didático, são determinantes para o desenvolvimento profissional dos professores. Durante o período de pandemia, causada pelo coronavírus (COVID-19), os professores se depararam com a necessidade de reformulação de seus recursos didáticos. Os professores tiveram que fazer escolhas e adaptações dos mesmos para seu ambiente escolar, o que de certa forma os fez perceber que os recursos que utilizam em suas aulas podem favorecer ou não a aprendizagem de seus alunos. Para a montagem desses recursos a serem trabalhados com os alunos, o professor ou procura exercícios, ou lança mão de um livro eletrônico flexível, tendo então a Um(a) professor(a) Um conjunto de recursos Instrumentalização Instrumentação Gênese (orientada pelos objetivos didáticos do professor, da qual emerge, através das fases sucessivas de preparação, concepção e implementação) Um documento = os recursos selecionados e recombinados + seus usos + os conhecimentos que guiam seus usos P e rc u rs o t e m p o ra l desenvolver novas competências e conhecimentos. Eles precisaram desenvolver suas capacidades de design (Pepin, Gueudet e Trouche, 2017). Metodologia de Pesquisa Para esclarecer e compreender o sistema de recursos explorado e construído pelo(a) professor(a) no decorrer do Ensino Remoto Emergencial no período pandêmico da COVID-19, optamos pela metodologia de pesquisa a Investigação Reflexiva, proposta por Gueudet, Trouche e Pepin (2012, 2018). A realização de processos de pesquisas, sobre a atividade dos professores, adotando como referencial teórico a ADD exige um acompanhamento de forma sistemática em diferentes espaços por um tempo de curta, média ou longa duração. Com essa perspectiva, os autores citam quatro princípios que sintetizam essa requisição: - Um princípio de acompanhamento em longo prazo. Gêneses são processos em curso e esquemas desenvolvem-se ao curso de longos períodos [...]. Isso indica a necessidade de observação de longo prazo, dentro de restrições práticas. - Um princípio de acompanhamento dentro e fora da classe. A sala de aula é um lugar importante onde o ensino elaborado é implementado [...]. No entanto, uma parte importante do trabalho dos professores ocorre além da presença dos alunos, ou seja, na escola, em casa, nos programas de desenvolvimento de professores etc. Prestamos atenção a todos esses locais diferentes. - Um princípio de ampla coleta dos recursos materiais utilizados e produzidos no trabalho de documentação, ao longo do acompanhamento. - Um princípio de acompanhamento reflexivo do trabalho de documentação. Envolvemos intimamente o professor na coleta de dados, com o objetivo pragmático de ampla coleta e acompanhamento in-class e out-of-class previamente discutido. O envolvimento ativo do professor gera uma postura reflexiva. (GUEUDET; TROUCHE, 2012, p. 27-28, traduzido por Ignácio, 2019, p. 65). Os procedimentos metodológicos foram organizados em fases. Primeiramente, os sujeitos da pesquisa foram convidados a responder um questionário acerca de sua atividade docente durante a pandemia, com ênfase em questões direcionadas aos recursos manipulados durante a pandemia. Em seguida foram convidados a disponibilizar por e- mail materiais de suas aulas com a utilização dos novos recursos mencionados na entrevista. O material encaminhado foi examinado, o qual contemplava arquivos em pdf das atividades propostas aos alunos, planos de aulas elaborados, além de applets do GeoGebra explorados nas aulas. Descrição e Análise de Dados Ao selecionar os participantes desta investigação, partiu-se do pressuposto de que os professores deveriam lecionar matemática para as turmas dos Anos Finais do Ensino Fundamental, além da exigência de terem atuados nesse mesmo nível de ensino durante o período de pandemia da COVID-19. Com a intenção de preservar as identidades dos participantes desta pesquisa, adotou-se como nomes fictícios para os professores entrevistados: Teodoro e Pedro. Teodoro tem 11 anos de experiência em sala de aula, comuma carga horária de 49 horas/aula por semana, ministrando aulas de matemática para turmas do 8º Ano do Ensino Fundamental, além das turmas de 1º, 2º e 3º Ano do Ensino Médio. Em sua prática docente, antes do período pandêmico, ele explorava de forma exclusiva a calculadora como recurso tecnológico em suas aulas, os livros didáticos e programa de conteúdos da disciplina como recursos materiais na preparação de suas aulas. Com o advento da pandemia, Teodoro lançou mão de explorar outros recursos para preparar, ministrar e utilizar em suas aulas. Dentre os recursos tecnológicos citados por Teodoro, está presente o Google Suite, constituído por um conjunto de produtos do Google (formulários, Google Meet, documentos, planilhas, Google Classroom, entre outros), os quais viabilizaram a comunicação remota, síncrona e assíncrona, com seus alunos. Recorreu também a jogos de matemática e ao software geométrico GeoGebra. Para preparar as suas aulas, Teodoro utilizou como estratégia a elaboração de resumos e vídeo-aulas com instruções acerca do saber matemático a ser estudado. Relatou ainda que com o retorno das aulas presenciais, os novos recursos que passaram a fazer parte de sua documentação, não estão sendo utilizados em suas aulas devido ao déficit da estrutura tecnológica da escola que trabalha. Ela não tem equipamentos de informática disponíveis para os professores utilizarem em suas respectivas salas de aula. Por fim, Teodoro descreve o período de aulas remotas como desafiador, ele diz: “Foi desafiador, pois tivemos que fazer da nossa casa um ambiente de trabalho e aprender a dinâmica das aulas remotas, sem quase nenhum preparo prévio.” Analisando o material disponibilizado por Teodoro, constata-se um esquema de utilização do GeoGebra nos planos de aula e nos vídeos-aulas do Youtube recomendados para os alunos. Esses esquemas de utilização dos recursos se apresentam na elaboração de uma atividade para a introdução do cálculo da área do trapézio, 𝐴 = (𝐵+𝑏).ℎ 2 , realizada com alunos do 8º Ano do Ensino Fundamental (faixa etária 13 – 14 anos). Figura 2: Imagens da Animação para área do trapézio O professor Teodoro construiu um applet do GeoGebra, Figura 2, utilizou a plataforma Google Meet e um arquivo em PDF. O applet do GeoGebra permitiu aos alunos visualizarem uma animação que realiza uma rotação de 180° em uma cópia do trapézio ABCD, formando um paralelogramo ao posicionar essa cópia ao lado do trapézio inicial. Após a visualização da animação é solicitado aos alunos que façam suas observações e apresentem uma “fórmula” para calcular a área do trapézio. O professor gerencia uma discussão realizada pelos alunos, organizando as informações na tela do Google Meet com a ferramenta Point Fix que permite escrever na tela congelada. Após as ações de formulação e validação das fórmulas apresentadas pelos alunos é realizada a institucionalização da área do trapézio com a intervenção do professor, conforme a Figura 3. Figura 3: Institucionalização da área do trapézio. Dessa forma, o professor Teodoro desenvolveu um documento para introdução da área do trapézio. No desenvolvimento desse documento está articulado um processo de instrumentação (antes o professor utilizava o quadro branco, piloto e livro didático) e um processo de instrumentalização com o arranjo planejado dos recursos GeoGebra, arquivo pdf, Point Fix e Google Meet que permitiram a visualização da animação, discussão, validação e institucionalização da área do trapézio. Como invariantes operatórios presentes no esquema desse documento, pode-se constatar a argumentação da fórmula da área a partir da animação com o giro de 180° e posicionamento dos trapézios lado a lado formando um paralelogramo, cuja área os alunos já possuíam conhecimento de como calcular. Didaticamente podemos mencionar o fato de as formulações dos alunos serem incentivadas pelas inúmeras visualizações que eles realizam na animação do applet. O segundo sujeito da pesquisa, o professor Pedro, tem 7 anos de experiência ministrando aulas de matemática para as turmas do 6º, 7º, 8º e 9º do Ensino Fundamental, com uma carga horária de 42 horas/aula por semana. Antes da pandemia, na preparação de suas aulas, ele raramente utilizava tecnologias como um recurso em sala de aula. Durante o período de suspensão das aulas presenciais, sua escola adotou, em momentos diferentes, duas plataformas para o ensino remoto. Primeiramente, utilizou a plataforma com o nome EDUCONECT (nome fictício), a qual recebeu várias críticas negativas do professor Pedro. Posteriormente, adotaram o Google Classroom, juntamente com formação de capacitação, com o objetivo de instrução da funcionalidade das ferramentas pertencentes a plataforma do Google Classroom. Nesse período, ele passou a utilizar como recurso tecnológico, para ministrar as suas aulas, o Google Jamboard, Google sala de aula, word, YouTube e documentos no formato pdf. No entanto, os novos recursos que passaram a fazer parte do conjunto de recursos deste professor, ficaram limitados a utilização ao período do Ensino Remoto Emergencial. O professor Pedro justifica tal situação ao currículo (programa de conteúdos da disciplina de matemática), ao cumprimento de cronogramas, burocracia pedagógica, falta de interesse dos alunos para o estudo. No geral, este professor considera que o período de aulas remotas “foi um período difícil, de pouco reconhecimento da sociedade e profissionais atuantes nas secretarias educacionais e política.” Nos materiais manuseados pelo professor Pedro no Ensino Remoto Emergencial, deparamos com uma proposta de exercícios que tem como objetivo estimular a mobilização dos elementos de Expressões Algébricas, constituídos pelos alunos em aulas anteriores. O plano de aula para essa atividade engloba a combinação organizada dos recursos Google Jamboard, Google Meet, celular/computador e Google Classroom. O professor Pedro elaborou uma atividade no Google Jamboard que permitiu a interação dos alunos, simulando uma experiência da sala de aula presencial, em que os alunos se dirigem ao quadro branco para validarem suas conjecturas acerca das atividades propostas. No Google Jamboard foram organizadas atividades, conforme Figura 4, para que os alunos realizassem no decorrer da aula online, perante a supervisão do professor. No início da aula, realizada no Google Meet, foi anunciado aos alunos a atividade que estava disponível no link compartilhado pelo professor. Além de disponibilizar o link da atividade, o professor Pedro organizou os alunos em duplas e informou que cada dupla realizaria os exercícios de uma das páginas do arquivo. Figura 4: Imagens do arquivo Google Jamboard elaborado pelo Professor Pedro Para supervisionar o andamento das atividades realizadas pelos alunos, o Google Jamboard possibilita ao professor acompanhar as interações que as duplas realizam em cada exercício no decorrer da aula. Caso o professor Pedro julgue necessário intervir para uma observação, ele utiliza a ferramenta de “Nota Adesiva”, lançando na tela um comentário em formato semelhante ao de um post-it. Após a conclusão das atividades, as duplas retornam ao ambiente do Google Meet, e o professor Pedro faz questionamentos para a turma acerca de cada um dos exercícios realizados, com o objetivo de oportunizar que todos os alunos experimentem as tarefas realizadas pelas demais duplas. Nesse ambiente, o professor Pedro construiu um documento para provocar os conhecimentos dos alunos sobre Expressões Algébricas conjecturados em aulas anteriores. Na construção desse documento observa-se o processo de instrumentação na relação do professor com os recursos do Google (Meet, Classroom e Jamboard) ao conhecê-los durante sua formação continuada e um processo de instrumentalizaçãocom a organização e planejamento da atividade docente para ministrar uma aula com exercícios que movimentem os conhecimentos dos alunos sobre Expressões Algébricas. Para os invariantes operatórios inerentes ao esquema desse documento, podemos citar a formulação de expressões algébricas a partir da observação de desenhos, figuras gráficas, contextos sociais da realidade e linguagem natural, além de generalizações obtidas por meio das variáveis e operações adotadas pelos alunos. Didaticamente, temos que após a resolução das questões, ocorre a proposta aos alunos para que suas respostas sejam confrontadas perante toda a turma, a fim de também socializar as diferentes expressões de um mesmo item para validá-las (ou não) coletivamente. Considerações Finais Os dados qualitativos, extraídos da investigação reflexiva e apoiados pelo referencial teórico nos permitiu avaliar a importância dos recursos, para a formação profissional dos professores. A seleção dos recursos a serem utilizados nas aulas remotas representou inicialmente um desafio excludente no momento de planejamento e execução das aulas. Em meio ao fato novo do Ensino Remoto Emergencial, os professores se viram diante da necessidade de uma formação continuada voltada para recursos que viabilizassem suas práticas docentes em ambientes de aulas remotas. Diante dessa situação, os sujeitos dessa pesquisa, buscaram, por meio da formação continuada, conhecer novos recursos que os auxiliassem a uma “aproximação”, tendo em vista o distanciamento físico relacionado aos seus alunos. Com a formação continuada, os entrevistados relataram depararem-se com novos recursos, entre esses, foram explorados como recursos didáticos pelos professores as ferramentas do Google Suite (Classroom, Meet, Jamboard, Formulários), assim como o Point Fix, arquivos do Word, em PDF, além de vídeos do Youtube. Por consequência dos novos recursos, os professores viram a necessidade de reformulação de suas aulas, e de acordo com suas expertises e experiências, construíram esquemas para utilização desses recursos que fomentassem o desenvolvimento de conjecturas e compreensão de conteúdos matemáticos. Os novos recursos combinados com os respectivos esquemas de utilização, constituem novas documentações, atreladas, principalmente, aos recursos tecnológicos para superar a dificuldade do distanciamento físico imposto pelo COVID-19. Esse período da pandemia ocorreu, de certa forma, como uma força motriz para que os professores realizassem uma reformulação em seu conjunto de recursos e esquemas de utilização e, encontrassem novas conjecturas para uma ressignificação de sua documentação que fomentasse sua prática docente. Entretanto, em função das condições tecnológicas das instituições, às quais os entrevistados trabalham, tais recursos estão sendo limitados a sua utilização somente ao período de aulas remotas. Assim sendo as experiências com os recursos tecnológicos e seus esquemas de uso não estão sendo mantidos e aprimorados com o retorno das aulas presenciais, o que reforçou a eles a importância do uso de recursos diversificados, principalmente os digitais. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Decreto nº 9.057/ 2017. Brasília, 2017. GUEUDET, G.; TROUCHE, L. Du travail documentaire des enseignants : genèses, collectifs, communautés. Éducation et didactique, v. 2, n. 3, p. 7–33, 2008. GUEUDET, G.; TROUCHE, L. Des ressources aux documents, travail du professeur et genèses documentaires. In G. Gueudet et L. Trouche (Dir.) Ressources vives: le travail documentaire des professeurs en mathématiques. Presses Universitaires de Rennes, Rennes, 2010, p. 57-74. GUEUDET, G.; PEPIN, B; TROUCHE, L. (Eds.). From Text to ‘Lived’ Resources: Mathematics Curriculum Materials and Teacher Development. New York: Springer. 2012. GUEUDET, G.; PEPIN, B.; TROUCHE, L. Documentational Approach to Didactics. In: Lerman S. (eds) Encyclopedia of Mathematics Education. Springer International Publishing AG. https://doi.org/10.1007978-3-319-77487-9_100011-1. 2018. GUEUDET, G.; PEPIN, B.; TROUCHE, L., et al. (2020). A abordagem documental do didático. DAD-Multilingual, 2020. hal-02664943v2 PERRENOUD, P. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
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