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2_Implicações da pandemia na escolha de recursos_documentação_desenvolvimento profissional_professor de matemática

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Implicações da pandemia na escolha de recursos, na documentação e 
no desenvolvimento profissional do professor de matemática 
 
Implications of the pandemic on the choice of resources, documentation and 
professional development of the mathematics teacher 
 
Vanderson Sizino Menezes 
Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP 
vandersmenezes@hotmail.com 
https://orcid.org/0000-0002-1120-3183 
 
Sonia Barbosa Camargo Igliori 
Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP 
sigliori@pucsp.br 
https://orcid.org/0000-0002-6354-3032 
 
 
Valdete Aparecida do Amaral Miné 
Pontifícia Universidade Católica – PUC-SP 
valdetemine@yahoo.com.br 
https://orcid.org/0000-0003-2087-1017 
 
 
Eixo 17: Identidade docente e desenvolvimento profissional de professores que 
ensinam matemática 
 
Resumo 
Este artigo apresenta dados de uma investigação realizada com dois de professores de matemática dos Anos 
Finais do Ensino Fundamental que lecionaram no Ensino Remoto Emergencial e retornaram às aulas 
presenciais. Trata-se de resultados parciais de uma pesquisa mais ampla, cujo objetivo é avaliar alterações 
efetivadas nas práticas profissionais desses professores, relativamente à implementação de recursos e seus 
esquemas de utilização, ou seja, a suas documentações, nos períodos remotos e presenciais. Os constructos 
teóricos que apoiam a investigação, recurso, esquema de utilização e documentação se inserem na teoria 
da Abordagem Documental do Didático, e os procedimentos metodológicos utilizados são aqueles da 
investigação reflexiva, adequada às investigações que se apoiam nesse referencial teórico. Os dados 
colhidos indicaram como se deu a incorporação de novos recursos digitais ao conjunto de recursos dos 
professores, além de novas estratégias de ensino proporcionadas pelo distanciamento físico. Eles 
permitiram ainda observar que, apesar das dificuldades iniciais, os professores mantiveram uma avaliação 
positiva do uso dessa modalidade de recursos, e incorporação de novos de utilização, criando por eles 
expectativas de não só manter os recursos incorporados, mas ampliar o sistema de recursos, constatando 
com a prática remota que eles favorecem a aprendizagem. 
Palavras-chave: Ensino Remoto Emergencial. Professores de Matemática. Recursos. Documentação 
 
Abstract 
mailto:vandersmenezes@hotmail.com
https://orcid.org/0000-0002-1120-3183
mailto:sigliori@pucsp.br
https://orcid.org/0000-0002-6354-3032
mailto:valdetemine@yahoo.com.br
https://orcid.org/0000-0003-2087-1017
 
 
 
This article presents data from an investigation carried out with two mathematics teachers from the Final 
Years of Elementary School who taught in Emergency Remote Teaching and returned to face-to-face 
classes. These are partial results of a broader research whose objective is to evaluate changes carried out in 
the professional practices of these teachers, regarding the implementation of resources and their use 
schemes, that is, their documentation, in remote and on-site periods. The theoretical constructs that support 
the investigation, resource, use scheme and documentation fall within the theory of the Documentary 
Approach of Didactics, and the methodological procedures used are those of reflective investigation, 
suitable for investigations based on this theoretical framework. The data collected indicated how the 
incorporation of new digital resources into the teachers' set of resources took place, as well as new teaching 
strategies provided by physical distancing. They also made it possible to observe that, despite the initial 
difficulties, the teachers maintained a positive evaluation of the use of this modality of resources, and the 
incorporation of new ones of use, creating expectations for them not only to keep the resources 
incorporated, but to expand the system of resources, noting with remote practice that they favor learning. 
Keywords: Emergency Remote Teaching. Mathematics Teachers. Resources. Documentation 
 
Introdução 
As grandes mudanças que o COVID-19 trouxe ao mundo, impactaram fortemente 
a educação. A pandemia da COVID-19 parou o mundo e várias medidas foram adotadas 
para interromper o contágio, uma delas foi o isolamento social, com restrições e 
fechamento provisório de escolas e universidades, no Brasil, em conformidade a Lei nº 
13.979, de 06 de fevereiro de 2020 e Portaria MEC nº 343, de 17 março de 2020. Por esse 
motivo, foram adotadas diferentes modalidades de ensino, para que o aluno não fosse 
privado de ter acesso à aprendizagem, como forma de uma educação emergencial. A 
modalidade de Ensino Remoto Emergencial ocupou um espaço de destaque no território 
nacional, com a utilização das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação e, em 
caráter de urgência, professores e estudantes tiveram que se adaptar abruptamente a elas. 
Com isso, a tecnologia digital se tornou um dos principais recursos para manter o processo 
educacional, além da adoção de materiais impressos que podiam ser retirados por 
alunos/responsáveis nas escolas. 
Nesse contexto da pandemia da COVID-19, atuando no Ensino Remoto 
Emergencial, os professores se depararam com recursos tecnológicos, como por exemplo 
as plataformas de reuniões remotas, sem a realização prévia de um treinamento básico, 
atestando desconhecer as potencialidades desses recursos disponíveis para o 
planejamento e desenvolvimento de suas respectivas aulas. Assim, verificam a 
necessidade de se reinventarem e consequentemente realizarem modificações em seu 
sistema de recursos didáticos. 
Diante desse contexto, o professor fez alterações e adaptações em seus recursos, 
visando atender às condições impostas nesse período de pandemia. Por meio desse 
processo de reforma em sua documentação, o professor estrutura novos documentos 
necessários para realizar suas aulas, ou seja, esse processo impulsiona o desenvolvimento 
 
 
 
profissional desse professor. Essa problemática das alterações dos hábitos, recursos e 
documentos de forma obrigatória, nos leva a buscar novas informações sobre o período, 
com vistas a compreender a prática docente, uma possível nova condição para ela com 
implicações nos recursos e esquemas de utilização, em consequência de documentação. 
Esse artigo é resultante de uma pesquisa com a intenção enunciada, e tem por 
objetivo responder ao seguinte questionamento: Como, a necessidade de utilizar novos 
recursos nas aulas, de modo não intencional, impactou a prática docente dos professores? 
 
Referencial Teórico 
Abordagem Documental do Didático – ADD 
O professor de matemática no decorrer da atividade de planejamento de sua aula, 
em tempos de pandemia ou não, tem à sua disposição uma gama de possibilidades de 
escolhas de recursos a serem utilizados, como por exemplo as atividades encontradas nos 
livros didáticos, os recursos advindos das realidades dos alunos, o espaço escolar e as 
ferramentas digitais. Recursos como esses estão no centro de interesse da Abordagem 
Documental do Didático – ADD – (Gueudet; Trouche, 2008, 2010; Trouche; Gueudet; 
Pepin, 2018; Trouche; Gueudet; Pepin; et al. 2020). 
A abordagem documental do didático é uma teoria da didática da matemática 
francesa, tendo como seu principal objetivo compreender o desenvolvimento profissional 
dos professores por meio do estudo de suas interações com os recursos, seus esquemas 
de utilização e projetos em/para seu ensino (Trouche, Gueudet, Pepin, et al. 2020). 
Gueudet, Pepin & Trouche (2012) elencam alguns “elementos” que constituem a 
teoria e os processos que estão atrelados aos mesmos. Para uma melhor compreensão são 
definidos os seguintes constructos: recursos curriculares, documentos, esquemas, gênese, 
instrumentação e instrumentalização. 
Os recursos curriculares são todos os recursos (ex. livros didáticos 
digitais/tradicionais, recursos interativos digitais) desenvolvidos e usados por professores 
e alunos em suas interações com a matemática,dentro e fora da sala de aula. Integram-se 
a eles os recursos curriculares digitais que Pepin e Gueudet (2018) distinguem das TICE 
(Tecnologias de Informação e Comunicação para o Ensino). 
Esses recursos curriculares podem ser organizados em recursos curriculares 
materiais (livros didáticos, recursos digitais, instrumentos de manipulação ou 
 
 
 
calculadoras), recursos sociais (uma conversa na web/fórum) e recursos cognitivos 
(quadros/ferramentas teóricos usados para trabalhar com professores). 
 À medida que os professores planejam suas aulas, torna-se necessária a escolha 
de recursos com objetivo de ensinar um conteúdo específico. Nesse momento ele tem 
como possiblidade optar por um recurso utilizado anteriormente, ou se preferir, pode 
explorar um novo recurso baseado na experiência que tem com o conteúdo do saber a ser 
ensinado. Caso o professor escolha novos recursos que estão de acordo com os seus 
objetivos, ele está se apropriando de recursos que passam a fazer parte do seu conjunto 
de recursos. O conjunto dos recursos que ele dispõe, a forma como organiza e os interliga 
constituem o seu sistema de recursos. Gueudet e Trouche (2009) pontuam que o sistema 
de recursos do professor não é estático, mas sim, dinâmico porque está em constante 
movimento podendo ser retirados ou inseridos novos recursos e reorganizados, a 
depender do objetivo didático do professor. 
A Abordagem Documental do Didático conceitua e distingue o recurso de um 
documento personalizando a dinâmica da construção do documento como elemento da 
atividade profissional do professor. O documento na ADD está na perspectiva em que 
ocorre a combinação de um recurso disponível para o professor e os esquemas que esse 
docente desenvolve ou constrói para subsidiar sua prática. Gueudet e Trouche (2011) 
simbolizam o processo de produção de um documento pela estrutura: documento = 
recurso + esquemas de utilização. 
Os esquemas podem ser denominados quando são estabelecidas regularidades na 
ação do professor referente ao uso do recurso para uma mesma situação de aula em 
contextos variados. São os esquemas que orientam o trabalho sobre os recursos 
mobilizados para um dado objetivo de ensino (GUEUDET; TROUCHE, 2008, p. 11). 
Escolhemos, para esta investigação, focar a atenção nos recursos e documentação 
que o professor selecionou, utilizou, e/ou realizou adaptações para ensinar matemática no 
período de pandemia da COVID-19, em um sistema de Ensino Remoto Emergencial. 
Nossa escolha está pautada no que Gueudet e Trouche (2010) descrevem ao mencionar 
que as pesquisas acerca da evolução dos recursos do professor estão diretamente 
relacionadas à evolução do seu desenvolvimento profissional, pois, a atividade do 
professor é mediada, dentre outras coisas, pelos recursos, seja no planejamento como 
também na prática em sala de aula. 
 
 
 
 
Figura 1: Uma representação de uma gênese documental 
 
Fonte: Trouche; Gueudet; Pepin; et al. 2020 
 
Tendo se baseado na abordagem instrumental, a ADD estabelece a diferença entre 
os recursos que o professor de matemática utiliza para explorar uma determinada classe 
de situações, dos recursos que ele elabora, seleciona ou transforma, caracterizando assim 
o processo de gênese documental que está ligada a dois movimentos que resultam da AI: 
a instrumentação e a instrumentalização. Na instrumentação, as características do(s) 
recurso(s) influencia(m) a prática dos professores (o processo de instrumentação); 
enquanto que a partir de suas experiências, hábitos e conhecimentos os professores 
orientam-se para as escolhas de apropriação e os processos de transformação dos 
diferentes recursos (o processo de instrumentalização), conforme ilustrado na figura 1. 
Essas interações entre professores e recursos, destacadas pela abordagem 
documental do didático, são determinantes para o desenvolvimento profissional dos 
professores. 
Durante o período de pandemia, causada pelo coronavírus (COVID-19), os 
professores se depararam com a necessidade de reformulação de seus recursos didáticos. 
Os professores tiveram que fazer escolhas e adaptações dos mesmos para seu ambiente 
escolar, o que de certa forma os fez perceber que os recursos que utilizam em suas aulas 
podem favorecer ou não a aprendizagem de seus alunos. 
Para a montagem desses recursos a serem trabalhados com os alunos, o professor 
ou procura exercícios, ou lança mão de um livro eletrônico flexível, tendo então a 
Um(a) 
professor(a) 
Um conjunto 
de recursos 
Instrumentalização 
Instrumentação 
Gênese (orientada pelos objetivos 
didáticos do professor, da qual 
emerge, através das fases sucessivas 
de preparação, concepção e 
implementação) 
Um documento = os recursos selecionados e recombinados + seus 
usos + os conhecimentos que guiam seus usos 
P
e
rc
u
rs
o
 t
e
m
p
o
ra
l 
 
 
 
desenvolver novas competências e conhecimentos. Eles precisaram desenvolver suas 
capacidades de design (Pepin, Gueudet e Trouche, 2017). 
 
Metodologia de Pesquisa 
 
Para esclarecer e compreender o sistema de recursos explorado e construído 
pelo(a) professor(a) no decorrer do Ensino Remoto Emergencial no período pandêmico 
da COVID-19, optamos pela metodologia de pesquisa a Investigação Reflexiva, proposta 
por Gueudet, Trouche e Pepin (2012, 2018). 
A realização de processos de pesquisas, sobre a atividade dos professores, 
adotando como referencial teórico a ADD exige um acompanhamento de forma 
sistemática em diferentes espaços por um tempo de curta, média ou longa duração. Com 
essa perspectiva, os autores citam quatro princípios que sintetizam essa requisição: 
- Um princípio de acompanhamento em longo prazo. Gêneses são processos em 
curso e esquemas desenvolvem-se ao curso de longos períodos [...]. Isso indica 
a necessidade de observação de longo prazo, dentro de restrições práticas. 
- Um princípio de acompanhamento dentro e fora da classe. A sala de aula é um 
lugar importante onde o ensino elaborado é implementado [...]. No entanto, uma 
parte importante do trabalho dos professores ocorre além da presença dos 
alunos, ou seja, na escola, em casa, nos programas de desenvolvimento de 
professores etc. Prestamos atenção a todos esses locais diferentes. 
- Um princípio de ampla coleta dos recursos materiais utilizados e produzidos 
no trabalho de documentação, ao longo do acompanhamento. 
- Um princípio de acompanhamento reflexivo do trabalho de documentação. 
Envolvemos intimamente o professor na coleta de dados, com o objetivo 
pragmático de ampla coleta e acompanhamento in-class e out-of-class 
previamente discutido. O envolvimento ativo do professor gera uma postura 
reflexiva. (GUEUDET; TROUCHE, 2012, p. 27-28, traduzido por Ignácio, 
2019, p. 65). 
Os procedimentos metodológicos foram organizados em fases. Primeiramente, os 
sujeitos da pesquisa foram convidados a responder um questionário acerca de sua 
atividade docente durante a pandemia, com ênfase em questões direcionadas aos recursos 
manipulados durante a pandemia. Em seguida foram convidados a disponibilizar por e-
mail materiais de suas aulas com a utilização dos novos recursos mencionados na 
entrevista. O material encaminhado foi examinado, o qual contemplava arquivos em pdf 
das atividades propostas aos alunos, planos de aulas elaborados, além de applets do 
GeoGebra explorados nas aulas. 
 
Descrição e Análise de Dados 
 
 
 
 
Ao selecionar os participantes desta investigação, partiu-se do pressuposto de que 
os professores deveriam lecionar matemática para as turmas dos Anos Finais do Ensino 
Fundamental, além da exigência de terem atuados nesse mesmo nível de ensino durante 
o período de pandemia da COVID-19. 
Com a intenção de preservar as identidades dos participantes desta pesquisa, 
adotou-se como nomes fictícios para os professores entrevistados: Teodoro e Pedro. 
Teodoro tem 11 anos de experiência em sala de aula, comuma carga horária de 
49 horas/aula por semana, ministrando aulas de matemática para turmas do 8º Ano do 
Ensino Fundamental, além das turmas de 1º, 2º e 3º Ano do Ensino Médio. Em sua prática 
docente, antes do período pandêmico, ele explorava de forma exclusiva a calculadora 
como recurso tecnológico em suas aulas, os livros didáticos e programa de conteúdos da 
disciplina como recursos materiais na preparação de suas aulas. Com o advento da 
pandemia, Teodoro lançou mão de explorar outros recursos para preparar, ministrar e 
utilizar em suas aulas. Dentre os recursos tecnológicos citados por Teodoro, está presente 
o Google Suite, constituído por um conjunto de produtos do Google (formulários, Google 
Meet, documentos, planilhas, Google Classroom, entre outros), os quais viabilizaram a 
comunicação remota, síncrona e assíncrona, com seus alunos. Recorreu também a jogos 
de matemática e ao software geométrico GeoGebra. Para preparar as suas aulas, Teodoro 
utilizou como estratégia a elaboração de resumos e vídeo-aulas com instruções acerca do 
saber matemático a ser estudado. Relatou ainda que com o retorno das aulas presenciais, 
os novos recursos que passaram a fazer parte de sua documentação, não estão sendo 
utilizados em suas aulas devido ao déficit da estrutura tecnológica da escola que trabalha. 
Ela não tem equipamentos de informática disponíveis para os professores utilizarem em 
suas respectivas salas de aula. Por fim, Teodoro descreve o período de aulas remotas 
como desafiador, ele diz: “Foi desafiador, pois tivemos que fazer da nossa casa um 
ambiente de trabalho e aprender a dinâmica das aulas remotas, sem quase nenhum 
preparo prévio.” 
Analisando o material disponibilizado por Teodoro, constata-se um esquema de 
utilização do GeoGebra nos planos de aula e nos vídeos-aulas do Youtube recomendados 
para os alunos. Esses esquemas de utilização dos recursos se apresentam na elaboração 
de uma atividade para a introdução do cálculo da área do trapézio, 𝐴 =
(𝐵+𝑏).ℎ
2
, realizada 
com alunos do 8º Ano do Ensino Fundamental (faixa etária 13 – 14 anos). 
 
 
 
Figura 2: Imagens da Animação para área do trapézio 
 
 
 
 
 
 
 
O professor Teodoro construiu um applet do GeoGebra, Figura 2, utilizou a 
plataforma Google Meet e um arquivo em PDF. O applet do GeoGebra permitiu aos 
alunos visualizarem uma animação que realiza uma rotação de 180° em uma cópia do 
 
 
 
trapézio ABCD, formando um paralelogramo ao posicionar essa cópia ao lado do trapézio 
inicial. 
Após a visualização da animação é solicitado aos alunos que façam suas 
observações e apresentem uma “fórmula” para calcular a área do trapézio. 
O professor gerencia uma discussão realizada pelos alunos, organizando as 
informações na tela do Google Meet com a ferramenta Point Fix que permite escrever na 
tela congelada. Após as ações de formulação e validação das fórmulas apresentadas pelos 
alunos é realizada a institucionalização da área do trapézio com a intervenção do 
professor, conforme a Figura 3. 
 
Figura 3: Institucionalização da área do trapézio. 
 
Dessa forma, o professor Teodoro desenvolveu um documento para introdução da 
área do trapézio. No desenvolvimento desse documento está articulado um processo de 
instrumentação (antes o professor utilizava o quadro branco, piloto e livro didático) e um 
processo de instrumentalização com o arranjo planejado dos recursos GeoGebra, arquivo 
pdf, Point Fix e Google Meet que permitiram a visualização da animação, discussão, 
validação e institucionalização da área do trapézio. Como invariantes operatórios 
presentes no esquema desse documento, pode-se constatar a argumentação da fórmula da 
área a partir da animação com o giro de 180° e posicionamento dos trapézios lado a lado 
formando um paralelogramo, cuja área os alunos já possuíam conhecimento de como 
calcular. Didaticamente podemos mencionar o fato de as formulações dos alunos serem 
incentivadas pelas inúmeras visualizações que eles realizam na animação do applet. 
 
 
 
 O segundo sujeito da pesquisa, o professor Pedro, tem 7 anos de experiência 
ministrando aulas de matemática para as turmas do 6º, 7º, 8º e 9º do Ensino Fundamental, 
com uma carga horária de 42 horas/aula por semana. Antes da pandemia, na preparação 
de suas aulas, ele raramente utilizava tecnologias como um recurso em sala de aula. 
Durante o período de suspensão das aulas presenciais, sua escola adotou, em momentos 
diferentes, duas plataformas para o ensino remoto. Primeiramente, utilizou a plataforma 
com o nome EDUCONECT (nome fictício), a qual recebeu várias críticas negativas do 
professor Pedro. Posteriormente, adotaram o Google Classroom, juntamente com 
formação de capacitação, com o objetivo de instrução da funcionalidade das ferramentas 
pertencentes a plataforma do Google Classroom. Nesse período, ele passou a utilizar 
como recurso tecnológico, para ministrar as suas aulas, o Google Jamboard, Google sala 
de aula, word, YouTube e documentos no formato pdf. No entanto, os novos recursos que 
passaram a fazer parte do conjunto de recursos deste professor, ficaram limitados a 
utilização ao período do Ensino Remoto Emergencial. O professor Pedro justifica tal 
situação ao currículo (programa de conteúdos da disciplina de matemática), ao 
cumprimento de cronogramas, burocracia pedagógica, falta de interesse dos alunos para 
o estudo. No geral, este professor considera que o período de aulas remotas “foi um 
período difícil, de pouco reconhecimento da sociedade e profissionais atuantes nas 
secretarias educacionais e política.” 
 Nos materiais manuseados pelo professor Pedro no Ensino Remoto Emergencial, 
deparamos com uma proposta de exercícios que tem como objetivo estimular a 
mobilização dos elementos de Expressões Algébricas, constituídos pelos alunos em aulas 
anteriores. O plano de aula para essa atividade engloba a combinação organizada dos 
recursos Google Jamboard, Google Meet, celular/computador e Google Classroom. 
O professor Pedro elaborou uma atividade no Google Jamboard que permitiu a 
interação dos alunos, simulando uma experiência da sala de aula presencial, em que os 
alunos se dirigem ao quadro branco para validarem suas conjecturas acerca das atividades 
propostas. 
No Google Jamboard foram organizadas atividades, conforme Figura 4, para que 
os alunos realizassem no decorrer da aula online, perante a supervisão do professor. No 
início da aula, realizada no Google Meet, foi anunciado aos alunos a atividade que estava 
disponível no link compartilhado pelo professor. Além de disponibilizar o link da 
 
 
 
atividade, o professor Pedro organizou os alunos em duplas e informou que cada dupla 
realizaria os exercícios de uma das páginas do arquivo. 
 
Figura 4: Imagens do arquivo Google Jamboard elaborado pelo Professor Pedro 
 
 
 
 
Para supervisionar o andamento das atividades realizadas pelos alunos, o Google 
Jamboard possibilita ao professor acompanhar as interações que as duplas realizam em 
cada exercício no decorrer da aula. Caso o professor Pedro julgue necessário intervir para 
uma observação, ele utiliza a ferramenta de “Nota Adesiva”, lançando na tela um 
comentário em formato semelhante ao de um post-it. 
Após a conclusão das atividades, as duplas retornam ao ambiente do Google Meet, 
e o professor Pedro faz questionamentos para a turma acerca de cada um dos exercícios 
realizados, com o objetivo de oportunizar que todos os alunos experimentem as tarefas 
realizadas pelas demais duplas. 
Nesse ambiente, o professor Pedro construiu um documento para provocar os 
conhecimentos dos alunos sobre Expressões Algébricas conjecturados em aulas 
anteriores. Na construção desse documento observa-se o processo de instrumentação na 
 
 
 
relação do professor com os recursos do Google (Meet, Classroom e Jamboard) ao 
conhecê-los durante sua formação continuada e um processo de instrumentalizaçãocom 
a organização e planejamento da atividade docente para ministrar uma aula com 
exercícios que movimentem os conhecimentos dos alunos sobre Expressões Algébricas. 
Para os invariantes operatórios inerentes ao esquema desse documento, podemos citar a 
formulação de expressões algébricas a partir da observação de desenhos, figuras gráficas, 
contextos sociais da realidade e linguagem natural, além de generalizações obtidas por 
meio das variáveis e operações adotadas pelos alunos. Didaticamente, temos que após a 
resolução das questões, ocorre a proposta aos alunos para que suas respostas sejam 
confrontadas perante toda a turma, a fim de também socializar as diferentes expressões 
de um mesmo item para validá-las (ou não) coletivamente. 
 
Considerações Finais 
Os dados qualitativos, extraídos da investigação reflexiva e apoiados pelo 
referencial teórico nos permitiu avaliar a importância dos recursos, para a formação 
profissional dos professores. A seleção dos recursos a serem utilizados nas aulas remotas 
representou inicialmente um desafio excludente no momento de planejamento e execução 
das aulas. Em meio ao fato novo do Ensino Remoto Emergencial, os professores se viram 
diante da necessidade de uma formação continuada voltada para recursos que 
viabilizassem suas práticas docentes em ambientes de aulas remotas. Diante dessa 
situação, os sujeitos dessa pesquisa, buscaram, por meio da formação continuada, 
conhecer novos recursos que os auxiliassem a uma “aproximação”, tendo em vista o 
distanciamento físico relacionado aos seus alunos. Com a formação continuada, os 
entrevistados relataram depararem-se com novos recursos, entre esses, foram explorados 
como recursos didáticos pelos professores as ferramentas do Google Suite (Classroom, 
Meet, Jamboard, Formulários), assim como o Point Fix, arquivos do Word, em PDF, 
além de vídeos do Youtube. Por consequência dos novos recursos, os professores viram a 
necessidade de reformulação de suas aulas, e de acordo com suas expertises e 
experiências, construíram esquemas para utilização desses recursos que fomentassem o 
desenvolvimento de conjecturas e compreensão de conteúdos matemáticos. Os novos 
recursos combinados com os respectivos esquemas de utilização, constituem novas 
documentações, atreladas, principalmente, aos recursos tecnológicos para superar a 
dificuldade do distanciamento físico imposto pelo COVID-19. 
 
 
 
Esse período da pandemia ocorreu, de certa forma, como uma força motriz para 
que os professores realizassem uma reformulação em seu conjunto de recursos e 
esquemas de utilização e, encontrassem novas conjecturas para uma ressignificação de 
sua documentação que fomentasse sua prática docente. Entretanto, em função das 
condições tecnológicas das instituições, às quais os entrevistados trabalham, tais recursos 
estão sendo limitados a sua utilização somente ao período de aulas remotas. Assim sendo 
as experiências com os recursos tecnológicos e seus esquemas de uso não estão sendo 
mantidos e aprimorados com o retorno das aulas presenciais, o que reforçou a eles a 
importância do uso de recursos diversificados, principalmente os digitais. 
 
Referências 
 
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GUEUDET, G.; TROUCHE, L. Du travail documentaire des enseignants : genèses, 
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genèses documentaires. In G. Gueudet et L. Trouche (Dir.) Ressources vives: le travail 
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Rennes, 2010, p. 57-74. 
 
GUEUDET, G.; PEPIN, B; TROUCHE, L. (Eds.). From Text to ‘Lived’ Resources: 
Mathematics Curriculum Materials and Teacher Development. New York: Springer. 
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Lerman S. (eds) Encyclopedia of Mathematics Education. Springer International 
Publishing AG. https://doi.org/10.1007978-3-319-77487-9_100011-1. 2018. 
 
GUEUDET, G.; PEPIN, B.; TROUCHE, L., et al. (2020). A abordagem documental do 
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PERRENOUD, P. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.

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