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Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS DIABETES MELITUS TIPO 2: O diabetes melitus (DM) pode ser definido como um distúrbio metabólico marcado pela deficiência na produção e/ou na ação da insulina. Esse é um quadro multifatorial, associado a aspectos genéticos, imunológicos e ambientais. A influência do meio ambiente tem papel ainda maior na patogênese do diabetes nos primeiros anos de vida, justificando medidas precoces de intervenção. Essa é uma doença que tem apresentado aumento recente de prevalência, decorrente das mudanças do estilo de vida causadas pela urbanização, bem como do próprio aumento da sobrevida dos portadores da doença. Independente do grau de desenvolvimento de um país, o DM configura-se como um importante problema de saúde pública, pois seus portadores necessitam de cuidados crônicos, geralmente de alto custo. Atualmente, a OMS considera a hiperglicemia como o terceiro fator mais importante para morte prematura, atrás somente da hipertensão arterial e do tabaco. Os principais desfechos associados a diabetes são complicações micro e macrovasculares, como retinopatia, nefropatia, neuropatia e doenças cardiovasculares. Além disso, há influência da DM sobre condições em saúde mental, nos sistemas digestório e musculoesquelético, podendo favorecer a ocorrência de vários tipos de câncer. O diabetes melitus tipo 2 (DM2), associado a resistência insulínica, é a forma mais comum dessa doença, correspondendo a quase 95% dos casos. Comparações clinico-laboratoriais entre a diabetes melitus tipo 1 e tipo 2 A avaliação da mortalidade por DM é difícil, uma vez que frequentemente esse diagnóstico não está contido na declaração de óbito, dando lugar a suas complicações. Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS ETIOPATOGENIA: O DM2 apresenta etiologia multifatorial, com importante ação de fatores ambientais, ainda que a herança familiar também seja comumente encontrada. A maioria dos diagnósticos ocorre a partir dos 40 anos, frequentemente associada ao acesso de peso e demais componentes da síndrome metabólica. Normalmente os pacientes apresentam quadro oligo ou assintomáticos por longos períodos, sendo o diagnóstico consolidado a partir dos reflexos de complicações crônicas ou de rastreamentos laboratoriais. Os fatores de risco mais comuns para essa doença são: Histórico familiar positivo; Idade avançada; Obesidade; Sedentarismo; Histórico de diabetes gestacional ou pré-diabetes; Síndrome metabólica ou algum de seus componentes (hipertensão, dislipidemia). Principais contribuintes sistêmicos associados à patogênese da diabetes tipo 2 A hiperglicemia, no DM2, pode ser justificada por dois processos distintos, resistência à insulina e déficit secretório de células-β, que normalmente apresentam sobreposição na evolução da doença. O resultado dessas alterações é um hipoinsulinismo relativo, no qual a insulina, ainda que alta ou normal, sempre é insuficiente para manter a glicemia estável. Em resposta à menor atividade hormonal, observa-se aumento da lipólise do tecido adiposo (especialmente na gordura visceral), liberando assim ácidos graxos livres para a circulação sistêmica. Essas moléculas, ao serem captadas pelo fígado e músculos, passam a afetar o funcionamento de enzimas transdutoras do sinal de insulina, agravando a resistência tecidual. Ação da obesidade no desenvolvimento de DM2 Quando presentes, as manifestações clínicas da DM2 são relacionadas à hiperglicemia, como polifagia, polidipsia, poliúria e perda de peso Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS O processo de esgotamento pancreático se inicia com um estado de hipossensibilidade de células-β á glicose, uma vez que há diminuição da expressão de GLUT-2 na membrana dessas ilhotas. Como consequência, a secreção pós- prandial de insulina também é reduzida. A deficiência de incretinas, cuja origem ainda não é estabelecida, também pode contribuir para a hiperglicemia após as refeições. Com o avanço da DM2, o organismo é “forçado” a sintetizar grandes volumes de insulina, o que também promove acúmulo intracelular de amilina, que gradualmente deteriora a função e causa perda de volume das ilhotas pancreáticas. Cronologia do desenvolvimento de DM 2 e suas complicações RASTREAMENTO E DIAGNÓSTICO: A triagem para a diabetes melitus deve ser realizada a cada 3-5 anos em adultos com mais de 45 anos que não apresentem comorbidades, de forma a identificar o quadro em seus estágios iniciais. Esses procedimentos serão recomendados para pacientes com menos de 45 anos e caso apresentem sobrepeso ou obesidade, e os fatores de risco anteriormente descritos, além de: Etnias mais susceptíveis à diabetes negros, indígenas ou hispânicos); Síndrome do ovário policístico; Colesterol HDL < 35 mg/dL e/ou triglicérides > 250 mg/dL; Indivíduos com acantose nigricans. Exemplo de acantose nigricans em região de pescoço O FINDRISK é um protocolo que permite a estratificação de risco para DM2 com base em aspectos como idade, sexo, nível de atividade física, antecedentes pessoais ou familiares de doenças cardiovasculares e metabólicas. Cada um desses tópicos é pontuado, sendo que valores ≥ 7 sugerem vulnerabilidade aumentada para a DM2. Algoritmo de intervenções baseadas no resultado do FINDRISK Uma vez que alterações fisiopatológicas podem se desenvolver muito antes do diagnóstico da DM2, define-se como pré- Por ser um instrumento simples e de baixo custo, o FINDRISK se mostra bastante útil no contexto da atenção primária Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS diabetes aqueles valores laboratoriais acima do padrão de normalidade, porém abaixo do critério que define a diabetes melitus em si. Nessa situação já ocorre resistência à insulina, porém o combate a fatores de risco modificáveis evita a evolução para o quadro com impacto clínico. As avaliações clínico-laboratoriais que constam na investigação da diabetes melitus tipo 2 são: Glicemia em jejum (mínimo de 8 horas sem se alimentar): referência < 100 mg/dL; Teste oral de tolerância à glicose (TOTG – 2 horas após a ingesta de solução concentrada de glicose): referência < 140 mg/dL; Sua realização não é indicada para indivíduos que apresentem glicemia em jejum > 126 mg/dL. Hemoglobina glicada (HbA1c – reflete a média da glicemia nos últimos 3 meses): referência < 5,7%; Pode ser usada como forma de monitorar a eficácia do tratamento. Glicemia ao acaso: classifica DM2 quando ≥ 200 mg/dL em indivíduos sintomáticos. A glicemia pós-prandial NÃO é utilizada como critério de detecção. Resultados dos principais exames diagnósticos para a diabetes Para que seja confirmado o diagnóstico de DM2 são necessários dois parâmetros (exames) distintos, que devem ser feitos na ausência de sintomas de hiperglicemia. Em quadros assintomáticos, duas glicemias em jejum > 126 mg/dL podem fechar o diagnóstico. A pré-diabetes apresenta diagnóstico “mais fácil”, sendo necessária apenas uma alteração nos valores de referência (desde que se mantenham menores que o ponto de corte para a DM2). Valores laboratoriais confirmatórios para a pré- diabetes TRATAMENTO: O manejo clínico do paciente diagnosticado com pré-diabetes ou diabetes melitus tipo 2 deve ser contar com mudanças no estilo de vida, tais como: Controle ponderal (possibilidade de instituir dietas hipocalóricas); O intervalo pode ser de apenas um dia entre os exames nos critérios para confirmação da DM2 em pacientes sem sintomas. Pacientes com anemia,hiperbilirrubinemia, discrasias sanguíneas ou uremia podem sofrer interferências nos resultados da dosagem de HbA1c Resultados alterados podem refletir preparo incorreto para o exame ou dieta rica em carboidratos nos dias que antecederam a coleta Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Prática de exercícios físicos (150 minutos semanais, distribuídos por ao menos 3 dias); Reeducação alimentar; Controle de comorbidades que agem como fatores de risco (HAS, tabagismo, dislipidemia). Cabe ressaltar que tais medidas também podem ser usadas como formas de prevenção primária para o desenvolvimento da diabetes, devendo ser reforçada principalmente em crianças e jovens. TRATAMENTO FARMACOLÓGICO: ANTIDIABÉTICOS NÃO INSULÍNICOS: Os agentes hipoglicemiantes costumam representar a primeira linha terapêutica para o controle da diabetes melitus tipo 2, dividindo-se em: Metformina (1000 a 2550 mg/dia, 12/12h OU 8/8h): É uma sensibilizadora da ação de insulina, representando a principal escolha para o tratamento inicial da DM2. Seu baixo custo e disponibilidade no SUS potencializam sua “popularidade”. Além da atividade direta sobre a fisiopatologia da diabetes, esse fármaco também pode auxiliar na perda de peso. Ação da metformina no organismo Como efeitos adversos mais frequentes, destacam-se desconforto abdominal, flatulência, diarreia e náuseas, que podem ser evitados com a administração em apresentação de liberação prolongada. Pode ocorrer deficiência de vitamina B12 ou acidose lática, ainda que sejam eventos raros. As principais contraindicações direcionam-se a gestantes e pacientes com insuficiência renal, hepática, cardíaca ou pulmonar grave. Sulfonilureias – Glibenclamida (2,5 a 20 mg/dia, 12/12h) e Glicazida (30 a 120 mg/dia, 12/12h): Essa classe de medicamentos age no aumento da secreção de insulina, controlando a hemoglobina glicada de modo mais significativo, porém tornando-os mais propensos à hipoglicemia. Indivíduos pré-diabéticos apresentam alto índice de evasão terapêutica, o que favorece a progressão natural da doença A incidência de hipoglicemia é baixa no uso desse medicamento, podendo ser uma aliada na consolidação de novos hábitos alimentares Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Ação das sulfonilureias nas células β-pancreáticas Essa “capacidade” faz com que seja necessária maior atenção quanto a seu uso em idosos. Novamente, gestantes e portadores de doenças renais ou hepáticas não devem ser tratados com esses medicamentos. Acarbose (50 a 300 mg/dia, 8/8h): É uma inibidora de α-glicosidase, promovendo a lentificação na absorção de carboidratos. Uma vez que atua sobre o TGI, seus principais efeitos adversos são desconforto abdominal, meteorismo, diarreia e flatulência. Representação do mecanismo de ação da acarbose Essa classe não induz hipoglicemia e apresenta resultados na diminuição de eventos cardiovasculares. Glitazonas – Pioglitazona (15 a 45 mg/dia): Promovem o aumento da sensibilidade à insulina no músculo, fígado e nos hepatócitos, portanto apresentam impacto sobre o perfil lipídico e a gordura hepática, além de controlar adequadamente a HbA1c. O risco de hipoglicemia é baixo, e ocorre efeito protetor vascular. As contraindicações se direcionam a pacientes com insuficiência hepática ou cardíaca (classes III e IV), e mulheres grávidas. Inibidores da SGLT2 - Empagliflozina (10 a 25 mg/dia): São medicamentos que bloqueiam o cotransporte de sódio-glicose no túbulo proximal dos rins, o que pode implicar em glicosúria e aumento das infecções geniturinárias. As diretrizes atuais recomendam os inibidores do SGLT2 como primeiras drogas a serem associadas à metformina, porém apresentam custo elevado. Outros efeitos secundários importantes são a redução do peso, diminuição do risco de doenças cardiovasculares e da pressão arterial Um importante efeito secundário é o ganho de peso. A gravidez é a principal contraindicação clínica para a acarbose São menos utilizados na prática da atenção primária pois não estão disponíveis no SUS. Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Sítio de ação dos inibidores da SGLT2 Inibidores da DPP4 – Linagliptina (5 mg/dia) e Sitagliptina (100 mg/dia): Esses medicamentos suprimem a degradação do GLP-1, composto secretado pelos enterócitos de modo dependente de glicose, cuja ação é direcionada para o aumento da secreção insulínica em detrimento do glucagon. Assim, há controle da DM2 com queda da hemoglobina glicada sem hipoglicemia ou alterações no peso. Principais formas de ação dos inibidores de DPP-4 Análogos do GLP-1 – Exenatida (5 a 10 mcg antes do desjejum e jantar, por via subcutânea): Apresentam ação similar aos inibidores da DPP-4 supracitados, porém agora elevando diretamente a concentração de GLP-1, o que irá impactar não só na secreção de insulina, como também no retardo do esvaziamento gástrico e na indução de saciedade. Apresentam alta comodidade posológica (possibilidade de uso de apresentações com liberação prolongada), porém não são disponibilizados pelo SUS. Seu uso acarreta impactos positivos quanto ao controle da pressão arterial e a proteção contra eventos cardiovasculares. Como efeitos adversos, no entanto, destaca-se a hipoglicemia (principalmente em associação com Secretagogos), náusea, vômitos e diarreia. Como agem principalmente sobre os rins, esses fármacos não são recomendados em indivíduos com disfunção renal moderada a grave Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Características das principais classes de medicações usadas no tratamento da DM2 Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS INSULINOTERAPIA: A insulinoterapia começa a ser recomendada quando HbA1c > 9,0% (ou glicemia de jejum ≥ 300 mg/dL na presença de sintomas), porém sua aplicação prática é complexa. Pode ou não haver associação à metformina. Essa abordagem se inicia com a administração de insulina NPH (basal), de liberação lenta, com dose de 01 a 0,2 UI/kg/dia (ou 10 UI durante a noite), garantindo monitoramento diário da glicemia capilar. Essa dosagem deve ser aumentada 2x/semana (incrementos de 2 a 4 UI) até atingir o alvo terapêutico da glicemia de jejum. Algoritmo terapêutico na diabetes melitus tipo 2 Para pacientes em uso de mais de 0,5 UI/kg/dia e não tenham atingido a meta de hemoglobina glicada OU que apresentem pico pós-prandial, recomenda-se a implementação de insulina regular (prandial), no café da manhã ou na refeição principal. Curva de ação das insulinas ao longo do tempo METAS TERAPÊUTICAS: O controle da DM2 é auxiliado pela construção do vínculo entre pacientes e membros da equipe profissional, que estimula a consolidação de mudanças significativas em hábitos alimentares e comportamentais, além da adesão terapêutica. Sempre é necessário investigar a forma de uso dos medicamentos, avaliando a compreensão e o comprometimento individual. A avaliação geral da eficácia terapêutica conta com a realização de novos exames laboratoriais, tendo como meta geral a hemoglobina glicada < 7%, de modo a prevenir complicações vasculares. Metas glicêmicas gerais em diversos grupos de pacientes com diabetes tipo 2 COMPLICAÇÕES CLÍNICAS ASSOCIADAS A DIABETES: Os comprometimentos sistêmicos de curto prazo decorrentes da DM2 são: Hipoglicemia: É considerada quando os resultados da glicemia capilar são ≤ 70 mg/dL, porém o surgimento de sintomas relevantes só ocorre em valores inferiores a 54 mg/dL. Em caso de hipoglicemia,é necessário reduzir o volume administrado em 10 a 20% (ou cerca de 4 UI) Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Os fatores de risco mais relacionados à hipoglicemia são idade avançada (quadros silenciosos), insulinoterapia (ou uso de Secretagogos), refeições irregulares, prática de exercício físico e histórico prévio. Como principais sinais e sintomas, destacam-se: o Tremores; o Sudorese; o Fraqueza; o Cefaleia; o Sonolência; o Fome; o Tontura; o Confusão mental; o Parestesia; o Palpitações; o Ansiedade e excitação. Em apresentações de maior gravidade, podem ocorrer convulsões ou até mesmo coma. O tratamento cursa com a ingestão de carboidratos (15 a 20g), fazendo a aferição da glicemia capilar após 15 minutos. Caso seja evidente a presença de comprometimento neurológico, devido ao risco de broncoaspiração, recomenda-se passar mel em alguma mucosa (reposição rápida). Cetoacidose diabética (CAD): É uma condição de evolução aguda, em cerca de 24 horas, marcada pela combinação de hiperglicemia (> 250 mg/dL), acidose metabólica (pH < 7,35) e cetonemia. A gravidade desse quadro irá depender do nível de consciência e da intensidade da acidose. Classificação da cetoacidose diabética Comumente é vista como sinal da abertura da diabetes melitus tipo 1, porém também ocorre em pacientes com DM2 descompensada, idosos ou em infecções. Fisiopatologia típica da cetoacidose diabética As manifestações clínicas típicas são poliúria, polidipsia, polifagia (sintomas típicos da diabetes), náusea, taquicardia e dor abdominal. A conduta visa a correção de distúrbios hidroeletrolíticos e da acidose, além de interromper a formação de corpos cetônicos, fazendo uso de insulina, e tratar complicações. Estado hiperglicêmico hiperosmolar (EHH): Essa é uma manifestação insidiosa definida pela presença de glicemia muito aumentada (> 600 mg/dL) e osmolaridade elevada, porém sem presença de acidose. Pacientes que apresentam menor variação da glicemia tendem a cursar com menor comprometimento orgânico a curto e longo prazo Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Esse quadro, em comparação com a CAD, é mais comum em idosos com diabetes melitus tipo 2. Alguns aspectos podem precipitar esse tipo de desfecho, como o tratamento inadequado, ausência de diagnóstico da DM e interações medicamentosas O quadro cursa com os já citados sintomas típicos de DM, além de alterações neurológicas severas, insuficiência renal aguda e hipotensão. As complicações crônicas, por sua vez, representam os desfechos mais comuns em pacientes com DM2, devendo ser abordadas desde o início do tratamento, que pode ajudar a retardar ou prevenir seu desenvolvimento. Essas condições podem ser divididas em: Complicações microvasculares: surgem de modo mais precoce. o Doença Renal do Diabetes: O rastreamento, na DM2, deve ser feito logo ao diagnóstico, repetindo anualmente a dosagem de albumina urinária e creatinina, seja por amostra aleatória ou coleta de 24 horas. Pacientes com DM1 devem iniciar essa investigação após 5 anos do diagnóstico, a partir do 10º ano de vida. A creatinina sérica permite que seja calculada a taxa de filtração glomerular esperada, levando em consideração fatores como idade, sexo e etnia. Equação de Cockcroft-Gault para avaliação da TFG O encaminhamento para o nefrologista é indicado quando há dúvida quanto a etiologia do quadro, ou na presença de TFG < 30 mL/min/1,73 m² (corte aumenta para 60 se houver albuminúria). Classificação dos achados laboratoriais de acordo com o risco renal o Retinopatia Diabética: Pacientes diabéticos devem fazer acompanhamento oftalmológico anual para realização de fundoscopia, seguindo a mesma cronologia do acompanhamento da função renal. o Neuropatia Diabética: A polineuropatia sensitivo-motora é a apresentação mais comum, afetando principalmente as extremidades (maior vulnerabilidade em axônios longos). Padrão típico da neuropatia diabética Esse deve ser um diagnóstico de exclusão, sendo necessária a investigação laboratorial para outras Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS doenças (ex.: sífilis e deficiência de vitamina B12). O quadro clínico costuma cursar com ardor, câimbras, hiperalgesia/alodinia, sensação de choques/pontadas ou dormência, e perda da sensibilidade do local afetado. O rastreamento dessa complicação deve ser anual, direcionando a anamnese para os sintomas comuns e promovendo a avaliação detalhada de fibras somáticas finas (sensibilidade dolorosa e térmica) e grossas (reflexos, toque e vibração). Alguns pacientes, por apresentar manifestação dolorosa persistente, podem ser submetidos ao tratamento com antidepressivos ou anticonvulsivantes. A principal implicação desse quadro é o pé diabético, justificando a necessidade de inspeção minuciosa dos pés, que deve ser orientada ao paciente para realização diária, principalmente na presença de lesões. Esse quadro apresenta grande relevância por poder causar a amputação segmentar ou total dessa região. Características do pé diabético Outras recomendações são o uso de calçados confortáveis, a manutenção de unhas bem cortadas, a hidratação dos pés e o combate ao tabagismo. O exame físico desses pacientes deve priorizar avaliações neurológicas e vasculares anuais, objetivando a determinação do comprometimento da DM2 sobre as extremidades. Complicações macrovasculares: o Doença Arterial Coronariana; o AVC; o Doença Arterial Periférica. IMUNIZAÇÃO EM PACIENTES COM DIABETES: A hiperglicemia é responsável por alterações imunológicas diversas, aumentando o rico individual para infecções em pacientes diabéticos, ainda que o mecanismo a partir do qual esses processos se desenvolvem sejam desconhecidos. No que tange à imunidade inata, observa-se prejuízo no processo de quimiotaxia e fagocitose, especialmente se houver glicemia > 200 mg/dL. Para a imunidade adaptativa, por sua vez, há diminuição da proliferação de linfócitos T CD4 (especialmente na DM1) e glicação de anticorpos. O prejuízo neurológico pode causar disfunção sexual ou até mesmo mascarar dores anginosas Júlia Figueirêdo – DESORDENS NUTRICIONAIS E METABÓLICAS Ainda que as manifestações clínicas sejam semelhantes às da população geral, algumas infecções apresentam maior potencial de complicações em diabéticos, de modo que o Ministério da Saúde destaca como vacinas altamente recomendadas: Influenza; Vacina pneumocócica conjugada 13-valente (VPC13) e 23-valente (VPP23); Hepatite B; Haemophilus influenzae tipo B; Varicela e herpes zóster. Calendário vacinal recomendado para pacientes com diabetes
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