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Pediatria – Amanda Longo Louzada 1 MENINGITES BACTERIANAS NA PEDIATRIA DEFINIÇÃO: É uma inflamação das leptomeninges (aracnoide e pia-máter) que envolvem o cérebro e a medula espinhal. ETIOLOGIAS: A etiologia das meningites pode ser variável em diferentes países do mundo, o que pode determinar a adoção de condutas terapêuticas distintas. PERÍODO NEONATAL ATÉ 2 MESES DE VIDA: As bactérias que causam meningites refletem a flora materna Enterobactérias (E. coli, Klebsiella sp., Aerobacter, Salmonella sp., Proteus sp.) Estreptococo do grupo B (Streptococcus agalactiae) Listeria monocytogenes A PARTIR DE 2 MESES DE VIDA: Neisseria meningitidis (meningococo) Haemophilus influenzae tipo b (Hib) Streptococcus pneumoniae (pneumococo) PATÓGENOS PROVÁVEIS DE ACORDO COM A IDADE: Menor de 1 mês: Streptococcus agalacties, E.coli e outros bacilos gram-negativos, L.monocytogenes 1 – 3 meses: patógenos neonatais, S.penumoniae, N.meningtidis, H.influenzae 3 meses – 5 anos: S. pneumoniae, N. meningitidis e H.influenza 5 – 20 anos: S.pneumoniae e N.meningitis PATÓGENOS PROVÁVEIS DE ACORDO COM OS FATORES PREDISPONENTES: Barreira Hematoliquórica alterada, implante coclear e síndrome nefrótica: S.pneumoniae Deficiência de complemento: S.pneumoniar, N.meningitidis Asplenia e doença Falciforme: S.pneumoniar, N.meningtidis e Salmonella Pós-trauma: S.pneumoniae e H.influenzae Após neurocirurgia: Staphylococcus coagulase negativo, S.aureus, bacilo gram negativo aeróbio Derivação ventrículo-peritoneal: Staphylococcus coagulase negativo, S.aureus, bacilo gram negativo aeróbio Meningomielocele, presença de cisto dermóide: Staphylococcus, bactérias entéricas gram- negativas EPIDEMIOLOGIA: Em relação à doença meningocócica, houve redução do coeficiente de incidência (CI) total após a introdução da vacina meningocócica C (conjugada). No período de 2007-2020: os sorogrupos mais frequentes foram o C, B, W e Y Taxa de letalidade total de aproximadamente 20%. No que se refere à meningite pneumocócica: Antes da vacina: 34% do total de casos de MP foi reportado em menores de 5 anos de idade Pós vacina: 17% Os pneumococos podem ser classificados em mais de 90 sorotipos baseados nas diferenças químicas e imunológicas de suas cápsulas polissacarídicas. Entretanto, um número limitado desses é responsável por 60-70% das infecções pneumocócicas invasivas. No Brasil o sorotipo 19 é o que mais gera meningite invasiva Antes da introdução rotineira da vacina conjugada contra o Hib em nosso país, a partir de 1999, esse agente ocupava o segundo lugar entre as meningites bacterianas especificadas. Observou-se um impacto altamente positivo após a introdução da vacina conjugada contra o Hib no calendário vacinal dos lactentes, com uma redução de 95% na incidência e o virtual desaparecimento da meningite e de outras formas de doença invasiva causadas pelo Hib em crianças entre os 2 meses e os 5 anos de idade. PATOGÊNESE: Colonização nasofaríngea Invasão e sobrevivência intravascular; Invasão meníngea e da barreira hematoliquórica; Mecanismos de defesa gerando resposta inflamatória no espaço subaracnoide; Aumento de pressão intracraniana, vasculite, alteração no fluxo sanguíneo cerebral e lesão neuronal. A meningite bacteriana resulta, mais frequentemente, da disseminação hematogênica de microrganismos de um local distante de infecção. Pediatria – Amanda Longo Louzada 2 MENINGITES BACTERIANAS NA PEDIATRIA MANIFESTAÇÃO CLÍNICA: Com menor frequência, a meningite pode ocorrer após invasão bacteriana de um processo infeccioso adjacente às meninges: Sinusites, otites médias agudas, mastoidites, celulites orbitárias e osteomielites craniana ou vertebral. Pode ainda ocorrer invasão direta do sistema nervoso central (SNC) pela bactéria, por exemplo, após traumas cranioencefálicos com fraturas ósseas da calota e da base do crânio, estabelecendo uma comunicação entre a pele ou as mucosas e o líquido cefalorraquidiano (LCR), ou após traumas cranianos penetrantes por objetos contusos. A bactéria pode também atingir diretamente o SNC, através da pele, em crianças portadoras de malformações congênitas, como meningomieloceles ou fístulas neuroectodérmicas. A doença inicia-se, em geral, de modo agudo, com a clássica tríade sintomatológica: febre, cefaleia e vômitos. O quadro pode se instalar em algumas horas, já de início abrupto, ou mais paulatinamente. Quadro Clínico: fotofobia, calafrios, inapetência, sensação de mal-estar com dores pelo corpo, mialgia, raquialgia, queda da acuidade visual e depressão do sensório. Convulsões generalizadas, de início precoce (até o segundo dia de diagnóstico), estão presentes em cerca de 20-30% das crianças com meningite não são relacionadas com pior prognóstico, ao passo que as focais, de início tardio, podem correlacionar-se com outras complicações neurológicas. Nas formas mais graves o comprometimento sensorial aprofunda-se com o passar do tempo, observando-se então irritabilidade, sonolência, delírio, torpor, coma e até mesmo morte. Choque e presença de exantema petequial ou purpúrico são classicamente associados à doença meningocócica, mas podem também ser causados pelo H. influenzae ou pelo S. pneumoniae. A meningite meningocócica acompanha-se, em cerca de 60% dos casos, de lesões cutâneas, petequiais ou purpúricas, bastante características, e que denunciam o quadro de meningococcemia. Há formas de evolução extremamente rápida, geralmente fulminantes, às vezes devidas somente à septicemia meningocócica, sem meningite, e que se manifestam por sinais clínicos de choque e coagulação intravascular disseminada (CIVD), caracterizando a síndrome de Waterhouse-Friderichsen. Trata-se de um quadro de instalação repentina, com palidez, sudorese, hipotonia muscular, taquicardia, pulso fino e rápido, queda de pressão arterial, oligúria e má perfusão periférica. O coma pode sobrevir em algumas horas EXAME FÍSICO: Os achados do exame físico do doente com meningite são: febre, uma hiperestesia difusa, rigidez de nuca acompanhada de dor ao tentar a manobra, e os clássicos sinais de Kernig, Brudzinski. Abaixo dos 3 meses de vida, e, sobretudo no período neonatal, a suspeita de meningite torna- se mais difícil, pois a sintomatologia e os dados de exame físico são os mais diversos possíveis: no recém-nascido a febre nem sempre está presente, observando-se muitas vezes hipotermia, recusa alimentar, cianose, convulsões, apatia e irritabilidade que se alternam e, respiração irregular e icterícia. A pesquisa de sinais meníngeos é, não raro, extremamente difícil, e a rigidez de nuca nem sempre está presente. Nessas circunstâncias, é de grande valor o exame da fontanela bregmática: abaulamento e/ou aumento de tensão da fontanela, aliados à febre, irritabilidade, gemência, inapetência e vômitos, induzem fortemente à suspeita clínica de meningite DIAGNÓSTICO – EXAME DO LÍQUOR: Esse procedimento deverá ser feito imediatamente, exceto: Quando o paciente apresentar sinais neurológicos focais e sinais evidentes de hipertensão intracraniana ou edema cerebral agudo. Crianças com insuficiência respiratória aguda ou hipotensão o posicionamento para a punção liquórica pode comprometer a ventilação e o Pediatria – Amanda Longo Louzada 3 MENINGITES BACTERIANAS NA PEDIATRIA débito cardíaco, portanto o procedimento deve ser adiado até que o paciente tenha se estabilizado. Em pacientes com trombocitopenia grave ou distúrbios da coagulação, também se deve adiar a punção até que tenha havido correção desses distúrbios. Infecção da pele (celulite ou abscessos) que recobre as vértebras lombares, fazendo com que a punção seja postergada. É importante ressaltar que qualquer motivo que adie a coleta do LCR jamais deve prorrogar a introdução da antibioticoterapia A terapêutica empírica deve ser iniciada sem demora, em todas as condições citadas Além da cultura e do exame bacterioscópico direto do LCR, deve-se sempre proceder à coleta de hemocultura antes de iniciar a terapêutica. A taxa de positividade em hemocultura pode em alguns estudos chegar a valores acima de 90% para meningites bacterianas causada por hemófilo, pneumococo e meningococo, respectivamente, sendo, portanto, exame de grande auxílio para o diagnóstico, mesmo em crianças que receberam antibióticos previamente (situação que provoca menores índices de positividade), destacando a importância da coleta desses exames. Punção Sentada: quando a fontanela não está tensa PRINCIPAIS E MAIS FREQUENTES ALTERAÇÕES LIQUÓRICAS: Aspecto: levemente turvo a francamente purulento. Porém, um líquor límpido não afasta a possibilidade de meningite purulenta. Exame citológico: tipicamente se encontra hipercelularidade, geralmente acima de 1.000/mm3, com predomínio (75-95%) de polimorfonucleares neutrófilos. Exames bioquímicos: Glicose: no LCR a glicose equivale a aproximadamente 2/3 da glicemia do indivíduo; sua determinação liquórica constitui um excelente dado auxiliar para a diferenciação entre meningites bacterianas e virais: nas primeiras observa-se sua queda, sempre para níveis inferiores a 30 mg%. Proteínas: a proteinorraquia encontra-se elevada (média: 100-200 mg/dL). Exame bacterioscópico direto, pelo método de Gram, consegue fazer o diagnóstico etiológico presuntivo em cerca de 2/3 dos casos de MB purulentas. A bacterioscopia em geral é positiva em elevado percentual das crianças com meningite por pneumococo, meningococo e por bacilos Gram-negativos. DIAGNÓSTICO ETIOLÓGICO: Cultura: tradicionalmente, o diagnóstico etiológico de certeza da MB é feito pela demonstração da bactéria no LCR, por meio de cultura; que é um exame obrigatório e imprescindível, mesmo naqueles casos com líquor límpido e cristalino. Detecção de antígenos bacterianos no LCR: a contraimunoeletroforese (CIE) e o teste do látex. Reação em cadeia de polimerase (PCR) para identificação do DNA bacteriano no LCR está sendo estabelecida na prática clínica, e tem sido cada vez mais frequente seu uso na investigação etiológica dos processos infecciosos do sistema nervoso central. LCR Bacteriano: Leucócitos > 1000, com predomínio de neutrófilos Glicose diminuída, < 30mg\100mL Proteínas aumentadas, > 100 – 150 Bacterisocopia Direta: positivas em mais de 85% dos casos Cultura positiva TRATAMENTO: HV: Nos pacientes sem sinais de desidratação que apresentarem manifestações sugestivas da síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético (hiponatremia, aumento da concentração de sódio urinário, diminuição da osmolaridade sérica que se torna menor do que a urinária), recomenda-se restrição de líquidos para 2/3 a 3/4 das necessidades diárias de água, controle do sódio plasmático, controle do volume e densidade urinários e das osmolaridades sérica e urinária Tratamento DHEAB Prevenção convulsões Prevenção HIC A hipertensão intracraniana é um componente importante das alterações fisiopatológicas da meningite. Além da elevação da cabeça, alguns recomendam o uso de manitol (0,5-2 g/kg) quando ocorrem sinais de hipertensão intracraniana grave (apneia, bradicardia, miose ou midríase). Intubação imediata com hiperventilação devem ser realizadas em caso de herniação cerebral. Pediatria – Amanda Longo Louzada 4 MENINGITES BACTERIANAS NA PEDIATRIA Crises convulsivas devem ser controladas com anticonvulsivantes habituais, como fenobarbital e fenitoína. CORTICOESTERÓIDES: A atenuação dessa resposta inflamatória (por meio do uso dos corticosteroides) poderia ser efetiva em diminuir várias das consequências fisiopatológicas da MB, como edema cerebral, aumento da pressão intracraniana, alteração do fluxo sanguíneo cerebral, vasculite cerebral e lesão neuronal, uma vez que são mediadas por expressão de citocinas inflamatórias. O uso da dexametasona, antes ou junto com a primeira dose do antibiótico, diminui, de forma significativa, a incidência de sequelas neurológicas e de deficiência auditiva na meningite por Hib. Recomenda-se o uso de dexametasona na dosagem de 0,15 mg/kg, por via IV, de 6/6 horas (0,6 mg/kg/dia) por 2 dias, para o tratamento de MB em crianças com idade superior a 6 semanas. ANTIBIOTICOTERAPIA: De maneira geral, o tratamento antimicrobiano inicial é empírico, pois o agente etiológico é desconhecido,. Tratamento empírico das meningites bacterianas comunitárias em crianças e adolescentes: 0 ≤ 60 dias: ampicilina (200-300 mg/kg/dia, dividida de 6/6 horas) + cefotaxima (200 mg/kg, dividida de 6/6 horas). Não usa ceftriaxona no tratamento, pois estudos mostram que causa colestase biliar Maiores de 2 meses: vancomicina (60 mg/kg dividida de 6 em 6 horas) + ceftriaxona (100 mg/kg, dividida de 12 em 12 horas). Em lactentes até 60 dias de idade: Associação da ampicilina com uma cefalosporina de terceira geração (cefotaxima). Nas meningites que ocorrem nos primeiros 2 meses de vida, outra opção é iniciar o tratamento com associação de ampicilina com um aminoglicosídeo – gentamicina ou amicacina. Quando o diagnóstico etiológico for estabelecido pela cultura do LCR, deve-se ajustar o esquema ou a droga, sendo que sua escolha estará na dependência do antibiograma. CONTROLE DO TRATAMENTO: Em pacientes com meningite bacteriana que apresentaram resposta adequada à antibioticoterapia, a coleta de LCR controle para averiguar esterilização e melhora dos parâmetros liquóricos não está indicada rotineiramente. O LCR de controle só deve ser realizado nas seguintes situações: Quando o paciente não apresentar resposta adequada após 48 horas de antibioticoterapia apropriada. Em lactentes menores de 2 meses; E pacientes com meningite por bacilos Gram- negativos. Em infecções causadas por pneumococos resistentes aos antibióticos beta-lactâmicos Duração do Tratamento: A duração da antibioticoterapia em pacientes com meningite bacteriana varia de acordo com o agente isolado e a resposta clínica. As recomendações serão individualizadas de acordo com a resposta clínica do paciente. Neisseria Meningitidis: 5 – 7 dias Streptococcus pneumoniar: 10 – 14 dias Hamoephilus infleunzae: 7 – 10 dias Streptococcus agalactie: 14 – 21 dias Bacilos gram-negativo: 21 dias Listeria monocytogenes: maior que 21 dias QUIMIOPROFILAXIA: A quimioprofilaxia está indicada na doença meningocócica e na meningite por Hib. Na doença meningocócica, a profilaxia está indicada para todos os contatos íntimos de pessoas com doença meningocócica invasiva durante os 7 dias que antecederam o início da doença no caso índice, independentemente do estado vacinal: todos os contatos domiciliares; contatos de casos ocorridos em creches, escolas maternais, jardins da infância; contato com as secreções orais do paciente através de beijo, respiração boca a boca, compartilhamento de escovas de dente e talheres, copos etc.; para passageiros de viagens aéreas ou não com duração igual ou superior a 8 horas que tenham compartilhado o assento ao lado do caso índice. Deve ser iniciada até 24 horas depois do contágio. A profilaxia administrada mais de 2 semanas após a exposição tem muito pouco valor. Droga empregada é a rifampicina,na dose de 10 mg/kg (máximo de 600 mg), de 12/12 horas, por 2 dias. Pediatria – Amanda Longo Louzada 5 MENINGITES BACTERIANAS NA PEDIATRIA Alternativamente, pode-se empregar o ceftriaxone na dose de 125 mg intramuscular, em dose única para menores de 15 anos e 250 mg, nos com 15 anos ou mais. A ciprofloxacina para adolescentes ≥ 18 anos, em dose única oral de 500 mg, e a azitromicina, na dose de 10 mg/kg, dose máxima de 500 mg, dose única, podem alternativamente ser empregadas em algumas situações. A profilaxia da infecção invasiva por Hib é feita para todos os contatos domiciliares íntimos, de qualquer idade, que coabitem ou convivam intimamente com o doente, e que tenham pelo menos um contato menor que 4 anos não vacinado ou parcialmente vacinado. Nas creches e escolas maternais, a profilaxia pode ser empregada quando dois ou mais casos de doença invasiva ocorreram em um intervalo de até 60 dias. Também é indicada para o doente em tratamento, caso não esteja recebendo cefalosporina de terceira geração. A quimioprofilaxia não está recomendada para contatos de pessoas com meningite ou doença invasiva causada por H. influenzae do tipo não b porque a doença secundária é rara. Deve-se finalmente assinalar que os doentes com doença meningocócica e meningite por Haemophilus influenzae devem ser internados sob precauções respiratórias para gotículas, durante as 24 horas iniciais da terapêutica antibiótica adequada.
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