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AULA 2 LEGISLAÇÃO TRIBUTÁRIA Prof. Silvano Alves Alcantara 2 CONVERSA INICIAL Nesta aula, estudaremos alguns institutos relacionados diretamente ao crédito tributário. Iniciaremos tratando da responsabilidade tributária, para conhecermos quem a lei define como responsável para pagar o tributo. Em seguida, abordaremos as causas de suspensão, de extinção e de exclusão do crédito tributário. Ao final, o foco do estudo será a competência e a capacidade tributária, em que saberemos quem são os entes tributantes competentes para instituir e exigir do contribuinte o pagamento do tributo. CONTEXTUALIZANDO Vamos analisar uma situação comum de nosso cotidiano: um empregado presta serviços ao empregador durante um mês inteiro e, ao final desse mês, ou até o quinto dia útil do mês seguinte, recebe seu salário. Pois bem, ao receber seu holerite, o empregado faz uma análise minuciosa para ver se está tudo certo e nota, no campo dos descontos, que está sendo deduzido um valor relativo à contribuição para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), como também outro valor referente ao Imposto de Renda Retido na Fonte (IRRF). Algumas dúvidas podem surgir a esse respeito: Esses descontos são previstos em lei? Trata-se de uma relação jurídico-tributária? Essas retenções referem-se a tributos? Se sim, quem é o contribuinte? Reflita um pouco, ao final desta aula, responda às questões com propriedade. TEMA 1 – RESPONSABILIDADE TRIBUTÁRIA Em um primeiro momento, podemos pensar que a responsabilidade tributária, principalmente aquela de pagar o tributo, é de quem o gerou, ou, mais propriamente, de que praticou o fato gerador. E nada mais correto, se assim pensarmos. 3 No entanto, às vezes, a legislação imputa esta obrigação a outrem, responsabilizando terceiros pelo efetivo pagamento do tributo. Assim dispõe o Código Tributário Nacional (CTN): Art. 128. Sem prejuízo do disposto neste capítulo, a lei pode atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação. Explicando esse dispositivo legal, Machado (2017, p.151) afirma: [...] no Direito Tributário a palavra responsabilidade em um sentido amplo e outro estrito [...]. Em sentido amplo, é a submissão de terminada pessoa, contribuinte ou não, ao direito do Fisco de exigir a prestação da obrigação tributária [...]. E, sentido estrito, é a submissão, em virtude de disposição legal expressa, de determinada pessoa que não é o contribuinte, mas está vinculada ao fato gerador da obrigação tributária, ao direito do Fisco de exigir a prestação respectiva. Portanto, nem sempre o sujeito passivo será aquele que teve contato direto com o fato gerador, chamado de contribuinte, mas sim alguém para quem a legislação transfere a obrigação de efetivamente pagar o tributo, denominado de responsável tributário, também conhecido, respectivamente, por sujeito passivo direto e sujeito passivo indireto. De acordo com a Lei n. 5.172/1966, a responsabilidade tributária pode ser por substituição e por transferência. Nos casos de responsabilidade por substituição, o responsável é denominado de substituto, e o contribuinte de substituído, de modo que, desde o nascimento do fato gerador, a lei já atribui ao substituto a obrigação de pagar o tributo. Uma das situações, entre várias, é verificada no Imposto de Renda, como determina o CTN: Art. 45. Contribuinte do imposto é o titular da disponibilidade a que se refere o artigo 43, sem prejuízo de atribuir a lei essa condição ao possuidor, a qualquer título, dos bens produtores de renda ou dos proventos tributáveis. Parágrafo único. A lei pode atribuir à fonte pagadora da renda ou dos proventos tributáveis a condição de responsável pelo imposto cuja retenção e recolhimento lhe caibam. Citamos como exemplo os casos dos tomadores de serviços, que são obrigados a reter a parcela do Imposto de Renda (IRRF), e dos prestadores de serviços, para posterior repasse ao Fisco. Sobre a substituição tributária, já decidiu o Egrégio Supremo Tribunal Federal (STF), em decisão assim ementada: 4 Ementa. DIREITO TRIBUTÁRIO. SUBSTITUIÇÃO TRIBUTÁRIA. RETENÇÃO DE 11% ART. 31 DA LEI 8.212/91, COM A REDAÇÃO DA LEI 9.711/98. CONSTITUCIONALIDADE. 1. Na substituição tributária, sempre teremos duas normas: a) a norma tributária impositiva, que estabelece a relação contributiva entre o contribuinte e o fisco; b) a norma de substituição tributária, que estabelece a relação de colaboração entre outra pessoa e o fisco, atribuindo-lhe o dever de recolher o tributo em lugar do contribuinte. 2. A validade do regime de substituição tributária depende da atenção a certos limites no que diz respeito a cada uma dessas relações jurídicas. Não se pode admitir que a substituição tributária resulte em transgressão às normas de competência tributária e ao princípio da capacidade contributiva, ofendendo os direitos do contribuinte, porquanto o contribuinte não é substituído no seu dever fundamental de pagar tributos. A par disso, há os limites à própria instituição do dever de colaboração que asseguram o terceiro substituto contra o arbítrio do legislador. A colaboração dele exigida deve guardar respeito aos princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, não se lhe podendo impor deveres inviáveis, excessivamente onerosos, desnecessários ou ineficazes. 3. Não há qualquer impedimento a que o legislador se valha de presunções para viabilizar a substituição tributária, desde que não lhes atribua caráter absoluto. 4. A retenção e recolhimento de 11% sobre o valor da nota fiscal é feita por conta do montante devido, não descaracterizando a contribuição sobre a folha de salários na medida em que a antecipação é em seguida compensada pelo contribuinte com os valores por ele apurados como efetivamente devidos forte na base de cálculo real. Ademais, resta assegurada a restituição de eventuais recolhimentos feitos a maior. 5. Inexistência de extrapolação da base econômica do art. 195, I, a, da Constituição, e de violação ao princípio da capacidade contributiva e à vedação do confisco, estampados nos arts. 145, § 1º, e 150, IV, da Constituição. Prejudicados os argumentos relativos à necessidade de lei complementar, esgrimidos com base no art. 195, § 4º, com a remissão que faz ao art. 154, I, da Constituição, porquanto não se trata de nova contribuição. 6. Recurso extraordinário a que se nega provimento. 7. Aos recursos sobrestados, que aguardavam a análise da matéria por este STF, aplica-se o art. 543-B, § 3º, do CPC. (Processo RE 603191 MT. Órgão Julgador: Tribunal Pleno. Relatora: Min. ELLEN GRACIE. Publicação: 05/09/2011). Nas situações de responsabilidade por transferência, pode-se encontrar a responsabilidade por solidariedade, a responsabilidade dos sucessores, bem como a responsabilidade de terceiros. 1.1 Responsabilidade por solidariedade Ser solidário nem sempre significa praticar o bem ou ser altruísta. Nos casos de responsabilidade solidária, entende-se que, a depender da situação, você pode ser chamado a pagar o tributo. Por solidariedade impor a CTN algumas responsabilidades: Art. 124. São solidariamente obrigadas: I - as pessoas que tenham interesse comum na situação que constitua o fato gerador da obrigação principal; II - as pessoas expressamente designadas por lei. 5 Parágrafo único. A solidariedade referida neste artigo não comporta benefício de ordem. Quando a responsabilidade é solidária, o Fisco pode exigir o tributo de quem lhe convier, de forma que não há, pois, uma ordem legal de responsáveis a ser cumprida.1.2 Responsabilidade dos sucessores A responsabilidade dos sucessores já é mais óbvia: Art. 131. São pessoalmente responsáveis: I - o adquirente ou remitente, pelos tributos relativos aos bens adquiridos ou remidos; II - o sucessor a qualquer título e o cônjuge meeiro, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da partilha ou adjudicação, limitada esta responsabilidade ao montante do quinhão do legado ou da meação; III - o espólio, pelos tributos devidos pelo de cujus até a data da abertura da sucessão. Art. 132. A pessoa jurídica de direito privado que resultar de fusão, transformação ou incorporação de outra ou em outra é responsável pelos tributos devidos até à data do ato pelas pessoas jurídicas de direito privado fusionadas, transformadas ou incorporadas. Parágrafo único. O disposto neste artigo aplica-se aos casos de extinção de pessoas jurídicas de direito privado, quando a exploração da respectiva atividade seja continuada por qualquer sócio remanescente, ou seu espólio, sob a mesma ou outra razão social, ou sob firma individual. Art. 133. A pessoa natural ou jurídica de direito privado que adquirir de outra, por qualquer título, fundo de comércio ou estabelecimento comercial, industrial ou profissional, e continuar a respectiva exploração, sob a mesma ou outra razão social ou sob firma ou nome individual, responde pelos tributos, relativos ao fundo ou estabelecimento adquirido, devidos até à data do ato: I - integralmente, se o alienante cessar a exploração do comércio, indústria ou atividade; II - subsidiariamente com o alienante, se este prosseguir na exploração ou iniciar dentro de seis meses a contar da data da alienação, nova atividade no mesmo ou em outro ramo de comércio, indústria ou profissão. Cada uma das situações deve ser analisada pontualmente, pois pode o responsável responder integral ou subsidiariamente. 1.3 Responsabilidade de terceiros Aqui, a legislação imputa a terceiros, responsabilidade solidária em algumas situações: Art. 134. Nos casos de impossibilidade de exigência do cumprimento da obrigação principal pelo contribuinte, respondem solidariamente com este nos atos em que intervierem ou pelas omissões de que forem responsáveis: I - os pais, pelos tributos devidos por seus filhos menores; 6 II - os tutores e curadores, pelos tributos devidos por seus tutelados ou curatelados; III - os administradores de bens de terceiros, pelos tributos devidos por estes; IV - o inventariante, pelos tributos devidos pelo espólio; V - o síndico e o comissário, pelos tributos devidos pela massa falida ou pelo concordatário; VI - os tabeliães, escrivães e demais serventuários de ofício, pelos tributos devidos sobre os atos praticados por eles, ou perante eles, em razão do seu ofício; VII - os sócios, no caso de liquidação de sociedade de pessoas. Parágrafo único. O disposto neste artigo só se aplica, em matéria de penalidades, às de caráter moratório. Art. 135. São pessoalmente responsáveis pelos créditos correspondentes a obrigações tributárias resultantes de atos praticados com excesso de poderes ou infração de lei, contrato social ou estatutos: I - as pessoas referidas no artigo anterior; II - os mandatários, prepostos e empregados; III - os diretores, gerentes ou representantes de pessoas jurídicas de direito privado. Após tudo o que trouxemos sobre a responsabilidade tributária, podemos deduzir que a legislação tributária garante ao Fisco inúmeras possibilidades de ver satisfeito o seu crédito tributário, direta ou indiretamente, pois ora atribui esta obrigação ao contribuinte, ora ao responsável tributário. TEMA 2 – SUSPENSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO O crédito tributário já foi constituído, no entanto, em algumas situações, sua exigibilidade fica suspensa. Art. 151. Suspendem a exigibilidade do crédito tributário: I - moratória; II - o depósito do seu montante integral; III - as reclamações e os recursos, nos termos das leis reguladoras do processo tributário administrativo; IV - a concessão de medida liminar em mandado de segurança. V – a concessão de medida liminar ou de tutela antecipada, em outras espécies de ação judicial; VI – o parcelamento. Será que esta suspensão pode durar muito tempo? Ensina Harada (2018, p. 374) que “[...] a suspensão da exigibilidade do crédito tributário é sempre de natureza temporária. A suspensão não importa na desconstituição do crédito tributário, que continua intacto desde sua constituição definitiva pelo lançamento, notificado ao sujeito passivo”. O CTN dispõe em alguns artigos sobre a moratória, mas “se esquece” de explicar as demais causas de suspensão do crédito tributário. Sobre ela – a moratória –, determina o artigo 152 que pode ser concedida em caráter geral e em caráter individual. 7 Mas o que vem a ser a moratória? Sabbag (2016, p.847) explica que: Conquanto o CTN não conceitue o instituto, é possível afirmar que a moratória é uma dilatação legal de pagamento de tributos, submetendo- se, portanto, ao princípio da estrita legalidade (art.97, VI, CTN). Com efeito, a moratória consiste num acordo entre o credor e devedor, regido pelo indigitado postulado. Nessa medida, “não implica contestação do direito do credor; pode ela originar-se de ‘dificuldade de pagamento’ [...] ou mesmo de uma momentânea impossibilidade de cumprimento da obrigação. (Grifos no original). Moratória nada mais é, portanto, do que a dilação do prazo originário para o pagamento da dívida. É uma postergação, ou seja, o Fisco concede um tempo maior para o contribuinte pagar o seu tributo. Abordando as demais situações de suspensão do crédito tributário em relação ao depósito no montante integral, é possível verificar quando o contribuinte não concorda com o valor que está sendo cobrando pelo Fisco e deseja discuti-lo, administrativa ou judicialmente, mas não quer correr o risco de, ao ver seu pleito ter um resultado negativo, ser obrigado a pagar o tributo devido com todos os acréscimos legais. Normalmente, esta prática é feita quando a discussão acontecer na esfera judicial, pois, na seara administrativa, existe também uma causa de suspensão, a qual veremos a seguir. Ao fazer o depósito do valor total da dívida tributária, exige-se o pagamento desses acréscimos. Ainda, se for perdedor na demanda que intentar, o Fisco fica autorizado a levantar os valores depositados, quitando o crédito tributário. E, claro, se o resultado por positivo ao contribuinte, este terá o direito de sacar os valores depositados, com as devidas atualizações monetárias. As reclamações e os recursos acontecem no processo administrativo fiscal. Enquanto perdurarem as discussões administrativas acerca do tributo, o Fisco não pode exigi-lo do contribuinte. Explicando melhor as reclamações e os recursos, Sabbag (2016, p.859) afirma: A reclamação, também chamada de impugnação ou defesa, é o petitório endereçado às seções de julgamento, ocupadas por servidores que representam, com exclusividade, o Fisco. O termo “recurso”, por sua vez, refere-se ao petitório por meio do qual se possibilita a obtenção de um “rejulgamento” da decisão prolatada na “primeira instancia” administrativa, direcionando-se a decisão recorrida para um órgão colegiado, ocupado por representantes do Fisco e do contribuinte. (Grifos no original). 8 A única ressalva que se faz nessas situações é que se o resultado da discussão administrativa for desfavorável ao contribuinte, o Fisco passa a exigir o crédito tributário com todos os acréscimos legais. Outras duas possibilidades de suspensão da exigibilidade do crédito tributário são as concessões de medidas liminares em processos judiciais, incluindo-se o Mandado de Segurança. Medida liminar é um requerimento que se faz ao juízo, demonstrando os requisitos legais para sua concessão, para que seja assegurado esse direito ao contribuinte,mesmo antes de ser proferida a decisão final do processo, que pode levar um tempo muito grande. E, por derradeiro, o parcelamento. O parcelamento pode advir de programas pré-estabelecidos pelo Poder Público, como também ser concedido particularmente ao contribuinte, a depender do caso e da situação. Amaro (2017, p. 378) esclarece que “presente uma causa de suspensão da exigibilidade do crédito tributário, fica, portanto, o sujeito ativo impedido de exercitar atos de cobrança”. Em outras palavras, em todas as situações previstas em lei, em que haja a suspensão da exigibilidade do crédito tributário, fica, por conseguinte, proibido ao Fisco a cobrança por sua dívida enquanto perdurar a causa de suspensão. TEMA 3 – EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO O crédito tributário já existe, mas, por algum motivo, ele pode ser extinto. Certamente, a forma mais comum de extinção do crédito tributário é o pagamento, mas existem outras maneiras de extingui-lo. Determina o Código Tributário Nacional: Art. 156. Extinguem o crédito tributário: I - o pagamento; II - a compensação; III - a transação; IV - remissão; V - a prescrição e a decadência; VI - a conversão de depósito em renda; VII - o pagamento antecipado e a homologação do lançamento nos termos do disposto no artigo 150 e seus §§ 1º e 4º; VIII - a consignação em pagamento, nos termos do disposto no § 2º do artigo 164; IX - a decisão administrativa irreformável, assim entendida a definitiva na órbita administrativa, que não mais possa ser objeto de ação anulatória; X - a decisão judicial passada em julgado. 9 XI – a dação em pagamento em bens imóveis, na forma e condições estabelecidas em lei. Parágrafo único. A lei disporá quanto aos efeitos da extinção total ou parcial do crédito sobre a ulterior verificação da irregularidade da sua constituição, observado o disposto nos artigos 144 e 149. A prescrição e a decadência já foram abordadas em outro momento de nossas aulas, mas, como é de vital importância que você as entenda, colhem-se outros entendimentos doutrinários para sustentar o que já dissemos, e, a seguir, estudaremos outras formas de extinção do crédito tributário. Sobre a prescrição como forma de extinção do crédito tributário, Ferreira (2014, p. 899) nos diz: O critério material da hipótese prescricional é a inercia absoluta do sujeito ativo da relação jurídica de custeio por determinado período previsto em lei. O comportamento humano, no caso, é manter-se inerte durante o tempo legalmente fixado. Todavia, a prescrição somente ocorrerá se, cumulativamente à inercia do titular do direito, ocorrer o exaurimento integral do tempo fixado na lei. Já, a respeito da decadência, discorre Brito (2014, p. 918): [...] a decadência consiste em um prazo legal extintivo do direito, pelo seu simples decurso e, fixado quando a norma deu nascimento a esse direito. Portanto, o direito nasce com prazo pré-fixado para ser gozado; se tal não acontece ele se exaure, automaticamente, no seu termo final. Decadência é prazo extintivo de direito subjetivo em razão da inercia do seu titular em exercê-lo no tempo assinado. É possível que o contribuinte seja devedor e credor do Fisco ao mesmo tempo. Nesses casos, ele pode compensar o valor que tem de crédito pelo valor que tem a pagar, extinguindo o crédito tributário, parcial ou totalmente. Sobre a compensação, determina o CTN: Art. 170. A lei pode, nas condições e sob as garantias que estipular, ou cuja estipulação em cada caso atribuir à autoridade administrativa, autorizar a compensação de créditos tributários com créditos líquidos e certos, vencidos ou vincendos, do sujeito passivo contra a Fazenda pública. Parágrafo único. Sendo vincendo o crédito do sujeito passivo, a lei determinará, para os efeitos deste artigo, a apuração do seu montante, não podendo, porém, cominar redução maior que a correspondente ao juro de 1% (um por cento) ao mês pelo tempo a decorrer entre a data da compensação e a do vencimento. Nos casos de extinção do crédito tributário por meio de compensação, já decidiu o Tribunal Regional Federal da 4ª Região que a multa de mora não pode ser excluída: Ementa. TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. DENÚNCIA ESPONTÂNEA. EXTINÇÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO MEDIANTE COMPENSAÇÃO. INAPLICABILIDADE DO ARTIGO 138 DO CTN. 10 1. O artigo 138 do Código Tributário Nacional expressamente refere-se a "pagamento do tributo devido e dos juros de mora", devendo ser interpretado literal e restritivamente, porquanto se trata de benefício fiscal. 2. O "pagamento" e a "compensação" são institutos distintos, consistindo em espécies do gênero "modalidades de extinção do crédito tributário" taxativamente previstas no artigo 156 do CTN. 3. Impossibilidade de exclusão da multa de mora quanto à extinção do crédito tributário se deu mediante compensação, mesmo que informada antes ainda de qualquer procedimento fiscalizatório ou de cobrança. 4. Precedentes do STJ. (Processo: 5000197-62.2017.4.04.7003 UF: PR. Data da Decisão: 26/03/2018. Órgão Julgador: SEGUNDA TURMA. Relator: SEBASTIÃO OGÊ MUNIZ). A transação também é possível. Disposta no art. 171 do CTN, acontece quando os sujeitos ativo e passivo fazem um acordo para a extinção do crédito tributário. A remissão é o perdão por parte do Fisco dos débitos tributários do sujeito passivo. Pode ser parcial ou total, a depender da situação, conforme previsão do art. 172, CTN. Incitamos você a procurar e estudar as demais formas de extinção do crédito tributário no material sugerido. Vale deixar claro que todas estas causas de extinção do crédito tributário devem, obrigatoriamente, estar previstas em lei. TEMA 4 – EXCLUSÃO DO CRÉDITO TRIBUTÁRIO Diferentemente das causas de extinção do crédito tributário, estão as possibilidades de exclusão. Sabbag (2016, p. 895) explica que: “A exclusão do crédito tributário, por meio da isenção e anistia, consiste na inviabilidade de sua constituição, ou seja, são situações em que, mesmo ocorrido o fato gerador e a obrigação tributária, não haverá lançamento e, consequentemente, não haverá o crédito tributário.” Informa o CTN: Art. 175. Excluem o crédito tributário: I - a isenção; II - a anistia. Parágrafo único. A exclusão do crédito tributário não dispensa o cumprimento das obrigações acessórias dependentes da obrigação principal cujo crédito seja excluído, ou dela consequente. Portanto, são duas as formas de exclusão do crédito tributário. A isenção é tida como uma hipótese de não incidência tributária, qualificada pela lei e, é claro, somente o ente tributário competente para criar ou tributar é que pode isentá-lo. 11 Nesse sentido, existe a disposição da constituição do art.150, que também se refere à anistia: § 6º Qualquer subsídio ou isenção, redução de base de cálculo, concessão de crédito presumido, anistia ou remissão, relativos a impostos, taxas ou contribuições, só poderá ser concedido mediante lei específica, federal, estadual ou municipal, que regule exclusivamente as matérias acima enumeradas ou o correspondente tributo ou contribuição, sem prejuízo do disposto no art. 155, § 2.º, XII, g. Portanto, a isenção é a extinção do próprio tributo, pois a lei não permite incidi-lo. Por sua vez, a anistia diz respeito às penalidades, é a determinação do CTN: “Art. 180. A anistia abrange exclusivamente as infrações cometidas anteriormente à vigência da lei que a concede”. Explicando muito bem a anistia, está a decisão do Egrégio Tributal de Justiça do Rio de Janeiro: AGRAVO DE INSTRUMENTO INTERPOSTO PELO ESTADO DO RIO DE JANEIRO CONTRA DECISÃO PROFERIDA EM AÇÃO DE EXECUÇÃO FISCAL POR ELE PROPOSTA EM FACE DO ESPÓLIO EXECUTADO, PARA A COBRANÇA DE DÉBITOS DE ITCMD, CONSIGNADO NA CERTIDÃO DE DÍVIDA ATIVA (CDA) Nº 2011.055.855-6, NO VALOR TOTAL DE R$ 68.444,14 (FLS. 28 - ÍNDICE 000026, ANEXO 1 ¿ FLS.28). O ESTADO DO RIO DE JANEIRO PRETENDE SEJA REFORMADA A DECISÃO QUE DEFERIU A EXPEDIÇÃO DE MANDADO DE LEVANTAMENTO A SEU FAVOR NO VALOR DE R$ 36.246,97, PARA PAGAMENTO DO DÉBITO DE ITD, EIS QUE TAL DECISÃO CONSIDEROU OS DESCONTOS DADOS AO EXECUTADO EM RAZÃO DOS BENEFÍCIOS DA ANISTIA CONCEDIDOS PELA LEGISLAÇÃO ESTADUAL, LEI 7.116/2016. [...]. ASSISTE RAZÃO AO ESTADO DO RIO DE JANEIRO, POIS A DECISÃO PERMITIU QUE O EXECUTADO USUFRUISSE DA REDUÇÃO DE 100% DOS JUROS DE MORA E DE 100% DA MULTA SEM QUE ATENDIDOS OS PRESSUPOSTOS DA LEI 7116/2015 PARA CONCESSÃO DAQUELES BENEFÍCIOS. [...] O PRAZO CONCEDIDO PARA O PAGAMENTO COM OS BENEFÍCIOS DA ANISTIA FOI CONFERIDO POR PRAZO CERTO, O QUAL JÁ SE ENCONTRAVA ESGOTADO (§5º - O programa instituído por esta Lei terá duração até a data de 18 de dezembro de 2015, podendo ser prorrogado uma única vez, por até 4(quatro) meses, por ato do Poder Executivo). ADEMAIS, A REFERIDA DECISÃO DEIXOU DE OBSERVAR A VEDAÇÃO CONTIDA NA REGRA DO ART. 12, IN VERBIS: Os depósitos judiciais e demais garantias judiciais vinculados aos débitos a serem pagos ou parcelados não poderão ser utilizados para fruição dos benefícios desta Lei, podendo ser levantados pela parte após a liquidação da dívida.).[...]. A ANISTIA É A DISPENSA, QUE DEVE SER CONCEDIDA POR LEI, DE PENALIDADE (MULTA) POR AUSÊNCIA DE RECOLHIMENTO DE TRIBUTO, MAS O TRIBUTO CONTINUA SENDO DEVIDO. OUTROSSIM, É COMANDO EXPRESSO CONTIDO NO ART. 150, § 6º, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, QUE A CONCESSÃO DE QUALQUER TIPO DE REMISSÃO TRIBUTÁRIA DE QUALQUER IMPOSTO, SOMENTE É POSSÍVEL MEDIANTE LEI ESPECÍFICA AUTORIZADA PELO PODER LEGISLATIVO, QUE REGULE EXCLUSIVAMENTE A MATÉRIA. [...] PROVIMENTO DO AGRAVO PARA QUE O ESPÓLIO EXECUTADO NÃO EFETUE O 12 PAGAMENTO DO DÉBITO EXEQUENDO COM OS BENEFÍCIOS DA ANISTIA CONCEDIDOS PELA LEGISLAÇÃO ESTADUAL, FICANDO A CARGO DO JUÍZO DE ORIGEM A ANÁLISE SOBRE EVENTUAL EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO FISCAL, A FIM DE EVITAR SUPRESSÃO DE INSTÂNCIA. (Processo: 0028816-94.2017.8.19.0000 - AGRAVO DE INSTRUMENTO. Relator: Des. JUAREZ FERNANDES FOLHES. Julgamento: 08/08/2017 - DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL). É importante realçar que, baseada no princípio da irretroatividade tributária, que será visto em momento oportuno de nossas aulas, a lei tributária não pode retroagir, mas, para anistiar as penalidades impostas anteriormente, pode. Sabbag (2016, p.913) explica que “A anistia é uma causa de exclusão do crédito tributário, consistente no perdão legal das penalidades pecuniárias antes da ocorrência do lançamento da multa. Com efeito, a anistia é o perdão de infrações, do que decorre a inaplicabilidade da sanção”. TEMA 5 – COMPETÊNCIA E CAPACIDADE TRIBUTÁRIA 5.1 Competência tributária A competência tributária é um poder dado pela Constituição Federal para que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios possam legislar em matéria tributária. No mesmo sentido, confirma o Código Tributário Nacional no art. 6º, determinando, no artigo seguinte, que esta competência não pode ser delegada. Art. 6º A atribuição constitucional de competência tributária compreende a competência legislativa plena, ressalvadas as limitações contidas na Constituição Federal, nas Constituições dos Estados e nas Leis Orgânicas do Distrito Federal e dos Municípios, e observado o disposto nesta Lei. [...] Art. 7º A competência tributária é indelegável, [...]. Assim sendo, a competência legislativa plena dá todos os poderes para que o ente tributante portador dessa competência possa instituir, aumentar e/ou diminuir, modificar, exigir e extinguir o tributo que estiver na esfera de suas atribuições. A competência tributária pode ser classificada de diferentes maneiras. 5.2 Competência privativa 13 Ao determinar a competência privativa, a Carta Magna indica aos entes tributantes o que cada um deles pode legislar em relação tão somente aos impostos. Informa à União, no art. 153, os impostos de sua competência, aos Estados e ao Distrito Federal, no art. 155, e aos Municípios, no art. 156. Cada um dos impostos descritos nos artigos acima serão estudados ao longo de nossas aulas. 5.3 Competência comum A competência comum diz respeito às taxas e às contribuições de melhoria, outras espécies tributárias. Se é comum, todos os entes tributantes podem criar taxas e contribuições nas esferas de suas atribuições, é a letra do art. 145, II e III da CF/1988. Sabbag (2016, p. 394) explica que: “Assim, a competência comum indica que, “de modo comum”, União, Estados, Municípios ou Distrito Federal, poderão ser os sujeitos ativos das taxas ou contribuições de melhoria, desde realizem os fatos geradores de tais gravames contraprestacionais” (Grifos no original). Para Torres (2013, p. 364), a competência comum também se relaciona com as contribuições previdenciárias dos servidores públicos previstas no art. 149, § 1º da CF/1988. 5.4 Competência residual A CF/1988, ainda, confere à União a prerrogativa de criar alguns impostos de maneira residual, dispostos nos art. 154, I e 195, §4º: Art. 154. A União poderá instituir: I - mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição; Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: [...] § 4º - A lei poderá instituir outras fontes destinadas a garantir a manutenção ou expansão da seguridade social, obedecido o disposto no art. 154, I. Salienta-se que esta competência é destinada somente à União, e que, para exercê-la, deve ser por meio de lei complementar, bem como que o tributo a 14 ser criado não pode ser cumulativo nem apresentar fato gerador ou base de cálculo de outros dispostos pela Constituição. 5.5 Competência extraordinária Também o art. 154, II da Lei Fundamental, confia à União outra competência tributária, feita para que, extraordinariamente, nos casos de guerra externa ou mesmo em sua iminência, possa instituir impostos, dentro ou não de sua competência tributária, mas que devem ser extintos, suprimidos, gradualmente, de acordo com o cessar de suas causas. 5.6 Capacidade tributária A capacidade tributária é o poder conferido pela lei para que as pessoas possam integrar a relação jurídica tributária. Como a relação tributária é composta pelos sujeitos ativo e passivo, e para melhor entendermos a capacidade tributário, dividimo-la em capacidade ativa e capacidade passiva. 5.6.1 Capacidade tributária ativa A capacidade tributária ativa é o poder conferido pela lei para que o sujeito ativo possa exigir do contribuinte o pagamento do tributo. Esse poder é dado ao Estado e é imanente à competência tributária, mas, diferentemente dela, pode ser delegado. É o que diz o CTN: Art. 7º A competência tributária é indelegável, salvo atribuição das funções de arrecadar ou fiscalizar tributos, ou de executar leis, serviços, atos ou decisões administrativas em matéria tributária, conferida por uma pessoa jurídica de direito público a outra, nos termos do §3º do artigo 18 da Constituição. Art. 119. Sujeito ativo da obrigação é a pessoa jurídica de direito público, titular da competência para exigir o seu cumprimento. Tais dispositivos afirmam que a capacidade tributária ativa pode ser delegada às pessoas jurídicas de direito público. Na mesma esteira, o parágrafo 3° do mesmo art. 7º determina que também as pessoas jurídicas de direito privado podem ter a função de arrecadar os tributos ao afirmar que: “Não constitui delegação de competência o cometimento, a pessoas de direito privado, do encargo ou da função de arrecadar tributos”.15 Nesse sentido, deixamos um exemplo de Alcantara e Veneral (2017, p. 166): “Em outras situações, essa pessoa poderá, além de arrecadar, apropriar-se do produto arrecadado e permanecer com a arrecadação, como é o caso das contribuições parafiscais arrecadadas pelos conselhos regionais representativos de categorias profissionais”. 5.6.2 Capacidade tributária passiva Como você já sabe, na relação tributária, há dois sujeitos, o ativo e o passivo. Se a capacidade tributária ativa é do sujeito ativo, logicamente, a capacidade tributária passiva cabe ao sujeito passivo. É a determinação legal para que determinadas pessoas possam participar da relação jurídico-tributária na condição de sujeito passivo. Art. 126. A capacidade tributária passiva independe: I - da capacidade civil das pessoas naturais; II - de achar-se a pessoa natural sujeita a medidas que importem privação ou limitação do exercício de atividades civis, comerciais ou profissionais, ou da administração direta de seus bens ou negócios; III - de estar a pessoa jurídica regularmente constituída, bastando que configure uma unidade econômica ou profissional. Assim, a capacidade tributária passiva independe da capacidade civil da pessoa física, como também, e no caso da pessoa jurídica, estará presente, mesmo que não tenha sido constituída legalmente. FINALIZANDO A maioria dos conteúdos desta aula está relacionada intimamente ao crédito tributário. De início, falamos sobre a responsabilidade tributária e, agora, já sabemos quem é obrigado pela lei a recolher o tributo aos cofres públicos. Estudamos também as causas de suspensão do crédito tributário, quando, mesmo já tendo sido constituído, o Fisco não pode exigi-lo do contribuinte. Vimos também algumas causas de extinção do crédito tributário, de modo que a mais comum é o seu pagamento. Em outros momentos, estudamos os motivos de exclusão do crédito tributário e os institutos da competência e da capacidade tributária. LEITURA OBRIGATÓRIA 16 Texto de abordagem teórica HACK, E. Direito tributário brasileiro. Curitiba: InterSaberes, 2015. Leitura do capítulo 3.5. Texto de abordagem prática Benefícios fiscais Disponível em: <http://idg.receita.fazenda.gov.br/orientacao/tributaria/isencoes>. Acesso em: 9 jul. 2018. Saiba mais Código tributário – Art. 156 a 174 – Extinção do credito tributário Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=X_fb8VsY2dE>. Acesso em: 9 jul. 2018. 17 REFERÊNCIAS ALCANTARA, S. A.; VENERAL, D. Direito aplicado. 2. ed. Curitiba: InterSaberes, 2017. AMARO, L. Direito tributário brasileiro. 22. ed. São Paulo: Saraiva, 2017. BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 9 jul. 2018. _____. Lei n. 5.172, de 25 de outubro de 1966. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 31 out. 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172.htm>. Acesso em: 9 jul. 2018. BRITO, E. Direito tributário. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. FERREIRA, D. Direito tributário. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2014. HARADA, K. Direito financeiro e tributário. 27. ed. São Paulo: Atlas, 2018. MACHADO, H. B. Curso de direito tributário. 38. ed. São Paulo: Malheiros, 2017. SABBAG, E. Manual de direito tributário. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2016. TORRES R. L. Curso de direito financeiro e tributário. 19. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2013.
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