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Geovana Sanches, XXIX SEMIOLOGIA DO SISTEMA CARDIOVASCULAR O sistema cardiovascular é composto pelo coração, que bombeia o sangue para o resto do organismo, pelo sangue, constituído por plasma e elementos figurados, e vasos sanguíneos, onde ocorrem as trocas metabólicas. As principais funções do sistema cardiovascular são: 1. Transporte de oxigênio e nutrientes às células de todo o organismo; 2. Remoção dos resíduos celulares; 3. Comunicação entre os diversos órgãos, a partir da troca de hormônios e reações neuro- hormonais. Essas funções cursam com a homeostase do sistema cardiovascular e, consequentemente, do organismo. ANATOMIA O coração é a principal estrutura do mediastino médio. Ele pode ser dividido entre os lados direito e esquerdo, os quais são delimitados por um septo longitudinal oblíquo. Cada uma das metades apresenta duas câmeras: um átrio e um ventrículo. Os átrios recebem o sangue das veias (V. cava superior e inferior, Vv. Pulmonares) e os ventrículos impulsionam o sangue para o interior das artérias (A. aorta e A. pulmonar). A base do coração é formada pelos átrios, os quais encontram-se atrás e acima dos ventrículos quando o paciente está em posição anatômica. O átrio esquerdo é a estrutura mais posterior e mais a esquerda; o átrio direito é anterior a ele. O ápice do coração representa a “ponta” do coração e é formado pelo ventrículo esquerdo. Essa região é de extrema importância para a semiologia, tendo em vista que identificamos nessa região o choque de ponta, cuja posição normal se encontra entre o 4º e o 6º espaço intercostal (EI), na linha hemiclavicular esquerda. Faces Face esternocostal: é formada principalmente pelo ventrículo direito, sendo a parte mais anterior do coração. Em casos de cardiopatia, por exemplo, o aumento do ventrículo direito pode provocar abaulamento da face anterior do tórax, principalmente em crianças, nas quais a caixa torácica ainda não é muito rígida. Face pulmonar: é a face esquerda do coração. É composta pelo ventrículo esquerdo, o qual faz uma impressão cardíaca na face medial do pulmão esquerdo. Face diafragmática ou ínfero-dorsal: é formada pelos dois ventrículos, os quais repousam sobre o centro tendíneo do diafragma. Folhetos cardíacos Pericárdio O pericárdio (ou epicárdio) apresenta duas faces. A lâmina visceral está em contato com o coração, sendo uma camada serosa de tecido conjuntivo e onde frequentemente há deposição de tecido adiposo. As artérias coronárias, antes de adentrarem ao miocárdio, passam por essa camada. A lâmina parietal, por sua vez, é a camada mais externa, em contato com a caixa torácica. É uma formação fibrosa, resistente e pouco elástica. Em pacientes normais, entre os dois pericárdios é encontrado uma quantidade de líquido (entre de 10 e 20ml) que auxilia o deslizamento entre as duas lâminas do pericárdio. Quando ocorre um acúmulo desse líquido de maneira rápida ou em grande quantidade, temos o derrame pericárdico, situação que impede o coração de realizar a diástole corretamente, influenciando a hemodinâmica. Em situações de derrame pericárdico, portanto, o coração perde a capacidade adequada de bombeamento, podendo levar ao choque. Miocárdio O miocárdio é a camada central do coração, constituído por fibras musculares cardíacas sustentadas por um esqueleto de tecido conjuntivo. A espessura do tecido muscular é proporcional a força que câmera exerce: o ventrículo esquerdo bombeia sangue para a circulação sistêmica e, portanto, necessita de mais força, tendo a camada muscular mais espessa; por outro lado, o ventrículo direito bombeia sangue para a circulação pulmonar e, sendo assim, Geovana Sanches, XXIX apresenta menor camada muscular (é menos espesso). Endocárdio O endocárdio é a camada que recobre a porção interna do coração. É formado por tecido endotelial, deixando-o com um aspecto liso. CICLO CARDÍACO O ciclo cardíaco é o período compreendido entre o início de um batimento cardíaco e o início do batimento subsequente. É composto pela sístole (contração) e pela diástole (relaxamento). Diástole A diástole é a fase em que os ventrículos se enchem de sangue, preparando-se para a sístole. O VE recebe sangue oxigenado pela veia pulmonar, a partir da circulação pulmonar; o VD recebe sangue não oxigenado pela veia cava, a partir da circulação sistêmica. Sequência de eventos da diástole 1. Fechamento da valva aórtica: o fechamento da valva aórtica é essencial para o enchimento do ventrículo esquerdo, pois impede que o VE escoe sangue para a Aorta. Esse fechamento se dá por uma diferença de pressão entre a artéria e o ventrículo, tendo em vista que o VE se encontra “vazio” e, consequentemente, com menor pressão que a Aorta. O mesmo ocorre com o ventrículo direito e a valva pulmonar. 2. Relaxamento isovolumétrico: há relaxamento da musculatura do ventrículo esquerdo, porém sem alteração de seu volume. Em consequência da diferença de pressão entre AE e VE (PAE > PVE), há abertura da valva mitral, permitindo que o sangue passe do átrio para o ventrículo esquerdo. Concomitantemente, há abertura da valva tricúspide na câmara direita do coração, pois PAD é maior que PVD. 3. Enchimento ventricular rápido 4. Enchimento ventricular lento: a partir da diminuição da diferença de pressão entre o átrio e o ventrículo, o enchimento passa a ser mais lento. 5. Contração atrial: corresponde a 25% do enchimento dos ventrículos. Sístole A partir do enchimento ventricular, o sangue deverá ser distribuído para a circulação sistêmica, o que ocorrerá durante a sístole. Sequência de eventos da sístole 1. Fechamento da valva mitral: inicialmente, é necessário o fechamento da valva mitral para que não haja retorno sanguíneo ao átrio esquerdo. Esse fechamento ocorre, pois, a pressão no ventrículo esquerdo encontra-se maior que a do átrio esquerdo. O mesmo ocorre com a valva tricúspide e a câmara cardíaca direita. 2. Contração isovolumétrica: estando a valva aórtica e a mitral fechadas, há uma pressão muito grande no ventrículo esquerdo, ocasionando uma contração. Quando a pressão do ventrículo se torna maior que a pressão na Aorta, ocorre a abertura da valva aórtica. O mesmo ocorre na câmara direita do coração, em que PVD é maior que a PAP 3. Ejeção ventricular rápida: com a grande diferença de pressão entre o VE e a aorta, temos a ejeção ventricular rápida, responsável por bombear cerca de 70% do volume sanguíneo contido no ventrículo. 4. Ejeção ventricular lenta: com a diminuição da diferença de pressão entre a Aorta e o ventrículo esquerdo, a ejeção torna-se mais lenta. É responsável pelo bombeamento de cerca de 30% do volume sanguíneo contido no ventrículo. ANAMNESE: PRINCIPAIS QUEIXAS Dor torácica A dor torácica nem sempre é uma dor de origem cardíaca. Alguns dos locais que podem ocasioná-la são: Musculoesquelética / óssea Tumores ósseos, academia, síndromes gripais Esôfago Refluxo, espasmo esofágico Geovana Sanches, XXIX Estômago / abdominal Gastrite, duodenite, jejum / alimentação Pericárdio Pericardite Aorta Dissecção, aneurismo Pulmão Trauma, PNTX, derrame pleural Pleura Pleurite Mediastino Mediastinite Para a semiologia cardiovascular, quatro tipos de dores torácicas são as mais importantes: dor cardíaca isquêmica, dor pericárdica, dor aóstica e dor psicogênica. Dor cardíaca isquêmica Patogênese: a isquemia é caracterizada pelo desequilíbrio entre a perfusão sanguínea e as necessidades de oxigênio e nutrientes do miocárdio. A partir da hiplóxia celular, por desequilíbrio entre a oferta e o consumo de oxigênio, desencadeia-se a dor cardíaca isquêmica. O exemplo mais comum em que pode ocorrer dor cardíaca isquêmica é na aterosclerose coronariana. A dor é causada pelas terminações nervosas da adventícia da artéria e do próprio músculocardíaco. Localização: é uma dor retroesternal, frequentemente mais à esquerda da linha esternal. Normalmente ocupa toda a região pré- cordial, não sendo muito limitada. Tipo: em aperto, em opressão, em peso (“elefante em cima do peito”), em queimação ou sufocação. O paciente costuma levar a mão fechada ao peito ou a palma da mão aberta, o que é denominado sinal de Levine. Dificilmente é uma dor que será apontada pelo dedo, tendo em vista que não é muito bem localizada. Intensidade: o grau depende da quantidade de tecido aferrado, variando entre leve, moderada e intensa. A piora pode ocorrer com pequenos movimentos, de forma que os pacientes tendem a ficar o mais quietos possível. Duração: à Angina estável: entre 2 e 3 minutos. A angina estável costuma durar por menos tempo, pois decorre de uma hipóxia do miocárdio, sem necrose do músculo cardíaco. à Angina instável: dura cerca de 20 minutos e ocorre independente do exercício físico. Ela costuma se apresentar como uma dor mais prolongada, pois nesse caso já existem algumas alterações histológicas. à IAM: a duração é maior que 20 minutos, podendo durar horas. É a situação em que há necrose do músculo cardíaco. Semiologicamente, as dores são idênticas, mas na prática clínica podem ser diferenciadas a partir de exames de sangue e eletrocardiograma. Síndrome coronariana aguda A síndrome coronariana aguda pode ser dividida entre duas vertentes, as quais apresentam o mesmo quadro clínico: - Angina instável - IAM: com ou sem supra de ST Na angina instável, a redução da luz coronariana é suficiente para causar angina. Por outro lado, no IAM há necrose dos miócitos. A necrose pode ser identificada com um exame de sangue: troponina. Esse elemento é, portanto, positivo no IAM, porém negativo na angina instável. Quando o paciente chega ao PS, ele deve imediamente ser encaminhado para realizar um eletrocardiograma, analisando-se a presença ou não de supra. Isso pois, caso ele apresente angina instável ou IAM sem supra, o tratamento é o mesmo. Em contrapartida, caso ele apresente IAM com supra, o mesmo deve ser encaminhado ao cateterismo ou angioplastia. Irradiação: região cervical (pescoço, nuca), ombros, MMSS (o braço esquerdo é mais sensível, sendo mais possível a dor neste membro; todavia, dores no braço direito são mais específicas para dores cardiovasculares), mandíbula e maxila, região epigástrica, interescapulo-vertebral no dorso e pavilhões auriculares. Geovana Sanches, XXIX Fatores desencadeantes: tudo o que tende a diminuir a oferta ou aumentar a demanda de oxigênio, como: esforço físico, emoções, frio e refeição importante. No caso da refeição pesada, há demanda de maior fluxo sanguíneo para o TGI a fim de garantir uma melhor digestão, levando a redução do fluxo sanguíneo coronariano. Fatores de melhora: tudo o que aumente a oferta ou diminua a demanda de oxigênio, como repouso e vasodilatadores coronarianos. Quando a dor melhora após a administração de vasodilatadores coronarianos, como nitrato, há um forte indicativo que se trata de dor cardíaca. Vale ressaltar que, apesar de ser um forte indicativo, não é uma certeza à a dor esofagiana por espasmo também pode melhorar com vasodilatadores. Fatores de piora: esforço físico, emoções. Sintomas associados: náuseas, vômitos, sudorese profusa, palpitações, síncope, angústia, quietação, mão no peito, frio e palidez cutânea. Dor pericárdica Patogênese: a dor pericárdica é ocasionada pelo atrito entre as membranas do pericárdio ou devido ao rápido acúmulo de líquido entre o pericárdio visceral e parietal. Pode ser decorrente, ainda, da irritação de estruturas vizinhas ao pericárdio, como por exemplo pleura mediastinal em casos de pericardite. Caracteriza- se por dor torácica batimento-dependente. Localização: retroesternal, junto ao rebordo esternal esquerdo. Tipo: constritiva ou em peso, opressão ou queimação. Intensidade: costuma ser intensa, levando o paciente a procurar atendimento médico. Duração: contínua, perdurando por várias horas. Irradiação: pescoço e dorso. Fatores desencadeantes: não são muito específicos, mas normalmente não há relação com exercício físico. Pacientes com doenças autoimunes, como lúpus, podem cursar para pericardites. Pode-se, ainda, pensar em pericardite pós-infecciosa quando o paciente apresentou sintomas gripais anteriormente. Fatores de melhora: posição maometana ou genupeitoral (paciente inclina o tórax para frente), que ajuda a afastar um folheto do outro. Fatores de piora: respiração, decúbito dorsal, movimentos na cama, deglutição, movimentos do tronco ou qualquer outra situação que promova aumento do atrito entre as lâminas pericárdicas. Dor aórtica Patogênese: a dor aórtica é ocasionada, na maioria dos casos, por dissecção aguda de aorta, situação caracterizada por separação das camadas da parede arterial, especialmente a adventícia, permitindo que o sangue penetre entre as túnicas (falso lúmen). Isso causa distensão súbita nas terminações nervosas, fazendo com que o paciente sinta dor. Caso o paciente não seja rapidamente tratado, ele pode vir a óbito. O preenchimento do falso lúmen pode levar à oclusão de algumas artérias, como a renal e as subclávias, diminuindo o fluxo sanguíneo para os rins e os braços, respectivamente. O lúmen falso pode, ainda, se romper e levar a um preenchimento do pericárdio com sangue, acarretando na compressão do coração (tamponamento cardíaco). Geovana Sanches, XXIX As principais causas da dissecção são aquelas que enfraquecem a parede do vaso, como hipertensão, aterosclerose, tabagismo, contusões e síndromes que afetam o tecido conjuntivo (Marfan). Uma das causas importantes é o aneurisma, situação em que há dilatações em alguma região da artéria, geralmente aorta, sendo comumente assintomáticos (aneurisma estável ou com expansão muito lenta e gradual). Nessa situação, a dor normalmente decorre da rápida expansão ou rompimento do aneurisma, podendo levar à dissecção da aorta. Localização: retroesternal ou região anterior do tórax. Tipo: lancinante (fisgadas, rasgo) ou em facadas. Intensidade: costuma ser intensa, quase insuportável, de início súbito. O paciente costuma ficar muito inquieto durante a crise. Duração: contínua, por várias horas. A dor perdura enquanto a condição não for tratada, em decorrência do falso trajeto do sangue e dissecção contínua da artéria. Irradiação: pescoço, interescapular (principal) e ombros. Fatores desencadeantes: aneurisma de aorta, a qual desencadeia a dor de início súbito. Sintomas associados: paciente inquieto, palidez, pulso braquial mais fraco em um dos lados e atitude de comprimir o tórax na tentativa de alívio. Dor psicogênica A dor psicogênica aparece em pacientes que sofrem de ansiedade e/ou depressão. Na anamnese, caso haja suspeita, é útil direcionar as perguntas para a vida pessoal do paciente. Todavia, antes de atribuir qualquer diagnóstico a dor psicogênica, é importante descartar todas as demais possibilidades. Localização: “ponta do coração”. Normalmente é localizada, de forma que o paciente consegue aponta-la com um dedo. Tipo: inespecífica (queimação, facada, aperto, pontada, pressão, etc). Pode ser acompanhada por hipersensibilidade do precórdio. Intensidade: costuma ser intensa e sem causa orgânica. Duração: várias horas, semanas. Irradiação: pescoço, interescapular, ombros ou qualquer outro lugar. Não há uma regra de irradiação. Fatores desencadeantes e de piora: emoções, como ansiedade. Apesar de parecer simples, sua diferenciação com dor isquêmica é complicada, tendo em vista a semelhança da manifestação clínica. Fatores de melhora: inespecíficos – tudo o que faça o paciente crer que está melhorando (repouso, analgésicos, ansiolíticos,placebos). Sintomas associados: palpitações, dispneia (suspirosa, taquipneia), astenia, instabilidade emocional. Esses sintomas nos auxiliam na diferenciação de dor isquêmica. Palpitação A palpitação pode ser definida como a percepção incômoda dos batimentos cardíacos, aparecendo para o paciente como um batimento mais forte, falha no batimento, sensação de parada, tremor no coração, entre outros. Podem ser causadas por alterações na intensidade ou no ritmo dos batimentos. As principais causas cardíacas são miocardiopatia (hipertrofia do VE), ICC e arritmias. No caso das arritmias, os batimentos podem ser rápidos ou lentos, com pausas compensatórias após extra-sístole ventricular, bradicardia com parada súbita ou prolongada entre um batimento e outro, seguido do retorno a normalidade, etc. As causas não cardíacas estão relacionadas ao aumento da frequência cardíaca: hipertireoidismo, anemia, esforço físico, emoção/síndrome do pânico, tabaco/café, medicamentos, drogas. Classificação das palpitações As palpitações devem ser analisadas quanto a frequência, ritmo, horário de aparecimento, modo de instalação e desaparecimento e quanto ao tipo: 1. Palpitações de esforço: ocorrem durante o esforço físico, desaparecendo no repouso. Em pacientes que apresentam insuficiência cardíaca, a palpitação pode ter o mesmo significado da dispneia de esforço. É importante questionar o tipo de esforço desencadeante (pequenos, médios ou grandes), aparecimento súbito ou progressivo e duração das palpitações. 2. Alterações no ritmo cardíaco: pode ocorrer devido a arritmia, sendo o principal a presença de extra-sístole, a qual é um batimento extra entre os batimentos normais, seguido por uma pausa compensatória, a qual é sentida pelo paciente. Outras causas importantes são taquicardia e bradicardia. Geovana Sanches, XXIX 3. Transtornos emocionais: normalmente associado a dor pré-cordial, dispneia suspirosa, fácies ansiosa ou paciente apresentando choro à situações associadas a fatores emocionais. Síncope A síncope é a perda súbita e transitória da consciência e do tônus muscular postural. É popularmente conhecida como “desmaio”. A pré síncope (ou lipotimia), por sua vez, é um sintoma prodrômico de desmaio caracterizado por um quase-desmaio, com fraqueza, tontura, sudorese, palidez (principalmente dos lábios) e perda parcial da consciência. Nem toda síncope é antecedida de pré-síncope. Patogênese: envolve hipofluxo cerebral transitório ou emoção exacerbada. As causas podem ser didaticamente divididas em: à Cardíacas: arritmias, insuficiência cardíaca, embolia pulmonar, hipotensão postural, estenose aórtica, redução do retorno venoso, etc. à Extra-cardíacas: metabólicas (hipoglicemia, hipóxia), epilepsia (acompanhado de crise convulsiva), aterosclerose cerebral, síncope vagal, síncope psicogênica. Síncope vagal O nervo vago diminui a pressão sanguínea e os batimentos cardíacos, reduzindo o fluxo sanguíneo para o cérebro. A síncope vasovagal é precedida por lipotimia; deitar-se ao começar a sentir os sintomas de desmaio ajuda a aliviá- los pelo restabelecimento do fluxo sanguíneo. Para diferenciar as causas da síncope, é importante constar na anamnese o tempo de duração da síncope, tempo decorrido desde a última alimentação, estado emocional, a posição e movimentação do corpo na hora do episódio, execução de esforço físico, temperatura do ambiente no momento, histórico de arritmias na família, uso de medicamentos (como hipoglicemiante oral, anti-convulsivante), sintomas prodrômicos (sudorese, palidez, dor precordial, dispneia), movimento involuntário (como convulsão), incontinência fecal ou urinária, sialorreia e eventos pós-síncope (confusão mental, sonolência). Edema O edema é definido como aumento anormal na quantidade de líquido intersticial proveniente do plasma sanguíneo. Causas Aumento da pressão hidrostática: a pressão hidrostática é a força que o sangue faz contra a parede do vaso, no sentido de querer “sair” dele. Na IC, por exemplo, a elevação da pressão venosa central é o principal fator para aumento da pressão hidrostática. Diminuição da pressão oncótica: a pressão oncótica é a força que retém o sangue dentro do vaso. Doenças que cursam com hipoproteinemia, como síndrome nefrótica e cirrose, estão relacionadas a diminuição dessa pressão. Aumento da permeabilidade capilar: associada a inflamação e infecção. Intensidade Para avaliar a intensidade do edema, devemos pressionar a área edemaciada com o dedo, por pelo menos 5 segundos. Caso um cacifo se forme, devemos verificar quanto tempo a depressão na pele demorará para desaparecer (sinal de Godet ou cacifo positivo). < 30 seg + 30-60 seg ++ 60-120 seg +++ > 120 seg ++++ Classificação Edema localizado: quando restrito ao tecido subcutâneo. Normalmente ocorre em processo inflamatório, angioedema (edema de musocas), compressão de vasos linfáticos e venosos. Edema generalizado: a maioria dos edemas generalizados (anasarca) estão relacionados a redução da pressão oncótica e com fatores cardíacos, renais, hepáticos, endócrinos (hipotireoidismo), medicamentosos (retenção hídrica). à Causa cardíaca: a causa básica é a insuficiência ventricular direita (ICC), que eleva a pressão hidrostática nos capilares venosos a partir da congestão da V. cava, aumentando a passagem de plasma para o interstício. Pela ação da gravidade, o edema ocorre inicialmente em MMII, sendo progressivo, bilateral e simétrico. Intensifica-se no decorrer do dia, sendo pior no período vespertino; ele diminui ou desaparece Geovana Sanches, XXIX com repouso noturno. Pode estar acompanhado de turgência jugular e refluxo hepatojugular. Em pacientes acamados, o edema pode se acumular em região sacral, glútea e parede abdominal. Dispneia A dispneia pode ser definida como a sensação subjetiva de dificuldade para respirar. Dispneia por causa cardíaca: ocorre por congestão passiva dos pulmões. Dispneia de esforço: no caso de insuficiência do ventrículo esquerdo, a progressão normalmente é rápida, diferentemente de dispneias associadas a doenças pulmonares e anemia (lentas e progressivas). > Pequenos esforços: ocorre durante a prática de esforços físicos de pequena magnitude, como tomar banho, trocar de roupa, mudar de posição na cama, falar. > Médios esforços: surge durante a realização de esforços físicos de intensidade mediana, como andar no plano a passo normal ou subir degraus, mesmo que devagar. > Grandes esforços: dificuldade respiratória ao realizar esforços que antes não levavam a desconforto (andar depressa, caminhar em uma rampa, praticar um esporte para o qual estava treinado). Insuficiência cardíaca do Ventrículo Esquerdo A IC do VE normalmente apresenta dispneia de esforço como sinal, a qual é decorrente do edema agudo de pulmão. Esse termo é utilizado para se referir a congestão passiva dos pulmões, quando a mesma ocorre de maneira muito rápida, podendo levar a dispneia intensa. Além disso, a característica da tosse do paciente se altera de seca para produtiva (expectoração espumosa branca-rosada). Ele pode se apresentar cianótico, com respiração ruidosa, além da presença de estertores e sibilo. Dispneia de decúbito ou ortopneia: ocorre quando o paciente se deita, com melhora à elevação da cabeça e tronco (paciente normalmente refere dormir com apoio de vários travesseiros). Essa piora está relacionada ao aumento do retorno venoso e do fluxo sanguíneo para os pulmões, aumentando a pressão sobre os capilares pulmonares. Dispneia paroxística noturna: é aquela em que o paciente acordo com intensa dispneia, acompanhada de sensação de opressão, tosse seca e sufocação, obrigando-o a levantar-se ou sentar-se para obter melhora. A ortopneia e dispneia paroxística noturna se diferenciam, pois a primeira ocorre assimque o paciente se deita, enquanto a segunda é caracterizada por crises durante o sono do paciente, fazendo-o acordar. Cianose A cianose pode ser definida como a coloração azulada da pele e mucosas. É decorrente do aumento da hemoglobina reduzida (desoxi-hb) no sangue capilar (5g/100mL). Pode ocorrer por falta de oxigenação ou por excesso de retirada de oxigênio. A identificação ocorre a partir da inspeção do paciente, no exame com boa luminosidade. Devemos observar: lábios, ponta do nariz, região malar, lóbulos das orelhas, língua, palato, extremidades das mãos e pés. Classificação 1. Localização à Generalizada: observada por todo o corpo. Quando a cianose é decorrente de afecção cardíaca, normalmente ela é generalizada, tendo em vista que o sangue circula por todo o corpo. à Localizada: se restringe a determinados segmentos corporais. 2. Causa à Central: é a mais comum, muitas vezes associada a dificuldade do oxigênio em entrar no organismo ou dificuldade na perfusão. Exemplos: altas atitudes (menor fração de O2 inspirada), ventilação (obstrução por tumor, resistência da parede brônquica, enfisema, atelectasia, depressão do centro respiratório por intoxicação de opióides, ascite pós cirurgia que comprima o parênquima pulmonar, etc), perfusão (PNM, bronquite, fibrose, congestão passiva dos pulmões, cardiopatia, IC grave de VD, embolias pulmonares venosas, etc). Crianças: cardiopatias congênitas, como shunt Direita-Esquerda, por comunicação interventricular e/ou interatrial à na comunicação interventricular, o sangue que chega ao VD é predominantemente com desoxi-Hb e passa para o VE (onde deveria ter sangue oxigenado); resultado é a distribuição de sangue desoxigenado pela circulação sistêmica). A cianose central melhora com o fornecimento de oxigênio ao paciente (oxigenoterapia). à Periférica: captação de desoxi- hemoglobina da rede capilar por conta de estase Geovana Sanches, XXIX venosa. Costuma ocorrer em MMII (IC) e extremidades expostas ao frio, situações que levam a estase venosa (retarda circulação do sangue nos capilares) A cianose periférica melhora com a elevação do membro acometido ou com o aumento da temperatura do corpo. à Mista: ocorre principalmente na insuficiência cardíaca, em que há congestão passiva dos pulmões e estase venosa com perda de O2 para os tecidos. à Alteração de hemoglobina: é a causa mais rara, normalmente ocasionada por inalação de substâncias tóxicas (como nitrito de amila e nitrito de sódio), que leva a formação de meta- hemoglobina (MtHb), a qual dificulta a fixação do oxigênio. 3. Duração à Congênita: apresentada desde o nascimento. Deve-se questionar e analisar a presença de hipocratismo digital (ou baqueteamento), o qual é comum em cardiopatias congênitas e doenças pulmonares. à Adquirida Tosse Ocasionada por congestão pulmonar e caracterizada por tosse seca. Caso haja secreção, é relacionada principalmente com edema agudo de pulmão (EAP) à serosa, espumosa, rósea e abundante, as vezes hemoptoica. Como a congestão piora no período noturno pelo aumento do retorno venoso, a tosse é pior a noite. Sibilos “Asma cardíaca”: piora quando o paciente se deita. Diferenciamos do paciente com asma através dos outros comemorativos de ICC, como estertores, taquicardia, presença de B3, acompanhada de dispneia. Além disso, há histórico de ausência asma durante a infância e ausência de componentes alérgicos. Normalmente é decorrente de congestão pulmonar associado a broncoespasmo reacional. Pode ocorrer também devido ao estreitamento das vias aéreas por secreção. EXAME FÍSICO O exame físico do exame cardiovascular envolve inspeção, palpação e ausculta. Não há percussão. Inspeção e palpação A inspeção e a palpação podem ser feitas simultaneamente, tendo em vista que os achados se tornam mais significativos quando analisados em conjunto. Por convenção, o examinador deve se posicionar à direita do paciente. Síndrome de Marfan É uma doença do colágeno que cursa com alterações na inspeção e palpação da região precordial. Pode ocasionar alterações da caixa torácica (pectus excavatum ou carinatum), além de prolapso de valva mitral. Há maior risco de aneurismo e dissecção de aorta. à Abaulamentos O termo abaulamento significa “formação em tampa de baú”. Seu reconhecimento deve ser feito a partir da observação da região precordial de maneira tangencial (examinador em pé, do lado direito do paciente) e frontal (examinador junto aos pés do paciente, que permanece deitado). Os abaulamentos são mais comuns quando o paciente teve alguma alteração na infância, tendo em vista que nessa faixa etária a caixa torácica é menos rígida. Exemplos: hipertrofia de VE, cardiomegalia, aneurisma de aorta, alterações da caixa torácica (pectus excavatum ou carinatum) e derrame pericárdico. à Ictus cordis É o achado semiológico referente ao ápice do coração, correspondendo a parte do ventrículo esquerdo. Caracteriza-se pela região da parede torácica em que é possível palpar ou mesmo observar batimentos do ápice cardíaco. Pode também ser chamado de choque de ponta e impulso apical. Localização: o normal é que o ictus cordis se encontre entre o 4º e 6º espaços intercostais, na linha hemiclavicular esquerda. A localização pode variar um pouco de acordo com o biotipo, de forma que em mediolíneos, situa-se no 5º EIE, próximo a linha hemiclavicular esquerda; em brevilíneos, 4º EIE, deslocado 2cm para lateral e para cima; enquanto em longilíneos, 6º EIE, deslocado 2cm para baixo e para dentro da linha hemiclavicular esquerda. Geovana Sanches, XXIX Em portadores de enfisema pulmonar, obesidade, hipertrofia muscular ou mamas grandes, o ictus cordis pode se tornar invisível e impalpável. O deslocamento do ictus cordis pode indicar dilatação ou hipertrofia do ventrículo esquerdo, como ocorre na estenose aórtica, insuficiência mitral, hipertensão arterial, miocardiopatias e algumas cardiopatias congênitas. Extensão: o normal é entre 1 a 2 polpas digitais. Quando há dilatação, chega a 3 polpas ou até mesmo uma palma inteira. Mobilidade: é avaliada com o paciente em decúbito dorsal, lateral direito e lateral esquerdo, sempre marcando-se a localização do ictus. A mobilidade normal a partir da mudança de posição é de 1 a 2cm. Em casos de sínfise pericárdica, ou seja, quando os folhetos pericárdicos estão aderidos, o ictus não se desloca. Intensidade: avaliada com a palma da mão. Costuma ser mais intenso na hipertrofia do ventrículo esquerdo à ictus propulsivo. Fisiologicamente, é mais intenso em pessoas magras ou após exercício físico, emoções e em todas as situações em que há aumento da atividade cardíaca. Tipo da impulsão: pode ser difuso, quando a área de pulsação corresponde a 3 ou mais polpas digitais, indicando dilatação cardíaca; ou propulsivo, quando se é possível sentir a polpa levantar a cada contração, indicando hipertrofia cardíaca. Ritmo e frequência à Batimentos ou movimentos visíveis ou palpáveis: Retração sistólica apical: consiste na retração do ictus durante a sístole, ao invés da projeção deste para frente (normal). Pode ocorrer por hipertrofia de VD. Choque valvar: ocorre quando as bulhas cardíacas ficam hiperfonéticas, podendo ser sentidas pelo tato. Pulsação epigástrica: refere-se a transmissão da pulsação aórtica pela parede abdominal, a qual pode ser eventualmente sentida na região precordial. Pode ocorrer fisiologicamente, principalmente em pacientes muito magros. Todavia, encontra-se mais intensa na hipertrofia ventricular direita, podendo ser sentida principalmente no ângulo xifoesternal. Outra causa é a presença de pulso hepático, que pode ocorrer na estenose ou IC da tricúspide. à Frêmito cardiovascular É a sensação tátil das vibrações produzidas no coraçãoe/ou nos vasos. Ao sentirmos o frêmito, devemos identificar a localização, momento do ciclo cardíaco (sistólico ou diastólico) e a intensidade (+/4+). à Pulsação O aparelho circulatório e o próprio funcionamento do coração podem ser avaliados pela análise das pulsações arteriais, venosas e capilares. Para isso é necessário examinar sistematicamente os pulsos radial, carotídeo, demais pulsos periféricos, capilar e venoso (nas veias jugulares). A pulsação consiste na percepção palpável dos batimentos cardíacos em um vaso periférico. Para realizar a palpação, é necessário repousar duas polpas digitais sobre a artéria e pressioná-la contra uma estrutura óssea. Pulso radial Para avaliação do pulso radial, devemos palpar a região radial (entre o processo estiloide do rádio e o tendão dos flexores) com o 2º e 3º dedos; o polegar se fixa delicadamente no dorso do punho do paciente. Além disso, a mão do paciente deve repousar no leito ou na mesa de exame em completa supinação. É importante avaliarmos a igualdade ou desigualdade entre os pulsos, podendo palpar os dois lados simultaneamente. A desigualdade entre os pulsos pode ocorrer nas afecções oclusivas e obstrutivas de crosta da aorta ou dos vasos que saem da crosta da aorta. Outros achados semiológicos importantes que devem ser investigados são: 1. Estado da parede arterial: em condições normais, a parede do vaso é lisa, sem tortuosidades e facilmente depressível (não é rígida). Quando se nota uma parede vascular endurecida, irregular e tortuosa, às vezes comparada a “traqueia de passarinho”, é sinal de uma vasculopatia que se denomina genericamente de arteriosclerose (nada tem a ver com aterosclerose), a qual pode ser responsável por uma pseudo-hipertensão arterial em pessoas idosas. 2. Frequência: refere-se a quantidade de pulsações que o coração transmite por minuto, a qual deve ser avaliada durante um minuto inteiro, comparando-se os valores encontrados com o número de batimentos cardíados. Os valores normais para adultos variam entre 60 e 100bpm. Geovana Sanches, XXIX Acima de 100 pulsações denomina-se taquisfigmia (ou taquicardia e, abaixo de 60 pulsações, bradisfigmia (ou bradicardia). Déficit de pulso indica que o número de batimentos cardíacos é maior que o número das pulsações da artéria radial; decorre do fato de algumas contrações ventriculares serem ineficazes, ou seja, não impulsionarem sangue para a aorta e, consequentemente, não produzindo pulso. As principais causas de déficit de pulso são extrassístole ventricular e fibrilação atrial. 3. Ritmo: é dado pela sequência das pulsações. É regular quando ocorre em intervalos iguais, irregular quando ocorre em intervalos variáveis ou regularmente irregular, quando ocorre em um padrão de intervalos variáveis. A irregularidade do pulso indica alteração do ritmo cardíaco, ou seja, arritmias, as quais podem ser fisiológicas ou patológicas. As principais arritmias são arritmia sinusal, extrassistolia, fibrilação atrial e bloqueio cardíaco. 4. Amplitude ou magnitude: é a intensidade com que o pulso é transmitido e está diretamente relacionado com o grau de enchimento da artéria durante a sístole. Amplo Magnus à ocorre quando desloca mais que o dedo; é característico da insuficiência aórtica Mediano Pequeno Parvus à característico da estenose aórtica; também ocorre na hipotensão arterial, na qual o pulso pode ser quase imperceptível. 5. Tensão ou dureza: o sangue exerce pressão contra a parede das artérias, as quais respondem com tensão, cuja magnitude é avaliada pela força de compressão necessária ao examinador para interromper a pulsação. Quando necessária pequena pressão para interromper as pulsações, caracteriza-se o pulso mole; já se a interrupção da onda sanguínea exigir forte pressão, trata-se de pulso duro. Denomina-se pulso de tensão mediana quando há situação intermediária. Quando a pressão sanguínea está aumentada, as artérias estão mais tensionadas que o normal, denominando-se hipertensão arterial à indicada por pulso duro e não deve ser confundida com eventual endurecimento da parede arterial. 6. Tipo de onda: conjunto de sinais semiológicos classificam o tipo de cada pulso. a) Onda de pulso normal: todos os sinais estão adequados, indicando que o paciente está saudável. b) Martelo d’água ou célere: esse pulso aparece e some com rapidez e é sentido como um choque entre duas ondas d’água opostas. Esse pulso decorre do aumento da pressão diferencial, sendo típico da insuficiência aórtica. Para melhor percepção desse pulso, o braço do paciente é levantado acima de sua cabeça, tendo sua mão segura pela mão esquerda do examinador, enquanto a face anterior do punho do paciente é envolvida pela mão do médico. O polegar fecha a pinça, apoiando-se no dorso do punho. Com isso, o pulso é sentido com toda a face ventral dos dedos e a parte palmar da mão. c) Anacrótico: a tensão do pulso apresenta-se diminuída e o pulso parece fraco e pequeno. A ascensão é lenta, e o pico prolongado, sendo sentido como duas ondas em um mesmo pulso. É típico da estenose aórtica grave, também podendo ser observado na insuficiência cardíaca e na hipovolemia. d) Dicrótico: sentido como um pulso seguido de outro, sendo o primeiro mais intenso e o segundo mais fraco. É encontrado em cardiopatias que manifestam febre. e) Bisferiens: também é sentido como um pulso seguido de outro, mas os dois possuem a mesma intensidade. Aparece quando há estenose e insuficiência aórticas associadas. Para diferenciar o pulso dicrótico do pulso bisferiens, basta aumentar a compressão da artéria, pois ao comprimir demasiadamente o vaso, a 2ª onde do pulso dicrótico torna-se imperceptível. f) Alternante: sentido com um ritmo em que se alterna um pulso magnus com um pulso parvus. É típico da insuficiência ventricular esquerda. Geovana Sanches, XXIX g) Filiforme: sentido como um pulso de pequena amplitude e mole. Indica colapso circulatório periférico. f) Paradoxal: sentido como uma diminuição da amplitude durante a inspiração forçada. Aparece na pericardite constritiva, no derrame pericárdico volumoso e no enfisema pulmonar. Pulsos periféricos O exame dos outros pulsos periféricos tem por finalidade analisar comparativamente artérias homólogas no que se refere à presença ou ausência do pulso, quantas cruzes em 4, se são simétricos ou não e à amplitude da onda pulsátil, além da avaliação do estado da parede vascular. Nesse momento devem ser analisadas as artérias Braquial, Femoral (região inguinal), Poplítea (ponto de referência: face interna do bíceps femoral), tibial posterior (ponto de referência: maléolo interno), pedioso dorsal (ponto de referência: extensor longo do grande artelho). Artérias carótidas A palpação das artérias carótidas também deve ser comparativa (amplitude/frêmitos), mas não podemos palpa-las simultaneamente. É recomendada em casos de parada cardíaca ou em pacientes hipotensos, cuja pulsação radial é impedida. Isso pois, a carótida apresenta o seio carotídeo, que funciona como barorreceptor, percebendo mudanças na pressão arterial sanguínea. Ao massageá-lo, uma diferença de pressão é gerada, podendo levar o paciente à síncope. Além disso, as carótidas são focos de formação de placas ateroscleróticas (principalmente em idosos), sendo necessário o cuidado ao manuseá-las, a fim de evitar o desprendimento de fragmentos que possam adentrar à circulação, chegar ao cérebro e ocasionar um AVC. Técnica: é realizada a partir do 2º e 3º quirodáctilo ou com o polegar (apoiando o restante da mão na cervical posterior do paciente e palpando a região anterior). Como ponto de referência podemos localizar a cartilagem tireóidea e deslizar o dedo lateralmente, até a porção anterior do músculo esternocleidomastoideo. Fisiologicamente,as pulsações das artérias carótidas podem ser visíveis após exercício físico e fortes emoções. Em pacientes com insuficiência aórtica e hipertireoidismo, é possível que haja a “dança das artérias”, situação em que temos pulsações visíveis e patológicas, ocasionadas por grande diferença entre PAS e PAD. Veias jugulares Ao contrário do pulso carotídeo, que é muito mais palpável do que visível, o pulso venoso sentido nas veias jugulares é muito mais visível do que palpável. Reflete a dinâmica do coração direito, ou seja, se houver um aumento de pressão nas câmaras cardíacas direitas, pode haver ingurgitamento jugular maior. Em condições normais, as veias jugulares se tornam túrgidas apenas quando o paciente está em decúbito dorsal, tendo em vista que, nesse caso, a gravidade não faz com que o sangue deságue no tronco braquiocefálico da V. cava superior. Na posição semissentada e, mais ainda, quando se põe de pé ou sentado, as veias jugulares colabam, ficando visível apenas o pulso venoso na raiz do pescoço. Em situações que as veias jugulares permanecem túrgidas quando o paciente adota a posição semissentada (formando um ângulo de 45º entre o dorso e o leito) ou sentada, temos o ingurgitamento jugular ou turgência jugular. Isso pode ocorrer em pacientes que apresentam compressão de veia cava, pericardite constritiva ou insuficiência de ventrículo direito (IVD), uma vez que todas essas causas levam ao aumento da pressão na veia cava superior, átrio direito e ventrículo direito, levando à estase. É possível induzir o ingurgitamento jugular a partir da manobra do refluxo hepatojugular, que consiste na compressão do hipocôndrio direito (fígado) no paciente deitado em 45º, causando aumento do retorno venoso para a cava inferior e, consequentemente, para a jugular, levando à turgência. Em pacientes com o ventrículo direito saudável, o ingurgitamento Geovana Sanches, XXIX some, enquanto em pacientes com insuficiência ventricular direita, o ingurgitamento permanece, caracterizando positivo para o teste. • Pulso venoso jugular o Examinar com o paciente deitado o Observar base do pescoço, entre as duas inserções do M. esternocleidomastóideo. o É um pulso mais visível que palpável o Fisiológico: colabamento das vv. jugulares na inspiração, decorrente do aumento do retorno venoso com esvaziamento da v. jugular; desaparecimento com a compressão das veias jugulares na base do pescoço. o Não é fisiológico visualizar esse colabamento com o paciente sentado ou a 45º. Caso a visualização seja possível, provavelmente há aumento de pressão. A ordenha da veia jugular auxilia na avaliação. Para aplica-la, devemos colocar o 2° dedo E na extremidade superior da veia e com o dedo da mão D realiza-se ordenha da veia para a região de baixo. O correto é o sangue não retornar, de forma que, se o sangue continua voltando, há aumento da pressão das câmaras. Ausculta cardíaca A ausculta cardíaca pode ser feita em toda a região precordial, mas a ausculta dos focos específicos nos dão informações acerca do estado das valvas atrioventriculares e arteriais. Focos específicos • Foco aórtico: localizado no 2° EID, linha paraesternal D. • Foco pulmonar: contralateral ao foco aórtico, no 2° EIE, linha paraesternal E. • Foco aórtico acessório: entre o 3° e 4° EIE linha paraesternal E. • Foco tricúspide: próximo ao apêndice xifoide, mais à esquerda. • Foco mitral: 5° EIE, linha hemi-clavicular E; corresponde a região do ictus cordis. Caso seja notadas alterações nos focos específicos, a ausculta deve ser realizada em todo o precordio e nas regiões circunvizinhas, incluindo: região axilar esquerda, pescoço, dorso, regiões infra e supraclaviculares. Fatores a serem observados na ausculta • Bulhas cardíacas • Ritmos e frequência • Cliques ou estalidos • Sopros • Ruído da pericardite constritiva • Atrito pericárdico • Rumor venoso Bulhas Cardíacas As bulhas cardíacas audíveis representam o fechamento de valvas. Entre B1 e B2, temos a sístole, enquanto entre B2 e B1, temos a diástole. As bulhas cardíacas podem ser utilizadas para determinar o ritmo cardíaco do paciente, o qual é classificado em binário (a 2 tempos - B1 e B2) ou tríplice (quando há um terceiro ruído audível, podendo ser B3 ou B4). à Hiperfonese ou hipofonese das bulhas auscultáveis No que diz respeito a intensidade da bulha, esta pode ser auscultada de forma normal, em maior intensidade (hiperfonese) ou menor intensidade (hipofonese). A intensidade do ruído pode ser influenciada por: 1. Posição da valva no início do seu fechamento: quanto mais distante uma valva estiver da outra, maior o trajeto a percorrer ao se fecharem e mais intenso será o ruído por elas originado. 2. Alterações específicas da valva: refere-se ao componente anatômico das valvas, sendo possível que elas estejam normais, com deformidades e diferentes graus de calcificação. 3. Tensão existente na cavidade que reflete o barulho da valva: para B1, quanto maior a pressão nos átrios direito e esquerdo, mais distante as valvas estarão uma da outra antes do fechamento. 4. Condições relacionadas à transmissão do ruído: fatores que afastam/aproximam o diafragma do estetoscópio da emissão dos ruídos cardíacos podem alterar a fonese das bulhas para mais ou para menos. Em pacientes com tórax delgado e em crianças, por exemplo, a ausculta é Geovana Sanches, XXIX melhor, com B1 apresentando-se mais intensa; por outro lado, pacientes obesos, com mama aumentada ou musculatura peitoral hipertrofiada, costumam apresentar ausculta menos intensa, notando-se uma hipofonese. Primeira bulha (B1) A primeira bulha é constituída pelos sons do fechamento das valvas mitral (E) e tricúspide (D), ou seja, fechamento das valvas atrioventriculares. O som é mais grave e tem maior duração em relação à B2, sendo auscultado como “TUM”. O local de maior intensidade (devido a maior força de VE) e, consequentemente, melhor ausculta, é o foco mitral. O componente mitral antecede minimamente o componente tricúspide, pois a contração e relaxamento do VE antecedem (muito pouco) a contração e relaxamento do VD. A presença dessas bulhas separadamente pode ser auscultada em algumas pessoas, sendo isso denominado desdobramento fisiológico de B1 à pessoas normais, sem relação com respiração, devido a discreta diferença do tempo de contração do VE em relação do VD. Caso o desdobramento seja amplo, é indicativo de bloqueio do ramo direito, o qual, ao retardar a contração ventricular direita, atrasa o fechamento da tricúspide, permitindo a ausculta de “TRUM-TUC”. A ausculta da B1 coincide com o ictus cordis e pulso carotídeo à caso um sopro cardíaco seja auscultado, podemos palpar o ictus e o pulso carotídeo a fim de verificar se ele é sistólico ou diastólico, ou seja, se esse turbilhonamento ocorre antes ou depois de B1. Hiperfonese Hipofonese Taquicardia/ hipertireoidismo Obesidade Crianças/tórax delgado Enfisema pulmonar Estenose mitral inicial Derrame pericárdico Exercício físico/febre Estenose mitral calcificada A hiperfonese de B1 é decorrente da diminuição do enchimento ventricular, ou seja, quando o coração se contrai após entrada de pequena quantidade de sangue na cavidade, fazendo com que os folhetos estejam bem abertos à isso faz com que a valva esteja posicionada mais abaixo. Pelo contrário, a contração do miocárdio mais fraca e lenta leva a hipofonese. Um dos fatores que podem influenciar na intensidade de ausculta do fechamento da valva é a posição da valva no início do fechamento. No caso de B1, é preciso saber a posição da valva atrioventricular antes que ela feche. Quanto mais baixa a valva estiver, maior o caminho que ela precisa percorrer para o fechamento e mais intenso é o barulho até que ela feche. Isso acontece em situações que o enchimento dosventrículos não acontece corretamente. Nas condições em que a pressão intra- atrial está aumentada, como na estenose mitral, as valvas vão se afastar mais e consequentemente produzir um som mais audível. No entanto, caso a estenose mitral esteja com a valva calcificada, ela quase não se mexe, ocorrendo hipofonese de B1. Segunda bulha (B2) A segunda bulha é constituída pelos sons do fechamento das valvas semilunares: valva aórtica (auscultado em toda a região precordial) e valva pulmonar (auscultado em região limitada do foco pulmonar e na borda esternal esquerda). O som de B2 é agudo e mais seco, sendo representado pelo “TUC” ou “TA”. O componente aórtico (esquerdo) antecede fisiologicamente o componente pulmonar, pelo mesmo motivo dos componentes mitral e tricúspide à o fechamento das câmaras cardíacas E antecedem ligeiramente aos da D. Durante a inspiração, a valva pulmonar sofre um pequeno retardo fisiológico, podendo ser percebido como desdobramento fisiológica de B2 (TRÁ ou TLÁ). Ele é auscultado no foco pulmonar e desaparece durante a expiração. Fisiologia: aumento do retorno venoso → maior enchimento de VD → atraso no fechamento da valva pulmonar em relação a aórtica. Quando acontece de forma não fisiológica, o desdobramento é fixo e o paciente geralmente apresenta hipertensão pulmonar ou defeito no septo atrial. Hiperfonese Hipofonese Tórax delgado Obesidade Crianças Enfisema pulmonar HAS (aumento da pressão aórtica) Valvas calcificadas Hipertensão pulmonar Geovana Sanches, XXIX A hiperfonese de B2 pode ser causada por aumento de pressão pulmonar ou sistêmica. É decorrente do aumento do débito cardíaco, como na comunicação interatrial ou persistência do canal arterial. Nessas situações, as cúspides se fecham com mais força e, por isso, o som é melhor auscultado. Uma maior distância do local de ausculta para o local em que ocorre a bulha, como em situações de enfisema pulmonar, pode levar a hipofonese. Terceira bulha (B3) A terceira bulha decorre das vibrações da parede ventricular subitamente distendida pela corrente sanguínea que penetra na cavidade durante o enchimento ventricular rápido. É um ruído protodiastólico (no início da diástole), de baixa frequência à é melhor auscultado com a campânula. Pode ser representada por “TUM-TA-TA” (mais parecido com desdobramento de B2). Representação no ciclo cardíaco: fim da sístole e início da diástole, em que há fechamento de valva pulmonar e aórtica → relaxamento isovolumétrico → abertura de valva mitral e tricúspide → enchimento ventricular rápido (B3) → enchimento ventricular lento → contração atrial. Fisiológico: B3 pode ser auscultado fisiologicamente no foco mitral em crianças e adultos jovens, principalmente em decúbito lateral esquerdo (DLE). Patológico: pode ocorrer na ICC (hipertrofia excêntrica do ventrículo), insuficiência mitral e miocardite. A B3 patológica é denominada “Ritmo de galope ventricular”: o Mais audível em área tricúspide ou ponta do coração, em DLE. Melhor auscultada com a campânula o Presente em paciente que já apresentam alguma doença cardíacas, principalmente IC o Pode ser mais palpável do que audível: PA-TÁ- TÁ Para diferenciar a B3 patológica da fisiológica é preciso analisar a história e o exame físico. Quarta bulha (B4) A quarta bulha é decorrente da brusca desaceleração do fluxo sanguíneo mobilizado pela contração atrial de encontro à massa sanguínea existente no interior do ventrículo, no final da diástole. Ou seja, decorre do choque do sangue atrial com o sangue ventricular residual. Trata-se de um ruído pré-sistólico (ou telediastólico) de baixa frequência, melhor audível com a campânula à TUM-TA-TU. A ausculta fisiológica é rara, podendo ocorrer em estados hipercinéticos ou atletas. Aparece patologicamente em pacientes com HAS, miocardiopatia hipertrófica (concêntrica), isquemia miocárdica. Geovana Sanches, XXIX SOPROS CARDÍACOS E INSUFICIÊNCIA CARDÍACA O coração é uma bomba única que trabalha simultaneamente com duas bombas internas: a direita e a esquerda. Ele bate cerca de 72x por minuto, de maneira automática, sendo que essa frequência pode aumentar ou diminuir de acordo com a demanda do organismo. Periferia → Sangue desoxigenado chega pelas veias cavas superior e inferior → AD → Aumento da pressão intratrial → Abertura das valva tricúspide à Diástole do VD (enchimento de sangue desoxigenado) → Aumento da pressão intraventricular → Abertura da valva pulmonar → Ejeção do sangue pelas artérias pulmonares → Pulmão → Sangue desoxigenado torna-se oxigenado nos pulmões → Sangue vai para as vv. pulmonares → AE → Enchimento do AE → Pressão AE > Pressão VE → Abertura da valva mitral → Sangue oxigenado cai no VE (diástole ventricular) → Aumento da pressão intraventricular → Fechamento da valva mitral e abertura da valva aórtica → Sístole do VE → Expulsão do sangue oxigenado do VE para aorta → Distribuição para organismo Ciclo cardíaco A sístole ventricular direita e esquerda ocorrem ao mesmo tempo, sendo que o fechamento das valvas atrioventriculares e abertura das semilunares é quase simultâneo. O som auscultado é a somatória de todos esses eventos. A diástole ventricular também ocorre ao mesmo tempo dos dois lados, com fechamento das valvas semilunares e abertura das atrioventriculares. Sons cardíacos normais A sístole é o pequeno silêncio entre B1 e B2, enquanto a diástole é o grande silencio entre B2 e B1. B1: fechamento das valvas átrio-ventriculares e abertura das semilunares. B2: fechamento das valvas semilunares e abertura das valvas átrio-ventriculares. SOPROS CARDÍACOS Em condições normais, o sangue flui de forma laminar, com velocidade pouco mais rápida na porção central. Quando o fluxo forma turbilhões, as vibrações originam ruídos chamados sopros. Os sopros cardíacos são, portanto, fenômenos de ausculta produzidos por vibrações decorrentes de alterações no fluxo sanguíneo no coração (por exemplo, turbilhonamento causado por valvopatia). Os principais motivos que os causam são: • Aumento da velocidade da corrente sanguínea: febre, hipertireoidismo (aumento da demanda e da FC), após exercício vigoroso. • Diminuição da viscosidade sanguínea: anemia • Passagem do sangue através de uma zona estreitada/dilatada: defeitos valvares, como insuficiência e estenose; anormalidades congênitas como comunicação inter- ventricular (CIV) e persistência de canal arterial (PCA). CARACTERÍSTICAS SEMIOLÓGICAS DOS SOPROS Situação no ciclo cardíaco Devemos identificar se o sopro é sistólico ou diastólico. Uma estratégia para tal é colocar a polpa digital na carótida e auscultar com muita calma o sopro. Se o sopro for concomitante ao pulso, ele é sistólico. Por outro lado, se o som não coincidir com o pulso carotídeo, ele é diastólico. A identificação da situação do sopro no ciclo cardíaco é de extrema importância, pois limita as possibilidades das possíveis síndromes. Localização Verificar em qual foco audível o sopro está mais intenso, procurando em todos os focos. Geovana Sanches, XXIX Todavia, caso um sopro esteja mais intenso no foco mitral, não significa obrigatoriamente que ele esteja sendo formado na valva mitral. Irradiação O som dos sopros pode irradiar para outras áreas em decorrência da intensidade dos ruídos e da direção da corrente sanguínea. Dependendo da localização do sopro, existem diferentes locais de irradiações mais comuns. • Foco aórtico: carótidas (região cervical) e fúrcula • Foco pulmonar: região infraescapular esquerda • Foco tricúspide: mitral • Foco mitral: região axilar Intensidade A intensidade dos sopros é classificada através do sistema de cruzes. A intensidade depende de vários fatores,como a espessura da parede torácica, a ocorrência de enfisema ou derrame pericárdico, a velocidade do fluxo ou o volume de sangue que passa pelo local em que ele se origina. + Audíveis apenas se ambiente silencioso e com cuidado ++ Intensidade moderada +++ Sopros intensos ++++ Muito intenso, audível mesmo quando se afasta o estetoscópio Sopros intensos, a partir de 3+, normalmente são acompanhados de frêmitos, ou seja, sensação tátil do sopro na parede torácica. Timbre O timbre corresponde à qualidade do sopro emitido, a qual está relacionada com a velocidade do fluxo e com a etiologia do turbilhonamento sanguíneo. Apesar de ser de difícil identificação, é importante para a diferenciação dos sopros. Alguns exemplos de timbre são os sopros aspirativos e em ruflar de asas. Modificações com manobras Utilizamos manobras que aumentam o preenchimento do lado direito ou esquerdo do coração. Dependendo das manobras, podemos aumentar ou diminuir os sopros e, com isso, identificamos que valvopatia estamos diante. SOPROS SISTÓLICOS Sístole: fechamento das valvas AV e abertura das semilunares à contração dos ventrículos. Na estenose aórtica ou pulmonar, a saída do sangue é dificuldade na sístole, como se houvesse uma resistência à ejeção. Essas estenoses normalmente são causadas por má- formação congênita, doenças crônicas (febre reumática, HAS, DM) e calcificação senil (principalmente). Na insuficiência mitral ou tricúspide, as valvas AV não se fecham corretamente. Com isso, quando submetidas a alta pressão sistólica, ocorre regurgitação (saída de sangue dos V para os A). As principais causas dessas insuficiências são o rompimento das cordas tendíneas (por febre reumática, cardiopatia insquêmica ou endocardite infecciosa), prolapso mitral e dilatação do anel valvar. A comunicação inter-ventricular (CIV) é uma alteração congênita que também produz sopro sistólico. Estenose aórtica Observação: ao conjunto das três válvulas aórticas, damos o nome de valva aórtica. Geovana Sanches, XXIX A estenose aórtica é caracterizada por importante hipertrofia concêntrica VE (diminuição do tamanho), decorrente do aumentao da pressão ventricular, necessária para vencer a resistência da estenose aórtica. O ventrículo deve vencer a resistência que a válvula coloca para manter o débito cardíaco, o que promove aumento da pressão diastólica e maior tempo de ejeção sistólico (sístole mais longa para manter o débito cardíaco). Com a musculatura hipertrofiada, há dificuldade de irrigação do miocárdio pelos vasos intramurais, levando a um desbalanço de oferta- consumo de O2 e resultando em angina de peito. Com o tempo, há degeneração das fibras cardíacas pela hipóxia, culminando em insuficiência ventricular esquerda. Os sintomas dessa condição aparecem de acordo com o diâmetro do estreitamento. Incialmente há uma resposta adaptativa com hipertrofia, a fim de compensar e manter o DC. No entanto, ao longo do tempo, há diminuição da complacência (VE mais endurecido) e a diástole começa a depender cada vez mais da contração atrial, sobrecarregando, também, os átrios. Quando o ventrículo fica mais endurecido e resistente (perda da complacência), há aumento da pressão intraventricular e, consequentemente, aumento da pressão intratrial E. Isso resulta no aumento da pressão venosa dos vasos pulmonares, gerando dificuldade na troca gasosa e, consequentemente, dispneia. A dificuldade em cumprir com o débito cardíaco promove redução da perfusão cerebral, podendo causar síncope (por baixo fluxo cerebral). Características semiológicas da estenose aórtica O sopro sistólico da estenose aórtica apresenta característica ejetiva e em “diamante” (formato de losango), pois a ejeção do sangue entre a valva aórtica estenosada é inicialmente lenta, atingindo um pico e reduzindo posteriormente. É melhor auscultado com a campânula no foco aórtico, sendo as principais irradiações a fúrcula e as carótidas (região cervical). Devido a demora do pulso em chegar à carótica, temos pulso parvus e tardus. Esses achados são mais intensos quando a estenose aórtica é mais intensa, de forma que as estenoses de baixo grau, normalmente, não possuem essa característica. Manobras Agachamento: pedimos para que o paciente se agache, o que promove aumento do retorno venoso devido a compressão temporária dos vasos das pernas, aumentando a pressão do VE e, consequentemente, intensificando o sopro. Em pé: diminuição do retorno venoso em consequência do aumento da pressão torácica à diminuição da pressão arterial à vasodilatação periférica à diminuição do volume esquerdo à diminuição do sopro. Manobra de valsava: a manobra de valsava consiste na expiração forçada contra algo que impeça a saída do ar, como os lábios fechados ou o punho na boca. Trata-se de outra manobra que reduz o RV, mas que ocorre em função do aumento da pressão intratorácica. A partir disso, há diminuição da pressão arterial e vasodilatação periférica, diminuindo o volume esquerdo e promovendo redução do sopro. Manobra de Hand Grip: trata-se da manobra de exercício isométrico, a qual é pouco utilizada. O paciente deve permanecer com a mão Geovana Sanches, XXIX fechada por 20-30 segundos e, enquanto isso, fazemos a ausculta. O exercício isométrico, em condições normais, leva ao aumento da resistência arterial sistêmica e da pressão arterial. No entanto, na estenose aórtica, há redução do gradiente da pressão através da valva e, por isso, o sopro dimimui. Insuficiência mitral A insuficiência mitral (IM) consiste na dificuldade de fechamento da válvula, a qual não está íntegra e permite regurgitações. Devido a essa característica, o sopro é denominado regurgitativo e a condição, regurgitação mitral. As principais causas são valvopatia reumática, cardiopatia isquêmica, dilatação do anel (cardiomiopatia dilatada, por exemplo) ou endocardite infecciosa. Fisiopatologia Em condições normais, a valva mitral se fecha e a aórtica se abre para que ocorra esvaziamento do VE de maneira adequada. Diante de um problema na valva mitral, em que elas se fecham incorretamente, no momento da sístole ventricular há saída do sangue do VE para Aorta e regurgitação de sangue do VE para AE. Com isso, o volume regurgitante faz com que haja um aumento da pressão no átrio esquerdo e, consequentemente, da pressão do capilar pulmonar, resultando, ao longo do tempo, na insuficiência cardíaca. O sangue regurgitado para o átrio esquerdo aumenta a pressão atrial esquerda e, por conseguinte, gera congestão pulmonar, manifestada como dispneia (e edema agudo de pulmão em casos graves). A medida que a condição progride, a pressão aumenta a dilatação e disfunção do VE, podendo levar à disfunção do AE à aumento do risco para arritmias atriais e contribuição para a insuficiência. Características semiológicas da insuficiência mitral Ao exame físico, a palpação exibe ictus cordis intenso e deslocado para a esquerda devido a dilatação, e frêmito sistólico presente. O sopro é holossistólico regurgitativo, ou seja, ocorre em toda a sístole e tem característica de regurgitação. Por ser um sopro de alta frequência, ele pode ser melhor auscultado com o diafragma, no foco mitral. Pode provocar hipofonese de B1, visto que o ruído de B1 é formado por 2 componentes: (1) fechamento de valva mitral e (2) fechamento de valva tricúspide. Na insuficiência mitral, o componente mitral é mais fraco, ocasionando a hipofonese. O local de irradiação mais comum é a axila, mas também pode ocorrer para região infraescapular E. Manobras Agachamento: aumento do RV por compressão dos vasos do MMII à aumento temporário da PVE à aumento do sopro. Vasalva e em pé: redução do RV à redução do volume de VE à redução do sopro. Hand grip: exercício isométrico à aumento daresistência arterial periférica à aumento da pressão sanguínea à aumento do volume do VE à aumento da regurgitação do VE à redução do fluxo aórtico à redução do gradiente de pressão da valva aórtica à aumento do sopro. Insuficiência da Tricúspide Um dos achados mais comuns do sopro por insuficiência de tricúspide é a irradiação para foco mitral, podendo gerar dúvida se o sopro é mitral ou tricúspide. Geovana Sanches, XXIX Para diferenciar, é feita a manobra de Rivero Carvalho: pedimos para que o paciente inspire profundamente e segure a respiração à aumento do retorno venoso e diminuição da pressão intratorácica à maior fluxo sanguíneo para o VD à sopro mais claro e intenso em foco tricúspide, descartando a possibilidade de sopro mitral. SOPROS DIASTÓLICOS Diástole: fechamento das valvas semilunares e abertura das valvas AV à enchimento dos ventrículos. As insuficiências aórtica e pulmonar permitem escape de sangue que deveria estar nos ventrículos para a diástole. Enquanto as estenoses mitral e tricúspide dificultam a passagem de sangue do A para V, causando turbilhonamento durante a diástole e prejudicando o enchimento ventricular. Insuficiência aórtica A insuficiência aórtica consiste na incapacidade de fechamento das sigmoides aórticas, tornando possível o refluxo de certa quantidade de sangue para o ventrículo esquerdo durante a diástase. É uma das valvopatias mais importantes, tendo em vista que apresenta diversos achados semiológicos. As valvas aórticas normais são como “bolsões”, sendo que há uma região que coleta o sangue que retorna pela aorta. Causas de insuficiência aórtica • Degenerativa: degeneração ou calcificação da valva pode prejudicar o seu funcionamento ao longo do tempo. É mais comum em idosos, que podem ter tanto estenoses como insuficiências aórticas por degenerações • Dilatação da aorta • Alteração congênita: valva bicúspide à valva aórtica com apenas 2 válvulas, o que, ao longo do tempo, com o aumento da pressão, pode gerar insuficiência nessa valva. • Febre reumática • Endocardite Fisiopatologia Na insuficiência aórtica, uma parte do sangue retorna para o VE durante a diástole, o que reduz a pressão diastólica e aumenta a pressão de pulso. Além disso, caso o sangue retorne para o VE por não ficar adequadamente nos “bolsões” da valva, há redução da perfusão das coronárias, ocasionando angina (por baixo fluxo sanguíneo das coronárias). A insuficiência aórtica leva ao aumento progressivo do volume diastólico final do VE, uma vez que esse volume que retorna vai se somando ao volume ventricular residual. Com isso, há sobrecarga no VE que, ao longo do tempo, leva à hipertrofia excêntrica do VE e sobrecarga do AE, aumentando a pressão capilar pulmonar e gerando dispneia no paciente. A hipertrofia excêntrica do VE exige uma oferta maior de O2 pelo miocárdio espessado, o que pode levar à angina e facilitar quadros de fibrose miocárdica (por deficiência de perfusão). Características semiológicas da insuficiência aórtica Ao exame físico, a palpação exibe ictus cordis intenso e deslocado para a esquerda, tipo musculoso e amplo, indicativo da dilatação e hipertrofia do ventrículo esquerdo. A ausculta demonstra B2 hipofonética, pois tendo em vista que o componente aórtico não fecha corretamente, o som é mais baixo. O sopro é diastólico, com intensidade decrescente, do tipo aspirativo, audível em foco aórtico ou aórtico acessório (muito intenso). É de alta frequência, melhor auscultado com o diafragma do estetoscópio, quando o tórax Geovana Sanches, XXIX do paciente está inclinado para frente e ao final da expiração. Pode irradiar para foco tricúspide e/ou mitral. Para identificar corretamente o sopro, pode-se realizar a manobra de Rivera Carvalho (mitral x tricúspide) e a manobra de inclinação do tórax para frente, associado a apneia expiratória (mitral e tricúspide x aórtica). Nos casos graves, ausculta-se também um sopro sistólico, de ejeção, causado pelo hiperfluxo de sangue pela valva aórtica. Há ainda o sopro e Austin-Flint, diastólico e de baixa intensidade, audível no ápice, que tem origem no impacto do jato regurgitante da insuficiência aórtica sobre o folheto anterior mitral. Os sinais periféricos são decorrentes da grande pressão diferencial, tanto por aumento da pressão sistólica, devido ao maior volume de sangue ejetado, como por diminuição da pressão diastólica, decorrente da própria lesão valvar. A partir dessa diferente entre as pressões sistólica e diastólica surgem o pulso radial amplo, com redução abrupta e célere (pulso em martelo d’água ou pulso de Corrigan); pulsações visíveis das carótidas (dança das artérias); pulso digital, pulso capilar e oscilações da cabeça acompanhando os batimentos cardíacos (sinal de Musset); pulsação na base da língua (sinal de Minervini); variação da tonalidade subungueal pulsátil, palidez a ruborização à compressão leve (Sinal de Quincke); pulsação da úvula (sinal de Muller); som agudo auscultado sobre o pulso femoral, como um ruído de pistola (sinal de Traube); duplo sopro auscultado à compressão da artéria femoral (sinal de Duroziez); pulsação da cabeça devido à pulsação das vertebrais, sendo oposto ao sinal de Musser (sinal de Felletti); PAS no membro inferior maior que PAS no membro superior (sinal de Hill); miose e midríase rítmicas com a pulsação da artéria oftálmica (sinal de Landolf). Manobras Agachamento: aumento do RV pela compressão dos vasos de MMII à aumento da PVE à aumento da regurgitação à aumento do sopro. Valsava e em pé: redução do RV à redução do volume de VE à redução do sopro. Hand grip: promove aumento da resistência vascular periférica, que embora reduza o fluxo aórtico, aumenta o volume de VE e provoca maior regurgitação, aumentando o sopro. Estenose mitral Uma das principais causas da estenose mitral é a febre reumática, a qual provoca alteração na anatomia da valva, deixando-o espessada e, consequentemente, reduzindo o diâmetro de passagem de sangue do átrio para o ventrículo. Com a redução da passagem de sangue, há aumento de pressão intertrial e da sobrecarga atrial. Devido a elevação da pressão nos capilares pulmonares, há aumento da congestão pulmonar, podendo levar a hipertensão pulmonar com hemoptise e dispneia. Em casos graves, a hipertensão pulmonar pode provocar uma insuficiência do lado direito do coração, o que culmina em uma congestão sistêmica. Vale ressaltar que o aumento da pressão e dilatação do átrio eleva o risco de formação de Geovana Sanches, XXIX focos ectópicos atriais, gerando a fibrilação atrial (mais comum de ocorrer na estenose mitral). Características semiológicas da estenose mitral Presença de sopro diastólico em ruflar de asas (bater de asas de pássaros), de baixa frequência (melhor auscultado com a campânula). Costuma gerar hiperfonese de B1 no foco mitral e, dependendo do grau de estenose, se houver hipertensão pulmonar, hiperfonese de B2. Há estalido de abertura (decorrente da rigidez dos folhetos), o qual apresar de presente nos sopros diastólicos em geral, é mais evidente no caso de estenose mitral. A irradiação mais comum é para a axila. Observação: todos os sopros de foco mitral têm sua ausculta facilitada em decúbito lateral esquerdo e após exercício físico. Manobras Agachamento: aumento do RV por compressão dos vasos em MMII à aumento PVE à aumento do sopro. Valsava e em pé: diminuição do retorno venoso à redução do volume de VE à redução do sopro. Hand grip: promove aumento da resistência vascular periférica que, embora reduzao fluxo aórtico, aumenta o volume no VE e aumenta a regurgitação, aumentando o sopro. à Exercício isotônico: pedimos para o paciente se sentar e se deitar na posição sentada em sequências repetidas. Isso promove aumento davelocidade do fluxo sanguíneo, intensificando o volume que chega ao VE e, consequentemente, aumentando o sopro. INSUFICIÊNCIA CARDÍACA (IC) A insuficiência cardíaca é a via final de praticamente todas as doenças cardiovasculares não controladas. Sendo assim, não basta reconhecermos os sinais e sintomas da IC; é necessário identificar qual a sua etiologia. É uma síndrome clínica complexa de caráter sistêmico, definida como disfunção cardíaca, ou seja, a bomba cardíaca não consegue mais realizar sístole e diástole de maneira adequada, e consequentemente, é incapaz de oxigenar os tecidos adequadamente. Há inadequado suprimento sanguíneo para atender necessidades metabólicas tissulares, na presença de retorno venoso normal ou, caso haja suprimento, é realizado somente com elevadas pressões de enchimento. Causas IAM: há necrose do músculo cardíaco, o que pode evoluir para insuficiência cardíaca aguda. O sinal de Levine sugere dor precordial, provavelmente por IAM. Hipertensão: a HAS pode levar a hipertrofia ao longo do tempo, aumentando os riscos para evolução à IC. Miocardite: inflamações e infecções ocasionadas por vírus, levando a mal competência do coração. Doenças congênitas: cardiomiopatia hipertrófica idiopática à doença genética relativamente comum. Valvopatias: estenoses e insuficiências, que podem sobrecarregar as câmaras cardíacas, tornando-as insuficientes. Protozoários: doença de chagas à transmitida através da inoculação do T. cruzi pelo barbeiro. Possui tropismo pelo sistema elétrico cardíaco, evoluindo com bloqueios. O comprometimento do sistema elétrico pode causar, ao longo do tempo, uma repercussão nos mecanismos compensatórios, progredindo para IC. Doenças sistêmicas: diabetes e anemia, por exemplo, contribuem para IC. Geovana Sanches, XXIX Classificação da Insuficiência Cardíaca 1. Anatômica: a IC pode acometer 1 ou ambos os lados do coração, podendo estar ou não associada a congestão. 2. Débito Cardíaco: hipertireoidismo à aumento da FC e, consequentemente, aumento do risco de arritmias à evolução para IC com alto DC. 3. Prejuízo no ciclo cardíaco IC sistólica: alteração de contratilidade do VE e alteração de fração de ejeção (não há força de contração adequada). IC diastólica: alteração de complacência do ventrículo (ventrículo mais endurecido). 4. Congestão: ICC (insuficiência cardíaca congestiva). Antigamente, o termo ICC era utilizado num geral. Entretanto, nem todos os pacientes com insuficiência cardíaca apresentam congestão, de forma que só teremos ICC quando ela está associada à congestão. Fisiopatologia A IC pode ser causada por diversas causas, sendo que todas elas podem levar a disfunção ventricular. A disfunção ventricular estimula mecanismos compensatórios na tentativa de manter o débito cardíaco, a partir de: 1. Ativação dos sistemas neuro-humorais Há ativação de barorreceptores, com liberação de adrenalina estimula o SNA simpático, aumentando a FC e, consequentemente, o DC. A atividade adrenérgica promove toxicidade direta, trazendo como benefício o aumento da FC e da contratilidade. No entanto, isso aumenta o consumo de O2, podendo lesar o miócito, com consequente diminuição da contratilidade e aumento compensatório da atividade adrenérgica à ciclo vicioso. Além disso, o sistema renina-angiotensina- aldosterona (SRAA) é ativado devido ao baixo fluxo renal, gerando vasoconstrição e sobrecarga do volume (há retenção de Na+ e água pela liberação de aldosterona) à aumento da tensão parietal e do consumo de O2, com lesão no miócito à reduz contratilidade e gera hipertrofia. 2. Mecanismo de Frank-Starling Quanto mais o miocárdio é estendido durante o enchimento, maior a força de contração e a quantidade de sangue bombeado. Essa adaptação denominada complacência cardíaca e é promovida pelo próprio miócito, em conformidade com as forças de Starling; quando o ventrículo estendido é capaz de manter o DC dessa forma, diz-se que o paciente possui IC compensada. Todavia, o coração tem capacidade limitada de estiramento e, quando o limite é ultrapassado, há remodelamento cardíaco. 3. Hipertrofia ventricular As fibras cardíacas não são capazes de se proliferar, mas se adaptam a um aumento de carga a partir da hipertrofia. Nessa situação, os sarcômeros tendem a se reagrupar um acima do outro, aumentando a espessura da parede ventricular, sem que ocorra aumento da câmara, o que caracteriza a hipertrofia concêntrica. Quando os ventrículos hipertrofiados não conseguem mais manter um débito cardíaco suficiente, o indivíduo passa a ter uma IC descompensada. Outros mecanismos compensatórios • Reação inflamatória crônica: produção de citocinas e de TNF, principalmente nas IC graves, em que o paciente tem dispneia de repouso, podendo evoluir para síndrome consumptiva. Geovana Sanches, XXIX • Disfunção endotelial: leva ao aumento da vasoconstrição pela liberação de entotelina e, consequentemente, ao remodelamento. • Liberação de ácido lático por baixa perfusão, decorrente da isquemia. • Estresse cavitário pelo óxido nitroso. • Ativação neuro-hormonal/humoral à EPI, NOR, peptídeo natriurético e SRAA (estimula retenção de sais e água, aumentando o volume circulatório. • Liberação de NOR: vasoconstrição Insuficiência cardíaca esquerda (ICE) Fisiopatologia A insuficiência cardíaca esquerda decorre do aumento da pressão no ventrículo esquerdo, sendo as causas mais comuns a cardiopatia isquêmica, hipertensão sistêmica, valvopatias aórticas ou mitrais e doenças infiltrativas. O aumento da pressão no VE leva a diminuição do fluxo sanguíneo a partir do AE, com consequente aumento da pressão sobre ele. O aumento da pressão sobre o átrio esquerdo, por sua vez, leva a redução do fluxo sanguíneo dos vasos pulmonares, ocasionado aumento da pressão na circulação pulmonar. Com isso, há extravasamento de líquido para dentro dos tecidos pulmonares e alvéolos (edema e congestão pulmonar), levando ao comprometimento das trocas gasosas, a qual se manifestada, comumente, com dispneia. A medida que a insuficiência progride, os pacientes passam a apresentar ortopneia, apontada pelo número de travesseiros utilizados durante o sono, e dispneia paroxística noturna. A tosse seca também é comum, resultando da transudação de plasma da congestão para o interior dos espações aéreos, podendo levar a asma cardíaca. O acúmulo de líquido nas vias e nos alvéolos também se manifesta por estertores grossos e finos, respectivamente. Com a redução do débito cardíaco, há redução do fluxo renal, o que diminui a filtração glomerular e leva a oligúria (diminuição da urina). Quando o paciente se deita, o retorno venoso é restabelecido, aumentando a função e filtração renal nessa posição. Com isso, há inversão do hábito urinário, denominado noctúria. Essa redução do fluxo renal pode culminar na piora da função renal. Essa diminuição do DC também afeta os músculos, resultando em astenia decorrente do acúmulo de ácido lático na musculatura. Sobre o TGI, manifesta-se com a redução do apetite (por baixa perfusão) e empachamento pór prandial. Quando a má perfusão atinge o cérebro, manifesta-se com cefaleia, dificuldade de concentração, ansiedade e confusão mental. Há, ainda, taquicardia resultando da hiperatividade adrenérgica e presença do ritmo de galope (B3). Insuficiência cardíaca direita (ICD) A principal causa da ICD é como consequência à ICE, tendo em vista que ao longo do tempo ela gera sobrecarga sobre o lado direito do coração. A ICD isolada pode decorrer de hipertensão pulmonar grave, a qual resulta da cor pulmonale (hipertrofia concêntrica do lado direito do coração, decorrendo da hipertensão pulmonar), em casos de valvopatias tricúspide e pulmonar, ou shunts que provocam sobrecarga crônica desse lado do coração. A insuficiência cardíaca
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