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Discente: Ana Karolina Martins Silva Módulo: Medicamentos que atuam no sistema respiratório tema- Asma Brônquica: Fisiopatologia e tratamento farmacológico. A asma é uma doença inflamatória crônica das vias aéreas inferiores. Clinicamente, caracteriza-se por aumento da responsividade das vias aéreas a variados estímulos, com consequente obstrução ao fluxo aéreo, de caráter recorrente e tipicamente reversível, espontaneamente ou com tratamento, manifestando-se clinicamente por episódios recorrentes de sibilância, dispneia, aperto no peito e tosse, particularmente à noite e pela manhã ao despertar. Resulta de uma interação entre genética, exposição ambiental a alérgenos e irritantes, e outros fatores específicos que levam ao desenvolvimento e manutenção dos sintomas. A prevalência da asma aumentou continuamente a partir da década de 1970 e a OMS estima que essa doença afete 235 milhões de pessoas em todo o mundo. Mais de 25 milhões de indivíduos nos EUA têm asma. Asma é uma das doenças crônicas mais comuns da infância, afetando mais de 6 milhões de crianças nos EUA; ela ocorre mais frequentemente em meninos antes da puberdade e em meninas após a puberdade. Ela também ocorre com mais frequência em negros não hispânicos e porto-riquenhos. Contudo, apesar de sua crescente prevalência, tem havido um recente declínio na mortalidade. Nos EUA, cerca de 3.400 mortes ocorrem anualmente devido a asma. No entanto, a taxa de mortalidade é 2 a 3 vezes maior em negros do que em brancos. A asma está entre as principais causas de hospitalização de crianças, e a condição crônica número 1 que acarreta absenteísmo no ensino elementar. Estima-se que asma custe US$ 56 bilhões/ano em cuidados médicos e perda de produtividade. O desenvolvimento de asma tem múltiplos fatores e depende de interações entre múltiplos genes suscetíveis e fatores ambientais. Mais de 100 genes de susceptibilidade à asma foram descritos. Acredita-se que muitos pertençam à ampla categoria de células T-helper tipo 2 (TH2) e podem desempenhar um papel em inflamações. Exemplos são o gene FCER1B, que codifica a cadeia beta do receptor de IgE com alta afinidade; os genes que codificam certas interleucinas (IL), como a IL-4, a IL-13 e o receptor da IL-4; os genes responsáveis pela imunidade inata (HLA-DRB1, HLA-DQB1, CD14) e os genes que participam da inflamação celular [p. ex., genes que codificam o fator estimulador de colônias de granulócitos-monócitos (GM-CSF) e fator de necrose tumoral alfa (FNT-α)]. Além disso, o gene ADAM33 pode estimular a proliferação e o remodelamento da musculatura lisa das vias respiratórias e dos fibroblastos; foi o primeiro locus identificado para o risco de asma em estudos de interrelação entre todo o genoma de famílias. Mais recentemente, o mais replicado está no locus do cromossomo 17q21. Esse locus contém o gene ORMDL3, que é um gene induzível por alergênios e citocinas (IL-4/IL-13) que participa do remodelamento das células epiteliais e do metabolismo de esfingolipídios que alteram a hiperreatividade brônquica. Os fatores ambientais do risco de asma podem ser: ✓ Exposição a alergênios ✓ Dieta ✓ Fatores perinatais As evidências implicam claramente alérgenos domésticos (p. ex., pó oriundo de ácaros, baratas e animais de estimação) e outros alérgenos ambientais no desenvolvimento da doença em crianças mais velhas e adultos. Alimentação com baixo teor de vitaminas C, vitamina E e ácidos graxos ômega 3 foram relacionadas com a asma, bem como com a obesidade; entretanto, a complementação alimentar com essas substâncias parece não prevenir a asma. A asma também é relacionada com fatores perinatais, como baixa idade materna, nutrição materna precária, prematuridade, baixo peso ao nascer e ausência de aleitamento materno. Por outro lado, a exposição à endotoxina precocemente na vida pode induzir tolerância e ser protetora. A poluição do ar não está definitivamente vinculada ao desenvolvimento da doença, embora ela possa deflagrar exacerbações. O papel da exposição da criança à fumaça do cigarro é controverso, uma vez que alguns estudos revelaram um efeito contribuidor e outros, um efeito protetor. Componentes genéticos e ambientais podem interagir. Especialistas acreditam que os lactentes tenham predisposição para desenvolver respostas imunes TH2 pró-inflamatórias e pró-alérgicas, caracterizadas pelo crescimento e pela ativação de eosinófilos e produção de IgE. No início da infância, a exposição a endotoxinas e infecções bacterianas e virais conduzem o corpo a respostas do tipo TH1, o que suprime as TH2 e induz tolerância. As tendências de países desenvolvidos de constituírem famílias menores, ambientes internos mais limpos e uso precoce de vacinas e antibióticos podem privar as crianças dessa supressão de TH2 e das exposições indutoras de tolerância e explicar parcialmente o aumento contínuo da prevalência da asma nos países desenvolvidos (hipótese da higiene). Síndrome de disfunção reativa das vias respiratórias (SDRVR) e asma induzida por irritantes A síndrome de disfunção reativa das vias respiratórias (SDRVR) é o início rápido (minutos a horas, mas não > 24 horas) de uma síndrome do tipo asmática que • Ocorre em pessoas sem história de asma • Ocorre após uma única exposição específica por inalação a uma quantidade significativa de gás ou partículas irritantes • Persiste por ≥ 3 meses Numerosas substâncias foram implicadas, como gás cloro, óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis (p. ex., tintas, solventes e colas). A exposição costuma ser evidente para o paciente, especialmente quando os sintomas são quase imediatos. Asma induzida por irritantes diz respeito a uma resposta do tipo asmática persistente após exposição inalatória, várias ou regular, a altos níveis de substâncias irritantes similares. Às vezes, as manifestações são mais insidiosas e, portanto, a conexão com a exposição inalatória só fica clara em retrospecto. SDRVR e asma crônica induzida por irritantes têm muitas semelhanças clínicas com a asma (p. ex., sibilância, dispneia, tosse, restrição do fluxo respiratório, hiper-reatividade brônquica) e respondem significativamente a broncodilatadores e frequentemente a corticosteroides. Ao contrário da asma, não se considera a reação à substância inalada uma alergia mediada por IgE; exposições de baixo nível não causam SDVRR ou asma induzida por irritantes. Mas a exposição repetida ao agente iniciador pode desencadear sintomas adicionais. Fisiopatologia A asma envolve ✓ Broncoconstrição ✓ Edema e inflamação das vias respiratórias ✓ Hiper-reatividade das vias respiratórias ✓ Remodelamento das vias respiratórias Em asmáticos, as células TH2 e outros tipos celulares — notavelmente, eosinófilos e mastócitos, mas também outros subtipos CD4+ e neutrófilos — formam um infiltrado https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/dist%C3%BArbios-pulmonares/doen%C3%A7as-pulmonares-ambientais/asma-ocupacional#v921636_pt inflamatório extenso, no epitélio e na musculatura lisa das vias respiratórias, levando ao remodelamento desta última (i.e., descamação, fibrose subepitelial e hipertrofia da musculatura lisa). A hipertrofia da musculatura lisa obstrui as vias respiratórias e aumenta a reatividade a alergênios, infecções, irritantes, estimulação parassimpática (o que provoca a liberação de neuropeptídios pró-inflamatórios, como substância P, neurocinina A e peptídio relacionado geneticamente à calcitonina) e outros deflagradores broncoconstritivos. Contribuintes adicionais à hiper-reatividade da via respiratória envolvem a perda de inibidores da broncoconstrição (fator relaxante derivado do epitélio e prostaglandina E2) e de outras substâncias que metabolizam broncoconstritores endógenos (endopeptidases), em virtude da descamação do epitélio e do edema da mucosa. O tamponamento mucoso e a eosinofi lia sanguíneaperiférica constituem achados adicionais clássicos na asma e podem ser um epifenômeno da inflamação da via respiratória. Entretanto, nem todos os pacientes com asma têm eosinofilia. Gatilhos da asma Os gatilhos comuns da exacerbação da asma incluem • Alergênios ambientais e ocupacionais • Ar frio e seco • Infecções • Exercício • Inalação de agentes irritantes • Emoção • Ácido acetilsalicílico e outros anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) • Doença do refluxo gastresofágico (DRGE) Os desencadeadores de infecção em crianças pequenas incluem vírus sincicial respiratório, rinovírus e infecção pelo vírus parainfluenza. Em crianças maiores e adultos, as infecções do trato respiratório superior (particularmente por rinovírus) e pneumonia são desencadeadores infecciosos comuns. Exercícios podem ser um gatilho, principalmente em ambientes frios ou secos, e ar frio por si só também pode desencadear os sintomas. Irritantes inalados, como poluição do ar, fumaça de cigarro, perfumes e produtos de limpeza também podem desencadear os sintomas nos pacientes com asma. Emoções como ansiedade, raiva e agitação algumas vezes desencadeiam exacerbações. https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/dist%C3%BArbios-gastrointestinais/doen%C3%A7as-do-es%C3%B4fago-e-da-degluti%C3%A7%C3%A3o/doen%C3%A7a-do-refluxo-gastroesof%C3%A1gico-drg https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/pediatria/miscel%C3%A2nea-de-infec%C3%A7%C3%B5es-virais-em-lactentes-e-crian%C3%A7as/v%C3%ADrus-sincicial-respirat%C3%B3rio-vsr-e-infec%C3%A7%C3%B5es-humanas-por-metapneumov%C3%ADrus O ácido acetilsalicílico é o deflagrador em até 30% dos pacientes com asma grave e em até 10% de todos os asmáticos. A asma sensível ao ácido acetilsalicílico é tipicamente acompanhada de pólipos nasais com congestão nasal e dos seios da face, que é um quadro conhecido como tríade de Sampter (asma, pólipos nasais e sensibilidade ao ácido acetilsalicílico e AINEs). A DRGE é um gatilho entre alguns pacientes com asma, possivelmente por broncoconstrição reflexa induzida por ácido esofágico ou por microaspiração do ácido. Contudo, o tratamento da GERD assintomática (p. ex., com inibidores da bomba de prótons) não parece melhorar o controle da asma. A rinite alérgica frequentemente coexiste com a asma, porém, não está estabelecido se as duas são manifestações diferentes do mesmo processo alérgico ou se a rinite é um deflagrador distinto de asma. Resposta Na presença de deflagradores, há estreitamento reversível das vias respiratórias e ventilação pulmonar desigual. Nas regiões pulmonares distais ao estreitamento das vias respiratórias, a perfusão relativa excede a ventilação relativa; por isso, a tensão alveolar de oxigênio cai e a tensão alveolar de dióxido de carbono aumenta. Geralmente, essa hipóxia com hipercarbia regional causa vasoconstrição pulmonar compensatória a fim de compatibilizar a relação entre a ventilação e a perfusão local; entretanto, esses mecanismos compensatórios falham durante a crise de asma por causa dos efeitos vasodilatadores das prostaglandinas que sofrem modulação positiva durante a crise. A maioria dos pacientes pode compensar pela hiperventilação, mas em exacerbações graves, a broncoconstrição difusa provoca aprisionamento intenso de gás, coloca os músculos respiratórios em uma desvantagem mecânica profunda, de modo que o trabalho respiratório aumenta. Sob essas condições, ocorre agravamento da hipoxemia e do esforço excessivo e eleva-se a PaCO2. Podem ocorrer acidose respiratória e acidose metabólica que, se não tratadas, causam parada respiratória e cardíaca. Tratamento Farmacológico Segundo a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, o manejo farmacológico da asma mudou consideravelmente nas últimas décadas, a partir do entendimento de que a asma é uma doença heterogênea e complexa, com diferentes fenótipos e endótipos. Esse conhecimento modificou as estratégias de manejo da doença, abrindo espaço para o surgimento de novas drogas de controle. Diversas diretrizes e recomendações internacionais recentes sumarizam os critérios para o tratamento da asma em etapas, permitindo visualizar o incremento do tratamento https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/regula%C3%A7%C3%A3o-e-dist%C3%BArbios-%C3%A1cido-base/acidose-respirat%C3%B3ria https://www.msdmanuals.com/pt-pt/profissional/dist%C3%BArbios-end%C3%B3crinos-e-metab%C3%B3licos/regula%C3%A7%C3%A3o-e-dist%C3%BArbios-%C3%A1cido-base/acidose-metab%C3%B3lica de controle à medida que aumenta a gravidade da asma. Apesar desses avanços, o nível de controle da doença continua baixo, com morbidade elevada, independentemente do país estudado. Diferença entre controle e gravidade da asma O conceito de controle da asma compreende dois domínios distintos: o controle das limitações clínicas atuais, como sintomas mínimos durante o dia e ausência de sintomas à noite, necessidade reduzida de medicação de alívio dos sintomas; ausência de limitação das atividades físicas; e redução de riscos futuros, como exacerbações, perda acelerada da função pulmonar e efeitos adversos do tratamento. Com base nesses parâmetros, a asma pode ser classificada em controlada, parcialmente controlada e não controlada, a qual é apresentada pelo quadro a seguir. A avaliação do controle, em geral, é feita em relação às últimas 4 semanas. Uso de outras drogas que podem dificultar o controle da asma Aspirina e anti-inflamatórios não esteroidais podem causar exacerbação grave da asma em indivíduos sensibilizados, assim como β-bloqueadores por via oral ou formulações oftálmicas podem causar broncoespasmo. Nesses casos, a decisão sobre seu uso deve ser considerada individualmente, pesando riscos e benefícios. Comorbidades Uma investigação completa de todos os fatores associados à dificuldade do controle da asma em todos os asmáticos é desnecessária. Entretanto, nos casos de asma de difícil controle, que correspondem a 17,4% de todos os asmáticos adultos e a 74,1% daqueles em tratamento classificados nas etapas IV e V da GINA, deve-se iniciar uma investigação sistematizada para se identificar e minimizar ou eliminar comorbidades — como refluxo gastroesofágico, obesidade, disfunção de cordas vocais, rinossinusite crônica, polipose nasal, ansiedade, depressão, apneia do sono, DPOC, aspergilose broncopulmonar alérgica, bronquiectasias, asma piorada ou causada por exposição ocupacional, entre outras — que possam piorar o controle da doença. Tratamento preferencial de controle da asma O tratamento da asma tem por objetivo atingir e manter o controle atual da doença e prevenir riscos futuros (exacerbações, instabilidade da doença, perda acelerada da função pulmonar e efeitos adversos do tratamento). Isso implica em uma abordagem personalizada, incluindo, além do tratamento farmacológico, a educação do paciente, o plano de ação por escrito, o treinamento do uso do dispositivo inalatório e a revisão da técnica inalatória a cada consulta. A base do tratamento medicamentoso da asma é constituída pelo uso de corticoide inalatório (CI) associado ou não a um long-acting β2 agonist (LABA, β2-agonista de longa duração). Esses medicamentos estão disponíveis para uso no Brasil em diversas dosagens e dispositivos inalatórios (Tabela 1 apresentada em Recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – 2020). Na prática clínica, a escolha da droga, do dispositivo inalatório e da respectiva dosagem deve ser baseada na avaliação do controle dos sintomas, nas características do paciente (fatores de risco, capacidade de usar o dispositivo de forma correta e custo), na preferência do paciente pelo dispositivo inalatório, no julgamento clínico e na disponibilidade do medicamento. Portanto, não existe uma droga, dose ou dispositivo inalatório que se aplique indistintamentea todos os asmáticos. O tratamento de controle da asma é dividido em etapas de I a V, nas quais a dose de CI é aumentada progressivamente e/ou outros tratamentos de controle são adicionados. (Figuras retiradas: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1806- 37132020000100400&script=sci_arttext&tlng=pt) Os medicamentos de controle recomendados nas diferentes etapas do tratamento estão descritos a seguir. Corticoides inalatórios A eficácia dos diferentes corticoides inalatórios varia de acordo com sua farmacocinética e farmacodinâmica, com a deposição pulmonar e com a adesão ao tratamento. A equivalência dos corticoides inalatórios, dividida em dosagens baixa, média e alta, está discriminada na Tabela a seguir: A avaliação da resposta ao tratamento com corticoide inalatório deve ser feita pela combinação de parâmetros clínicos e funcionais. Após a obtenção e manutenção do controle da asma por um tempo prolongado (não inferior a 3 meses), a dose do CI pode ser reduzida para uma dose mínima, objetivando utilizar a menor dose para manter o controle da asma. A utilização de doses altas de CI por tempo prolongado aumenta o risco de efeitos adversos sistêmicos, como redução da densidade mineral óssea, infecções respiratórias (incluindo tuberculose), catarata, glaucoma e supressão do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal. Corticoide inalatório (CI) associado a LABA A associação de CI com um LABA ou LABA de ultralonga duração é o tratamento de controle preferencial nas etapas III a V da asma, ou seja, quando o tratamento com CI isolado não é suficiente para atingir e manter o controle da doença. As evidências para o uso da associação CI + LABA como tratamento de controle preferencial nas etapas III-V do tratamento da asma são muito robustas. Global Initiative for Asthma (GINA), apresentou em sua mais recente edição, amplia essa recomendação, indicando a associação de baixas doses de CI + formoterol por demanda como tratamento preferencial para o controle da asma na etapa I. Na etapa II a recomendação de tratamento preferencial é opcional: CI em baixas doses continuamente ou CI + formoterol por demanda. A recomendação para o uso de CI + formoterol na etapa I do tratamento de asmáticos com idade > 12 anos baseia-se em evidências indiretas de outros estudos com essa associação na asma leve. As recomendações atuais da GINA para a etapa II do tratamento da asma baseiam-se em dois grandes ensaios clínicos randomizados (ECRs) de não inferioridade, controlados e duplo-cegos que avaliaram o uso de budesonida + formoterol em doses baixas (200/6 µg) por demanda vs. CI em dose fixa, com duração de 52 semanas, em pacientes com asma leve.(49,50) Os resultados dos estudos mostraram que CI em dose fixa foi melhor no controle de sintomas; porém, a opção de budesonida + formoterol por demanda não foi inferior na redução de exacerbações e foi superior ao uso de um short-acting β2 agonist (SABA, β2- agonista de curta duração) isolado. Manejo da asma por etapas baseado no controle O tratamento individualizado da asma de acordo com o controle da doença, características e preferências do paciente e acesso ao tratamento implica em consultas mais frequentes (a cada 3-6 meses) e acompanhamento regular do asmático. O racional para o ajuste do tratamento da asma é obter e manter o controle da doença, além de reduzir os riscos futuros com a menor dose possível de medicação de controle. Todo paciente deve receber um plano de ação atualizado, e os resultados do ajuste da dose devem ser acompanhados, se possível, com medidas objetivas. O ajuste da dose (aumento ou redução) do tratamento de controle deve ser feito com ferramentas objetivas que indicam o grau de controle da asma de acordo com o quadro de definição de controle da asma por diferentes instrumentos representado no Quadro 1. Se a asma não estiver controlada, ajusta-se a medicação subindo as etapas e, vice-versa, se a asma estiver controlada. Antes de se considerar qualquer aumento ou redução da dose da medicação de controle, é essencial observar que as estratégias de ajuste das doses devem ser centradas no paciente, incluindo a avaliação da estabilidade da asma (o que significa controle atual e ausência de exacerbações graves no último ano), da adesão ao tratamento, do controle das comorbidades, do risco de exacerbações, da exposição ocupacional e ambiental, da etapa do tratamento e dos potenciais efeitos adversos da medicação. Existem poucos estudos sobre a melhor oportunidade para a redução das doses. Se muito precoce, o paciente corre o risco de exacerbações. Entretanto, a cessação do uso de CI é contraindicada por aumentar esse risco. MANEJO DA ASMA EM CRIANÇAS MENORES DE 6 ANOS O diagnóstico de asma é mais provável em crianças que apresentam tosse, sibilância recorrente (durante o sono ou desencadeada por gatilhos, tais como atividade física, risada, choro ou exposição ao tabaco ou à poluição), dificuldade respiratória (aos exercícios, risadas ou choro), redução de atividades físicas, pai ou mãe portador de asma e história pregressa de outras alergias (dermatite ou rinite atópica), assim como quando o teste terapêutico é positivo com baixa dose de CI (melhora clínica durante 2-3 meses de tratamento e piora do controle quando o tratamento é interrompido). Tratamento de manutenção O objetivo do tratamento é atingir o controle, mantendo a atividade normal da criança, com o mínimo de medicamentos. Visa também reduzir as crises, permitir o desenvolvimento pulmonar saudável e evitar efeitos colaterais. O tratamento preventivo deve ser instituído se o quadro clínico for compatível com asma e se os sintomas não estiverem controlados. Se o diagnóstico for duvidoso, usar SABA de resgate. Entretanto, se os episódios de sibilância se tornarem recorrentes, recomenda-se o teste terapêutico com doses baixas de CI. O tratamento inalatório deve ser feito com inalador pressurizado dosimetrado via espaçador com máscara (para crianças com idade < 4 anos) e sem máscara em crianças maiores. Os responsáveis pela criança devem ser orientados sobre o uso correto da técnica inalatória adequada. A equivalência da dose dos CIs nessa faixa etária está descrita na Tabela : O ajuste do tratamento deve ser feito de acordo com o controle da asma: A resposta ao tratamento deve ser avaliada. Na ausência de resposta descontinuar o tratamento e considerar diagnósticos alternativos. Na ausência de controle satisfatório da asma com CI em doses moderadas associado a montelucaste, pode-se ser considerado acrescentar um LABA. Ressaltamos que existem poucos estudos avaliando a eficácia e a segurança dessa combinação nessa faixa etária. Nessa situação, deve-se considerar o encaminhamento do paciente para um especialista. Tratamento de resgate As crises devem ser tratadas com 200 µg de salbutamol ou equivalente, com uso de espaçador com ou sem máscara. Repetir a cada 20 min a mesma dose se necessário. Se usar mais de 6 jatos de salbutamol nas 2 primeiras horas, pode-se associar brometo de ipratrópio, 80 µg (ou 250 µg por nebulização) a cada 20 min por 1 h. Na ausência de resposta satisfatória recomenda-se procurar atendimento médico imediatamente. O uso de CO nas crises não é recomendado de rotina, devendo ser restrito às crises com necessidade de atendimento de urgência. Nesses casos, priorizar doses baixas e o menor número de dias possível (1-2 mg/ kg por dia de prednisona/prednisolona por 3-5 dias, com dose máxima de 20 mg por dia para crianças ≤ 2 anos e de até 30 mg por dia para crianças > 2 e ≤ 5 anos). Após consulta de emergência, o paciente deve ser reavaliado em 24-48 h e, posteriormente, dentro de 3-4 semanas. MANEJO DA ASMA GRAVE A asma grave é definida como aquela que permanece não controlada com o tratamento máximo otimizado ou que necessita desse tratamento paraevitar que a doença se torne não controlada (na tentativa de reduzir a dose de CI ou CO), apesar da supressão ou minimização dos fatores que pioram o controle da asma. O tratamento máximo significa o uso de doses altas de CI e de um segundo medicamento de controle no ano anterior ou o uso de CO em ≥ 50% dos dias no ano anterior. A asma grave é um subgrupo da asma de difícil controle. Portanto, o diagnóstico de asma grave é retrospectivo. Em muitos asmáticos a supressão ou minimização dos fatores modificáveis associados à falta de controle nem sempre é possível, o que pode dificultar o diagnóstico de asma grave. Tiotrópio: O brometo de tiotrópio, na dose de 5 µg/dia, está indicado como terapia adjuvante para asmáticos com idade > 6 anos com asma não controlada nas etapas IV e V da Global Initiative for Asthma (GINA). Omalizumabe: O omalizumabe é um anticorpo monoclonal humanizado anti-IgE, aprovado no Brasil, e indicado na etapa V para o tratamento da asma alérgica grave. O omalizumabe está indicado para portadores de asma grave com idade ≥ 6 anos. A dose é variável de acordo com peso (20-150 kg) e IgE sérica total (30-1.500 UI/mL), administrado por via subcutânea, a cada 2 ou 4 semanas. Não há um preditor ou desfecho único de resposta ao tratamento. Recomenda- se a avaliação da sua eficácia baseada em desfechos clínicos após seu uso por 16 semanas. Em geral, ele é bem tolerado. Apesar do baixo risco de anafilaxia (0,07- 0,14%), os pacientes devem receber a medicação e ser monitorados em um ambiente com equipamento adequado para reanimação cardiopulmonar após a administração de cada dose. Mepolizumabe: O mepolizumabe é um anticorpo monoclonal humanizado que inibe a IL-5 de se ligar aos seus receptores nos eosinófilos e, consequentemente, reduz a inflamação eosinofílica. O mepolizumabe está indicado no Brasil para o tratamento da asma grave eosinofílica a partir de 6 anos de idade, na etapa V de tratamento. No caso do mepolizumabe, os estudos utilizaram eosinófilos no sangue periférico ≥ 150 células/µL no momento da avaliação ou ≥ 300 células/µL nos 12 meses anteriores para caracterizar a eosinofilia. O mepolizumabe deve ser utilizado na dose de 100 mg por via subcutânea a cada 4 semanas e raramente causa reações de hipersensibilidade. Benralizumabe: O benralizumabe é um anticorpo monoclonal humanizado IgG1-kappa, indicado como terapia adicional em portadores de asma eosinofílica grave. Ao ligar-se ao receptor alfa da IL-5, leva a apoptose do eosinófilo, determinando uma rápida e quase completa depleção dos níveis de eosinófilos séricos. O benralizumabe está indicado no Brasil a partir dos 18 anos de idade na etapa V do tratamento e está disponível como seringa de dose única. A dose recomendada é de 30 mg, administrados por via subcutânea, a cada 4 semanas durante as primeiras três doses e, em seguida, a cada 8 semanas. O benralizumabe raramente causa reações de hipersensibilidade. A avaliação adequada da gravidade da asma e do não controle da doença com a terapia padrão nas etapas 4 e 5 da GINA, além da avaliação correta do nível de aderência ao tratamento e ao controle do ambiente, assim como a identificação dos principais fenótipos e comorbidades que impactam o seu controle são as premissas fundamentais para a correta abordagem da asma grave. A terapia com imunobiológicos focada em alvos específicos, de acordo com o fenótipo e/ou endótipo da doença, já em prática com o omalizumabe para asma alérgica grave e aprovada recentemente com mepolizumabe para asma eosinofilia, representa uma nova e grande janela de oportunidade para a abordagem dos casos mais desafiadores da doença. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS Whalen, K.; Finkel, R.; Panavelil, T. A. Farmacologia ilustrada. 6. ed. Porto Alegre: Artmed, 2016. BRASIL. Ministério da Saúde. 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