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UNIAMÉRICA QUAIS ASPECTOS DO DIREITO CIVIL QUE PODEM SER INFLUENCIADOS E INTERAGIREM COM A ATUAÇÃO DO UBER NO BRASIL Estudante: Adriana Patrícia Fermiano1 Professora: Juliana Viana Setembro /2022 RESUMO RESUMO: Este artigo analisa os aspectos do direito civil que podem ter influências e interagirem com a atuação do Uber no Brasil. Tendo como objetivo apresentar quatro hipóteses de interação entre a atuação do Uber no Brasil e os aspectos do Direito Civil. O estudo foi desenvolvido com base no Código Civil, Constituição Federal, Código do Consumidor e o Código do Processo Civil. A nossa legislação não contendo o conceito concreto do serviço prestado pelo Uber, não caracteriza desta forma um serviço ilegal, sendo que o usuário que utiliza o sistema de serviço prestado pelo Uber está amparado pelo código do consumidor, pois existe uma relação de consumo entre as partes, assim como em um acidente, ocorre de fato uma responsabilidade solidária entre o Uber junto ao motorista em uma eventual ação, assim como a concorrência entre os taxistas e outros meios de transportes alimenta a qualidade e competividade entre estes prestadores de serviços ao qual o usuário será cada vez mais beneficiado. Assim, faz-se necessário uma regulamentação deste serviço para garantir a segurança tanto jurídica como social referente a este serviço. PALAVRAS-CHAVES: Uber, regulamentação, código civil, responsabilidade solidária, consumidor. 1 INTRODUÇÃO Tendo como base o eixo temático acima citado, pode-se fundamentar várias hipóteses que interagiriam entre a atuação do Uber no Brasil e os aspectos do Direito Civil. Sendo assim, neste trabalho apresenta quatro hipóteses do Direito Civil que pode interagir na atuação do Uber no Brasil. 1 Estudante de Pós Graduação da Faculdade Descomplica, Coordenadora Pedagógica da Prefeitura Municipal de Blumenau. Graduação em Pedagogia UDESC. Especialização em Gestão Escolar pela AUPEX. Especialização em Educação Especial: Inclusão pela AUPEX. Graduação em Direito UNISOCIESC. E-mail: adripfermiano8@gmail.com. 2 Considerando em uma primeira hipótese que o Uber foi inserido nos estados brasileiros por volta do ano de 2014 na cidade do RJ, se propagando em outros estados. Surge a indagação da empresa estar atuando e não possuir nenhuma legislação autorizando seu funcionamento, questiona-se então se não seria uma prestação de serviço ilegal já que se refere a uma empresa e assim como qualquer empresa, o objetivo é o lucro e este lucro não está sendo tributado pelo Estado? Já em uma segunda hipótese, se por um acaso o usuário do serviço e aquele que presta o serviço decidam formalizar um contrato, e uma das partes venha a descumprir alguma clausula contratual, indaga-se então, se esse contrato poderia ser levado para a análise do judiciário? Na terceira situação, pode-se levantar a questão de que em um caso onde um automóvel prestador do serviço Uber, atropela uma pessoa, quem deverá responder e arcar com as despesas? O motorista? Ou a Empresa Uber? Para a quarta e última situação, devemos levantar quais os aspectos da pratica do Uber que poderão ser relacionados a responsabilidade social? Visando a atividade concorrencial, pode-se dizer que a prática do Uber é vantajosa tendo em vista que dissolve o monopólio criado pelos taxistas na exploração do serviço de transporte individual, possibilitando assim, o direito de escolha do usuário a um serviço de melhor qualidade. Entretanto, com a aplicação desses serviços, ocorrem aberturas para várias discussões jurisdicionais que necessitam de resolução e posições legais sobre a situação problema. Apenas através de um parecer jurídico, pode afirmar, se o Uber é legal ou trata-se de serviço clandestino, na falta do parecer, o que se subentende é que prevalece o disposto no Art. 170, parágrafo único da Constituição Federal - “É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei.” 2 DESENVOLVIMENTO Considerando em uma primeira hipótese que o Uber foi inserido nos estados brasileiros em 2014 e logo se espalhando nos diversos estados, surge a indagação da empresa estar atuando e não possuir nenhuma legislação autorizando seu funcionamento, questiona-se então se não seria uma prestação de serviço ilegal já 3 que se refere a uma empresa e assim como qualquer empresa, o objetivo é o lucro e este lucro não está sendo tributado pelo Estado? De acordo com a Lei 12.587/12, a qual trata sobre mobilidade urbana, pode-se perceber que o sistema Uber não está em discordância com o que apresenta a lei, como breve explanação temos o art. 3º, §2, inciso II, alínea “b” caracterizando uma das modalidades de serviços como individual, além disso o art. 12 da presente lei trata: "Os serviços de utilidade pública de transporte individual de passageiros deverão ser organizados, disciplinados e fiscalizados pelo poder público municipal, com base nos requisitos mínimos de segurança, de conforto, de higiene, de qualidade dos serviços e de fixação prévia dos valores máximos das tarifas a serem cobradas." Assim, não se trata de um serviço ilegal no País, todavia, necessita de uma regulamentação municipal para que então seja repassado os devidos impostos ao Estado. A indagação levantada pelos taxistas é que, o aplicativo Uber não se submete a nenhuma legislação específica, sem tarifação tributária, e não se sujeitam a inúmeras regulamentações e burocratização que os mesmos são obrigados a serem submetidos ao cumprimento dos preceitos legais destinados a esta classe profissional, gerando assim uma concorrência desleal. De acordo com o parlamentar Adilson Amadeu: Essas empresas, que estão usando aplicativos ilegais, estão usando carros particulares e tendo a garantia de fazer um serviço como táxi. E o táxi é legalizado. O motorista tem alvará, tem Condutaxi. E simplesmente essa empresa, que é uma empresa americana, entrou na contramão em vários países, e entrou aqui no Brasil da mesma maneira.2 Na opinião do Vereador, existe uma concorrência desleal entre os taxistas e os motoristas do aplicativo Uber devido as taxas pagas pelos taxistas, entretanto, apesar dos motoristas da Uber não pagarem licença da Prefeitura, eles gastam com IPVA e, na compra do veículo, pagam IPI e ICMS, além do IOF para o financiamento, fato esse que os taxistas não precisam se preocupar desde a sanção da lei 8.989/95 no qual dispõe em seu art. 1º, inciso I: 2 Discurso do Vereador Adilson Amadeu de SP, disponível em http://www.camara.sp.gov.br/blog/audiencia- publica-discute-aplicativo-de-transporte-na-capital/). Acesso em 17 de dezembro de 2021. http://www.camara.sp.gov.br/blog/audiencia-publica-discute-aplicativo-de-transporte-na-capital/ http://www.camara.sp.gov.br/blog/audiencia-publica-discute-aplicativo-de-transporte-na-capital/ 4 Ficam isentos do Imposto Sobre Produtos Industrializados – IPI os automóveis de passageiros de fabricação nacional, equipados com motor de cilindrada não superior a dois mil centímetros cúbicos, de no mínimo quatro portas inclusive a de acesso ao bagageiro, movidos a combustíveis de origem renovável ou sistema reversível de combustão, quando adquiridos por: I - motoristas profissionais que exerçam, comprovadamente, em veículo de sua propriedade atividade de condutor autônomo de passageiros, na condição de titular de autorização, permissão ou concessão do Poder Público e que destinam o automóvel à utilização na categoria de aluguel (táxi);3 Outro ponto importante para ressaltar é que os taxistas, têm pontos de táxi, podem aceitar pagamento em dinheiro e obter clientes por meios além do aplicativo, sem mencionar que os motoristas do Uber devemseguir exigências para não serem desativados pelo aplicativo como por exemplo buscar usuários com não-usuários dentro do veículo ou recusar o embarque de animais de serviço, como cães-guias, em viagens. Sendo uma prestação de serviços nova no País, o valor recebido pelo aplicativo Uber não está sendo repassado aos cofres públicos, o erro é em estar em funcionalidade sem possuir a devida regulamentação. Porém, nada impede que seja feita esta regulamentação por parte do Poder Público, que seja ao menos tributado uma alíquota de ISS (Imposto sobre serviços de qualquer natureza) proporcional, levando em consideração os gastos que o motorista já possui, e então possa concorrer igualmente com os taxistas. Conforme é argumentado por David Telles em seu artigo: Afinal, a pessoa que pretende ser motorista do Uber, que se encontra comprando um sedan de luxo ou outro automóvel (no caso do Uber X) para trabalhar, está ou não aumentando a arrecadação dos cofres públicos? Sobre o ISS, que incida sobre o serviço, na respectiva alíquota, já que existe fato gerador. 4 Dessa forma, fica nítido que todos tendem a ganhar com a nova forma de locomoção ofertada pela Uber, aumentando a qualidade dos serviços e a competividade no mercado. 4 David Telles, disponível em: https://davidtelles.jusbrasil.com.br/artigos/208975628/analise-tributaria-o-que-o- estado-pode-ganhar-com-o-uber. Acesso em 15 de janeiro de 2002. https://davidtelles.jusbrasil.com.br/ https://davidtelles.jusbrasil.com.br/artigos/208975628/analise-tributaria-o-que-o-estado-pode-ganhar-com-o-uber https://davidtelles.jusbrasil.com.br/artigos/208975628/analise-tributaria-o-que-o-estado-pode-ganhar-com-o-uber 5 Já em uma segunda hipótese, se por um acaso o usuário do serviço e aquele que presta o serviço decidam formalizar um contrato, e uma das partes venha a descumprir alguma clausula contratual, indaga-se então, se esse contrato poderia ser levado para a análise do judiciário? Com a inexistência de norma regulamentadora para a aplicação de serviços prestados pelo aplicativo Uber, surgem inúmeras dúvidas em relação ao serviço prestado. Entre elas destaca-se a questão da quebra contratual e qual seria a forma para resolver tal conflito. O código de defesa do consumidor é uma lei rigorosa que trata de princípios entre prestadores de serviços e consumidores, está estende-se à todas as relações jurídicas que obrigatoriamente caracterizam relação de consumo. Para que se configure uma relação de consumo a doutrinadora Maria Antonieta Zanardo Donato (1993:70) conceitua como: “a relação que o direito do consumidor estabelece entre o consumidor e o fornecedor, conferindo ao primeiro um poder e ao segundo um vínculo correspondente, tendo como objeto um produto ou serviço”. Neste sentido, as disposições previstas no código de defesa do consumidor são aplicáveis nas relações entre o consumidor e o prestador dos serviços Uber, mesmo que a relação contratual tenha se efetivado de modo virtual. O contrato eletrônico [...] não indica um novo tipo de contrato, apenas o meio pelo qual é celebrado, então aplicam-se ao comércio eletrônico as normas do Código Civil pertinentes aos contratos em geral e a cada espécie, bem como os princípios do Código do Consumidor sempre que houver relação de consumo (CAVALIERI FILHO, 2008, p. 236). Ou seja, as regras do código de defesa do consumidor aplicam-se tanto para os contratos firmados ao mundo real (contratos presenciais) quanto para os contratos firmados no mundo virtual (contratos não presenciais). [...] o contrato celebrado na internet entre o usuário e o proprietário do provedor ou do site (seja o provedor de acesso ou site de compras de produtos e serviços) configura uma relação de consumo. Portanto, o usuário deve ser considerado consumidor e o proprietário do provedor/site fornecedor para todos os efeitos, até porque não há nenhuma incompatibilidade entre tais figuras e os conceitos trazidos pela lei. (Tarcísio Teixeira (2014, p. 205)) Quando uma das partes interrompe uma relação contratual, sem ressarcir a outra parte ocorre um conflito de interesses envolvendo questões econômicas, 6 geralmente uma das partes tem seus interesses feridos, neste caso, surge a necessidade de um auxílio para a resolução do conflito. O Código de defesa do consumidor prevê formas de resolução de litígios quando uma das partes é prejudicada com a quebra contratual, com isto pode-se considerar em seu Art. 6º, que: Art 6º São direitos básicos do consumidor, e em seu inciso VII - o acesso aos órgãos judiciários e administrativos com vistas à prevenção ou reparação de danos patrimoniais e morais, individuais, coletivos ou difusos, assegurada a proteção Jurídica, administrativa e técnica aos necessitados. É imprescindível que a parte responsável responda pelas perdas e danos sofridos pela parte adversa, para que isto seja constatado, há a necessidade de uma análise imparcial aprofundada. Tendo em vista que a relação contratual entre o prestador dos serviços do Uber e o consumidor se enquadra na relação de consumo na qual tem os direitos e deveres resguardados à luz do código de defesa do consumidor, quando houver quebra de contrato entre uma das partes, é razoável que o litígio seja analisado e resolvido de forma imparcial pelo poder judiciário, no qual tem como função jurisdicional a solução de conflitos. Na terceira situação, pode-se levantar a questão de que em um caso onde um automóvel prestador do serviço Uber, atropela uma pessoa, quem deverá responder e arcar com as despesas? O motorista? Ou a Empresa Uber? Para resolução de tal hipótese pode-se impetrar ação civil contra o causador do acidente e a Empresa Uber como corresponsável, onde poderá solicitar reparação dos danos causados. Sendo eles de Responsabilidade civil, Danos Morais, Danos Materiais e Honorários Advocatícios Contratuais, cabendo outras reparações conforme o dano causado. Para auxiliar na comprovação de tais direitos, trouxemos jurisprudência que trata de casos similares: APELAÇÃO. AÇÃO INDENIZATÓRIA. ACIDENTE DE VEÍCULO. LESÕES EM PASSAGEIRA. AÇÃO MOVIDA EM FACE DE MOTORISTA DE TAXI E DA ASSOCIAÇÃO DO QUAL O MESMO FAZ PARTE. Denunciação da Lide à seguradora, realizada pelo condutor do veículo, Segundo Réu. Ilegitimidade ativa do Denunciante reconhecida em decisão objeto de Agravo Retido que se mantém. Na hipótese, o contrato de seguro foi firmado pela Associação, Primeira Ré, na qualidade de segurada e proprietária do veículo, sendo certo 7 que, de acordo com as condições gerais da apólice, o pagamento ou o reembolso dos prejuízos decorrentes dos riscos cobertos e relativos ao veículo é garantida ao próprio Segurado, ou seja, à própria Associação e não a seus associados. Não obstante a jurisprudência admita a legitimidade do terceiro beneficiário para denunciar a lide à seguradora, na qualidade de vítima direta do evento danoso, tal condição não pode ser estendida ao condutor do veículo que não figura na apólice, quer como segurado, quer como beneficiário, para garantir a indenização dos danos sofridos por passageiro. A responsabilidade dos prestadores de serviço de transporte pelos danos sofridos pelos passageiros em decorrência do descumprimento da cláusula de incolumidade é contratual e objetiva, do disposto nos artigos 734, 735 e 738 do Código Civil e artigo 14 do Código de Defesa do Consumidor. A Associação, Primeira Ré, além de fornecedora do serviço é proprietária do veículo envolvido no acidente, fato que por si só determina a sua responsabilidade solidária no evento. Majoração dos danos morais para R$ 20.000,00 (vinte mil reais). Pensionamento devido pelo período de afastamento ao trabalho, ainda que a Autora, servidora pública, tenha recebido remuneração no período de afastamento, diante da natureza indenizatória de tal verba. Valora ser apurado em liquidação de sentença, diante da ausência de comprovante de rendimentos nos autos. Sucumbência integral dos Réus. Conhecimento dos recursos, negando provimento ao Agravo Retido e aos Apelos dos Réus e dando provimento à Apelação da Autora. (TJ-RJ-APL: 03998859120098190001 RJ 0399885- 91.2009.8.19.0001, Relator: DES. MARIO ROBERT MANNHEIMER, Data de Julgamento: 27/08/2013, DÉCIMA SEXTA CAMARA CIVEL, Data de Publicação: 11/11/2013 13:50)5 Para a quarta e última situação, devemos levantar quais os aspectos da pratica do Uber que poderão ser relacionados a responsabilidade social? Os motoristas do aplicativo Uber não cobram diretamente por carona, mas recebem uma remuneração diretamente da empresa, que observa na formação de seus preços a relação de oferta de motoristas conforme a demanda dos usuários e baseando-se também na duração e distância da corrida, o que permite uma alocação mais inteligente e econômica do transporte urbano, essa alocação inteligente é a base de lucros da empresa. Os princípios constitucionais da legalidade e da livre empresa (art. 5º, II, e art. 1ºIV, c/c 170, caput e parágrafo único da Constituição Federal) autorizam o exercício de qualquer atividade econômica que não seja proibida por lei. Assim, na ausência de regulação das atividades do Uber e dos motoristas parceiros, predomina a liberdade, segundo nossa legislação federal. 5 Apelação nº 03998859120098190001 RJ 0399885-91.2009.8.19.0001 - disponível em: http://www4.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/consultaProc.do?numProcesso=2009.001.353690-0 - Acesso em 15 de janeiro de 2022. http://www4.tjrj.jus.br/consultaProcessoWebV2/consultaProc.do?numProcesso=2009.001.353690-0 8 Como já comentado, a proteção do consumidor é direito fundamental reconhecido pela Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, inciso XXXII. Isso faz com que tal garantia tenha aplicabilidade direta e imediata nas relações entre particulares, por meio da denominada eficácia horizontal dos direitos fundamentais. Também podemos considerar os princípios jurídicos para assegurar a responsabilidade na relação entre as partes, Uber x usuário. Bem como o “Pacto Sunt Servanda”, vem fundamentar o acordo de vontade entre as partes, conforme Felipe P. Braga Neto traz em seu livro, que o Pacto Sunt Servanda: É o princípio da força obrigatória dos contratos. É o princípio que proclama que o contrato faz lei entre as partes, e devem ser cumpridos a qualquer custo. O Código Civil francês, surgido num ambiente de positivismo extremo, é apontado como o maior representante dessa visão. Há, aliás, um brocardo jurídico da época que resume: “Quem diz contratual, diz justo”. Isto é, não se admitia que pudesse haver injustiça num contrato que foi “livremente” firmado. Havia, portanto, um respeito quase sagrado aos contratos. Havia, no passado, uma overdose. De autonomia da vontade. O contrato era sinônimo de justiça. Atualmente se percebe que essa liberdade formal gerou mais injustiça e mais desigualdade. Lacordaire sintetizou: “Entre o forte e o fraco, é a liberdade que escraviza, e a lei que liberta”. 6 Conforme observado acima, o Pacto Sunt Servanda, auxilia as partes para que elas possam gozar do direito de liberdade de contratar, e o contrato firmado torna-se a lei entre elas, sendo que seu descumprimento acarreta o dever de indenizar por parte do inadimplente. Pode-se ponderar possíveis benefícios e malefícios da utilização dos serviços do Uber pelos consumidores, cada qual com limites e possibilidades distintos. Quanto aos malefícios, pode-se citar a dificuldade da responsabilização da empresa Uber por eventuais vícios ou até pelo fato do serviço, incluindo aqui agressões sofridas pelos passageiros. Não há dúvidas de que o Código de Defesa do Consumidor pode ser aplicado em casos de danos gerados aos consumidores, pois há, ainda que de forma implícita, um contrato de transporte entre a Uber e seus usuários. Sob outro aspecto, pode-se argumentar que o Uber incentiva a livre concorrência e valoriza a livre iniciativa, valores constitucionalmente tutelados. A partir do momento em que o consumidor pode ter à sua disposição uma nova alternativa de 6 Braga Netto, Felipe Peixoto, Manual do Direito do Consumidor. 8. ed. Salvador: Edições Juspodivm, 2013. 9 serviço de transporte, a tendência é que exerça de forma crescente sua liberdade de escolha, gerando assim uma demanda positiva por serviços cada vez mais eficientes e satisfatórios que possam fomentar a economia. Para reforçar a tese de que a livre concorrência auxiliará no crescimento de novas alternativas, traremos aqui uma reportagem do jornal Diário Catarinense sobre novos concorrentes do Uber que já estão se inserindo no mercado, e oferecendo serviços semelhantes aos usuários. Segue abaixo comparativo dos serviços e preços: Yet GO Valor: preço base de R$ 3 para partida +R$ 0,15 por minuto + R$ 1,70 por quilômetro rodado Viagem da Praça XV até o aeroporto de Florianópolis*: R$ 25,40 Tarifa dinâmica: não Taxa de cancelamento: não Remuneração dos motoristas: a Yet GO fica com 25% do valor de cada viagem. Frota: automóveis a partir de 2010. Número de motoristas na Capital: atuam agora 50 motoristas, mas há 500 inscritos, dos quais a empresa pretende aprovar 300. Cidades do Estado em que está presente: Florianópolis e Blumenau. *Considerando trajeto de 11,5 km percorrido em 19 minutos. WillGo** Valor: preço base de R$ 4 para partida + R$ 0,32 por minuto + R$ 1,61 por quilômetro rodado Viagem da Praça XV até o aeroporto de Florianópolis: R$ 28,59 Tarifa dinâmica: não Taxa de cancelamento: não Remuneração dos motoristas: o motorista paga uma taxa fixa por mês, como em uma assinatura, independentemente de ter trabalhado todos os dias ou não. Frota: automóveis a partir do ano 2009. Número e motoristas na Capital: meta é ter em torno de 400 inicialmente. **Previsão de início de operações em Florianópolis em fevereiro. Uber Valor: preço base de R$ 2 para partida + R$ 0,20 por minuto + R$ 1,10 por quilômetro rodado. Viagem da Praça XV até o aeroporto de Florianópolis***: R$ 18,45 Tarifa dinâmica: sim Taxa de cancelamento: R$ 6 Remuneração dos motoristas: a Uber fica com 25% do total de cada corrida na 10 modalidade Uber X, a única disponível em SC. Frota: automóveis a partir de 2008 com ar condicionado e quatro portas. Número de motoristas na Capital: não informado pela empresa. Em quais cidades do Estado está presente: Florianópolis, Joinville, Blumenau e Aeroporto de Navegantes.7 Conforme informações disponibilizadas pelo Jornal Diário Catarinense, confirma-se a crescente concorrência no segmento destes serviços, o que vem a exigir dos governantes uma legislação que os regulamente, trazendo assim, mais segurança aos usuários e os próprios prestadores dos serviços. Em decorrência da livre iniciativa Celso Ribeiro Bastos e Ives Granda Marins lecionam que: “A livre concorrência é indispensável para o funcionamento do sistema capitalista. Ela consiste essencialmente na existência de diversos produtores ou prestadores de serviços. É pela livre concorrência que se melhoram as condições de competitividade das empresas, forçando-as a um constante aprimoramento dos seus métodos tecnológicos, dos seus custos, enfim, da procura constante de criação de condições mais favoráveis ao consumidor. Traduz-se, portanto, numa das vigas mestras do êxito da economia de mercado. O contrário da livre concorrência significa o monopólio e o oligopólio, ambas situações privilegiadora do produtor, incompatíveis com o regime de livre concorrência.” (BASTOS; MARTINS, 1990, p. 25) grifo nosso. Através das quatro hipóteses demonstradas acima, é importante salientar que o sistema Uber necessita de uma regulamentação, até mesmo para garantir maior segurança aos usuários. Apesar dissoa chegada do sistema Uber beneficiará a população, tanto na geração de mais empregos como ofertando diversas opções de escolhas para os clientes, além de pressionar os demais serviços, como os táxis, a melhorarem o seu trabalho para que possam continuar no mercado. 7 Linder, Larissa, Concorrente da Uber começa a operar em Santa Catarina. Diário Catarinense. Florianópolis, 21 de jan. 2017. Disponível em: < http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2017/01/concorrente-da-uber-comeca-a-operar- em-santa-catarina-9565290.html> Acesso em: 16 de jun. 2022. http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2017/01/concorrente-da-uber-comeca-a-operar-em-santa-catarina-9565290.html http://dc.clicrbs.com.br/sc/noticias/noticia/2017/01/concorrente-da-uber-comeca-a-operar-em-santa-catarina-9565290.html 11 3 CONCLUSÃO Mudanças são necessárias para que a sociedade possa evoluir. Com a invenção e inovações da tecnologias, do computador por exemplo, que foi uma melhoria da máquina de escrever, as empresas que produziam essas máquinas precisaram se adaptar ou ficariam no desuso, da mesma forma que se uma operadora de celulares não buscar melhorar seus serviços e utilização para se equiparar sobrepondo com as demais, ela certamente será deixada de lado pelos usuários. O mesmo ocorre com o surgimento do sistema Uber, os taxistas estavam acomodados com o tipo de serviço que prestam e os que permanecerem nessa inépcia, possivelmente serão substituídos. Assim, com base nas pesquisas realizadas para confeccionar o presente trabalho, podemos concluir que o sistema Uber da mesma forma que toda nova tecnologia, necessitará se adaptar as normas do País, como por exemplo, ser tributado, realizar o licenciamento especifico para a circulação semelhante ao do taxi, mas apesar disso certamente torna-se essencial para a evolução da sociedade, as melhores condições da mobilidade urbana, além de aumentar as opções de escolhas de deslocamentos da população, afinal é livre a concorrência. O novo serviço não privaria clientes de optarem por utilizar o taxi, basta apenas estes se adaptarem a nova realidade e aperfeiçoarem os seus trabalhos para que possam competir com aqueles que trabalham com o sistema Uber. REFERÊNCIAS Braga Netto, Felipe Peixoto, Manual do Direito do Consumidor. 8. ed. Salvador: Edições Juspodivm, 2013. p. 344. BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal, 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 17 dezembro. 2021. BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Código Civil Brasileiro. Brasília: Presidência da República, 2002. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103258/lei-de-introdução-ao-código-civil-decreto-lei-4657-42 http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/103258/lei-de-introdução-ao-código-civil-decreto-lei-4657-42 12 <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm>. Acesso em: 17 dezembro 2021. BRASIL. Lei nº 12.587, de 03 de janeiro de 2012. Política Nacional de Mobilidade Urbana. Brasília: Presidência da República, 2012. 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Disponível em: <https://davidtelles.jusbrasil.com.br/artigos/208975628/analise- tributaria-o-que-o-estado-pode-ganhar-com-o-uber>. Acesso em: 15 junho.2022. TJ-RJ-APL: 03998859120098190001 RJ 0399885-91.2009.8.19.0001, Relator: DES. MARIO ROBERT MANNHEIMER, Data de Julgamento: 27/08/2013, DÉCIMA SEXTA CAMARA CIVEL, Data de Publicação: 11/11/2013 13:50 https://davidtelles.jusbrasil.com.br/artigos/208975628/analise-tributaria-o-que-o-estado-pode-ganhar-com-o-uber https://davidtelles.jusbrasil.com.br/artigos/208975628/analise-tributaria-o-que-o-estado-pode-ganhar-com-o-uber
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