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Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Emergência Hipertensiva Definição de crise hipertensiva (Urgência X Emergência) • Urgência hipertensiva: são situações clínicas sintomáticas em que há elevação acentuada da pressão arterial (PA), definida arbitrariamente como pressão arterial diastólica (PAD) ≥ 120 mmHg, sem lesão de órgão-alvo (LOA) aguda e o apresenta risco imediato de vida o Situação mais comum o Controle da PA poderá ser feito reduzindo-se a PA gradualmente, em 24-72 horas o A maioria dos pacientes que se apresentam com urgências ou não obedecem ao seu esquema clínico ou estão sendo tratados com regime inadequado. • Emergências hipertensivas (EH): são situações clínicas sintomáticas em que há elevação acentuada da PA, tipicamente com PAD ≥ 120 mmHg, com LOA aguda e progressiva o Requer internação e uso de drogas via parenteral Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ • Pseudocrise hipertensiva: Queixas de dor, estresse psicológico agudo e síndrome de pânico associados à PA elevada não caracterizam UH ou EH. o Pacientes nessa condição devem ser tratados com repouso, analgésicos e/ou tranquilizantes. OBS! O nível absoluto da PA não é o parâmetro mais importante, e sim a presença e LOA. No entanto, foi definido o mínimo de PAD>120mmHg para considerar níveis pressóricos altos. Outras fontes ainda falam em PAS>180mmHg. Fisiopatologia As alterações de pressão detectadas parecem ter início com o aumento inadequado dos níveis circulatórios de substâncias vasoconstritoras, como a norepinefrina, angiotensina ou a vasopressina, o que ocasiona elevação abrupta da resistência vascular sistêmica. Em consequência, forças de cisalhamento desencadeiam dano endotelial, seguido por deposição de plaquetas e fibrina. Instalam-se alterações anatômicas, compatíveis com necrose fibrinóide arteriolar, que determinam perda da auto- regulação circulatória e isquemia de órgãos-alvo. Essas modificações morfológicas e funcionais propiciam novo aumento da liberação de substâncias vasoativas, vasoconstrição e remodelamento vascular, secundário a proliferação miointimal, instalando-se um círculo vicioso. Além disso, o aumento de volume intravascular, da resistência vascular periférica ou produção reduzida de vasodilatadores endógenos parece precipitar maior vasorreatividade e resultar em crise hipertensiva. Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Quadro clinico Paciente pode estar criticamente doente e apresentar: Sintomas e sinais Manifestações de LOA PA elevada Encefalopatia Cefaleia AVC Convulsão Angina instável Visão turva IAM Confusão mental Edema agudo de pulmão Náuseas e vômitos Eclampsia Edema pulmonar Dissecção de aorta Oligúria Retinopatia grau 3 ou 4 OBS! As emergências hipertensivas requerem admissão imediata em UTI para terapia intravenosa e monitorização contínua da pressão arterial. Deve-se sempre questionar sobre o uso de substâncias ilícitas. Diagnóstico É dado por anamnese (quadro clinico) e exame físico. No exame físico, deve-se: • PA e pulso nos 4 membros • Ausculta cardíaca e respiratória: sopros, congestão pulmonar • Avaliação neurológica: parestesia, orientação, sensibilidade e motricidade • Fundo de olho: papiledema, exsudatos e hemorragias O diagnóstico é feito encontrando aumento da PA em relação a PA basal, associado ou não com sinais e sintomas de LOA (aspecto mais importante na avaliação inicial). Deve-se medir a PA nos dois braços e em um ambiente calmo. Na parte complementar, devem ser realizados: • Laboratoriais: creatinina, eletrólitos, urina tipo I, enzimas cardíacas (se suspeita SCA). • Imagem: eletrocardiograma, RX tórax e fundoscopia. o Pode-se solicitar TC/RNM de cérebro (se suspeita AVC) ou ecocardiograma transesofágico (se suspeita de dissecção de aorta). Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Diagnóstico diferencial • Situações que simulam crise hipertensiva: o Insuficiência ventricular esquerda aguda o Uremia de qualquer etiologia o Avei, tumor cerebral, trauma craniano e encefalite o Epistaxes (pós-ictal) o Doenças do colágeno (particularmente lúpus, com vasculite cerebral) o Ingestão de drogas (cocaína) o Porfiria intermitente aguda o Hipercalcemia o Ansiedade aguda com hiperventilação e síndrome do pânico Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Tratamento Urgência hipertensiva A pressão sanguínea deve ser reduzida em um período de horas a dias, mas a PAM não deve ser reduzida em mais de 25-30% nas primeiras horas, sendo o alvo inicial é de <160/<100mmHg. A longo prazo, a pressão deve ser reduzida ainda mais (<140/<90mmHg). OBS! Uma terapia agressiva com anti-hipertensivos traz mais riscos do que benefícios nessa situação. OBS! Redução da PA pode ser mais lentas em pacientes adultos mais velhos com alto risco de isquemia cerebral ou miocárdica OBS! Todos os pacientes devem receber uma sala tranquila para descansar (só esta medida pode provocar uma queda na PA >20/10mmHg) • Redução da PA ao longo de um período de horas (pacientes com alto risco de eventos cardiovasculares devido a hipertensão grave): o Clonidina oral (0,1 - 0,2mg inicialmente, seguida por doses adicionais de 0,1mg), o Captopril (6,25-12,5mg, uma dose de teste pequena de 6,25mg deve ser usada para evitar uma queda excessiva da pressão arterial em pacientes hipovolêmicos. ▪ A seguir, a dose oral completa é de 25mg, podendo ser repetida em uma a duas horas e prescrita como 25-75mg duas vezes ao dia) o Labetalol (200-300mg, repedida em 2 a 3 horas e a seguir, prescrito 2 vezes ao dia) o Nitratos ou hidralazina. o Após a administração, o paciente é observado por algumas horas, para verificar uma redução da pressão sanguínea de 20-30mmHg. Posteriormente, um agente de ação mais longa é prescrito, e o paciente é enviado para casa para acompanhamento em alguns dias. ▪ A queda na pressão arterial pode levar relativamente mais tempo com captopril e pode ser muito grande em Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ pacientes com estenose significativa da artéria renal. • Redução da PA em um período de dias (totalmente assintomáticos): a abordagem é variável. o Em geral, há indicação de retomada/início da terapia anti-hipertensiva ou adição de novos fármacos anti-hipertensivos. ▪ Não há dados que apoiem o uso de um agente específico. o Em pacientes sem tratamento prévio, podem ser prescritos bloqueadores de canal de cálcio, beta-bloqueadores, IECA ou BRA. Os pacientes com urgência hipertensiva geralmente são manejados na emergência para exclusão de danos em órgãos-alvo (exames laboratoriais, medicamentos e observação). Posteriormente, o paciente deve ser manejado a nível ambulatorial. OBS! Nifedipina sublingual tem sido descrita como uma droga que pode provocar complicações isquêmicas, uma vez que reduz a pressão arterial de forma imprevisível e descontrolada. Emergência hipertensiva A terapia otimizada inclui a escolha do medicamento de acordo com o tipo de emergência hipertensiva. O objetivo é impedir a progressão das lesões de órgão-alvo. Os pacientes devem ser admitidos em UTI, usarem anti-hipertensivos IV e serem monitorados cuidadosamente durante a terapia para evitar hipotensão. Geralmente não é recomendado reduzir a pressão rapidamente para valores muito baixos, uma vez que isso pode precipital danos isquêmicos. A atual recomendação para a redução é: Nos demais casos, reduzir a PA sistólica em20-25% de minutos a uma hora. Nas próximas 2 a 6 horas, reduzir para 160mmHg de sistólica e 100mmHg de diastólica; Nas próximas 24 a 48 horas, reduzir a níveis normais. Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Metas pressóricas em casos específicos. Para atingir os valores alvos de PA, pode-se lançar mão de um arsenal de anti- hipertensivos: • O nitroprussiato de sódio é o agente mais usado para emergências hipertensivas. o Desvantagens: taquicardia reflexa, hipertensão rebote após a interrupção e toxicidade do tiocianato em pacientes com insuficiência renal. • Nitroglicerina intravenosa, é um potente vasodilatador coronariano e venodilatador potente. o Droga preferida pra hipertensão no contexto de síndromes coronarianas agudas, quando associada o beta-bloqueador IV (metoprolol) para reduzir o duplo produto (PA sistólica x FC) e assim a demanda miocárdica aumentada de oxigênio. ▪ Lembrar que é vasodilatador coronariano o Por ser um venodilatador potente, ela reduz a pré-carga em pacientes no contexto de insuficiência cardíaca exacerbada. No entanto, o nitroprussiato pode ser necessário se houver resultados de edema pulmonar de hipertensão grave (pós-carga aumentada). • Labetalol IV é um tratamento eficaz no contexto da isquemia miocárdica com função ventricular preservada. • Nicardipina é mais usada no paciente após cirurgia cardíaca. • Clevidipina é um vasodilatador arterial puro que não deprime o débito cardíaco e parece seguro para pacientes com IC. • Hidralazina (EV ou IM) é recomendada apenas para a hipertensão durante a gravidez por causa da taquicardia reflexa acentuada que precipita. Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Após um certo período (geralmente 8-24 horas) de pressão controlada, medicações orais são oferecidas e a terapia parenteral é descontinuada. Assim, Após a pressão arterial ser posta sob controle agudo, o labetalol e bloqueadores do canal de cálcio di-hidroperidinicos orais são agentes particularmente úteis para desmamar os pacientes da terapia parenteral de modo a poderem ser transferidos da UTI. Algumas doses de furosemida IV são frequentemente necessárias para superar resistência devida à expansão secundária de volume resultante da terapia vasodilatadora parenteral Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Classes de anti-hipertensivos Classe Medicamentos Vasodilatadores Diretos e Nitratos Nitroprussiato de Sódio (NPS): agente mais usado em emergências hipertensivas. Nitroglicerina (IV): vasodilatador coronariano, preferido para HAS no contexto de SCA. Hidralazina (EV ou IM): recomendada apenas para hipertensão durante a gravidez. (PROVA) Outros: Minoxidil e Diazóxido. Simpaticoplégicos de ação central Metildopa (PROVA) e Clonidina. Bloqueadores de n. adrenérgicos Guanetidina e Reserpina. Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Classe Medicamentos Betabloqueador Labetalol (IV): eficaz no contexto da isquemia miocárdica com função ventricular preservada. Outros: Propanolol, Atenolol, Metoprolol, Bisoprolol, Carvedilol, BCC Nicadipina: mais usada no paciente pós- cirurgia cardíaca. Clevidipina: seguro para pacientes com IC Outros: Anlodipina (PROVA), Verapamil (PROVA), Diltiazem, Nifedipina, Felodipina... IECA/BRA IECA: Captopril, Enalapril, Ramipril, Fosinopril... BRA: Losartana, Walsartana, Candesartano, Eprosartana... Diuréticos HCTZ, Clortalidona, Furosemida, Bumetamida, Espironolactona, Eprenolona, Ureia, Manitol Complicações da Emergência hipertensiva (LOAS) Acidente vascular cerebral (AVC) • Diagnóstico: Baseado no exame neurológico completo. o TC ou RNM permitem definir do tipo de AVC e o território envolvido (em geral 85% é isquêmico e 15% hemorrágico). P o Para avaliar a gravidade do quadro, deve-se utilizar a escala NIHSS. • Tratamento do AVC isquêmico: Geralmente não são administrados anti- hipertensivos! o O nível ideal de PA a ser obtido não é conhecido, mas existe consenso de que não se deve instituir tratamento anti-hipertensivo durante o tratamento inicial. ▪ Exceções: • Candidatos à terapia de reperfusão com sua pressão inicial acima de >185/110mmHg; • Não candidatos à terapia de reperfusão com pressão inicial acima de 220/120mmHg (não se deve reduzir a PA em mais de 15-20%, mantendo-se a PAD em 100- 110mmHg nas primeiras 24h). Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ • Tratamento do AVC hemorrágico: o Estudos sugerem que em pacientes com pressão arterial basal de 150- 220 mmHg há benefício em reduzir, dentro de 1h, a pressão para abaixo 140mmHg (se não houver contraindicação). o Para pacientes com PAS>220mmHg, considerar redução progressiva da PA com infusão IV contínua e monitoramento frequente da PA. ▪ O Labetalol e a Nicardipina são mais frequentemente utilizados como agentes de 1ª linha Encefalopatia Hipertensiva • O que é: hiperperfusão do cérebro, levando ao edema cerebral, pequenas hemorragias e microinfartos. o Ao exame da fundoscopia, há exsudatos, hemorragias e edema de papila. • Diagnóstico: de exclusão! • Tratamento: o Reduzir pressão entre 10-20% na primeira hora de tratamento. o A redução adicional deve ser gradual, não ultrapassando 25% no final do primeiro dia de tratamento. o Usa-se Nitroprussiato de Sódio EV, Clevidipina, Nicardipina e Fenoldopam. ▪ Se convulsões: diazempam EV Dissecção Aguda de Aorta • O que é: ocorre pela ruptura da camada íntima da aorta. o Dor súbita, intensa e dilacerante, dispneia, pulsos impalpáveis, insuficiência aórtica, edema pulmonar, etc. • Diagnóstico: ecocardiograma transtorácico, TC, RNM, ecocardiografia transesofárigica, aortografia. • Tratamento: o Deve ser rápido, reduzir PAS a 100-120 mmHg dentro de 20 minutos. o Betabloqueador primeiro, depois vasodilatador. ▪ Outros: BCC, IECA, analgesia Moisés Moreira Lopes ATM 2024 ___________________________________________________________________ Insuficiência Cardíaca Aguda/Edema Agudo de Pulmão • O que é: O EDA, quando presente na emergência hipertensiva, é secundário à disfunção ventricular esquerda (S ou D). o Pode cursar com: agitação/obnubilação, dispneia, tosse, expectoração de aspecto róseo, cianose, baixa saturação, estertores pulmonares, sibilos, B3/B4. • Diagnóstico: RX tórax e gasometria. • Tratamento (PROVA): o Se com aumento da PA: O2, diurético, NPS EV, opioide como morfina, PAM 120; o Se com diminuição da PA: O2, furosemida, morfina, nitrato (tratar a causa de base) Síndrome Coronariana Aguda • Tratamento: inclui nitroglicerina, clevedipina, Nicardipina ou esmolol EV, reduzindo isquemia miocárdica. o O Nitroprussiato de sódio não está indicado devido a um mecanismo de roubo de fluxo causado pela vasodilatação generalizada dos vasos coronarianos de resistência Pré-Eclâmpsia • O que é: síndrome que se manifesta após a 20ª semana de gestação, caracterizado por hipertensão (<140/90) e proteinúria. o Diagnóstico clinico apoiado sob exames laboratoriais. • Tratamento: Sulfato de Magnésio, que por si só já é hipotensor. (PROVA – convulsões, ou seja, já em eclâmpsia) o Outros: Metildopa, Hidralazina, Labetalo