Buscar

educ_historias

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 19 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1
Interpretações Analítico-Comportamentais De Histórias Infantis Para Utilização 
Lúdico-Educativas1 
Laércia Abreu Vasconcelos2 
 
A Análise do Comportamento, uma ciência que tem como base filosófica o 
behaviorismo radical proposto pelo psicólogo Burrhus Frederic Skinner (1904-1990), 
considera que os fenômenos comportamentais podem ser estudados por meio do método 
científico, sejam eles comportamentos de fácil observação ou comportamentos que somente 
o indivíduo que os apresenta tem acesso, como os pensamentos. O termo radical refere-se a 
uma análise voltada para a raiz de um determinado fenômeno comportamental. Nessa 
filosofia, diferente das outras formas de behaviorismo anteriores, a visão do homem é 
global, humanista e histórica (e.g., Patterson, Reid & Dishion, 1992/2002; Skinner, 
1989/1995; Todorov, 1989). A Análise do Comportamento adota um modelo de seleção por 
conseqüências. A multideterminação do comportamento é ponto de partida e reflete a 
complexidade do comportamento humano ao considerar as variáveis filogenéticas (a 
seleção natural), ontogenéticas (a história de aprendizagem) e culturais (Skinner, 
1953/1981; Skinner, 1989/1995). 
O conceito de contingência é fundamental para o analista do comportamento, a 
partir do qual se busca a compreensão da função do comportamento em interação com 
eventos ambientais antecedentes e conseqüentes. As explicações funcionais são 
fundamentadas na história passada e no contexto presente de cada indivíduo. Assim, o 
comportamento é um conceito interacional, é a interação recíproca entre o organismo e o 
ambiente. As pessoas agem sobre o mundo, transformam-no e são, por sua vez, 
influenciadas a todo o momento pelo resultado de sua ação. As causas de um determinado 
comportamento são investigadas a partir das contingências e não da mente ou de uma 
estrutura cognitiva. A perturbação não está na mente, mas nas contingências perturbadoras 
às quais o indivíduo tem sido exposto. A possibilidade de correção está nas contingências 
(Skinner, 1989/1995). 
Análises funcionais possibilitam o conhecimento das regras vigentes na família, na 
escola, no ambiente de trabalho, facilitando a compreensão dos comportamentos emitidos 
pelos indivíduos. Por exemplo, crianças altamente expostas a contingências coercitivas 
como a ameaça de punição ou a punição física ou verbal podem apresentar padrões de 
 2
comportamentos tais como: auto-avaliações desfavoráveis, pobre interação social, com um 
padrão de comportamentos de esquiva de contatos sociais com outras crianças, seus pares. 
Críticas freqüentes e altos níveis de exigência podem tornar a criança resistente à 
estimulação aversiva, não alterando tais contingências. 
Diante de comportamentos como isolamento social ou agressão física e verbal, e 
sentimentos de medo, não há um pacote de procedimentos ou técnicas previamente 
estabelecidos para corrigi-los. Os educadores devem adotar uma postura mais investigativa 
e não de diagnóstico ao incluir todas as variáveis contextuais que podem auxiliar os 
profissionais a planejar um ambiente propício para o desenvolvimento da criança ou do 
jovem. Rótulos podem obscurecer as reais contingências, além de produzirem 
discriminação do rotulado. Segundo alguns especialistas em saúde infantil, 
 
Temos aplicado rótulos a padrões de [comportamentos] problemas e a síndromes diagnosticadas, 
quando a evidência de que muitos desses comportamentos perturbados realmente se enquadram em 
síndromes verdadeiras não é ainda convincente. (Brazelton & Greenspan, 2000/2002, p. 101). 
 
Esses profissionais alertam para uma mudança necessária de um modelo patológico 
para um modelo preventivo, ao lidar com as crianças e os jovens. É urgente que os 
profissionais de saúde e da educação considerem as diferenças individuais, o perfil único de 
cada criança com suas infinitas possibilidades de variação. 
 
As crianças são remediadas para dentro de buracos mais profundos. ...Quando recebem ajuda já 
foram tão machucadas que estão exaustas e não têm mais esperança. (Brazelton & Greenspan, 
2000/2002, p. 113). 
 
Ao criticar os paradigmas educacionais, o psiquiatra brasileiro Augusto Cury alerta: 
 
Elogie o jovem antes de corrigi-lo ou criticá-lo. Diga o quanto ele é importante, antes de apontar-
lhe o defeito. A conseqüência? Ele acolherá melhor suas observações e o amará para sempre.” 
(Cury, 2003, p.95). ...Sempre há motivos para valorizar. Encontre-os.” (Cury, p. 145). 
 
 
Nossa sociedade não questiona a aplicação da punição física ou verbal na interação 
com as crianças e os jovens, porém, teme os efeitos de contingências de reforçamento 
positivo como aquelas indicadas por Cury. Ame, observe, ouça e brinque muito com suas 
crianças. Este quarteto resulta no respeito pleno aos seus direitos. Os efeitos intergerações 
serão observados quando as crianças e os jovens de hoje, futuros pais e educadores de 
 3
amanhã, replicarem estas práticas com seus descendentes. Pense no elogio como uma forma 
de expressar seu amor. Suas palavras animam seus filhos e fazem com que se sintam 
apreciados e valorizados. (Nolte & Harris, 1972/2003, p. 89). 
As contingências familiares têm sido significativamente alteradas do século XX ao 
XXI. A entrada da mulher no mercado de trabalho e a alta demanda do mundo profissional 
alterou a definição dos papéis a serem desempenhados por pais e mães (e.g., Biasoli-Alves, 
1997; Donatelli, 2004). As crianças estão entrando cada vez mais cedo em instituições de 
ensino e os resultados dessa mudança deverão ainda ser cuidadosamente analisados. À 
ausência das figuras parentais no acompanhamento da rotina das crianças e jovens soma-se 
a alta exposição à televisão. Por meio desta, eles estão expostos ao mercado de consumo3, 
que anuncia seus mais novos produtos sem, necessariamente, um compromisso ético-
educativo. 
Uma alta velocidade de informações alcança os indivíduos por meio das mídias 
eletrônicas e impressas. E, assim, uma imensidão de especialistas voltados para a criança e 
o jovem tem influenciado as interações familiares (ver o Projeto Remoto Controle 
desenvolvido em parceria pela Andi, Unicef, Petrobrás e editora Cortez, 2004 e Pacheco, 
1998/2002). Nesse cenário, reflexões críticas implicam na sobrevivência em nossos dias. 
As crianças e os jovens precisam aprender a criticar e a filtrar informações que 
freqüentemente transmitem estereotipia sexual ou étnica, além de conceitos estereotipados 
sobre o jovem, o adolescente e a criança. Uma visão crítica é um padrão de comportamento 
que adquire em nossos dias um valor de sobrevivência, devido também a outra variável, a 
violência urbana. 
A comunicação com crianças e jovens é facilitada pela utilização de recursos 
lúdicos (e.g., de Rose & Gil, 2003; Gil & de Rose, 2003). O comportamento de brincar 
possibilita o desenvolvimento de um amplo repertório, desde os aspectos éticos valorizados 
por uma sociedade, uma família, a disciplinas acadêmicas apresentadas nas escolas. O pai 
da literatura infantil e juvenil no Brasil, Monteiro Lobato (1882-1948), enfatizou a união do 
didático e recreativo; do conhecer, da não-competição; da integração racial e social em um 
maravilhoso mundo do faz-de-conta, um termo por ele inventado (e.g., Carvalho, 
1982/1987; Pereira, 2002; Távola, 1998/2002). Seu objetivo era a formação do leitor-
criança, um cidadão com uma visão crítica do mundo. Todos os comportamentos da criança 
 4
são tratados com respeito e ela não é uma mulher ou um homem com idéia reduzida. Ela é 
capaz de lidar com temas sérios e contraditórios, formando sua própria opinião. Toda 
criança é capaz de compreender diferentes conteúdos, desde que apresentados em uma 
linguagem acessível. É necessário respeitar a criança no sentido de preservar sua fantasia, 
seus sonhos e opiniões; de apresentar informações graduando o nível de complexidade e de 
problemas experienciados no mundo dos adultos.As características de Monteiro Lobato 
realçam sua genialidade e contemporaneidade, ao interagir com a criança enquanto um 
cidadão com plenos direitos. Esta é a visão apresentada pelo Estatuto da Criança e do 
Adolescente (Ministério da Justiça, 1990/2002), o código mais completo, no cenário 
mundial, de proteção da criança e do adolescente (Mendez & Costa, 1994). 
 
A literatura infantil e interpretações analítico-comportamentais 
 
A literatura é um meio eficiente de transmissão da cultura de um povo. Valores, 
crenças, mitos e outros padrões de comportamentos específicos são transmitidos pelos 
diferentes personagens. A iniciação à leitura de histórias infantis, nos primeiros anos de 
vida, possibilita o desenvolvimento de diferentes áreas que poderão resultar em uma 
criança observadora, reflexiva, crítica, sensível às necessidades do outro, capaz de 
expressar seus sentimentos e pensamentos, entre tantos outros benefícios. Ao brincar com 
livros, filmes e músicas a criança mantém contato com o mundo. O rico intercâmbio entre 
fantasia e realidade possibilita a compreensão dos vários aspectos do que lhe são 
apresentado e, sobretudo, expressar suas próprias opiniões, contribuindo para sua interação 
social. 
Portanto, o desenvolvimento de instrumentos que possam ser utilizados na educação 
infantil e juvenil que facilitem a formação ampla do indivíduo, incluindo seu repertório 
emocional faz parte da sobrevivência do homem contemporâneo. A família e a escola 
estariam ocupando um papel de gestoras da curiosidade. A televisão, filmes, museus, 
teatros, fábricas, oficinas, enfim, os recursos da cidade poderão ser incorporados no 
processo de educação (Dimenstein & Alves, 2003). 
 O projeto Histórias infantis: uma abordagem funcional de contingências 
apresentadas às crianças, desenvolvido por nossa equipe de pesquisa, tem como objetivo 
 5
geral apresentar uma ampla discussão dessas histórias, com alternativas de ação para os 
comportamentos inapropriados4, como os comportamentos anti-sociais emitidos pelos 
personagens, além de destacar os comportamentos apropriados, a exemplo dos 
comportamentos pró-sociais. As principais contingências presentes dentro de uma história 
são discutidas, sugerindo-se reflexões dos temas em atividades lúdicas com fantoches, 
músicas, danças, fantasias, jogos ou passeios. Estas reflexões, portanto, poderão ser temas 
de brincadeiras e discussões entre pais e filhos, professores e alunos ou outros profissionais 
que lidam diretamente com crianças ou jovens. Vale ressaltar que não se trata de crítica 
literária, mas da análise dos comportamentos dos personagens, envolvendo várias 
passagens de uma história. 
Os educadores poderão selecionar os trechos que julgarem importantes para suas 
diferentes audiências, adaptando as histórias ao destacar pontos específicos que contribuam 
para o desenvolvimento das crianças e dos jovens em seus diferentes momentos. Os 
profissionais que lidam com a população de crianças e de jovens poderão utilizar também 
algumas destas análises na interação com os cuidadores ou os pais. Por meio destas 
discussões estamos transmitindo noções importantes sobre a proteção dessa população, 
além de oferecer alternativas para a interação entre pais e filhos, mediadas por instrumentos 
lúdicos. 
 A apresentação das contingências - Eventos antecedentes Comportamento 
Eventos conseqüentes - possibilita a observação da forma como alguns comportamentos se 
desenvolvem e como podemos ser agentes em nossa interação com o mundo. Como 
podemos contribuir, defender nossos direitos, nossas opiniões. O respeito à criança deve ser 
tema não do período pré-natal de um jovem casal, mas desenvolvido desde a sala de aula do 
ensino fundamental (Brazelton & Greenspan, 2000/2002). Brincando a criança estaria 
ouvindo sobre os cuidados especiais que devemos ter com o bebê, com a criança; sobre o 
planejamento diário, por parte dos pais, do dia-a-dia de um filho, com atividades como 
brincar, conversar e ouvi-lo pelo menos durante uma hora. A escola daria destaque ao 
desenvolvimento pessoal pautado em fatores afetivos e intelectuais. Segundo a utopia 
sócio-científica de Ardila (1992/2003), uma criança pode sempre ensinar ao adulto uma 
nova dimensão do mundo e uma revolução direcionada para uma sociedade comprometida 
 6
com o bem-estar da coletividade começa com uma discussão e modificação da forma como 
tratamos a infância. 
As histórias de Branca de Neve e os Sete Anões (versão de Walt Disney 1937/2001), 
Pinóquio (versão de Walt Disney 1940/2000), Peter Pan (versão de Walt Disney 
1953/2002) e, No Reino das Águas Claras (versão da Rede Globo de Televisão, 2001) e 
Viagem ao Céu (versão da Rede Globo de Televisão, 2002) de Monteiro Lobato foram 
inicialmente selecionadas para interpretação analítico-comportamental por serem 
amplamente divulgadas para crianças de vários países (Vasconcelos, Silva, Curado & 
Galvão, 2004; Vasconcelos, Naves, Silva, Barreiros e Arruda, no prelo; Vasconcelos & 
Barreiros, no prelo; Vasconcelos, Curado, Arruda & Naves, no prelo; Vasconcelos, Curado 
e Arruda, no prelo). 
Em cada história, várias contingências são identificadas, sendo cada uma seguida 
por discussões que possibilitam a introdução de teorias voltadas para vários temas de 
interesse na interação com as crianças. O conceito de criança; o comportamento de brincar; 
o aprender pela interação direta com as contingências (“o aprender fazendo”) ou o aprender 
por meio da exposição a regras que descrevem as contingências (“o aprender por meio de 
instruções ou regras sobre o fazer”); as características das contingências coercitivas; a 
importância de contingências de reforçamento positivo (a apresentação de um evento 
contingente a uma resposta, resultando no aumento da probabilidade futura da emissão 
dessa resposta); a expressão de opiniões e sentimentos das crianças, entre outros. O 
comportamento de fantasiar das crianças deverá sempre ser respeitado. As análises 
sugeridas podem ser selecionadas ou, ainda, adaptadas a cada criança ou grupo de crianças. 
Não é necessário utilizar todas as contingências identificadas com todas as crianças. A 
seguir, serão apresentadas algumas passagens das primeiras histórias utilizadas neste 
projeto. 
 7
 
Branca de Neve e os Sete Anões 
 
A história de Branca de Neve e os Sete Anões, adaptada por Walt Disney em 1937, é 
conhecida pela inveja e crueldade da Rainha, a madrasta de uma jovem e bela Princesa. A 
contingência que se apresenta é descrita pelos seguintes elementos: Diante da beleza da 
Princesa a Rainha planeja sua destruição e busca como conseqüência ser a mais bela. 
Sentimentos considerados negativos como raiva e inveja, assim como o conceito de 
madrasta podem ser cuidadosamente discutidos com as crianças, a partir dessas relações 
entre o comportamento e eventos ambientais. Nas famílias reconstituídas do século XXI a 
madrasta está presente em diferentes formas de organização familiar. Assim, é possível 
refletir sobre suas características ou as alternativas que poderíamos oferecer à madrasta da 
história. A modelagem da expressão do sentimento de raiva é um tema potencialmente 
importante. A sociedade valoriza uma criança alegre e educada que saiba interagir com seus 
pares e adultos. Entretanto a expressão do sentimento de raiva sem a agressão verbal do 
outro é fundamental para a adaptação do indivíduo ao seu grupo social. A não habilidade 
em lidar com tais sentimentos pode contribuir para o desenvolvimento de sentimentos de 
tristeza, de auto-avaliações desfavoráveis ou a esquiva de situações sociais. Os conceitos de 
beleza, de competição também podem ser abordados. O que é ser belo? É importante ser 
a(o) mais bela(o)? 
Branca de Neve e os Sete Anões apresenta também contingências que realçam a 
importância da música e do trabalho na vida dos personagens. Lindascanções apresentam 
os sonhos de amor e a importância do trabalho na vida da Princesa e dos sete anões. A 
contingência, neste caso, é constituída por: na presença de tarefas a serem cumpridas num 
 8
contexto musical, o comportamento de trabalhar cantando e, as conseqüências 
positivas em forma de benefícios individuais e coletivos. ...Aprenda uma canção... E com 
muita alegria é mais fácil trabalhar... 
Na história, a divisão de trabalho é graciosamente feita com os pequenos amigos do 
reino animal, assim como entre os anões. Interações com animais, conceitos de higiene e 
organização de uma casa são contingências que podem ser descritas a partir das cenas 
desenvolvidas na casinha entre as sete colinas da floresta. As diferenças individuais são 
respeitadas na convivência dos sete anões – Mestre, Zangado, Feliz, Dengoso, Atchim, 
Soneca e o Dunga, que não nunca falou. O que pode ocasionar discussões sobre a 
importância do respeito à diversidade presente entre os membros de uma sociedade. Ao 
favorecermos a participação de todos os membros, as trocas sociais se tornarão mais ricas 
com as diferentes manifestações étnicas. A criança tem uma clara sensibilidade para 
perceber a presença de comportamentos de discriminação apresentados pelos seus 
cuidadores, amigos ou personagens apresentados pela televisão. Ela poderá repetir tais 
comportamentos em grupo, utilizando rótulos e classificações pejorativas, o que a colocará 
em situações de risco, de contra-controle, um retorno igualmente ofensivo por parte 
daqueles que se sentirem ofendidos pela criança. 
As cenas de ação de Branca de Neve e os Sete anões possibilitam a discussão do 
sentimento de medo. Ao descobrir os objetivos da Rainha e do Caçador de matar a princesa 
Branca de Neve a Princesa corre pela floresta durante a noite, sentindo medo e 
imaginando monstros por todos os lados. Como conseqüência ela sofre durante a fuga, 
porém, sobrevive aos ataques da Rainha. Em outra passagem, diante de um evento 
desconhecido: fenômenos, objetos, animais ou pessoas, os comportamentos de fuga e de 
interpretar os eventos como sendo monstros, fantasmas ou demônio são 
conseqüenciados com sofrimento e a não resolução dos problemas. E ainda, após ter 
envenenado a Princesa que caíra paralisada, a Rainha deixa a casa sob uma forte 
tempestade e é perseguida pelos anões que chegaram para salvar Branca de Neve. Em 
uma corrida sob aquela tempestade, a Rainha sofre uma queda fatal. 
Como se tratam de cenas de ação, os comportamentos de um contador de histórias 
de aumentar a intensidade de sua voz, diminuir a luminosidade da sala e aumentar o volume 
do som da televisão podem resultar em respostas de sobressalto e sentimentos de medo de 
 9
uma criança que está sendo iniciada na sétima arte. Os fenômenos naturais como vendaval, 
chuva, trovão e relâmpago são, em geral, parte de um cenário que envolve perigo, riscos e 
ameaças em várias histórias infantis. Uma criança poderá desenvolver a relação entre os 
conceitos noite-monstro e chuva-morte. Assim, as cenas podem ser apresentadas às 
crianças mais jovens sem intensificá-las. Brincadeiras e discussões poderão ampliar o 
conhecimento relativo aos temas envolvidos. Recursos oferecidos pela cidade como 
bibliotecas com seus livros e vídeos; parques, zoológicos e centros de estudos climáticos 
podem ser contextos propícios para estas discussões. A abordagem dos fenômenos naturais 
pode passar pela educação ambiental conduzindo a criança à conclusão de que todos podem 
contribuir para o equilíbrio do planeta ao transmitir para nossos amigos e familiares o 
conhecimento que adquirimos sobre o cuidado com as plantas, os rios e, sobretudo, com o 
lixo gerado nos grandes centros urbanos. Além das palavras, nossas ações podem também 
se tornar modelos para o outro, fortalecendo padrões de comportamentos adaptativos. 
 
 
 
 
Pinóquio 
 
Pinóquio, uma versão de Walt Disney de 1940, é facilmente lembrado pelo 
comportamento de dizer inverdades, quando se encontra em situações difíceis. A 
contingência – Ao ser solicitado pela Fada Azul a explicar o porquê de não estar na escola, 
 o boneco feito de pinho relata inverdades. O crescimento de seu nariz é a 
conseqüência sofrida por ele, que o denuncia e o faz se desculpar. Ao fantasiar, uma criança 
poderá criar uma história sem que isso represente um problema. Entretanto, vale ressaltar 
que ao considerar o comportamento de dizer inverdades, o emprego do rótulo mentira traz 
consigo inúmeros conceitos negativos adotados pela nossa comunidade verbal. Na 
 10
linguagem coloquial, a mentira é uma afirmação contrária à verdade a fim de induzir a 
erro. Qualquer coisa feita na intenção de enganar ou de transmitir falsa impressão 
(Instituto Antônio Houaiss, 2002). 
Ao rotular o comportamento da criança poderá haver uma transferência de rótulo 
para a pessoa - uma mentirosa - o que poderá levá-la a ser desacreditada por amigos e 
familiares. Um resultado que se pode esperar é o rótulo funcionar como um sinal na 
presença do qual o indivíduo aumenta os comportamentos característicos do rótulo. Em um 
caminho diferente, os educadores poderiam abordar questões reflexivas tais como: o que 
sentimos quando ouvimos a palavra mentira ou mentiroso? As pessoas, em algum momento 
de suas vidas podem dizer inverdades? Como poderíamos nos comportar diante de uma 
inverdade? Por que uma inverdade pode envolver problemas para quem as relata? 
Pinóquio aborda um tema atual, o sonho da paternidade. A participação efetiva do 
pai na educação dos filhos tem se tornado uma área de estudo (e.g., Brazelton & 
Greenspan, 2000/2002; Gomes & Resende, 2004) e de criação no mundo do cinema, a 
exemplo da bela produção cinematográfica dos estúdios Disney e Pixar, Procurando Nemo. 
Pinóquio mostra o sonho do entalhador de ter um menino de verdade. Porém, a 
transformação do boneco feito de pinho dependia apenas dele ser sincero, valente e 
generoso, o que significa dizer, os comportamentos inapropriados de Pinóquio o 
impediariam de se tornar uma pessoa. A contingência torna-se uma ocasião para discutir 
práticas educativas que tratam como sinônimos os comportamentos inapropriados da 
criança, da criança como pessoa. O que pode estar em questão são os comportamentos 
inapropriados e não a criança como pessoa com todos os seus comportamentos. Há 
diferença entre dizer: “O papai te ama muito, mas este seu comportamento não foi legal, 
podemos pensar em outra forma de resolver este problema?...” e dizer, “ Não gosto mais de 
você porque você fez x...”, descartando uma pessoa de sua vida. Esta análise pode ser 
estendida para as interações entre as crianças, assim como, entre os jovens, quando dizem: 
“não gostei desse seu comportamento...” o que é diferente de dizer, “não sou mais seu 
amigo porque você fez x...”. Essas reflexões os incentivariam a buscar por soluções 
alternativas ao descarte das pessoas. 
Como em Branca de Neve e os Sete Anões, Pinóquio apresenta também um belo 
contexto musical com lindas canções. O pai de Pinóquio, Gepeto, comemora todos os seus 
 11
momentos felizes dançando e cantando. Em ambas as histórias há uma marcação de rotinas, 
de horários determinados para trabalhar e descansar, o que possibilita uma discussão sobre 
a importância de uma rotina aliada à determinação flexível de regras familiares. O 
estabelecimento de rotina na vida das crianças e dos jovens contribui para a modelagem de 
padrões de comportamentos saudáveis, evitando, por exemplo, distúrbios de sono e de 
alimentação, problemas de saúde causados pela falta de atividade física ou pelo excesso de 
atividades envolvendo computador, videogame e televisão. 
É interessante notar que em Pinóquio todas as conseqüências adversas recaem sobre 
ele em seus descaminhos, enquanto se dirigia à escola. Os novos “amigos”, João Honesto e 
o Gato Gedeão, queo orientam a descumprir uma instrução do pai, com o objetivo de 
ganhar dinheiro com a venda do boneco; o proprietário do teatro de marionetes que o 
tratava apenas como um objeto para enriquecer; o bruxo disfarçado em cocheiro que 
conduziu as crianças à Ilha dos Prazeres para que elas pudessem comer, beber, fumar e 
destruir o que quisessem, com o objetivo de transformá-las em burrinhos a serem vendidos. 
Todos esses personagens, embora emitam comportamentos inapropriados não têm 
conseqüências adversas. Todos os riscos são reservados aos comportamentos inapropriados 
de Pinóquio, das crianças que teimavam e gazeteavam, além de colocar em risco o pai, seus 
animais de estimação - a “peixinha” Cléo e o gato Fígaro - bem como sua consciência, o 
Grilo Falante. 
Os valores e a definição da escola podem ser temas discutidos, a partir de Pinóquio 
(ver Alves, 2001/2002 e Dimenstein & Alves, 2003 como fontes para enriquecimento 
destas reflexões). O seguimento de uma orientação dada por estranhos ou pelos novos 
“amigos” de Pinóquio contrárias às instruções do pai; o ganhar dinheiro rápido versus o 
longo caminho da escola; o objetivo de ganhar dinheiro; o ganhar dinheiro desrespeitando 
os direitos do outro são temas que podem ser explorados a partir das contingências citadas 
anteriormente. Os novos “amigos” conseguem também convencer o boneco de que ele está 
gravemente doente. A rotulação ou o diagnóstico apresentado por João Honesto a Pinóquio 
o convence de um mal iminente e o faz partir rumo à Ilha dos Prazeres, em busca de 
recuperação de sua saúde. As conseqüências adversas da rotulação podem ser analisadas 
em meio a atividades lúdicas, incluindo também a rotulação do outro, a partir de 
características físicas. 
 12
 
 
 No Reino das Águas Claras 
 
Na história de Monteiro Lobato, No Reino das Águas Claras, versão da Rede Globo 
de Televisão, 2001, a partir do livro Reinações de Narizinho (Lobato, 1993/2003). Um 
conjunto significativo de comportamentos apropriados são apresentados pelos personagens, 
quando comparada aos clássicos adaptados para crianças, como Branca de Neve e os Sete 
Anões e Pinóquio. Em 1921 foi criado o Sítio do Picapau Amarelo. O ribeirão que passa 
por ele conduz ao Reino das Águas Claras com seus seres fantásticos. O Sítio é um lugar 
onde todos demonstram extremo respeito e incentivo às crianças, sejam elas meninos ou 
meninas (Bichara, 2001). Na contingência: na presença da mata, do ribeirão ou mesmo do 
desconhecido, menino e menina interagem com todos os estímulos e as conseqüências 
são liberdade, diversificação de brincadeiras, além da construção de diferentes pontos de 
vista sobre as mesmas experiências vividas. A estereotipia de gênero nas brincadeiras tem 
sido reduzida desde as décadas de 1970 e 1980. Entretanto, as mulheres, as maiores 
fornecedoras de brinquedos para as crianças ainda demonstram estereotipia na seleção de 
brinquedos para meninos e meninas (Bichara, 2003). A possibilidade de participação em 
diferentes tipos de atividades disponibilizada aos meninos e às meninas, o brincar e o 
inventar juntos são temas que podem ser trabalhados a partir de contingências extraídas da 
história. 
A contingência – férias escolares de Pedrinho, o levou a viajar para o Sítio e 
como conseqüência brincar com sua prima, conviver com sua avó Benta, saborear os 
quitutes da tia Nastácia, a boa conversa do Tio Barnabé, além de pescar e caçar. O 
planejamento de férias pode ser discutido junto às crianças. Em outra situação, a relação 
entre saúde, bem-estar físico e psicológico e os ares do campo é mostrada pelo Príncipe 
Escamado, quando ele segue a receita do Dr. Caramujo de tomar ares do campo para 
 13
recuperar-se de algumas escamas perdidas. O contato com a natureza pode ser destacado 
em oposição a se manter apenas dentro de grandes centros de compra, nas cidades. Os 
parques, zoológicos, hortos, centros de plantio orgânico podem ser utilizados como 
recursos a serem visitados, em meio à estas discussões. 
A contingência – diante de brincadeiras propostas ou inventadas, construir e 
recuperar brinquedos e ter como conseqüências o brincar com sua própria criação é um 
aspecto a ser enfatizado junto às crianças. Os meninos do Sítio valorizam seus brinquedos 
confeccionados em casa – a boneca de macela e o sábio visconde inventado por Narizinho. 
O exercício da criação, a diminuição do consumo de brinquedos ou a crítica voltada para 
alguns brinquedos podem ser ocasionados por esta contingência. Lobato incentiva o contato 
com o folclore brasileiro, o brincar com a língua portuguesa, o contato com temas nacionais 
e com os mais variados personagens das histórias infantis tradicionais. A música pode ser 
um dos estímulos a ser utilizados com as crianças, aproximando-a de suas raízes culturais 
(e.g., Vasconcelos, 2003). 
Um país com a riqueza de estilos musicais como o Brasil oferece inúmeras canções 
que podem ser apresentadas às crianças – o chorinho, o samba, a bossa nova, as modas 
clássicas de viola, a música popular de raiz, a música popular brasileira e a música regional. 
No repertório infantil de qualidade também encontra-se excelentes compositores - o Projeto 
Palavra Cantada, dos compositores Sandra Peres e Paulo Tatit; as canções de Bia Bedran, 
do Sítio do Picapau Amarelo, do Castelo Rá-Tim-Bum, do Coro Infantil do Teatro 
Municipal do Rio de Janeiro – Villa Lobos para crianças, canções de Toquinho, Vinícius de 
Moraes, Hélio Ziskind, entre outros. 
A contingência: na presença de uma instrução ou pedido feito à criança, o 
comportamento de não seguimento ou de desatenção é conseqüenciado por atenção 
social, pela correção carinhosa e criativa, por parte dos adultos. O seguimento de instruções 
é um comportamento ensinado às crianças que, inicialmente, pode não mostrar 
generalização. A criança pode não colocar o dedo na tomada da sala, mas poderá fazê-lo 
em outra parte da casa. Essa interpretação por parte de um cuidador pode contribuir para 
estratégias educativas fundamentadas na repetição de instrução, na ilustração com 
exemplos e em elogios para as partes que foram cumpridas pela criança. Entretanto, ao 
interpretar que a criança de 2 anos o está desafiando, desrespeitando ou provocando ela 
 14
poderá ser punida por seu comportamento. Os efeitos colaterais da punição ou de 
contingências aversivas na educação das crianças devem ser cuidadosamente considerados 
(Azevedo & Guerra,2001; Sidman, 1989/1995). 
A discriminação de expressões faciais é fundamental para interações sociais das 
crianças, o que é discutido em Pinóquio, assim como No Reino das Águas Claras. Na 
contingência: Narizinho nas margens do Ribeirão tem a boneca ao seu lado, ainda sem o 
dom da fala- o Príncipe as convida para um passeio em seu reino e, diante do silêncio da 
boneca ele interpreta como uma resposta negativa ao seu convite. Narizinho, 
imediatamente explica-lhe que não se trata de estar emburrada, o que ela precisa é de 
alguém que a ajude a falar. Erros de avaliação como este pode afastar as pessoas ou 
gerarem sentimentos de tristeza ou raiva, para o rotulado e o rotulador. Atividades de roda 
poderiam envolver as diferentes formas de expressão facial com a solicitação de que as 
crianças as descrevam, relatando os diferentes sentimentos envolvidos em cada expressão. 
A alimentação das crianças pode ser um outro tema tratado a partir da história. A 
seguinte contingência poderá orientar discussões nessa área: a freqüente disposição para as 
crianças de mesas servidas com inúmeras tortas, bolos e docinhos o comportamento de 
comer em mais do que seis episódios ao dia e, como conseqüência, os riscos para o 
organismo advindo de distúrbios de alimentação ou do consumo freqüente de alimentos de 
alto valor calórico e baixo valor nutritivo. 
 
Contingências dos séculos XX e XXI 
e a integridade física e emocional dacriança 
 
A adaptação das crianças ao mundo moderno necessita de novos arranjos. É 
inquestionável a importância de relacionamentos sustentadores e contínuos entre pais-filhos 
e mães-filhos. A autoridade dos pais não é sinônimo de práticas coercitivas. Atualmente, as 
crianças estão aprendendo mais sobre outras espécies do que sobre seres humanos. 
Dominam a lógica e máquinas, mas não sabem lidar com suas emoções, conflitos 
contradições e desafios (Cury, 2003). Ambientes punitivos, negligentes ou abusivos, assim 
como a exposição a substâncias tóxicas podem ter um impacto significativo na vida das 
crianças e dos jovens, indivíduos com um rápido desenvolvimento do sistema nervoso 
 15
(Brazelton & Greenspan, 2000/2002). Muitas crianças e jovens estão crescendo sem o 
contato rotineiro com seus principais cuidadores e estão cada vez mais sendo rotulados. A 
pulverização de imagens e de conteúdos por meio da televisão tem formado estes cidadãos 
num mundo de consumo, com o domínio do ter sobre o ser. Assiste-se passivamente a este 
domínio sem um repertório crítico. Sem um filtro para tantas informações e necessidades 
veiculadas. 
 
Educar é contar histórias. Contar histórias é transformar a vida na brincadeira mais séria da 
sociedade. A vida tem perdas e problemas, mas deve ser vivida com otimismo, esperança e alegria. 
Pais e professores devem dançar a valsa da vida como contadores de histórias. (Cury, 2003, p. 
132). 
 
Em nossa constante falta de tempo devemos planejar momentos com nossos filhos. 
Devemos adotar uma postura de investigação e acolhimento - observar mais e não rotular 
nossas crianças e jovens. Limites e amor são inseparáveis na tarefa de educar para a vida. 
Em momentos de crise de uma criança o contar uma historieta pode fazê-la recuperar o 
fôlego e tornar-se atenta a padrões de comportamentos contrários ao gritar, maldizer ou 
chorar. A história estaria fazendo uma ponte de ligação entre o que a criança está fazendo e 
o que ela poderia fazer. Assim, estaríamos evitando uma alta freqüência de mandos - 
instruções, pedidos ou conselhos - o que pode resultar em contra controle por parte dos 
educandos. O excesso de punição verbal ou física e a constante comparação da criança com 
outra criança contribuem também para o desenvolvimento de sentimentos de raiva e 
tristeza. Contingências de reforçamento positivo – elogios, aprovação e sorriso como 
conseqüência para os comportamentos apropriados - é o caminho para a felicidade, para a 
sensação de liberdade, de segurança, para a emissão de comportamentos criativos (e.g., 
Skinner, 1989/1995). As análises de histórias infantis nos fazem refletir sobre nossas 
práticas educativas e sobre nossas interações com as crianças e os jovens. 
Na cultura brasileira, muitos educadores não questionam a utilização de punição. 
Uma alta porcentagem de pais, por volta de 80%, batem em seus filhos quando pequenos 
(e.g., Azevedo & Guerra, 2001; Zagury, 1996). Entretanto, conversar e ouvir uma criança 
com atenção e carinho, valorizando suas formas de expressão são comportamentos que 
poderão contribuir para um mundo menos coercitivo. A análise do comportamento tem 
como ponto principal a ênfase nas contingências de reforçamento positivo e não na 
 16
utilização de contingências coercitivas. Reforços arbitrários como pontos e outros poderão 
ser substituídos gradualmente por reforços naturais advindos da interação social ou obtidos 
em diferentes atividades. Ser a favor da educação é reconhecer que o comportamento é 
analisável e controlável (Sidman, 1989/1995 p.66) e, que o controle não é sinônimo de 
coerção. O professor ou o educador é um aprendiz há mais tempo e esse é o segredo para 
trocas genuínas com nossos filhos e alunos (Dimenstein & Alves, 2003). 
 
 
Referências Bibliográficas 
 
Alves, R. (2001/2002). A escola com que sempre sonhei sem imaginar que pudesse existir. 
Campinas, SP: Papirus. 
Andi, Unicef, Petrobrás & Cortez (2004). Remoto controle. Linguagem, conteúdo e 
participação nos programas de televisão para adolescentes. São Paulo: Cortez. 
Ardila, R. (1992/2003). Walden Três (K. Carrara, trad.). Santo André: Esetec. 
Azevedo, M.A. & Guerra, V.N.A. (2001). Mania de bater. A punição corporal doméstica 
de crianças e adolescentes no Brasil. São Paulo: Iglu. 
Biasoli-Alves, Z.M.M. (1997). Famílias brasileiras do século XX: Os valores e as práticas 
de educação da criança. Temas em Psicologia – Processos sociais e 
desenvolvimento, 3, 33-49. 
Bichara, I.D. (2003). Brincadeiras de meninos e meninas: segregação e estereotipia em 
episódios de faz-de-conta. Temas em Psicologia, 9, 10-30. 
Brazelton, T.B. & Greenspan, S.I. (2000/2002). As necessidades essenciais das crianças 
(C. Monteiro, trad.). São Paulo: Artmed. 
Carmona, B. (1998/2002). Emissão consciente e recepção crítica. Em E.D. Pacheco (Org.), 
Televisão, criança, imaginário e educação (pp. 65-67). Campinas, SP: Papirus. 
Carvalho, B.V. (1982/1987). A literatura infantil: Visão história e crítica. São Paulo: 
Global Universitária. 
Cury, A. (2003). Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de Janeiro: Sextante. 
de Rose, J.C. & Gil, M.S.C.A. (2003). Para uma análise do brincar e de sua função 
educacional – A função educacional do brincar. Em M.Z.S. Brandão, F.C.S. Conte, 
 17
F.S. Brandão, Y.K. Ingberman, C.B. Moura, V.M. Silva & S.M. Oliane (Orgs.), Sobre 
comportamento e cognição. A história e os avanços, a seleção por conseqüências em 
ação (Vol. 11, pp. 373-382). Santo André, SP: Esetec. 
Dimenstein, G. & Alves, R. (2003). Fomos maus alunos. Campinas, SP: Papirus. 
Donatelli, D. (2004). Quem me educa? A família e a escola diante da (in)disciplina. São 
Paulo: ARX. 
Giacomini Filho, G. (1998/2002). A criança no marketing e na comunicação publicitária. 
Em E.D. Pacheco (Org.), Televisão, criança, imaginário e educação (pp. 135-150). 
Campinas, SP: Papirus. 
Gil, M.S.C.A. & de Rose, J.C. (2003). Regras e contingências sociais na brincadeira de 
crianças. Em M.Z.S. Brandão, F.C.S. Conte, F.S. Brandão, Y.K. Ingberman, C.B. 
Moura, V.M. Silva & S.M. Oliane (Orgs.), Sobre comportamento e cognição. A 
história e os avanços, a seleção por conseqüências em ação (Vol. 11, pp. 383-389). 
Santo André, SP: Esetec. 
Gomes, A.J.S. & Resende, V.R. (2004). O pai presente: O desvelar da paternidade em uma 
família contemporânea. Psicologia: Teoria e Pesquisa, 20,119-125. 
Guareschi, P.A. (1998/2002). O meio comunicativo e seu conteúdo. Em E.D. Pacheco 
(Org.), Televisão, criança, imaginário e educação (pp. 83-92). Campinas, SP: Papirus. 
Instituto Antônio Houaiss (2002). Dicionário eletrônico Houaiss da língua portuguesa 
(Versão 1.0.5.) [Software]. Rio de Janeiro: Objetiva. 
Lobato, M. (1993/2003). Reinações de Narizinho (48ª. ed., 14ª. reimpressão). São Paulo: 
brasiliense. 
Mendez, E.G. & Costa, A.C.G. (1994). Das necessidades aos direitos. São Paulo: 
Malheiros. 
Ministério da Justiça (1990/2002).Estatuto da criança e do adolescente. Convenção sobre 
os direitos da criança. Brasília: Ministério da Justiça e Fundo das Nações Unidas para 
a infância – UNICEF. 
Nolte, D.L. & Harris, R. (1972/2003). As crianças aprendem o que vivenciam (M.L.N. 
Silveira, Trad. . Rio de Janeiro: Sextante. 
Pacheco, E.D. (1998/2002). Televisão, criança, imaginário e educação. São Paulo: Papirus. 
 18
Patterson, G., Reid, J. & Dishion, T. (1992/2002). Antisocial boys. Comportameto anti-
social (A.C. Lima & G.V.M. Rocha, trads.). Santo André, SP: Esetec. 
Pereira, M.T.G. (2002). Monteiro Lobato: saber sentir, saber ver, saber dizer. Em M.Z. 
Turchi & V.M.T. Silva (Orgs.), Literatura infanto-juvenil: Leituras críticas (pp. 65-
77). Goiânia: UFG. 
Rachlin, H. (1970). Modern behaviorism. San Francisco: Freeman. 
Silva, V.M.T. (2002). Da imaginação à imagem – o Sítio de Lobato na TV. Em M.Z. 
Turchi & V.M.T. Silva (Orgs.), Literatura infanto-juvenil: Leituras críticas (pp.93-
105).Goiânia: UFG. 
Sidman, M. (1989/1995). Coerção e suas implicações (M.A. Andery & T.M. Sério, trads.). 
Campinas, SP: Editorial Psy. 
Sturmey, P. (1996). Functional analysis in clinical psychology. New York: Wiley. 
Skinner (1953/1981). Ciência e comportamento humano ( J.C. Todorov & R. Azzi, trads.). 
São Paulo: Martins Fontes. 
Skinner (1989/1995). Questões recentes na análise comportamental (A.L. Neri trad.). 
Campinas, SP: Papirus. 
Távola, A. (1998/2002). TV, criança e imaginário. Em E.D. Pacheco (Org.), Televisão, 
criança, imaginário e educação (pp.39-49). Campinas, SP: Papirus. 
Todorov, J.C. (1989). A psicologia como o estudo de interações. Psicologia: Teoria e 
Pesquisa, 5, 347-356. 
Todorov, J.C. (1991). O conceito de contingência na psicologia experimental. Psicologia: 
Teoria e Pesquisa, 7, 59-70. 
Vasconcelos, L.A. (2003). Quem deseja uma criança que expressa opiniões? Em F.C., 
Conte & M.Z.S., Brandão (Orgs.), Falo? ou não falo? (Pp. 97-112). São Paulo: 
Mecenas. 
Vasconcelos, L.A., Silva, C.C., Curado, E.M. & Galvão, P. (2004). Estratégias lúdicas da 
terapia analítico-comportamental infantil: A literatura infantil – Branca de Neve e os 
Sete Anões. Em M.Z.S. Brandão, F.C.S. Conte, F.S. Brandão, Y.K. Ingberman, 
V.L.M. Silva & S.M. Olíani (Orgs.) Sobre comportamento e cognição. Contingências 
e metacontingências: Contextos sócios-verbais e o comportamento do terapeuta (Vol. 
13, pp. 306-320). Santo André, SP: Esetec. 
 19
Vasconcelos, L.A., Curado, E.M. , Arruda, M.C. & Naves, A.R.C.X. (no prelo). A história 
No Reino das Águas Claras: Análise comportamental para uso na escola e na clínica 
infantil. Em L.A. Vasconcelos (Org.), Histórias infantis: Interpretações analítico-
comportamentais para uso lúdico-educacional. Santo André: Esetec. 
Vasconcelos, L.A., Curado, E.M. & Arruda, M.C. (no prelo). A história Viagem ao Céu: 
Análise comportamental para uso na escola e na clínica infantil. Em L.A. 
Vasconcelos (Org.), Histórias infantis: Interpretações analítico-comportamentais 
para uso lúdico-educacional. Santo André: Esetec. 
Vasconcelos, L.A., Naves, A.R.C.X., Silva, C.C., Barreiros, L.M. & Arruda, M.C. (no 
prelo). A história de Pinóquio: Análise comportamental para uso na escola e na 
clínica infantil. Em L.A. Vasconcelos (Org.), Histórias infantis: Interpretações 
analítico-comportamentais para uso lúdico-educacional. Santo André: Esetec. 
Vasconcelos, L.A. & Barreiros, L.M. (no prelo). A história de Peter Pan: Análise 
comportamental para uso na escola e na clínica infantil. Em L.A. Vasconcelos (Org.), 
Histórias infantis: Interpretações analítico-comportamentais para uso lúdico-
educacional. Santo André: Esetec. 
Zagury, T. (1996). O adolescente por ele mesmo. Rio de Janeiro: Record. 
 
 
 
2 Instituto de Psicologia, Departamento de Processos Psicológicos Básicos. Email: laercia@unb.br 
3 A década de 1980 é reconhecida como a década do mercado infantil. No senso do IBGE de 1991, o Brasil 
tinha aproximadamente 50 milhões de crianças entre 0 a 14 anos de idade (Giacomini Filho, 1998/2002). As 
crianças identificam logomarcas antes mesmo de serem alfabetizadas, o que é claramente sabido pelos 
processos de marketing de muitas empresas. As crianças estão em média quatro horas diárias diante da 
televisão, vinte e oito horas semanais (Carmona, 1998/2002), os dados dos Estados Unidos e Europa são de 
cinco e onze horas semanais, respectivamente (Guareschi, 1998/2002). 
4 Comportamentos apropriados são aqueles que refletem adaptabilidade do indivíduo ao seu meio, resultando 
em efeitos favoráveis àquele que os emite. Os comportamentos inapropriados representam comportamentos 
que não são aprovados por um determinado meio social e que poderão resultar em efeitos desfavoráveis ao 
indivíduo. Eles poderão ser considerados adaptativos, porém, com efeitos adversos a longo prazo para aquele 
que os emite. Exemplo, em um ambiente altamente punitivo, o comportamento de dizer inverdades pode ser 
adaptativo, garantindo que o indivíduo não receba punição física, porém, pode ser seguindo a longo prazo por 
conseqüências adversas para aquele que o emite.

Continue navegando