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Hipertensão Arterial Sistêmica 1 Hipertensão Arterial Sistêmica Property Judá Ribeiro Created Conceito: → É uma doença crônica não transmissível, multifatorial, caracterizada por níveis elevados e sustentados de PA (140x90mmHg), causando alterações estruturais e funcionais dos órgãos alvo → Principal fator de risco modificável para doenças cardiovasculares (50%) → Apresenta alta morbidade, por causar lesão nos órgãos alvo → 60% dos idosos são portadores de HAS Fatores de risco → Genética: Pessoas com histórico familiar de HAS apresentam 10 vezes mais chance de possuir HAS → Idade: Devido a diminuição da vasoconstrição e vasodilatação das artérias → Sexo: Homens apresentam mais chance devido as mulheres possuírem o estrogênio como fator protetor, por apresentar alta capacidade de proteção @February 7, 2022 10:23 AM Hipertensão Arterial Sistêmica 2 cardíaca e vascular. Quando as mulheres entram na menopausa e o estrogênio cai para quase zero, ela perde esse fator protetor e as chances de ter hipertensão se igualam com o homem. → Sobrepeso e obesidade: Pessoas obesas produzem maior quantidade de citocinas inflamatórias, que podem interferir na parede vascular, principalmente no endotélio vascular (mais interna), causando um processo inflamatório naquele local, fazendo com que o vaso comece a inflamar e a camada sofra hiperplasia, diminuindo o lúmen do vaso, aumentando a pressão desse vaso. Pacientes obesos também geralmente apresentam dislipidemia, com um amento de LDL, que vai formar as placas de colesterol (ateroma) nos vasos, reduzindo ainda mais o lúmen e aumentando a pressão → Ingesta de sal Sódio aumenta a osmolaridade dentro do vaso, fazendo com que o líquido extracelular entre para o vaso, aumentando o volume de líquido dentro do vaso, aumentando a pressão intravascular → Sedentarismo Quando a pessoa realiza atividade física, ocorre vasodilatação, que estimula produção de vasodilatadores (NO), que vão ajudar a controlar se ocorrer um aumento da pressão. O sedentário não vai apresentar esse fator protetor, os vasos sanguíneos dele vão ficar mais rígidos. → Tabagismo Cigarro interfere no sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático), ele causa descarga de adrenalina (simpático), que é um importante vasoconstritor, reduzindo o lúmen do vaso. → Álcool Causa idiopática Pequenas quantidades de vinho têm ação antioxidante, eliminando substâncias produzidas pelo oxigênio, reduzindo a chance do paciente ter HAS. → Fatores socioeconômicos → Apnéia obstrutiva do sono apresenta importante associação com HAS Hipertensão Arterial Sistêmica 3 Pacientes com apneia quando dormem tem que realizar esforço para respirar, e o momento de sono é quando o coração deveria descansar. Isso com o tempo vai causar lesões cardíacas → Estresse Fisiopatologia → Pressão arterial = Débito cardíaco x Resistência vascular periférica (PA = DC x RVP) → Débito cardíaco: volume de sangue que o coração envia para o corpo em 1 minuto Normalmente o valor é de 5 litros/min Doenças que alteram o débito cardíaco podem causar HAS. → Resistência vascular periférica: capacidade do vaso de dilatar ou constringir mediante ao aumento ou redução do volume sanguíneo Idosos com arteriosclerose perdem essa capacidade de autorregulação dos vasos. → Aumento da atividade do Sistema nervoso simpático causa produção e liberação de adrenalina que causa uma vasoconstrição, se isso se der de maneira crônica, o aumento da pressão no vaso pode causar lesão vascular. → Sistema Renina - Angiotensina - Aldosterona Renina vai nos pulmões, ativa o angiotensinogênio, que sofre ação da ECA, formando a angiotensina 2, que ativa a suprarrenal para que ela produza a aldosterona, que vai no túbulo renal para induzir a reabsorção do sódio para aumentar a pressão. Hiperaldosteronismo primário: um tumor na suprarrenal que induz a produção de aldosterona em alta quantidade, a quantidade de sódio absorvida vai ser maior. → Hipertensão secundária: quando se sabe o que está causando a hipertensão e pode tratar indo direto naquela causa → O rim pode causar hipertensão arterial, mas também é um dos órgãos danificados por ela Hipertensão Arterial Sistêmica 4 → Quando ocorre uma inflamação endotelial, as células endoteliais sofrem alterações, formando buracos na parede endotelial Etiologia → Hipertensão primária Vários fatores de risco que em conjunto levam a HAS, mas não é possível definir com certeza qual a causa Responde bem à antihipertensivos → Hipertensão secundária Presença de uma causa bem definida da HAS Ex: Hiperaldosteronismo primário: tumor na suprarrenal, estimulando excesso de aldosterona Não responde bem à antihipertensivos, pelo fato de a causa base ainda estar presente Quadro clínico → Geralmente assintomático → Sintomas inespecíficos: Cefaléia, tontura, palpitações e mal estar Complicações: → Órgãos alvos: Retina Pressão alta vai alterar os vasos que nutrem a retina Fundoscopia deve ser realizada em todos pacientes, ela identifica lesão na retina Coração Ocorre hipertrofia muscular do ventrículo esquerdo, devido a necessidade de maior força de ejeção do sangue durante a grande circulação. Essa hipertrofia vai diminuir o espaço para o sangue, fazendo com o coração ejete menos sangue e se torne insuficiente, levando a insuficiência cardíaca. Exame de imagem é pedido para avaliar lesão cardíaca e ver a hipertrofia ventricular esquerda Hipertensão Arterial Sistêmica 5 Ex: Eco doppler, raio x Vasos Vasos ficam inflamados, e aumentam sua parede, reduzindo o lúmen Rins Pode ser um causador da HAS mas também é um órgão alvo da hipertensão Sangue chega com pressão aumentada pela arteríola aferente, essa maior pressão vai danificar os glomérulos, diminuindo a capacidade de filtração renal. O sangue ao tentar sair pela arteríola eferente, vai ter dificuldade, devido ao aumento da pressão. Com o tempo o glomérulo é destruído Exames: uréia, creatinina, proteinúria, ultrassom Diagnóstico da hipertensão: História clínica PA > 140x90 mmHg Medida ocasional: quando o paciente relata que aferiu a pressão em algum local Medida no consultório: ideal que faça no mínimo 3 vezes No início da consulta, na hora de iniciar o exame físico e no final da consulta MAPA → Monitorização ambulatorial da PA MRPA → Monitorização residencial da PA Pedir ao paciente que afira a pressão de manhã e a noite (3x manhã e 3x a noite), por 7 dias. Fazer a médias dessas pressões, se tiver > 130 na sistólica ou >80 na diastólica, ele é considerado hipertenso No caso do MRPA, a hipertensão de estágio 1 começa já acima de 130x80, não existe pré hipertenso no MRPA Hipertensão do avental branco: paciente fica tenso na consulta, podendo ter sua pressão alterada, é uma falsa HAS. No caso de dúvida, deve-se pedir o MRPA Pacientes que apresentam hipertensão do avental branco são mais propensos a evoluir para hipertensão normal Hipertensão Arterial Sistêmica 6 Hipertensão mascarada: paciente na consulta apresenta pressão boa e quando pede o MRPA ele apresenta hipertensão, isso ocorre porque o paciente se cuida antes de ir para a consulta. Estadiamento/Classificação da HA PA ótima: <120 x 80 mmHg Hipotensão é qualquer pressão abaixo da ótima, desde que o paciente apresente sintomas PA normal: < 120-129 x 80-84 mmHg Pré hipertensão: 130-139 x 85-89 mmHg HA Estágio 1: 140-159 x 90-99 mmHg HA Estágio 2: 160-179 x 100-109 mmHg HA Estágio 3: >180 x ≥110 Após confirmação da HAS é necessário pedir exames laboratoriais para avaliar lesão de órgãos alvo, para descartar HAS secundária e avaliar presença de outras comorbidades com risco cardiovascular. Exames: Urina rotina, potássio, glicemia jejum, creatinina, perfil lipídico, acido úrico e ECG. Tratamento medicamentoso pode ser iniciado já no estágio de pré hipertenso Hipertensão Arterial Sistêmica 7 Tratamento Não medicamentoso Recomendado para todos os valores de PA, a ideiaé evitar a HAS A cada 10 quilos que o paciente perde, a hipertensão diminui 10% Exercício físico, diminuir sal Medicamentoso, 4 classes principais: Diuréticos tiazídicos Ex: Hidroclorotiazida Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) Ex: captopril IECA e BRA sozinhos, não combinados, apresentam ação nefroprotetora, protegem o rim, mas combinados prejudicam o rim Bloqueadores do Receptor de angiotensina (BRA) Não pode ser combinado com os medicamentos IECA, pelo fato da associação entre os dois medicamentos prejudicar o rim Ex: losartana Bloqueadores dos canais de cálcio Caso o paciente não melhore mesmo com a associação das 3 classes de medicamentos principais, existe uma 4° opção, a espironolactona (diurético poupador de potássio) Hipertensão Arterial Sistêmica 8 Ele faz a troca de sódio por potássio, joga o Na fora e poupa potássio, pacientes com hiperpotassemia/hipercalemia não podem tomar espironolactona Caso o paciente não melhore mesmo com essas 4 classes de medicamentos, deve-se investigar por HAS secundária Sempre se preocupar com a adesão do medicamento quando os remédios não causam efeito Perguntar como ele está tomando o medicamento, quais está tomando em que horário Não deve ser indicado betabloqueador para asmáticos Caso paciente não apresente HAS secundária e não tenha melhorado com os 4 medicamentos, existe uma gama de medicamentos que podem ser incluídos como o 5° Nos casos em que a paciente apresenta sintomas que levam o médico a pensar em HAS secundária, ele pode investigar a causa antes de tomar as medidas de HAS primária. Se essa suspeita for confirmada, primeiro deve-se tratar a causa dessa HAS secundária antes de indicar antihipertensivos. Meta pressórica Até quando se deve abaixar a pressão do paciente hipertenso Em idosos a PA deve ser mais elevada, pelo fato dos idosos serem mais suscetíveis à hipotensão postural (devido à ação da gravidade) Hipertensão Arterial Sistêmica 9 Pacientes com risco cardiovascular baixo ou moderado têm a meta pressórica de: <140 x <90 mmHg Pacientes com alto risco cardiovascular têm a meta pressórica de: <129 x <79 mmHg Idosos saudáveis têm a meta pressórica de: 130-139 x 70-79 mmHg Idosos frágeis têm a meta pressórica de: 140-149 x 70-79 mmHg Classes de medicações → Diuréticos Tiazídicos Hidroclorotiazida, indapamida, clortalidona (melhor efeito antihipertensivo na prática) Atuam sobre o túbulo contorcido distal, estimulando a excreção de sódio pelo rim, diminuindo o volume de sangue dos vasos, diminuindo a pressão. Efeitos colaterais: fraqueza, câimbras, hipovolemia e disfunção erétil Contra indicação: Hiperuricemia Diuréticos tiazídicos aumentam os níveis de ácido úrico por interferir na excreção renal de ácido úrico, fazendo com que ele continue circulando, podendo causar gota Dose máxima de 25 mg (1 comprimido/dia) → IECA Captopril, Enalapril e Cilazapril Controlam muito bem a pressão e possuem um efeito nefroprotetor Hipertensão Arterial Sistêmica 10 Atuam sobre o sistema renina angiotensina aldosterona, eles destroem a ECA no pulmão, impedindo a conversão de angiotensina 1 em angiotensina 2, que iria ativar a liberação de aldosterona nas suprarrenais, que possuem ação de reabsorção de sódio. ECA tbm tem ação de destruir bradicinina que chegam nos pulmões. Essa bradicinina irrita o trato respiratório, induzindo a tosse. Como os medicamentos IECA inibem a ECA, o paciente pode apresentar quadros de tosse. Se o paciente apresentar quadros de tosse, o medicamento deve ser trocado. Efeitos colaterais: tosse seca (bradicinina), angioedema e hiperpotassemia. Angioedema não é efeito colateral para mudar o medicamento, ele costuma melhorar com o tempo Caso paciente apresente tosse seca, deve ser mudado o medicamento. Pacientes que apresentam tosse seca devem mudar medicação para BRA, por também atuar no sistema renina angiotensina aldosterona, mas sem destruir a ECA, possibilitando a degradação da bradicinina, evitando a tosse. → BRA (bloqueadores de receptores de angiotensina) Losartana, Valsartana, Olmesartana e Telmisartana Também atua no sistema renina angiotensina aldosterona, mas não atuam destruindo a ECA, eles permitem a conversão da angiotensina 1 em 2, mas impedem a ligação da angiotensina 2 no receptor da suprarrenal, ocupando esse receptor, impedindo a liberação de aldosterona. Apresentam ação nefroprotetora Apresentam raros efeitos colaterais, exantema (placas vermelhas) podem aparecer raramente (Flávio nunca viu). → Bloqueadores de canal de cálcio Se dividem em 2 classes: Di-idropiridínicos (principais) Pico de ação mais rápido e duram menos Anlodipino, Nifedipino Não Di-idropiridínicos Hipertensão Arterial Sistêmica 11 Pico de ação mais lento e duram mais Verapamil, diltiazém Ação sobre a camada muscular de vasos sanguíneos → vasodilatação Efeitos colaterais: cefaléia, rubor facial, hipertrofia gengival → Diurético mineralocorticóide Espironolactona Diurético poupador de potássio Ação sobre o túbulo distal dos néfrons, natriurese e retenção de potássio Efeitos colaterais: hiperpotassemia, mastalgia (dor na mama), ginecomastia → Betabloqueadores 2 classes: 1: Não seletivos Têm ação nos receptores cardíacos e no sistema respiratório, causando broncoespasmos Propranolol, atenolol, bisoprolol 2: Seletivos Têm ação apenas em cima dos receptores cardíacos Carvedilol, nebivolol Mesmo os seletivos não são indicados para pacientes asmáticos Ação sobre coração (redução DC) e vasos (vasodilatação) Efeitos colaterais: broncoespasmos, hipertrigliceridemia, disfunção sexual, hiperglicemia Triglicerídeos aumentado é risco de pancreatite aguda Tomar cuidado com pacientes diabéticos → Diurético de alça Furosemida Diurético excretor de potássio Ação sobre a alça de henle, excreção de sódio e potássio Hipertensão Arterial Sistêmica 12 Diurético mais potente Efeitos colaterais: hipopotassemia, desidratação Hipertensão resistente PA não melhora mesmo com combinação de quatro classes de medicação O que fazer? Rever história clínica (investigar HAS secundária) Verificar adesão ao tratamento Investigar mudança no estilo de vida Hipertensão secundária Hipertensão arterial sistêmica secundária à uma doença de base ou uso de medicações Quando pensar: HAS resistente Extremos de idade Presença de sintomas Usuários de drogas Principais causas de HAS secundária Endócrina Coartação da aorta Drogas e medicamentos Exposição à substâncias tóxicas Hipertensão Arterial Sistêmica 13 Passo a passo HAS: Paciente chega no consultório com suspeita de HAS, deve-se avaliar fatores de risco, fazer a aferição da PA 3 vezes durante a consulta, depois se ainda houver suspeita de HAS, pede-se o MAPA/MRPA e exames laboratoriais para avaliar lesão de órgão alvo. Caso confirme o diagnóstico de HAS, próximo passo é classificar a HAS do paciente, em estágios, depois avalia-se o risco cardiovascular. Com a informação de risco cardiovascular e estágio da HAS, passamos para a fase de medicamento. Caso HAS do paciente não melhore mesmo com 4 classes de medicamentos, começa-se a investigação por HAS secundária, adesão ao tratamento e mudanças de hábitos de vida. OBS: Nos casos em que a paciente apresenta sintomas que levam o médico a pensar em HAS secundária logo de cara, ele pode investigar a causa antes de tomar as medidas de HAS primária. Se essa suspeita for confirmada, primeiro deve-se tratar a causa dessa HAS secundária antes de indicar antihipertensivos.
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