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Estratégias de Gestão de Pessoas Bruno Stramandinoli Moreno ©2017 Universidade Santo Amaro Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida ou transmitida de qualquer modo ou por qualquer outro meio, eletrônico, incluindo fotocópia, gravação ou qualquer outro tipo de armazenamento e transmissão de informação, sem prévia autorização, por escrito, da Universidade Santo Amaro. Designer instrucional: Ilana Gomes Oliveira de Almeida Revisão de texto: Silvana Pierro Analista de produção: Alan Bernardes Rocha Universidade Santo Amaro Rua Isabel Schmidt, 349 | Santo Amaro CEP 04743-030 | São Paulo | SP Tel.: 0800-171796 | Site: www.unisa.br APRESENTAÇÃO É com satisfação que a Unisa Digital oferece a você, aluno(a), esta apostila de Estratégias de Gestão de Pessoas, parte integrante de um conjunto de materiais de pesquisa voltado ao aprendizado dinâmico e autônomo que a educação a distância oferece. O principal objetivo desta apostila é propiciar aos(às) alunos(as) uma apresentação do conteúdo básico da disciplina. A Unisa Digital oferece outras formas de solidificar seu aprendizado, por meio de recursos multidisciplinares, como material de apoio, fóruns, aulas narradas, webconferências etc. Para enriquecer o seu aprendizado, você ainda pode contar com a Biblioteca Virtual: www.unisa.br, a Biblioteca Central da Unisa, juntamente às bibliotecas setoriais, que fornecem acervo digital e impresso, bem como acesso a redes de informação e documentação. Nesse contexto, os recursos disponíveis e necessários para apoiá-lo(a) no seu estudo são o suplemento que a Unisa Digital oferece, tornando seu aprendizado eficiente e prazeroso, concorrendo para uma formação completa, na qual o conteúdo aprendido influencia sua vida profissional e pessoal. A Unisa Digital é assim para você: universidade a qualquer hora e em qualquer lugar! Unisa Digital SUMÁRIO INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 7 1 GESTÃO DE PESSOAS E OS NOVOS CENÁRIOS NO MUNDO DO TRABALHO ...................... 9 1.1 O contexto do trabalho ....................................................................................................... 9 1.2 O papel estratégico da Gestão de Pessoas ......................................................................... 16 Minicase .................................................................................................................................... 19 Mapa conceitual ....................................................................................................................... 20 Explorando seu conhecimento ................................................................................................. 20 2 GESTÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL ...................................................................... 22 2.1 Cultura organizacional ........................................................................................................ 23 2.2 Clima organizacional ........................................................................................................... 31 2.3 Gestão da diversidade organizacional ................................................................................ 34 2.4 Equipes de trabalho ............................................................................................................ 39 Minicase .................................................................................................................................... 43 Mapa conceitual ....................................................................................................................... 44 Explorando seu conhecimento ................................................................................................. 45 3 GESTÃO DA MUDANÇA E O PAPEL DA ÁREA DE GESTÃO DE PESSOAS ............................ 46 3.1 Modelo mental ................................................................................................................... 51 3.2 Ambiente de mudança e seus aspectos psicológicos ......................................................... 54 3.3 Etapas do processo de mudança ........................................................................................ 57 Minicase .................................................................................................................................... 59 Mapa conceitual ....................................................................................................................... 60 Explorando seu conhecimento ................................................................................................. 60 4 SISTEMA DE INGRESSO E GESTÃO DE TALENTOS ............................................................ 62 4.1 Recrutamento e seleção ..................................................................................................... 62 4.2 Socialização ......................................................................................................................... 70 4.3 Gestão de talentos: desafios e oportunidades ................................................................... 73 Minicase .................................................................................................................................... 78 Mapa conceitual ....................................................................................................................... 80 Explorando seu conhecimento ................................................................................................. 81 5 SISTEMA DE DESENVOLVIMENTO .................................................................................. 82 5.1 Aprendizagem organizacional (treinamentos e educação) ................................................ 82 5.2 Desenvolvimento gerencial ................................................................................................ 88 Minicase .................................................................................................................................... 92 Mapa conceitual ....................................................................................................................... 94 Explorando seu conhecimento ................................................................................................. 95 6 SISTEMA DE VALORIZAÇÃO ........................................................................................... 96 6.1 Gestão de carreira: significados, contratos psicológicos e sistemas.................................. 96 6.2 Remuneração, benefícios e valorização simbólica ............................................................ 101 6.3 Plano de Cargos e Salários ................................................................................................. 107 6.4 Tendências futuras ............................................................................................................ 111 Minicase ................................................................................................................................... 116 Mapa conceitual ...................................................................................................................... 118 Explorando seu conhecimento ................................................................................................ 118 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................120 7 INTRODUÇÃO Caro(a) aluno(a), A Gestão Estratégica de Pessoas é, nos dias de hoje, uma competência básica a dirigentes, gestores, líderes ou mesmo qualquer profissional. Competência essa que faz com que se alcancem metas organizacionais com gestão e habilidade humanas. Dentro desse contexto, faz-se necessário discutir o papel das funções ou atividades da área de Gestão de Pessoas, sob uma perspectiva estratégica. Assim, algumas linhas da disciplina Estratégias de Gestão de Pessoas e, consequentemente, desta apostila são apresentar conceitos fundamentais sobre gestão organizacional, gestão de mudanças, cultura e clima organizacionais, sistemas de ingresso, sistemas de desenvolvimento e sistemas de valorização (remunerações, benefícios, planos de cargos e salários), gestão de carreiras. Assim, visa-se relacionar os aspectos-chave da Gestão de Pessoas com sua atuação profissional, estimular formas adequadas de atuar em Gestão de Pessoas no contexto organizacional, bem como estimular a aplicabilidade do tema na gestão da própria carreira. Nessa perspectiva, o conteúdo está organizado de forma a apresentar assuntos recorrentes na vida corporativa, buscando ampliar o conhecimento teórico e promover reflexões para a sua aplicação prática. Na primeira metade de nosso itinerário, será dada ênfase a aspectos mais contemporâneos. Iniciamos abordando a questão do contexto do trabalho, e o posicionamento estratégico da área de Gestão de Pessoas no momento atual. Em seguida, os conceitos de cultura e clima organizacionais serão debatidos de modo a relembrar sua importância para a organização e o fato de que todas as ações da área de Gestão de Pessoas precisam estar em sintonia com a cultura organizacional. Até alinharmos com a temática da Gestão de Mudanças, quando promovemos o entendimento acerca das tendências que nos fazem lidar com mudanças e como os processos de mudança podem ser geridos de modo a aumentar as chances de êxito. Na segunda metade de nosso itinerário, o enfoque serão os elementos mais práticos da atuação de profissionais da área de Gestão de Pessoas, quando abordaremos o 8 sistema de ingresso e a gestão de talentos. Em seguida, trataremos do sistema de desenvolvimento, de modo a abordar processos de aprendizagem em âmbito organizacional e de desenvolvimento. E, por fim, serão apresentadas as práticas que constituem o sistema de valorização (gestão de carreira, remuneração e Planos de Cargos e Salários). Por último, enfatizamos a necessidade de uma articulação integrada da área de Gestão de Pessoas, destacando possíveis tendências futuras e seus desafios. A abordagem desses temas permitirá uma reflexão sobre a atuação estratégica da área de Gestão de Pessoas e o papel de seus profissionais. Será um prazer acompanhá-lo(la) ao longo desse trajeto. Prof. Bruno Stramandinoli Moreno 9 1 GESTÃO DE PESSOAS E OS NOVOS CENÁRIOS NO MUNDO DO TRABALHO Nesta nossa primeira unidade, abordaremos três temas que são constantes nas reflexões e preocupações de administradores, gestores de pessoal ou de qualquer profissional na atualidade. São eles: o contexto do trabalho e o papel da área de Gestão de Pessoas neste cenário. O estudo desses temas não é algo novo e muito tem sido dito sobre eles. No entanto, ainda hoje, podemos perceber a importância de estudar e aplicar as técnicas e conhecimentos já divulgados para podermos aperfeiçoar nosso trabalho e melhor utilizarmos nosso tempo. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Entender o estado atual do contexto do trabalho; Avaliar as principais características do mundo do trabalho; Investigar as implicações dos aspectos éticos nas organizações; Entender o atual posicionamento da área de Gestão de Pessoas; Compreender como é a área de Gestão de Pessoas em sistemas de ação. 1.1 O contexto do trabalho O cenário atual vem caracterizado por profundas e rápidas transformações econômicas, políticas e sociais. Isto tem implicações diretas no contexto do trabalho. Um número considerável de organizações e profissionais não tem conseguido acompanhar, tampouco, delimitar medidas para obterem sucesso. O que está havendo são mudanças na forma de entender os novos contextos: mudanças de paradigmas dentro e fora das organizações (CARBONE, 2005; VERGARA, 2005). 10 1.1.1 Competitividade global Com o advento da globalização e com a hegemonia de sistemas de informação conectados constantemente (internet), o dia a dia organizacional tem sofrido transformações drásticas, e cada vez mais dinâmicas, no que concerne a tecnologias e comunicações e, por conseguinte, na forma de organizar seus processos internos e de trabalho. Atividades que levavam dias, semanas, meses para serem finalizadas, agora, em poucas horas ou mesmo minutos são concluídas. Ou seja, leva-se cada vez menos tempo para gerar resultado! Isto implica dizer que antes, além de levar mais tempo, tínhamos a distância geográfica. Hoje não há nem um nem outro. Produtos/serviços são vendidos não mais de forma local apenas e sim de forma virtual (global). Não se fala mais em empresa do país tal, pois todas podem estar em qualquer parte do mundo. Há aqui a constatação de um acirramento competitivo. Artigo Muitas são as questões envolvidas à área de Gestão de Pessoas, neste novo cenário de relações cada vez mais globalizadas e virtuais. Assim, convidamos você a fazer a leitura do seguinte texto: “Reflexões sobre o pensamento contemporâneo em gestão de pessoas”. Disponível em: <https://goo.gl/nyvK5M>. Acesso em: 7 jun. 2017. 1.1.2 Turbulência nas organizações: a era do conhecimento e da informação O grande impacto proporcionado pelas mudanças atuais no contexto do trabalho é a forma com que o trabalhador lida com a informação. Exemplo disto refere-se a toda a base financeira da economia, pois está mais diretamente relacionada à informação do que a valores tangíveis (dinheiro, bens físicos). 11 O conhecimento (ou a falta dele) é o que capacita e impele o indivíduo a se posicionar diante de uma tomada de decisão. O grande desafio que se apresenta a dirigentes, gestores e profissionais, em geral, é como gerir o grande quantitativo de informações que hoje impactam, de forma mais rápida, o contexto do trabalho. Para trabalhar hoje, é preciso saber mudar constantemente – “matar um leão a cada dia” –, pois somos incessantemente demandados a modificar padrões de trabalho e de comportamento com os quais são estabelecidos pontos de mudança. Tenha certeza, não é fácil, nem glamouroso! Administrar o conhecimento torna-se a tônica dos processos de gestão na atualidade. Diferentemente de momentos anteriores, em que se preconizava a retenção da informação, o que vale agora é o compartilhamento amplo das informações, pois estas são as que geram as mudanças e é a partir delas que as empresas se planejam e projetam suas ações. Empresas competitivas recebem ideias de todos os envolvidos de forma que os caminhos para que haja maior comunicação estejam sempre fluidos e, consequentemente, permitam que sugestões, ideias, informações e conhecimento transitem de forma fácil. Neste cenário de incontáveis mudanças, emergem novas formas de trabalho, novas maneiras de atuação. Não se fala mais em relações de empregos tradicionais, nas quais a empresa é a única responsável pelo sucesso e o alcance de resultados e pela carreira 12profissional do colaborador. O que prevalece hoje são relações de trabalho nas quais impera a articulação entre a organização e o trabalhador. Dessa maneira, este se torna corresponsável pelos resultados e pela própria carreira (BENDASSOLLI, 2009). 1.1.3 A ética dentro desse novo cenário Os dirigentes e gestores das organizações têm se questionado sobre o tipo de comportamento que as pessoas, no contexto da Ética, têm valorizado. Desse modo, eles têm também se apressado em revisar e implantar códigos de ética no tocante a orientar as condutas, por meio de políticas e estruturas com norte ético. Isto tem implicações que vão desde aspectos de busca por resultado, cultura e clima organizacionais até impacto direto em sistemas de valorização e desenvolvimento. Para tanto, cabe debruçarmo-nos no conceito de Ética a fim de compreender melhor este universo e seus desdobramentos. Vídeo Ética e Indiferença – Ser ou não ser? [Viviana Mosé]. Disponível em: <https://goo.gl/DYdP3S>. Acesso em: 7 jun. 2017. A questão da Ética nos remete a construções sociais e históricas. Ou seja, ao longo do tempo as condutas vão sendo modificadas, transformadas e, assim, promovem mudanças de ordem cultural, a nível comportamental, e nas formas de se validar/corroborar o conhecimento construído por uma determinada área profissional, por exemplo. Melhor dizendo: a ética será alterada de acordo com o tempo histórico e as relações sociais. Logo, os comportamentos que em uma dada época ocorriam vão se apresentar de forma diferente em outra. 13 Saiba Mais O termo ÉTICA faz alusão a noções e princípios que estão no dia a dia das pessoas. Pode ser definida como um conjunto de princípios e valores (como uma BÚSSOLA) que norteia as escolhas e as decisões que os indivíduos tomam. As soluções que decidimos adotar no cotidiano profissional, as formas de resolvermos problemas e como conduzimos situações mais ou menos críticas, via de regra, seguirão determinada ética (bússola) de acordo com a moral contida nela. Obviamente, as regras morais não agem de forma absoluta em nossa maneira de pensar e agir. Eventualmente, acabamos por agir contrariamente a elas ou mesmo contra nossos princípios éticos. Isto é importante, pois, conforme aponta Newstron (2008), quando surgem mudanças, a favor ou contra, seja na forma de conhecer, seja na maneira de buscar a compreensão de alguma situação, em geral, as pessoas e tudo em seu entorno (costumes, hábitos, percepções) também se alteram. 14 Vídeo ABNT NBR ISO 26000 – A Norma Brasileira de Responsabilidade Social. Disponível em: <https://goo.gl/rzzzvX>. Acesso em: 7 jun. 2017. Isto é um efeito muito comum de ocorrer quando se está implantando novas políticas organizacionais, por exemplo. No que concerne ao âmbito do contexto organizacional, isso ocorrerá de forma variada. Porém, a implantação de qualquer política organizacional precisa ser aferida, mensurada. Para tanto, são lançados indicadores com essa função. O Instituto Ethos, em 2007, lançou um rol de indicadores de responsabilidade social empresarial a fim de balizar e facilitar essa medição no contexto corporativo. Glossário Política organizacional. É um conjunto de diretrizes norteadoras das ações no contexto organizacional, dando referências para as condutas dos colaboradores, agindo como moderadora das interações sociais (HOCHWARTER; KACMAR; PERREWÉ; JOHNSON, 2003). 15 Tabela 1.1 – Indicadores Ethos de responsabilidade social empresarial Indicadores Dimensões Subdimensões 1 Valores, transparência e governança Autorregulação da conduta 1. Compromissos éticos. 2. Enraizamento da cultura organizacional. 3. Governança corporativa. Relações transparentes com a sociedade 1. Relações com a concorrência. 2. Diálogo e engajamento das partes (stakeholders). 3. Balanço social. 2 Público interno Diálogo e participação 1. Relações com sindicatos. 2. Gestão participativa. Respeito ao indivíduo 1. Compromisso com o futuro das crianças. 2. Compromisso com o desenvolvimento infantil. 3. Valorização da diversidade. 4. Compromisso com a não discriminação e promoção da equidade racial. 5. Compromisso com a promoção da equidade de gênero. 6. Relações com trabalhadores terceirizados. Trabalho decente 1. Política de remuneração, benefícios e carreira. 2. Cuidados com a saúde, a segurança e as condições de trabalho. 3. Compromisso com o desenvolvimento profissional e empregabilidade. 4. Comportamento nas demissões. 5. Preparação para a aposentadoria. 3 Meio ambiente Responsabilidade com as gerações futuras 1. Compromisso com a melhoria da qualidade ambiental. 2. Educação e conscientização ambiental. Gerenciamento ambiental 1. Gerenciamento do impacto no meio ambiente e do ciclo de vida dos produtos e serviços. 2. Sustentabilidade da economia florestal. 3. Minimização de entrada e saída de materiais. 4 Fornecedores Seleção, avaliação e parcerias com fornecedores 1. Critérios de seleção e avaliação de fornecedores. 2. Trabalho infantil na cadeia produtiva. 3. Trabalho forçado (ou escravo) na cadeia produtiva. 4. Apoio ao desenvolvimento de fornecedores. 5 Consumidores e clientes Dimensão social do consumo 1. Política de comunicação comercial. 2. Excelência no atendimento. 3. Conhecimento e gerenciamento dos danos potenciais de produtos e serviços. 6 Comunidade Relações com a comunidade local 1. Gerenciamento do impacto da empresa na comunidade de entorno. 2. Relações com organizações locais. Ação social 1. Financiamento da ação social. 2. Envolvimento da ação social. 16 7 Governo e sociedade Transparência política 1. Contribuição para campanhas políticas. 2. Construção da cidadania pelas empresas. 3. Práticas anticorrupção e antipropina. Liderança social 1. Liderança e influência social. 2. Participação em projetos sociais governamentais. Fonte: BASTOS, YAMAMOTO e RODRIGUES (2013, p. 47). O que estes indicadores trazem à luz, na realidade, é a necessidade de se discutir o conflito, inerente à atuação profissional, no âmbito das organizações, daquilo que coletivamente é pactuado e pontos de referência para ações que os colaboradores desejarem seguir ou realizar. 1.2 O papel estratégico da Gestão de Pessoas O caráter estratégico que atualmente vem sendo colocado aos profissionais quanto à sua atuação no contexto organizacional pode ser traduzido como “[...] um conjunto integrado de ações e regras que permitem à organização atingir com sucesso seus objetivos [...]” (GONDIM, SOUZA e PEIXOTO, 2013, p. 350). Diante de um cenário de organizações em transição e de transformações em seus processos de trabalho, bem como frente ao acirramento da competitividade, há que se buscar diferenciais que destaquem as organizações, seja pela via da adoção de novas formas de organizar o trabalho, seja pela forma de gerir pessoas e recursos. 17 Na busca em promover um melhor alinhamento de recursos e tecnologias, o “pulo do gato” das organizações foi conceber a área de Gestão de Pessoas como estratégica no alcance de resultados organizacionais. Ao fazer isso, gestores e dirigentes compelem a organização, pela via das pessoas, a reposicionar-se em sua dinâmica (GONDIM; SOUZA e PEIXOTO, 2013, p. 350). Agora não se fala apenas em “recrutar pessoas” ou “administraro pessoal” ou mesmo “pagar benefícios”. A atuação de forma estratégica, impelida e esperada, da área de Gestão de Pessoas é, justamente, a proposição de políticas de gestão que alinhem as pessoas e os objetivos organizacionais, de maneira a equacionar resultados em aspectos relativos à qualidade de vida e bem-estar de quem trabalha. Gondim, Souza e Peixoto (2013, p. 351) destacam que atuar de forma estratégica significa conceber profissionais que se preocupem, de maneira mais ampla e crítica, com os processos de trabalho e da organização para além de um repertório operacional. Será preciso refletir que tipo de profissional construirá e será construído pela organização, ou seja, quais políticas organizacionais precisaram ser arquitetadas para isto? Isto implica dizer que atuar de forma estratégica não é centralizar o poder de decisão. Aos profissionais da Gestão de Pessoas caberá movimentar e mobilizar outros profissionais da organização, a fim de reforçar a perspectiva de que tanto os gestores de pessoas quanto os demais gestores trabalham em conjunto na elaboração destas políticas e no desenvolvimento das práticas de gestão. Mas a qual escopo de ação, especificamente, estamos aludindo quando nos referimos à atuação da área de Gestão de Pessoas? As possibilidades de se responder a esta 18 questão são variadas. Mas uma forma interessante apresentada por Gondim, Souza e Peixoto (2013, p. 354), por sistema de gestão de pessoas, parece bem promissora. O cerne de toda a articulação de um Sistema de Gestão de Pessoas, segundo os autores, é seu caráter integrado de três outros sistemas: o de ingresso, o de desenvolvimento e o de valorização. Assim, é possível regular processos e identificar variáveis e fatores presentes no contexto organizacional. Fonte: GONDIM, SOUZA e PEIXOTO (2013, p. 363). Figura 1.1 – Sistemas de Gestão de Pessoas Os autores ainda destacam que existem alguns desafios nesta sistematização a fim de posicionar um Sistema Integrado de Gestão de Pessoas: Sistema de Ingresso Políticas de atração, seleção e contratação Socialização para o trabalho na organização Alocação de pessoas Sistema de Desenvolvimento Capacitação, treinamento e educação Aprendizagem e competência Acompanhamento Sistema de Valorização Remuneração Recompensas simbólicas Planos de Cargos e Salários Planos de carreira Preparação para a aposentadoria Combate a práticas antiéticas 19 Fonte: GONDIM, SOUZA e PEIXOTO (2013, p.368). Figura 1.2 – Desafios para a atuação da área de Gestão de Pessoas Minicase Ética e responsabilidade social nas organizações A MÁGENTA, empresa de tecnologia, identificou junto aos colaboradores preocupação quanto à Ética sobre adotar ações de âmbito da Responsabilidade Social. No segmento em que atua, a questão ambiental tem impactado tanto econômica quanto politicamente, a ponto do CEO, Fami Gerardo, ter de rever posicionamentos mercadológicos. Em uma reunião, o CEO questionou: “Por que sermos éticos (socialmente responsáveis)?”. Rapidamente, Ehen Roland, Diretor de Gente, apresentou alguns argumentos: 1º) as empresas que adotam a ética da responsabilidade social apresentam maior produtividade que as concorrentes; 2º) os colaboradores internalizam o senso de “orgulho” de serem deste tipo de organização. Isto se reverte numa empresa vista como a que retribui à sociedade toda a confiança estabelecida em seus produtos e serviços; e 3º) a construção de uma clientela preocupada com direitos e deveres nas relações com a organização, o que gera mais fidelidade às marcas. Convencido da necessidade de mudança, o CEO determinou a Atender as necessidades individuais e coletivas da organização Conciliar as dimensões técnica e estratrégica com as dimensões política e ético-moral Ajustar tendências e políticas globais de ações estratégicas Dotar de sistematização e foco no desempenho das políticas e práticas de gestão Incluir em sua agenda debates sobre a diversidade cultural e ações afirmativas e agregação de valor Ampliar, adaptar e reinventar estilos de gestão de equipes em razão da mutabilidade do contexto do trabalho Promover o refinamento dos sistemas de ingresso desenvolvimento e valorização 20 adoção rápida de medidas de Responsabilidade Social. O diretor de Marketing, Luigi Briá, propôs o TutibonaGENTÁ, projeto que premia o desenvolvimento de negócios com retorno social. A ideia foi aprovada pelo CEO. Isto implicou a criação de políticas organizacionais conscientizadoras. Nos seis meses seguintes, a empresa foi reestruturada e espera, para os próximos 2 anos, triplicar o volume de negócios. 1. O que levou as empresas a desejarem ser éticas e socialmente responsáveis? 2. Qual o papel que a área de Gestão de Pessoas pode assumir num projeto como do TutibonaGENTÁ? Mapa conceitual Explorando seu conhecimento Agora, com o intuito de promover a reflexão sobre os temas vistos neste capítulo, gostaríamos de propor algumas reflexões: 1. Uma empresa de prestação de serviços de pintura patrimonial e residencial está com uma demanda crescente para manutenção de fachadas de prédios fora de sua cidade-matriz. No quadro funcional existem alguns profissionais com larga experiência, mas não conseguem dar conta de forma a atender a demanda em si. Nos planos dos dirigentes está a expansão das áreas de trabalho para além da região metropolitana. Gestão de pessoas e novos cenários no trabalho Contexto do trabalho Competitividade global Era do conhecimento e da informação Ética Papel estratégico da Gestão de Pessoas 21 Tendo esse cenário em mente, como a área de Gestão de Pessoas pode auxiliar neste desafio? 2. Primeiro, leia as duas matérias a seguir: a) “People analytics – a fronteira tech na Gestão de RH” da Revista HSM Management, de autoria de Silvio Anaz, de 18 de fevereiro de 2016. Disponível em: <https://goo.gl/Girw1a>. Acesso em 12 jun. 2017. b) “A realidade que emerge da avalanche de dados” da Revista Pesquisa FAPESP, de autoria de Fabrício Marques, de maio de 2017. Disponível em: <https://goo.gl/EwcK8X>. Acesso em: 12 jun. 2017. Agora, reflita sobre a seguinte questão: Como pensar em uma atuação na área de Gestão de Pessoas se cada vez mais as tecnologias tendem a substituir as pessoas no contexto do trabalho? 22 2 GESTÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL Nesta unidade, serão trabalhados conceitos como Cultura Organizacional, bem como seus elementos e sua gestão. Em seguida, em um desdobramento, nosso debate seguirá de forma a abarcar o conceito de Diversidade Cultural nas Organizações, seus constituintes e gestão. Como fechamento da unidade, abordaremos o Trabalho em Equipe, suas implicações e correlações com os três conceitos iniciais: cultura organizacional, clima organizacional e diversidade cultural nas organizações. Estes quatro conceitos estão intimamente relacionados entre si, assim como a outros temas abordados na disciplina, entre eles a capacidade de a organização adaptar-se a mudanças, gestão de talentos, papel estratégico da área de Gestão de Pessoas, sistemas de desenvolvimento e sistemas de valorização. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Compreender como cultura, clima, diversidade organizacionais impactam a dinâmica das empresas; Perceber as diferenças entre os elementos da cultura organizacional; Entender que o clima organizacional não é mensurávela partir de formulações formais, mas sim, apenas captado no dia a dia organizacional; Compreender o papel e a influência que a diversidade organizacional tem no contexto das empresas; Identificar as características de equipes de trabalho e sua efetividade no contexto organizacional. 23 2.1 Cultura organizacional Para iniciarmos os trabalhos desta unidade, proponho darmos um “passo atrás” e acessarmos um conceito importantíssimo a este debate: o de cultura. Assim como a imagem traz uma grande variedade de portas e janelas por onde se pode entrar e sair, definir o conceito de cultura mostra-se um verdadeiro desafio por abrir inúmeras possibilidades. Isso porque, como aponta Silva e Zanelli (2004), há uma pluralidade de concepções e definições. De modo prático adotemos a postura que os próprios autores escolheram ao se valerem da classificação construída por Keesing (1974) para esta empreitada. Em linhas gerais, Silva, Zanelli e Tolfo (2013) compreendem que as “coletividades humanas” se dinamizam a partir de dado conjunto de artefatos e sistemas de valores e crenças que são experienciados, vivenciados e delimitados pelo estabelecimento de padrões comportamentais pactuados (compartilhados). Vejamos um esquema composto a partir da visão desses autores: 24 Adaptado de: SILVA e ZANELLI, 2004, p. 410. Figura 2.1 – Classificação dos conceitos de cultura • Sob esta perspectiva, as culturas se constituem a partir de padrões comportamentais socialmente estabelecidos e transmitidos. Finalidade - adaptar as comunidades humanas às suas características biológicas. Isso ocorre por meio de um processo, constante, chamado mudança cultural (via o estabelecimento de seu caráter mais adaptativo - o processo produtivo), e de mecanismos de controle da dinâmica e sistemática interna da comunidade: ideologia. Cultura como um sistema adaptativo • Esta perspectiva concebe a cultura como um sistema de conhecimento que se constitui a partir de toda a informação subsidiária para "ser" e "agir" de forma adequada, ou mesmo aceitável, para o contexto em que o indivíduo esteja circunscrito. Se o comportamento e as informações são mensuráveis, a cultura, por conseguinte, poderia ser mensurada, observada, também. Cultura como um sistema cognitivo • A base dessa perspectiva é a noção de que a cultura resulte da história acumulada da espécie humana, ou seja, a partir das heranças históricas, seus mitos, a arte, parentescos, a própria linguagem, a humanidade foi capaz de elaborações culturais que estruturam sua comunidade. Semelhante a um inconsciente coletivo que impõe regras e princípios a todos da comunidade, orientando e controlando suas manifestações. Cultura como um sistema estrutural •A cultura, sob esta ótica, se constitui como um um sistema de símbolos que, compartilhados pelos membros de determinado grupo, apresentam-se como um conjunto de mecanismos de controle, planos, receitas, regras, instruções, a fim de nortear o comportamento das pessoas dentro da comunidade. Cultura como um sistema simbólico 25 É óbvio que cada grupo social trará consigo particularidades e especificidades, mas é possível identificar três níveis de estruturação: a) Pressupostos básicos – o nível mais baixo é o terreno onde serão apoiados e delimitados pensamentos, sentimentos, percepções, como um inconsciente coletivo, tal qual uma grande atmosfera de onde surgirão os outros níveis; b) Crenças e valores – estratégias, metas, filosofia e objetivos de vida; c) Artefatos – estruturas e regras, procedimentos, leis. Adaptado de SILVA, ZANELLI e TOLFO, 2013, p. 229. Figura 2.2 – Os níveis da cultura Mas quando se pensa sobre a temática da cultura dentro do contexto organizacional, algumas ponderações precisam ser feitas: o que são organizações? Qual sua finalidade? Como articular o conceito de cultura a uma concepção de Organização? Para tanto, façamos a seguinte estruturação: ARTEFATOS CRENÇAS E VALORES PRESSUPOSTOS BÁSICOS 26 Tabela 2.1 – Conceitos de cultura e análise organizacional Conceitos de cultura Conceitos de Organização Cultura é um instrumento a serviço das necessidades biológicas e psicológicas do homem. Organizações são instrumentos sociais para a realização de tarefas. Cultura funciona como um mecanismo adaptativo-regulador. Ela unifica o indivíduo nas estruturas sociais. Organizações são organismos adaptativos existentes nos processos de troca com o ambiente. Cultura é um sistema de cognições compartilhadas. A mente humana gera a cultura pelo significado de um número finito de regras. Organizações são sistemas de conhecimentos. A organização repousa na rede de significados subjetivos que os membros organizacionais compartilham. Cultura é um sistema de símbolos e significados compartilhados. A ação simbólica necessita ser interpretada, lida e decifrada para ser entendida. Organizações são modelos de discurso simbólico. A organização é mantida por meio de formas simbólicas, tais como a linguagem que facilita compartilhar os significados e as realidades. Cultura é uma projeção da infraestrutura universal da mente. Formas e práticas organizacionais são manifestações de processos inconscientes. Adaptado de: SILVA e ZANELLI, 2004, p. 415. Assim como o conceito de cultura, o conceito de Organização não é fechado. Existem várias concepções teóricas que buscam compreender este fenômeno. A partir do que vimos, entendemos que: [...] uma organização também é produto da sua inserção em determinado contexto sociocultural. As pessoas nas organizações, ao produzirem cultura, fazem-no a partir de aprendizados anteriores obtidos na sociedade em que foram socializadas. Isto é, o contexto sociocultural, configurado a partir de múltiplos valores sociais, exerce influência decisiva no modo como as pessoas concebem e criam as estruturas e os processos organizacionais (SILVA; ZANELLI, 2004, p. 420-421). Mesmo não sendo possível homogeneizar uma definição, absoluta, para o conceito de cultura organizacional (CO), delimitemos que ela configura-se como “[...] um sistema simbólico, expresso em artes, mitos, linguagem, entre outros elementos culturais [...]”, circunscrito “[...] pela construção de entendimentos compartilhados por significados 27 do mundo existencial dos participantes que integram determinada comunidade organizacional” (SILVA; ZANELLI; TOLFO, 2013, p. 227). A fim de ilustrar estas questões, apresento um caso que exemplifica bem como se estabelecem estas “construções de entendimento compartilhado”. O caso em si diz respeito à influência que um dado valor sociocultural, o “empreendedorismo”, tem sobre a cultura no contexto da organização. Caso Semco S/A Fundada no início da década de 1950, durante os seus primeiros 20 anos de vida, a Semco constituiu-se em uma pequena empresa familiar do ramo mecânico- metalúrgico, orientada por princípios eminentemente tayloristas. No final da década de 1970, Ricardo Semler, herdeiro direto do fundador, com apenas 28 anos de idade, assumiu o controle do empreendimento e promoveu mudança na cultura vigente. A primeira grande alteração ocorreu no posicionamento estratégico do empreendimento. Da ênfase em um único segmento de mercado com poucos compradores, criou um leque de alternativas para mercados diversificados que exigiam qualidade e pagavam por ela. Inicialmente, a alta administração da Semco, com integrantes da família proprietáriaou com pessoas que nutriam fortes vínculos afetivos com ela, resistiram aos novos produtos e mercados propostos, adotando posturas de "sabotagem". Em resposta, o jovem empreendedor alterou substancialmente o quadro diretivo, substituindo todos, pertencentes à família ou não, de uma só vez. O crescimento da organização foi substancial a partir da reorientação do seu posicionamento externo e da sua estruturação interna, que migrou de uma administração familiar para se tornar um modelo de gestão profissional, orientado pela seguinte política de recursos humanos: a) abertura dos números da empresa aos empregados; b) política de pessoal justa e consistente na contratação e demissão; c) salário justo, acima da média do mercado; d) relações de respeito com o sindicato; e) encarar a situação ambígua das chefias quanto à lealdade na relação empresa e funcionários; f) participação nos lucros; e g) compartilhamento do poder. Podem ser identificados nessa política de recursos humanos princípios participativos que procuram construir um sentimento de "nós", uma concepção de equipe. A implantação e a sustentação desse modo de ver o ser humano na organização só se tornou exequível a partir da substituição de pessoas que não compartilhavam e resistiam a esta nova concepção. A mudança integral da equipe diretiva proporcionou que a "maneira adequada de fazer as coisas" desaparecesse em grande parte num só momento. Fonte: SILVA e ZANELLI, 2004, p. 417. 28 2.1.1 Elementos da cultura organizacional Segundo Silva, Zanelli e Tolfo (2013), existem alguns elementos constituintes e fundamentais à cultura de uma organização. Elementos estes que estabelecem as conexões e evidenciam as contradições existentes num dado contexto organizacional, tais como artefatos, pressupostos e escolhas humanas recorrentes (padrões de comportamento e incoerências culturais). Adaptado de: SILVA; ZANELLI; TOLFO, 2013, p. 232. Figura 2.3 – Elementos fundamentais da cultura organizacional MITOS SAGAS TIPO DE LONGUAGEM METÁFORAS RITUAIS E CERIMÔNIAS SISTEMAS DE VALORES NORMAS DE COMPORTAMENTOS 29 “[...] relatos de situações ocorridas no passado destituídas de comprovação” (SILVA; ZANELLI; TOLFO, 2013, p. 232). “[...] relatos de fatos considerados heroicos que idolatram o percurso dos participantes da organização, enfatizando os obstáculos enfrentados e como foram superados” (SILVA; ZANELLI; TOLFO, 2013, p. 232). “[...] jargões e termos utilizados pelas pessoas para se comunicarem [...]” (SILVA; ZANELLI; TOLFO, 2013, p. 232). “[...] mensagens que fornecem uma interpretação dos eventos sociais que ocorrem na organização e os conectam à realidade social” (SILVA; ZANELLI; TOLFO, 2013, p. 232). “[...] atividades planejadas que expressam o que é considerado certo e desejável” (SILVA; ZANELLI; TOLFO, 2013, p. 232). MITOS TIPO DE LINGUAGEM RITUAIS E CERIMÔNIAS SAGAS METÁFORAS 30 “[...] aquilo que é considerado certo para o êxito da organização e, portanto, deve ser um guia para o comportamento das pessoas no dia a dia” (SILVA; ZANELLI; TOLFO, 2013, p. 232). “[...] regras que orientam procedimentos ou comportamentos considerados padrão para a maior parte de situações vivenciadas na organização” (SILVA; ZANELLI; TOLFO, 2013, p. 232). Buscar um entendimento e a análise das consistências e inconsistências destes elementos constituintes da cultura organizacional permite a gestão cultural de questões como: a) Aceitação de processos a serem mudados; b) Administração de processos para aquisição de habilidades; c) Localização de processos de formação (técnica e comportamental); d) Preparação e disposição dos membros da organização para potenciais e emergentes mudanças. Para ilustrar esta questão fica a sugestão da matéria (link que segue) sobre um exemplo de gestão cultural. SISTEMAS DE VALORES NORMAS DE COMPORTA- MENTO 31 2.2 Clima organizacional Segundo Puentes-Palácios e Martins (2013), há um nexo causal entre clima e cultura organizacional. Neste sentido, o clima organizacional apresenta os efeitos das situações e questões emergidas da gestão da cultura no contexto organizacional. Para as autoras, fenômenos, clima e cultura são considerados intangíveis, mesmo que sua manifestação se dê de forma concreta. Como discutido anteriormente, a cultura assume uma condição de “tangibilidade” quando da arquitetura das corporações, dos vestuários, dos comportamentos de colaboradores e práticas e procedimentos internos e externos com o mercado. Em uma tentativa de se definir este fenômeno segue um compilado de definições, estruturado por Puentes-Palácios e Romá (2013), que poderá nos auxiliar neste intento. Aspectos do ambiente organizacional, tais como tamanho, centralidade e número de níveis hierárquicos, que distinguem a organização de outras, são relativamente duradouros ao longo do tempo e afetam o comportamento dos membros. FOREHAND E GILMER (1964) ABORDAGEM ESTRUTURAL Percepções individuais de atributos e características organizacionais interpretadas de maneira global. Ênfase no processo de interação entre o ambiente e o indivíduo. JAMES E JONES (1974) ABORDAGEM PERCEPTUAL 32 Fonte: Puentes-Palácios; Martins (2013, p. 263). Figura 2.4 – Definições de clima organizacional De maneira geral, estas definições remetem a uma perspectiva de que o clima organizacional se configura como um conjunto de percepções compartilhadas/pactuadas pelos membros de uma organização sobre os aspectos da vida organizacional (PUENTES-PALÁCIOS; MARTINS, 2013). Nesta ótica, quatro elementos precisam ser pensados e articulados no que concerne à constituição do clima organizacional: a) Cultura organizacional; b) Clima organizacional; c) Clima psicológico; e d) Satisfação no trabalho. Grande ênfase dada à interação entre os membros da organização. O clima é visto como um processo dinâmico (muda ao longo do tempo), construído a partir de uma rede de significados e sustentados socialmente. SCHNEIDER E REICHERS (1983) ABORDAGEM INTERACIONISTA O clima organizacional é criado pelo grupo, a partir da interação dos membros, que compartilham um marco de referência abstrato chamado cultura organizacional e resulta da construção de interpretações sobre eventos organizacionais. MORAN E VOLKWEIN (1992) ABORDAGEM CULTURAL 33 Glossário Clima psicológico. Pode ser definido como significado afetivo da ligação do indivíduo com seu contexto de trabalho. Diz respeito, também, às percepções individuais das experiências do trabalho. Satisfação no trabalho. Remete a uma avaliação positiva ou negativa do trabalhador sobre seu trabalho ou aspectos de atividade profissional. No “frigir dos ovos”, o fenômeno do clima organizacional remete à concepção do ambiente interno da organização, delimitado não por paredes, mas sim pelo “tempo- espaço” onde atuam seus membros. Assim, identificar quais dimensões constituem o referido fenômeno é um desafio. Entretanto, Puente-Palácios e Martins (2013), após exaustiva pesquisa, listaram algumas, comumente, encontradas ou discutidas: Fonte: PUENTES-PALÁCIOS; MARTINS, 2013, p. 266. Figura 2.5 – Dimensões identificadas em estudos sobre clima organizacional Filme Invictus é um filme interessante, que retrata bem a questãode como se gerir as pessoas. Seu roteiro permite associá-lo a dimensões do clima organizacional. Fica a sugestão para você assistir. 34 Para finalizar este tópico, gostaríamos de fazer algumas considerações: a) Clima organizacional remete a questões afetivo-emocionais no ambiente organizacional; b) Clima organizacional está intimamente ligado a aspectos da qualidade de vida no trabalho, bem como ao bem-estar organizacional; c) Clima organizacional é afetado, diretamente, por condições econômicas, de mercado e das políticas e valores existentes; d) Clima organizacional reflete, diretamente, como um retrato na parede, a estrutura organizacional, as características dos membros da organização; e) Clima organizacional sofre várias influências da natureza do próprio negócio, ou seja, do ramo de atividade no qual a organização esteja inserida. Por conseguinte, sofre influência também do estágio de desenvolvimento organizacional (ainda iniciante em suas práticas ou já consolidada em termos de maturidade). 2.3 Gestão da diversidade organizacional Antes mesmo de falarmos de gestão, é importante que definamos o que vem a ser essa tal de diversidade organizacional. Muito se tem falado desta questão. Em uma definição direta, diversidade organizacional se deriva do conceito de diversidade cultural. Este segundo é definido como: “[...] uma representação, em um sistema social, de pessoas com identidades grupais que têm significados culturais distintos” (TORRES; PÉREZ-NEBRA, 2004, p. 444). Dessa forma, para se estabelecer uma definição de diversidade organizacional, temos de entender como esse conceito remete à compreensão das regras e normas organizacionais, as quais são estruturadas a fim de valorizar as diferenças entre os diferentes grupos culturais existentes na organização para a melhoria da efetividade organizacional. Mas isto precisa ser feito de maneira a não promover apenas as diferenças (TORRES, PÉREZ-NEBRA, 2004). 35 Para que se possa discutir mais profundamente o que envolve a gestão da diversidade nas organizações, será necessário retomar alguns conceitos da psicologia social, a fim de construir um melhor entendimento sobre essa questão. Isso porque as políticas organizacionais a serem erigidas pela área de Gestão de Pessoas, com foco na Gestão da Diversidade Organizacional, acabam se referenciando a conceitos oriundos da Psicologia Social, tais como: “grupo de identidade social”. Saiba mais As pessoas podem ser classificadas de diferentes formas, sob diversas óticas, levando em conta determinado momento temporal. A ideia de grupo necessita da perspectiva de que haja uma comparação: “de algo que é com algo que não é”. Por exemplo, um brasileiro só se identificará como tal em comparação com alguém estrangeiro, isto é, que não seja brasileiro. Um indivíduo tido como “competente” só o será se existir alguém que não seja considerado assim. Dentro do âmbito organizacional, existem vários tipos e grupos sociais e culturais diferentes, sendo eles formais ou informais. Façamos um exercício de observação/reflexão. Numa “passadela de olho”, é comum encontrarmos atualmente empresas onde conseguimos identificar os seguintes grupos: a) Área comercial; b) Departamento de engenharia; c) Diretoria financeira etc. 36 Estes são exemplos de grupos formais. Mas aí você se questiona: “Na empresa onde trabalho as divisões não são assim!” Bom, provavelmente você encontrará as pessoas organizadas da seguinte forma: a) Especialistas; b) Estrangeiros; c) Trabalhadores com necessidades especiais; d) Trabalhadores mais antigos; e) Trabalhadores mais novos; e f) Talvez algumas panelinhas. Estes são os grupos informais. Por óbvio, temos a percepção de que, em qualquer contexto social, e no organizacional não será diferente, a diversidade se configura como algo “quase” inerente a sua condição de ente social (TORRES, PÉREZ-NEBRA, 2004). Mas isso pode ser quebrado, como qualquer paradigma. Veja esta reportagem da BBC Brasil. Link Empresa indiana treina cegos para trabalhar em perfumarias. Disponível em: <https://goo.gl/onnYSu>. Acesso em: 22 jun. 2017. Retomamos a questão das políticas organizacionais apenas para salientar que as normas e valores oriundos delas, em muitos momentos, não refletem o estado atual em que a organização se encontra. Fazem mais que isso, têm por premissa fomentar reflexões sobre aonde a organização pretende chegar. E será este ponto o cerne do debate sobre Gestão da Diversidade Organizacional. 37 Trabalhar com elementos da cultura e com a construção de diretrizes de condutas e ações (políticas organizacionais) pressupõe, por consequência, identificar o conjunto de expectativas sobre como os colaboradores anseiam ser tratados e o tipo de comportamento esperado de gestores e colaboradores. Compreender a diversidade cultural a ponto de se estabelecer políticas organizacionais demanda algumas ações em sequência: Fonte: TORRES; PÉREZ-NEBRA (2004). Gerir a diversidade cultural dentro das organizações demanda, necessariamente, trabalhar com a presença de diversas formas de ser, estar e atuar, no que concerne a práticas que favoreçam o bem-estar destes indivíduos no contexto corporativo alinhadas com o alcance dos resultados organizacionais. Torres e Pérez-Nebra (2004) elencam três condições de valorização à diversidade: •Com algum grupo IDENTIFICAÇÃO • Com outro grupo em posição CONTATO •Percepção de pertença por parte do indivíduo PERTENCIMENTO • Intragrupal a fim de estabelecer as diferenças INTERAÇÃO 38 Fonte: Torres e Pérez-Nebra (2004). Figura 2.6 – Condições de valorização da diversidade e nas organizações Para os autores, é imprescindível estabelecer um modelo de gestão que favoreça o debate sobre questões como direitos humanos, gênero – como a mulher no contexto organizacional –, bem como de outras temáticas que tratem das expectativas dos colaboradores tanto em relação ao próprio desempenho quanto à atuação no contexto (retorno potencial/produzido). Perspectivas criativas e abordagens diferenciadas de trabalho. Resultado: Todas as situações são abordadas como oportunidades de aprendizagem. Logo, a premissa é atuar sob a perspectiva de que há mais de uma maneira de se obter resultados positivos. Faz-se necessário fomentar a identificação de expectativas de altos padrões de desempenho para todos. Mas é a partir disto que se estruturam ações que: (a) estimulem o desenvolvimento pessoal (atrelado diretamente aos pessoais, mas que visualize nas práticas organizacionais caminhos para que isso ocorra); (b) instiguem a alta tolerância a debates, e; (c) deem suporte aos conflitos construtivos nos assuntos relacionados ao trabalho. A última condição é a articulação entre a compreensão da missão, por todos os colaboradores, e as expectativas pessoais. Pois, quanto mais se compreende o que deve ser feito, o colaborador o fará mais rápido e melhor. Assim, há uma necessidade ulterior a ser vislumbrada: a estruturação, igualitária e flexível, de processos e ações, com vistas a estimular feedbacks sobre procedimentos e valores organizacionais. 39 Conduzir a diversidade organizacional exige a elaboração de um modelo que estabeleça sistemas de controle de promoção de eficiência e cadeias de comando da organização, assim como ações e programas de formação de gestores a fim deprepará-los para administrar resistências às mudanças. Viemos falando de diversidade organizacional. Agora dê uma boa olhada na imagem que se segue para nos prepararmos para o próximo tópico: equipe de trabalho. Figura 2.7 – Diversidade organizacional e equipes de trabalho, é possível? A imagem acima retrata bem o cenário que, em geral, se apresenta nas equipes de trabalho: um “pool” de expectativas e desconfianças. Administrar esta questão é um dos grandes desafios de qualquer gestor. É sobre o que iremos tratar a seguir. 2.4 Equipes de trabalho Dentro do contexto organizacional você já deve ter notado que a adoção da expressão “equipes de trabalho” (também chamadas de grupos de trabalho, círculos de qualidade, comitês de gestão ou, simplesmente, times) tem sido cada vez mais frequente nos últimos anos. Albuquerque e Palácios (2004) destacam que isto se dá em razão da busca desenfreada e acentuada de mecanismos que fomentem a eficácia/eficiência do desempenho dos indivíduos. 40 Antes de mais nada, busquemos uma definição do que estamos falando: O que são equipes de trabalho? Equipes de trabalho podem ser definidas como unidades de desempenho, compostas por três ou mais membros, por exercerem atividades complementares. Ou seja, elas buscam atender metas de trabalho compartilhadas, por meio da manutenção de relações interdependentes e são identificadas por outros como uma equipe (PUENTE- PALÁCIOS; ROMÁ, 2013). Para entender melhor isto, vejamos, na sequência, alguns tipos de atividades desempenhadas por equipes: Tabela 2.2 – Classificação das tarefas desempenhadas por membros das equipes Tipos de tarefas das equipes Característica central Exemplo Tarefas agrupadas Contribuições individuais Equipes de vendas quando lhes é atribuída uma meta coletiva única, com pouca probabilidade de ser atingida a partir do desempenho de um só membro. Tarefas sequenciais Sistema de Input Equipes de estocagem, compra, armazenamento e exposição de produtos. As compras de reposição podem ser feitas apenas depois que o responsável (pela estocagem) verifica quais produtos estão em falta, e a exposição destes nas prateleiras só pode ser iniciada depois que o responsável pelo armazenamento fez o registro de entrada-saída dos produtos. Tarefas recíprocas Sistema Output-Input Equipes de instrutores que trabalham por módulos de aprendizagem. O conhecimento adquirido pelos alunos subsidiará o conhecimento que eles irão adquirir em um segundo módulo. Entretanto, o conteúdo desse segundo módulo é fundamental para o aprendizado daquilo a ser ensinado no que seria, neste exemplo, ministrado novamente pelo primeiro instrutor. Tarefas de equipe Participação coletiva Equipes de pesquisa em que os pesquisadores trabalham de maneira cooperada para definir o próprio objetivo da tarefa e seu desenho, sem desconsiderar as responsabilidades individuais, estratégias de trabalho e definição de possíveis membros a serem trazidos. Fonte: PUENTE-PALÁCIOS e ROMÁ (2013, p. 316). 41 A responsabilidade pelo resultado final, quando falamos de equipes de trabalho, é sempre compartilhada (em maior ou menor grau). Diferentemente de outros tipos de grupo, como alerta Chiavenato (2005), o objetivo precisa ser compartilhado. Vamos nos valer de outro esquema apresentado por Puente-Palácios e Romá (2013) para delinearmos as características de uma equipe de trabalho, sua dinâmica e foco. Tabela 2.3 – Características de uma equipe de trabalho Características da equipe Característica central Exemplo Estar composta de três membros ou mais O tamanho mínimo da equipe é de três membros e o máximo depende da complexidade das atividades. Grupos compostos por duas pessoas são denominados díades; Equipes muito grandes provavelmente apresentam fragmentação em subgrupos. Desempenhar atividades complementares As atividades desempenhadas pelos membros constituem contribuições para um fim comum que é a meta de trabalho do grupo. A complementaridade das tarefas pode ser do tipo agrupado sequencial, recíproca ou de equipe. Possuir uma meta de trabalho compartilhada Os membros da equipe devem ser capazes de reconhecer ou descrever a meta que devem atingir como célula de trabalho. A meta de trabalho estabelecida serve como norte e deve permitir o acompanhamento da evolução do trabalho. Manter relações de interdependência Refere-se ao fato de os membros necessariamente precisarem uns dos outros para atingir de maneira satisfatória a meta estabelecida. Interdependência de tarefas: depender dos colegas para realizar as tarefas; Interdependência de resultados: desempenho atrelado ao sucesso ou ao fracasso dos outros membros. Identificar-se e ser identificada por outros como uma equipe Tanto os membros da equipe como outros membros da organização sabem quem faz parte dessa ou daquela equipe. Os próprios membros devem identificar-se como parte da equipe; A exigência de reconhecimento por parte de membros externos só é verdadeira para aqueles com os quais a equipe mantém relações. Fonte: PUENTE-PALÁCIOS e ROMÁ (2013, p. 320). 42 No fim das contas os autores destacam que a efetividade e eficácia de uma equipe de trabalho residem na articulação das seguintes variáveis agregadas em cinco categorias: 1. Características das tarefas (baixa, média e alta complexidade); 2. Estruturação do trabalho (formas de organização); 3. Características dos membros que compõem as equipes (conhecimentos, habilidades e motivação); 4. Características da equipe (distribuição do poder, recursos disponíveis, heterogeneidade); e 5. Processos da equipe (coordenação, comunicação, conflito e outros processos emergentes). Neste sentido, fica a reflexão: Curiosidade A chave do sucesso de qualquer Equipe de Trabalho é a capacidade de seus membros construírem um consenso estratégico, ou seja, “[...] a compreensão compartilhada (concordante ou similar) entre os membros da equipe sobre as prioridades estratégicas de ação e os meios para executá-la” (PUENTES-PALÁCIOS; ROMÁ, 2013, p. 330). Saiba mais Mecanismos primário e secundário de criação e implementação da cultura organizacional Mecanismos primários Em que os líderes prestam atenção e o que avaliam e controlam com regularidade? Como os líderes reagem aos incidentes críticos e às crises organizacionais? Qual é o critério usado pelos líderes para alocar recursos escassos? Como é feita a apresentação, o ensino e o treinamento para cada função? Qual é o critério usado pelos líderes para alocar recompensas e status? Qual é o critério observado pelos líderes para recrutar, selecionar, promover, aposentar e demitir os membros da organização? 43 Mecanismos secundários de articulação e reforço O design e a estrutura da organização; Os sistemas e procedimentos da organização; As regras e os rituais da organização; O desenho do espaço físico, das fachadas e dos edifícios; As histórias, as lendas e os mitos sobre as pessoas e os acontecimentos; Declarações formais sobre a filosofia, os valores e os princípios da organização. Fonte: SILVA e ZANELLI, 2004, p. 428. Minicase Caso – Escritório central brasileiro de uma empresa francesa. Descrição – Grupo corporativo EFE é um conglomerado francês com mais de oito grandes empresas nas áreas de negócio como metalurgia e energia. Possuimais de 5 mil colaboradores (alocados em vários países, como Espanha, França, Brasil e Austrália). Sua estrutura organizacional possui como característica principal a descentralização da gestão, o que outorga às práticas organizacionais liberdade e adequação a cada área e localidade em que atua. Contudo, isso traz um desafio: como estruturar políticas organizacionais a fim de convencer as pessoas a assumirem a missão e os valores organizacionais? Os valores organizacionais são: confiança, time e ação. O modelo de trabalho segue uma lógica da Gestão por Projetos. O escritório brasileiro é um importante player na corporação a nível global. O diferencial é o aspecto multicultural pelo fato de haverem muitos expatriados (presença física) e pela capacidade que muitos têm de trabalhar virtualmente. Com o dinamismo e as constantes mudanças, em razão deste modelo flexível de estruturação de equipes por projetos, há o favorecimento da diversidade organizacional. As interações sociais em ambientes de diversidade na organização têm trazido oportunidades diferenciadas de novos negócios e a ampliação da rede de trabalho. Segundo o líder, em geral, os colaboradores da empresa têm um repertório bastante rico para enfrentar problemas e superar desafios. Entretanto, a Gestão da Diversidade não é fácil, pois surgem também certas dificuldades (emocionais e psicológicas): desrespeito, insegurança, raiva, sentimento de rejeição, e a percepção de estar sendo avaliado constantemente. Fonte: MARTINEZ, 2013. 44 1. Como um modelo de Gestão da Diversidade Organizacional pode contribuir para a efetivação e consecução de resultados da empresa? 2. Quais as principais dificuldades que a área de Gestão de Pessoas precisa enfrentar quando do estabelecimento de políticas organizacionais que favoreçam o multiculturalismo? Mapa conceitual GESTÃO DA CULTURA ORGANIZACIONAL Cultura organizacional Valores Elementos Clima organizacional Percepção Interpretação Mapeamento Diversidade organizacional Equipe de trabalho 45 Explorando seu conhecimento Assista aos dois vídeos a seguir e responda as questões. Vídeo 1 – O segredo do Sucesso: Trabalho em Equipe Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=z0YaR2eNLuk>. Acesso em 12 jun. 2017. Vídeo 2 – Trabalho em equipe - Orquestra na rua Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=gr-4_eZ6Cso>. Acesso em: 12 jun. 2017. 1. Identifique nos vídeos os parâmetros que configuram as equipes de trabalho e como estas se estruturam. 2. Os dois vídeos apresentam elementos que constituem uma equipe. Quais são eles? Em que cenas conseguimos identificar isso? 3. Qual a relação entre o resultado e a estruturação de uma equipe de trabalho. 46 3 GESTÃO DA MUDANÇA E O PAPEL DA ÁREA DE GESTÃO DE PESSOAS Nesta unidade, trataremos de um assunto que faz parte do dia a dia de qualquer organização e de qualquer pessoa, pois podemos aplicar os conceitos aqui abordados na nossa vida profissional e pessoal. Falaremos, agora, sobre os modelos mentais e da gestão de mudanças. Primeiro você poderá conhecer e refletir sobre os modelos mentais. Depois, acompanhar uma breve contextualização do atual e turbulento ambiente organizacional e o papel da área de Gestão de Pessoas. Na sequência, veremos como a temática Gestão de Mudanças especifica as implicações sociais e psicológicas (as reações ou sentimentos das pessoas) durante os processos de mudanças. Por último, abordaremos as etapas/fases dos processos de mudança. Nossa medida de sucesso será identificar a aplicabilidade deste conteúdo no seu ambiente organizacional. OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM Entender os elementos que configuram um ambiente de mudança; Compreender como os modelos mentais impactam o ambiente de mudança; Investigar as implicações psicológicas e sociais e os desdobramentos que implicam processos de mudança nas organizações; Identificar quais são as etapas de um processo de mudança. Antes de começarmos a tratar de questões como modelos mentais, mudanças organizacionais, etapas de mudanças, aspectos psicológicos etc., gostaríamos de apresentar algumas ponderações que se mostram relevantes para que possamos construir um entendimento mais sólido e eficaz sobre a temática desta unidade. Desta feita, dois conceitos se mostram centrais neste nosso intento: o conceito de invenção e de inovação. 47 Figura 3.1 – Conceitos de inovação e invenção Invenção: dispositivos de saber/poder que servem de ponto de partida para a construção de representações sobre o mundo (DUSSEL, 1992). Assim, é possível entender que "[...] a invenção consiste precisamente em converter o esquema em imagem", e a imagem contém ‘os meios pelos quais o efeito foi atingido’, [que] vai ‘do abstrato ao concreto’, [...] ‘do todo às partes e do esquema à imagem’ (PATY, 2001, p.182). Ou seja, em síntese, pode ser “[...] como geração de novas ideias; [...]” (CONCEIÇÃO, 2000, p. 58). Artigo “As grandes invenções”, artigo da revista Superinteressante sobre essa geração de grandes ideias e seus impactos na história da humanidade. Disponível em: <https://goo.gl/TCNYZq>. Acesso em: 30 jun. 2017. Inovação: segundo Loiola (et al., 2004, p. 135), é a “[...] introdução, no processo produtivo, de uma invenção. Trata-se da introdução de um novo conhecimento, consubstanciado na forma de produtos, processos produtivos ou gerenciais, na economia [...] podem ser de âmbito tecnológico, gerencial ou social”. Em síntese, “[...] INOVAÇÃO INVENÇÃO 48 a inovação é o desenvolvimento dessas ideias através do início do marketing ou do uso dessa tecnologia; e a difusão é a disseminação dessa nova tecnologia por todo o mercado potencial” (CONCEIÇÃO, 2000, p.58). Saiba mais Inovação tecnológica: ocorre em relação a processos e produtos. Inovação gerencial: ocorre em relação a processos e à estrutura organizacional, especificamente “[...] às formas de organizar a produção como um todo e de novas arquiteturas organizacionais”. Inovação social: ocorre também em relação a processos e estruturas, mas engloba “[...] as formas pelas quais novas relações intra e interinstitucionais fluem, alterando estruturas e padrões de relações consolidados na sociedade”. Tem relação direta com a atuação profissional e com as práticas de consumo (LOIOLA et al., 2004, p. 135). Por que falar de conceitos como invenção e inovação para discutirmos mudança? Para responder a este questionamento, gostaríamos de apresentar algumas informações interessantes. Recentemente, o site de relacionamentos profissionais, o LinkedIn (REDAÇÃO P&N, 2017) realizou um levantamento onde identificou 25 empresas onde os brasileiros se sentem atraídos a trabalhar. São elas: 49 Fonte: REDAÇÃO P&N, 2017. 25 empresas em que os brasileiros desejam trabalhar GPA Varejo UOL Internet Bunge Produtos alimentícios Itaú Unibanco Banco Kroton Ensino Carrefour Varejo Danone Bens de consumo Brasil Kirin Alimentos e bebidas KPMG Brasil Contabili- dade Grupo Boticário Cosmética Porto Seguro Seguros Deloitte Brasil Consultoria de gerencia- mento Lojas Renner Varejo Grupo Netshoes Internet (compra online) Hypermarc as Indústria farmacêutica BRMALLS Varejo B3 Serviços financeiros Rede Globo Mídia de difusão Natura CosméticaCielo Serviços financeiros ABInbev Bens de consumo Raízen Petróleo e energia LATAM Airlines Linhas aéreas TOTVS Software Klabin Papel e produtos florestais 50 O que faz com que estas organizações se tornem tão atrativas para as pessoas, em geral, quererem trabalhar? De acordo com Moreno (2006), em grande parte, o que tem se mostrado característica comum a estas e outras empresas que se despontam é a busca por inovação, por mudanças. Cabe agora ilustrarmos esta questão de forma mais pontual. De modo que gostaríamos de introduzir, em nosso debate, um estudo de caso em que estas questões sobre mudança e inovação destacam-se como situação sine qua non a qualquer organização que se pense competitiva no mercado. Glossário Sine qua non. Locução adjetiva que significa indispensável, essencial. Nos anos de 2005 a 2007, a Danone (que está lá na lista) empreendeu um processo de mudança organizacional drástico. Até os idos de 2004, a empresa vinha acumulando resultados negativos e, assim, a direção decidiu levantar a bandeira da inovação e iniciou um desafio muito agressivo: o DNA Danone. Para desenvolver e implementar um projeto desta natureza e envergadura, os dirigentes sabiam que seria necessário promover uma transformação no mais “íntimo” da organização. Com efeito, o que se propôs e, por conseguinte, se operacionalizou foi o projeto “DNA Danone” que, dentre várias questões, se prestou a atuar sob quatro frentes de trabalho (quatro genes, características essenciais que se esperava de todos que atuavam na Danone): 51 Fonte: PORTAZIO, 2008, p. 2. Figura 3.2 – Genes do DNA Danone Para conseguir alcançar resultados mais positivos, a estratégia foi balizar as metas de cada área a um dos “genes”, ou seja, fomentar o desenvolvimento e a aplicação de cada uma destas características ao dia a dia organizacional com efeitos sólidos para a empresa e os colaboradores (PORTAZIO, 2008). Na prática, qual o efeito disto? Em contrapartida, foram identificadas iniciativas nas partes mais capilarizadas das grandes áreas da empresa. 3.1 Modelo mental Antes de definirmos o que vem a ser um modelo mental, faz-se necessário estabelecermos o conceito de modelo aplicado ao contexto organizacional. Assim, nas palavras de Souza e Peixoto (2013), segue uma definição bastante interessante aos nossos propósitos: [...] Para iniciarmos a compreensão do que significa um modelo, podemos pensar no campo da moda. Quando imaginamos uma modelo que desfila paras as principais grifes de roupas, logo associamos a ideia de que ela é um indivíduo que, por meio da roupa e de acessórios que veste, sintetiza um conjunto de tendência e características (cores, tipos de tecido, comprimento de calças, vestidos, saias, etc.). (p. 123) Isto significa dizer que o que se vê num desfile de moda, necessariamente, é a expressão de uma tendência, ou seja, de um padrão de como se enxerga o mundo. Como assim? Ao compararmos o que uma determinada modelo esteja usando com o Liderança Inovação Ambição Excelência DNA DANONE 52 que nós mesmos usamos no dia a dia, analisaremos se nos adequamos a um padrão ou não. E fazemos isso, sim! Quer um exemplo: as calças jeans. Se em um evento mais social chegar alguém usando calças jeans, o que você faz? Você não vai comparar, analisar (e julgar) se ela atende ao padrão social, vigente e esperado, das pessoas que ali estão? Dentro do contexto organizacional, não será diferente em relação às práticas e atuações profissionais, bem como na forma de organizar o trabalho. Novamente, Souza e Peixoto (2013) nos auxiliam neste sentido, ao afirmarem que os modelos [...] representam um conjunto de características centrais que envolve as formas de estruturação, organização e [...] os modelos [...] podem ser considerados ferramentas ou instrumentos do conhecimento e servem para analisar e compreender melhor a realidade que desejamos conhecer (SOUZA e PEIXOTO, 2013, p. 123). Neste sentido, ao se utilizar de um modelo para explicar algo, na prática, irá se: a) Organizar (ou mesmo reorganizar) dados separados e distantes; b) Identificar similaridades e conexões desapercebidas; c) Predizer e conhecer resultados futuros; d) Construir explicações simplificadas de fenômenos complexos (SOUZA e PEIXOTO, 2013). Agora fica menos oneroso definirmos modelo mental. Ele pode ser entendido como: [...] um modelo que existe na mente de alguém. Dessa forma, só podemos falar a respeito de nossa própria concepção do modelo mental de uma outra pessoa, o usuário do modelo. Intuitivamente a ideia é simples: pensar envolve a criação e a internalização de modelos simplificados da realidade (BORGES, 1997, p. 208). Cabe destacar uma compilação, feita por Borges (1997), a fim de estruturar uma concepção mais elaborada de modelo mental: 53 Fonte: BORGES, 1997, p. 210 Figura 3.3 – Modelo de concepções de modelo mental I. O comportamento de uma pessoa é melhor explicado em termos do conteúdo de sua mente, dos conhecimentos e das crenças de tal pessoa, independente de quaisquer mecanismos mentais. II. Acrescenta-se o pressuposto de que uma pessoa faz inferências e previsões manipulando seus modelos mentais, numa forma de simulação mental. III. Supõe que os modelos mentais são estruturalmente análogos aos sistemas que eles representam e que os mesmos tipos de modelos podem ser construídos através da percepção, da imaginação ou de leitura (BORGES, 1997, p. 210). Assim, um modelo mental carrega consigo quatro características básicas: A. Um modelo mental é diferente de uma representação de informações isoladas sobre o sistema, ela é uma estrutura rica e elaborada. B. Um modelo mental representa diferentes tipos de informação: de que o sistema é formado, qual é a estrutura dele, como ele funciona e por que se comporta de uma determinada maneira. C. Um modelo mental, para algumas pessoas pelo menos, é diferente de outras formas de conhecimento pois ele pode ser ‘rodado’ com entradas exploratórias, de forma a imaginar o resultado. D. Um modelo mental envolve um certo grau de sistematicidade e coerência (BORGES, 1997, p. 211). A forma como as pessoas constroem seu entendimento sobre os “estados de coisas” se baseiam na percepção que têm sobre o mundo. A cada novo conhecimento adquirido (construído), há a expansão (assimilação do novo conhecimento aos seus modelos já existentes) do modelo mental, o que resulta em modelos mentais mais sofisticados (BORGES, 1997). III II I 54 Entender o que são, como se caracterizam e como funcionam os modelos mentais implica em singular importância para a discussão sobre Gestão da Mudança e o papel da área de Gestão de Pessoas. Isso por que, neste tipo de gestão, os autores identificam a necessidade de preparar as pessoas, e a própria organização, para a construção de uma forma diferenciada de enxergar o mundo e as questões e fenômenos no contexto organizacional, ou seja, de modelos mentais. 3.2 Ambiente de mudança e seus aspectos psicológicos Na tentativa de se definir em que contexto se dá a mudança, cabe aqui alguns apontamentos sobre o ambiente organizacional. Toda e qualquer organização, conforme Loiola (et al. 2004), não pode ser vista como um sistema fechado e sim aberto. Esta perspectiva nos mostra a importância de entender a natureza das relações entre a organização e o contexto que a delimita, o ambiente. Para tanto, precisamos compreender a dinâmica organizacional
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