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1 Aspectos éticos e legais das técnicas de reprodução assistida Atualmente estima-se que a infertilidade conjugal acomete cerca de 15% dos casais, totalizando cerca de 11 milhões e 500 mil pessoas inférteis no mundo – em proporções semelhantes entre homens e mulheres. No Brasil, são realizados em média 30 mil ciclos de fertilização in vitro por ano, totalizando cerca de 140 ciclos por milhão de habitantes e 6 mil crianças nascidas – 0,2% de todos os nascimentos. Esses índices se relacionam com os novos tipos de família que se diferem ao modelo tradicional biparental, como a família monoparental por produção independente e a biparental homóloga por casais homossexuais. A reprodução humana assistida (RHA) foi normatizada no Brasil pela resolução nº 1.931/2009 do Código de Ética Médica e pela resolução 2.013/2013 do Conselho Federal de Medicina. Além disso, um procedimento previsto na Constituição Federal e na Declaração Universal dos Direitos Humanos, sendo regulamentada pelos códigos civil e penal. A lei 11.105/2005 prevê os critérios de biossegurança que devem ser seguidos para coleta, manipulação e descarte desses materiais biológicos, essa que é regulamentada pelo decreto 5.591/2005. A Resolução nº 23 da ANVISA busca instituir critérios mínimos para o funcionamento dos Bancos de Células e Tecidos Germinativos (BCTG) visando a segurança e qualidade das células, tecidos germinativos e embriões utilizados. Segundo artigos Constituição Federal de 1988 todos são iguais perante a lei e, fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana o planejamento familiar é de livre decisão, de modo que o Estado deve apenas propiciar recursos científicos para tanto. Como situações especiais incluem-se tratamento com sêmen, óvulo ou embriões doados; inseminação de ‘mulher solteira’; gestação de substituição com cessão temporária de útero; concepção post mortem; casais homoafetivos, entre outras. Doação de gametas e embriões: a permissão legal é baseada na ausência de proibição com base no princípio a legalidade estabelecido pela Constituição Federal – tudo que não é proibido é permitido. A permissão ética é dada pela Resolução 2.013/2013 (seção IV), a previsão do código civil de 2002 (artigo 1.597) e a gratuidade se estabelece com base no artigo 199 inciso 7 da Constituição Federal. Pessoa solteira: a permissão legal é feita pelo princípio da legalidade, sendo também um direito constitucional adquirido pelo artigo 226 e inciso 4º, em que a entidade familiar por qualquer dos pais e seus descendentes deve ser protegida. Também tem previsão na lei do planejamento familiar (9.263/1996 artigos 1º e 2º), lei de adoção (12.010/2009) e permissão ética pela resolução 2.013/2013 do CFM. Cessão temporária de útero: a permissão legal é feita pelo princípio da legalidade e permissão ética pela resolução 2.013/2013 do CFM nos itens 1 a 3. De acordo com o artigo 9º da lei 9.263/96, para exercício do direito ao planejamento serão oferecidos todos os métodos e técnicas de concepção e contracepção cientificamente aceitos e que não coloquem em risco a vida das pessoas, garantida a liberdade de opção. De acordo com o Enunciado 129 CJF/STJ (artigo 1.597-A), a maternidade será presumida pela gestação. Nos casos de utilização das técnicas de reprodução assistida, a maternidade será estabelecida em favor daquele que forneceu o material genético, ou que, tendo planejado a gestação, valeu-se da técnica de reprodução assistida heteróloga. A cedente temporária do útero deve pertencer à família de um dos parceiros em parentesco consanguíneo até o quarto grau, não podendo ter caráter lucrativo ou comercial e devendo passar por análise de perfil psicológico para atestar adequação clínica e emocional dos envolvidos. Concepção post mortem: é baseada no princípio da legalidade, tendo permissão ética pela seção VII da resolução 2.013/2013 do CFM. De acordo com o artigo 1.597 do Código Civil, presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; havidos a qualquer tempo quando se trata de embriões decorrentes de concepção artificial homóloga e havidos por inseminação artificial heteróloga desde que tenha prévia autorização do marido. Aspectos éticos e legais das técnicas de reprodução assistida 2 De acordo com o artigo 227 da Constituição Federal, o estado de filiação não está necessariamente ligado à origem biológica, podendo assumir feições originadas de qualquer outra relação que não genética, como vínculo social, manifestação da vontade, entre outros. Homoafetivos: no caso de duas mulheres tem-se a possibilidade de utilização de gameta de uma para gestação na outra, enquanto que no caso de dois homens deve-se avaliar a utilização de espermatozoide de ambos ou mistura de sêmen. De acordo com a resolução 2.013/2013 do CFM, as técnicas de reprodução assistida podem ser utilizadas desde que exista probabilidade efetiva de sucesso e não se incorra em risco grave de saúde para a paciente ou possível descendente, sendo a idade máxima de gestação de 50 anos. O Ministério Público Federal afronta ao apresentar o argumento de que a proibição de tratamentos a mulheres com mais de 50 anos afronta o direito constitucional dos cidadãos à liberdade de planejamento familiar – entendendo que essa decisão é, legalmente, competência da família. O consentimento livre e esclarecido é obrigatório para todos os pacientes submetidos à reprodução assistida e necessário para legitimação do ato médico, de modo que garante proteção ética e legal para médicos e pacientes, deixando claro a manifestação de vontade. Além disso, de acordo com o capítulo II do Código de Ética Médica, o médico pode recusar-se a realizar atos médicos que, embora permitidos por lei, sejam contrários aos ditames de sua consciência. A Resolução do CFM nº 2.168/2017 adota as normas éticas para a utilização das técnicas de reprodução assistida, sempre em concordância aos princípios éticos e bioéticos e objetivando auxiliar na resolução dos problemas de reprodução humana, facilitando o processo de procriação. As técnicas de reprodução assistidas podem ser usadas em casos de possibilidade de sucesso e sem riscos graves de saúde para pacientes com idade máxima de 50 anos. As exceções se baseiam em critérios técnicos e científicos fundamentados pelo médico responsável e após esclarecimento dos riscos envolvidos, respeitando a autonomia da paciente. As técnicas não podem ser aplicadas na intenção de selecionar o sexo ou qualquer outra característica biológica do filho, exceto para evitar doenças, sendo também vedada a fecundação com finalidades que não a procriação humana. A quantidade de embriões transferidos depende da idade, sendo: até 2 em mulheres até 35 anos, até 3 em mulheres entre 36 e 39 anos, até 4 em mulheres com 40 anos ou mais, considerando a idade da doadora no momento da coleta dos oócitos. O número de embriões a serem transferidos não pode ser superior a quatro e em casos de gravidez múltipla são proibidos procedimentos que visem a redução embrionária. É permitido o uso das técnicas de reprodução assistida para relacionamentos homoafetivos e pessoas solteiras, respeitado o direito a objeção de consciência por parte do médico, considerando gestação compartilhada quando o oócito obtido de uma mulher é fecundado e transferido para o útero de sua parceira. A doação não pode ter caráter lucrativo e os doadores não devem conhecer a identidade dos receptores e vice-versa. Tem-se idade limite para doação de 35 anos para mulheres e 50 anos para homens. Em locais que realizem reprodução assistida deve-se ter pelo menos um diretor técnico com registro de especialista que será responsável por todos os procedimentos, além de um registro permanente das gestações, nascimentos, malformações, exames laboratoriais, entre outros. Pode ser feitaa preservação de espermatozoides, oócitos, embriões e tecidos gonádicos, sendo que os embriões com três anos ou mais poderão ser descartados se esta for a vontade dos pacientes. Aspectos éticos e legais das técnicas de reprodução assistida
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