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1 Imunologia – Vitor Benincá – MED 202 UNESC O abortamento de repetição (AR) é definido como duas ou mais perdas gestacionais consecutivas antes da 20a semana da gestação ou peso fetal menor de 500 gramas, acometendo 2- 4% das gestações. ETIOLOGIA As anomalias genéticas são responsáveis pela maior parte dos abortos de repetição, embora também possa ocorrer por anomalias uterinas, trombofilias, desordens endócrinas, metabólicas e imunes (autoimunes ou aloimunes). O momento da perda é importante para definir a etiologia, visto que existem causas mais especificas, de acordo com a semana da gestação. • Fatores genéticos geralmente perda precoce • Fatores autoimunes, aloimunes ou anatômicos sugerem perda mais próxima do segundo trimestre. FISIOPATOLOGIA FATORES ALOIMUNES A imunidade celular garante a implantação do blastocisto impedindo a sua rejeição pelo sistema imune materno. Macrófagos M1, neutrófilos, células NK agem no início da gestação, auxiliando a implantação do blastocisto. O desequilíbrio entre a imunidade celular Th1/Th2 nas mulheres com aborto de repetição. Com isso, deve haver mudança de um perfil pró para anti-inflamatório. Se não houver essa mudança, não haverá um ambiente bom para o feto se desenvolver, havendo estresse oxidativo, podendo gerar a morte do feto. Fatores de perfil pró-inflamatório que alterados no 1º trimestre podem levar ao aborto de repetição: • Diminuição de fator inibidor de leucemia (LIF), responsável pelo preparo do endométrio; • Diminuição do fator inibidor da migração (MIF), responsável pela receptividade uterina; • Diminuição da molécula de adesão intracelular 1 (ICAM-1), responsável pelo controle da resposta imune. Estresse oxidativo: no primeiro trimestre há perfil pró-inflamatório (NK, macrófagos M1, neutrófilos) e eles destroem o microrganismo através de substâncias proteolíticas e por ERO. As espécies reativas de oxigênio têm um elétron não parelhado e para estabilizar ligam-se à estrutura do microrganismo. Nessa ligação elas se estabilizam, mas degradam o microrganismo. Se essas espécies reativas de oxigênio ocorrem em local sem microrganismo invasor, eles se ligam em lipídeos da membrana da célula do corpo e danificam a membrana das células. Isso acontecendo no útero gravídico no início da gestação acomete principalmente o feto. Alterações no perfil de HLA-G de macrófagos e de células natural killers (NK) também podem comprometer o desenvolvimento da placenta no início da gestação, estando associados ao AR, apresentando, essas últimas, valores 40% maiores. FATORES AUTOIMUNES Síndrome do anticorpo antifosfolipídeo • A síndrome dos anticorpos antifosfolípideos (SAF) é condição autoimune caracterizada pela produção de anticorpos antifosfolípideos (AAF) que imunoglobulinas que reagem contra os fosfolipídeos carregados negativamente. • Todos os AC provenientes de células B que não foram alteradas são chamadas de autoanticorpos. • Os fosfolípides são fundamentais para a implantação placentária porque são responsáveis pelas ligações celulares do citotrofoblasto ao sinsiciotrofoblasto • Se o anticorpo se liga ao antígeno, há ativação de uma resposta pró-inflamatória. Os anticorpos antifosfolipídeo são capazes de: • Inibir a liberação de hormônio gonadotrofina coriônica humana (hCG); • Bloquear a migração, invasão e formação de células multinucleadas do trofoblasto; • Inibir as moléculas de adesão de células trofoblásticas; • Ativar o complemento na superfície do mesmo, induzindo uma resposta inflamatória e ativação da via clássica do complemento. O mecanismo fisiopatológico principal da síndrome dos anticorpos antifosfolípideos na perda fetal inclui a ação destes anticorpos nas células endoteliais, levando a agregação plaquetária, trombose, infartos placentários e subsequente redução da oxigenação fetal. A presença de AAF – incluindo anticardiolipina (tipo de AAF) e anticoagulante lúpico – durante a gravidez é um importante fator de risco para o aborto de repetição. Uma importante molécula-alvo para a ligação com AAF parece ser a beta-2 glicoproteína-1 (b2GP1), proteína catiônica presente nas células trofoblásticas, sendo um anticorpo anticardiolipina Sua função fisiológica parece incluir a inibição da trombose através da redução da conversão de protrombina em trombina nas plaquetas e da inibição da ativação da cascata de coagulação e dessa forma ocorre a inibição de sua ação A trombose placentária é aceita como o principal mecanismo imunológico de aborto de repetição. Os fatores genéticos ainda são mais prevalentes que os imunes. Os AAF estão comprovadamente associados ao risco de trombose periférica, promovendo o infarto placentário, com prejuízo da troca materno fetal de nutrientes e oxigênio. A presença de anticoagulante lúpico parece causar um maior risco de trombose do que a de anticorpo anticardiolipina DIAGNÓSTICO FATORES AUTOIMUNES Detecção de anticorpos que se ligam a fosfolipídeos ou ao complexo fosfolipídeo-proteína. Destes anticorpos, os que são mais pesquisados na prática são a anticardiolipina e o antilúpico dos tipos IgG e IgM, embora existam outros cuja detecção, no sangue ou em tecido placentário, é de mais difícil realização (fosfatidilserina, fosfatidiletanolamina, fosfatidilinositol, fosfatidilglicerol e ácido fosfatídico). Imunologia do Abortamento 2 Imunologia – Vitor Benincá – MED 202 UNESC TRATAMENTO FATORES AUTOIMUNES Combinação de heparina não fracionada com dose baixa de aspirina parece fornecer o mais alto índice de sucesso. Imediatamente após o parto, medidas tromboprofiláticas devem ser tomadas, desde que não haja contraindicações, tais como deambulação precoce, uso de meias compressivas e uso de aspirina em baixa dose. Em estudo realizado na Espanha, administrou-se aspirina em baixa dose (50 mg/dia) durante toda a gestação em 28 mulheres com perdas fetais. O tratamento revelou-se seguro e eficaz, seja para conseguir uma gestação com sucesso, seja para reduzir os níveis de anticorpos anticardiolipina. Nesta investigação, o índice de sucesso gestacional foi de 86%. Outro estudo mostrou ainda que esta terapia profilática provê um índice de sucesso de 77,8% e que este resultado é influenciado pelo número de perdas fetais prévias e títulos de anticorpo anticardiolipina.
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