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EA D 5 O Governo da Igreja em Âmbito Particular 1. ObjetivOs • Compreender o significado da Igreja particular. • Interpretar a normativa sobre os Bispos. • Conhecer a organização interna das Igrejas particulares. • Interar-se das paróquias, párocos e conselhos paroquiais. 2. COnteúdOs • Igreja particular: terminologia, conceitos preliminares, elementos constitutivos e determinativos, formas e tipos de agregação. • Bispos: diocesanos, coadjutores e auxiliares. • Paróquias: noção, elementos constitutivos e determinati- vos, identidade teológica, personalidade jurídica. • Párocos, administradores paroquiais e vigários paróquias. • Conselhos paroquiais © Direito Canônico I232 3. Orientações para O estudO da unidade Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Nesta unidade, vamos nos voltar para uma realidade que não lhe é estranha: a Igreja particular. Saiba que a redes- coberta da Igreja particular realizada pelo Concílio Vati- cano II colocou em crise a compreensão de uma grande diocese dividida em partes e governadas por delegados do Papa. Na verdade, a Igreja particular é a primeira e originária manifestação do evento de Cristo e é a Igreja como um todo que se manifesta em um determinado lugar, embora seja necessário levar em conta a dimen- são universal deste evento e o vínculo de comunhão que une as diversas Igrejas locais espalhadas pelo mundo. 2) As Igrejas particulares são as comunidades às quais per- tencem os fiéis e nas quais eles realizam a própria per- tença ao povo de Deus. Cada fiel, mediante a fé e o batis- mo, é inserido na Igreja una, santa, católica e apostólica, mas isso se realiza em uma concreta comunidade local (diocese, paróquia, outras comunidades particulares). Portanto, quem pertence a uma Igreja particular per- tence contemporaneamente ao corpo das Igrejas, já que esta pertença não se limita ao âmbito particular, mas, por sua natureza, é sempre universal. 3) A Igreja particular é Igreja porque é presença da Igreja universal. Portanto, de um lado, a Igreja universal encon- tra a sua existência concreta em cada Igreja particular na qual ela está presente e operante, mas, de outro lado, a Igreja particular não esgota a totalidade do mistério da Igreja, dado que alguns de seus elementos constitutivos não são dedutíveis de uma pura análise da Igreja parti- cular, como no caso do sucessor de Pedro e do próprio Colégio Episcopal. 4) No estudo da Igreja particular, você entrará em conta- to com uma série de realidades que estão diretamen- te ligadas ao seu funcionamento e organização, como, por exemplo, é o caso da figura do Bispo (diocesano, Claretiano - Centro Universitário 233© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular coadjutor, auxiliar, emérito), dos conselhos diocesanos (presbiteral, de pastoral, de economia), do colégio dos consultores, da Cúria diocesana (vigário geral, vigário episcopal, chanceler) e das paróquias (pároco, adminis- trador paroquial, vigário paroquial, conselho de pastoral e de economia). Tratam-se de realidades mais ou menos próximas de você e é importante conhecê-las. Sendo assim, colocamos à sua disposição este subsídio que se ocupa da normativa que rege as Igrejas particulares. 5) Esperamos que no estudo desta unidade, tendo por base este auxílio, como, também, a bibliografia forne- cida, você possa adquirir uma visão panorâmica, mas suficiente, do funcionamento da Igreja particular e dos elementos que dão sustentação à compreensão eclesial que dela se tem. 4. intrOduçãO À unidade Esta unidade, em continuidade à anterior, se voltará para o governo da Igreja, mas, desta vez, em âmbito particular, pois a Igreja Católica é uma comunhão (unidade) na diversidade (Igrejas particulares). No final da presente unidade, você terá uma visão suficiente dos órgãos de governo da Igreja particular, como, também, dos principais aspectos normativos a eles referentes. Bom estudo! 5. a iGreja partiCuLar terminologia A terminologia utilizada pelo Concílio, embora não unívoca, permitiu que se iniciasse uma reflexão jurídica, partindo da cons- tatação de que, nos textos conciliares, para se indicar a específica e própria identidade de uma Igreja, é utilizado o termo "local" (LG © Direito Canônico I234 23; UR 14; AG 27), mas, com o mesmo sentido aparece, também, o adjetivo "particular" (LG 13). De um modo específico, a diocese é indicada seja como Igre- ja local (AG 27), seja como Igreja particular (LG 27; AG 20; CD 11). Mas, é, sobretudo, nesta última acepção de Igreja particular que os padres conciliares preferiram identificar a diocese. Tal escolha, no âmbito da elaboração do decreto Christus Dominus, foi o fruto de precisas avaliações entre as possíveis terminologias propostas. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Não foi aceito o termo episcopal para se evitar a ideia de uma espécie de posse por parte do Bispo, nem o termo local porque não poderiam ser incluídas as dio- ceses pessoais. Optou-se, também, por se evitar o uso frequente da expressão porção da Igreja universal, para que não fosse introduzida a ideia de parte ou pedaço, embora a palavra "porção" tenha sido utilizada pelos padres conciliares justamente porque este termo se refere a uma realidade que conserva em si todas as qualidades e propriedades do todo, diferentemente da expressão pars (parte). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Os termos "local" e "particular" são os atributos da Igreja sobre os quais muito se concentrou a dialética teológica e cano- nística. O termo "local", preferido em âmbito teológico-pastoral, contém uma imediata referência ao lugar, ao contexto social e à cultural onde o evento Igreja se historiciza. O termo "particular", preferido em âmbito canônico, à diferença do termo "local", não comporta uma direta e necessária referência ao território, pois este não é mais um elemento constitutivo de uma circunscrição eclesiástica. Optou-se, enfim, pelo termo "particular", mas esta escolha deve ser bem entendida também em relação ao termo "universal". "Universalidade" e "particularidade" são dimensões inseparáveis e simultâneas da única Igreja de Cristo. Portanto, a noção de particular, como se verá mais adiante, não deve ser co- locada em oposição à noção de universal. A Igreja não é chamada particular porque não é universal. Claretiano - Centro Universitário 235© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular Conceitos preliminares Uma das fundamentais contribuições do Concílio Vaticano II foi, como afirmado, a redescoberta da Igreja particular e a re- cuperação de seu valor em todos os campos e, também, naquele canônico. O Vaticano II insistiu a respeito de duas ideias essenciais: • a Igreja de Deus realiza-se, concretamente, nas Igrejas particulares; • as Igrejas particulares devem criar profundas raízes na es- fera humana na qual se realizam. Na Lumen Gentium nº. 23, encontramos um texto de grande alcance doutrinal e constitucional. Nele, afirma-se que as Igrejas particulares são feitas à imagem da Igreja universal. Cada Igreja particular tem uma existência própria, não no sentido de absoluta independência. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Diante dessas afirmações da LG nº. 23, devemos excluir toda e qualquer ideia de autocefalia das Igrejas particulares, superando aquela concepção eclesiológica que tende a reduzi-las a simples circunscrições administrativas da Igreja univer- sal. Cada Igreja particular, enquanto realização da Igreja e de sua catolicidade, possui, por direito divino, uma justa autonomia, tendo em si todos os meios para realizar a missão recebida do Senhor. Assim, a mútua imanência entre a Igreja particular e a Igreja universal exige, do ponto de vista jurídico,uma coordenação entre o direito particular e o direito universal, de modo que a Igreja particular e a Igreja universal sejam unidas na confissão da fé, na vida sacramental e na missão apostólica. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A Igreja particular não resulta de uma divisão da Igreja uni- versal e, muito menos, é uma parte ou um pedaço da Igreja uni- versal. A Igreja universal, por sua vez, não é a soma ou uma con- federação de Igrejas particulares. Ao contrário, esta é o resultado da comunhão convergente das Igrejas particulares, não por adição (critério quantitativo), mas pelo encontro (critério qualitativo). Consequentemente, a Igreja una e católica constitui-se como tal a partir das Igrejas particulares e resulta da comunhão entre elas (ex © Direito Canônico I236 quibus) porque, na verdade, é a mesma Igreja universal que existe em cada uma delas (in quibus). Do quanto afirmado até aqui é possível perceber que há uma relação de mútua interioridade ou de recíproca imanência entre a Igreja universal e a Igreja particular, embora, na relação entre ambas, haja uma prioridade ontológica e temporal da primeira em relação à segunda. Portanto, a Igreja particular é a verdadeira Igre- ja, embora não seja toda a Igreja e, muito menos, parte dela. Dessa maneira, convém ter presente que o CIC atual não nos dá uma noção de Igreja particular, mas utiliza a diocese como uma espécie de paradigma, cujo conceito (cân. 369) pode ser aplicado, com as devidas adaptações, aos outros tipos de Igrejas particula- res existentes. Vejamos: A diocese é uma porção do Povo de Deus confiada ao pastoreio do Bispo com a cooperação do presbitério, de modo tal que, unindo- -se ela a seu pastor e, pelo Evangelho e pela Eucaristia, reunida por ele no Espírito Santo, constitua uma Igreja particular, na qual está verdadeiramente presente e operante a Igreja de Cristo una, santa, católica e apostólica (cân. 369). Os elementos constitutivos da igreja particular Além da LG nº. 23, o decreto conciliar Christus Dominus nº. 11 (cf. cân. 369), também, exclui a ideia de que a Igreja particular (no caso a diocese) seja somente uma parte da Igreja inteira, a qual seria a única a ter em si a plenitude. Ao contrário, é reafirma- da a ideia de que a Igreja particular é uma porção e não parte do povo de Deus. Assim, a palavra "porção" foi utilizada pelos padres conciliares justamente porque este termo se refere a uma reali- dade que conserva em si todas as qualidades e propriedades do todo, diferentemente da expressão pars (parte). Os elementos constitutivos da Igreja particular, segundo o referido decreto e adotado pelo legislador em sua noção de dio- cese, são os seguintes: porção do povo de Deus (não parte) reu- Claretiano - Centro Universitário 237© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular nida no Espírito Santo (primeiro edificador da mesma) por meio do Evangelho e dos sacramentos (a Eucaristia está ao centro) e confiada a um pastor colocado a serviço dela. Convém destacar, nestes elementos constitutivos, os seguin- tes aspectos: 1) A função do "Espírito Santo", que é o coedificador da Igreja. O Espírito, afirma o Concílio Vaticano II: Habita na Igreja e nos corações dos fiéis como num templo. Neles ora e dá testemunho de que são filhos adotivos. Leva a Igreja ao conhecimento da verdade total. Unifica-a na comunhão e no mi- nistério. Dota-a e dirige-a mediante os diversos dons hierárquicos e carismáticos. E adorna-a com seus frutos. Pela força do Evangelho Ele rejuvenesce a Igreja, renova-a perpetuamente e leva-a a união consumada com seu Esposo (LG nº. 4). A presença e acolhida do Espírito Santo faz que a Igreja particular se realize como comunhão e que as vocações, os carismas e os ministérios concorram para a edificação do Corpo de Cristo. 2) A Igreja particular é gerada pelo "Evangelho", mas, ao mesmo tempo, é chamada a anunciá-lo até os confins da terra. Para a Igreja particular, o Evangelho é prática de vida, é juízo e reconciliação, é fonte de comunhão com Deus e dos irmãos entre si. A organização jurídica da Igreja deve depender do Evangelho. 3) A "Eucaristia" é o centro da comunidade cristã. Ela nos mostra como a Igreja é, necessariamente, local e, fun- damentalmente, comunhão de Igrejas. Como em um fragmento do pão eucarístico, não existe uma parte de Cristo, mas todo o Cristo, assim, em cada comunidade eucarística, por mais minúscula ou isolada que seja, está presente a Igreja católica em sua expressão local. Isto é possível porque existe uma conjunção da comunida- de eucarística com o Bispo. Mediante o Bispo, enquan- to membro do Colégio Episcopal, cada comunidade é agraciada, também em nível institucional, com todas as propriedades da Igreja: "una", "santa", "católica" e "apostólica". Assim, partindo da Eucaristia, é necessário considerar o conjunto das Igrejas como uma comunhão © Direito Canônico I238 de Igrejas particulares. Essa perspectiva nos ajuda a compreender a função da organização jurídica na Igreja. A Eucaristia, fonte da Igreja, é, também, a fonte do seu direito, particular e universal, pois o direito é uma reali- dade a serviço da comunhão. 4) O ministério pastoral coloca-se entre os elementos constitutivos da Igreja particular, tanto quanto o Espíri- to Santo, o Evangelho e os Sacramentos. O pastor pos- sui um papel ministerial em relação a estas realidades e não pode delas dispor como bem entende. O Bispo é o princípio e fundamento visível da unidade na Igreja particular confiada ao seu ministério pastoral. Enquanto membro do Colégio Episcopal, ele representa a própria Igreja junto a todas as demais e todas as outras junto à sua própria. Inscrita na comunhão das Igrejas, a Igreja particular descobre como está no interior de si mesma o ministério do sucessor de Pedro e do Colégio dos Bispos. elementos determinativos ou delimitadores da igreja particular Embora tenhamos examinado os elementos de índole te- ológica que constituem a Igreja particular, não podemos ignorar que existem outros elementos que concorrem na definição des- ta mesma Igreja, como é o caso da "cultura", do "território" e do "rito". Isso porque a estrutura essencial e permanente da Igreja concretiza-se no tempo e no espaço em uma organização que é o resultado de elementos contingentes e evolutivos. Portanto, ao falarmos dos elementos que compõem a estrutura geral da Igreja particular, devemos dividi-los em dois grupos: • os elementos essenciais (aqueles constitutivos do ponto de vista teológico – cân. 369); • os elementos integrativos. Entre os elementos integrativos, temos um elemento que, necessariamente, a integra (a cultura) e outros que servem, ape- nas, para delimitá-la ou determiná-la segundo algumas modalida- des (território, rito e outros). Claretiano - Centro Universitário 239© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular Vamos conhecer esses elementos? 1) Cultura: cada homem e cada povo possuem uma própria cultura. A conversão, a aceitação do Evangelho e o dom do Espírito exigem uma mudança integral do homem e uma nova cultura. Porque a cultura diz respeito ao ho- mem em sua totalidade, não pode permanecer estranha à fé. A cultura, ao acolher a Palavra, é julgada pela fé que a coloca em uma diferente dimensão, conferindo-a uma função profética. Mas a fé também sofre os condi- cionamentos da cultura, pois, ao se historicizar, assume as características de cultura de um povo. Por cultura entendemos, aqui, o modo particular com o qual o ho- mem, em um determinado povo, estabelece uma relação com a na- tureza, com os seus semelhantes e com a divindade (GS nº. 53). • O plano salvífico de Deus, a sua palavra, o Verbo eter- no chegaram a nós pela mediação de uma realidade histórica e pela cultura dos povos que fizeram uma adesãode fé: a cultura hebraica, oriental, greco-ro- mana. • Nesta necessária relação cultura e fé não se identifi- cam, mas, juntas, dão origem à particular experiência de fé de uma comunidade cristã. Entendemos por ex- periência de fé a integração respeitosa do Evangelho em uma existência historicamente determinada. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Diante do exposto, é importante ter em mente que a relação entre Igreja particu- lar e cultura é inevitável. O surgimento de uma Igreja se dá, necessariamente, em uma cultura na qual ela deve se encarnar. Tal encarnação se exprimirá em uma espiritualidade, uma liturgia, uma disciplina e uma doutrina. Portanto, as diversi- dades culturais são inevitáveis, legítimas e necessárias, desde que não impeçam que transpareça, na comunhão entre as diversas Igrejas, a fé apostólica comum e a solidariedade no amor. A fé em Cristo não exige do crente um abandono da própria cultura para adotar outra, mas exige que este purifique aquilo que, na própria cultura, não é compatível com o Evangelho. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– © Direito Canônico I240 2) Território: está estritamente ligado ao tema da cultura de um povo. Em uma concepção universalista da Igreja, o território pode ser considerado apenas como o critério ordinário de distinção das Igrejas particulares: existe o povo de Deus que se distingue por meio de um crité- rio objetivo e seguro, a saber, os limites territoriais, que, normalmente, configuram, também, as circunscrições administrativas dos Estados. Se considerarmos a Igreja como a manifestação do mistério de Cristo em um deter- minado lugar, com base nos elementos já examinados, se poderá notar, facilmente, que o território acaba por assumir um significado diferente, ligado à cultura de um povo e à sacramentalidade de uma determinada Igreja. Como você pode notar, a cultura é indissoluvelmente ligada a um território. A índole de um povo, as suas capacidades e inclina- ções, a sua história não podem ser concebidas fora de um contexto geográfico: a cultura greco-romana, por exemplo, é profundamen- te condicionada pelo mediterrâneo, assim como a anglo-saxão é condicionada pelos territórios e pelo clima da Europa do norte. Portanto, se a cultura contribui para determinar a identidade de uma Igreja particular, o território não pode ser considerado como um elemento exterior e secundário, útil, somente, para estabele- cer a distinção entre as diversas Igrejas particulares. Uma relevância maior assume o território na Igreja se consi- derarmos o elemento sacramental. A comunidade eclesial é cha- mada a manifestar a superação das divisões que, desde sempre, marcaram a história da humanidade. Esta unidade pode se mani- festar em sua plenitude no âmbito de um território, seja porque o vínculo com o território afeta a todos, seja porque está em condi- ções de compreender ou abranger a multiplicidade dos carismas que o Espírito suscita. Todas as categorias pessoais, como, por exemplo, a raça, a língua, os estratos sociais, o sexo e a idade, trazem consigo o pe- rigo da unilateralidade e várias limitações. A pastoral pensada por categorias de pessoas pode ter somente um caráter complemen- Claretiano - Centro Universitário 241© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular tar. É por isso que a experiência histórica levou a Igreja a identifi- car e a delimitar as Igrejas particulares (e as paróquias) tendo por critério o território, porque ele é sinal e garantia de catolicidade. Diferentemente dos outros critérios, o território é o mais objetivo e preciso de todos e traz consigo a necessidade de acolher a todos os que nele habitam, independentemente da condição social, eco- nômica, religiosa ou política, sendo, portanto, uma garantia contra todo e qualquer exclusivismo. A Igreja particular sucumbiria caso se contentasse em repro- duzir, no próprio seio, as divisões humanas de ordem cultural, so- cial e política, sacramentando-as. Portanto, é necessário reconhe- cer que o território é um modo para abrir-se ao universal, embora isto não signifique que devamos absolutizar a organização eclesi- ástica partindo de tal critério. O sentido teológico da territorialida- de está à base da escolha feita pelo legislador ao dividir as Igrejas particulares usando este critério, mas possibilitando, também, a utilização de outros, como a língua e o rito. 3) Rito: Durante o Vaticano II, quando se buscou, para este problema, uma solução coerente com a eclesiologia da LG, não faltaram aqueles que levantaram o problema da presença de jurisdições diferentes dentro de um mesmo território. As posições contrastantes dos padres orien- tais levaram a uma solução de compromisso: aceitou-se como irreversível a existência de dioceses rituais, em- bora sua ereção seja vista como exceção diante de uma necessidade (CD nº. 23). Sobre isso nos diz o decreto Christus Dominus: [...] onde haja fiéis de rito diverso, o Bispo diocesano proveja às suas necessidades espirituais, seja por sacerdotes ou paróquias do mesmo rito, seja por Vigário Episcopal provido das necessárias fa- culdades e, se for o caso, ainda ornado com o caráter episcopal, seja exercendo pessoalmente o cargo de Ordinário dos diversos ri- tos. E se tudo isto por motivos peculiares não for viável, a juízo da Santa Sé, constitua-se Hierarquia própria, de acordo com a diversi- dade dos ritos (nº. 23). 4) Outros motivos: durante os trabalhos de revisão do CIC, valendo-se de um texto extraído da PO nº. 10, a Comis- © Direito Canônico I242 são estabeleceu a possibilidade de se erigir peculiares dioceses ou prelazias pessoais para incardinar os pres- bíteros (indo de encontro à falta de clero em algumas regiões) e para atuar peculiares iniciativas pastorais em favor de diversos grupos sociais em certas regiões ou na- ções ou em todo o mundo. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A incardinação é um vínculo jurídico estável que cada clérigo tem com uma con- creta porção do povo de Deus, para a ela dedicar-se (servir) sob a autoridade do Bispo diocesano (ou equivalente). Isso implica uma pertença a esta Igreja em nível jurídico, afetivo e espiritual e a obrigação do serviço ministerial. Dela se ocupam os cânones 265-272. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Formas e tipos de agregação de igrejas particulares (cânn. 368- 374) A Igreja particular é uma porção do povo de Deus formada à imagem da Igreja universal, ou seja, quando nela se realizam todos os elementos essenciais da Igreja. Portanto, a Igreja particular é uma comunidade de fiéis reunida, por meio do Espírito Santo, pelo Evangelho e pela Eucaristia, ao redor e por meio do Bispo, coadju- vado pelo presbitério, ao qual é confiada a cura pastoral da Igreja particular, e ao qual ela adere. Nela, realiza-se a Igreja de Cristo, una, santa, católica e apostólica. O próximo passo seria identificar, concretamente, aquelas comunidades de fiéis qualificadas de Igreja particular para, em seguida, analisarmos como nelas se articulam o princípio comu- nitário, o elemento hierárquico e a participação orgânica dos fiéis na edificação da Igreja de Cristo. Adiantamos, desde já, que não é qualquer comunidade de fiéis que possui o status de Igreja parti- cular. O cân. 368 elenca quais são as comunidades de fiéis conside- radas Igrejas particulares: diocese, prelazia territorial, abadia ter- ritorial, vicariato apostólico, prefeitura apostólica e administração apostólica estavelmente ereta. Claretiano - Centro Universitário 243© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Não será possível, aqui, explicitar cada conceito, mas na nota de roda pé do CIC atual o Pe. Jesus Hortal, ao comentar os cânn. 368-371, esclarece o significado de cada forma de Igreja particular contida no CIC. Caberá a você se interar do texto. Cf.Código de Direito Canônico. Promulgado por João Paulo II, Papa. São Paulo: Loyola, 1983, comentário aos cânn. 368-371. Temos, ainda, outras formas de Igrejas particulares não previstas pelo CIC atual, pois foram criadas depois da promulgação do código. É o caso, por exemplo, do ordinariato militar, das missões sui iuris, do ordinariato latino e da administração apostólica pessoal. É necessário esclarecer, logo de início, que entre as realidades assimiladas à diocese não há uma identidade, pois da assimilação não deriva a identidade ou igualdade. Assim, não é possível afirmar que, juridicamente, as tipologias de Igrejas particulares são iguais, caso contrário, não se falaria de assimilação ou equiparação, mas, sim, de identidade. Trata-se de uma equiparação formal, in iure, que, mesmo estando fundada em elementos substanciais, não coincide com estes, pois, se assim o fosse, não faria sentido tal equiparação. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 6. OS BISPOS EM GERAL (cânn. 375-380) Agora, iremos examinar a configuração jurídica que assume na Igreja este ministério fundamental do qual se ocupam os cânn. 375-380 do CIC atual. Saiba você que a figura do Bispo é de fundamental impor- tância para a compreensão do governo da Igreja, tanto em âmbito universal quanto particular. Muito provavelmente, em sua diocese há um Bispo e, sem dúvida, há uma razão para ele estar ali. Por- tanto, neste breve estudo que agora iniciamos, você terá acesso às principais informações que envolvem esta figura. Origem e exercício do múnus episcopal (cân. 375) O cân. 375 define o ofício dos Bispos (§1) individualizando o seu fundamento e a sua transmissão (§2). É clara a dependência do texto da constituição dogmática Lumen Gentium nº. 19-21, da nota explicativa prévia, nº. 2 e do decreto Christus Dominus, nº. 2 e nº. 11. © Direito Canônico I244 A figura do Bispo é determinada pelos seguintes elementos: 1) na condição de membro do Colégio Episcopal, o Bispo é sucessor dos apóstolos; 2) com a ordenação episcopal legítima, o Bispo, juntamen- te com a graça e o caráter sacramental, recebe o múnus episcopal que se articula nas três funções: • ensinar; • santificar; • governar. 3) por participar da potestade que é própria do Colégio Episcopal e para poder exercitá-la, o Bispo deve estar em comunhão com a "cabeça" (o Papa) e com os "mem- bros" do Colégio (os Bispos); 4) ao Bispo em comunhão hierárquica, o Romano Pontífice confia uma Igreja particular ou outro ofício, mediante um ato jurídico chamado missio canonica e, assim, ele exercita, concretamente, o seu tríplice múnus, recebido com a ordenação legítima, com todos os poderes a ele anexos; 5) o Bispo exercita o múnus episcopal de três modos: • singularmente, como Bispo de uma Igreja particular; • na união com todos os Bispos no Colégio Episcopal a serviço de uma união de Igrejas particulares; • na união com todos os Bispos no Colégio Episcopal a serviço da Igreja universal. • Portanto, o Bispo, como membro de um colégio, com- partilha com os demais Bispos a responsabilidade da missão de toda a Igreja dispersa pelo mundo e, nesta corresponsabilidade, a Igreja particular está unida e representada por ele. 6) ao Bispo, na diocese que a ele foi confiada, compete toda a potestade ordinária, própria, imediata que é ne- cessária para o exercício de seu ofício episcopal. Claretiano - Centro Universitário 245© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular Com a ordenação episcopal, é conferida ao Bispo a plenitude do sacramento da ordem, ou seja, o vértice do ministério sagrado. Com a mesma ordenação episcopal, o Bispo recebe, também, os ofícios (munera) de ensinar, santificar e governar. Ele exercita esses ofícios de modo representativo, ou seja, em íntima dependência e em nome de Cristo cabeça e deve operar na comunhão hierárquica com o Papa e demais Bispos. O Bispo não poderá tomar posse da diocese para nela exercitar o seu múnus episcopal se, antes, não tiver recebido a ordenação episcopal. É, sobretudo, na celebração eucarística que o Bispo se torna o centro focal e visível da comunhão profunda que une Cristo e to- dos os membros de seu corpo. É, sobretudo, em torno do mesmo altar presidido pelo Bispo circundado pelo seu presbitério, pelos ministros e pelo povo santo de Deus que se há a mais intensa ma- nifestação do mistério da Igreja (SC nº. 41). tipologia: bispos diocesanos e bispos titulares (cân. 376) A tipologia com a qual o legislador configura no atual orde- namento canônico o ofício de Bispo distingue os Bispos em ape- nas dois grupos: diocesanos e titulares, sendo que estes últimos compreendem os coadjutores e os auxiliares, a respeito dos quais falaremos mais adiante. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A distinção possui uma origem histórica. De per si um Bispo é eleito e ordenado para uma Igreja particular determinada, onde exerce a sua cura pastoral. No entanto, do século 4º em diante, surgiram os Bispos titulares, ou seja, aqueles que não tinham a cura pastoral de uma diocese. No Concílio de Niceia, ficou estabelecido que os Bispos convertidos provenientes do novacionismo poderiam conservar o título e a dignidade episcopal, mas não o ofício de Bispo. Já na Idade Média, o sistema se difundiu com a existência de Bispos peregrinos e missioná- rios que, na evangelização de regiões não cristãs, ainda não tinham uma sede e, portanto, exercitavam o próprio ministério dependendo de um Bispo diocesa- no. A estes, juntaram-se os Bispos que perderam a própria sede devido ao fato de terem sido expulsos pelos mulçumanos do Oriente, da África e da Espanha (século 7º e 8º) pelos povos não cristãos da Letônia (século 13) e pelos Turcos da Palestina (século 13). Este grande grupo de Bispos sem sede episcopal foi acolhido pelos Bispos do Ocidente como auxiliares, mas não tinham mais uma sede própria. Com a morte deles, continuou-se a consagrar outros Bispos como © Direito Canônico I246 titulares daquelas sedes que não existiam mais, mesmo não sendo mais possível governá-las e nelas residir. Estes Bispos eram auxiliares dos Bispos das dioce- ses do Ocidente. Normas específicas relativas a esses Bispos sem sede e sem povo foram emanadas pelos Concílios de Viena (1311) e de Trento (1551) para evitar abusos. Foi o Papa Leão XIII, na carta In suprema, de 10 de junho de 1882, que determinou que tais Bispos passassem a receber o nome de titulares, pois, na verdade, detinham apenas um título de algo inexistente. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Os Bispos diocesanos, antigamente chamados residenciais, são aqueles aos quais foi confiado o cuidado pastoral de uma dio- cese e possuem sobre ela plena jurisdição. Os Bispos titulares não possuem qualquer jurisdição sobre a Igreja da qual possuem o título, mas mantêm os direitos, os privilé- gios e as obrigações próprias da ordem episcopal. Como membros do Colégio dos Bispos, têm o direito e o dever de participar do con- cílio ecumênico com voto deliberativo (cân. 339 §1) e pertencem à Conferência Episcopal do território onde exercitam qualquer cargo a eles confiado pela Santa Sé ou pela mesma Conferência Episco- pal (cân. 450 §1). Convém observar que os Bispos coadjutores possuem o títu- lo da sede na qual deverão suceder; os eméritos mantêm o título da diocese em que foram Bispos diocesanos; os auxiliares pos- suem o título de uma diocese extinta. A categoria de "Bispo titular" surgiu no ordenamento canô- nico para resolver problemas históricos contingentes, como há pouco indicado, mas acabou se firmando no tempo, não obstante algumas dificuldades que nem mesmo o Concílio Vaticano II con- seguiu superar. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Se, de um lado, a possibilidade de suprir os Bispos não residentes, anciãos ou enfermos, parecia justificar a nomeação de Bispos titulares, de outro, estapráxis constitui uma espécie de derroga daquele princípio de unidade recordado por Santo Inácio de Antioquia e reafirmado pelos concílios, com o risco de compro- meter a sacramentalidade da Igreja (ter um corpo com mais de uma cabeça). As dificuldades aumentaram quando se difundiu a práxis da consagração episcopal não por necessidades pastorais, mas, apenas, por título honorífico. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Claretiano - Centro Universitário 247© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular Durante o Concílio Vaticano II, alguns princípios foram escla- recidos e serviram para disciplinar melhor uma práxis já consolida- da. A redescoberta das funções próprias do Colégio dos Bispos e a afirmação de uma potestas conferida com a consagração episcopal permitiram resolver o problema das funções dos Bispos titulares e da sua participação nos concílios. a designação dos bispos (cân. 377) Um dos problemas mais delicados da vida da Igreja e que não encontrou no Concílio Vaticano II uma válida solução, coeren- te com a eclesiologia de comunhão e com a afirmação da corres- ponsabilidade de todo o povo de Deus, é aquele da designação dos Bispos. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O debate teve como objeto a liberdade da Igreja na escolha dos Bispos diante de qualquer forma de ingerência política. Não faltaram, porém, os que chamaram a atenção para a antiga disciplina da Igreja, atentando para a importância de se estabelecer uma normativa mais coerente com a tradição e com os princípios afirmados pela LG. Convém citar que a designação e a nomeação dos Bispos sempre se revestiram de uma importância fundamental para a determinação do sistema de governo na Igreja e, por esta razão, sempre estiveram condicionadas pela concepção ecle- siológica prevalente em um determinado momento histórico. De fato, a escolha de um Bispo constitui um fator de identidade para a Igreja particular para a qual ele é preposto, mas, também, é um evento que interessa de muito perto às outras Igrejas particulares e à Igreja universal, pois todos e cada um dos Bispos são garantidores da unidade de toda a Igreja. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– No sistema próprio da Igreja latina, a nomeação do Bispo cabe ao Papa, como, também, a confirmação daqueles que foram legitimamente eleitos (cân. 377 §1). Para a indicação do candidato, é prevista a formação de listas com os seus nomes, que podem ser apresentadas por cada Bispo, pelos Bispos da província eclesiásti- ca ou da Conferência Episcopal (cân. 377 §2). Na escolha dos no- mes que formarão a terna dos candidatos para uma determinada sede, é fundamental o papel do legado pontifício. Ele deve con- sultar o Metropolita e os sufragâneos, alguns membros do colégio © Direito Canônico I248 dos consultores e do capítulo catedral e, facultativamente, a ou- tros do clero secular e religioso, como, também, leigos eminentes em sabedoria (cân. 377 §3). Informação Complementar ––––––––––––––––––––––––––––– Na Igreja, não existe um único sistema para a designação dos Bispos. Vimos, anteriormente, aquele utilizado na Igreja latina. Temos, também, outros sistemas: 1) Sistema próprio das Igrejas Orientais Católicas: o procedimento é estabele- cido no CCEO cânn. 63-67 (para a eleição dos patriarcas) e 180-189 (para a eleição dos Bispos). Nesta legislação, permanece a tradição eletiva. Os lei- gos não participam à eleição do patriarca e dos Bispos das Igrejas patriarcais. Quanto à eleição dos Bispos, o cân. 182 §1 estabelece que alguns presbíte- ros, como também alguns leigos, distintos por prudência e vida cristã, podem ser escutados singularmente e em segredo. A eleição dos Bispos, porém, é de competência dos próprios Bispos, mas requer um bom testemunho do povo de Deus sobre os candidatos (Concílio de Laodicea, século 4º). 2) Sistema estipulado em concordatas ou acordos análogos: neste sistema, há a possibilidade de intervenção da autoridade civil (por razões que não vêem ao caso aqui), que poderá ocorrer de diversas maneiras: como privilégio de apresentação do candidato; como notificação prévia do candidato à autori- dade civil antes da nomeação, para que possam ser apresentadas eventuais objeções de ordem política por parte do governo; como notificação posterior do Bispo nomeado à autoridade civil. 3) Sistema das circunscrições eclesiásticas confiadas a institutos missionários: em determinados territórios de missão confiados aos cuidados de institutos missionários, os superiores gerais possuem a faculdade de propor candida- tos do próprio instituto para o episcopado. 4) Sistema de eleição por parte dos capítulos catedrais: é o caso em que o Bis- po é escolhido ou indicado pelos cônegos. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A existência destes diversos sistemas demonstra que a es- colha dos candidatos ao episcopado é uma questão ao mesmo tempo teológica, jurídica e pastoral. Os três aspectos devem ser considerados contemporaneamente e não podemos deixar de ter presente dois princípios basilares do Concílio Vaticano II: o signifi- cado das Igrejas particulares e a corresponsabilidade de todos na edificação da Igreja. O ato constitutivo do novo bispo permanece, porém, a ordenação episcopal, função exclusiva dos Bispos. O §4 do cân. 377 ocupa-se da nomeação dos Bispos auxilia- res: salvo legítima determinação em contrário, o Bispo diocesa- no que julgue ser necessário dar à sua diocese um auxiliar pode Claretiano - Centro Universitário 249© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular propor à Santa Sé uma lista de, pelo menos, três presbíteros mais idôneos para a função. Já no §5, é reafirmado o princípio fixado pelo Concílio Vati- cano II a respeito da liberdade da Igreja na nomeação dos Bispos diante de qualquer forma de ingerência política (CD20). Outros aspectos relevantes da normativa (cânn. 378-380) O CIC atual, em continuidade com a tradição, determina, no cân. 378 §1, as qualidades que são necessárias para um candidato ao episcopado. A recomendação contida na primeira carta a Timó- teo (5,22) e as qualidades exigidas por esta mesma carta para aque- les que devem assumir a função de pastores da comunidade (3,2-7) sempre foram reafirmadas ao longo dos séculos e propostas, tam- bém, com as devidas adaptações, em uma fórmula jurídica. A primeira qualidade é a fé sólida, pois o Bispo deve confir- mar os irmãos na fé (At 21, 16; 1Ts 3,2), juntamente com todas as outras virtudes e dotes indicados pelo legislador. A idade mínima é de 35 anos, porque é necessária uma suficiente experiência pasto- ral. Além disso, devem-se levar em conta a preparação intelectual, as qualidades pastorais e as aptidões para o governo, cabendo o juízo definitivo sobre a idoneidade do candidato à Santa Sé. Designada a pessoa para o episcopado, procede-se à sua ins- tituição canônica mediante uma carta apostólica ou bula pontifícia (cân. 379). Com a aceitação da carta de nomeação, recebe-se o ofício, mas, antes de tomar posse dele, o candidato deve ser or- denado Bispo dentro de três meses após o recebimento da carta. Conforme a norma do cân. 380, antes de tomar posse do ofício, o promovido ao episcopado deve, diante do delegado da Sé Apostó- lica, emitir a profissão de fé e prestar o juramento de fidelidade à Sé Apostólica (cân. 833, 3º). © Direito Canônico I250 7. Os bispOs diOCesanOs, COadjutOres e auXi- Liares Como dissemos anteriormente, de um ponto de vista jurí- dico, os Bispos distinguem-se em diocesanos e titulares. Os pri- meiros, antigamente chamados residenciais, são aqueles aos quais foi confiado o cuidado pastoral de uma diocese. Deles se ocupam os cânn. 381-402. Os segundos são todos os demais e, em geral, dividem-se em dois grupos: coadjutores e auxiliares. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Nos cânones 381-402, você encontrará uma série de informações sobre a potes- tade, a posse,os deveres, os direitos e a perda do ofício dos Bispos diocesanos. Para maior compreensão desses cânones, sugerimos que você leia: FELICIANI, G. As bases do direito da Igreja. Comentários ao Código de Direito Canônico. São Paulo: Paulinas, 1994, p. 117-121; GHIRLANDA, G. O direito na Igreja, mis- tério de comunhão. Compêndio de Direito Eclesial. Aparecida: Santuário, 2003, p.604-618. De maneira mais sucinta, você pode recorrer, também, a um dicioná- rio. Veja, por exemplo, CORRAL SALVADOR, C.; URTEAGA EMBIL, J. M. (Org.). Dicionário de Direito Canônico. São Paulo: Loyola, 1993, p. 97-98. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Dos Bispos coadjutores e auxiliares, ocupam-se os cânn. 403-411. Na leitura dos cânones, você perceberá os elementos que distinguem as funções do Bispo coadjutor e do Bispo auxiliar. Para ajudá-lo na leitura, tenha presente a bibliografia indicada. Ve- jamos, então, a normativa relativa a cada um deles. O Bispo diocesano (cânn. 381-402) O adjetivo "diocesano", querido pelo Concílio Vaticano II em substituição ao adjetivo "residencial", serve para especificar me- lhor a tipologia do Bispo ao qual é confiada a cura pastoral de uma diocese. A equiparação entre a diocese e as outras Igrejas particu- lares implica a equiparação entre o Bispo diocesano e aqueles que guiam tais comunidades de fiéis (cân. 381 §2), a menos que não resulte diversamente da natureza das coisas ou das prescrições do direito. Claretiano - Centro Universitário 251© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular a potestade do bispo diocesano (cân. 381) O princípio estabelecido pelo cân. 381 §1 é fundamental para que se compreenda o ofício do Bispo diocesano tal como foi delineado pelo Concílio Vaticano II. O legislador, distinguindo en- tre munus e potestas, fala da potestade do Bispo, ou seja, do livre exercício do seu poder na Igreja particular, enumerando as suas características e determinando a sua extensão e os seus limites. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Durante o desenvolvimento do Concílio, desde as primeiras discussões, se fazia notar que, na normativa vigente naquela época, o Bispo não era considerado um pastor próprio e ordinário de seu povo. Na verdade, na maioria dos casos, estava obrigado a se dirigir à Santa Sé para obter as faculdades necessárias para o exercício do seu ministério e, neste sentido, parecia ser um simples delegado ou vigário do Papa. Por isso, o Concílio decidiu intervir para esclarecer, logo de início, que os Bispos possuem uma potestade muito mais ampla no exercício do ministério. Dessa forma, o Concílio modificou profundamente a situação exis- tente: enquanto em Trento e no CIC de 1917 vigorava a regra da concessão, ou seja, o Bispo só detinha aquela potestade que lhe foi concedida pelo Romano Pontífice, agora, com a eclesiologia da LG, se afirmava o princípio da reserva, ou seja, o Bispo possui uma potestade ordinária, própria e imediata exigida para o exercício de seu ofício pastoral, com exceção das causas reservadas ao Roma- no Pontífice. Portanto, o Bispo diocesano rege a diocese não como um vigário do Papa (LG 27; CD 8), pois possui toda a potestade necessária para o exercício do próprio ofício. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Quanto às características, a potestade do Bispo diocesano é: • Ordinária: anexa a um ofício e não delegada, pois vem de Deus, sendo o Papa apenas um mediador para o seu exer- cício. • Própria: exercitada em nome próprio e não em nome de outros, como acontece, por exemplo, no caso daqueles que regem uma Igreja particular em nome do Papa e, por- tanto, com potestade vicária. O Bispo diocesano não é um vigário do Papa, mas sim de Cristo (LG 27). Portanto, a potestade vem de Cristo e não do Papa. • Imediata: significa que é exercitada diretamente sobre os fiéis sem a necessidade de intermediários, salva a justa autonomia de vida dos IVC e SVA (cân. 586). © Direito Canônico I252 Quanto à extensão, o legislador afirma que ao Bispo compe- te toda a potestade exigida para o exercício do seu ofício pastoral. É uma potestade total. A totalidade deriva da ordenação episcopal que confere a plenitude do múnus episcopal. Acolhendo este prin- cípio, o legislador realiza uma importante mudança em relação à legislação precedente, passando do sistema das faculdades conce- didas para o sistema das reservas. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Como afirmamos, o CIC de 1917, acolhendo a orientação do Concílio de Trento e da doutrina sucessiva, fazia com que a potestade do Bispo derivasse do Papa e, por esta razão, aos Bispos competiam, apenas, aquelas faculdades a eles concedidas para o exercício do próprio ministério. Não lhes era permitido dis- pensar das leis universais da Igreja, a não ser que tal potestade lhes tivesse sido concedida (CIC de 1917, cânn. 81 e 336 §1). Tendo por base o novo princípio enunciado pelo cân. 381 §1, a situação do Bispo diocesano mudou completamente, pois a ele compete "toda a potestade". Con- sequentemente, o Bispo, no exercício de sua potestade, pode dispensar das leis disciplinares da Igreja, em conformidade com as normas previstas pelos cânn. 85-93. O fato de ter uma potestade total, não significa que ela seja ilimitada. O Bispo é obrigado a respeitar o direito divino e natural, como, também, os direitos dos fiéis. Além disso, é obrigado a exercitar a sua potestade em comunhão hierár- quica com a cabeça e os membros do Colégio Episcopal (cân. 375 §1) e, ainda, somente sobre a porção do povo de Deus que lhe foi confiada (LG nº. 23b; CD nº. 8ª). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O cân. 381 §1 acrescenta que a potestade do Bispo também é limitada por aquelas causas que o direito ou um decreto do Ro- mano Pontífice reservaram à Santa Sé ou a uma outra autoridade eclesiástica (sistema de reservas). Apenas para exemplificar, é reservada ao Papa a dispensa do ce- libato sacerdotal (cân. 291), a dispensa dos impedimentos de or- dem e de voto público perpétuo de castidade para quem quisesse contrair matrimônio (cân. 1078 §2). Há, ainda, as competências das Conferências Episcopais previstas pelo direito. Portanto, a competência do Bispo permanece íntegra em todos os casos em que uma determinada matéria não é reservada à Santa Sé ou a outra autoridade eclesiástica. Claretiano - Centro Universitário 253© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular Quanto ao objeto da potestade do Bispo diocesano, compe- te a ele governar a Igreja particular que lhe fora confiada com po- testade legislativa, executiva e judiciária, à norma do direito (cân. 391). A potestade legislativa a exercita pessoalmente e não pode ser validamente delegada; aquela executiva e judiciária pode ser exercitada pessoalmente ou por meio de outros. Podemos concluir este número afirmando que a normativa sobre a potestade do Bispo diocesano nos revela que o legislador reconhece à Igreja particular uma justa autonomia, fundada so- bre a sua natureza e sobre o reconhecimento do poder normativo do Bispo. A Igreja particular pode, portanto, ter um ordenamento jurídico próprio, não independente e soberano, mas em relação direta de comunhão com o ordenamento da Igreja universal. a tomada de posse (cân. 382) O Bispo começa a exercitar livremente o seu ofício com a to- mada de posse canônica da diocese. Com este ato, a diocese deixa de estar vacante e cessa o ofício do administrador diocesano (cân. 430 §1). De acordo com o cân. 382 §1, o Bispo não pode se ingerir no exercício do ofício que lhe foi confiado antes da tomada de posse. Todavia, pode exercitar os ofícios que já tinha na diocese no tempo da promoção, salva a prescrição do cân. 409 §2. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Este reenvio cobre as hipóteses de maior relevância: a) se o Bispo promovido já era coadjutor e já tinha tomado posse legítimado seu ofício, torna-se, imediata- mente, Bispo da diocese para a qual foi constituído; b) se o Bispo promovido era Bispo auxiliar, conserva, então, as faculdades que possuía como vigário geral ou como vigário episcopal; c) se o Bispo promovido era Bispo auxiliar, mas não foi designado para o ofício de Administrador apostólico ou Administrador diocesano, pode exercitar as faculdades que lhe forem conferidas pelo direito sob a autori- dade do Administrador. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O Bispo toma posse ao apresentar na diocese os documen- tos apostólicos, pessoalmente ou por procurador, ao colégio dos © Direito Canônico I254 consultores e na presença do chanceler da cúria, o qual deve ela- borar uma ata a respeito do fato. Em geral, isso é feito na catedral, na presença do clero e do povo, mediante a realização dos ritos litúrgicos indicados no Cerimonial dos Bispos. A tomada de posse deve ocorrer dentro de quatro meses após a nomeação se ainda não é consagrado Bispo, ou, então, dentro de dois meses se já ha- via recebido a consagração episcopal (cân. 382 §2). Com a tomada de posse, torna-se pleno e definitivo o vín- culo entre o Bispo e a diocese mediante o ofício. Cabe ao Bispo exercitar o múnus e a potestade que lhe foram conferidas sobre a porção do povo de Deus a ele confiada. Ao tomar posse, o Bispo torna-se o representante legal da diocese em todos os negócios que a tocam (cân. 393). O ministério pastoral do bispo (cânn. 383-398) O Bispo, com a tomada de posse, assume plenamente o seu ofício pastoral, sendo o responsável direto e maior pelo povo con- fiado à sua cura. Um povo que ele deve conhecer na diversidade das condições e na variedade dos carismas e dos ministérios e que dele espera a devida solicitude pastoral. O ministério do Bispo é determinado em relação às diversas vocações dos membros do povo de Deus. Como pastor, cabe a ele aprofundar e desenvolver as relações com todos os fiéis (cân. 383), em primeiro lugar com os presbíteros, que são seus colaboradores e conselheiros (cân. 384), com os consagrados e com os fiéis leigos (cân. 385). Além disso, o Bispo é o responsável direto pela evange- lização dos afastados e daqueles que ainda não creem no Cristo, devendo, portanto, dirigir e coordenar a atividade missionária da diocese. O Bispo exercita na diocese a ele confiada, os três múnus recebidos com a ordenação episcopal: 1) Munus docendi (cân. 386): os Bispos que estão em comu- nhão com a "cabeça" e com os "membros" do Colégio, Claretiano - Centro Universitário 255© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular quer individualmente, quer reunidos nas Conferências Episcopais ou nos concílios particulares, são autênticos doutores e mestres da fé para os fiéis confiados a seus cuidados (cân. 753). Portanto, o Bispo diocesano é mes- tre da doutrina e, mesmo não gozando da infalibilidade em seu ensinamento, exercita o magistério autêntico para os fiéis que lhe foram confiados. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– As expressões utilizadas pelo legislador permitem-nos compreender a tarefa es- pecífica do Bispo na função de ensinar que Cristo conferiu à Igreja: existe um ensinamento "doutrinal" que cabe aos fiéis em geral (pais, catequistas, espertos nas diversas disciplinas teológicas etc.) e existe um ensinamento "autêntico" que compete aos Bispos. Assim, o legislador de um lado recomenda aos Bispos re- conhecerem aos fiéis a justa liberdade para aprofundar as verdades reveladas, mas, de outro lado, recorda aos fiéis que os Bispos são os autênticos doutores e mestres da fé. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O cân. 386 indica com clareza quais são os deveres que derivam desta sua função magisterial: propor e explicar aos fiéis as verdades que devem crer e aplicar aos cos- tumes, especialmente, mediante a pregação frequente; defender a Palavra de Deus, aplicando os cânones rela- tivos ao ministério da palavra, homilia e catequese; de- fender com firmeza a integridade da fé, reconhecendo, porém, a justa liberdade na investigação mais profunda da verdade. É sua obrigação e direito vigiar sobre a for- mação religiosa e teológica dos seminários. É seu dever promover o conhecimento da vida consagrada e a for- mação dos leigos. Na missão de ensinar, que não pode ser delegada a outros, o Bispo deve valer-se da contri- buição do presbitério, dos fiéis consagrados, dos leigos e, também, dos teólogos. 2) Munus sanctificandi (387-390): os Bispos como grandes sacerdotes, principais dispensadores dos mistérios de Deus, moderadores, promotores e guardiães de toda a vida litúrgica na Igreja que lhes foi confiada (cân. 835 §1) são os principais responsáveis pela função de santificar que na Igreja é realizada, especialmente, na sagrada li- turgia (cân. 834). O cân. 839 §1 recorda, ainda, que tal © Direito Canônico I256 função também se realiza com outros meios, seja com orações, com as quais roga a Deus que os fiéis sejam santificados na verdade, seja com obras de penitência e caridade, que muito ajudam a enraizar e fortalecer o Reino de Cristo nas almas e concorrem para a salvação do mundo. Tendo por base os cânones anteriormente citados, o le- gislador no cân. 387 impõe ao Bispo dois deveres radica- dos na sua função de sacerdote santificador. Primeiro consiste em procurar levar uma vida santa, na caridade, na humildade e na simplicidade, empenhan- do-se em promover a santidade dos fiéis de acordo com a vocação própria de cada um. Segundo, deriva do fato de ser um sacerdote e, portan- to, dispensador dos mistérios de Deus: da Eucaristia, aci- ma de tudo, mas, também, dos sacramentos. Portanto, é função do Bispo promover a celebração dos sacramentos (especialmente da Eucaristia) e dos outros atos de culto. Além disso, é obrigado a celebrar a missa pelo povo que lhe foi confiado em todos os domingos e nas outras festas de preceito em sua região (cân. 388). Tem a obrigação de prover a fim de que nas comunida- des da Igreja particular os fiéis tenham a possibilidade de ter acesso à Eucaristia, especialmente, aos domin- gos. Cabe ao Bispo favorecer e desenvolver na própria diocese a consciência litúrgica, a vida litúrgica, a oração, valorizando adequadamente a religiosidade popular. Contudo, o Bispo não pode celebrar funções pontificais fora da própria diocese, sem o consentimento expresso, ou, pelo menos, razoavelmente presumido, do Ordinário local (cân. 390). 3) Munus regendi (391-398): pela própria consagração episcopal, os Bispos recebem, com o múnus de santifi- car, o múnus de ensinar e de governar (cân. 375 §2), por isso são, também, ministros do governo (cân. 375 §1) na Igreja particular a eles confiada e, juntamente com os Bispos do Colégio Episcopal, na Igreja universal. Na Igreja particular, o Bispo exercita a potestade de governo Claretiano - Centro Universitário 257© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular pessoalmente e com a ajuda dos colaboradores nas suas três funções: legislativa, executiva e judiciária (cân. 391). O cân. 391 exige um aprofundamento sobre as funções legis- lativa, executiva e judiciária: A potestade legislativa comporta a promulgação das nor- mas necessárias para a vida da diocese, que constituem o direi- to particular diocesano. O novo CIC reservou um amplo espaço para o direito particular e, portanto, o Bispo deve exercitar o seu poder legislativo pessoalmente (não se admite delegação aqui) e nos limites previstos pelo direito, pois, à norma do cân. 135 §1, o legislador inferior não pode emanar, validamente, leis contrárias ao direito superior. A potestade executiva (administrativa) comporta o exer- cício da autoridade para um ordenado desenvolvimento da vida da Igreja particular: o discernimento dos carismas; a nomeação dos titulares dos diversos ofícios; a organização e a coordenaçãodas atividades promovidas pelos diversos sujeitos (pessoas físi- cas, pessoas jurídicas, institutos de vida consagrada, associações, movimentos) no respeito à legítima autonomia de cada um, mas, também, na consciência de dever promover a comunhão entre to- dos os membros do povo de Deus confiados à sua cura; a vigilância sobre a administração dos bens eclesiásticos; os atos administrati- vos singulares; etc. O poder executivo pode ser exercitado pelo Bispo pessoal- mente, pelo Vigário geral, pelos Vigários episcopais, pelos outros titulares dos ofícios da cúria diocesana e pelas pessoas que rece- berem tal potestade por delegação à norma do cân. 137. O poder judiciário comporta a tutela dos direitos dos fiéis e da comunidade, em conformidade com as normas fixadas pelo livro VII do CIC. O Bispo pode exercitar tal poder pessoalmente, mas, em geral, o faz por intermédio do Vigário judicial e dos juízes eclesiásticos, em conformidade com o direito. © Direito Canônico I258 Dessa maneira, como Pastor e guia do povo, o Bispo diocesa- no é chamado a governar e, portanto, a colocar atos com os quais se concretiza a função de governo. Possui o direito e o dever de governar a própria diocese com potestade legislativa, executiva e judiciária, devendo promover a disciplina comum (cân. 392), favo- recer e coordenar as diversas formas de apostolado (394). Obrigações jurídicas particulares 1) Ofício de representante da diocese (cân. 393): O cân. 393 estabelece o seguinte princípio: "Em todos os ne- gócios jurídicos da diocese, o Bispo diocesano a repre- senta". Trata-se de um novo cânon que aplica à diocese, enquanto pessoa jurídica, o princípio geral estabelecido pelo cân. 118: Representam a pessoa jurídica pública, agindo em seu nome, aque- les a quem é reconhecida essa competência pelo direito universal ou particular ou pelos próprios estatutos; e a pessoa jurídica priva- da, aqueles a quem é conferida essa competência pelos estatutos. Convém observar que no âmbito de uma diocese há vá- rias pessoas jurídicas (as paróquias, o seminário etc.). O Bispo, canonicamente, não é o representante legal de tais pessoas, a não ser nas condições indicadas pelo cân. 1480. 2) O dever de residência (cân. 395): a norma que obriga o Bispo a residir na diocese é muito antiga na discipli- na eclesiástica. O Bispo diocesano possui obrigação de residir pessoalmente no local onde recebeu a missão, podendo ausentar-se nos casos previstos pelo cân. 395: visita ad limina, participação nos concílios, sínodos, as- sembleias da Conferência Episcopal diocese a ele confia- da (mesmo que tenha coadjutor ou auxiliar), pois deve exercitar; participação em outros ofícios que legitima- mente lhe foram confiados. Pode ausentar-se, por uma justa causa (mas não por mais de um mês), contanto que se assegure que a diocese não fique prejudicada com isso. As ausências ilegítimas podem ser punidas com Claretiano - Centro Universitário 259© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular uma pena (cân. 1396). Cabe ao Metropolita informar à Santa Sé a ausência ilegítima de um Bispo de sua provín- cia eclesiástica por mais de seis meses. Caso o ausente seja o próprio Metropolita, esta obrigação de informar à Santa Sé recai sobre o sufragâneo mais ancião (cân. 395 §4). Não convém que o Bispo se ausente de sua diocese nos dias do Natal, Semana Santa, Páscoa, Pentecostes e Corpus Christi. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A norma que regula o dever de residência encontramos no Concílio de Niceia no cân. 16. Está contida, também, no Decreto de Graciano e nas Decretais de Gregório IX (X, III, 4, 9). O concílio de Trento reafirmou tal obrigação e o CIC de 1917, acolhendo as normativas conciliares e a tradição que se formou sobre o tema, confirmou a disciplina tradicional (cân. 338). No CIC atual, manteve-se a disciplina tradicional, com algumas mudanças. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– 3) A visita pastoral (cânn. 396-398): um dos deveres prin- cipais que, desde as origens, foi reconhecido ao Bispo é aquele de coordenar e dirigir a vida cristã na Igreja a ele confiada. Baseado nesta tradição, o CIC estabelece ao Bispo a obrigação de visitar, a cada ano, sua diocese, total ou parcialmente, de modo que visite toda a dioce- se, ao menos, a cada cinco anos. Caso esteja impedido, pode delegar esta tarefa ao Bispo coadjutor, ao Bispo au- xiliar, ao Vigário geral, ao Vigário episcopal, ou mesmo a um presbítero (cân. 396 §1). –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O próprio nome episkopòs, isto é, inspetor, já indica sua tarefa. Se nos primeiros séculos, quando a comunidade cristã não ia além dos muros da cidade, era fácil para o Bispo conhecer a realidade de sua Igreja, com a progressiva evangeliza- ção e expansão do cristianismo para o campo acabou sendo necessário institu- cionalizar a visita às comunidades que se reuniam nos centros rurais. As normas canônicas, desde o século 6º, determinaram a obrigação, a frequência e a forma destas visitas que foram consideradas, juntamente com os sínodos diocesanos, as instituições mais válidas para a promoção da evangelização, para a coorde- nação do apostolado e para a atuação da disciplina eclesiástica. Particularmente nos momentos de crise, o recurso à visita pastoral e ao sínodo consentiu a atua- ção dos planos de reforma predispostos pelos concílios. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– © Direito Canônico I260 4) Visita ad limina (cânn. 399-400): Nos cânones 399 e 400, o legislador insiste sobre duas obrigações: a apresenta- ção de uma relação sobre o estado da diocese e a visi- ta ad limina. A disciplina atual desta visita está contida na constituição apostólica Pastor Bonus artt. 28-32 e no Diretório para a visita ad limina, que especifica o modo de sua realização. Os momentos fundamentais dessa vi- sita são três: a peregrinação à tumba dos apóstolos; o encontro com o Papa; e os contatos com os dicastérios da Cúria Romana. O Bispo diocesano deve cumprir esta obrigação pessoalmente, mas, se estiver legitimamente impedido, poderá fazê-lo por meio do coadjutor, auxiliar ou mesmo de um sacerdote idôneo de sua diocese. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Na linguagem canônica, as visitas ad limina referem-se às peregrinações feitas pelos Bispos e que têm como meta uma visita às tumbas dos apóstolos Pedro e Paulo. Contudo, em termos mais precisos, tratava-se das visitas que os Bispos deviam fazer a Roma em determinados intervalos, conforme a obrigação imposta pelo Papa Zacarias no ano 743 e reportada por Graciano em seu Decreto (c. 4, D.93). Após o Concílio de Trento, em uma constituição do Papa Sisto V (1585), aparece, também, a obrigação de apresentar nesta visita uma relação sobre o estado da diocese à Cúria Romana. Tais normas possuem o seu valor teológico e eclesial, pois nascem da necessária relação existente entre os Bispos e o Papa, destinadas a ajudar este último no exercício de suas funções primaciais. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A renúncia ao ofício (cânn. 401) Tendo presente as normas gerais, é sabido que o ofício ecle- siástico se perde quando se transcorre o tempo pré-fixado, por ida- de, por renúncia, por transferência, por destituição, por privação (cân. 184) e por morte. Portanto, no caso do ofício episcopal, ele se torna vacante com a morte, com a renúncia aceita pelo Romano Pontífice, com a transferência e com a privação (cân. 416). Quanto à renúncia ao ofício, esta possibilidade sempre foi prevista pelo direito. Levando em conta a delicadeza do problema, o legislador optou por formular ao Bispo um convite à renúncia por idade (75 anos), por enfermidade ou por outros graves motivos. Não se trata de um dever jurídico, mas de um convite, uma vez que a renúncia Claretiano - Centro Universitário 261© U5 - O Governo daIgreja em Âmbito Particular é um ato voluntário e livre. Com a renúncia aceita, o Bispo dioce- sano torna-se emérito e é preciso ater-se à disposição do cân. 402 a esse respeito. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– No Concílio Vaticano II, o argumento foi objeto de discussão na aula conciliar. Houve quem rejeitasse a renúncia dos Bispos, baseando-se nas "núpcias" (mís- tica) entre o Bispo e sua Igreja, com a consequente obrigação de fidelidade e indissolubilidade. Mas houve quem fizesse notar que a difusa práxis de transferir os Bispos de uma diocese para outra não consentia de fazer apelo a esta moti- vação teológica para rejeitar a norma de grande utilidade pastoral. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Bispos coadjutores e auxiliares (cânn. 403-411) Em relação ao CIC anterior, os ofícios do Bispo coadjutor e do Bispo auxiliar aparecem, agora, bem definidos em relação à sua natureza e potestade. Nota-se uma preocupação de coordenar tais ofícios com os demais previstos no ordenamento da Igreja particu- lar, tendo em vista o respeito pela unidade de governo na diocese. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A profunda reforma dessas duas figuras de Bispos titulares atuada pelo Concílio facilitou a tarefa da Comissão de revisão do CIC, que se limitou a aplicar no novo CIC os princípios do decreto Christus Dominus, nº. 25-26 e as normas estabe- lecidas pelo m.p. Ecclesiae Sanctae I, 13. O decreto Christus Dominus, nº. 25 considera que tanto os auxiliares quanto os coadjutores devam ser a última solu- ção a ser adotada para enfrentar as dificuldades que o Bispo diocesano poderá encontrar no governo de uma diocese, seja porque é muito extensa, seja porque possui muitos habitantes. Por estas ou por outras causas que possam impedir o Bispo de assumir todos os seus deveres, poderá ser dado a ele a ajuda de um Bispo coadjutor ou auxiliar. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Os dois ofícios encontram-se delineados pelo cân. 403, que distingue três figuras jurídicas de Bispo que constituem uma ajuda para o Bispo diocesano: • Bispo auxiliar (§1): é constituído a pedido do Bispo dio- cesano (não se exclui a iniciativa da Santa Sé), quando as necessidades pastorais da diocese o aconselham. Trata-se de um Bispo titular e sem direito à sucessão. © Direito Canônico I262 • Bispo auxiliar com faculdades especiais (§2): é constituído pela Santa Sé em favor de um Bispo diocesano, mesmo sem o pedido deste último, normalmente, em circunstân- cias particularmente graves (saúde, idade, circunstâncias de tipo político etc.). É um Bispo titular e sem direito à sucessão, mas possui aquelas faculdades dadas pela San- ta Sé. • Bispo coadjutor (§3): é constituído pela Santa Sé em aju- da a um Bispo diocesano. Possui faculdades especiais, tem o direito à sucessão e o título da sede na qual tem o direito à sucessão. O bispo coadjutor O Bispo coadjutor é constituído pela Sé Apostólica, à qual cabe a função de verificar a existência das circunstâncias que acon- selham esta nomeação (cân. 403 §3). Toma posse de seu ofício exibindo a bula de nomeação ao Bispo diocesano e ao colégio dos consultores, na presença do chanceler que lavra o ato (cân. 404 §1). A sua potestade está definida pela lei e pela bula de nomea- ção (cân. 405 §1). O CIC estabelece que ele deve assistir ao Bispo diocesano em todo o governo da diocese e supri-lo se estiver au- sente ou impedido (cân. 405 §2). Além disso, deve ser constituído Vigário geral e deve ter a preferência em relação a tudo aquilo que exige um mandato especial (cân. 406 §1). Quando a diocese se torna vacante, o coadjutor torna-se, imediatamente, o Bispo dio- cesano (cân. 409 §1). O bispo auxiliar Como dito, o Bispo auxiliar, normalmente, é constituído a pe- dido do Bispo diocesano quando as necessidades pastorais da dio- cese o aconselham. Mas pode, também, ser constituído pela Santa Sé em favor de um Bispo diocesano, mesmo sem o pedido deste úl- Claretiano - Centro Universitário 263© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular timo, normalmente em circunstâncias particularmente graves (saú- de, idade, circunstâncias de tipo político etc.). Neste caso, temos um Bispo titular e sem direito à sucessão, mas com as faculdades dadas pela Santa Sé que o assemelha ao Bispo coadjutor. Conferido o ofício com a carta apostólica e determinada a potestade de governo necessária, o Bispo auxiliar deve tomar pos- se canônica do ofício para a validade dos próprios atos, em confor- midade com as normas estabelecidas. Isso se dá com a exibição da nomeação ao Bispo diocesano (se este estiver impedido, ao colé- gio dos consultores), na presença do chanceler que deve lavrar o fato em ata (cânn. 404 §1-3; 382 §2). O Bispo auxiliar que possui faculdades especiais deve assistir o Bispo diocesano em todo o governo da diocese e deve supri- -lo quanto estiver ausente ou impedido (cân. 405 §2). Além disso, deve ser nomeado vigário geral e deve ter a preferência para tudo aquilo que exige um mandato especial (cân. 406 §2). Quando a sede se torna vacante, o Bispo auxiliar que possui faculdades es- peciais exercita os poderes e as faculdades do vigário geral (cân. 409 §2). Já o Bispo auxiliar sem faculdades especiais pode ser nome- ado vigário geral ou, ao menos, vigário episcopal, dependendo, diretamente, da autoridade do Bispo diocesano (cân. 406 §2). Du- rante a sede vacante, o Bispo auxiliar conserva todas as faculdades que já possuía como vigário geral ou episcopal, a não ser que uma autoridade superior estabeleça diversamente. Se não foi designa- do para o ofício de administrador diocesano, exercita a sua potes- tade sob a autoridade de quem preside o governo da diocese (cân. 409 §2). Concluído o estudo relativo à figura do Bispo, passamos, agora, para uma breve análise da normativa que se ocupa da orga- nização interna das Igrejas particulares. © Direito Canônico I264 8. a OrGaniZaçãO interna das iGrejas partiCu- Lares Assim como no governo da Igreja universal o Papa se utiliza da ajuda de pessoas e instituições, algo parecido ocorre com o respon- sável direto por uma Igreja particular que, em geral, é uma diocese. O CIC atual apresenta uma estrutura diocesana à disposição do Bispo para bem governar a sua diocese (cânn 460-514). Não trataremos de tudo, mas, apenas, daqueles aspectos de maior re- levância no momento. O Sínodo diocesano (cânn. 460-468) O sínodo é sinônimo de comunhão. Trata-se de um "cami- nhar juntos" de muitos com o Bispo diocesano, revelando, assim, a comunhão eclesial. No sínodo diocesano, a Igreja particular é, ao mesmo tempo, objeto e sujeito, juntamente com o Bispo, do seu serviço pastoral. Canonicamente, trata-se de uma assembleia de sacerdotes e de outros fiéis da Igreja particular escolhidos para auxiliar o Bispo diocesano para o bem de toda a comunidade diocesana (cân. 460). Seu funcionamento é regido pelos cânn. 461-468. É um organismo temporal e cessa quando cumpre sua função. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Para conhecer de perto a normativa sobre o sínodo diocesano, sugerimos as seguintes obras: CORRAL SALVADOR, C.; URTEAGA EMBIL, J. M. (Org.). Di- cionário de Direito Canônico. São Paulo: Loyola, 1993, p. 696-697. GHIRLANDA, G. O direito na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direito Eclesial. Aparecida: Santuário, 2003, p. 629-632. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– a Cúria diocesana (cânn. 469-494) No exercício cotidiano de suas funções de governo e, em par- ticular, na direção da ação pastoral, no cuidado da administração da diocese e no exercício do poder judiciário, o Bispo é assistido por uma série de ofícios e pessoas que formam a cúria diocesana. Claretiano - Centro Universitário 265© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Para um estudodos principais aspectos do funcionamento da cúria diocesana: natureza e finalidade, nomeação para os ofícios, obrigações de quem tem um ofício e atos da cúria, sugerimos que você leia o seguinte texto: GHIRLANDA, G. O direito na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direito Eclesial. Apare- cida: Santuário, 2003, p. 621-623. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– A cúria tem um caráter pastoral e é responsável não ape- nas pelas questões administrativas e judiciárias, mas, também, por aquelas ligadas ao apostolado. Formando uma unidade com o Bis- po, a cúria rege-se pelo direito comum e particular. A nomeação de todos aqueles que desenvolvem um ofício na cúria diocesana cabe ao Bispo diocesano (cân. 470), o qual po- derá nomear um moderador de cúria, com a função de coordenar as atividades ali desenvolvidas para que todos cumpram as pró- prias funções diligentemente (cân. 473 §2). Na Cúria diocesana, o principal colaborador do Bispo dioce- sano é o vigário geral, pois o auxilia no governo de toda a diocese, tendo um poder ordinário (cân. 475). Além disso, o Bispo diocesano pode constituir um ou mais vigários episcopais aos quais é confiada uma determinada parte da diocese ou uma missão específica (cân. 476). Tanto o vigário geral quanto os vigários episcopais são livre- mente escolhidos pelo Bispo, mas não podem ser consanguíneos dele até o quarto grau e devem ser sacerdotes (cânn. 477 §1; 478). Possuem uma potestade ordinária, vicária e executiva. Já o vigário judicial possui potestade judiciária, juntamente com os juízes. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Sobre o vigário geral e os vigários episcopais, consulte o seguinte texto: COR- RAL SALVADOR, C.; URTEAGA EMBIL, J. M. (Org.). Dicionário de Direito Canô- nico. São Paulo: Loyola, 1993, p. 750. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Outra figura importante é a do chanceler, que cuida para que os atos da cúria sejam redigidos e despachados, bem como guarda- dos no arquivo (cân. 482). Temos, ainda, os notários cânn. 483-484, o conselho de economia e o ecônomo da diocese (cânn. 492-494). © Direito Canônico I266 –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– No âmbito patrimonial, em cada diocese deve ser constituído um conselho dio- cesano para assuntos econômicos, composto por, ao menos, três fiéis, espertos em economia e no direito civil e eminente pela integridade. Estes são nomeados livremente pelo Bispo por um quinquênio, podendo permanecer na função por outros quinquênios. Os consanguíneos do Bispo até o quarto grau, como os li- gados a ele por afinidade até o quarto grau, não podem fazer parte do conselho. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– O conselho presbiteral e o colégio dos consultores (cânn. 495-502) O conselho presbiteral O ministério ordenado comporta três graus: 1) episcopado; 2) presbiterato; 3) diaconato. O episcopado possui uma natureza colegial. Também os presbíteros unidos entre si constituem um presbitério destinado a ofícios diversos. Com a ordenação recebida, o ordenado é inserido na ordem dos presbíteros. Os presbíteros são unidos aos Bispos na dignidade sacerdo- tal e, ao mesmo tempo, dependem deles no exercício das suas fun- ções pastorais. São chamados a serem os colaboradores diretos do Bispo e, reunidos ao redor dele, formam o presbitério que, ao lado dele, é corresponsável pela Igreja particular. Portanto, o conselho presbiteral é um modo eminente de exercício da corresponsabili- dade presbiteral. Canonicamente, o conselho presbiteral é um organismo repre- sentativo, obrigatório, de âmbito diocesano. Toma parte no governo da diocese como um órgão consultivo, ajudando o Bispo na determi- nação de concretos problemas pastorais. Esta obrigatoriedade deri- va do fato de o legislador querer promover a responsabilidade do presbitério no governo da diocese e da obrigação que o Bispo possui de consultar o conselho nos casos previstos por lei. A normativa so- bre o conselho presbiteral encontra-se nos cânn. 495-501. Claretiano - Centro Universitário 267© U5 - O Governo da Igreja em Âmbito Particular –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Apesar de o conselho presbiteral ter funções de natureza consultiva, o Bispo deve solicitar o seu parecer nos seguintes casos: 1) para convocar o sínodo diocesano (cân. 461 §1); 2) para erigir, suprimir e modificar as paróquias (cân. 515 §2); 3) para decidir a destinação das ofertas dos fiéis e a retribuição dos sacerdotes no desenvolvimento de encargos paroquiais (cân. 531); 4) para constituir na diocese o conselho de pastoral paroquial (cân. 536 §1); 5) para construir uma nova igreja (cân. 1215 §2); 6) para destinar uma igreja ao uso profano (cân. 1222 §2); 7) para impor tributos à norma do cân. 1263; 8) para constituir o grupo de párocos com dois dos quais discutirá a remoção de um pároco (cânn. 1742 §1; 1745,2; 1750). Alem dos casos indicados, o conselho presbiteral deve ser ouvido nos negócios de maior importância. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Uma vez constituído, o conselho presbiteral é convocado, periodicamente, pelo Bispo e renovado em sua composição de acordo com as normas estatutárias aprovadas por ele, observadas, porém, aquelas emanadas pela Conferência dos Bispos (cân. 496). Tendo por base o cân. 497, podemos afirmar que o conselho presbiteral é composto por três categorias de membros: • membros de direito ou de ofício: presentes no conselho devido às funções que possuem na diocese (vigário geral, episcopal, reitor do seminário etc.); • membros livremente escolhidos pelo Bispo: esta facul- dade consente ao Bispo equilibrar a representatividade dentro do conselho; • membros livremente eleitos (aproximadamente, a meta- de): a eleição possui um caráter constitutivo e, portanto, não precisa de confirmação por parte do Bispo. As três categorias de membros possuem a mesma dignidade jurídica, ou seja, o voto de cada um tem o mesmo valor. O cân. 498 delimita o corpo eleitoral para a designação dos membros eleitos. Possuem voz ativa e passiva: © Direito Canônico I268 • os sacerdotes seculares incardinados na diocese; • os sacerdotes seculares não incardinados na diocese e os sacerdotes membros de um instituto religioso ou de uma sociedade de vida apostólica que, residindo na diocese, exercem algum ofício em seu favor; • outros sacerdotes que tenham domicílio ou quase domi- cílio na diocese, se isto for previsto pelos estatutos. O conselho presbiteral é presidido pelo Bispo. A ele compete determinar ou aceitar as questões a serem tratadas no conselho, convocar o conselho, respeitando a periodicidade e as normas es- tabelecidas nos estatutos, como, também, dar a conhecer as deci- sões nele tomadas. O conselho presbiteral cessa: • Ipso iure nos casos de sede vacante. • Por decreto do Bispo no caso de que o conselho não cum- pra as funções que lhe foram confiadas ou, então, abu- se delas gravemente (cân. 501 §3). Nesse caso, um novo conselho deve ser constituído no prazo máximo de um ano. No caso de sede vacante, as funções do conselho presbiteral passam para o colégio dos consultores (cân. 501 §2). O conselho presbiteral deve ser renovado, total ou parcial- mente, dentro de cinco anos. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Para aprofundar o estudo da normativa sobre o conselho presbiteral, sugerimos a leitura das seguintes obras: FALCÃO DE BARROS, J. F. O conselho pres- biteral: aspectos jurídicos e pastorais. Aparecida: Santuário, 2008. Veja, ainda, MARCHESI, M. Organismos de participação numa Igreja-comunhão. In: CA- PPELLINI, E. (Org.). Problemas e perspectivas de Direito Canônico. São Paulo: Loyola, 1995, pp. 112-123. E, para uma breve visão de conjunto sobre o assunto: GHIRLANDA, G. O direito na Igreja, mistério de comunhão. Compêndio de Direi- to Eclesial. Aparecida: Santuário,
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