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1 Khilver Doanne Sousa Soares Diarreias A frequência da evacuação normal varia de três vezes por semana a três vezes por dia. Assim, um aumento de volume das fezes acompanhado por diminuição da sua consistência e maior número de evacuações configura um quadro de diarreia. Classificação da Diarreia Sintomas versus provável etiologia da diarreia aguda Nos quadros de diarreia aguda, as infecções virais, principalmente por rotavírus, são responsáveis por 75 a 90% dos casos. As infecções bacterianas são a causa de 10 a 20% dos casos, com destaque para as infecções secundárias à Escherichia coli (diarreia do viajante). Por sua vez, as infecções parasitárias causam menos de 5% dos quadros diarreicos. É importante estar atento aos diagnósticos diferenciais: infecções gastrintestinais (doença inflamatória intestinal [DII], intussuscepção, enterocolite pseudomembranosa, apendicite, alergia alimentar, deficiência de lactase) ou outras doenças (sepse bacteriana, otite média, pneumonia, meningite, infecção do trato urinário). Alertas vermelhos de doença orgânica Diferenciação de Quadros Funcionais X Orgânicos O quadro funcional mais importante é a síndrome do intestino irritável. Os portadores frequentemente apresentam dor em cólica no quadrante inferior direito do abdome. A diarreia costuma ocorrer apenas no período em que o 2 Khilver Doanne Sousa Soares paciente está acordado, não sendo necessário levantar durante a noite com urgência intestinal. Existem dois critérios diagnósticos para síndrome do intestino irritável: critérios de Manning (Tabela 1) e de Roma (Tabela 2): Quanto ao tempo de evolução, as diarreias podem ser divididas em: Aguda: até 2 semanas; Protraída ou persistente: entre 2 e 4 semanas; Crônica: mais de 4 semanas. Diarreia Aguda Os principais sinais de desidratação que devem ser identificados são o prolongamento do tempo de reperfusão capilar, a redução do turgor da pele e a alteração do padrão respiratório. Esses sinais, no entanto, quando examinados isoladamente, não oferecem uma boa acurácia para o diagnóstico, ao contrário do que ocorre quando avaliados em associação ou quando presentes em escalas de classificação de desidratação. Classificação da gravidade da desidratação segundo parâmetros clínicos (cdc) 3 Khilver Doanne Sousa Soares FC, frequência cardíaca; FR, frequência respiratória. Avaliação da desidratação em pessoas com diarreia Alertas vermelhos de desidratação: sinais ou sintomas que indicam risco aumentado de progressão para quadro de choque Deve-se, ainda, aferir a temperatura corporal, com o intuito de investigar a presença de febre associada, e mensurar o peso. No exame abdominal, deve-se focar em alterações dos ruídos hidroaéreos, presença de distensão, presença de massa ou de dor à palpação, bem como defesa e sinal de descompressão súbita. Diarreia Crônica Na maioria das vezes o exame físico é inespecífico mas pode estar presente: úlceras orais, sinais de aterosclerose grave, 4 Khilver Doanne Sousa Soares linfadenomegalia, sinais de disautonomia e rash cutâneo, rubor ou hiperpigmentação da pele. O exame físico deve incluir o peso, a altura e o perímetro cefálico em um padrão gráfico de crescimento. Os sinais de deficiências nutricionais devem ser investigados, como a dermatite perianal, na deficiência de zinco, e alguma deformidade nas pernas, na deficiência de vitamina D. A realização de exames preliminares é importante para categorizar diarreia em aquosa, que pode ainda ser dividida em secretória ou osmótica, gordurosa ou inflamatória. Diarreia Aquosa - SECRETÓRIA Há distúrbio no transporte hidroeletrolíticos na mucosa intestinal, geralmente causado por uma toxina, droga ou patologias intestinais e sistêmicas. Os pacientes com diarreia secretória apresentam algumas características: Volume geralmente maior que 1 L; Diarreia persistente, mesmo quando o paciente se encontra em jejum; Gap osmolar pode ajudar a diferenciar a diarreia osmótica da secretória, como já comentado anteriormente: gap osmolar menor que 50 mosm/Kg é indicativo de diarreia secretória. Diarreia Aquosa - OSMÓTICA Presença de solutos osmoticamente ativos que não absorvíveis pelo intestino (lactulose, manitol, induzida por magnésio (antiácidos), disabsorção de carboidratos e uso de antibióticos), o que causa um acúmulo de líquidos e diarreia. Diarreia Gordurosa (esteatorreia) Acompanha má absorção de lipídeos e sempre tem origem no intestino delgado (p. ex., insuficiência pancreática exócrina, colestase, doença celíaca, doença de Crohn, estrongiloidíase). Estes pacientes precisam confirmar a má absorção por meio da pesquisa de gordura fecal. Devem ainda realizar exames radiográficos contrastados do intestino delgado para excluir problemas estruturais, bem como biópsias e aspirados do intestino delgado com culturas quantitativas. As possibilidades diagnósticas nestes pacientes incluem insuficiência pancreática e ausência de bile; assim, testes para avaliar insuficiência pancreática devem ser realizados. Diarreia Inflamatória Alteração na absorção da mucosa por alteração inflamatória, que lesiona e leva a morte dos enterócitos, e não consegue absorver ou transportar açúcares, aminoácidos ou eletrólitos, ocorre a diarreia. Pacientes com sangue ou pus nas fezes devem ser avaliados para possibilidade de diarreia inflamatória. Estas diarreias são decorrentes da liberação de citoquinas e mediadores inflamatórios na mucosa intestinal. Há presença de muco, pus ou sangue nas fezes e sua causa clássica é a doença inflamatória intestinal. Para o diagnóstico, é necessário realizar um dos seguintes exames: sigmoidoscopia, colonoscopia, exames radiológicos contrastados, tomografia de abdome, coprocultura e exame protoparasitológico de fezes, para excluir causas infecciosas. Diarreia Funcional A hipermotilidade intestinal (ex.: síndrome do intestino irritável aguda) está associada a outros mecanismos de diarreia, mas como uma causa primária não é comum e é um diagnóstico de exclusão. As diarreias agudas estão mais associadas a gastroenterites virais, como o rotavírus, bacterianas, como E. coli, Shigella, Campylobacter, Cólera, ou parasitarias, helmintos e protozoários. 5 Khilver Doanne Sousa Soares Já as diarreias crônicas, estão mais associadas a parasitoses não tratadas, doença inflamatória intestinal e intolerâncias alimentares à lactose ou glúten, por exemplo. OBS: Atenção para os pacientes que estão fazendo uso de antibiótico e desenvolvem quadro diarreico! A microbiota bacteriana normal pode ter sido destruída, permitindo a proliferação do Clostridium Difficile, causando uma colite pseudomembranosa na mucosa intestinal. Classificação das Diarreias Alta: poucas dejeções ao dia, fezes volumosas, presença de restos alimentares e ausência de muco. Geralmente acompanhada de cólicas abdominais; Baixa: múltiplas dejeções ao dia, pouco volumosas, sem restos alimentares e com presença de muco, pus e pode conter sangue. Geralmente acompanhadas de urgência e tenesmo; Não-inflamatória: fezes aquosas, volumosas, sem sangue muco ou pus, geralmente sem febre; Inflamatória: evacuações frequentes, pequeno volume, com muco ou pus, algumas com sangue. É comum febre, toxemia, dor abdominal intensa, tenesmo e leucocitose associada. Quando acompanhada de náuseas, vômitos e dor abdominal difusa, a diarreia aguda compõe a síndrome de gastroenterite aguda, uma condição habitualmente causada por infecções virais ou intoxicação alimentar. Nos casos em que há sangue concomitante, se constitui como um quadro de disenteria e está mais associada a infecções por bactérias, como Shigella e Salmonella. Grau de desidratação e decisão terapêutica Classificação da diarreia crônica e causas 6 Khilver DoanneSousa Soares Causas de Diarreia 7 Khilver Doanne Sousa Soares Planos de tratamento para desidratação 8 Khilver Doanne Sousa Soares Quantidade de soro de reidratação oral que deve ser ofertada, nas primeiras 4 horas de tratamento, à pessoa com diarreia que se enquadra no plano b de tratamento, de acordo com peso e/ou idade Orientação para tratamento intravenoso em crianças e adultos com desidratação grave Abordagem Medicamentosa A maioria dos episódios de diarreia aguda é autolimitada e, por isso, não exige antibioticoterapia. Porém, em certas circunstâncias, o seu uso é necessário: Diarreia com sangue e/ou muco, sendo a Shigella e a Salmonella os principais agentes etiológicos responsáveis pelo quadro; Septicemia; 9 Khilver Doanne Sousa Soares Suspeita de infecção por V. cholerae com desidratação grave associada; Quadro de giardíase ou amebíase com diagnóstico confirmado por exame laboratorial. Em relação ao uso de medicações antidiarreicas (“constipantes”), sabe-se que isso é contraindicado (D). Quanto aos fármacos antieméticos, especificamente a metoclopramida orienta-se que deva ser evitada (D). O impacto do uso de suplementação de zinco tem tido demonstrações positivas. A dose recomendada é 20 mg de zinco por dia, durante 10 dias, para todas as crianças com diarreia. Os lactentes de 2 meses ou menores deveriam receber 10 mg por dia durante 10 dias. Quanto aos probióticos (microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades apropriadas, conferem benefício à saúde do hospedeiro), alguns, como Lactobacillus reuteri ATCC 55730, L. rhamnosus GG, L. casei DN-114 001 e Saccharomyces cerevisiae (boulardii) são úteis para reduzir a gravidade e a duração da diarreia aguda infecciosa infantil. Prescrição de antibioticoterapia de acordo com o quadro clínico apresentado Obs.: saber a fórmula do GAP osmolar 290 – 2X (Na + K) fecal 10 Khilver Doanne Sousa Soares 11 Khilver Doanne Sousa Soares .. ... 12 Khilver Doanne Sousa Soares Classificação Anatômica das Diarreias ALTA (delgado) BAIXA (grosso) Grande quantidade Pouca quantidade Menos vezes Mais vezes Restos alimentares Sem restos alimentares SEM tenesmo COM tenesmo _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ _____________________________________________________ REFERÊNCIAS GUSSO, Gustavo; LOPES, José Mauro Ceratti; DIAS, Lêda Chaves. Tratado de medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. Martins, Mílton de Arruda. Clínica Médica. 1. ed. BARUERI: Manole, 2016. https://www.medicinanet.com.br/conteudos /revisoes/4171/diarreia_cronica.htm#:~:text =A%20diarreia%20cr%C3%B4nica%20pod e%20ser,diarreia%20gordurosa. https://www.sanarmed.com/diarreia-uma- visao-geral https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/4171/diarreia_cronica.htm#:~:text=A%20diarreia%20cr%C3%B4nica%20pode%20ser,diarreia%20gordurosa https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/4171/diarreia_cronica.htm#:~:text=A%20diarreia%20cr%C3%B4nica%20pode%20ser,diarreia%20gordurosa https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/4171/diarreia_cronica.htm#:~:text=A%20diarreia%20cr%C3%B4nica%20pode%20ser,diarreia%20gordurosa https://www.medicinanet.com.br/conteudos/revisoes/4171/diarreia_cronica.htm#:~:text=A%20diarreia%20cr%C3%B4nica%20pode%20ser,diarreia%20gordurosa https://www.sanarmed.com/diarreia-uma-visao-geral https://www.sanarmed.com/diarreia-uma-visao-geral