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AN02FREV001/REV 4.0 30 PROGRAMA DE EDUCAÇÃO CONTINUADA A DISTÂNCIA Portal Educação CURSO DE ARTE NA EDUCAÇÃO Aluno: EaD - Educação a Distância Portal Educação AN02FREV001/REV 4.0 31 CURSO DE ARTE NA EDUCAÇÃO MÓDULO II Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada. É proibida qualquer forma de comercialização ou distribuição do mesmo sem a autorização expressa do Portal Educação. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos nas Referências Bibliográficas. AN02FREV001/REV 4.0 32 MÓDULO II 2 UM OLHAR PSICOLÓGICO SOBRE A ARTE DENTRO DO CONTEXTO EDUCACIONAL. Começamos esta premissa sobre a questão da psicologia e o contexto da arte na educação tendo um olhar sobre as palavras de Cruces (2003 apud OLIVEIRA e ARAÚJO, 2009) em que: A partir da emergência da Psicologia enquanto área de conhecimento, pesquisa, produção de conhecimento e prática profissional, sua articulação com a Educação passou a se configurar como um dos campos de atuação dos psicólogos, apesar de pouco escolhida pelos profissionais, os quais se detiveram, historicamente, mais ao psicodiagnóstico e à avaliação psicológica. Outra situação impar são os apontamentos de Helena (2012) que extrai de Piaget o seguinte: Problema psicológico, ou melhor, os dois principais problemas psicológicos da educação artística são, portanto, compreender, em primeiro lugar, a quais necessidades fundamentais correspondem as manifestações iniciais da expressão estética infantil e, em segundo lugar, qual a natureza dos obstáculos que surgem ordinariamente no curso da evolução ulterior. Sobre o primeiro desses pontos estamos relativamente bem esclarecidos. O estudo do jogo infantil e especialmente no jogo simbólico (habitualmente chamado jogo de faz de conta) mostra, com efeito, que o pensamento e a vida afetiva da criança são orientados por dois polos opostos. Um ponto importante a ressaltar e comentado pela mesma autora são que: O jogo simbólico não é outra coisa que não o procedimento de expressão, criado quase que totalmente por cada sujeito individual, graças ao emprego de objetos representativos e de imagens mentais que, ambos, complementam a linguagem. Suas funções essenciais são permitir a realização dos desejos, a compensação com relação ao real, a livre satisfação das necessidades subjetivas e, enfim, uma expansão tão completa quanto possível do próprio "eu", enquanto que distinto da realidade material ou social. AN02FREV001/REV 4.0 33 Contribuindo neste ponto, Vygotsky diz que, quando se compreende deste modo a criatividade, não é difícil reconhecer a relevância do estímulo à capacidade criadora infantil no âmbito da educação escolar nem o seu papel e importância para o desenvolvimento cultural da criança. Segundo ele, os processos criadores infantis se refletem sobretudo no faz de conta porque, nele, as crianças (re)elaboram a experiência vivida em seu meio social, edificando novas realidades de acordo com seus desejos, necessidades e motivações. Japiassu (2012) ainda elucida que Vygotsky faz questão de explicar que a memória e a fantasia ou imaginação são funções psicológicas complexas e dialeticamente inter-relacionadas: "A fantasia não está contraposta à memória, mas se apoia nela e dispõe de seus dados em novas e novas combinações" (1982, p. 18). Portanto, do mesmo modo que a imaginação apoia-se na experiência, a experiência pode ser construída exclusivamente a partir da mobilização do imaginário do sujeito. Silva (2004) aponta que músicas, livros, pinturas e outras formas de arte são constituídas pela linguagem, mesmo que o artista, inicialmente, não esteja consciente disso ao criar. “Ao adquirir forma, a obra de arte exige a participação da consciência do fruidor. Quando o espectador ouve música, por exemplo, toda a atividade mental necessária à apreensão, audição e apreciação tem, como suporte, o signo”. Assumindo como pressuposto que a natureza da atividade mental é "social/semiótica" Smolka (1997 apud SILVA, 2004) traz que: O contato com a obra de arte repercute dialeticamente nos processos mentais envolvidos na fruição, provocando uma expansão nas funções psicológicas como a percepção, a atenção e a memória. A própria polissemia da obra de arte instiga o indivíduo a encontrar novos sentidos a cada leitura. AN02FREV001/REV 4.0 34 2.1 O DESENVOLVIMENTO PSICOMOTOR PELO USO DA ARTE NA EDUCAÇÃO Cebalos et al (2011) pontuam que: Por meio do universo lúdico que a criança se satisfaz, realiza seus desejos e explora o mundo ao seu redor, tornando importante proporcionar às crianças atividades que promovam e estimulem seu desenvolvimento global, considerando os aspectos da linguagem, do cognitivo, afetivo, social e motor. Deste modo o lúdico pode contribuir de forma significativa para o desenvolvimento global do ser humano, auxiliando na aprendizagem e facilitando no processo de socialização, comunicação, expressão e construção do pensamento. Uma situação importante que deve se considerar sobre o desenvolvimento infantil e o tear com arte e a própria brincadeira são apontadas por Kishimoto (2001 apud CEBALOS ET AL, 2011) em que: O brinquedo ensina qualquer coisa que complete o indivíduo em seu saber, seus conhecimentos e sua apreensão do mundo, o brinquedo educativo conquistou espaço na educação infantil. Quando a criança está desenvolvendo uma habilidade na separação de cores comuns no quebra- cabeça a função educativa e os lúdicos estão presentes, a criança com sua criatividade consegue montar um castelo até mesmo com o quebra cabeça, através deste utiliza o lúdico com a ajuda do professor. Complementando, o brinquedo é a oportunidade de desenvolvimento, pois, brincando, a criança experimenta, descobre, inventa, aprende e confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia, proporcionam o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e da atenção. Cebalos et al (2011) acrescentam que: A brincadeira motiva, cativa e envolve, pois é significante. Por ser significante, desperta interesse, permitindo uma maior participação da criança. Sendo assim, a criança dará mais significado para ela. Existem inúmeras brincadeiras, com ou sem material, de roda, com música, folclórica, de rua, de salão, faz de conta, individuais, coletivas, etc. Além das já existentes, novas poderão ser criadas, se a imaginação e a criatividade forem respeitadas. A brincadeira favorece a intuição. AN02FREV001/REV 4.0 35 Uma situação que não podemos deixar de mencionar que é bem esclarecida por Kishimoto (2000), no qual afirma que: Enquanto brinca, o ser humano vai garantindo a integração social além de exercitar seu equilíbrio emocional e atividade intelectual. É na brincadeira também que se selam parcerias, porém o aprendizado não deve estar presente só na escola, mas também como parte do dia a dia, na medida em que a criança progride em seu desenvolvimento e amadurecimento é necessário que ela manifeste o que é próprio de cada etapa de sua vida. 2.2 AS FORMAS DA ARTE PARA CADA FASE DO DESENVOLVIMENTO. Conforme Grand (2012), em cada fase há um desenvolvimento da arte. Neste caso, são assim pontuadas: 2.2.1 Rabiscos As primeiras marcas que faz uma criança são rabiscos aleatórios. Normalmente, em torno de dois anos, uma criança vai começar a fazer marcas como ela desenvolve as habilidades de controle motor. Como melhorar as habilidades motoras da criança, rabiscando irá tornar-se mais controlada e padrões vão surgir.Universalmente, crianças começarão a repetição de movimentos, chamados de mandalas. Conforme se aproxima a idade escolar, habilidades evoluem para chamados rabiscos, onde a criança irá identificar os rabiscos e associar o sentimento, som e emoção com seus trabalhos artísticos. AN02FREV001/REV 4.0 36 2.2.2 Simbólico Quando as crianças entram na escola, elas atribuem significado às formas que elas fazem. Independentemente da semelhança, forma significa tudo o que a criança atribuí-lo como um valor. Detalhes são frequentemente dimensionados pela importância psicológica ou perceptiva, não necessariamente como uma representação de tamanho real. Como habilidades crescerem, símbolos tornam-se mais evoluídos e detalhados. Em vez de uma forma que representa a “mamãe” ou “papai”, pernas e mãos são agora parte da imagem. 2.2.3 Esquemático Nos últimos anos de escola primária, geralmente entre as idades de sete anos e nove anos, crianças entram na fase de desenvolvimento “esquemático”. Desenhos tornam-se mais “raios x” na natureza, colocando as coisas na página que não são visíveis, mas estão lá. Por exemplo, um ônibus irá mostrar todas às quatro rodas e janelas em ambos os lados, mesmo que apenas dois são visíveis no perfil está sendo desenhado. 2.2.4 Realismo Como um pré-adolescente, uma criança se torna ciente das diferenças realistas no trabalho artístico e o assunto e crítica de seu próprio trabalho. Influência de mesmo nível também afeta a percepção da criança de seu próprio trabalho. Com o realismo crescente, as crianças podem muitas vezes desanimar quando sua arte AN02FREV001/REV 4.0 37 não reflete representações precisas. Perspectiva começa a desenvolver, com mais linhas propositadamente orientado e símbolos. 2.2.5 Pseudorrealismo Como uma criança entra na adolescência, elas começam a aproximar sua arte mais subjetivamente, combinando suas impressões da experiência com a realidade. Detalhes são cada vez mais incluídos e proporções são apenas aproximadas. 2.3 ENSINO DA ARTE COMO INSTRUMENTO PARA DESENVOLVER HABILIDADES COGNITIVAS Durante os jogos e brincadeiras, as crianças adquirem diversas experiências, interagem com outras pessoas, organizam seu pensamento, tomam decisões, desenvolvem o pensamento abstrato e criam maneiras diversificadas de jogar, brincar e produzir conhecimentos (VIEIRA e OLIVEIRA, 2010). De acordo com Buoro (2001, p. 20-21), a arte contribui para o desenvolvimento dessas capacidades, tão importantes para a aprendizagem da criança. (...) a arte é uma forma de o homem entender o contexto ao seu redor e relacionar-se com ele. O conhecimento do meio é básico para a sobrevivência, e representá-lo faz parte do próprio processo pelo qual o ser humano amplia seu saber. Esse processo de conhecimento pressupõe o desenvolvimento de capacidades de abstração da mente, tais como identificar, selecionar, classificar, analisar, sintetizar e generalizar. Tais habilidades são ativadas por uma necessidade intelectual existente na própria organização humana. Vygotsky (2000) evidencia que é através de uma situação imaginária que a criança desenvolve o pensamento abstrato, bem como que é no final do desenvolvimento da pré-escola que surgem as regras e, quanto mais rígidas elas AN02FREV001/REV 4.0 38 são, maior será a exigência de atenção da criança, maior a regulação da atividade dela, assim mais tenso e agudo torna-se o brinquedo. Com base na discussão de Vygotsky (2000), percebe-se a importância que as brincadeiras e os jogos com regras possuem para o desenvolvimento da criança. Queiroz et. al. (2006) elucidam os apontamentos de Vygotsky (1998, p. 127) no qual a importância do brincar para o desenvolvimento infantil reside no fato de esta atividade contribuir para a mudança na relação da criança com os objetos, pois estes perdem sua força determinadora na brincadeira. “A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação ao que vê. Assim, é alcançada uma condição que começa a agir independentemente daquilo que vê.” 2.4 ENSINO DA ARTE NA EDUCAÇÃO INFANTIL Emoldurar o tempo, não significa somente guardar um passado. É necessário abrir perspectivas de criação de novas possibilidades, como, por exemplo, a própria educação infantil. Há necessidade de dar suporte para as crianças que hoje têm ao seu redor uma gama de estímulos e agregá-las a este tempo. Neste ponto, Santana (2010) pontua de forma clara: Até recentemente, a educação infantil não estava inserida no ciclo básico, mas a Lei de Diretrizes e Bases da Educação 9.394/96 permitiu que este estágio pedagógico encontrasse sua própria posição no esforço de formação das crianças; da mesma forma a arte abriu caminho neste espaço pioneiro, uma vez que ela exerce uma tarefa essencial nesta esfera educacional, englobando os fatores do conhecimento, da sensibilidade e da cultura. AN02FREV001/REV 4.0 39 Ainda a autora deixa claro quando comenta sobre o bloqueio da criatividade no adulto, pois quando criança lhe é permitido o recreio1. Este surto criativo permanece na criança até cerca de seis ou sete anos de idade, por conta de inúmeros fatores psíquicos, e a partir deste momento a maior parte dos indivíduos deixa de lado esta tendência potencial e segue outros caminhos. Infelizmente os movimentos pedagógicos dominantes, ao invés de estimular os futuros adultos a desenvolverem seus dons artísticos, optam por refrear os impulsos criativos e a livre capacidade de expressão dos aprendizes. Santana (2010) Outra situação importante a ressaltar é sobre a arte com traços definidos e obras clarificadas. Para Santana (2010), (...) pesquisas recentes indicam que o ensino de arte na educação infantil ainda parte do antigo conceito de ‘belas-artes’, o qual confere às obras um significado geral e inalterável; da mesma forma os métodos pedagógicos, neste campo, fundamentam-se em enfoques empíricos e/ou inatos, ou seja, referentes àquilo que já nasce com o Homem. Percebe-se assim, que arte não é definida, fechada e estanque. A obra é a própria expressão da criança sobre o que sente, vê, aprecia, ouve, toca sobre sua própria vivência social. 2.5 FASES DO DESENVOLVIMENTO ARTÍSTICO Ao iniciarmos a falar sobre o desenvolvimento artístico, debruçamo-nos sobre as ideias de Araújo e Fratari (2011) em que para elas no desenhar, a criança conta sua história, seus pensamentos, suas fantasias, seus medos, suas alegrias, suas tristezas. “No ato de desenhar a criança age e interage com o meio, seu corpo inteiro se envolve na ação, traduzida em marcas que ela mesma produz, se transportando para o desenho, modificando-o e se modificando” (ARAÚJO e FRATARI, 2011). Luquet (1979) contribui no sentido de que as fases do desenho infantil passam do realismo fortuito – estágio que começa por volta dos dois anos e põe fim ao período chamado de rabisco. “A criança que começou por traçar signos sem desejos de representação descobre por acaso uma analogia formal entre um objeto 1 Recreio - permitir-se, o brincar, o fazer de conta. AN02FREV001/REV 4.0 40 e o seu traçado. Então retrospectivamente, ele dá um nome ao seu desenho” (LUQUET, 1979). Tomando as palavras de Piaget (1976 apud ARAUJO e FRATARI, 2011) e seguindo uma lógica pontuada, temos o seguinte desenvolvimento: As primeiras imagens mentais aparecem a partir dos dois anos, na imitação diferida. Enquanto, na primeira, a criança precisa estar com o modelo para imitar, na segunda já imita na ausência do modelo. É nesta fase que começam as brincadeiras de faz de conta em que a criança finge ser isto ou aquilo, o chamado jogo simbólico. Através deste jogo, a criança reviverásituações de alegria, tristeza e as recriará de modo a superar seus conflitos. Nesta fase, a criança começa a rabiscar, faz garatujas e reconhece nelas as formas que desenhou, não havendo diferença entre o símbolo e o que ele representa. A imitação, o jogo simbólico, o desenho e a linguagem demonstram a característica da criança nessa fase é o egocentrismo. Na faixa etária de três a quatro anos, a criança justapõe os elementos e, não consegue condensar o modelo, por exemplo, ao desenhar o corpo humano, põe boca, nariz e olhos fora do lugar, é a fase do realismo que segundo Luquet identifica como falhado. Tendo descoberto a identidade forma-objeto, a criança procura reproduzir esta forma, sobreviverá então uma fase de aprendizagem pontuada de fracassos e de sucessos parciais, fase que começa geralmente entre três e quatro anos. Já na faixa etária de cinco anos a oito anos, a criança desenha o que se lembra do original e não o que vê. Se desenhar um animal de perfil, colocará duas orelhas. Também não tem noção de perspectiva, desenhando tudo no mesmo plano, é o chamado realismo intelectual, caracterizado pelo fato de que a criança desenha do objeto não aquilo que vê, mas aquilo que sabe. Daí o recurso a dois processos: o plano deitado onde os objetos não são representados em perspectivas, mas deitados em torno de um ponto ou um eixo central e, o outro ponto chamado de transparência ou representação simultânea do objeto e seu conteúdo, porque a criança mistura diversos pontos de vista. Corroborando, Ferreira (1998, p. 104), apoiada na psicologia histórico- cultural, afirma que “(...) a criança desenha para significar seu pensamento, sua imaginação, seu conhecimento, criando um modo simbólico de objetivação de seu pensamento”. Quanto a fase de evolução do desenho, como arte, no desenvolvimento infantil, as mesmas autoras citadas anteriormente deixam claro que em cada idade há uma correspondência com o olhar da criança sobre a arte. A maneira como ela expressa vai depender da sua maturação. Neste sentido, a criança passa por três fases de evolução expressando os “rabiscos”: O primeiro estágio, por volta dos 18 meses, chamado de estágio vegetativo- motor, quando aparece o tipo de traçado próprio da criança, mais ou menos arredondado, convexo ou alongado, o lápis não sai da folha. No segundo estágio, entre dois anos e três anos, os esboços, delineamentos de formas se caracterizam essencialmente pelo aparecimento de formas isoladas, AN02FREV001/REV 4.0 41 tornadas possíveis pelo levantamento do lápis, a criança passa do traço contínuo para o traço descontínuo. O terceiro e último estágio começa entre três anos e quatro anos, é o comunicativo, nele a imitação do adulto torna- se mais manifesta e se traduz por uma vontade de “escrever” e comunicar- se com outros. O amadurecimento infantil mostrará por meio de sua expressão artística como ele percebe o mundo. Araújo e Fratari (2011) contribuem informando que: Ao desenhar, modelar ou construir objetos, a criança não expressa tudo o que viu, mas fragmentos do real que lhe foram significativos. Isto justifica apresentar o boneco geralmente com uma “cabeça”, com a presença dos olhos e bocas e saindo desta cabeça, linhas representativas dos braços e das pernas, porque aos quatro anos uma criança conhece apenas estas partes do corpo humano. Ressaltam ainda que, a criança é capaz de produzir basicamente o que observa. Em sua grande maioria ela produz o seu medo, o que é de seu cotidiano, sua familiarização. Nada mais coerente a ela que realizar sua leitura de mundo expondo por meio de seus desenhos a sua convivência diária. Até a criança atingir o desejado pelo adulto, passará pela sua própria aprendizagem artística. Moreira (1993) destaca a importância da fase do desenho livre na Educação Infantil para a fase adulta criativa, em seu estudo explica que toda criança desenha e passa primeiramente por esta fase para depois percorrer a fase da escrita. Outra questão a ressaltar é que o professor deva ficar atento que cada criança tem seu tempo de amadurecimento e desenvolvimento. Não pode se exigir que em uma sala de aula todos tenham a mesma maturidade suficiente para entender, compreender, distinguir o que o facilitador pede. Araújo e Fratari (2011) pontuam claramente esta situação, em que para as autoras a criança passa a se comunicar através de seus desenhos, sendo uma forma de linguagem, ou seja, antecipa a escrita em forma de desenho. Em uma sala de aula existem diferentes tipos de crianças umas com mais habilidades no desenho ou pintura, embora o professor valorize e gratifique a criança com facilidades na escrita não poderá descartar que aquela criança com habilidades artísticas não seja uma criança de grande potencial intelectual. Assim, é necessário rever o conceito de “inteligência”, pois para a grande maioria de nossos educadores, “inteligência” significa somente AN02FREV001/REV 4.0 42 aquele educando com facilidade em aprender a ler e escrever, mesmo que seus desenhos sejam estereotipados. (ARAÚJO e FRATARI, 2011) 2.6 A CRIANÇA E O DESENHO SOB O OLHAR DO EDUCADOR O professor que trabalha com crianças, conforme apontam Araújo e Fratari (2011), em especial de quatro anos a cinco anos, observe a clareza de seus desenhos, ao realizar uma atividade artística, seja ela massinha, tinta, desenhos com lápis de colorir ou giz, pergunte o que ela queria retratar e logo virá a resposta que é algo que ela convive ao seu redor. Quando se fala de criança de quatro a cinco anos, não se está discriminando a faixa etária de zero a três anos, mas sim pela maturidade que a criança maior tem de retratar o seu vocabulário habitual. No geral, as crianças de quatro a cinco anos estão na fase inicial de alfabetização, porém não realizam leitura de textos ou palavras complexas, mas realizam leitura de imagem e, estas imagens facilmente são retratadas em seus desenhos corriqueiros, do dia a dia. Para se comprovar essa ideia, é fácil o educador ao chegar à segunda-feira e solicitar que seus educandos realizem um desenho livre e, ao observar o que eles desenharam verificará que retrataram o acontecimento do final de semana, pois nessa faixa etária as crianças já expressam com mais clareza e nitidez. Para o professor, cabe ainda ressaltar que este deve disponibilizar a maior quantidade possível de acesso de materiais que a criança possa expressar a criatividade, sem a imposição de que devam trabalhar com um ou com outro material. Que tenham Iniciativa e espontaneidade. Neste aspecto, Lowenfeld (1977, p.102) destaca: A criança deve ter a todo o momento possibilidade de realizar experiências com tantos materiais diferentes quanto isto for possível. Os materiais diversos, de consistência e textura diferentes, enriquecem a sensibilidade tátil infantil. Araújo e Fratari (2011) pontuam uma situação comum ocorrer, porém de maneira não pensada pelo educador. Reação antes da ação, ou seja, questiona a criança antes de observá-la. Neste caso, elas elucidam que: AN02FREV001/REV 4.0 43 (...) quando paramos para observar os nossos artistas mirins, somente observamos quando eles desenham o estereotipado. Que casa linda! Que carro bonito! Não valorizamos os seus gostos e vontades. Quando uma criança maior, de quatro e cinco anos, necessariamente faz um desenho sem sentido para o professor, logo vêm os questionamentos: O que é isto? Por que fez assim? Sempre com um gesto de desdenho pelo discente, pois para ele nada diz aquele desenho, mas a criança atrás daqueles borrões, linhas mal-traçadas e manchas escondem um super-herói, um vilão ou até mesmo um conto de fadas, que somente ele é capaz de ver e interpretar. (ARAÚJO e FRATARI, 2011) Contribuem ainda informando que: O papel, a tinta, o giz e o lápis, são grandes aliados do professor em sala deaula, em especial na Educação Infantil, uma vez que bem direcionada e sem intervenções, a criança falará tudo que o docente quer saber sobre ela, não sendo necessário o professor questionar muito a criança, porém observar e analisar o que o seu desenho diz. (ARAÚJO e FRATARI, 2011) E por fim, nas palavras de Derdyk (1989) o poder de evocação – e interpretação – da imagem visual. “O desenho, forma de pensamento, propicia oportunidade de que o mundo interior se confronte com o exterior, a observação do real se depare com a imaginação e o desejo de significar.” (DERDYK, 1989) 2.7 O OLHAR DA CRIANÇA E A SUA CRIAÇÃO O brincar e o fazer de conta já se encontram enraizados em várias culturas. Neste ponto, sob a ótica de Siaulys (2005 apud QUEIROZ ET AL, 2006), a brincadeira permite à criança vivenciar o lúdico e descobrir-se a si mesma, apreender a realidade, tornando-se capaz de desenvolver seu potencial criativo. Seguindo a perspectiva do olhar das autoras anteriores, no Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (1998), (...) a brincadeira está colocada como um dos princípios fundamentais, defendida como um direito, uma forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação entre as crianças. Assim, a brincadeira é cada vez mais entendida como atividade que, além de promover o desenvolvimento global das crianças, incentiva a interação entre os pares, a resolução construtiva de conflitos, a formação de um cidadão crítico e reflexivo. AN02FREV001/REV 4.0 44 Hoje, pode-se afirmar que já foi superado parte do equívoco, de que o conteúdo imaginário do brinquedo determinava a brincadeira da criança. Segundo Benjamin (1984), “a criança quer puxar alguma coisa, torna-se cavalo, quer brincar com areia e torna-se padeiro, quer esconder-se, torna-se ladrão ou guarda e alguns instrumentos do brincar arcaico desprezam toda a máscara imaginária (na época, possivelmente vinculados a rituais): a bola, o arco, a roda de penas e o papagaio, autênticos brinquedos, tanto mais autênticos quanto menos o parecem ao adulto.” (BENJAMIN, 1984, p. 76-77). Tomando-se as palavras emprestadas de Brougère (apud QUEIROZ ET AL, 2006), a brincadeira das crianças evolui mais nos seis primeiros anos de vida do que em qualquer outra fase do desenvolvimento humano e, neste período, se estrutura de forma bem diferente de como a compreenderam teóricos interessados na temática. A partir da brincadeira, a criança constrói sua experiência de se relacionar com o mundo de maneira ativa, vivencia experiências de tomadas de decisões. Em um jogo qualquer, ela pode optar por brincar ou não, o que é característica importante da brincadeira, pois oportuniza o desenvolvimento da autonomia, criatividade e responsabilidade quanto a suas próprias ações. Nas palavras de Vygotsky (1998), parte do princípio: (...) que o sujeito se constitui nas relações com os outros, por meio de atividades caracteristicamente humanas, que são mediadas por ferramentas técnicas e semióticas. Nesta perspectiva, a brincadeira infantil assume uma posição privilegiada para a análise do processo de constituição do sujeito; rompendo com a visão tradicional de que ela é atividade natural de satisfação de instintos infantis, o autor apresenta o brincar como uma atividade em que, tanto os significados social e historicamente produzidos são construídos, quanto novos podem ali emergir. A brincadeira e o jogo de faz-de-conta seriam considerados como espaços de construção de conhecimentos pelas crianças, na medida em que os significados que ali transitam são apropriados por elas de forma específica. Continuando, o mesmo autor ainda aponta que a brincadeira é, assim, “a realização das tendências que não podem ser imediatamente satisfeitas” (VYGOTSKY, 1998). Pontua ainda que: “Esses elementos da situação imaginária constituirão parte da atmosfera emocional do próprio brinquedo. Nesse sentido, a brincadeira representa o funcionamento da criança na zona proximal e, portanto, promove o desenvolvimento infantil.” (VYGOTSKY, 1998). AN02FREV001/REV 4.0 45 Outra situação que merece destaque é a questão da subjetividade do brincar e a ótica da criança. Sobre esta, Valsiner (1989) descreve que a subjetividade da criança vai se formando nas interações que estabelece com seus parceiros nos contextos cotidianos. Ainda acrescenta que o mundo adulto, dependendo de seus valores culturais, oferece à criança uma variedade de sugestões e modos de interação semioticamente marcados pelos modelos sexuais, muitas vezes estereotipados como masculino, feminino ou indiferenciado. Esta situação é acrescentada pelo mesmo autor que posições sociais diretas no qual, esta sugestão social que levam a criança a brincadeiras marcadas pelo gênero, de acordo com a cultura coletiva, o que frequentemente ocorre naqueles em que o menino só pode brincar de carrinho, e menina, de casinha de boneca. As famílias canalizam as ações, as percepções e representações da criança na direção de assumir um papel social aprovado de acordo com suas crenças e valores. (VALSINER, 1989). Conforme aponta Brasil (1997, p.53-54), os objetivos gerais de Arte para o ensino fundamental, constam: Edificar uma relação de autoconfiança com a produção artística pessoal e conhecimento estético, respeitando a própria produção e a dos colegas, no percurso de criação que abriga uma multiplicidade de procedimentos e soluções. Compreender e saber identificar a arte como fato histórico contextualizado nas diversas culturas, conhecendo respeitando e podendo observar as produções presentes no entorno, assim como as demais do patrimônio cultural e do universo natural, identificando a existência de diferenças nos padrões artísticos e estéticos. (BRASIL, 1997, p.53-54). Assim, tomando-se como ponto final deste assunto, o tema é elucidado pelas colocações de Vieira e Sorelli (2005). A criação artística revela o que há de mais íntimo nas pessoas e se for desenvolvida nos anos de escolarização inicial, consequentemente nas séries seguintes os educandos produzirão trabalhos cada vez com mais qualidade e grandes artistas poderão surgir no contexto da Arte Contemporânea. AN02FREV001/REV 4.0 46 2.8 A EDUCAÇÃO ARTÍSTICA SEGUNDO PIAGET Chamada de atividade criadora por Castro (2006), toda realização humana criadora de algo novo, quer se trate de reflexos de algum objeto do mundo exterior, quer de determinadas construções do cérebro ou de determinados sentimentos que vivem e se manifestam somente no próprio ser humano. A mesma autora ainda colabora informando que a capacidade imaginativa e criadora é fato complexo e dependente de diversos fatores, entre eles a experiência anterior do sujeito e seus interesses, assim como, a variedade de estímulos a que o mesmo está submetido. Sendo assim, a imaginação não pode se manifestar do mesmo modo na criança e no adulto. Mais do que isso, ela se manifesta e atua de modo peculiar em cada fase de desenvolvimento do indivíduo. O Blog da Psicologia da Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) traz que Piaget cita alguns fatos importantes que elucidam a arte dentro de uma ênfase pedagógica. Exprime da seguinte forma: O primeiro dos fatos consiste em que, frequentemente, a criança pequena parece melhor dotada do que a criança de mais idade, nos domínios do desenho, da expressão simbólica (representações plásticas, papéis representados nas cenas coletivas organizados espontaneamente, etc.) e por vezes na música. Quando se estuda as funções intelectuais ou os sentimentos sociais contata-se um progresso mais ou menos continuado, enquanto que no domínio da expressão artística, ao contrário, a impressão frequente é de um recuo. O segundo fato (e que se reduz em parte ao primeiro) consiste em que é muito mais difícilestabelecer estágios regulares de desenvolvimento no caso das tendências artísticas do que no caso das outras funções mentais. Para ele, as primeiras manifestações espontâneas do que se pode chamar de arte infantil devem também ser vistas como tentativas sucessivas de conciliação entre as tendências próprias do jogo simbólico (ainda que não se constitua em arte em sentido restrito) e aquelas tendências que caracterizam as formas adaptadas de atividade, ou se preferirmos, como a síntese entre a expressão do eu e a submissão ao real. Quer no jogo de construções, quer nas representações teatrais, etc. a criança procura simultaneamente satisfazer seus desejos e adaptar-se aos objetos e AN02FREV001/REV 4.0 47 a outros sujeitos. Em certo sentido ela continua a se expressar, mas também ensaia inserir o que pensa e o que sente no mundo de realidades objetivas e comunicáveis que constituem o universo material e social. Continuando, do ponto de vista intelectual, o blog ainda traz que a escola impõe muito frequentemente o conhecimento pronto no lugar de encorajar a pesquisa: mas isso se percebe pouco porque os alunos repetem o que aprenderam apenas para obter um rendimento positivo, sem que se suspeite quantas atividades espontâneas ou de fecunda curiosidade foram sufocadas. Pelo contrário, no domínio artístico normalmente nada substitui o que a pressão adulta ameaça destruir irremediavelmente, colocando em grande evidência a existência de um problema que engloba todo nosso sistema usual de educação. Santos (2009) traz ainda que Piaget examina a distinção entre as formas preparatórias da imitação evidenciadas a partir da simples percepção de um determinado modelo por parte do sujeito que reproduz, e desenvolvidas em conexão com os progressos da inteligência sensório-motora, e a imitação representativa, mais complexa, já implica a evocação de um modelo ausente. Castro (2006) complementa que a criança, para Piaget, não é "um ser passivo cujo cérebro deve ser preenchido, mas um ser ativo, cuja pesquisa espontânea necessita de alimento". Esta ideia vem ao encontro da cooperação, na medida em que o trabalho em grupo e a pesquisa são atividades que permitem colaboração e troca. Recepção passiva de informações, memorização de dados, cópias de atividades são atividades que isolam intelectualmente os alunos. O jogo para Piaget (1994, p. 115) se dá num período paralelo ao da imitação, porém, enquanto nesta há uma predominância da acomodação, no jogo, a característica essencial é a assimilação. “Se o ato de inteligência culmina num equilíbrio entre assimilação e acomodação enquanto a imitação prolonga última por si mesma, poder-se-á dizer, inversamente, que o jogo é essencialmente assimilar, ou assimilação predominando sobre a acomodação.” (PIAGET, 1994). Percebe-se ainda que o jogo adota regras ou adapta cada vez mais a imaginação simbólica aos dados da realidade sob forma de construções ainda espontâneas, mas imitando o real. AN02FREV001/REV 4.0 48 2.9 TECNOLOGIAS DO SÉCULO XXI; A ARTE NA EDUCAÇÃO. Os apontamentos iniciais de Oliveira [s. d.] traz neste aspecto que o conceito de arte e de objeto artístico tem vindo a alterar-se continuamente e, de uma forma mais acentuada nos séculos XX e XXI. Também o desenvolvimento tecnológico acelerado verificado nos dois últimos séculos, e a profunda redefinição que tem sido feita quanto aos conceitos enunciados, impele a que se usem campos experimentais muito diversos, conducentes à pluralidade da criação artística e às novas linguagens implícitas no seu uso, bem como das suas escolhas de ruptura associadas à busca incessante do “novo”. FIGURA 5 - ARTE FEITA COM SUCATA FONTE: Disponível em: <http://www.google.com.br/imgres? >. Acesso em: 9 jan. 2013. A mesma autora acima ainda relata que a atual convergência entre Arte, Ciência e Tecnologia oferece amplas oportunidades para artistas e cientistas refletirem sobre a maneira como têm trabalhado individualmente e como podem encarar o desafio de trabalharem em conjunto a fim de obterem novas formas de arte. AN02FREV001/REV 4.0 49 A Arte e a Ciência partilham muitas características e Levy (1995) aponta para no caso da Arte, o uso das tecnologias permite que se opere fora das metodologias, técnicas, instrumentos e materiais usados tradicionalmente e, por consequência, criar novas formas de expressão. Para Phillipe2 (apud OLIVEIRA, S/D), traz que os meios eletrônicos operam uma ruptura cognitiva que constitui uma verdadeira revolução psicológica suscetível de modificar radicalmente a nossa relação com o mundo. Havendo um novo espaço de comunicação, uma tecnologia que implique uma nova estruturação de pensamento, como acontece com as tecnologias de representação visual, a noção de arte envolverá novas percepções, novas formas de sentir, novas sensibilidades criando, assim, novos dados para a compreensão estética. Outra abordagem que merece consideração é descrita por Greene3 (apud Oliveira, S/D) que em vários campos das artes, temos assistido a um interesse crescente e continuado pelas novas tecnologias. Porém, no que diz respeito à sua divulgação, assiste-se a uma partilha de ideias de forma transversal a todas as culturas, podendo, no entanto, promover a massificação do gosto, e empobrecer a diversidade cultural. A Internet tem cumprido esta função divulgadora podendo, ao mesmo tempo, incluir-se no conceito de espaço público de exposição e permitindo a eliminação dos intermediários culturais entre os artistas e o público. Aí, embora de uma maneira um pouco caótica, poderemos encontrar muitas produções com características artísticas. Oliveira [s. d.] clarifica também que novas formas de arte implicam novas linguagens, novos comportamentos, novos conceitos, novas reflexões, cujo significado depende também da resposta do público espectador/fruidor, agora também chamado a participar, a ser interventor, uma vez que passa a estar diretamente envolvido em novas experiências. Experiências que este também modifica e interpreta através dos seus próprios critérios subjetivos. Para a mesma autora, na arte, os meios e os fins não devem separar-se. Porém, é possível, usando uma nova tecnologia, manter de alguma maneira a 2 Ver Philippe, Jean Marc, Ciência, Tecnologia, Ética e Arte Para Uma Nova Maneira de Perceber a Época e Sonhar a Condição Humana , in A Arte no Século XXI: humanização das tecnologias, Diana Domingues, Organizadora, São Paulo,,Fundação Editora da UNESP, 1997. 3 Ver Greene, Rachel, Internet Art , Thames and Hudson, World of Art, 2004. AN02FREV001/REV 4.0 50 subjetividade comunicativa. Isso depende da tecnologia usada, do domínio que se tem dela, do seu uso e também da intencionalidade da obra. Não sendo a tecnologia que faz a obra, pode condicionar o seu modo de expressão e ser um veículo de maior ou menor interatividade, de maior ou menor comunicação, dependendo do tipo de abordagem feita. FIM DO MÓDULO II
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