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SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 5 2. O TDAH E SUAS CAUSAS ............................................................................ 6 2.1 Características gerais ..................................................................................... 7 2.2 Fatores de risco e prognóstico do TDAH ...................................................... 10 3. DIAGNÓSTICO DO TDAH ........................................................................... 13 3.1 Diagnóstico e contexto histórico do TDAH ................................................... 13 3.2 O DSM-5 e os critério diagnóstico do TDAH ................................................ 17 4. TRATAMENTO DO TDAH ............................................................................ 19 4.1 Lei 14.254: acompanhamento escolar do TDAH .......................................... 22 5. TDAH E OUTROS TRANSTORNOS MENTAIS ........................................... 24 5.1 TDAH e transtorno opositor desafiante ......................................................... 25 5.2 TDAH e transtorno de ansiedade ................................................................. 26 5.3 TDAH e transtornos de humor ...................................................................... 26 5.4 Transtorno bipolar......................................................................................... 27 5.5 Transtorno depressivo maior ........................................................................ 27 5.6 TDAH e transtorno do espectro autista ......................................................... 27 6. CONVERSANDO SOBRE TDAH COM PACIENTES E SUAS FAMÍLIAS ... 28 6.1 Mito 1: O TDAH não é um transtorno real, todos têm um pouco disso! ........ 29 6.2 Mito 2: não existem anormalidades ou disfunções cerebrais no TDAH ........ 30 6.3 Mito 3: como pode uma criança que passa horas focada no videogame ter TDAH? Será que o TDAH não é apenas outra palavra para preguiça ou falta de vontade? .................................................................................................. 31 6.4 Mito 4: O TDAH é um transtorno causado por demandas da sociedade moderna ....................................................................................................... 33 6.5 Mito 5: Como meu filho tem TDAH se não é hiperativo? .............................. 34 6.6 Mito 6: O TDAH é culpa minha porque não dei disciplina o bastante para meu filho? 35 6.7 Mito 7: O TDAH ocorre apenas em crianças ................................................ 36 6.8 Mito 8: E sobre o futuro? meu filho terá TDAH para sempre? ...................... 36 6.9 Mito 9: As crianças com TDAH são menos inteligentes ............................... 37 6.10 Mito 10: As crianças que usam medicamento para TDAH são mais suscetíveis ao abuso de substâncias quando se tornam adolescentes .......................... 37 6.11 Como explicar o TDAH para as famílias? ..................................................... 38 7. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................. 40 1. INTRODUÇÃO Prezado aluno, O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em tempo hábil. Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que lhe convier para isso. A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser seguida e prazos definidos para as atividades. Bons estudos! 6 2. O TDAH E SUAS CAUSAS Fonte: https://www.telavita.com.br//blog/tdah/ A atenção é uma das funções superiores do ser humano, sendo considerada um dos componentes mais importantes do desenvolvimento cognitivo. Tem um papel fundamental na vida dos indivíduos, pois reflete a sua capacidade de selecionar e extrair o estímulo mais importante em um dado momento. Assim, pode-se ressaltar que a atenção está relacionada à qualidade com que os indivíduos desempenham as tarefas no seu dia a dia. O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é considerado um transtorno do neurodesenvolvimento, pois seus principais sintomas ocorrem ainda na infância. No TDAH, os sintomas são classificados em três categorias: desatenção, hiperatividade e impulsividade. Pode-se caracterizar o TDAH como um transtorno em que o indivíduo apresenta dificuldade no nível de atenção em relação ao que se espera para a sua idade. No contexto escolar, o TDAH interfere decisivamente no sucesso acadêmico das crianças e jovens. Pode-se perceber, também, atrasos no desenvolvimento motor de crianças com TDAH. Por outro lado, estudos têm demonstrado os benefícios dos programas de atividade física para os indivíduos com TDAH. Portanto, o planejamento de programas de intervenção focados no desenvolvimento motor, social e cognitivo de crianças é de suma importância. Tais programas melhoram a qualidade de vida dos 7 estudantes e contribuem para o manejo de comportamentos inadequados, o que é muito importante, já que o transtorno costuma acompanhá-los em outras fases da vida. 2.1 Características gerais O TDAH é identificado frequentemente durante os anos do ensino fundamental. A desatenção é o padrão de comportamento mais marcante e prejudicial. Na pré-escola, a principal manifestação é a hiperatividade. Nos anos iniciais da adolescência, o transtorno permanece estável, porém pode haver piora, como no caso de adolescentes que manifestam comportamentos antissociais. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM– 5), publicado em 2014, pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), nesse período, os sintomas de hiperatividade motora ficam menos evidentes, assim como na vida adulta. No entanto, os adolescentes podem apresentar comportamento mais inquieto ou ter sensação interna de nervosismo, inquietude ou impaciência; ademais, persistem dificuldades com planejamento, desatenção e impulsividade. Grande parte das pessoas com TDAH permanece relativamente prejudicada ao longo da vida (APA, 2014). O TDAH está́ relacionado ao baixo desempenho escolar e acadêmico. Geralmente, associa-se a ele um transtorno específico da aprendizagem. Nesse contexto, as crianças podem parecer desatentas devido a frustração, falta de interesse ou capacidade limitada. Os problemas de aprendizagem escolar relacionam-se aos sintomas elevados de desatenção, ao passo que a rejeição por colegas e as lesões acidentais (em menor grau) são mais acentuadas em padrões de comportamento hiperativo ou impulsivo (APA, 2014). Geralmente esse comportamento é mais frequente no sexo masculino, como uma proporção de cerca de 2:1 em relação ao sexo feminino na infância. O TDAH é um transtorno que se inicia no período do desenvolvimento, comumente antes de a criança ingressar na escola (APA, 2014). Ele é caracterizado por atrasos no desenvolvimento que acabam gerando prejuízos na aprendizagem escolar, no convívio social e familiar e na realização das atividades diárias. Sua prevalência é de 5% em crianças e 2,5% em adultos. OTDAH trata-se de um transtorno altamente hereditário e multifatorial: fatores genéticos 8 combinados a fatores ambientais constituem aspectos de risco para o seu surgimento (ROHDE et al., 2019; APA, 2014). É comum que o TDAH presente na infância persista na vida adulta, gerando prejuízos também em vários âmbitos da vida, como relacionamento, educação, finanças e trabalho. Esse transtorno pode aumentar o risco de acidentes, abuso de drogas e crimes, além de gerar outros problemas mentais e emocionais. De modo geral, os indivíduos com TDAH apresentam um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade. A seguir, veja como esse padrão se manifesta no TDAH: Desatenção: incapacidade de focar uma tarefa, falta de persistência, dificuldade de manter o foco, aparência de não ouvir, desorganização, perda de materiais em níveis inconsistentes com a idade ou o nível de desenvolvimento (APA, 2014). Hiperatividade: atividade motora excessiva quando não apropriado, inquietação, incapacidade de permanecer sentado, hábito de remexer, batucar ou conversar em excesso (APA, 2014). Impulsividade: intromissão em atividades de outros, incapacidade de aguardar, atitudes precipitadas, tomada de decisões importantes sem consideração às consequências a longo prazo. Esse comportamento pode ser decorrente do desejo de obter recompensas imediatas ou da incapacidade de postergar a gratificação (APA, 2014). De acordo com Barkley e Benton (2011), grande parte desses comportamentos pode ser compreendida a partir de três categorias: baixa inibição, baixo autocontrole e problemas nas funções executivas. Indivíduos com baixa inibição são aqueles que têm dificuldades de parar pelo tempo suficiente para pensar no que estão prestes a fazer. Sem essa pausa, não é possível exercer o autocontrole, que consiste em “[...] qualquer reação dirigida a si mesmo e a seu próprio comportamento provável que o levaria a fazer algo diferente daquilo que seu primeiro impulso diria” (BARKLEY; BENTON, 2011, p. 47). Já as funções executivas são as ações autodirecionadas específicas que os indivíduos utilizam para se controlar. Essas funções podem ser representadas pelas 9 habilidades de inibição, memória de trabalho, controle emocional, planejamento e atenção (BARKLEY; BENTON, 2011). Para os autores, as três condições estão inter- relacionadas: a baixa inibição conduz a um baixo autocontrole, e problemas com as funções cognitivas podem produzir problemas diferentes de autocontrole. Corroborando esses achados, Rohde et al. (2019) defendem que os déficits cognitivos são frequentemente parte do TDAH e incluem: problemas na função executiva e no processamento de recompensas, déficits de tempo, variabilidade do tempo de reação, diversos fatores de regulação atencional e orientação, problemas em processos perceptivos e na regulação da excitação. Apesar dos avanços em pesquisas, acredita-se que a compreensão que a neurobiologia tem do TDAH ainda é limitada. Na prática, alguns comportamentos/sintomas típicos em pessoas com TDAH podem ser agrupados nas três categorias mencionadas, conforme os resultados de décadas de estudos. Veja a seguir. Baixa inibição: o indivíduo tem dificuldade de esperar e tolerar, é impaciente e toma decisões impulsivamente. Ele faz comentários sem pensar e tem dificuldade de parar as atividades ou reprimir determinado comportamento quando deve fazê-lo. Baixo autocontrole: o indivíduo parece não conseguir esperar uma compensação ou adiar coisas que são imediatamente vantajosas, ou seja, tem dificuldades para trabalhar visando a um objetivo posterior. Tende a fazer as coisas sem considerar as suas consequências. Tende também a fugir da atividade prematuramente se ela é entediante, buscando fazer algo mais divertido. Inicia uma tarefa sem ler ou ouvir as instruções com atenção. Problemas nas funções executivas: o indivíduo tem pouca noção de tempo; esquece de fazer as coisas que deveria; não entende o que lê tão bem quanto é capaz, por isso necessita reler para captar o significado; fica facilmente frustrado (BARKLEY; BENTON, 2011). Tais condições causam sérios prejuízos em diversas áreas da vida das pessoas com TDAH. Elas precisam lidar, por exemplo, com: baixo manejo em relação ao tempo, ao planejamento e aos objetivos; baixas auto-organização, resolução de problemas e 1 0 memória operacional; baixa autodisciplina; baixa automotivação; baixas autoativação, concentração e prontidão (BARKLEY; BENTON, 2011). De acordo com Rohde et al. (2019), o TDAH está relacionado a outras comorbidades psiquiátricas, sendo que 70 a 80% dos indivíduos afetados têm pelo menos um outro transtorno, como transtorno de oposição desafiante, transtorno de ansiedade e dificuldades de aprendizagem (em crianças). Na vida adulta, são comuns transtornos por uso de substâncias e transtornos de ansiedade e humor. Além disso, os autores relatam que uma criança com TDAH é 10 vezes mais propensa a apresentar transtorno de conduta ou transtorno de oposição desafiante, bem como tem cinco vezes mais chances de desenvolver depressão e três vezes mais possibilidades de desenvolver transtorno de ansiedade. Além disso, atrasos no desenvolvimento motor e social e na linguagem não são específicos do TDAH, no entanto costumam ser comórbidos (APA, 2014). Na prática, crianças e adolescentes com TDAH comumente apresentam dificuldade para se manterem atentos em sala de aula. Eles costumam deixar tarefas escolares pela metade, cometem erros por não prestarem atenção aos detalhes e são desorganizadas com seu material. Além disso, estudantes com TDAH frequentemente exigem atenção extra dos professores e, no dia a dia, comumente têm dificuldades para seguir instruções (especialmente se essas instruções forem dadas em uma sequência) (LOUZÃ NETO, 2010). Especificamente nas aulas de educação física, espera-se que crianças com TDAH apresentem comprometimentos motores. Pesquisas estimam que crianças com TDAH podem apresentar déficits motores em 30 a 50% dos casos, principalmente nas áreas de motricidade fina, equilíbrio e organização temporal (GOULARDINS, 2010; POETA; ROSA NETO, 2005). 2.2 Fatores de risco e prognóstico do TDAH Durante décadas, pesquisas têm sido realizadas no intuito de desvendar as possíveis etiologias do TDAH. Atualmente, tanto os fatores genéticos quanto os riscos ambientais podem ser considerados causas do transtorno (ROHDE et al., 2019). No Quadro 1, a seguir, veja as principais causas genéticas e ambientais do TDAH de acordo com as pesquisas que vêm sendo realizadas. 1 1 Quadro 1. Causas genéticas e ambientais do TDAH CAUSAS GENÉTICAS CAUSAS AMBIENTAIS Aspectos gerais Há maior risco de desenvolver o TDAH quando mãe, pai ou irmãos apresentam o transtorno. Em gêmeos, há uma herdabilidade estimada em 74%. Exposição a toxinas, privação nutricional ou traumas A deficiência de ferro e zinco está associada ao TDAH, pois ambos são elementos essenciais para a produção de norepinefrina e dopamina no cérebro. Pacientes com TDAH apresentam maior chance de terem sido expostos ao chumbo. Complicações na gravidez e no parto (como privação de oxigênio) são fatores de risco associados ao TDAH. Bebês muito prematuros e/ou com peso muito baixo ao nascer têm até três vezes mais chances de desenvolver o TDAH no futuro. Filhos de mães que fumaram durante a gravidez têm um risco para TDAH aumentado em 2,4 vezes. Pessoas que sofreram lesões cerebrais traumáticas leves podem desenvolver TDAH. Crianças que viveram em orfanatos que ofereciam nutrição pobre e praticamente nenhum contato humano têm mais chances de desenvolver o transtorno. Genética molecular Há variantes do DNA associadas ao TDAH: genes do transportador de serotonina (5HTT), dotransportador de dopamina (DAT1), do receptor de dopamina D4 (DRD4), do receptor de dopamina D5 (DRD5), do receptor de serotonina 1B (HTR1B), além do gene codificante da proteína reguladora de vesícula sináptica, conhecido como SNAP25. 12 loci no genoma abrigam variantes que aumentam o risco de TDAH. O transtorno é poligênico; muitas variantes de DNA estão associadas ao risco do TDAH e representam cerca de um terço da herdabilidade. O risco genético para o TDAH é correlacionado ao risco genético para outras características, como obesidade e tabagismo, doença arterial coronariana e câncer de pulmão. Isso sugere que pessoas com TDAH têm maior risco de desenvolver essas doenças. Estressores psicossociais Relacionamento conflituoso dos pais, disfunções familiares, classe social baixa e baixa escolaridade da mãe são fatores que aumentam o risco de desenvolver TDAH. Fonte: Adaptado de Rohde et al. (2019). 1 2 Em suma, acredita-se que os genes e o ambiente atuam em conjunto para causar o transtorno. Nesse contexto, a interação entre gene e ambiente e a epigenética (paradigma que busca investigar a forma como o ambiente modifica o genoma e a expressão genética) são mecanismos que têm clara importância teórica no TDAH. Porém, novas pesquisas são necessárias para oferecer resultados conclusivos sobre a etiologia do TDAH (ROHDE et al., 2019). Deficiências visuais e auditivas, anormalidades metabólicas, deficiências nutricionais, transtornos do sono e epilepsia devem ser considerados possíveis fatores de risco para o TDAH. O TDAH também tem a ver com “[...] níveis menores de inibição comportamental, de controle à base de esforço ou de contenção, a afetividade negativa e/ou maior busca por novidades. Esses traços predispõem algumas crianças ao TDAH, embora não sejam específicos do transtorno” (APA, 2014, p. 62). Considere o seguinte: Não há marcador biológico que seja diagnóstico de TDAH. Como grupo, na comparação com pares, crianças com TDAH apresentam eletroencefalogramas com aumento de ondas lentas, volume encefálico total reduzido na ressonância magnética e, possivelmente, atraso na maturação cortical no sentido póstero- anterior, embora esses achados não sejam diagnósticos. Nos raros casos em que há uma causa genética conhecida (p. ex., síndrome do X-frágil, síndrome da deleção 22q11), a apresentação do TDAH ainda deve ser diagnosticada (APA, 2014, p. 61). Portanto, o TDAH deve ser considerado de uma perspectiva multifatorial, dado o conjunto de fatores de risco associados, bem como a diversidade dos seus sintomas. A seguir, você vai verificar como se dá o diagnóstico do TDAH a partir do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM–5). Fonte: https://educares.com.pt/ 1 3 3. DIAGNÓSTICO DO TDAH Fonte: http://dramichelleteixeira.com.br/ A principal característica do TDAH é um padrão persistente de desatenção e/ou hiperatividade-impulsividade que interfere no funcionamento ou no desenvolvimento do sujeito Um ponto de suma importância a se considerar no diagnóstico do TDAH é que os sintomas não se apresentam de forma isolada; eles se fazem presentes durante a trajetória de vida do indivíduo e prejudicam significativamente as suas atividades diárias, como as realizadas na escola e no ambiente familiar (APA, 2014). 3.1 Diagnóstico e contexto histórico do TDAH Crianças com sinais parecidos com o que hoje chamamos de TDAH foram observadas desde meados de 1900. Alguns médicos, como Alexander Crichton e George Still, começaram a perceber comportamentos diferentes em algumas crianças e se preocuparam em estudar mais a fundo os aspectos que levavam aquelas crianças a agirem de tal forma. O médico escocês Alexander Crichton foi o primeiro a descrever sintomas semelhantes aos que hoje consideramos sintomas de TDAH, como a dificuldade que as crianças tinham em prestar atenção a qualquer objeto, assim como dificuldades em atender às demandas escolares. No entanto, os estudos de Crichton não apresentaram a observação de sintomas relacionados à hiperatividade. 1 4 Em 1902, George Still, um pediatra inglês, começou a estudar crianças inquietas, impulsivas e desatentas. Após a epidemia de encefalite que ocorreu entre os anos de 1919 e 1920, muitos médicos pediatras perceberam o aumento no número de pacientes com sintomas hiperativos. A partir disso, com o aumento de estudos na área, começou- se a pensar que tais dificuldades apresentavam alguma conexão com lesões cerebrais, sendo enfatizada a importância do entendimento sobre os fatores neurológicos ligados a esses sintomas. Por isso, começaram a ser estudados os fármacos que poderiam ser úteis para controlar esses sintomas, como a benzedrina para reduzir a inquietude e melhorar a capacidade de concentração e motivação das crianças. Já na década de 1970, alguns estudos acabaram apontando, além da dificuldade de atenção, problemas para controlar os impulsos, como principais sintomas para essa síndrome (VALENÇA; NARDI, 2015). O CID-9 nomeou a síndrome que tinha essas características como Síndrome Hipercinética da Infância e descreveu os seguintes sintomas: curto período de atenção, distraibilidade, hiperatividade e extrema impulsividade, alterações do humor e agressividade. Foi apenas em 1980 que surgiu o termo transtorno de déficit de atenção (TDA) no DSM-III (APA, 1980). De acordo com o DSM-III, o TDA era classificado em dois tipos: com hiperatividade e sem hiperatividade, mas todos com componente atencional presente (APA, 1980). Já em 1987, foi lançado o DSM-III revisado, e todos os sintomas do transtorno foram considerados igualmente importantes. Surgiu, além disso, o novo termo: transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH). Nessa nova descrição, eliminou-se o subtipo “sem hiperatividade” e substitui-se pelo subtipo “indiferenciado” (APA, 1987). Os estudos sobre o transtorno foram avançando e suas definições também. Hoje, o TDAH é descrito no DSM-5, que apresenta uma lista de 18 sintomas: nove relacionados à desatenção, seis relacionados a hiperatividade, e três relacionados à impulsividade. Nessa nova versão, o termo “subtipo” foi retirado, optando-se por usar o termo “apresentação” (APA, 2014). Dessa forma, temos apresentação com predomínio da desatenção, apresentação com predomínio da hiperatividade/impulsividade e apresentação combinada (APA, 2014). Confira no Quadro 2 todos os critérios para o diagnóstico do TDAH de acordo com as recomendações do Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais (DSM-5), da Associação Americana de Psiquiatria (APA, 2014, p. 59-60): 1 5 Quadro 2. Critérios para o diagnóstico do TDAH DESATENÇÃO Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: frequentemente não presta atenção em detalhes ou comete erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades, como negligência, não atenção aos detalhes, trabalho impreciso; frequentemente tem dificuldade de manter a atenção em tarefas ou atividades lúdicas, como dificuldade de manter o foco durante aulas, conversas ou leituras prolongadas; frequentemente parece não escutar quando alguém lhe dirige a palavra diretamente, como parecer estar com a cabeça longe, mesmo na ausência de qualquer distração óbvia; frequentemente não segue instruções até o fim e não consegue terminar trabalhos escolares, tarefas ou deveres no local de trabalho, como começar as tarefas, mas rapidamente perder o foco e facilmente perder o rumo; frequentemente tem dificuldade para organizar tarefas e atividades, como dificuldade em gerenciar tarefas sequenciais, dificuldade em manter materiais e objetospessoais em ordem, apresentar trabalho desorganizado e desleixado, mau gerenciamento do tempo, dificuldade em cumprir prazos; frequentemente evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado, como trabalhos escolares ou lições de casa, preparo de relatórios, preenchimento de formulários, revisão de trabalhos longos; frequentemente perde coisas necessárias para tarefas ou atividades, como materiais escolares, lápis, livros, instrumentos, carteiras, chaves, documentos, óculos, celular; com frequência é facilmente distraído por estímulos externos, como por pensamentos não relacionados; com frequência se esquece de atividades cotidianas, como realizar tarefas e obrigações, retornar ligações, pagar contas, manter horários agendados. 1 6 HIPERATIVIDADE E IMPULSIVIDADE Seis (ou mais) dos seguintes sintomas persistem por pelo menos seis meses em um grau que é inconsistente com o nível do desenvolvimento e têm impacto negativo diretamente nas atividades sociais e acadêmicas/profissionais: frequentemente remexe ou batuca as mãos ou os pés ou se contorce na cadeira; frequentemente se levanta da cadeira em situações em que se espera que permaneça sentado, como sair do seu lugar em sala de aula, no escritório ou em outro local de trabalho ou em outras situações que exijam que se permaneça em um mesmo lugar; frequentemente corre ou sobe nas coisas em situações em que isso é inapropriado; com frequência é incapaz de brincar ou se envolver em atividades de lazer calmamente; com frequência apresenta muito agitação, agindo como se estivesse “com o motor ligado”, como se sentir desconfortável em ficar parado por muito tempo, por exemplo, em restaurantes e reuniões (outros podem ver o indivíduo como inquieto ou difícil de acompanhar); frequentemente fala demais; frequentemente deixa escapar uma resposta antes que a pergunta tenha sido concluída, como terminar frases dos outros, não conseguir aguardar a vez de falar; frequentemente tem dificuldade para esperar a sua vez, como aguardar em uma fila; frequentemente interrompe ou se intromete, como meter-se nas conversas, jogos ou atividades, começar a usar as coisas de outras pessoas sem pedir ou receber permissão, intrometer-se ou assumir o controle no que outros estão fazendo. Fonte: Adaptado de American Psychiatric Association (APA, 2014) 1 7 O contexto histórico científico do TDAH se faz importante para entender melhor como chegamos ao processo de diagnóstico que fazemos atualmente. É importante ressaltar que o diagnóstico do TDAH é essencialmente clínico, tendo apoio dos critérios de diagnóstico do DSM-5 que foram apresentados no Quadro 2. No entanto, alguns fatores podem estar influenciando o comportamento das crianças e devem ser considerados como fatores de risco para TDAH, tais como: mudança no ambiente familiar, grande número de crianças em sala de aula e o avanço tecnológico. Esses fatores podem influenciar para o diagnóstico de TDAH de forma precipitada. Por isso, é necessária uma avaliação ampla e multiprofissional. Deve-se ampliar a discussão sobre o diagnóstico do TDAH para além dos critérios clínicos apresentados no DSM-5, considerando os contextos histórico, social, familiar e cultural em que a criança está se desenvolvendo. Só assim será possível compreendermos o transtorno em sua completude e alinhar a melhor forma de intervenção para a criança (MEDEIROS et al., 2012). 3.2 O DSM-5 e os critério diagnóstico do TDAH Diagnosticar o transtorno em crianças e adolescentes exige identificar seis sintomas relacionados a cada subtipo ou aos dois (1 ou 2) por um período de seis meses. Tais sintomas ainda devem ter um grau que seja inconsistente com o nível do desenvolvimento e que cause prejuízos significativos às atividades sociais e escolares. Assim, de acordo com os critérios de cada uma das categorias, os indivíduos podem ser diagnosticados com base em três subtipos de TDAH. Veja a seguir. Apresentação combinada: tanto o critério A1 (desatenção) quanto o critério A2 (hiperatividade-impulsividade) são preenchidos nos últimos seis meses. Apresentação predominantemente desatenta: o critério A1 é preenchido, mas o critério A2 não é preenchido nos últimos seis meses. Apresentação predominantemente hiperativa/impulsiva: o critério A2 é preenchido, e o critério A1 não é preenchido nos últimos seis meses (APA, 2014). 1 8 Considere também o seguinte: No tipo predominantemente desatento, mais frequente no sexo feminino, observa- -se mais prejuízo na esfera de desempenho acadêmico e menos na socialização. Essas crianças podem ser levadas mais tardiamente a tratamento, por não “incomodarem” tanto. Já no tipo predominantemente hiperativo/impulsivo, há maior prejuízo na área social. Os indivíduos com esse subtipo sofrem mais rejeição pelos colegas e professores devido à impulsividade e à agressividade. Eles podem terminar rapidamente suas tarefas escolares e atrapalhar os demais alunos, mas não apresentar dificuldade no aprendizado. O tipo combinado leva a um prejuízo global e está mais associado a sintomas de oposição e conduta (LOUZÃ NETO, 2010, p. 148). O manual considera ainda que, para o diagnóstico, é importante especificar se o indivíduo se encontra em remissão parcial. Nesse caso, “[...] todos os critérios foram preenchidos no passado, nem todos os critérios foram preenchidos nos últimos 6 meses, e os sintomas ainda resultam em prejuízo no funcionamento social, acadêmico ou profissional” (APA, 2014, p. 60). Diferentemente do que ocorre no DSM–4, na versão 5, o TDAH pode ser classificado pela sua gravidade atual. Veja a seguir: TDAH leve: nenhum ou poucos sintomas além daqueles necessários para fazer o diagnóstico estão presentes, e os sintomas resultam em não mais do que pequenos prejuízos ao funcionamento social ou profissional. TDAH moderado: sintomas ou prejuízos funcionais entre “leves” e “graves” estão presentes. TDAH grave: muitos sintomas além daqueles necessários para fazer o diagnóstico estão presentes, ou vários sintomas particularmente graves estão presentes. Os sintomas podem resultar em prejuízo acentuado ao funcionamento social ou profissional (APA, 2014). O diagnóstico do TDAH é clínico, uma vez que não existem exames laboratoriais que comprovem tal distúrbio. Isso justifica a vulnerabilidade do diagnóstico e também a importância de o realizar criteriosamente. Afinal, qualquer criança pode facilmente receber o diagnóstico de TDAH e uma prescrição para tratamento medicamentoso. No âmbito escolar, os professores devem tomar cuidado para não “rotular” os estudantes como sujeitos com TDAH quando eles apresentarem características 1 9 mencionadas no DSM–5. O diagnóstico de TDAH é realizado quando há uma combinação específica de sintomas, nunca de forma isolada. Além disso, para realizar um diagnóstico preciso, é fundamental atentar às comorbidades, já que muitos sintomas do TDAH estão presentes em outros transtornos. Uma avaliação neuropsicológica, que utilize uma série de processo avaliativos além do DSM–5 (como entrevistas, análise comportamental e testes psicológicos), é fundamental para o diagnóstico correto do TDAH. Portanto, é interessante obter o parecer de uma equipe multidisciplinar, composta, por exemplo, por psicólogo, neurologista e psiquiatra (profissionais habilitados para diagnosticar o TDAH). Como você sabe, a escola é um lugar em que ocorre a identificação de comportamentos inadequados. Logo, os professores envolvidos na educação, quando notarem indícios significativos de TDAH, devem aconselhar os pais a encaminhar seus filhos a uma avaliação profissional especializada. Afinal, o diagnóstico preciso é essencial; ele deve levar em consideração os subtipos e o grau de prejuízo ao indivíduo,de modo a determinar o tratamento apropriado. 4. TRATAMENTO DO TDAH Fonte: https://www.saudeemdia.com.br/tag/tdah/ Na presente seção, serão apresentadas as principais formas de tratamento e intervenção para o TDAH. Para tanto, abordaremos o quadro clínico desse transtorno, sua principal apresentação neuropsicológica e, por fim, os métodos de tratamento considerados eficazes atualmente. O quadro do TDAH é caracterizado por alterações comportamentais significativas. O indivíduo vai apresentar fragilidade no componente atencional e terá dificuldades para 2 0 prestar atenção nos detalhes, tendo uma maior probabilidade de apresentar erros nas atividades escolares, bem como dificuldades para acompanhar instruções longas e para permanecer atento até o final da tarefa (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). Em relação ao perfil neuropsicológico do indivíduo, uma discussão ampla vem sendo o foco de muitos estudiosos. Algumas dificuldades relacionadas às funções executivas têm sido documentadas, principalmente nos componentes de planejamento, organização, flexibilidade cognitiva e controle inibitório. Além disso, também é comum que o sujeito apresente dificuldades relacionadas à memória de trabalho (operacional) (MEDEIROS, et al., 2012; ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). Além das dificuldades cognitivas, o indivíduo pode apresentar comportamento hiperativo, sendo observada atividade motora intensa durante a maior parte do tempo. Apresenta comportamento de agitar as mãos ou pés, remexer-se na cadeira, não conseguir permanecer sentado e falar muito. Já os comportamentos gerados pela impulsividade podem aparecer na dificuldade de aguardar a sua vez, responder à pergunta antes do término ou intrometer-se na conversa do outro (APA, 2014; ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). Após realizar o diagnóstico de TDAH, é importante deixar claro para o paciente e familiares que esse é um problema crônico e que o objetivo do tratamento não é curá-lo, mas melhorar sua qualidade de vida e ajudar a diminuir o sofrimento. Além disso, os tratamentos podem contribuir para reorganizar o seu comportamento e possibilitar um rendimento satisfatório no meio familiar, na escola e na sociedade (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). O diagnóstico e o tratamento devem ser realizados por uma equipe multidisciplinar. Cada tratamento deve ser planejado individualmente levando em consideração os sintomas predominantes, as comorbidades, o nível de desenvolvimento, sexo, idade, ambiente familiar e ambiente escolar. O tratamento farmacológico pode ser necessário. O que irá justificar o uso de medicamentos em crianças com TDAH é se há prejuízos no desempenho escolar e/ou dificuldades nos relacionamentos interpessoais. Vale ressaltar que o tratamento farmacológico se diferencia dependendo da presença ou não de comorbidades como as citadas anteriormente (BARBIRATO et al., 2015; ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). Quando há TDAH sem comorbidade, inicia-se o tratamento com psicoestimulantes com o objetivo de diminuir a impulsividade e a atividade motora, aumentar a vigilância, 2 1 melhorar o desempenho da memória e, consequentemente, os desempenhos acadêmico e social A prescrição dos fármacos, quando houver necessidade, deve ser realizada pelos neuropediatras e/ou psiquiatras (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). No tratamento do TDAH, os fármacos têm predominado. Nesse contexto, tem aumentado o número de medicamentos disponíveis no mercado, bem como o consumo desses medicamentos, principalmente nos Estados Unidos. Os medicamentos mais recomendados, de acordo com as diretrizes de diversos países, são os psicoestimulantes metilfenidato (Ritalina) e dimesilato de lisdexanfetamina. Já outros fármacos não estimulantes (por exemplo, atomoxetina e guanfacina) são considerados alternativas de tratamento (SANTOS; ALBUQUERQUE, 2019). Apesar das evidências da eficácia das intervenções farmacológicas, o uso de fármacos é recomendado apenas para crianças acima dos 6 anos. Isso ocorre porque as restrições ao uso desses medicamentos estão relacionadas a potenciais efeitos colaterais ou intolerância. Crianças em idade pré-escolar devem ser tratadas exclusivamente com terapias não farmacológicas. Nesse sentido, eleva-se a importância das intervenções escolares, principalmente por meio do movimento, foco da próxima seção (SANTOS; ALBUQUERQUE, 2019). Na prática, quando o psiquiatra considera o uso de medicamento para uma criança com TDAH, também realiza um exame completo das funções psíquicas e de saúde geral, como eletrocardiograma. O uso de fármacos faz parte de um plano de tratamento abrangente que inclui intervenções psicológicas, de comportamento, educacionais e de aconselhamento. Além disso, aconselhamento nutricional e exercícios regulares são recomendáveis (SANTA CATARINA, 2015). Confira no Quadro 3 os principais fármacos utilizados no tratamento do TDAH. Quadro 3. TDAH: tratamento farmacológico Fármacos Doses usadas em crianças Mentilfenidato 0,25–2 mg/kg/dia D-anfetamina 0,2–0,5 mg/kg/dia Imipramina 1–2 mg/kg/dia Pemoline 37,5 mg/kg/dia 2 2 Deanol 15–20 mg/kg/dia Nortriptilina 1–3 mg/kg/dia Amitriptilina 0,5–2 mg/kg/dia Clorimipramina 1–3 mg/kg/dia Fluoxetina 0,5–2 mg/kg/dia Bupropiona 1–5 mg/kg/dia Atomexetina 1,2–1,9 mg/kg/dia Fonte: Adaptado de Rotta, Ohlweiler e Riesgo (2016). É imprescindível que o tratamento farmacológico seja associado ao tratamento psicoterápico. O psicólogo pode contribuir no processo de adesão ao tratamento medicamentoso, além de apresentar intervenções associadas aos demais transtornos psiquiátricos, como ansiedade, depressão e bipolaridade. Além disso, deve haver intervenção com outros profissionais, como neuropsicólogos, professores e psicopedagogos. O intuito do acompanhamento com a equipe é repensar as estratégias de aprendizagem diante das dificuldades apresentadas pela criança. Por isso, esse acompanhamento deve ser pensado de forma individualizada. 4.1 Lei 14.254: acompanhamento escolar do TDAH Dentro do âmbito educacional, o TDAH tem sido acompanhado na perspectiva inclusiva mesmo que pela Lei de Inclusão de 2008, ele não esteja contemplado para oi Atendimento Educacional Especializado. A prática pedagógica, nesse sentido, implica envolvimento, reflexão, mudança de atitudes por parte dos profissionais. Significa estar aberto à construção de novos conhecimentos, buscando a melhor maneira de atender às necessidades educacionais desses alunos. A base para consolidação dessas mudanças é a formação continuada dos profissionais. A novidade legal para esse atendimento chego no ano de 2021, quando foi publicada a Lei 14.254. Por meio dessa lei se institui o acompanhamento integral para criança e jovens com dislexia, transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH) 2 3 ou com qualquer outro transtorno de aprendizagem. A seguir, apresentamos a Lei na integral: Art. 1º O poder público deve desenvolver e manter programa de acompanhamento integral para educandos com dislexia, Transtorno do Deficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou outro transtorno de aprendizagem. Parágrafo único. O acompanhamento integral previsto no caput deste artigo compreende a identificação precoce do transtorno, o encaminhamento do educando para diagnóstico, o apoio educacional na rede de ensino, bem como o apoio terapêutico especializado na rede de saúde. Art. 2º As escolas da educação básica das redes pública e privada, com o apoio da família e dos serviços de saúde existentes, devem garantir o cuidado e a proteção ao educando com dislexia, TDAH ou outro transtorno de aprendizagem, com vistas ao seu pleno desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, com auxílio das redes de proteção social existentes no território, de natureza governamental ou não governamental.Art. 3º Educandos com dislexia, TDAH ou outro transtorno de aprendizagem que apresentam alterações no desenvolvimento da leitura e da escrita, ou instabilidade na atenção, que repercutam na aprendizagem devem ter assegurado o acompanhamento específico direcionado à sua dificuldade, da forma mais precoce possível, pelos seus educadores no âmbito da escola na qual estão matriculados e podem contar com apoio e orientação da área de saúde, de assistência social e de outras políticas públicas existentes no território. Art. 4º Necessidades específicas no desenvolvimento do educando serão atendidas pelos profissionais da rede de ensino em parceria com profissionais da rede de saúde. Parágrafo único. Caso seja verificada a necessidade de intervenção terapêutica, esta deverá ser realizada em serviço de saúde em que seja possível a avaliação diagnóstica, com metas de acompanhamento por equipe multidisciplinar composta por profissionais necessários ao desempenho dessa abordagem. Art. 5º No âmbito do programa estabelecido no art. 1º desta Lei, os sistemas de ensino devem garantir aos professores da educação básica amplo acesso à informação, inclusive quanto aos encaminhamentos possíveis para atendimento multissetorial, e formação continuada para capacitá-los à identificação precoce dos sinais relacionados aos transtornos de aprendizagem ou ao TDAH, bem como para o atendimento educacional escolar dos educandos. Art. 6º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Ver tópico Brasília, 30 de novembro de 2021; 200º da Independência e 133º da República (BRASIL, 2021). A aprovação dessa Lei, contribue para oficializar e legalizar a identificação precoce do transtorno e o respectivo encaminhamento dos estudantes para que recebam o diagnóstico, bem como, o apoio educacional, seja na rede de ensino público ou privada, inclusive do apoio terapêutico especializado na rede de saúde. 2 4 5. TDAH E OUTROS TRANSTORNOS MENTAIS Fonte: https://saudementalatibaia.com.br/ Estima-se que o TDAH seja uma das principais fontes de encaminhamento das crianças em idade escolar para consultas com neuropediatras. Por muitas vezes, essa condição do neurodesenvolvimento é acompanhada de algum outro transtorno, seja de aprendizagem, seja psiquiátrico.O TDAH inicia na primeira infância e pode permanecer na idade adulta, ocorrendo em 10–60% dos casos Há, além disso, maior probabilidade de estar atrelado a outros transtornos mentais. (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). Sendo o TDAH o transtorno principal, os demais transtornos que apresentam manifestação comportamental junto aos sintomas do TDAH são considerados comorbidades clínicas. As mais comuns são os seguintes: transtorno de aprendizagem, transtorno opositor desafiador, transtorno da conduta, transtorno de ansiedade, transtornos de humor e transtorno relacionado ao abuso de substâncias (COSMO; SENA; ARAÚJO, 2015). Por isso, é importante que sejam realizados diagnósticos precisos, em relação tanto ao TDAH quanto à comorbidade que o indivíduo possa apresentar, para que o planejamento do manejo terapêutico consiga alcançar todas suas esferas e dificuldades (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). O Quadro 4 apresenta as principais comorbidades que podem ser encontradas no TDAH. Quadro 4: TDAH/ comorbidades 2 5 COMORBIDADE PREVALÊNCIA Transtorno de aprendizagem 19 a 26% dos casos Transtorno opositor desafiador Em torno de 60% dos casos Transtorno da conduta 30 a 50% dos casos Transtorno de ansiedade 25 a 40% dos casos Transtorno do humor 50% dos casos Abuso de substâncias 11,1% dos casos Fonte: Adaptado de Cosmo, Sena e Araújo (2015). De acordo com os estudos atuais sobre os transtornos, a apresentação clínica e sintomática de mais de um transtorno no indivíduo não tem ocorrência rara. Na verdade, a ocorrência de transtornos isolados, ou seja, sem comorbidades, é que não é tão comum. De fato, o transtorno de atenção mais prevalente em crianças em idade escolar é o TDAH. Por isso, é comum que essas crianças apresentem dificuldades de aprendizagem, já que o TDAH afeta o desenvolvimento de várias habilidades cognitivas, como atenção, memória, planejamento, autorregulação e controle inibitório. Sendo esse transtorno acompanhado de uma comorbidade, a dificuldade no desenvolvimento pode ser ainda maior (ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). Nas subseções seguintes, você vai acompanhar a relação do TDAH com diversos outros transtornos, entendendo como pode aparecer nas crianças em forma de comorbidades e compreender como ocorre um diagnóstico diferencial. 5.1 TDAH e transtorno opositor desafiante 2 6 O transtorno opositor desafiante (TOD) é caracterizado por apresentar padrões de oposição desafiantes na idade pré-escolar que se prolongam durante o ensino fundamental. As crianças desenvolvem relacionamentos difíceis com os professores, pais e outras figuras de autoridade. Além disso, o indivíduo pode apresentar humor instável, com irritabilidade fácil, podendo ter crises de raiva incontroláveis (COSMO; SENA; ARAÚJO, 2015; ROTTA; OHLWEILER; RIESGO, 2016). 5.2 TDAH e transtorno de ansiedade A associação do transtorno de ansiedade com o TDAH ocorre de uma forma bem específica. As crianças com TDAH e ansiedade tendem a apresentar pior desempenho escolar, pior autoestima e menor capacidade de memória de trabalho quando comparadas às crianças sem a comorbidade da ansiedade. Além disso, “[…] os sintomas de ansiedade parecem estar correlacionados com características clínicas menos impulsivas, mas não indicam menor interferência nas atividades cotidianas ou melhor prognóstico” (FERREIRA-GARCIA, 2015, p. 110). Para que seja possível um tratamento adequado diante desse quadro combinado, é importante que, na avaliação, sejam realizadas perguntas que remetam a situações que deixem a criança assustada, preocupada ou ansiosa em diversos contextos. É importante realizar entrevistas com os pais e professores da criança (FERREIRA- GARCIA, 2015). 5.3 TDAH e transtornos de humor Os transtornos de humor (THs) aparecem como comorbidades no TDAH em 50% dos casos, sendo mais comum os seguintes: transtorno depressivo maior, transtorno bipolar, transtorno ciclotímico e transtorno distímico. Apesar de ter uma ocorrência frequente, essas comorbidades, muitas vezes, são subestimadas. Isso ocorre porque, na maioria dos casos, não é realizado o diagnóstico preciso, e o indivíduo acaba sendo diagnosticado apenas com TDAH ou com algum dos THs. Isso dificulta o tratamento adequado para o caso (COSMO; SENA; ARAÚJO, 2015). 2 7 5.4 Transtorno bipolar O transtorno bipolar (TB) caracteriza-se por ser uma condição crônica em que ocorre um período de baixa do humor (depressão) e outro de elevação do humor (mania ou hipomania). Ocorre também a irritabilidade e o descontrole de impulsos diante de frustrações (APA, 2014). Entre TDAH e TB, temos alguns sintomas em comum, como falar em excesso, agitação, labilidade afetiva, distração e impulsividade. No entanto, é possível diferenciá- los, pois o indivíduo com TB pode apresentar humor elevado, grandiosidade, pensamento acelerado, diminuição da necessidade do sono (quando na mania ou na hipomania) e irritabilidade (quando na fase da depressão) (APA, 2014; COSMO; SENA; ARAÚJO, 2015). 5.5 Transtorno depressivo maior O transtorno depressivo maior (TDM) é uma condição em que o indivíduo apresenta diminuição do interesse em fazer as coisas, humor deprimido, perda ou ganho de peso, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga ou perda de energia e sentimentos de inutilidade ou culpa (APA, 2014). O TDM e o TDAH apresentam alguns sintomas em comum, como diminuição da atenção, da memória e concentração. Não há dúvidas de que as comorbidades psiquiátricas em doenças neurobiológicas sãoeventos comuns. Por isso, devem ser avaliadas com clareza, sendo complementares na avaliação da psiquiatria infantil à neuropediátrica (APA, 2014; COSMO; SENA; ARAÚJO, 2015). 5.6 TDAH e transtorno do espectro autista Cerca de metade das crianças com TEA tem problemas substanciais com desatenção ou hiperatividade e satisfariam os critérios para um diagnóstico de TDAH. A partir do DSM-5, em 2014, os clínicos podem diagnosticar e tratar os dois transtornos. Para algumas crianças, os problemas com hiperatividade e dificuldade na regulação do comportamento podem exacerbar as dificuldades sociais existentes, porque, com o tempo, os pares podem ficar frustrados e se afastarem de uma criança que é impulsiva 2 8 e hiperativa. Isso restringe ainda mais as oportunidades da criança com TEA de praticar e aprender habilidades sociais (BERNIER; DAWSON; NIGG, 2021). 6. CONVERSANDO SOBRE TDAH COM PACIENTES E SUAS FAMÍLIAS O transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) é um dos mais prevalentes e mais controversos transtornos mentais da infância. A literatura aponta 10 mitos e dúvidas mais frequentes sobre o transtorno, a saber: 1. O TDAH não é um transtorno real, todos têm um pouco disso! 2. Não existem anormalidades ou disfunções cerebrais no TDAH. 3. Como pode uma criança que passa horas focada no videogame ter TDAH? Será que o TDAH não é apenas outra palavra para preguiça ou falta de vontade? 4. O TDAH é um transtorno causado por demandas da sociedade moderna. 5. Como meu filho tem TDAH se não é hiperativo? 6. O TDAH é culpa minha porque não dei disciplina o bastante para meu filho? 7. O TDAH ocorre apenas em crianças. 8. E sobre o futuro? Meu filho terá TDAH para sempre? 9. As crianças com TDAH são menos inteligentes. 10. As crianças que usam medicamento para TDAH são mais suscetíveis ao abuso de substâncias quando se tornam adolescentes. 2 9 A literatura mostra que a conformidade com as recomendações médicas depende do entendimento claro do transtorno e dos riscos do tratamento e do não tratamento. Visto que pacientes com TDAH podem ter sintomas como esquecimento e impulsividade, bem como características de personalidade, como elevada tendência a assumir riscos, que interferem ainda mais na adesão ao tratamento, esclarecer suas dúvidas é essencial para a aceitação do manejo terapêutico. De outra forma, eles irão adquirir informações sobre o transtorno na internet e/ou na mídia leiga, que nem sempre retratam o TDAH de forma adequada Por isso, é necessário tirar dúvidas em relação aos mitos apresentados no início deste capítulo (ROHDE et al., 2019). 6.1 Mito 1: O TDAH não é um transtorno real, todos têm um pouco disso! Inúmeros autores, sobretudo de áreas como a psicologia social, afirmam que o TDAH não é um transtorno válido. Isso gera muita confusão, incerteza e medo para famílias que encaram o diagnóstico do transtorno pela primeira vez. Dados provenientes de neuroimagem e estudos genéticos indicam claramente que o TDAH é uma condição dimensional e não categórica. Uma condição categórica é aquela que ou está presente ou está ausente. Pode-se citar como exemplo uma infecção por bactéria, na qual ou há a infecção ou não há a infecção. Gravidez também é outra condição categórica, visto que ou ela está presente ou não está. Não há nada entre a presença da condição ou a ausência (ROHDE et al., 2019). Desatenção, hiperatividade e impulsividade estão distribuídas na população como um contínuo (assista ao vídeo indicado a seguir), assim como outras variáveis médicas, como pressão arterial, colesterol e níveis glicêmicos. Para definir a condição em uma dimensão, um ponto de corte é estabelecido, a partir do qual as chances de prejuízo aumentam. Pessoas com TDAH estão no final desse contínuo, em uma zona em que a intensidade dos sintomas está associada a prejuízo na vida – por exemplo, propensão a acidentes, gravidez não planejada ou doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) em adolescentes, maior fracasso acadêmico, entre outros. Todos temos um nível de pressão arterial, mas isso não torna a hipertensão, que é definida como pressão arterial acima de um limiar claramente associado a prejuízo, um distúrbio irreal! (ROHDE et al., 2019). 3 0 No contexto da saúde mental, existem inúmeros outros exemplos de transtornos dimensionais, como depressão, ansiedade social e ansiedade generalizada. De novo, o fato de a maioria das pessoas apresentar um certo nível de ansiedade de desempenho não justifica que aqueles com graus extremos e constantes de ansiedade de desempenho (com sintomas desencadeados por pequenos gatilhos e associados a outros sintomas, como insônia, tensão muscular e sofrimento emocional) não mereçam avaliação, diagnóstico e cuidado. Sendo assim, é sempre importante verificar se o limiar está definido em um ponto adequado e se pressões vindas da família, da sociedade ou de interesses privados (p. ex., da indústria farmacêutica) não estão influenciando o estabelecimento do ponto de corte (ROHDE et al., 2019). Finalmente, a definição de TDAH não é apenas baseada na gravidade dos sintomas que causam prejuízo, mas também em sua interferência em diferentes cenários de vida. Essa abordagem ajuda a diferenciar o TDAH de alguma condição resultante de reação a gatilhos específicos do ambiente, como a desatenção apenas no contexto de sala de aula em virtude de um método de ensino inadequado (ROHDE et al., 2019). 6.2 Mito 2: não existem anormalidades ou disfunções cerebrais no TDAH Provavelmente, o argumento mais citado contra a validade do TDAH é que a ciência nunca encontrou uma anormalidade cerebral presente em todos os indivíduos afetados pelo transtorno. Essa é uma assertiva verdadeira, porém usada de maneira errada. A ciência jamais irá encontrar uma anormalidade cerebral única em todos os indivíduos com TDAH. Eis o motivo: o TDAH é uma síndrome, o que significa que indivíduos com o transtorno têm diferentes perfis de sintomas em uma das duas dimensões que caracterizam essa psicopatologia, a desatenção e a hiperatividade/impulsividade. Em algumas populações, impulsividade e hiperatividade formam diferentes dimensões, o que leva a três dimensões e não duas (ROHDE et al., 2019). Chamamos esse fenômeno de heterogeneidade fenotípica, o que significa dizer que, assim como nem todos os seres humanos são iguais, nem todos os pacientes com TDAH apresentam os mesmos sintomas. Assim, temos algumas anormalidades cerebrais que são provavelmente relacionadas a um grupo específico de sintomas em cada uma das dimensões Sempre que um grupo de pacientes com TDAH realiza um 3 1 exame de imagem por ressonância magnética, diferenças são detectadas em seus cérebros em comparação a indivíduos sem o transtorno, porém as mesmas anormalidades cerebrais não estão presentes em todos os cérebros devido ao fenômeno da heterogeneidade fenotípica (ROHDE et al., 2019). A respeito das diferenças entre indivíduos com TDAH e pessoas em desenvolvimento típico, na Holanda, um grupo de pesquisadores recentemente publicou uma análise comparando mais de 1.700 imagens cerebrais de pessoas com o transtorno com cerca de 1.500 imagens cerebrais de indivíduos sem TDAH. Esses pesquisadores mostraram que inúmeras áreas cerebrais foram diferentes em indivíduos com TDAH como grupo. Para sermos mais específicos, os volumes de várias partes do cérebro, como o nucleus accumbens, a amígdala, o núcleo caudado, o hipocampo, o putame e o volume cerebral total eram menores em indivíduos com TDAH em comparação aos controles (ROHDE et al., 2019). Finalmente, é sempre importante lembrar que, se a ausência de uma anormalidade cerebral única em todos os indivíduos com TDAH é um argumento válido para excluir essa condição do “hall de transtornos psiquiátricos”, deveríamos excluir todosos demais transtornos mentais também. Não existe uma anormalidade cerebral unitária em pacientes com autismo, esquizofrenia, depressão, transtorno bipolar, demência ou transtornos de ansiedade (ROHDE et al., 2019). 6.3 Mito 3: como pode uma criança que passa horas focada no videogame ter TDAH? Será que o TDAH não é apenas outra palavra para preguiça ou falta de vontade? A habilidade de focar a atenção e inibir uma ação é fortemente modulada pela motivação. Assim, quase todos, inclusive a maioria das pessoas com TDAH, podem prestar atenção por até longos períodos de tempo quando fortemente motivados. Nosso entendimento atual sobre os mecanismos cerebrais indica que áreas do cérebro relacionadas com a atenção e a habilidade de orquestrar a execução de funções são irrigadas por uma substância excitatória, chamada dopamina, em situações de motivação. Quando estão jogando videogame ou em outras situações altamente motivacionais, indivíduos com TDAH podem se concentrar muito bem na atividade que estão desempenhando (ROHDE et al., 2019). 3 2 O problema no TDAH é a habilidade de focar ou inibir respostas motoras ou movimentos nas atividades do dia a dia, em que os níveis de estimulação não são altos o suficiente para manter o cérebro ativado. Uma criança de 10 anos em desenvolvimento típico pode prestar atenção em sala de aula mesmo quando o tópico não é incrivelmente interessante. Em outras palavras, seu padrão de mecanismo cerebral associado à atenção não necessita de um estado de alta energia para operar, embora ele deva operar de forma ainda melhor quando estimulado mais intensamente. Indivíduos com TDAH não alcançam níveis energéticos para executar funções sem uma motivação moderada ou alta, devido a estrutura cerebral prejudicada, disfunção e/ou desequilíbrio de neurotransmissores (ROHDE et al., 2019). O mais importante, visto que esses mecanismos não podem ser voluntariamente ligados, é que não estamos lidando com uma questão de força de vontade. A ideia de que indivíduos com TDAH devam apenas se esforçar mais pode ser comparada à situação de se pedir a alguém com baixa acuidade visual que se esforce mais para enxergar melhor. Outro aspecto que corrobora essa impressão familiar de que o TDAH é um problema de falta de vontade é que pessoas com o transtorno provavelmente melhoram sob algum nível ideal de estresse. Dessa forma, não é incomum crianças com hiperatividade ficarem paradas no consultório médico durante uma consulta ou adolescentes com desatenção extrema se focarem nos estudos no final de um ano escolar (ROHDE et al., 2019). Inúmeros estudos documentaram que um nível ideal de ativação/estresse ajuda o córtex pré-frontal a trabalhar melhor devido à descarga cerebral de uma substância conhecida como norepinefrina. Mais uma vez, sob essas circunstâncias, indivíduos com TDAH podem atingir o limiar energético necessário para executar tarefas que não poderiam realizar sob condições corriqueiras. Por essa razão, não podemos excluir o diagnóstico de TDAH apenas com base na falta de hiperatividade/impulsividade ou desatenção da criança dentro do consultório (ROHDE et al., 2019). Dito isso, é importante reconhecer que algum nível de esforço é sempre necessário para superar obstáculos impostos pelo transtorno. Mesmo que o mecanismo cerebral prejudicado possa ser melhorado com o uso de medicamentos, ainda assim um nível de esforço será necessário (ROHDE et al., 2019). 3 3 6.4 Mito 4: O TDAH é um transtorno causado por demandas da sociedade moderna Nas últimas 2 ou 3 décadas, foi acumulado conhecimento suficiente para indicar claramente que o TDAH atinge famílias e que a genética tem papel crucial em sua transmissão. Hoje, conta-se com dados de pesquisa suficientes para indicar, inclusive, a primeira sequência de ácido desoxirribonucleico (DNA) responsável por uma pequena parte dessa suscetibilidade genética. Assim, a evidência de um transtorno com base na genética contrapõe a ideia de uma psicopatologia causada por demandas da sociedade moderna. Além disso, a literatura médica atesta que o que chamamos, hoje, de TDAH existe desde o início do século passado, e relatos de apresentações clínicas similares ao TDAH podem ser encontradas em escritos da Grécia antiga (ROHDE et al., 2019). Um dos mais citados estudos de toda a literatura referente ao TDAH avaliou mais de cem publicações que abordaram a frequência do transtorno em países de todos os continentes. O principal achado mostrou que tanto a frequência do transtorno é similar em países culturalmente muito diferentes como a prevalência não é diferente entre países da América do Norte e da Europa, reforçando a ideia de que cultura não causa o transtorno (ROHDE et al., 2019). Uma variante desse mito é a de que a frequência do transtorno vem aumentando na população nas últimas décadas devido a modificações na sociedade, a qual está focada basicamente no desempenho. Uma grande revisão da literatura (mais de 130 estudos), referente à frequência do TDAH ao longo das últimas três décadas, documentou claramente que não há aumento nas taxas do transtorno nas amostras populacionais ao redor do mundo nesse período. Recentemente, autores suecos replicaram o mesmo achado em uma população de mais de 19.200 gêmeos avaliados aos 9 anos de idade de 2004 a 2014 (ROHDE et al., 2019). Contudo, é importante notar que o entendimento moderno dos transtornos mentais sugere que eles são determinados pela interação entre genes e ambiente. Por isso, o meio desempenha um papel na manifestação dos sintomas de TDAH. Dessa forma, um indivíduo com forte predisposição genética para o transtorno provavelmente apresentará sintomas independentemente do ambiente, enquanto pessoas com baixa predisposição genética para o transtorno não exibirão sintomas mesmo em ambientes muito exigentes. 3 4 As exigências do ambiente podem ser mais relevantes para os indivíduos no meio- termo entre esses dois extremos. Assim, a demanda ocidental de maior controle inibitório, planejamento e foco para ser bem-sucedido não é a causa do transtorno, mas pode ser um gatilho para os sintomas de TDAH naqueles com vulnerabilidade genética, enquanto um ambiente de suporte pode atenuar a predisposição genética (ROHDE et al., 2019). 6.5 Mito 5: Como meu filho tem TDAH se não é hiperativo? As pessoas tendem a associar o TDAH com o estereótipo de um menino que nunca para. Entretanto, como discutido no primeiro capítulo, o TDAH é composto por sintomas em uma das duas dimensões: desatenção e/ou hiperatividade/impulsividade. Assim, enquanto alguns indivíduos podem ter predominantemente sintomas de hiperatividade, outros apresentam predominantemente sintomas de desatenção, e ainda há aqueles com sintomas de ambas as dimensões (ROHDE et al., 2019). Crianças na pré-escola tendem a apresentar mais sintomas de hiperatividade, visto que demandas de atenção não são tão relevantes. Nas crianças em idade escolar, vemos mais frequentemente a combinação de sintomas das duas dimensões. A hiperatividade tende a diminuir ao longo do desenvolvimento. Portanto, uma criança que foi extremamente hiperativa/impulsiva em idade pré-escolar pode se apresentar com uma combinação de problemas de atenção e hiperatividade na idade escolar e, em seguida, acabar como um adolescente/adulto jovem com desatenção e déficits executivos (ROHDE et al., 2019). Curiosamente, existe um efeito do sexo na manifestação dos sintomas. Meninas costumam apresentar mais sintomas de desatenção do que de hiperatividade. Meninos tendem a manifestar mais sintomas de hiperatividade ou um perfil combinado de sintomas. Já que sintomas de hiperatividade e impulsividade tendem a causar prejuízos mais visíveis, o TDAH costuma ser mais reconhecido em indivíduos do sexo masculino (ROHDE et al., 2019). Uma dúvida comum apresentada pelos paisé como sintomas tão diferentes como desatenção e hiperatividade podem fazer parte de um mesmo transtorno. Os mecanismos cerebrais relacionados ao transtorno sugerem que déficits de controles inibitórios são essenciais, embora não sejam os únicos. Assim, se as áreas cerebrais responsáveis por “nossos freios” (i. e., córtex pré-frontal e áreas associadas) estão 3 5 prejudicadas ou imaturas no TDAH, é fácil entender que pessoas com o transtorno vão ser mais impulsivas e ativas. Mas como a desatenção está relacionada a déficits inibitórios? Para focar a atenção na questão mais importante em determinado momento, como um professor durante a aula, as pessoas precisam inibir muitos outros estímulos do ambiente que competem pela atenção, como um colega de classe se mexendo na cadeira ou um carro buzinando na rua. Até mesmo pensamentos internos (p. ex., o que fazer a seguir) estão constantemente competindo por nossa atenção (ROHDE et al., 2019). Dessa forma, as habilidades inibitórias são essenciais para focar a atenção em apenas um estímulo. Uma hipótese atual é que entre os inúmeros genes que conferem suscetibilidade para TDAH, grupos deles seriam relacionados com déficits de controles inibitórios ou déficits em funções executivas. Esses genes iriam interagir, por mecanismos ainda não compreendidos, com outro grupo de genes que poderia ser responsável pelo tipo de constelação de sintomas manifestado (ROHDE et al., 2019). 6.6 Mito 6: O TDAH é culpa minha porque não dei disciplina o bastante para meu filho? Como pais, temos o sentimento de culpa por tudo aquilo que acontece com nossos filhos. No passado, profissionais da área da saúde mental ajudavam a tornar essa situação ainda pior, culpando mães por tudo o que acontecia com seus filhos, de mau comportamento a autismo e esquizofrenia (ROHDE et al., 2019). O TDAH é um transtorno causado pela interação entre genes e ambiente, que prejudica o desenvolvimento/a maturação normal de algumas áreas cerebrais e/ou suas comunicações. Essa ideia de que pais causam TDAH é uma variação daquela já discutida de que o ambiente moderno produz o transtorno. Entretanto, como já dito sobre o ambiente, a parentalidade pode atenuar ou acentuar a força dos genes que conferem suscetibilidade para o transtorno (ROHDE et al., 2019). Um problema adicional frequente aqui é que o TDAH tem transmissão familiar. Assim, não é incomum ver que um ou ambos os pais também têm o transtorno ou manifestaram a síndrome completa no passado, apresentando ainda sintomas atenuados no presente. Algumas pesquisas apontam que por volta de 30% das famílias que procuram avaliação para TDAH em seus filhos têm pelo menos um dos pais com o 3 6 transtorno. Nesse caso, pode ser mais difícil para esses pais proporcionarem um ambiente mais estruturado para seus filhos com TDAH. Assim, pediatras e profissionais da área da saúde mental que lidam com crianças com o transtorno devem sempre rastrear a presença de TDAH nos pais. Da mesma forma, profissionais da área da saúde mental que tratam adultos com diagnóstico positivo de TDAH devem investigar a presença do transtorno em seus descendentes (ROHDE et al., 2019). 6.7 Mito 7: O TDAH ocorre apenas em crianças Há três décadas, existia uma crença de que o TDAH era um transtorno da infância e que as modificações biológicas associadas com a puberdade permitiriam a superação do transtorno pelas crianças. Pesquisas ao redor do mundo demonstraram que o TDAH pode ser detectado em adolescentes e em adultos, sendo que as taxas de prevalência na vida adulta são em torno de 2,8% (ROHDE et al., 2019). Geralmente, a apresentação clínica é diferente em adultos quando comparados a crianças, com proeminência de sintomas de desatenção e déficits em funções executivas, que determinam sintomas como procrastinação. Impulsividade e perturbações na regulação emocional podem ser mais importantes do que a hiperatividade. Essa diferença em apresentação clínica nos adultos é agora reconhecida nos critérios diagnósticos para o transtorno. O DSM-5 sugere um limiar mais baixo de sintomas de desatenção e de hiperatividade/impulsividade necessário para estabelecer o diagnóstico de TDAH em adultos do que em crianças (ROHDE et al., 2019). 6.8 Mito 8: E sobre o futuro? meu filho terá TDAH para sempre? Embora não haja consenso na taxa exata de persistência de TDAH da infância para a vida adulta, um grupo significativo de crianças com TDAH vai continuar apresentando sintomas e prejuízos ao longo da vida. Alguns estudos sugerem uma taxa de aproximadamente 50%. Sabemos que a persistência depende de como o transtorno é definido na vida adulta (presença da síndrome completa, sintomas parciais ou apenas prejuízo) (ROHDE et al., 2019). 3 7 Uma pesquisa recente sugere que a persistência da síndrome de TDAH completa na vida adulta depende de inúmeros fatores, como severidade dos sintomas na infância, presença de comorbidades mentais na infância e transtornos mentais nos pais, por exemplo, depressão. Sendo assim, é importante reconhecer que há uma proporção significativa de crianças com TDAH que se tornam adultos sem o transtorno. Isso provavelmente está relacionado à maturação de áreas cerebrais associadas ao transtorno (ROHDE et al., 2019). 6.9 Mito 9: As crianças com TDAH são menos inteligentes Esse é um estigma muito enfrentado por pessoas com TDAH. Devido à interferência dos sintomas de TDAH nas conquistas acadêmicas, indivíduos afetados frequentemente têm a percepção de que não são inteligentes. Não existem evidências de que o TDAH está relacionado à inteligência. Visto que a avaliação das funções executivas e da memória de trabalho é parte de algumas análises de quociente de inteligência (QI) e que essas funções neuropsicológicas são afetadas pelo TDAH, os resultados de tais testes podem ser falhos ao estimarem um potencial QI mais baixo que o real. Pessoas com TDAH podem apresentar problemas cognitivos, um QI médio e alta capacidade cognitiva (ROHDE et al., 2019). 6.10 Mito 10: As crianças que usam medicamento para TDAH são mais suscetíveis ao abuso de substâncias quando se tornam adolescentes Atualmente não está claro se o TDAH em si aumenta o risco de abuso/dependência de substâncias ou se o risco está associado a alguns transtornos que acompanham o TDAH, como o transtorno da conduta. Ao mesmo tempo, ainda é controverso se o tratamento do TDAH com medicamento pode de fato diminuir o risco futuro de abuso ou dependência de substâncias, visto que nenhum dado longitudinal sugere que pessoas com o transtorno tratadas com medicamento apresentem maior risco de desenvolver problemas de uso de substâncias que pessoas com TDAH não tratadas com medicamento (ROHDE et al., 2019). 3 8 Entretanto, embora tenhamos evidência substancial de que o tratamento medicamentoso traz benefícios agudos em desfechos primordiais, como diminuição de acidentes, aumento das notas em teste acadêmicos, menores taxas de gravidez e DSTs em adolescentes e redução de mortalidade, ganhos claros em longo prazo decorrentes de tratamento farmacológico e intervenções não farmacológicas ainda precisam ser demonstrados (ROHDE et al., 2019). 6.11 Como explicar o TDAH para as famílias? Fonte: https://www.coc.com.br/ Após o processo de avaliação, considerando que temos evidências suficientes a partir do perfil descrito dos sintomas, da história médica e de desenvolvimento e da história familiar do paciente (criança ou adulto) para o diagnóstico do transtorno, precisamos discutir o TDAH com o paciente e/ou sua família. O ponto de partida é perguntar ao paciente e/ou a seus pais/sua família o que entendem a respeito do transtorno. Esse é um estágio importante, pois permite o reconhecimento e a discussão de algumas questões descritas anteriormente sobre o TDAH, já que são parte da culturae dos valores do paciente/da família (ROHDE et al., 2019). Geralmente, se inicia explicando que não existe marcador biológico para o TDAH, assim como não há para qualquer outro transtorno mental. Portanto, o diagnóstico se baseia na avaliação clínica. Após, descrevemos o TDAH como um transtorno 3 9 dimensional, fazendo analogias com condições médicas, por exemplo, hipertensão, diabetes e hipercolesterolemia. Essa abordagem inicial é relevante para informar ao paciente o motivo pelo qual uma neuroimagem sofisticada ou até mesmo um simples eletroencefalograma (EEG) não serão necessários para o processo diagnóstico ou para conectar o TDAH às condições médicas (ROHDE et al., 2019). Em tal estágio, revisamos com o paciente os dados dos sintomas relatados durante a entrevista clínica ou coletados em escalas com pais/família/escola, assim como informações a respeito de história médica, de desenvolvimento e familiar que corroboram a hipótese clínica de TDAH (ROHDE et al., 2019). Partimos, então, para caracterizar o TDAH. Afirmamos que se trata de um transtorno do desenvolvimento cerebral causado pela interação entre os genes e fatores ambientais. Analogias com condições médicas, como asma e gastrite, podem ajudar nesse momento. Indivíduos com predisposição para asma, quando passam por modificações no clima ou encaram aumento de alérgenos no ambiente, podem ter crises asmáticas. Essa abordagem auxilia as famílias a entender que, apesar de o TDAH ser um transtorno biológico, sua ação pode atenuar ou acentuar os sintomas. Isso pode ser importante para motivá-las em futuras intervenções de treinamento de pais (ROHDE et al., 2019). Então, descrevemos o TDAH como uma imaturidade ou desregulação química das áreas cerebrais responsáveis por “nossos freios” e por coordenar nossa capacidade de planejar e executar ações. Localizamos essas áreas na parte frontal do cérebro, enfatizando que a compreensão moderna do cérebro sugere que sua função é muito mais dependente da interação entre as diversas áreas cerebrais do que de uma área isolada (ROHDE et al., 2019). Diferentes analogias podem ajudar, como a do óleo de freio, na qual uma desregulação desse fluido produz falha no funcionamento dos freios, não permitindo que trabalhem adequadamente. Então, apresentamos a ideia de como uma falha no sistema de freio pode determinar sintomas tão diferentes quanto desatenção e hiperatividade, conforme já discutido. Outra analogia interessante é entre o maestro de uma orquestra e a área frontal do cérebro. Se a área frontal, que age como maestro de outras áreas (músicos), não funciona de modo adequado pela imaturidade ou desregulação química, a orquestra (cérebro) não tocará de forma devida, independentemente de quão bons os músicos 4 0 sejam individualmente (ou do quão intactas estejam as demais áreas cerebrais) (ROHDE et al., 2019). Embora possa ser visto como um processo que exige tempo nas consultas de atendimento primário ou em consultórios pediátricos, ele é essencial para criar um entendimento inicial a respeito do TDAH e para propiciar conformidade com qualquer plano de manejo proposto em um transtorno no qual a adesão ao tratamento é um dos maiores problemas, como já mencionado. Essa conversa não precisa se estender por mais do que 10 a 15 minutos (ROHDE et al., 2019). Fonte: https://www.remaza.com.br/ 7. BIBLIOGRAFIA APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-III. Porto Alegre: Artmed, 1980. APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-III-R. Porto Alegre: Artmed, 1987. APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. https://www.remaza.com.br/ 4 1 BARBIRATO, F. et al. Tratamento farmacológico com estimulantes no transtorno de déficit de atenção/hiperatividade. In: NARDI, A. E.; QUEVEDO, J.; SILVA, A. G. 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