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MOISÉS MOREIRA LOPES ATM24 FURG 1 Anticonvulsivantes Considerações gerais Epilepsia Distúrbio neurológico que se caracteriza por uma atividade excessiva anormal das células cerebrais, podendo causar convulsões. Nessas situações, há excesso de moléculas excitatórias (como sódio, cálcio e glutamato) e carência de moléculas inibitórias (GABA, cloreto e potássio), causando uma estimulação exagerada do cérebro sobre outras estruturas do corpo. Existem vários tipos de crises epiléticas, e qual delas o paciente irá apresentar depende da parte do cérebro afetada. Ocorrência periódica e imprevisível. Convulsões Manifestações motoras e características da epilepsia. São sinais de um dos tipos de crise epilética: contrações involuntárias dos músculos de início súbito e duração variável. Acontece quando o córtex motor está afetado e há estimulação exagerada dos músculos. Causas • Causas primárias: Anormalidades genéticas (ex: defeitos nos canais iônicos) • Causas secundárias: Trauma, acidente vascular cerebral, infecção e crescimento tumoral. Muitas vezes, a causa é tanto primária como secundária. Ex.: convulsões febris em crianças (genética + infecção). No entanto, em muitos casos a etiologia é desconhecida. Tipos de epilepsia (classificação clínica) • Crise focal ou parcial: O distúrbio se limita a uma área do cérebro (mas pode se propagar); • Crise generalizada: Surge de regiões centrais do cérebro e se propaga para ambos os hemisférios, envolvendo todo o cérebro. Perda imediata da consciência. É importante diagnosticar se é focal ou generalizada, pois o tipo de epilepsia determina o tipo de medicação. Tipos de crise • Crises focais ou parciais: o Crises parciais simples: Não altera a consciência do indivíduo; ▪ Pode haver convulsão ou formigamento de um membro, além de movimentos descontrolados de uma parte do corpo (distúrbios motores). MOISÉS MOREIRA LOPES ATM24 FURG 2 o Crises parciais complexas: O indivíduo perde a consciência, ficando confuso ou fazendo gestos automáticos, como mastigação ou continuar o que estava fazendo. o Crises parciais com generalização secundária: O distúrbio se inicia em uma parte do cérebro e, posteriormente, atinge todo o mesmo. • Crises generalizadas: o Crises de ausência: É conhecida como “desligamento”, pois a pessoa fica com o olhar fixo e perde o contato com o meio por alguns segundos, como se estivesse desligada. Estado catatônico: Não responde a estímulos do meio, mas não perde a sensibilidade. o Crises tônico-clônicas: As mais comumente encontradas na prática clínica. Quadro em que o paciente perde a consciência e há alternância das fases tônica (movimento típico para trás do globo ocular e toda musculatura apresenta contração tônica) e clônica (contrações rítmicas seguidas de relaxamento dos grupos musculares) o Convulsão mioclônica: Mioclonias são definidas como contrações musculares simétricas e breves, com perda do tono muscular e quedas ou projeção do corpo do paciente para frente, causando, muitas vezes, traumatismo de face. Podem se assemelhar a “choques”. OBS! Aura: alerta consciente da propagação da convulsão. Olhar fixo e perplexo, distúrbios visuais. É específica para cada paciente: sensação de medo, confusão, distúrbios de memória, sensações alteradas, distúrbios olfativos. Presente nas crises parciais complexas (com alteração do estado mental) e nas parciais com generalização secundária. OBS! Estado epilético (status epilepticus): É uma crise epilética com duração maior ou igual a 30 minutos, ou repetidas crises de duração menor sem recuperação da consciência entre as crises. Qualquer tipo de crise epilética pode evoluir para o estado epilético (inclusive crise de ausência). São mais frequentes em crianças e apresentam maior potencial de complicações sistêmicas e do SNC. Fármacos anticonvulsivantes A causa das epilepsias é a atividade neuronal excessiva, ou seja, há muita transmissão sináptica. Dessa forma, o mecanismo dos anticonvulsivantes é diminuir a transmissão sináptica. A maioria dos fármacos anticonvulsivantes atua de modo pleiotrópico, isto é, são capazes de agir em mais um local de ação. OBS! Mecanismos dos fármacos anticonvulsivantes: • Bloqueio dos canais de sódio → não há despolarização dos neurônios → diminuição da transmissão sináptica → anticonvulsivante • Bloqueio dos canais de cálcio → não há liberação de neurotransmissor pelas vesículas sinápticas → diminuição da transmissão sináptica → anticonvulsivante MOISÉS MOREIRA LOPES ATM24 FURG 3 • Potencialização da ação do GABA → GABA é um neurotransmissor inibitório → se liga ao receptor pós-sináptico → abre canais aniônicos → hiperpolarização → diminuição da transmissão sináptica → anticonvulsivante OBS! Neurotransmissores excitatórios e inibitórios • Excitatórios: abrem os canais catiônicos, que permitem a entrada de cargas positivas na célula, o que é preciso acontecer para haver transmissão sináptica (portanto, estimulam a transmissão sináptica) • Inibitórios: abrem os canais aniônicos, que permitem a entrada de cargas negativas na célula, como o potássio e cloreto. A entrada de cargas negativas hiperpolariza o neurônio, o que dificulta a sua despolarização e, portanto, dificulta a transmissão sináptica. Inibidores da função de canais de Na+ • Representantes: Carbamazepina, Carbamazepina e Lamotrigina; • Mecanismo de ação: Bloqueio na excitação dos neurônios que estão disparando repetitivamente. o Ligam-se aos canais de sódio no estado inativado e diminuem a velocidade de recuperação dos canais (aumenta o limiar para os potenciais de ação e impede a descarga repetitiva); o Cascata de ação: 1. A abertura de canais de Na+ causada pela despolarização de um neurônio é necessária para gerar um potencial de ação; 2. Depois de abertos, os canais fecham- se espontaneamente –processo chamado de inativação; 3. Durante esse período de inativação ocorre um período refratário, intervalo depois de um potencial de ação no qual é impossível gerar um novo potencial de ação; 4. Com a recuperação da inativação para o estado fechado, os canais de Na+ ficam prontos para realização de um novo potencial de ação; 5. A redução da taxa de recuperação desses canais do seu estado inativo limita a capacidade do neurônio de gerar novos potenciais de ação e esse é o mecanismo de muitos fármacos. • Fenitoína: Também conhecido como difenildantoína o Características: ▪ Alta taxa de ligação à proteínas plasmáticas (pode competir com o valproato MOISÉS MOREIRA LOPES ATM24 FURG 4 o Principais indicações: ▪ Crises tônico clônicas e focais em crianças, adolescentes e adultos ▪ Prevenção e tratamento de crises epilépticas durante ou após procedimento neurocirúrgico. o Contraindicações: ▪ Crises de ausência estudos indicam que pode piorar as crises o Efeitos adversos: ▪ Ataxia (falta de coordenação de movimentos musculares), letargia, sedação e encefalopatia (dose dependentes); ▪ Hiperplasia gengival (alteração do metabolismo do colágeno) e hirsutismo; ▪ Anormalidades no metabolismo da vitamina D; ▪ Reações de Hipersensibilidade; o Interações medicamentosas: ▪ Indução de P 450 aumenta a taxa de metabolismo de outros fármacos (ex anticoagulantes orais, contraceptivos orais) ▪ Fármacos indutores do CYP 450 aumentam o metabolismo da fenitoína ex carbamazepina • Carbamazepina: Ação semelhante a fenitoina. o Características: ▪ Apresenta discreta ação anticolinérgica; ▪ Amplamente utilizado; o Principais indicações: ▪ Crises tônico-clônicas generalizadas: indicada para pacientes com mais de 1 ano de idade;▪ Monoterapia ou terapia adjuvante de crises focais, com ou sem generalização secundária; o Efeitos adversos: ▪ SNC sonolência, ataxia; ▪ GI: náuseas, vômito, mal-estar epigástrico, constipação; ▪ Dermatológicas: exantema maculopapilar benigno (10-15%); ▪ Hematológicas: Discrasias sanguíneas graves (agranulocitose) não relacionados à dose. o Interações medicamentosas: ▪ Proeminente indução da CYP3A4 o que reduz eficácia dos contraceptivos orais, varfarina, fenitoína, valproato, corticosteróides, etc. • Lamotrigina: o Características: ▪ Além do bloqueio canais de Na+, ele possui outros mecanismos de ação: MOISÉS MOREIRA LOPES ATM24 FURG 5 • Inibição de canais de Ca2+v e inibição da liberação de glutamato. Esses mecanismos podem explicar seu uso amplo, incluindo as crises de ausência. No entanto ainda não estão completamente elucidados. o Principais indicações: ▪ Monoterapia crises primariamente generalizadas e crises focais com ou sem generalização secundária e em pacientes maiores de 12 anos refratários ou intolerantes ao tratamento de 1 ª linha fenitoína e carbamazepina ▪ Síndrome de Lennox Gastaut ▪ Terceiro fármaco de escolha para crises de ausência ▪ Adjuvante crises focais o Efeitos adversos: ▪ Naúsea vômitos, diplopia, ataxia; ▪ Exantema maculopapilar; ▪ Exantemas graves; o Interações medicamentosas: ▪ Potencialmente grave o uso concomitante com valproato (duplicação na concentração plasmática de lamotrigina → aumenta risco de exantema → ajuste da dose de lamotrigina. Inibidores da função de canais de Ca+2 Os fármacos que atuam em canais de cálcio são divididos em duas classes principais: • Fármacos que inibem os canais de cálcio de baixa voltagem Tipo T; • Fármacos que inibem os canais de cálcio de alta voltagem; Fármacos que inibem os canais de cálcio de baixa voltagem Tipo T • Representantes: Etossuximida e Ácido Valproico • Mecanismo de ação: Inibem os os canais de Ca+2 de baixa voltagem do Tipo T. • Etossuximida: o Indicação: ▪ Exclusivamente para crises de ausência em pacientes maiores de 3 anos; ▪ Não controla outros tipos de crises epilépticas. o Efeitos adversos: Anorexia, náusea, letargia, sonolência, cefaleia e alterações de humor. Urticária e outras reações cutâneas MOISÉS MOREIRA LOPES ATM24 FURG 6 • Ácido Valproico: o Características: ▪ Além do bloqueio canais de Ca2+ do tipo T de baixa voltagem, ele possui outros mecanismos de ação: • Inibição de canais de Na+ e potencializa a ação do GABA (aumento da ação da enzima de síntese e inibição das enzimas que degradam o neurotransmissor). o Indicação: ▪ Amplo espectro utilizado no controle de crises generalizadas tônico- clônicas crises de ausência (que não respondem à etossuximida e mioclônicas ▪ Monoterapia e terapia adjunta de pacientes 10 anos de idade com qualquer forma de epilepsia ▪ Crises focais eficácia limitada; o Efeitos adversos: ▪ Anorexia, náuseas e vômitos; ▪ Sedação, ataxia e tremor; ▪ Elevação nas transaminases hepáticas; ▪ Hepatotoxicidade fatal: particularmente em crianças menores de 2 anos portadoras de outras doenças e em politerapia; Fármacos que inibem os canais de cálcio de Alta voltagem Tipo P/Q • Representantes: Gabapentina e pregabalina • Mecanismo de ação: Inibem os os canais de Ca+2 de alta voltagem do Tipo P/Q o Eles também regulam a liberação de neurotransmissores (glutamato e NT excitatórios) • Gabapentina o Características ▪ Ação pré-sináptica em canais de Ca2+, pois inibe a liberação de glutamato ▪ Absorção saturável (segura em superdosagem); ▪ Não interfere no metabolismo de outros fármacos ideal para idosos e pacientes com doenças crônicas, que fazem uso de muitos medicamentos ▪ Boa tolerabilidade com baixa toxicidade o Indicação: ▪ Adjuvante crises focais com ou sem generalização secundária em pacientes com mais de 3 anos de idade; ▪ Não é a primeira escolha; o Efeitos adversos: ▪ Aumento do apetite, ganho de peso, tontura, ataxia, cefaleia, tremor, fadiga, náusea, comportamento agressivo em crianças. MOISÉS MOREIRA LOPES ATM24 FURG 7 • Pregabilina: Apresenta mecanismo de ação semelhante à gabapentina. No entanto, é mais potente, adjuvante para as crises focais e interessante para o tratamento de pacientes com disfunção hepática (metabolização renal e poucas interações medicamentosas). Potencializadores da ação GABA O GABA é o principal NT inibitório do SNC e diversos fármacos atuam sobre ele, tais como: • Barbitúricos e benzodiazepínicos: atuam no receptor GABA A; • Tiagabina: Bloqueia o transportador GAT 1; • Valproato e Vigabatrina: Inibem a degradação do GABA; Os principais fármacos usados no tratamento da epilepsia são os benzodiazepínicos e o fenobarbital. • Fenobarbital: Barbitúrico que apresenta efeito anticonvulsivante em doses inferiores às necessárias para produzir efeito hipnótico o Primeiro anticonvulsivante eficaz. Baixo custo e baixa toxicidade: amplamente utilizado. o Mecanismo de ação; Potencialização da ação do GABA o Principais indicações: ▪ Tratamento de crises focais e generalizadas de pacientes de qualquer idade, inclusive recém-nascidos; ▪ Não é eficaz para controle das crises de ausência. ▪ Principais efeitos indesejáveis: Sedação, irritabilidade e hiperatividade em crianças e agitação e confusão em idosos • Benzodiazepínicos: Possui Eficácia, rápido início de ação e a boa tolerabilidade. o Mecanismo de ação: Potencialização a ação do GABA, aumentando o influxo de Cl- através do canal. o Principais indicações: ▪ Clobazam: Terapia adjuvante para crises focais e generalizadas. ▪ Diazepam: estado de mal epiléptico (via endovenosa, retal) ▪ Clonazepam: Também pode atuar em canais de cálcio tipo T e por isso também pode ser usado em crises de ausência o Principais efeitos adversos: ▪ Sedação MOISÉS MOREIRA LOPES ATM24 FURG 8 ▪ Tolerância (40% dos casos) ▪ Problemas relacionados à retirada do fármaco (abstinência). Outros fármacos • Topiramato: Utilizado em terapia complementar casos de epilepsia refratária. o Mecanismo de ação: É extremamente complexo. ▪ Bloqueio canais de sódio de modo semelhante a fenitoína; ▪ Potencializa ação GABA; ▪ Ativação corrente hiperpolarizante de K+; o Efeitos adversos: ▪ Sonolência, anorexia, fadiga, pensamento lento, dificuldade de concentração; ▪ Dores abdominais, miopia e glaucoma de ângulo fechado; ▪ Ausência de informações acerca do uso na gestação deve ser evitado; • Canabinoides: Utilizado em epilepsia grave refratária aos fármacos convencionais. o Mecanismo de ação: Ativação dos receptores canabinoides (agonistas) promove a supressão da excitabilidade neuronal e inibição da liberação de vários neurotransmissores, incluindo aminoácidos excitatórios. Farmacoterapia Tipo de epilepsia Fármaco de 1o escolha Fármaco de 2o escolha Crises focais Obs.: Em idosos – lamotrigina e gabapentina Carbamazepina, Fenitoína Valproato, Fenobarbital, Topiramato, Lamotrigina, Vigabatrina, Gabapentina Crise de ausência infantil Valproato, Etossuximida Lamotrigina Crise de ausência juvenil Valproato Lamotrigina Crises tônico-clônicas Carbamazepina, Fenitoína, Valproato Fenobarbital, Lamotrigina, Topiramato Crises mioclônicas Valproato Fenibarbital, Lamotrigina, Topiramato Estado de mal epilético Diazepam (via intravenosa – adultos – com suporte respiratório; lactentes: via retal) Fenitoína - MOISÉS MOREIRA LOPES ATM24 FURG 9