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História da Psicologia. Período: 2º Carga Horária: 80h PROFª Ariana Carvalho. O Estudo da História da Psicologia Duane P. Schultz, SydnEy EllEn Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: “estudo do passado é relevante para o presente, mas, primeiramente, nós precisamos nos inteirar sobre o que foi feito no passado. A história tem muito a nos ensinar sobre o mundo atual, e os primeiros passos na área da psicologia nos auxiliam a compreender a natureza da psicologia no século XXI. Esta é uma das respostas para a pergunta que pode estar se fazendo, ou seja, "Por que eu estou fazendo este curso?”” p.2 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Por que estudar a história da psicologia? Nós acabamos de observar um exemplo de como entender o passado pode ser útil. Outro exemplo é o fato de que este curso está sendo oferecido na sua faculdade. Isso indica que a faculdade acredita que seja importante aprender sobre a história dessa disciplina. Cursos de história da psicologia têm sido ministrados desde 1911, e em muitas universidades a disciplina consta na grade curricular principal. Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Uma pesquisa de 374 universidades nos Estados Unidos, realizada em 2005, descobriu que 83% delas ofereciam cursos em história da psicologia (Stoloff et ai., 2010). Outra pesquisa de 311 departamentos de psicologia constatou que 93% ofereciam tais cursos (Chamberlin, 2010). De todas as ciências, a psicologia é única deste ponto de vista.” p. 2 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Ao determinar como este interesse acadêmico na história desta área vai ajudá-lo(a) a entender a psicologia atual, considere o que já conhece de outros cursos de psicologia, ou seja, que não há uma única forma, abordagem ou definição de psicologia com a qual todos os psicólogos concordem. Você aprendeu, que existe uma diversidade enorme, e até mesmo divisão e fragmentação, na formação profissional e científica, bem como nos temas.” p. 3 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Diante das diversas abordagens em Psicologia: “A única linha de trabalho que une essas diversas áreas e abordagens e lhes dá um contexto coerente é sua história, ou seja, a evolução da psicologia ao longo do tempo como uma disciplina independente. Somente a exploração das origens da psicologia e o estudo do seu desenvolvimento é que proporcionam uma visão clara da natureza da psicologia atual. O conhecimento histórico organiza a desordem e estabelece um significado ao que parece ser um caos, colocando o passado em perspectiva para explicar o presente.” p. 3 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Muitos psicólogos aplicam uma técnica semelhante e concordam que a influência do passado ajuda a moldar o presente. Por exemplo: alguns psicólogos clínicos tentam compreender os pacientes adultos explorando a infância, examinando as forças e os eventos que provocam no paciente determinado tipo de comportamento ou pensamento. Com a compilação desses históricos, os clínicos reconstituem a evolução da vida do paciente e esse processo, muitas vezes, explica o seu comportamento atual e padrões de pensamento.” Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “a história da psicologia por si só é fascinante, pois envolve drama, tragédia, heroísmo e revolução, além de um pouco de sexo, drogas e comportamentos realmente extravagantes. Apesar do início hesitante, dos erros e dos conceitos equivocados, no geral há uma nítida e contínua evolução na formação da psicologia contemporânea que nos permite explicar sua riqueza.” p. 3 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia O Desenvolvimento da Psicologia Moderna “por qual ponto começamos nosso estudo da história da psicologia? A resposta depende de como definimos psicologia. As origens da área que chamamos psicologia podem ser determinadas em dois períodos distintos, com cerca de 2 mil anos de distância um do outro. Portanto, a psicologia está entre as disciplinas mais antigas, bem como uma das mais novas. Podemos inicialmente traçar ideias e fazer especulações a respeito da natureza e do comportamento humano já no século V a.C., quando Platão, Aristóteles e outros filósofos gregos já discutiam muitas questões comuns aos psicólogos de hoje.” p. 3 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Em contraposição, podemos optar por considerar a psicologia como uma das áreas mais novas de estudo e começar nossa cobertura há aproximadamente 200 anos atrás, quando a psicologia moderna surgiu da filosofia e de outras abordagens científicas emergentes para proclamar sua própria identidade como uma área formal de estudo.” p. 4 “A nova disciplina da psicologia precisava de métodos precisos e objetivos para lidar com o assunto. A maior parte da história da psicologia, depois de sua separação das raízes filosóficas, é a do desenvolvimento contínuo de ferramentas, técnicas e métodos para atingir precisão e objetividade crescentes, refinando não só as perguntas que os psicólogos faziam, mas também as respostas que obtinham.” p.4 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Um grande estudioso da história da psicologia, Kurt Danziger, faz referência às abordagens filosóficas antigas para questões da natureza humana como a "pré-história" da psicologia moderna. Ele acredita que a "história da psicologia se limita ao período em que ela reconhecidamente surge como disciplina, e que é extremamente problemático falar em uma história da psicologia antes disso" (Danziger apud Brock, 2006, p. 12).” p. 4 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Dados históricos: reconstruindo o passado da psicologia Historiografia: como estudamos história “Neste livro, História da psicologia moderna, tratamos de duas disciplinas - a história e a psicologia - , usando os métodos da história para descrever e compreender o desenvolvimento da psicologia. Como a análise da evolução da psicologia depende dos métodos da história, apresentamos uma rápida introdução sobre a definição de historiografia, que se refere às técnicas e aos princípios empregados na pesquisa histórica.” p. 5 Historiografia: princípios, métodos e questões filosóficas da pesquisa histórica. Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Os historiadores enfrentam vários problemas que não ocorrem com os psicólogos. Os dados históricos, isto é, os materiais usados pelos historiadores para reconstituir vidas, fatos e épocas, diferem, claramente, dos dados científicos. O aspecto mais distintivo é o modo como são coletados.” p. 5 Psicólogos: observações da realidade de forma controlada: rato em laboratório Historiadores: “Ao contrário, os dados históricos não podem ser reconstruídos ou replicados. Uma situação ocorrida em algum momento do passado, às vezes há séculos, talvez não tenha recebido o cuidado devido dos historiadores em registrar as particularidades do evento na época, ou em registrar os detalhes com exatidão.” p. 5 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Embora não possam repetir a situação para gerar os dados corretos, os historiadores ainda têm informações significativas para análise. Os dados sobre os acontecimentos do passado estão disponíveis na forma de fragmentos, descrições escritas por participantesou testemunhas, cartas e diários, fotografias e peças de equipamentos de laboratório, entrevistas, e outras descrições oficiais. E é com base nessas fontes, nesses fragmentos, que os historiadores tentam recriar os eventos e as experiências do passado. Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Arqueólogos que analisam os fragmentos das civilizações passadas - tais como pontas de flechas, pedaços de potes de argila ou de ossadas humanas – para tentar descrever as características dessas civilizações.” p. 5 “escavações da história podem produzir fragmentos de dados extremamente substanciais, a ponto de deixar poucas dúvidas em relação à precisão do registro. No entanto, há outras circunstâncias em que os dados podem ser perdidos, distorcidos ou, de alguma forma, comprometidos.” p. 5 Duane P. Schultz, SydnEy EllEn Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Dados perdidos ou omitidos Watson: “Em alguns casos, o registro histórico está incompleto porque os dados foram perdidos, algumas vezes deliberadamente. Considere o caso de John B. Watson, o fundador do behaviorismo. Antes de morrer, em 1958, aos 80 anos, ele sistematicamente queimou suas cartas, manuscritos e notas de pesquisa, destruindo todo o registro não publicado de sua vida e carreira. Logo, esses dados estão para sempre perdidos para a história.” p. 6 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Ebbinghaus: “Em 1984, os trabalhos de Hermann Ebbinghaus, que se destacou no estudo da aprendizagem e da memória, foram encontrados cerca de 75 anos após a sua morte.” p.6 Fechner: “Em 1983, foram descobertas dez caixas enormes contendo diários manuscritos de Gustav Fechner, que desenvolveu a psicofísica. Esses diários registravam o período de 1828 a 1879, época significativa dos primórdios da história da psicologia, ainda que, por mais de 100 anos, psicólogos desconhecessem sua existência.” p. 2 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Darwin: “Certamente podemos afirmar que o registro escrito da sua vida e do seu trabalho hoje está completo e bem apurado. Mas, recentemente, em 1990, mais de 100 anos depois da sua morte, muito material novo foi colocado à disposição, até os cadernos e as cartas pessoais que não estavam acessíveis para a análise dos biógrafos anteriores.” p.7 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia René Descartes: “dados históricos podem ter sido roubados e não recuperados, senão, após muitos anos. Em 1641, um matemático italiano roubou mais de setenta cartas do filósofo francês René Descartes. Uma das cartas foi descoberta em 2010 em uma coleção abrigada em uma universidade nos Estados Unidos e, posteriormente, devolvida à França (Smith, 2010).”p .7 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Outras informações podem ter sido deliberadamente ocultadas, ou alteradas a fim de proteger a reputação das pessoas envolvidas. Ernest Jones, o primeiro biógrafo de Sigmund Freud, minimizou de propósito a menção sobre o uso que Freud fazia da cocaína, comentando em uma carta: "Acho que Freud usava mais cocaína do que deveria, no entanto, não menciono esse fato (na minha biografia]" (Isbister, 1985, p. 35).” p. 7 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Quando a correspondência do psicanalista Carl Jung foi publicada, as cartas foram selecionadas e editadas de forma que apresentassem uma impressão positiva de Jung e do seu trabalho. Além disso, descobriu-se que a chamada autobiografia de Jung não foi escrita por ele, mas por um leal assistente. As palavras de Jung foram "alteradas ou excluídas para a sua imagem ficar de acordo com a desejada por seus familiares e discípulos ( ... ) Obviamente, o material desabonador foi omitido" (Neil, 1997, p. xiii).” p.7 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “um estudioso que catalogou os escritos de Wolfgang Kohler, o fundador da escola de pensamento conhecida como psicologia da Gestalt, talvez tenha sido um admirador devoto demais. Quando ele revisou o material selecionado para publicação, omitiu determinadas informações com o objetivo de melhorar a imagem de Kohler. Os trabalhos haviam sido "cuidadosamente selecionados para apresentar um perfil favorável de Kohler “.” p. 7 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Esses exemplos ilustram as dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores para avaliar o valor do material histórico. Será que os documentos ou outros fragmentos de informação são realmente representações precisas da vida e do trabalho da pessoa ou foram escolhidos apenas para causar certa impressão, seja positiva, negativa ou neutra?” p.7 Verdade absoluta não existe. Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Dados distorcidos na tradução: “Os dados estão disponíveis, mas de algum modo foram alterados, talvez por causa de erro de tradução de uma língua para outra ou pelas distorções introduzidas, de propósito ou por descuido, pelo participante ou observador que registrou os eventos relevantes.” p. 8 Sigmund Freud: “Não são muitos os psicólogos com fluência suficiente em alemão para ler Freud no idioma original.” p.8 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Os três conceitos fundamentais da teoria da personalidade de Freud são o id, o ego e o superego, termos já familiares na introdução à psicologia. Entretanto, essas palavras não representam com precisão as ideias de Freud. Elas são o equivalente em latim das palavras de Freud em alemão: id para Es (que literalmente se traduz como "isso"), ego para Ich ("Eu") e superego para Über-Ich ("sobre-Eu").” p. 8 Um provérbio italiano expressa bem essa ideia: Tradutore - Traditore (tradutor - traidor). Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Informações tendenciosas: “As atitudes dos próprios personagens, na narração de eventos importantes, também podem afetar os dados históricos. As pessoas produzem, consciente ou inconscientemente, relatos tendenciosos para se protegerem ou para melhorarem sua imagem pública.” p. 8 “Eu acordava às 6, estudava até a hora do café da amanhã, assistia às aulas, seguia para os laboratórios e para as bibliotecas e não tinha mais que 15 minutos livres durante o dia, estudava até exatamente 9 horas da noite e dormia. Não frequentava cinema ou teatro, raramente assistia a concertos e poucas vezes saía para namorar, e os únicos livros que lia eram de psicologia e fisiologia. (Skinner, 1967, p. 398)” p. 8 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Ele disse 51 anos depois: "Eu estava me valorizando em vez de descrever a vida que realmente levava" (Skinner, 1979, p. 5), p. 9 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “O que esses problemas com os dados históricos significam para o estudo da história da psicologia? Eles mostram principalmente que a compreensão da história é dinâmica. Ela se modifica e evolui continuamente, além de ser refinada, aprimorada e corrigida sempre que novos dados são revelados ou reinterpretados. Portanto, a história não pode ser considerada terminada ou completa. Ela está sempre em progresso, ou seja, é uma história sem fim. A narrativa do historiador pode apenas aproximar ou discutir a verdade; no entanto, o registro é complementadoa cada nova descoberta ou análise sobre os fragmentos dos dados históricos.” p. 9 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Forças contextuais na Psicologia Uma ciência como a psicologia não se desenvolve no vazio, sujeita apenas às influências internas. Por fazer parte de uma cultura mais ampla, a psicologia também sofre influência das forças externas, que dão forma à sua natureza e direção. Para entender a história da psicologia, é necessário analisar o contexto em que a disciplina se desenvolveu, as ideias predominantes na ciência e cultura da época, ou seja, o Zeitgeist ou clima intelectual da época, além de examinar as forças sociais, econômicas e políticas existentes. Zeitgeist: clima intelectual e cultural ou espírito da época. Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Os primeiros anos do século XX testemunharam mudanças drásticas na natureza da psicologia nos Estados Unidos e no tipo de trabalho que os psicólogos estavam desenvolvendo. Principalmente em razão do cenário econômico, muitas oportunidades surgiram para que os psicólogos aplicassem seus conhecimentos e técnicas em busca das soluções para os problemas do mundo real. A primeira explicação para essa situação tinha um sentido prático, assim como declarou um psicólogo: "Eu adotei a psicologia aplicada para ganhar a vida" (H. Hollingworth apud O'Donnell, 1985, p. 225).” p. 10 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Ao mesmo tempo, devido às mudanças sociais observadas na população norte- americana criou-se uma ótima oportunidade para os psicólogos aplicarem suas habilidades. O fluxo de entrada de imigrantes nos Estados Unidos, aliado à alta taxa de natalidade, transformou a educação pública em uma indústria crescente. Matrículas nas escolas públicas cresceram 700% entre 1890 e 1918 e as escolas de ensino médio foram construídas na proporção de uma por dia. Alocava-se mais verba para a educação do que para os programas sociais ou de defesa juntos.” p. 10 “Muitos psicólogos tiraram proveito dessa situação e rapidamente buscaram formas de aplicar o conhecimento e métodos de pesquisa à educação.” p. 10 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia As guerras mundiais: “As guerras foram outra força contextual que ajudou a estruturar a psicologia moderna, criando oportunidades de trabalho para os psicólogos. [...] que as experiências dos psicólogos norte-americanos, colaborando com o esforço de guerra nas duas Guerras Mundiais, aceleraram o desenvolvimento da psicologia aplicada e estenderam a sua influência para áreas como seleção de pessoal, testes psicológicos e psicologia aplicada à engenharia. Esse trabalho demonstrou à grande parte da comunidade psicológica e ao público em geral a importante ajuda que a psicologia tinha a oferecer.” p. 10 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “A Segunda Guerra Mundial também alterou a constituição e o destino da psicologia europeia, principalmente na Alemanha (onde surgiu a psicologia experimental) e na Áustria (o berço da psicanálise). Muitos pesquisadores e teóricos renomados fugiram da ameaça nazista na década de 1930, e a maioria passou a viver nos Estados Unidos. Esse exílio forçado marcou a fase final de transferência da psicologia da Europa para os Estados Unidos.” p. 10 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Preconceito e discriminação “Outro fator contextual é a discriminação por raça, religião e sexo. Durante vários anos, esses preconceitos influenciaram algumas questões básicas, como quem poderia ser psicólogo ou onde ele ou ela poderiam encontrar trabalho.” p. 11 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Discriminação contra as mulheres. “A discriminação disseminada contra as mulheres existiu por toda a história da psicologia. Há inúmeros exemplos em que as mulheres não eram admitidas no programa de pós-graduação ou eram excluídas do corpo docente. Mesmo quando estavam capacitadas a ocupar essas posições, recebiam salários inferiores aos dos homens e encontravam barreiras para obter uma promoção ou uma titularidade. Por muitos anos, a única posição acadêmica tipicamente acessível às mulheres encontrava-se nas faculdades exclusivamente femininas e, mesmo assim, muitas dessas entidades praticavam uma forma própria de discriminação, recusando a contratação de mulheres casadas. A justificativa dada era de que a mulher não estava capacitada a administrar ao mesmo tempo a vida doméstica e a carreira docente.” p. 11 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Discriminação com base em origem étnica. “Na década de 1960, homens e mulheres judeus enfrentaram cotas de admissão em faculdades e cursos de pós-graduação. Um estudo sobre a discriminação contra judeus, na época, em três universidades de elite - Harvard, Yale e Princeton - verificou que essas práticas de exclusão eram bastante difundidas. As pessoas que trabalhavam nos departamentos de Admissão e os presidentes de universidades falavam rotineiramente a respeito de manter a "invasão dos judeus" sob controle. Em 1922, o diretor de admissões da Yale University escreveu um relatório intitulado "O problema judaico". Ele descreveu os judeus como "elementos alienígenas e sujos" (Friend, 2009, p. 272).” p.12 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Os afro-americanos: “Enfrentaram fortes preconceitos da psicologia em geral. Em 1940, somente quatro faculdades para negros nos Estados Unidos ofereceram os cursos de graduação em psicologia. Quando o negro era aceito em uma universidade para brancos, enfrentava uma série de barreiras para conseguir frequentar os cursos. Nas décadas de 1930 e 1940, diversas faculdades nem permitiam que os negros morassem no campus. Francis Sumner, o primeiro negro a obter o título de doutorado em psicologia, recebeu, em 1917, uma carta de recomendação considerada excelente, para um estudante de pós-graduação. O seu orientador o descreveu como "um homem de cor ( .. . ] relativamente livre das características físicas e mentais que muitas pessoas de outras raças consideram tão condenáveis" (Sawyer, 2000, p. 128). Quando Sumner matriculou-se para o curso de pós- graduação na Clark University, a direção da faculdade providenciou uma mesa separada no refeitório para ele e para os poucos colegas que se dispunham a acompanhá-lo nas refeições.” p.13 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “De 1920 a 1966, os dez departamentos de psicologia de maior prestígio nos Estados Unidos concederam oito doutorados a negros, de um total de mais de 3.700 títulos concedidos (Guthrie, 1976; R usso e Denmark, 1987).” p. 13 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Discriminação sexual: “Mamie Phipps Clark também obteve o doutorado na Columbia University, mas, além de discriminação racial, enfrentou discriminação sexual. Ela escreveu que "após a conclusão do curso, logo se tornou evidente para mim que uma mulher negra, com um Ph.D. em psicologia, era uma anomalia indesejada na cidade de Nova York no início da década de 1940" (M. P. Clark apud Cherry, 2004, p. 22). Embora seu marido, Kenneth Clark, fizesse parte do corpo docente da City College, Mamie Phipps Clark foi efetivamente barrada das posições acadêmicas. Ela conseguiu um emprego como analista de dados de pesquisa, posição inferior e que ela considerava "humilhante" para uma psicólogacom Ph.D. (M. P. Clark apud Guthrie, 1990, p. 69).” p.13 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Concepções da história científica Há duas perspectivas de análise do desenvolvimento histórico da psicologia científica: a teoria personalista e a teoria naturalista. Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia A teoria personalista “A teoria personalista da história científica concentra-se nas realizações e contribuições de pessoas específicas. De acordo com essa perspectiva, o progresso e a mudança resultam diretamente da vontade e do carisma do indivíduo, que, sozinho, redireciona o curso da história. Napoleão, Hitler ou Darwin foram, assim como afirma a teoria, os principais condutores e formadores dos grandes eventos. A visão personalista parte do pressuposto de que os eventos nunca teriam ocorrido sem o surgimento dessas impressionantes figuras. Na verdade, a teoria afirma que o indivíduo é responsável por edificar uma era.” p.15 Teoria personalista: visão de que o progresso e as mudanças na histórica científica são atribuídas às ideias de um único indivíduo. Einstein na Física Hitler com os discursos de ódio e da sedução em adeptos do nazismo Napoleão com os desbravamentos Freud com a psicanalise Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Entretanto.... “a aceitação e a aplicação da descoberta ou da ideia de uma grande personalidade podem ser restringidas pelo pensamento predominante, mas uma ideia heterodoxa demais para uma época e um determinado lugar pode prontamente ser recebida e apoiada por uma geração ou um século mais tarde. O progresso científico tem como regra a mudança lenta.” p. 15 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia A teoria naturalista “Vimos, então, que o conceito de o indivíduo ser o responsável por determinar uma época não é totalmente correto. Talvez, assim como propõe a teoria naturalista da história, a época é o que molda o indivíduo, ou, pelo menos, torna possível reconhecer e aceitar a proposta de um indivíduo. A menos que o Zeitgeist e outras forças contextuais sejam receptivas ao novo trabalho, o proponente pode ser ignorado, isolado ou massacrado. A reação da sociedade também depende do Zeitgeist.” p. 15 “Teoria naturalista: visão de que o progresso e as mudanças na história científica são atribuídos ao Zeitgeist, que torna a cultura receptiva a algumas ideias, mas não a outras.” p. 16 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Uma teoria às vezes é tão plenamente apoiada pela maioria dos cientistas que qualquer investigação de novos assuntos ou métodos é dificultada. A teoria estabelecida pode determinar tanto a forma de organização e de análise dos dados, como a autorização da publicação dos resultados de pesquisas pelas principais revistas científicas. Descobertas contraditórias ou opostas ao pensamento corrente podem ser rejeitadas pelos editores de publicações especializadas, que funcionam como "porteiros" ou censores, impondo a conformidade de pensamento, descartando ou banalizando ideias revolucionárias ou interpretações inusitadas.” p.16 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “A ciência existe no contexto de um ambiente, o Zeitgeist, ao qual deve reagir com rapidez. O Zeitgeist é mais intelectual do que físico, mas, assim como o ambiente físico, está sujeito a mudanças. Existem provas desse processo de evolução em toda a história da psicologia. Quando o Zeitgeist favorecia a investigação, a reflexão e a intuição como caminhos em busca da verdade, a psicologia também apoiava esses métodos. Mais tarde, quando o espírito intelectual dos tempos impunha uma abordagem de observação e experimental, os métodos da psicologia orientaram-se nessa direção.” p. 17 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “A ênfase dada ao Zeitgeist não nega a importância da visão personalista da história científica, ou seja, as importantes contribuições dos grandes homens e das grandes mulheres, mas é necessário analisar as ideias em seu contexto. Charles Darwin ou Sigmund Freud não alteraram sozinhos o curso da história apenas pela força da genialidade. Eles o fizeram porque o clima era favorável.” p. 17 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Escolas de pensamento na evolução da psicologia moderna Wundt: 1979 “inauguração da psicologia como ciência”. “No entanto, não demorou muito para aparecerem divergências entre os muitos psicólogos que surgiam. Novas ideias sociais e científicas se desenvolviam. Alguns psicólogos, refletindo mais as correntes de pensamento modernas, discordavam da versão da psicologia de Wundt e apresentavam visões próprias. Por volta de 1900, diversas posições sistemáticas e escolas de pensamento coexistiram.” p. 17 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “A expressão escola de pensamento refere-se a um grupo de psicólogos que se associam ideologicamente e, algumas vezes, geograficamente com o líder do movimento. Geralmente, os membros de uma escola de pensamento compartilham da mesma orientação sistemática e teórica e investigam problemas semelhantes. O surgimento de várias escolas de pensamento, seu posterior declínio e a consequente substituição por outras são características marcantes da história da psicologia.” p.18 “Paradigma, ou seja, um modelo ou padrão, é uma forma de pensamento aceita na disciplina científica que fornece perguntas e respostas fundamentais” p. 18 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia Psicologia: paradigmática ou pré-paradigmática? Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “A psicologia parece estar mais fragmentada hoje do que em qualquer outro período de sua história, com cada facção apegando-se à sua orientação teórica e metodológica, estudando a natureza humana com diferentes técnicas e se autopromovendo com jargão especializado, jornais e as pompas de cada escola de pensamento.” p.18 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Cada uma das primeiras escolas de pensamento na psicologia foi um movimento de protesto, ou seja, uma revolta contra a posição sistemática dominante. Cada escola chamava a atenção para os pontos fracos observados no sistema antigo e oferecia novas definições, conceitos e estratégias de pesquisa a fim de corrigir falhas. Quando uma nova escola de pensamento despertava a atenção de um segmento da comunidade científica, os especialistas rejeitavam a visão anterior. Esses conflitos intelectuais entre as posições antiga e nova costumavam provocar discussões acaloradas.” p.18 Duane P. Schultz, Sydnéy Ellén Schultz: HISTÓRIA DA PSICOLOGIA, CAP. 1: O estudo da história da psicologia “Cada nova escola usava o seu antigo oponente como alvo das investidas para ganhar destaque. Cada uma manifestava claramente a posição contrária e a característica que a distinguia do sistema teórico estabelecido. A medida que o novo sistema se desenvolvia e atraía novos adeptos e novas influências, fomentava a oposição e todo o processo combativo era renovado.” p. 19 Referência Schultz, Duane P.; Schultz, Sydney Ellen Schultz. História da psicologia moderna. / Duane P. São Paulo: Cengage Learnir1g, 2014 .
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