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Gestão de Manutenção Responsável pelo Conteúdo: Prof. Me. Gustavo Henrique Marques Revisor Textual: Prof. Me. Claudio Brites Introdução à Gestão de Manutenção Introdução à Gestão de Manutenção • Abordar a evolução da Manutenção; • Contextualizar e desenvolver a visão sistêmica da Gestão de Manutenção nas Organizações; • Introduzir os conceitos de manutenção planejada e não planejada; corretiva, preventiva e preditiva. OBJETIVOS DE APRENDIZADO • Introdução; UNIDADE Introdução à Gestão de Manutenção Introdução Existem vários campos de aplicação da manutenção, como, por exemplo, em uma indústria, uma casa, uma obra de arte, um veículo, um programa, um sistema e até mesmo na referência à manutenção do corpo humano. Assim, o termo Manutenção refere-se ao procedimento por meio do qual um determinado bem recebe tratamento a fim de que, com o passar do tempo, seu uso ou mudança de circunstância não o afete. Manutenção: A palavra Manutenção é definida como sendo o conjunto de todas as ações técnicas e administrativas necessárias para que um item seja conservado ou restaurado de modo a permanecer de acordo com uma condição especificada, ou seja, desempenhando a função requerida (ABNT, 1994). Você Sabia? A palavra Manutenção é de origem latina e deriva de manus tenere, que significa “ter em mãos”, ou, em outras palavras, manter o que se tem. Histórico da Manutenção A História da Manutenção acompanha o desenvolvimento técnico industrial da humanidade e está fundamentada na Revolução Industrial, iniciada no século XVIII na Inglaterra. O pioneirismo inglês é atribuído devido à criação da máquina a vapor por Thomas Newcomen, em 1968, tendo sido aperfeiçoada por James Watt, em 1765. – Esse avan- ço tecnológico permitiu um grande desenvolvimento dos maquinários, principalmente do setor têxtil, no qual era possível tecer uma quantidade de fios maior sem a utilização de várias pessoas. Você Sabia? A partir da revolução industrial no final do século XVIII, a comunidade passa a produ- zir bens de consumo e então se depara com a necessidade dos primeiros reparos nas máquinas para continuar a produção ou locomoção. Assim, a passagem do sistema de produção artesanal para o sistema fabril foi marca- da por inovações técnicas e culturais na produção de mercadorias, como, por exemplo, a possibilidade de instalação de unidades de produção distantes de margens dos rios, pois já não mais dependiam exclusivamente da energia hidráulica; bem como a energia a vapor contribuiu com o desenvolvimento dos transportes utilizados para movimentar mercadorias de um ponto a outro com maior agilidade. 8 9 Outra transformação foi a mudança do modo de produção manufatureiro para a maquinofatura. Dessa maneira, os trabalhadores passam a seguir o ritmo da máquina. Na Figura 1 é apresentado o motor a vapor de James Watt, alimentado principal- mente com carvão, fato este que impulsionou a Revolução Industrial no Reino Unido e no resto mundo. Figura 1 – O motor a vapor aperfeiçoado por James Watt Fonte: Wikimedia Commons Com o passar do tempo, a presença de equipamentos cada vez mais modernos e de alta produtividade acarretaram também a criação e evolução dos conceitos de manu- tenção e, assim, novas demandas surgiram para o acompanhamento desse crescimento tecnológico, como a elaboração de planos de manutenção e o uso de ferramentas ade- quadas para a gestão da manutenção. Vale ressaltar que, até o ano de 1914, a manutenção tinha importância secundária e era executada pelo mesmo efetivo de operação. Em seguida, com a implantação da pro- dução em série, instituída por Ford, as fábricas passaram a estabelecer programas míni- mos de produção e, em consequência, foi observada a necessidade de se criar equipes que pudessem efetuar reparos em máquinas operatrizes no menor tempo possível – essa mudança foi fundamental para que as organizações aumentassem consideravelmente o ganho de produtividade pela disponibilidade dos equipamentos. Nesse contexto, a alta administração industrial passou a se preocupar não só em corrigir falhas dos equipamentos, mas também em evitar que elas ocorressem para que, dessa forma, os equipamentos ficassem mais tempo disponíveis para o uso produtivo. Assim, a figura do técnico de manutenção passou a desempenhar papel fundamental no processo de prevenção de avarias que juntamente com a equipe de correção de falhas completavam o quadro geral da manutenção, formando uma estrutura tão importante quanto à de operação. 9 UNIDADE Introdução à Gestão de Manutenção Kardec e Nascif (2001) relatam que, por volta de 1950, com o desenvolvimento da indústria para atender aos esforços pós-guerra, esta passou a depender cada vez mais das máquinas, que começaram a se multiplicar e a modificarem-se em tipo, quantidade e complexidade. Desse modo, prevenir a eventual paralisação das máquinas tornou-se cada vez mais relevante. Com essa nova dinâmica industrial, foi observado que, em muitos casos, o tempo gasto para diagnosticar as falhas era maior do que o despendido na execução do repa- ro. Nasce, então, a Engenharia de Manutenção, a qual era formada por equipes de especialistas que receberam os encargos de planejar e controlar a manutenção, além de analisar as causas e os efeitos das falhas (Tavares, 1999). Figura 2 – Verificação da lista de procedimentos de manutenção de bordo da nave espacial Atlantis, por um engenheiro de manutenção Fonte: Wikimedia Commons A partir de 1966, com a difusão dos computadores e a sofisticação dos instrumentos de proteção e medição, a engenharia de manutenção passou a desenvolver critérios de predição ou previsão de falhas, visando à otimização da atuação das equipes de execução de manutenção. Esses critérios foram associados aos métodos de planejamento e con- trole da manutenção automatizado, reduzindo os encargos burocráticos dos executantes de manutenção. Ainda nos anos 60 e 70, o departamento de Defesa dos EUA, juntamente com a indústria da aérea militar, desenvolveu as primeiras análises de políticas da manutenção, chamadas “Reliability Centered Maintenance” – RCM, largamente utilizados nos dias atuais (NASA, 2000). Segundo Alkaim (2003), o aparecimento de ideias com novas expectativas, pesquisas e técnicas tornou possível uma mudança do ponto de vista gerencial com relação à gestão da manutenção. Dentre essas novas ideias, duas foram fundamentais: 10 11 • A focalização na confiabilidade dos equipamentos, sua manutenibilidade e disponibilidade; • A busca da quebra-zero, defeito-zero e acidente-zero. Tais ideias acarretaram o desmembramento da engenharia de manutenção, que passou a ter duas equipes: • Equipe de estudos de ocorrências crônicas; • Equipe de PCM – Planejamento e Controle da Manutenção. A finalidade da equipe de estudos de ocorrências crônicas é pautada no entendimen- to e análise das falhas periódicas e frequentes dos equipamentos, já a equipe de PCM se concentra no desenvolvimento, programação e análise dos resultados dos sistemas automatizados de manutenção, adquirindo, assim, função mais estratégica. Outro fato histórico importante foi o crescimento do uso dos conceitos japoneses de administração da produção na década de 1980. Este influenciou toda a indústria ociden- tal, gerando novos conceitos de manutenção e manutenibilidade, que veremos de forma mais aprofundada nas próximas unidades. Manutenibilidade: “Capacidade de um item ser mantido ou recolocado em condições de executar suas funções requeridas, sob condições de uso especificadas; quando a manutenção é executada sob condições determinadas e mediante procedimentos e meios prescritos.” (NBR 5462:1994) Assim, a partir de 1980 até os dias atuais, é evidente, nas unidades produtivas, a participação ativa das áreas de manutenção junto aos Sistemas de Gestão da Qualidade Total (TQM), além do suporte às demais áreas da organização na busca de um objetivo comum: a satisfação do cliente. Hoje em dia, o gestorda manutenção, em qualquer ambiente produtivo, deve questio- nar-se acerca de como ele e a sua equipe estão em termos de equipamento, capacitação e organização para serem eficazes e competitivos. A manutenção moderna requer um ambiente evoluído em práticas e atividades de melhoria contínua, uma vez que, para permanecer competitiva, uma organização necessita da máxima disponibilidade dos equipamentos a funcionar na capacidade para a qual foram projetados. Evolução da Manutenção Com o Histórico da Manutenção apresentado anteriormente, já vimos que a área de manutenção tem uma forte relação com os setores produtivos, principalmente quanto à qualidade e à produtividade. Além disso, com o passar dos anos, as organizações cada vez mais atribuíram funções estratégicas às atividades da gestão de manutenção, tornando-a uma das principais áreas com foco na melhoria dos resultados operacionais e financeiros dos negócios (XENOS, 1998). 11 UNIDADE Introdução à Gestão de Manutenção Assim, conforme Moubray (2000), podemos dividir a evolução das técnicas de manutenção em três gerações, como ilustrado na Figura 3. TÉCNICAS DE MANUTENÇÃO EM EVOLUÇÃO PRIMEIRA GERAÇÃO • Conserto após avaria 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010 • Revisões gerais programadas; • Sistemas de planejamento e controle do trabalho; • Computadores grandes e lentos. • Monitoramento das condições; • Projeto visando a con�abilidade e manutenabilidade; • Estudos sobre riscos; • Computadores pequenos e rápidos; • Sistemas especialistas; • Versatilidade e trabalho em equipe; • Modos de falha e análise dos efeitos. SEGUNDA GERAÇÃO TERCEIRA GERAÇÃO Figura 3 – Evolução das Técnicas de Manutenção Fonte: Adaptada de MOUBRAY, 2000 1ª Geração (até 1950) • Com a revolução industrial, surge a necessidade de reparos nos equipamentos das fábricas, e a customização dos artesãos é substituída pela padronização e a produ- ção em larga escala; • Na década de 1930, o controle de qualidade evoluiu bastante, com o desenvolvi- mento do sistema de medidas, das ferramentas de controle estatístico de processo e normas específicas para essa área (CARVALHO; PALADINI, 2005); • Durante a Segunda Guerra Mundial, o controle estatístico da qualidade se difundiu. A diminuição da força de trabalho masculina impulsionou o aumento da mecanização e o aumento da complexidade das instalações industriais; • O aumento da dependência das máquinas fez com que fosse dada mais atenção a disponibilidade e confiabilidade dos equipamentos na busca por maior produtividade. 2ª Geração (1950 a 1970) • O pós-guerra gera impactos na manutenção e qualidade dos sistemas produtivos industriais; • Na década de 1950, é proposta a primeira abordagem sistêmica da qualidade (CARVALHO; PALADINI, 2005); • Na década de 1960, o custo da manutenção em intervalos fixos fez aumentar os sistemas de planejamento e controle da manutenção; • Nesse período, surgiu o conceito de manutenção preventiva, pois se evidenciou a necessidade de maior disponibilidade e confiabilidade, na busca de produtividade; • Surgem os primeiros computadores constituídos por enormes caixas do tamanho de uma casa e muito lentos, com poucas funções; 12 13 • A Engenharia de Manutenção passa a desenvolver critérios de predição ou previsão de falhas visando à otimização da atuação das equipes de execução de manutenção. 3ª Geração (1970 a 2000) • Na década de 1970, o modelo japonês, encabeçado por Deming e Juran, já men- cionava a aferição dos defeitos em partes por milhão, enquanto, no Ocidente, ainda eram calculadas em porcentagem; • A difusão do conceito “Just in Time”, no qual a diminuição dos estoques em pro- cesso significava que pequenas pausas na produção poderiam paralisar a fábrica, reforça a necessidade de aplicação do conceito de manutenção preditiva; • Cresce o uso da automação e da mecanização; • Maior automação também significa que falhas cada vez mais frequentes afetam a capacidade de manter padrões de qualidade estabelecidos; • Em 1987, surge o modelo normativo da ISO (International Standardization Organization) para a área da gestão da qualidade, a série ISO 9000; • Surge, no final da década de 1980, na Motorola, o mais recente programa de Gestão da Qualidade, chamado Seis Sigma ( CARVALHO; PALADINO, 2005); • A interação entre as fases de implantação de um sistema (projeto, fabricação, instala- ção e manutenção) e a Disponibilidade e Confiabilidade torna-se mais evidente, bem como a utilização de computadores mais velozes para uso da gestão de manutenção; • Forte disseminação do FMEA (Failure Modes and Effects Analysis) − Análise dos Modos de Falha e seus Efeitos, como uma metodologia sistemática para identificar os modos de falha do sistema para buscar ações proativas e para prevenir a falha ou diminuir seus efeitos; e igualmente do RCFA (Root Cause Failure Analysis) − Análise da Causa Raiz da Falha, ferramenta projetada para o uso investigativo na identificação da causa raiz de um evento, na ordenação dos fatos, bem como na sistemática de resolução de falhas. E hoje, em que geração estamos vivendo? Alguns autores enfatizam que, a partir dos anos 2000, teve início a quarta geração, sendo esta uma extensão aprimorada da terceira geração. A partir dos anos 2000, a busca pela melhoria da Confiabilidade e Disponibilidade tornou-se mais eficiente e rigorosa e, para isso, foi necessário enfatizar o papel estratégi- co da área de manutenção para a organização, consolidando os conceitos da Engenharia de Manutenção na busca do sucesso competitivo das empresas. O principal objetivo dessa geração é a busca da excelência em Engenharia da Manu- tenção, utilizando os conceitos fomentados pela Indústria 4.0. Veja um pouco sobre a Indústria 4.0 em: https://bit.ly/2XEgBBc Com o avanço tecnológico no desenvolvimento de computadores, com softwares mais potentes, ou seja, mais velozes, e novos equipamentos de medição, permite-se à área de gestão da manutenção a identificação preventiva em equipamentos de falhas 13 UNIDADE Introdução à Gestão de Manutenção em tempo real, ou seja, mais controle, confiabilidade e segurança para a tomada de decisão na gestão da área. Tipos de Manutenção Segundo Viana (2002), os tipos de manutenção são as formas de encaminhar as intervenções nos instrumentos de produção, ou seja, nos equipamentos que compõem uma determinada planta. Nesse sentido, quando se consideram como critério as “formas de intervir nos instrumentos”, observa-se que existe um consenso, salvo algumas varia- ções irrelevantes, quanto aos tipos de manutenção. Manutenção Corretiva A manutenção corretiva é uma forma primária de manutenção. Pode sintetizar-se pelo ciclo “quebra-repara”, ou seja, pelo reparo dos equipamentos após a avaria. Constitui a forma mais cara de manutenção, quando encarada do ponto de vista total do sistema (pode ser necessária em alguns momentos, mas, como regra geral, não deve se transformar no principal tipo de intervenção). Araújo e Santos (2004) afirmam que a manutenção corretiva pura e simples conduz a: • A baixa utilização anual dos equipamentos, máquinas e das cadeias produtivas; • Diminuição da vida útil dos equipamentos, máquinas e instalações; • Paradas para manutenção em momentos aleatórios e, muitas vezes, inoportunos por corresponderem a épocas de ponta de produção, a períodos de cronograma apertado, ou até a épocas de crise geral. É impossível eliminar completamente esse tipo de manutenção, entretanto, pode-se observar que existem ações a fim de evitá-la, como pessoal previamente treinado para atuar com rapidez e proficiência em todos os casos de defeitos previsíveis e com quadro e horário bem estabelecido. O RCM GUIDE (Reliability-Centered Maintenance) aponta que a manutenção corre- tiva não planejada é, em média, cinco vezes mais cara que a planejada (NASA, 2000). De acordo com Slack (1999), manutenção corretiva significa deixar as instalações continuarem a operar até que quebrem. O trabalhode manutenção é realizado somente após a quebra do equipamento ter ocorrido. Apesar de essa definição apontar para uma manutenção simplesmente entregue ao acaso, essa abordagem ainda se subdivide em duas categorias: manutenção corretiva não-planejada e manutenção corretiva planejada. Manutenção Corretiva Não-Planejada Esse tipo de manutenção acontece após a falha ou perda de desempenho de um equipamento, sem que haja tempo para a preparação dos serviços. Tal forma de manu- tenção, apesar de todos os transtornos, ainda é praticada atualmente. A manutenção corretiva não planejada é caracterizada pela atuação da manutenção em fato já ocorrido, seja este uma falha ou um desempenho inferior ao esperado. 14 15 Exemplo: Uma peça essencial para o envase dos produtos quebra repentinamente e, sem ela em funcionamento, o equipamento não consegue realizar a função de envasar o produto. Assim, os procedimentos utilizados para realizar a troca por uma peça nova tam- bém serão considerados manutenção corretiva não planejada, uma vez que irão demandar a análise do estoque para reposição da peça, bem como equipe para a troca, podendo gerar horas extras dos colaboradores e compra emergencial da peça, elevando os custos. Esse tipo de manutenção pode ser aplicado em todos os tipos de máquinas, mas reco- mendamos a utilização em equipamentos cuja queda de desempenho não gere problemas de segurança para as pessoas e o meio ambiente ou afete a produtividade da companhia. A escolha de se ter uma política de manutenção corretiva não planejada na empresa pode custar caro, pois quando uma peça é trocada somente no ato da quebra, pode haver a pro- pagação de danos a outros itens que não estavam na iminência de quebra e, então, aumen- tar ainda mais o tempo de indisponibilidade do equipamento. Manutenção Corretiva Planejada É a correção do desempenho menor do que o esperado ou da falha por decisão ge- rencial, isto é, pela atuação em função de acompanhamento preditivo ou pela decisão de operar até a quebra ( PINTO; XAVIER, 2007). Nesse caso, é imprescindível entender que todas as decisões relacionadas a tal serviço são pautadas por dados, testes e inspeções. Assim, caso a equipe de gestão de manu- tenção opte pela quebra do equipamento ou de uma de suas peças, é avaliado que essa alternativa foi a que geraria melhor custo-benefício para a operação. Um bom exemplo para a aplicação da manutenção corretiva planejada é quando se detecta um problema de desempenho relacionado ao equipamento, há equipamentos ou peças de reposição no estoque e o reparo é realizado em momento previamente programado, ou seja, em um momento em que o equipamento não esteja em operação. Assim, é possível analisar o melhor dia e horário para que seja feita a manutenção do equipamento ou peça quebrada, sem que haja maiores impactos em sua operação. Manutenção Preventiva Para Branco Filho (2004), a manutenção preventiva é qualquer serviço de manutenção realizado em antecedência à falha, apresentando-se em condições operacionais de fun- cionamento, ou, no máximo, em estado de defeito. Sendo esse tipo de manutenção reali- zada em intervalos fixos e regulares, como: horas, quilômetros, ciclos de funcionamento. Para a norma NBR-5462, Manutenção Preventiva é a manutenção efetuada em intervalos predeterminados, ou de acordo com critérios prescritos, destinada a reduzir a probabilidade de falha ou a degradação do funcionamento de um item. 15 UNIDADE Introdução à Gestão de Manutenção Martins e Laugeni (1999) abordam que a manutenção preventiva consiste em executar uma série de trabalhos segundo uma programação preestabelecida. Exige, acima de tudo, muita disciplina. Assim, é entendida por manutenção preventiva a ação planejada e sistemática de revisão, controle e monitoramento dos equipamentos feita periodicamente, com o obje- tivo de reduzir ou impedir falhas do instrumento. Algumas vantagens são propostas pelo uso da manutenção preventiva, como a prevenção de acidente, o alongamento do tempo de vida de uma máquina e a otimi- zação dos recursos. Como a manutenção preventiva acontece de forma planejada, você terá mais tempo para pesquisar preços e fornecedores de peças (viabilidade econômica) e também evitar horas extras (comuns na manutenção corretiva). Exemplos: • Lubrificar os mancais a cada 3 meses (base tempo); • Lubrificar os mancais a cada 25.000 horas de funcionamento (base uso); • Lubrificar os mancais a cada 3 meses ou a cada 25.000 horas de funcionamento – o que ocorrer primeiro (base mista). Calil e Teixeira (1998) elencam alguns procedimentos mais comuns na manutenção preventiva. São eles: • Inspeção geral: consiste na inspeção visual e limpeza dos equipamentos; • Troca de peças e acessórios com vida útil vencida; • Lubrificação geral: descrição dos tipos de lubrificantes necessários, periodicidade, local de aplicação, equipamentos e ferramentas que devem ser utilizados e orienta- ções para a abertura dos equipamentos ou parte deles; • Aferição e posterior Calibração dos equipamentos: como e onde devem ser feitas a leitura e a verificação de indicadores e níveis. É importante destacar também que o equipamento apenas deve ser incluído no pro- grama de manutenção preventiva caso atenda a algumas das seguintes razões: • Redução do risco de acidentes; • Aumento da disponibilidade; • Redução dos custos de manutenção; • Prevenção de consertos de larga escala; • Atendimento a padrões, normas ou exigências. Um contraponto à manutenção preventiva deve-se à formação de um possível es- toque elevado de peças/equipamentos para cobrir a imprevisibilidade das falhas, além de intervenções muitas vezes desnecessárias, que reduzem a produtividade e elevam o custo operacional total. 16 17 No entanto, esse tipo de manutenção pode ser a melhor alternativa para equipa- mentos e/ ou peças que apresentem desgaste em ritmo constante e que representem um custo baixo, em comparação com o custo da falha, podendo-se prever estoques adequados e seguros. Manutenção Preditiva Para Almeida (2000), a manutenção preditiva é um sistema de manutenção preventivo que não é acionado por tempo, mas sim por estado. Quer dizer que o equipamento passa a ser monitorado pela sua condição de funcionamento e não pelo tempo em que está fun- cionando. A condição do componente é monitorada por meio das condições mecânicas, rendimento do sistema, temperatura, vibração e outros indicadores para determinar o tempo real para que ocorra a falha. Tavares (1999) aborda que esse tipo de manutenção tem por objetivo executar a ma- nutenção preventiva no ponto exato em que eles interferem na confiabilidade do sistema. Esse tipo de manutenção também é conhecido como manutenção condicional, uma vez que a intervenção na máquina se dará apenas de forma condicional, isto é, unica- mente se os parâmetros de controle evoluírem de forma significativa para níveis que sejam considerados não admissíveis. Arato Jr. (2004) aborda que a manutenção preditiva pode ser dividida em três fases: o estabelecimento de um diagnóstico, a análise de tendência e a detecção do defeito. Exemplo: Na Figura 4, é possível observar que, após o comportamento de um equi- pamento iniciar uma variação de funcionamento, foi realizado o diagnóstico, observada a análise de tendência (pelas medições realizadas) e, então, realizada a intervenção da manutenção antes da ocorrência da falha. Vale ressaltar que a intervenção só é efetivamente realizada quando os parâmetros acompanhados indicam sua real necessidade, ou seja, quando o grau de degradação se aproxima ou atinge o limite previamente estabelecido. Isso permite uma preparação prévia do serviço, além de outras decisões alternativas relacionadas com a produção, impactando positivamente no custo da manutenção. Funcionamento normal 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 Alarme Ocorreria a falha Manutenção Diagnóstico Figura 4 – Fases da Manutenção e Atuação Preditiva Fonte: Adaptadade ARATO JR., 2004 17 UNIDADE Introdução à Gestão de Manutenção A principal vantagem desse tipo de manutenção é a diminuição do custo de manu- tenção devido às interrupções periódicas e à diminuição da probabilidade de introdução de novos defeitos nas operações. Seguem outras vantagens do uso da manutenção preventiva: • Diminuição do estoque de reposição; • Minimização de paradas não programadas decorrentes de quebras de componen- tes durante o serviço; • Diminuição do custo de cada intervenção; • Aumento de tempo médio entre cada revisão. Técnicas da Manutenção Preditiva A avaliação do estado do equipamento se dá por meio de medição, acompanha- mento ou monitoração de parâmetros, ou seja, a manutenção preditiva deve permitir a coleta de dados com os equipamentos em funcionamento, ou que seja mínima sua interferência no processo produtivo. Além disso, os dados coletados devem possibilitar a análise de tendência. Algumas técnicas de coleta de dados para avaliação preditiva são: Análise de Vibrações: É uma técnica preditiva que analisa as variações nas vibrações das máquinas. Ao ava- liar alguma alteração, é possível prever problemas que podem vir a ocorrer no desempe- nho dos equipamentos, além de determinar quais peças que necessitam de manutenção por meio da taxa de variação das forças dinâmicas geradas no equipamento. Cada irregularidade na vibração indica um problema a ser corrigido, como: desbalan- ceamento, folgas mecânicas, eixo empenado, defeitos no rolamento, problemas na lu- brificação, falhas elétricas, engrenagens defeituosas, falhas em polia e desalinhamentos. Por meio de sensores que são colocados em pontos estratégicos das máquinas, trans- formando as vibrações em sinais elétricos, que, por sua vez, são encaminhados para aparelhos registradores de vibrações, é possível a coleta de dados para posterior análise. Análise Termográfica: A termografia também é uma técnica de inspeção não destrutiva e não invasiva, que detecta objetos por meio de aparelhos de medição da radiação infravermelha emi- tida naturalmente pelos corpos, com intensidade proporcional à sua temperatura. Por meio dessa técnica, é possível identificar regiões ou pontos nos quais a temperatura está alterada em relação a um padrão preestabelecido. Pode ser aplicada em instalações e máquinas elétricas, conjuntos rotativos, como aco- plamentos, polias, transportadores, ventiladores, bombas e compressores, por exemplo. Entre alguns dos principais diagnósticos que podemos detectar com a análise ter- mográfica, destacamos: mau contato de alguma fiação, obstrução em trocadores de calor, oxidação dos componentes. desgaste de algumas peças, fugas de corrente e sobrecarga de circuitos. 18 19 Figura 5 – Análise Termográfi ca Fonte: emo.org.tr Análise de Óleo : A análise de óleo é uma das mais importantes ferramentas da manutenção preditiva e permite realizar avaliações laboratoriais rápidas e precisas sobre o lubrificante utilizado nos equipamentos, por exemplo. Com a análise de óleo, torna-se possível detectar também tanto os desgastes das peças móveis dos equipamentos quanto a presença de substâncias contaminantes. Uma vez determinado o lubrificante correto a ser utilizado, isso ajudará na redução ou até eliminação de falhas por deficiências na lubrificação, proteção do equipamento a desgastes excessivos ou prematuros, redução dos custos de manutenção e aumento da disponibilidade do equipamento. Detecção de Vazamentos : Os vazamentos podem ser considerados alguns dos maiores problemas na grande maioria das indústrias, podendo ser encontrados na forma de líquidos ou de gases. A detecção e a correção desses vazamentos de qualquer natureza nas instalações em geral ou em máquinas e equipamentos são muito importantes, tanto no aspecto de segurança, como também nos aspectos de custos em geral, consumo de energia e preservação do meio ambiente. Para conter ou minimizar as possibilidades de vazamentos, podemos fazer uso de vários métodos para detectar tais vazamentos, como detectores de gás, instrumentos eletrônicos que provocam alarme ou acendem lâmpada na presença desse gás, instru- mentos ultrassônicos para detectar ruídos em alta frequência, além do método mais simples que são os sentidos humanos (obedecendo as normas de segurança). O vazamento de óleo ou a falta de lubrificação podem causar diversos prejuízos, entre eles o custo do próprio óleo desperdiçado e a redução da vida útil de componentes, uma vez que os lubrificantes reduzem o atrito entre peças sólidas, ou seja, constituem uma camada fluida que evita o contato direto entre os componentes. 19 UNIDADE Introdução à Gestão de Manutenção Ferrografia: Consiste na determinação da severidade e dos modos e tipos de desgaste em máqui- nas, por meio da identificação da morfologia, acabamento superficial, coloração, natu- reza e tamanho das partículas encontradas em amostras de óleos ou graxas lubrificantes de qualquer viscosidade, consistência e opacidade (KARDEC et al., 2002). Aplicações: redutores, geradores, sistemas hidráulicos e mancais em geral. Com a adoção de métodos preditivos, é possível prever falhas com muito mais quali- dade e eficiência e conquistar melhores resultados na gestão de custos e de produtividade na gestão da manutenção, que, consequentemente, refletirão positivamente nos resulta- dos da empresa como um todo. Você concorda que, para se ter uma gestão da manutenção eficiente e competitiva, é neces- sário traçar um plano de melhoria contínua, abordando custo e o diferencial do seu produto ou serviço em relação a seus concorrentes? Importância da gestão de estoques para o sucesso da Gestão da Manutenção Já vimos até agora um pouco sobre os tipos e a importância da gestão da ma- nutenção. E, aprofundando as técnicas, entendemos que toda manutenção depende dos ativos, como os equipamentos, instrumentos, peças etc. Se estes não foram bem geridos, haverá impactos diretos no planejamento dos custos de manutenção. A gestão do estoque para peças de manutenção serve para suprir determinado período, além de auxiliar no controle da entrega dos serviços prestados pela manutenção. Um ponto crítico para definir a forma de gerenciar a demanda de estoque de um determinado item é entender a sua necessidade ao longo do processo (WANKE, 2005). Importante! MRO (Manutenção, Reparo e Operações) indica uma categoria de materiais utilizados em atividades de manutenção, reparos e todos os insumos para produção (operações). Temos que o estoque de MRO é necessário, pois ele garante a manutenção da produ- tividade das empresas, atuando diretamente para que as linhas de produção não parem de produzir devido a falhas em máquinas ou à falta de materiais de consumo. Porém a gestão desse tipo de estoque é muitas vezes dificultada pela grande quantidade de itens e por demandas pequenas e esporádicas no tempo. Gerir os estoques de peças de reposição torna-se, então, um grande diferencial para as empresas, pois, com uma abordagem adequada, pode-se reduzir consideravelmente os custos de estoque, mantendo um nível de serviço adequado. 20 21 Material Complementar Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade: Sites ABRAMAN – Associação Brasileira de Manutenção https://bit.ly/3lB4DR2 Leitura ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas https://bit.ly/3EvCZ0c Vídeos Você sabe a importância da Termografia? https://youtu.be/CjKElvfwudo Análise de óleo – O que você precisa saber! https://youtu.be/E j2VRTDHZS0 21 UNIDADE Introdução à Gestão de Manutenção Referências ALMEIDA, M. T. de. Manutenção Preditiva: Confiabilidade e Qualidade. Itajubá: 2000. 5 p. Disponível em: <https://mtaev.com.br/wp-content/uploads/2018/02/mnt1.pdf>. Acesso em: 12/01/2021. ARAUJO, I. M.; SANTOS, C. K. S. Apostila: Manutenção Elétrica Industrial. Disponí- vel em: <https://pt.scribd.com/document/99531604/Www-1-Dee-ufrn-Br-Joao-Apos- tila-Cap03-Htm>. Acesso em: 07/01/2021. ARATO Jr., A.Manutenção preditiva usando análise de vibrações. Barueri: Manole, 2004. BRANCO FILHO, G. Dicionário de termos de manutenção, confiabilidade e qualidade. 3 ed. Rio de Janeiro: Ciência Moderna, 2004. CALIL, S. J.; TEIXEIRA, M. S. Gerenciamento de manutenção de equipamentos hospitalares. São Paulo: Fundação Petrópolis, 1998. CARVALHO, M. M.; PALADINI, E. P. Gestão da qualidade: Teoria e Casos. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. KARDEC, A.; NASCIF, J. Manutenção – Função Estratégica: Segunda edição. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001. ________. Gestão Estratégica e Técnicas Preditivas. Editora Qualitymark, Rio de Janeiro, 2002. MARTINS, P. G.; LAUGENI, F. P. Administração da produção. São Paulo: Saraiva, 1999. NASA. National Aeronautics and Space Administration. Reliability Centered Maintenance Guide for Facilities and Collateral Equipment. USA, 2000. 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