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LIVRO 1 BÁSICO Governo do Paraná SETI UEL UEM UEPG UNI CENTRO UNI OESTE UENP UNES P AR JEFERSON LOZECKYI MARILISA DO ROCIO OLIVEIRA BOM NEGÓCIO PARANÁ LIVRO 1 BÁSICO CURITIBA 2022 Autores: JEFERSON LOZECKYI MARILISA DO ROCIO OLIVEIRA Colaboradores: Edenilson Adão da Roza Eliton Lopes dos Santos Jaqueline Fonseca Rodrigues Joceliane Antunes Araújo Camargo Juvancir da Silva Verlaine Lia Costa Aldo Nelson Bona Superintendente de Ciência tecnologia e Ensino Superior – SETI Sandra Cristina Ferreira Coordenadora do Programa PARANÁ EMPREENDE MAIS 33 10. Boletos a receber 11. Estoque de mercadorias 12. Empréstimos concedidos a empregados 13. Financiamentos obtidos 14. Encargos sociais a recolher 15. Equipamentos 16. Estoque de material de expediente 17. Obras de arte 18. Fornecedores 19. Gratificações a pagar 20. Impostos a recolher 21. Impostos a recuperar 22. Instalações 23. Empréstimos recebidos dos proprietários 24. Patentes de invenção 25. Salários a pagar 26. Saldo na conta bancária 27. Terrenos 28. Títulos a pagar 29. Veículos para uso da empresa 30. Construções em andamento Capítulo 3 – Meu Dinheiro – Finanças Pessoais. Jeferson Lozeckyi Como vimos no capítulo anterior, o que chamamos de “Regra de Ouro Contábil”: o patrimônio dos sócios ou proprietários não pode se confundir com o patrimônio do negócio ou da empresa. Isso é fundamental para que a empresa tenha sua vida própria e não seja afetada pelos erros e acertos na gestão dos recursos pessoais. A experiência tem mostrado que na prática isso é bem mais difícil de fazer do que na teoria. Por mais que o empreendedor saiba que não pode misturar seu dinheiro, “Jamais gaste seu dinheiro antes de você possuí-lo”. Thomas Jefferson 34 seus bens, suas dívidas, com os dá empresa; diariamente o carrossel dos negócios estará sempre testando seu autocontrole, sua disciplina. Pensando nisso, que tal dedicarmos um tempo para vermos como andam as nossas finanças pessoais? Afinal, como você poderá administrar o dinheiro de seu negócio, se não conseguir controlar nem o seu próprio dinheiro? POR QUE BUSCAR ESTABILIDADE FINANCEIRA? Vivendo em sociedade, possuímos necessidades, desejos, anseios, vontades: ter uma casa própria, concluir um curso superior, adquirir um veículo, viajar, vestir-se bem, o almoço em família no fim de semana, educar os filhos. A lista é grande e varia de pessoa para pessoa. O que é necessidade para um pode não ser para outro. O que é sonho de um, nem passa pela mente de outro. Mas para complicar a situação, somos diariamente bombardeados por propagandas dos mais variados produtos e serviços, tentando nos infligir a necessidade de tê-los. Para que consigamos realizar os sonhos, satisfazer as necessidades (de forma a não se tornarem pesadelos), é preciso trabalhar por nossa estabilidade financeira. Planejar as finanças também para evitar uma série de coisas indesejáveis: - Os problemas financeiros estão entre as principais causas de divórcio. - A instabilidade financeira pode contribuir para desencadear uma série de doenças, como: estresse, depressão, gastrite, pressão alta, entre outras relacionadas. - Não raramente, questões financeiras costumam causar brigas e desentendimento entre amigos, familiares e até colegas de trabalho. NÃO. Não há nenhuma fórmula mágica. Mas há uma série de coisas simples que podem te levar a conseguir essa importante estabilidade. Você precisa é de um bom Planejamento Financeiro. Antes de qualquer coisa, é importante dizer que isso é bem mais simples do que possa parecer. Mais que conhecimentos, você precisa de disciplina e organização. MAS, O QUE FAZER ???? HÁ UMA FÓRMULA MÁGICA PARA ISSO? 35 Antes de qualquer coisa, esqueça as pessoas que possam ter dito que “controlar o dinheiro é muito complicado, você não vai conseguir”. Provavelmente são pessoas que não tiveram força de vontade suficiente para se disciplinarem. Também esqueça as vezes que você disse que “não sou bom com matemática”, “isso de ficar fazendo conta, não é para mim”. Você só precisa querer e ter a mente aberta para aprender. A maioria das coisas se faz sabendo somar e subtrair. GANHOS X GASTOS Se perguntássemos “Quem tem dinheiro sobrando”, provavelmente pouquíssimas ou nenhuma pessoa se pronunciaria. Ou seja, todos têm necessidade de controlar quanto ganha e o quanto gasta. Sem esquecer do economizar. Assim sendo, a primeira coisa que temos que ver é como anda o equilíbrio entre o quanto você ganha e o quanto você gasta. Você tem economias? Marque em qual das situações abaixo você se encaixa: Se você assinalou a alternativa A: parabéns, você está numa situação privilegiada. Mas isso não quer dizer que pode relaxar, a atenção deve ser permanente. Se você marcou a situação B, provavelmente você é uma daquelas pessoas que tem dificuldade de planejar compras e atividades de longo prazo: um financiamento, uma viagem, uma aquisição de maior valor. Cuidado!!!! Espera lá, mas e eu que marquei a alternativa C? Eiii... e eu que marquei a D? Então vocês estão entre aqueles que realmente precisam prestar bastante atenção no que vamos conversar a partir de agora. O caso de vocês é de urgência. ( A ) Eu gasto menos do que eu ganho. Assim todo mês guardo um pouco. ( B ) Eu gasto praticamente o mesmo que eu ganho. Vivo no limite do dinheiro. ( C ) Eu gasto mais do que eu ganho. Minhas dívidas só têm aumentado. ( D ) Eu não tenho a mínima ideia de como andam minhas finanças. 36 A primeira coisa que você precisa fazer é relacionar as suas receitas ou os seus ganhos mensais. Que tal começar com o quadro exemplificativo abaixo? Descrição Valor Receitas Totais................................................................... - Salários.......................................................................... - Aluguéis......................................................................... - Prestação de serviços................................................... - Outros:____________________________________ Bom, essa foi a parte boa. Agora vamos ao outro lado da moeda: as despesas. Antes de começarmos a listar as despesas, precisamos lembrar que existem gastos que são prioritários (necessários para a nossa sobrevivência) e gastos desejáveis (aqueles que podemos abrir mão, não essenciais para a sobrevivência). Há várias formas de separar os gastos, dependendo da abordagem de quem trata da área. Uma separação interessante é a apresentada por Parreira e Parreira (2017), que dividem as despesas em: Prioritárias, Importantes e Desejáveis. Nas despesas prioritárias incluem-se aquelas das quais não se pode abrir mão, pois são indispensáveis para nossa sobrevivência. Como por exemplo: aluguel,água, gás, energia elétrica, mercado, farmácia e por aí em diante. Entre as despesas importantes pode-se exemplificar: plano de saúde, combustível, lazer, cursos e treinamentos, etc. Dentre as despesas Desejáveis podemos considerar: financiamento do carro, viagem de férias, passeios de fim de semana, salão de beleza, entre outros. Obviamente que essa é uma sugestão de classificação e que os itens que para uns são importantes, para outros podem ser prioritários. Por exemplo: para alguém que trabalha com vendas, o combustível é prioritário, pois sem ele não tem receita. A questão aqui é: quais gastos eu posso cortar, numa situação de necessidade? E em que ordem eles podem ser cortados? “A coisa mais importante a se fazer quando você se encontra em um buraco é parar de cavar”. Warren Buffett Nunca sabemos quando pode surgir uma situação de dificuldade financeira.Devemos ficar atentos. 37 Outro aspecto que não podemos esquecer são os gastos eventuais como: conserto no veículo, reparos na casa (seja própria ou alugada), uma doença que surge. Ou ainda aqueles gastos que acontecem em intervalos maiores de tempo: IPTU, IPVA, a troca de óleo periódica ou a revisão, etc. Como farei quando eles surgirem? Seja qual for a classificação que você dê aos seus gastos, é indispensável identificar todos eles e controlá-los periodicamente (no mínimo, mensalmente). Que tal agora nós listarmos as despesas mensais que temos em nossa casa? Pode-se fazer isso no formulário a seguir, adaptado de Salanek Filho (2012). Há uma sugestão de despesas, mas outras podem ser adicionadas ou retiradas, se for o caso. Separe o que para você se enquadra em: prioritário, importante e desejável. Pode incluir gastos desejáveis, mesmo que ainda não os tenha. Também pode indicar gastos eventuais ou de periodicidade maior que o mensal: Descrição Prioritário, Impor- tante ou Desejável Periodicidade: Mês, Semestre, Ano. Valor DESPESAS TOTAIS Moradia - Aluguel - Condomínio - Prestação da casa - Luz - Água - Gás - Impostos - Consertos/Manutenção - - Telefone/Celular/Internet - Telefone - Celular - Interne - - Alimentação - Supermercado - Feiras/Panificadora - 38 - Transporte - Combustível - Prestação do carro - Seguro - Impostos - Estacionamentos - Ônibus - - Saúde - Farmácia - Médicos/dentistas - Plano de saúde - - Educação - Mensalidades escolares - Cursos extras - Idiomas/computação - Uniformes - - Lazer/informação - Academia - Jornais/revistas - TV por assinatura - - Outros gastos - Impostos - Viagens - - - ECONOMIAS - Poupança - Outro: CONTROLE DOS GANHOS (RECEITAS) E DOS GASTOS (DESPESAS) 39 Uma vez que identificamos quais são nossas receitas e despesas mensais, assim como as eventuais, devemos acompanhar como elas estão indo. Para isso é importante “ANOTAR” tudo que se ganhou e, principalmente, tudo que se gastou, independente de ser um valor grande ou um valor muito pequeno. A fim de poder fazer isso, guarde todos os comprovantes dos gastos: notas, tickets, recibos, entre outros. Esse é um hábito que muita gente não tem: pedir o comprovante. Isso é importante para você cuidar de suas finanças e para que o Estado possa arrecadar os tributos necessários para manter os serviços públicos. Se não conseguiu o comprovante, anote num pedaço de papel, para depois poder transcrever para os seus controles. Quando se menciona “ANOTAR”, há vários maneiras de se fazer isso: Existem diversos aplicativos para celulares, tablets e notebooks, onde se pode registrar todas as entradas e saídas de dinheiro. Muitos fazem a conciliação entre o estimado e o efetivamente realizado, trazem gráficos dos gastos e das receitas, mostrando se aumentaram ou diminuíram, entre outras coisas. Existem páginas da internet que também fazem as coisas acima citadas. Na maioria delas, você pode fazer tudo on line. Ou seja, não precisa baixar arquivo nenhum em seu computador e pode fazer seus controles onde estiver e até mesmo no seu celular. Tais controles podem ser feitos por meio de planilhas eletrônicas no computador ou notebook. Não sabe como criar uma? Não é difícil achar quem disponibilize isso, inclusive entre os colegas, ou mesmo na internet. Não quer nada disso? Não leva muito jeito com tecnologia? Então pode anotar em um simples caderno. Como? Basta usar uma folha para cada receita e cada despesa que tenha; a medida que receber ou pagar algo, basta lançar na folha correspondente; ao final do mês, some quanto anotou em cada folha: receitas, mercado, ônibus, lanches, etc.; passe os totais em uma folha e está pronto. “Cuidado com as pequenas despesas. Um pequeno vazamento afundará um grande navio”. Benjamin Franklin VIU COMO É FÁCIL? 40 Na medida em que você começa a fazer tal controle, pode comparar quanto ganhou e quanto gastou em cada mês com cada tipo de despesa. Com isso poderá saber: Para onde está indo meu dinheiro, onde estou gastando mais? Algum gasto aumentou num mês em relação aos anteriores? Onde preciso economizar, que gasto preciso dar uma segurada? Há algum item onde posso gastar um pouco mais sem peso na consciência? Posso aumentar o valor que vou guardar/poupar? O ORÇAMENTO PESSOAL ATENÇÃO: O controle das finanças pessoais (ganhos e gastos) não é algo que se faz sozinho. Esse é um exercício que deve envolver todos na casa: cônjuge, filhos, pessoas com quem se divide a moradia. Não adiante uma pessoa economizar, controlar, anotar tudo, enquanto que há outras que gastam desmedidamente e não controlam nada. Será como esvaziar uma piscina com uma peneira. Discuta isso com todos que residem no mesmo teto, mostre-lhes a importância de tudo que estamos discutindo e aprendendo aqui.Repasse o que aprendeu. OUTRA DICA IMPORTANTE: Ensine a importância disso tudo para seus filhos, desde pequenos. Lembre-se que as crianças aprendem muito mais rápido que os adultos. Se você lhes ensinar a ter educação financeira e a dar valor para seu dinheiro desde muito cedo, poderá evitar muitas frustrações e muito sofrimento deles no futuro. Mostre de onde vem o dinheiro e para onde vai. No futuro eles lhe agradecerão por ajudá-los a serem pessoas prósperas. 41 No tópico anterior tratamos das receitas e dos gastos depois deles já ocorridos: de onde veio e para onde foi o dinheiro do mês. Entretanto, a mesma coisa pode (e deve) ser feita projetando o futuro: o nome disso é Orçamento. Orçar, prever, projetar, estimar para sabermos: O quanto iremos receber no mês que vem e em que iremos gastar esse dinheiro? O quanto poderemos guardar na poupança? Há uma folga para iniciarmos uma nova prestação (empréstimo, compra grande)? O quanto posso começar a guardar para aquela tão sonhada viagem ou para aquele projeto que tenho para o futuro? Quanto vai faltar para cobrir os gastos que terei e as prestações que já assumi? Assim já vou vendo se há algum gasto que posso cortar (tirando os prioritários), se posso negociar com algum credor, onde posso buscar o dinheiro que faltará? O processo é igual ao que fizemos antes, só que dessa vez iremos trabalhar com uma projeção/estimativa do que irá acontecer e não com o que já ocorreu. Abaixo temos dois exemplos de planilhas que podem ser utilizadas. Neste exemplo, ao final do mês de julho é feita a estimativa para o mês de agosto na coluna “Estimado”. Quando agosto terminar lança-se o que realmente se ganhou e se gastou na coluna “Realizado”. Por fim, pode-se apurar a “Diferença” em cada item para ver se estão dentro do que é aceitável. Havendo diferenças muito grande pode- se buscar a causa para evitar surpresas em meses seguintes. Orçamento do mês de AGOSTO Estimado Realizado Diferença Receitas Totais - Salários - Serviços Despesas Totais - Mercado - Energia elétrica TOTAIS GERAIS Neste outro exemplo trabalha-se com os valores orçados, projetando mais de um mês. Pode-se fazer com tantos meses quantos se achar necessário e for possível. Com esse tipo de orçamento pode-se planejar compras de longo prazo. Orçamento para os meses de Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Receitas Totais 42 - Salários - Serviços Receitas Totais - Salários - Serviços TOTAIS GERAIS Existem muitas outras formas de se formatar um Orçamento, o importante é você começar o quanto antes. COMPRAS DE IMPULSO OU SOMENTE PORSTATUS Outra questão que exige bastante atenção, quando se trata de finanças pessoais e de se chegar à tão sonhada estabilidade financeira é: tome muito cuidado com as compras de impulso ou de comprar somente por status. Provavelmente você conhece ou já ouviu falar de alguma pessoa que: “não tem mais lugar para guardar as coisas que compra”, “nem bem foi lançado o novo modelo de celular e já foi correndo comprar”, “troca de carro todo ano, mesmo o seu estando praticamente novo”, e outras tantas situações. Não entraremos no mérito do que é certo ou errado, pois cada um deve saber como administra seu dinheiro. Há pessoas que possuem as condições financeiras para fazer tais coisas e não ter problemas. Entretanto precisamos estar muito atentos: Será que realmente preciso desse item? Ou posso esperar mais um pouco? Ele é um item necessário, um desejo que tenho ou só porque fulano tem um? Essa compra não comprometerá meu orçamento? Tenho como pagá-lo? Terei condições de pagar todas as parcelas, inclusive aquelas que vencerão daqui seis meses ou um ano ou até mais? “Uma jornada de mil quilômetros precisa começar com um simples passo”. Provérbio chinês. “Muitas pessoas gastam o dinheiro que não tem, para comprar coisas que não precisam, para impressionar pessoas que não gostam”. Will Smith 43 Se algo acontecer e minhas receitas caírem, tenho reservas para as parcelas? Existem ainda casos de pessoas que compram por compulsão (Oniomania ou TCC) ou por problemas emocionais: como depressão ou ansiedade. Fique sempre atento se alguém próximo de você demonstrar que pode estar fazendo isso. CARTÃO DE CRÉDITO O chamado “dinheiro de plástico” chegou para ficar. Praticidade para transportar e para usar, segurança de não andar com dinheiro, compras em prazos maiores que os usuais, acúmulo de milhas: são algumas das vantagens que fazem as pessoas usarem cada vez mais o cartão de crédito. Isso sem mencionar que está cada dia mais fácil se obter um cartão, basta uma ligação e ele chega em sua casa. Dentro da linha de raciocínio que estamos estudando, o cartão pode também ser usado com uma ferramenta de controle financeiro. Muitas pessoas concentram suas compras nos cartões (Crédito e Débito) para ficar mais fácil de identificar onde ocorreram seus gastos: quando chega a fatura, está tudo discriminado. Por outro lado, temos que lembrar que, apesar de ser um grande aliado no controle das despesas, ele precisa ser muito bem usado, pois esconde muitos perigos. Se eu compro uma ferramenta nova, para uso doméstico, quais as primeiras coisas que preciso fazer, antes de começar a usá-la: ler com calma o manual de instruções, estudar bem seu funcionamento, ver quais os principais riscos no seu uso, fazer uns testes de operação, ver se está tudo bem travado. Caso chegue em casa e não faça nada disso, já vou direto usar minha ferramenta, eu assumo uma série de riscos: perder dinheiro por estragar materiais, estragá-la e perder a ferramenta, perder um dedo ou machucar-se, etc. CARTÃO DE CRÉDITO: HERÓI OU VILÃO? CUIDADOS NECESSÁRIOS. “O risco vem de você não saber o que está fazendo”. Warren Buffett 44 Como em toda ferramenta, a utilização do cartão de crédito exige muitos cuidados, é preciso saber exatamente como ele funciona, para evitar prejuízos, endividamento e dores de cabeça futuras. Abaixo trazemos algumas dicas e cuidados apontados por diversos especialistas, para um uso adequado do cartão de crédito, para que ele seja sempre nosso amigo. a) Não conhecer as condições do crédito. Como já dito, estude bem o “manual de instruções” de seu cartão antes de começar a usá-lo: quais as taxas de juros, há cobrança de taxas e seguros, que dia vence a fatura, que dia fecha a fatura, etc. Lembre-se que você pode escolher a data de pagamento, veja qual o dia que melhor se encaixa com seus recebimentos. Veja quando fecha a fatura (o normal é de 10 a 15 dias antes do vencimento), assim você pode programar suas compras. b) Ignorar os custos embutidos. Além da taxa de juros incidente, verifique o que mais será cobrado: qual o valor da anuidade (há como negociá-la), se o cartão cobrará seguro e taxas. c) Usar o cartão sem critérios. Há um dito popular que diz: “Dinheiro não nasce em árvore”; ele se aplica bem neste item. Afinal, o dinheiro vem do nosso trabalho, dos serviços que prestamos, do que comercializamos: não há dinheiro fabricado. Ao comprar a prazo, lembre de sua capacidade de pagamento futura. d) Cartão de crédito pode dar a sensação de poder e de riqueza. Lembra o que falamos acima, sobre compra de impulso ou por status? Parece que se aplica muito aqui, Releia o item “c”. e) PAGAR O MÍNIMO DA FATURA. Deixamos em caixa alta esse item de propósito, pois é um dos maiores riscos. Mesmo com as mudanças que vem ocorrendo nas regras do cartão, essa ainda não é uma boa opção, pois os juros ainda são os mais altos do mercado. Quando se adquire um cartão, a regra deve ser sempre: pagar integralmente a fatura na data do vencimento. Obviamente que o mais correto é só comprar no cartão até o limite que poderei pagar quando a fatura chegar. Mas se houve um descontrole e não tem todo dinheiro, busque outras fontes de crédito mais baratas. f) Sacar dinheiro. Em uma situação de necessidade, quando não se tem saldo na conta corrente, pode haver um impulso de sacar dinheiro no cartão de crédito. Numa 45 situação extrema até pode ser uma alternativa, mas esse dinheiro tem um custo alto, pois além dos juros contratados ainda haverá a cobrança de uma taxa de saque, em boa parte dos cartões. g) Obsessão por milhas. Os cartões costumam conceder milhas, em função do valor das compras efetuadas, ou mesmo pontos que podem ser trocados por produtos. É um atrativo interessante. Mas lembre-se: ganhe milhas/pontos por ter comprado e não compre para ganhar milhas. Se tomar esses cuidados e colocar todas as compras no cartão dentro da planilha de gastos que fizemos antes, você terá uma ótima ferramenta nas mãos. COMPRAR A VISTA OU COMPRAR A PRAZO? Está aí uma questão que muitas vezes nos aflige e que impacta em vários itens que já tratamos e em outros que são abordados na sequência deste capítulo. “Ah, isso é óbvio: se tenho dinheiro sobrando é melhor comprar a vista. Espera lá, mas se o preço é o mesmo a vista ou a prazo, vou comprar a prazo”. Viu como na verdade não é tão óbvio assim? E por diversos motivos. a) Primeiro que raramente o preço será efetivamente o mesmo: seja a vista ou a prazo. A maioria das empresas inclui juros nos preços a prazo, isso quer dizer que elas têm uma margem para dar descontos a seus clientes. Não custa nada pedir. b) Outro caso é que ao vender no cartão de crédito, principalmente venda parcelada, a empresa paga tarifas para a operadora do cartão. Essas tarifas variam conforme a operadora e o prazo, inclusive quando vendem para o vencimento do cartão. Se você tem como pagar em dinheiro, pode negociar ao menos o desconto dessa tarifa. c) Há ainda empresas que vendem no cartão de crédito e depois fazem a chamada “antecipação de recebíveis”. Nesse caso, tal empresa negocia com a operadora do cartão para lhe antecipar o dinheiro da venda a prazo; todavia, pode pagar altos juros por essa antecipação. Se você souber disso, proponha pagar em dinheiro ou no débito e obter um desconto. 46 d) De outro lado, há consumidores que compram a vista para ganhar desconto, mas usam o limite do cheque especial. Resultado: os juros do limite são maiores que o desconto que ganhou na compra. e) Se você for bom em matemática financeira (ou conhece alguém que o seja) e tem dinheiro sobrando, antes de comprar a vista ou a prazo, calcule a taxa de desconto recebida. As vezes compensa comprar a prazo e investir o dinheiro em alguma aplicação financeira queofereça ganho maior. Correlacionada à questão de comprar a vista ou a prazo, aproveitamos para lembrar o caso de impostos, como IPTU e IPVA, que oferecem desconto para pagamento a vista. Vale a pena fazer as contas, muitas vezes compensa pagar a vista. CONTA CORRENTE E CONCILIAÇÃO BANCÁRIA Na mesma linha dos cartões de crédito podemos abordar a utilização de contas correntes bancárias, na gestão do nosso dinheiro. A conta corrente também tem muitas funcionalidades e alguns perigos, que vale a pena analisar. Para quem tem um negócio não há como trabalhar sem uma conta corrente. O leque de serviços oferecidos pelo sistema bancário (bancos, caixas econômicas, cooperativas de crédito) tem aumentado muito. Além disso, a facilidade de uso só tem crescido, com a evolução da internet e dos ambientes informatizados. Já se foi o tempo que o cliente precisa ir quase todo dia ao banco, que tudo era resolvido com a gerência da agência. Hoje quase não se precisa ir ao banco. Como produtos disponibilizados na conta corrente, podemos elencar alguns: - Fornecimento de talão de cheques (hoje menos utilizado); - Cartão de débito e cartão de crédito (abordado acima); - Transferências entre contas do mesmo banco ou para outros bancos; - Possibilidade de fazer transações em casa, pelo Internet Banking; Negocie sempre, se não conseguir um desconto, pelo menos exercitou seu poder de negociação. Se puder, estude cálculos financeiros, isso lhe ajudará muito nos negócios. 47 - Crédito rotativo em conta ou o chamado cheque especial; - Débito automático de contas: água, luz, telefone, TV a cabo, etc.; - Entre outros tantos. Quando tratamos de Finanças e Resultado (Capítulo 4), voltamos a abordar alguns desses serviços, assim como trazemos outras opções interessantes para o negócio. O primeiro cuidado que se deve ter ao abrir uma conta corrente é: identificar que serviços você realmente precisará utilizar e quais dificilmente utilizará “Ahh... vou contratar todos, vai que um dia preciso usar”. Resposta errada, ou melhor, resposta impensada. Não esqueça que todo serviço que você contratar, terá de pagar por ele. Vale no comércio, vale nas instituições financeiras, sejam privadas ou sejam públicas. São as famosas Tarifas Bancárias. Na cobrança dessas tarifas, por determinação do Banco Central, o sistema bancário oferece os chamados “pacotes de serviços bancários”, onde inclui certa quantidade de cada um dos serviços discriminados acima, bem como outros não citados. O que muita gente não sabe é que existem diferentes pacotes de serviço, com um custo mensal maior ou menor. Quem estiver abrindo sua conta, como está lhe vendendo um produto, provavelmente irá lhe oferecer o pacote mais completo. Estude bem qual pacote de serviços melhor se encaixa no seu perfil de uso. Assim como faz ao ir numa loja, lembre-se: só compre o que vai usar. Evite pagar tarifas desnecessárias, o valor pode parecer pequeno, mas na soma do ano não será. De acordo com regulamentação do Banco Central, as instituições financeiras (em se tratando de c/c) devem oferecer para seu cliente o “pacote de serviços essenciais” sem cobrar tarifa nenhuma por eles. Se o cliente usar serviços a mais que o mínimo, paga uma tarifa por serviço utilizado. Veja a tabela do banco e faça bem as contas. Poderá economizar dinheiro. Também não compre de impulso: cheque especial, seguro, título de capitalização; vamos repetir: só compre o que vai usar. 48 Conciliação bancária? O que é isso? Uma coisa comum de vermos hoje são pessoas que controlam sua conta apenas pelo saldo. De repente a conta aparece negativa e não sabem por quê. É comum jogarem a culpa no banco, depois descobrem que elas é que são as culpadas. No dia 28/06, o Sr. Desorganizado consultou seu saldo, via aplicativo de celular: tinha R$ 352,50 em sua conta corrente. Ficou feliz por ter dinheiro sobrando no final do mês, coisa rara de ocorrer. Como dali uns dias receberia o salário, quis aproveitar essa “sobra”. Foi em uma loja e comprou um item que há tempos queria, por R$ 350,00 no cartão de débito. Ainda lhe sobrou R$ 2,50 na conta. Dias depois foi consultar o saldo para ver se o salário já fora creditado. Mas levou um baita susto ao ver que a conta estava com saldo negativo de R$ 329,40. Ficou louco da vida e foi à agência reclamar: “Vocês estão roubando meu dinheiro. Quero saber onde foi parar meu saldo.” Ao analisar o extrato, o gerente constatou que após a compra acima, houve o pagamento de um cheque de R$ 220,00 e o débito da conta de luz no valor de R$ 111,90; que o Sr. Desorganizado esqueceu de considerar quando consultou seu saldo: “o Sr. não conferiu seu extrato?” Por seu descontrole, só restou pedir desculpas ao gerente e correr atrás do prejuízo. Vamos entender melhor o que houve com o Sr. Desorganizado: Saldo da conta corrente em 28/06 - 352,50 (-) Cheque emitido e ainda não compensado - ( 220,00) (-) Débito automático da luz previsto para 30/06 - ( 111,90) (=) Saldo que ele realmente poderia contar - 20,60 Como ele fez uma compra de R$ 350,00 no débito, a conta ficou negativa e entrou no limite de cheque especial em R$ 329,40 (e ainda irá pagar juros pela utilização do limite). Ou seja, ele não poderia ter feito tal compra, sem antes fazer sua conciliação. Perceberam como o cálculo é muito mais simples do que parece? Basta anotar diariamente cada cheque ou movimentação e consultar o extrato periodicamente. Cada vez que emitir um cheque, anote: a data, para quem deu o cheque e seu valor. Quando ver no extrato que o cheque foi quitado pelo banco, coloca um PG ou um X ao lado do valor, se usa o canhoto do talão ou em suas anotações. A mesma coisa vale para as contas em débito automático. Tão logo chegue cada fatura (água, luz, telefone, etc.), já desconte de seu saldo em seus controles. Não esqueça das tarifas bancárias, parcelas de empréstimos e assim por diante. 49 Só anote os créditos (salários, por ex.) quando comprovar no extrato que o valor já está lançado. Como diz o ditado: “Não conte com o ovo dentro da galinha”. Você vendeu algo ou prestou um serviço e a pessoa disse: “amanhã já deposito ou transfiro para sua conta”. O que você pensa: “oba, amanhã já posso gastar”. Pensamento ERRADO. Você deve pensar: “amanhã consultarei o extrato para ver se já ocorreu o crédito na conta, daí verei onde posso gastar”. Primeiro que entre hoje e amanhã muita coisa pode acontecer. Em segundo lugar, pode ocorrer da pessoa fazer um depósito em cheque, daí você precisa esperar o cheque ser compensado (ter saldo) para só então gastar o dinheiro. Independente se você usa talão de cheques ou não, o controle pode ser feito em um pequeno caderno ou num arquivo de planilha eletrônica. O importante é anotar tudo, não interessa onde. Se você tem uma movimentação grande, vale a pena buscar softwares e aplicativos para fazer sua conciliação Tudo que se tratou neste item, vale tanto para a pessoa física quanto para a pessoa jurídica (empresa). A diferença é que na empresa o volume de movimentações pode ser maior, exigindo um cuidado maior nos controles e uma disciplina maior, para não deixar acumular coisas sem lançar. 50 POUPANÇA Como vimos no início deste capítulo, a estabilidade financeira não é composta apenas do GANHAR e do GASTAR, mas faz parte de um tripé que envolve outro aspecto muito importante: o ECONOMIZAR. A maioria dos especialistas em finanças pessoais adota a lógica de Warren Buffett, transcrita acima, ou seja, coloca que o item “poupança” deve ser tratado como uma despesa usual, algo com que você deve ser comprometer todos os meses. Lembra que falamos de sonhos, desejos, anseios? Pois bem, uma das formas de realizá-los é fazer um planejamento para guardar/poupar um pouco por mês. Na horade listarmos e mensurarmos nossos gastos de cada mês, já se deve considerar: quanto vou guardar neste mês? A definição do valor que será poupado cada mês depende do orçamento de cada um. Se a situação estiver muito apertada, no limite, quase no vermelho: que tal começar com R$ 30,00 por mês ou talvez até R$ 10,00? O importante é criar o hábito de guardar um pouco por mês. “Não guarde o que resta depois de gastar, mas sim gaste o que sobrou depois de guardar”. Warren Buffett O termo Poupança é aqui usado no sentido de guardar, poupar, fazer uma reserva financeira. A forma como fará isso: conta poupança, aplicação financeira, “colocar em baixo do colchão” ou num cofre, você escolhe a que lhe for melhor. Assim como quando se falar de “Economias”, também será no mesmo sentido. 51 Outro cuidado que você precisará ter (esse é complicado): é resistir à tentação de mexer nas suas economias. Tenha sempre em mente qual o motivo para o qual está fazendo aquela poupança e seja fiel a isso. Mas e se surgir uma necessidade urgente, como uma doença mais séria, estragou o carro e preciso dele para trabalhar, fiquei desempregado? É claro que tais motivos podem ser mais importantes do que seus sonhos; então você usará sua poupança. Nesse caso, seja positivo, pense que teu sonho está emprestando o dinheiro para atender à tua eventualidade, depois você devolve o dinheiro para a poupança. RESERVA DE EMERGÊNCIA Já que falamos em eventualidade, vem mais uma questão que é abordada para praticamente todos que tratam de finanças: ter a sua reserva de emergência. Talvez o primeiro sonho ou desejo que você deva ter, para o qual irá poupar, deva ser o de formar sua reserva para as situações inesperadas. O que fazer no caso de ser demitido? Sou autônomo e preciso ficar alguns meses sem trabalhar? Precisei fechar meu negócio, como faço com as contas da casa? Preciso fazer uma cirurgia que o plano de saúde não cobre e que não posso esperar? Nesse caso a reserva de emergência (ou como queira chamá-la) entra em ação. Não há um valor ou número padrão. Depende quanto você ganha, de quão estável é seu rendimento mensal e da margem que você tem para cortar gastos, caso isso seja necessário. Em qualquer caso, a referência é o seu salário ou o seu ganho mensal. Tomemos por exemplo que você tenha uma renda de R$ 3.000,00 por mês. Vamos ver algumas situações hipotéticas e sugestões de reserva. Você tem estabilidade no emprego (por ex.: servidor público). Sua reserva é mais para situações emergenciais. Nesse caso, talvez guardar 3 a 5 meses de salário possa ser suficiente, ou seja, uma poupança entre R$ 9.000,00 e R$ 15.000,00. Você atua como empregado no setor privado, portanto sem estabilidade legal de emprego. Se for demitido, quanto tempo demoraria para conseguir se realocar no Mas de quanto será essa reserva? 52 mercado de trabalho? Seria interessante pensar numa reserva para no mínimo 6 meses sem salário: de R$ 18.000,00 pelo menos. Você atua como autônomo e sua renda é bastante variável. Além disso, há que se lembrar que a economia é instável. Para complicar, se ficar doente ou sofrer um acidente, não poderá trabalhar e poderá ficar sem renda. Especialistas propõem uma reserva para um período de 6 a 12 meses. Quer dizer, entre R$ 18.000,00 e R$ 36.000,00. Como dito, são números e situações hipotéticos, que ninguém quer que ocorra, mas para as quais precisamos estar preparados. Encontre o valor que melhor se encaixa em seu perfil e comece a guardar. Por mais que esse seja o tipo de poupança menos atrativo, guardar para algo que não quer que aconteça, podemos dizer que é o mais importante para quem busca a estabilidade financeira e a tranqüilidade. Agora dois pontos essenciais: 1º) Esse valor deve ser aplicado em algo de grande liquidez, ou seja, que eu possa resgatar de imediato, e de baixíssimo ou nenhum risco. Ex.: conta poupança. 2º) Quando atingiu o valor que programou, deve esquecer que tem tal dinheiro. Se você fez uma reserva de emergência, ela é só para emergência. Depois disso posso parar de me preocupar em guardar ECONOMIZAR? CLARO QUE NÃO. Esse deve ser um hábito para toda a vida. Agora pode planejar os outros sonhos que tem: trocar de carro, a casa própria, o curso superior dos filhos, aquela viagem dos sonhos, e por aí segue. INVESTIMENTOS No item anterior falamos em poupar/guardar para realizar nossos sonhos e alcançar aquilo que almejamos. Mas o que fazer quando temos recursos sobrando? Daí eu posso gastar a vontade? Ou devo pensar em aplicar? Como saber onde aplicar? Obviamente que o “gastar a vontade” está totalmente descartado. O risco de ocorrer uma “deseducação financeira” é imenso. E os resultados podem ser catastróficos. Pessoas com renda alta, que têm dinheiro sobrando todo mês, possuem um risco maior para o descontrole e o endividamento, do que quem vive no limite da renda. Poupança? Ações? Renda Fixa? Renda Variável? Imóveis para aluguel? Onde investir? 53 Então, se não tiver nenhum plano imediato para suas sobras, pense em investi-las. Não há como dizer aqui que essa ou aquela modalidade de investimento é melhor ou a pior. O leque de opções é muito diversificado e varia conforme o seu perfil. Para isso, uma dica é ler artigos e conhecer como funciona cada tipo de aplicação. Não se esqueça de estudar bem os riscos que cada uma oferece, pois é muito difícil uma aplicação de risco zero. Além disso, procure conversar com o gerente da instituição financeira onde mantém sua conta, ele poderá lhe apresentar várias alternativas e ajudá-lo na escolha. De qualquer forma, nunca deixe o dinheiro parado. Ele ficará exposto à inflação e você estará exposto aos riscos das compras de impulso e gastos desnecessários. OS RISCOS DO CRÉDITO FÁCIL Com o sucesso do Plano Real em 1994, que conseguiu derrubar os índices de inflação e estabilizar a economia, decorre uma estabilidade de preços e do poder de compra das famílias. Entretanto, se por um lado o país se livra do fantasma da inflação, de outro lado um novo perigo surge: o aumento do endividamento pessoal e das famílias começa a ser sentido. Com uma economia estável, constata-se que a oferta de crédito vem verificando um aumento muito grande, principalmente cerca de 10 anos para cá. Com isso surge uma questão muito seria, que atinge principalmente as pessoas descontroladas: o crédito fácil e seus riscos para as finanças pessoais. Diariamente somos bombardeados por campanhas de marketing que visam nos mostrar que “temos necessidade” de adquirir esse ou aquele produto, ou então que “precisamos” de tal serviço, ou ainda que “queremos” viajar para determinado lugar. Resistir a tanta oferta não é uma tarefa fácil, principalmente com o aumento do uso da internet, das redes sociais, etc. Cientes disso, as instituições financeiras passam a oferecer uma ampla gama de linhas de crédito, para “você realizar seu sonho”. Mas como eu posso me proteger dos riscos do crédito fácil? 54 Assim como outras coisas que tratamos antes, a melhor vacina é conhecimento. Então vamos ver alguns pontos que você deve saber e considerar antes de tomar a decisão de buscar um empréstimo ou financiamento. Por que os juros do crédito fácil são tão altos no Brasil? Justamente por se tratar de um crédito “fácil”, ou seja, em que as exigências (de documentação e garantias) são menores. Com isso, as empresas de crédito sabem que parte dos empréstimos que fizerem não será recebida ou ela terá gastos e contratempos para receber. Justamente esse risco de inadimplência e de aumento de gastos é que eleva seus juros. Aquelas empresas de crédito que emprestam para pessoas com “nome sujo” sabem que essas pessoas não conseguirão emprestar em bancos, isso também é causa de aumentar suas taxas de juros. Eu realmente preciso desse dinheiro? Imaginaque você está andando no comércio e alguém lhe aborda dizendo: “que tal pegar R$ 5.000,00 para gastar no que você quiser, sem burocracia, sem consulta a SPC/SERASA... e tudo muito rapidinho?”. Pois é, muitas pessoas não conseguem resistir e aceitam. Só depois é que vão pensar onde gastar esse dinheiro. No fim das contas, grande parte dele é gasto em coisas que não seriam realmente necessárias, como bens de consumo, e que poderiam esperar um pouco. Portanto, tenha sempre essa frase em mente: eu realmente preciso desse dinheiro? Você é quem deve procurar pelo crédito, após um estudo minucioso de suas finanças; nunca o crédito deve vir atrás de você. Será que essa compra ou esse sonho não pode esperar? E se eu guardar dinheiro e comprar a vista, daqui algum tempo? Sem dúvida essa é a melhor opção, sempre que for possível esperar. Se for algo que não é de extrema necessidade, vale a pena guardar dinheiro e comprar a vista. Com isso você poderá pesquisar melhor, negociar descontos pelo pagamento em dinheiro, entre outros. 55 Eu poderei pagar as prestações? Eu poderei pagar todas as prestações? Não basta você fazer seu orçamento para o mês que vem, na hora de assinar um contrato de empréstimo. Você deve considerar todo o período de contrato: 12 meses, 24 meses, e assim por diante. Há que se planejar bem, principalmente considerando aqueles meses em que os gastos aumentam bastante: pagamento do IPTU ou IPVA, renovação do seguro do carro, comprar material escolar dos filhos, renovação do contrato de aluguel (pode ter aumento), dentre outros tantos. Um parente pediu para fazer um empréstimo em meu nome. Disse que pagará certinho. O que devo fazer? Temos que reconhecer que é uma situação muito delicada, por todo drama que pode decorrer de uma resposta negativa. Mas cabe lembrar, que isso é uma coisa de alto risco, pois você não tem acesso ao controle das finanças pessoais dele. Portanto, tente obter o máximo de informações possível, como: - Ele precisa do dinheiro para uma real necessidade ou uma compra de impulso? - Ele poderá pagar as parcelas até o final? - Quais os motivos por que ele não consegue emprestar no próprio nome? Além disso, analise as suas finanças: - Se ele não pagar, eu terei condições de assumir a dívida? As vezes um NÃO agora pode ser menos traumático que uma briga depois. No caso do “crédito fácil”, qual a taxa de juros efetiva desse dinheiro? Na maioria das vezes a taxa de juros divulgada não representa a taxa que será efetivamente cobrada. Isso acontece devido às despesas que são agregadas ao valor emprestado: IOF, taxa de contrato, taxa de cartório, etc. Vamos a um exemplo: Valor emprestado R$ 5.000,00 I.O.F. cobrado R$ 151,71 Taxa de contrato R$ 500,00 Valor total do contrato R$ 5 651,71 Prazo 24 meses Taxa anunciada 3,00% ao mês Valor da parcela mensal R$ 333,72 Taxa efetivamente cobrada 4,17% ao mês 56 Mas como isso é possível? De onde saiu a taxa de 4,17%? O cálculo está errado? Na verdade o cálculo não está errado. Mas ele foi feito considerando que você de fato emprestou R$ 5.651,71 e não apenas R$ 5.000,00. Ou seja, o IOF e a taxa de contrato também foram financiados, juntamente com o valor que você levou. Se considerarmos 24 parcelas de R$ 333,72 a partir do valor que você levou para casa, chega-se na taxa de 4.17% ao mês. Se não tivéssemos a cobrança da taxa de contrato, hipoteticamente, o valor da parcela cairia para R$ 304,20. Portanto, antes de emprestar analise todos os itens: valor tomado, taxa anunciada, prazo, valor do IOF, taxa de contrato, outras taxas cobradas, valor da parcela. Se não sabe fazer tais cálculos, não se preocupe, a maioria da população não o sabe. PROCURE AJUDA de quem sabe calcular. Como calcular taxas de juros? O cálculo das taxas de juros (assim como do valor de parcelas e outros) não é tão simples, principalmente para quem não tem ao menos uma pequena noção de matemática financeira. Mas há alguns cálculos que podem ser feitos. Para melhor contextualizar, faremos esse exercício no capítulo seguinte, quando tratarmos de Finanças empresariais.
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