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1 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 ATENDIMENTO OBSTÉTRICO NA EMERGÊNCIA AVALIAÇÃO INICIAL DA GESTANTE: Determinação do tempo de gravidez considerando a DUM ou USG; IG: dias da DUM até hoje/ 7 Leitura do cartão de pré-natal para identificar medicações em uso, evolução ponderal, níveis pressóricos, exames laboratoriais e ultrassonográficos. Medida da altura uterina: 10-12 semanas: o útero começa a ser palpado acima da sínfise púbica; 16 semanas: encontra-se a meio caminho entre a sínfise púbica e a cicatriz umbilical; 20 semanas: no nível da cicatriz umbilical. A partir de 20 semanas até 32 semanas, a medida da altura do fundo uterino se correlaciona diretamente com a idade gestacional A caracterização da dor deve ser bem detalhada. Localização, associada ou não ao abdome ou útero, característica e intensidade, duração e repetição, fatores de melhora ou piora, associação com contração uterina, associação com sangramento, perda de líquido, são informações importantes. O trabalho de parto se caracteriza pela dor em cólica associada a contração uterina, com duração próxima a 1 minuto e intervalos de 10 minutos e intensidade progressiva. Quando a dor for associada a contração uterina intensa, aguda, sem melhora ou intervalo pode ser decorrente de complicação obstétrica, como descolamento prematuro de placenta. O sangramento genital deve ser sempre investigado. Sangramentos agudos e vivos são frequentemente associados a condições adversas; mas são normais quando em pequena quantidade, escuro, misturado a muco cervical. EXAME FÍSICO Avaliam-se as condições da gestante preferencialmente em decúbito lateral esquerdo para evitar a compressão da veia cava. São avaliados FC, FR, PA e preenchimento capilar periférico. Obs: lembrar que as gestantes possuem aumento na FC e redução da PA. Além disso, o volume sanguíneo aumenta progressivamente. Avaliar tônus uterino, presença de contrações, sua frequência e intensidade, perceber a movimentação fetal e se possível, auscultar os batimentos fetais. Deve-se evitar a realização do toque, bastando a observação dos genitais externos e a presença de saída de líquidos ou sangue. ABORDAGEM INICIAL Anamnese e exame físico rápidos para definir as condições gerais da gestante. Monitorização de FC, PA, ventilação/oxigenação. Acesso venoso adequado permite a reposição volêmica. O uso de drogas vasoativas deve ser considerado em último caso, por comprometer a circulação uteroplacentária. A imobilização de gestantes com suspeita de trauma deve ser feita de maneira habitual, apenas que a maca deva ser lateralizada para esquerda em cerca de 15 a 20º para permitir o deslocamento do útero sobre a veia cava. TRABALHO DE PARTO Compreender a evolução do trabalho de parto e identificar sinais de situação de risco é fundamental pata a tomada de decisão quanto ao transporte da gestante para ambiente hospitalar ou se a iminência de parto limita essa opção; Após o nascimento, o corte do cordão umbilical deve ser feito após parar de pulsar ou antes caso o recém-nascido necessite de manobras de reanimação. 2 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Após verificar que as vias aeres estão pérvias, o RN deve ser mantido aquecido e o cálculo de Apgar deve ser feito. A dequitação da placenta ocorre naturalmente entre 10 e 20 minutos após o período expulsivo (sendo considerado prolongado quando ultrapassa 30 minutos), Para isso, sugere-se que se deve instituir ocitocina profilática, rotineiramente, imediatamente após a expulsão fetal, na dose de 10 U, IM, além de tração controlada do mesmo e massagem uterina. O escore de Malinas A permite a avaliação do estágio de trabalho de parto e o tempo esperado para o parto, considerando alguns parâmetros. Dessa forma, é possível avaliar se haverá tempo adequado para o transporte da gestante até ambiente hospitalar adequado. Pontuação menor que 5, haveria tempo para remoção; Entre 5 e 7 pontos, o tempo até o parto seria curto e dependeria da distância a ser percorrida; Acima de 7 pontos não se deveria promover a remoção a não ser em veículo adequado para transporte e atendimento adequados, como unidades de terapia intensiva móvel. O escore de Malinas B correlaciona a determinação da dilatação do colo uterino e a paridade da paciente para estimativa do tempo até o parto. SITUAÇÕES ESPECIAIS 1. PARTO PÉLVICO Na iminência do parto, deve-se evitar manobras de tração de partes fetais, ou mobilizações desnecessárias do feto, para que não haja deflexão da cabeça e comprometimento dos mecanismos naturais de desprendimento fetal; O mecanismo do parto pélvico implica a exteriorização do diâmetro bitrocantérico fetal em variedade oblíqua e exteriorização após rotação em 45º. Nesse momento, a rotação do tronco fetal deverá ser no sentido de o dorso se posicionar anteriormente – voltado para o pube da gestante. Caso a rotação esteja ocorrendo no sentido inverso, o profissional deve corrigir e direcionar, durante as contrações, a rotação para o sentido de dorso anterior Após o desprendimento do polo pélvico, deve-se proceder à tração cuidadosa do cordão umbilical para formar alça que permita melhor circulação para o feto. Para o desprendimento cefálico, apoia-se o tórax fetal com as mãos, os polegares sobre clavículas e os outros dedos sobre as escápulas, realizando movimento de anteriorização do dorso fetal em direção ao pube materno. Manobra de Bracht: Ela consiste na elevação do dorso fetal ao encontro do abdome materno e na espera do desprendimento espontâneo dos braços ou na retirada suave dos mesmos com auxílio digital, com a ajuda de pressão suprapúbica realizada por assistente. Na ocasião do desprendimento da cabeça, o auxiliar mantém a pressão suprapúbica, enquanto o operador acentua a lordose fetal. A paciente deve ser orientada a fazer força durante toda a manobra de Bracht, pois a metade do tronco deve ser expelida, de preferência, durante uma única contração uterina 2. DISTÓCIA BISACROMIAL (OMBRO) Ocorre quando não há desprendimento dos ombros após o polo cefálico. 3 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 As complicações maternas envolvem lacerações do canal de parto, rotura uterina, atonia uterina, hemorragia e disjunções pélvicas, enquanto o feto pode apresentar lesões do plexo braquial, fratura de clavícula e úmero, encefalopatia. Os principais fatores de risco são macrossomia fetal, diabetes, obesidade e período expulsivo prolongado. A possibilidade da distorcia deve ser considerada quando se observa que o polo cefálico apresenta progressão e recuo durante as contrações e seus intervalos (sinal da tartaruga), ou ainda quando o polo cefálico se desprende, a face fetal se torna pletórica (vermelho) e há dificuldade em abaixar e erguer os ombros e o desprendimento do corpo não ocorre após 1 minuto MANOBRA DE MCROBERTS (abdução e hiperflexão das coxas): promove a rotação da sínfise púbica e retificação da lordose lombar. PRESSÃO SUPRAPÚBICA E MANOBRA DE RUBIN I: a pressão suprapúbica pode ser realizada no sentido vertical, com o objetivo de comprimir o ombro fetal, diminuindo o diâmetro biacromial, ou ainda, pode ser realizada sobre a região do ombro fetal, com intuito de realizar pequeno movimento de flexão e rotação dos ombros, permitindo seu desprendimento (Rubin I); REMOÇÃO DO BRAÇO POSTERIOR (JACQUEMIER): esta manobra consiste na introdução da mão do obstetra profundamente na vagina e retirada do braço fetal posterior, diminuindo o diâmetro impactado. 3. PROLAPSO DE CORDÃO O prolapso de cordão umbilical, com a rotura da bolsa amniótica, pode ocorrer lateralmente à apresentação (laterocidência) ou localizar-seà frente dela (procidência). Eventualmente, durante o exame obstétrico em pacientes com a bolsa amniótica íntegra, pode-se identificar o cordão pulsando à frente da apresentação, sinal claro de que não se deve realizar ou aguardar a rotura da bolsa. Quando o cordão se prolapsa à frente da apresentação, cefálica ou pélvica, poderá ocorrer sua compressão e obstrução com bloqueio da circulação feto-placentária, hipóxia fetal e óbito eventual. Trata-se de emergência obstétrica com necessidade de intervenção imediata e parto cesárea. Pode ser diagnosticado pela visão direta do cordão na vagina ou projetando-se além do introito; ou ser inferido pelo aparecimento de bradicardia fetal abrupta com a rotura amniótica. Assim que identificado, deve-se proceder à elevação da apresentação fetal através do toque vaginal, em que os dedos indicador e médio do examinador no interior da vagina elevam o polo cefálico para evitar a compressão. Essa manobra deve ser mantida até a resolução do parto. A paciente poderá ser mantida em posição de Trendelenburg ou genopeitoral ou em decúbito lateral contrário ao lado do prolapso. A sondagem vesical com enchimento de volume entre 500 e 4 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 700 mL faz com que a bexiga cheia auxilie em manter a apresentação elevada. 4. DOENÇA HIPERTENSIVA DA GRAVUDEZ (ECLÂMPSIA E PRÉ-ECLMAPSIA) PRÉ-ECLÂMPSIA É definida pelo aparecimento de hipertensão e proteinúria após 20 semanas de gestação em gestantes previamente normotensas. A pré-eclâmpsia é uma desordem multissitêmica, idiopática, especifica da gravidez e do puerpério. ECLÂMPSIA É a ocorrência de crises convulsivas, seguidas ou não de coma, em uma paciente com pré- eclâmpsia, descartando-se outras causas. São geralmente do tipo tônico-clônicas generalizadas e podem aparecer antes, durante ou após o parto. São autolimitadas (2-3 minutos) e são precedidas de sinais como cefaleia, alterações visuais, epigastralgia e dor no QSD do abdome. Pode ter como causa o vasoespasmo cerebral com isquemia local, encefalopatia hipertensiva, edema vasogênico e dano cerebral. DIAGNÓSTICO O diagnóstico de pré-eclâmpsia tem como base o aparecimento de hipertensão e proteinúria após 20 semanas de gravidez. CLASSIFICAÇÃO Pré-eclâmpsia leve: A paciente com pré- eclâmpsia leve ou sem sinais de gravidade possui quadro de hipertensão e proteinúria, porém não há qualquer tipo de lesão de órgão-alvo. Pré-eclâmpsia grave: a presença de qualquer um dos sinais da tabela indica gravidade da doença; Obs: Caso um dos critérios de gravidade esteja presente, inclusive o pressórico, a paciente deverá ser considerada como portadora de pré- eclâmpsia, mesmo sem a presença de proteinúria Medicamentos que podem ser utilizados no controle inicial da crise hipertensiva incluem hidralazina 5 a 10 mg parenteral a cada 20 minutos, até dose máxima de 40 mg. As crises convulsivas costumam ser autolimitadas, limitando o emprego de benzodiazepínico parenteral para controle dessa crise. O tratamento adequado é a administração de sulfato de magnésio, que deverá ser realizada em ambiente hospitalar. 5. SÍNDROME HELLP HELLP é um acrônimo que significa Hemolisys, Elevated Liver enzimes e Low Platelets, do inglês hemólise, aumento de transaminases e trombocitopenia. Representa uma forma grave de pré- eclâmpsia. A hemólise é definida pela presença de anemia hemolítica microangiopática, sendo a alteração mais importante da tríade. Que identifica esquizócitos. 5 Marcela Oliveira - Medicina UNIFG 2022 Outros dados laboratoriais incluem aumento da bilirrubina indireta, haptoglobina diminuída (< 25 mg/dl), LDH aumentado e diminuição da hemoglobina Outros sintomas incluem: dor no quadrante superior direito ou epigástrica; aumento excessivo do peso e piora do edema; hipertensão; proteinúria; náuseas e vômitos, cefaleia, alterações visuais e icterícia. As pacientes que não apresentem todos os critérios são diagnosticadas como portadoras de síndrome HELLP parcial. 6. DESCOLAMENTO PREMATURO DE PLACENTA O Descolamento Prematuro de Placenta (DPP) é a separação intempestiva da placenta normalmente inserida no corpo uterino em gestação com 20 ou mais semanas completas e antes da expulsão fetal; Ocorre com maior frequência em pacientes com síndromes hipertensivas, trombofilias, traumas abdominais, consumo de drogas como cocaína. Apesar de poder raramente ser assintomático, o quadro clínico clássico é de dor abdominal aguda, hipertonia uterina e sangramento vaginal escurecido. Quando o sangramento não é exteriorizado, pode-se observar o aumento progressivo da altura uterina, instabilidade hemodinâmica e sinais de coagulação intravascular disseminada (petéquias, equimoses, hematomas). O descolamento proporciona sofrimento fetal e óbito. Essas pacientes devem ser transportadas com monitorização hemodinâmica, ser aquecidas, com acesso venoso calibroso, reposição volêmica, reserva de hemoderivados, sondagem vesical e oxigenação. Atenção para o risco de desenvolvimento de DPP em gestantes vítimas de acidentes com desaceleração rápida. 7. PLACENTA PRÉVIA (PP) Importante diagnóstico diferencial para sangramento genital em gestantes de segundo e terceiro trimestre é PP, quando a inserção da placenta ocorre próximo ao canal cervical, aproximando-se marginalmente, recobrindo-o parcialmente ou totalmente. Nessa situação, contrações uterinas ou mesmo movimentação fetal podem causar sangramentos. Contrariamente ao sangramento da DPP, na placenta prévia o sangramento costuma ser mais vívido, vermelho, indolor, com pouca ou nenhuma contração uterina. O sangramento poderá ser intenso a ponto de ocasionar instabilidade hemodinâmica. O toque vaginal não deve ser realizado. Essas pacientes devem ser transportadas com acesso venoso calibroso, reposição volêmica, aquecidas, com oxigênio. 8. ABORTO As perdas gestacionais espontâneas de primeiro trimestre raramente determinam instabilidade hemodinâmica, apesar da possibilidade de associação com cólica, perda de coágulos ou mesmo produtos conceptuais. A dor abdominal geralmente é em projeção de hipogástrio com irradiação lombar, perineal. Raramente se associa com sinais clínicos de peritonismo. Essas pacientes devem ser transportadas com acesso venoso calibroso e reposição volêmica adequada, aquecimento corporal, além de suporte de oxigênio. É importante manter fralda ou equivalente que permita quantificar a perda sanguínea. Se possível, material eliminado deverá ser trazido para o hospital a fim de permitir análise, se necessário. 9. GRAVIDEZ ECTÓPICA Trata-se da gravidez que se desenvolve em decorrência da implantação e desenvolvimento ovular em local distinto da cavidade endometrial, frequentemente tuba. O desenvolvimento da placenta inadequadamente inserida em local que não o útero faz com que, em algum momento, haja sangramento intenso para o interior da cavidade peritoneal e choque hipovolêmico de rápida instalação.
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