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Aspectos fisiológicos do recém-nascido lactente Vários fatores durante a gestação interferem na amamentação após o parto. No útero, a alimentação e excreção são feitas por difusão através da placenta; a temperatura é alta e constante; o ambiente é barulhento devido aos batimentos cardíacos da mãe, peristaltismo, vozes, sons, músicas, entre outros; o ambiente é escuro com poucos momentos de “luminosidade”. Logo após o parto, é importante o contato pele a pele entre mãe e bebê, a chamada hora dourada. Ela ocorre quando o bebê é posicionado em decúbito ventral sobre o tórax ou abdome da mãe, sem que haja nenhum tecido entre eles. Por cima do bebê, deve haver um cobertor para mantê- lo aquecido. Sua duração é de, pelo menos, 1 hora ininterruptas e pode ocorrer de forma imediata (primeiros 10 minutos pós-parto – o mais indicado) ou precoce (de 10 a 23 horas pós-parto). Em casos que a mãe esteja impossibilitada, o acompanhante pode realizá-la. Esse momento ajuda a estimular a descida do leite devido a ação da ocitocina, aumentar o tempo de aleitamento materno exclusivo, auxilia na adaptação do bebê ao ambiente externo via termorregulação, aumenta vínculo mãe-bebê, evita estresse em ambos pois reduz a produção de cortisol, ajuda na colonização de bactérias benéficas presentes na mãe, estabiliza os batimentos cardíacos, respiração e pressão arterial do recém-nascido. Além disso, o bebê só consegue diferenciar o claro do escuro, por isso, a hiperpigmentação na aréola, provocada pelo estrogênio, ajuda que ele consiga encontrar o seio. Primeira hora de vida Choro: No primeiro choro ocorre a expansão dos pulmões e se inicia a respiração aérea. Nesse momento é importante o contato pele a pele com a mãe. Relaxamento: Momento de nenhuma atividade em que o bebê se acalma. Despertar: O bebê apresenta pequenos movimentos (meche os ombros, mãos e cabeça, tenta abrir os olhos, abre a boca etc.). Atividade: São realizados maiores movimentos, como procurar o peito através do cheiro (igual do líquido amniótico) e cor da aréola, mexer mãos, boca e língua, pode levar a mão à boca e sugar, faz contato olho a olho com a mãe etc. Descanso: Após a busca pelo peito e outros movimentos, o bebê vai descansar. Tateado: Aproximação do seio com curtos períodos de ação. Familiarização: Aqui ele lambe, toca e massageia o mamilo. Sucção: Ocorre o encaixe da boca na aréola seguido de sucção. Nesse momento pode sair o colostro. Sono: Momento de tranquilidade após todos os movimentos. Após o nascimento, o bebê a termo tem uma reserva para 24 horas, por isso é importante deixá- lo dormir e orientar que a família aproveite para descansar. Primeiro dia de vida Nas primeiras duas horas o bebê fica em estado de alerta e tranquilo, nesse momento ocorre todos os procedimentos (peso, vitamina etc.). Após esse período ocorre o relaxamento; ele pode dormir profundamente por 4 a 6 horas, sendo importante não o acordar para mamar, já que ele tem reservas suficientes para 24 horas (bebês a termo). É importante que a família aproveite para descansar durante esse tempo. Passada as horas, o bebê pode ter náuseas e ficar agitado devido a ingestão do líquido amniótico. A partir do segundo dia o bebê “troca o dia pela noite”, chora (única via de comunicação), quer colo e mama várias vezes ao dia (já que o estômago é muito pequeno). Vale salientar que cada dia é diferente. Para melhorar esses sinais, é importante agir de forma semelhante ao útero: o Colocá-lo no colo e fazer movimentos de embalo; o Conversar com ele, já que ele era acostumado a ouvir a voz materna; o Colocar músicas que sempre ouvia na gestação; o Aconchegá-lo em locais macios (pode fazer charutinho, mas não o deixar por muito tempo); o Dar banho de chuveiro ou no balde; o Dar peito, pois é reconfortante. Trato gastrointestinal O TGI do bebê anatomicamente está completamente formado, porém, funcionalmente ainda é imaturo. Portanto, não deve ser ofertada qualquer tipo de alimentação ou líquido por três fatores: primeiro, o recém-nascido tem maior permeabilidade capilar (capacidade de digerir proteínas intactas), o que é vantajoso para o aleitamento materno devido as imunoglobulinas presentes nesse leite, todavia, é comum alergias à proteína do leite de vaca; segundo, seu sistema imune é imaturo, senso suscetível a infecções, alergias; e terceiro, o TGI ainda é imaturo para digerir, absorver e metabolizar os alimentos corretamente. Sistema estomatognático Consiste no conjunto de estruturas do rosto, cabeça e pescoço que desenvolvem funções comuns (amamentação, mastigação, fala), onde a mandíbula tem maior participação. Essa região orofacial é importante para a amamentação da mesma forma que a amamentação é importante para seu desenvolvimento, assim como a mastigação também ajuda. Essas estruturas são 40% influenciadas pela genética e 60% pelos fatores externos (amamentação). Anatomia facial do recém-nascido o Mandíbula retraída quando comparada a crianças e adultos; a amamentação ajuda no desenvolvimento de queixo; o Língua volumosa em relação a cavidade oral; o A laringe está em posição mais elevada para proteger as vias aéreas de aspiração; o Os coxins de gordura na bochecha (sucking pads) estabilizam a boca do bebê no peito. Reflexos inatos São movimentos involuntários que já nascem com o bebê. São eles: 9 semanas: Reflexo de abertura e fechamento da boca; 11 semanas: Deglutição, que se inicia com a deglutição do líquido amniótico; 17 semanas: Sucção; 34 semanas: Coordenação (sucção e deglutição ao mesmo tempo); Esses reflexos podem ser adaptativos, ou seja, adaptam a criança ao meio externo (procura, sucção, deglutição, mordida) ou protetores (tosse, vômito e mordida). Adaptativos Reflexo da procura O estímulo desse reflexo ocorre na região perioral (lábio, bochecha, boca), surge nas 32 semanas de gestação, mas atinge seu pico máximo em 40 semanas de gestação. Ele é importante para que o bebê seja estimulado a abocanhar a aréola na amamentação. Tende a desaparecer após 3 a 6 meses de nascimento, pois nesse período o bebê já aprendeu que para amamentar é necessário abrir a boca, dessa forma o movimento deixa de ser um reflexo (involuntário) e se torna um movimento voluntário. É importante salientar que bebês que nascem por cesariana agendada podem ter esse reflexo atrasado. Por ser um reflexo, não significa que o bebê queira mamar toda hora que é estimulado. Reflexo da sucção O estímulo ocorre nos lábios, língua e palato. O reflexo surge por volta das 15-18 semanas e desaparece entre 3 e 6 meses, quando passa a ser um movimento voluntário. No período intrauterino, esse reflexo é importante para trazer conforto, prazer, segurança e calma ao bebê, por isso ele chupa o dedo quando está no útero. Vale ressaltar que ter o reflexo de sucção não garante a amamentação efetiva, pois outros fatores interferem nesse processo, sendo eles os padrões de sucção: Sucção não nutritiva: Quando há sucção, mas não tem saída de leite; pode ocorrer no peito, dedo e chupeta. Ela influencia na liberação de ocitocina e, como esse hormônio é responsável pela ejeção do leite e não está havendo nutrição, consequentemente ocorre liberação do fator inibidor da lactação (FIL). É mais rápida e curta, com menor movimentação da mandíbula. Sucção nutritiva: Quando há saída de leite e recebimento de nutrientes; ocorre no peito e mamadeira. É mais lenta e demorada, exige coordenação (sugar, engolir e deglutir) e pode ocorrer pausas de duração variável. A sucção não nutritiva é importante para o fator emocional, influencia o peristaltismo intestinal, ajuda na liberação de ocitocina, entre outros. Porém, não está havendo nutrição, então o bebê pode perderpeso e pode chorar por estar sentindo fome e a mãe achar que o leite não está sendo suficiente. Na amamentação, a sucção começa não nutritiva e, após a liberação da ocitocina, passa a ser nutritiva durando, aproximadamente, 30 a 40 segundos. Depois, ela volta a ser não nutritiva e em seguida volta a ser nutritiva. Ou seja, o fluxo de saída do leite na mama é por reflexo de ejeção do leite, sendo estimulado pela ação da ocitocina (liberada por pulso - ‘intervalos’). Já na mamadeira o fluxo é contínuo, sofrendo influência da gravidade. Na primeira ejeção do leite o volume é maior, por isso ele suga-engole. No segundo reflexo o volume de leite é menor, diminuindo a velocidade (suga-suga-engole); pode ser que haja um terceiro reflexo (suga-suga-suga-engole). A sucção não nutritiva na chupeta aumenta o risco de interrupção do aleitamento materno devido a confusão de bico e, também, porque o uso de chupetas aumenta o intervalo entre as mamadas (acumula leite, então produz FIL). Além disso, pode haver o comprometimento do desenvolvimento do sistema estomatognático, disfunção na mastigação e deglutição, deformação dento facial e problemas respiratórios (o bebê passa a respirar pela boca), dificuldade na fala, entre outros. Reflexo da deglutição Quando a boca enche e o leite/alimento está na faringe ocorre deglutição. Esse reflexo inicia antes do reflexo da sucção, por volta das 14 semanas de gestação, quando o bebê começa a engolir o líquido amniótico e permanece para o resto da vida. Reflexo da mordida Esse reflexo pode ser adaptativo e protetor. O estímulo ocorre na gengiva, surge por volta das 28 semanas de gestação e desaparece entre 9 e 12 meses de vida. Quando o bebê está mal posicionado a abertura da boca não ocorre de forma ideal, consequentemente, ele abocanha apenas o mamilo e quando esse mamilo encostar na gengiva, ele irá morder. Protetores Reflexo do vômito (GAG) Esse reflexo protege o bebê do engasgo (situação em que não há passagem de oxigênio). O estímulo ocorre no terço posterior da língua/faringe, surge na 18ª semana de gestação e diminui após 6 meses de vida, mas não desaparece. Mandíbula A mandíbula é importante na abertura da boca e no reflexo da procura. Após a abertura da boca, ela também será importante para a ordenha (feita apenas no peito). Quando o bebê está em aleitamento materno, a mandíbula trabalha de 4 formas: 1. Abaixamento: abertura da boca; 2. Protusão: mandíbula desloca para a frente para alcançar o complexo areolomamilar; 3. Levantamento: fechamento da boca; 4. Retrusão: mandíbula volta para seu lugar. Já na mamadeira, essa mandíbula trabalha apenas de duas formas: abaixamento e levantamento. Portanto, a amamentação ajuda no desenvolvimento do sistema estomatognático. Língua Na ordenha a língua está para baixo e para frente, em cima do lábio inferior. Ela exerce uma pressão positiva sobre o complexo areolomamilar; a pressão negativa da boca provoca vedação dos lábios. Já na mamadeira a língua fica para trás e a mandíbula faz os movimentos de abaixamento e levantamento. Assim, a diferença entre ordenha e sucção é justamente que na ordenha há um trabalho em conjunto da mandíbula e da língua com pressões. Função gastrointestinal Capacidade gástrica O recém-nascido apresenta uma capacidade gástrica muito pequena (~7 ml) e é ainda menor no recém-nascido prematuro, assim, o volume de colostro é pequeno. Por isso, é importante explicar para a mãe que nessa fase ele irá mamar várias vezes, não significando que o leite é insuficiente, mas sim que a capacidade gástrica dele é pequena assim como o volume de colostro é pequeno, mas que após a apojadura irá ter uma melhora. Após a 2ª semana essa capacidade é 10 vezes maior e após seis meses consideramos o volume gástrico de 30 a 40 ml/kg/refeição. Motilidade gástrica Diz-se que o esvaziamento gástrico ocorre entre 1 e 3 horas após mamar e quando é leite humano, aproximadamente, 2 horas. Isso depende de diversos fatores, se o bebê tiver feito sucção não nutritiva, por exemplo, esse tempo será menor. O esvaziamento é diferente quando é usado leite materno, leite de vaca ou fórmula. O teor de proteína do leite materno é menor que do leite de vaca e o tipo de gordura também é diferente, o que ajuda na digestão. O leite de vaca tem maior osmolaridade, maior quantidade de proteínas, dificultando a digestão. Isso faz com que o bebê demore mais tempo para se alimentar, já que o esvaziamento gástrico é mais tardio. No caso de prematuro o EG é ainda mais lento, por isso há maior risco de distensão abdominal, cólica etc. Vale ressaltar que o leite de mães com partos prematuros é diferente, justamente para atender às necessidade desse RN. Imaturidade intestinal O recém-nascido tem maior permeabilidade intestinal, sendo possível absorver peptídeos maiores por pinocitose. Essa fragilidade nas junções intercelulares é devido a imaturidade do órgão. Essa característica tem um lado positivo e um lado negativo. O lado positivo é que o bebê consegue absorver as imunoglobulinas e outras proteínas que ajudam na maturação, no sistema imunológico, assim como hormônios presentes no leite materno. Por outro lado, quando esse bebê está sendo alimentado com leite de vaca ou fórmula, o risco de alergia é grande, além de risco de infecção por contaminação da água, mamadeira etc. (a permeabilidade permite absorção dos vírus e bactérias). Acidez gástrica Nos primeiros dias de vida o pH está próximo do básico, pois durante a gestação o bebê está ingerindo líquido amniótico, que é alcalino, assim, após seu nascimento ainda há resquícios em seu organismo. Ainda, nessa fase há imaturidade na produção do HCl, ajudando no pH mais elevado. Mesmo após algumas semanas esse pH ainda será mais elevado devido a imaturidade, se assemelhando ao do adulto apenas por volta dos 6 meses de vida. As vantagens do pH elevado é que não desnatura as imunoglobulinas, os hormônios e nem as enzimas digestivas presentes no leite. A desvantagem é que se esse bebê está recebendo outro tipo de leite se não o humano, pode dificultar a digestão dessas proteínas e facilitar infecções. Digestão proteica No recém-nascido, a atividade da pepsina é reduzida devido a imaturidade na produção do HCl, e a atividade da tripsina é aumentada quando comparada a da pepsina. Essa menor atividade da pepsina é justamente o que faz com que o esvaziamento gástrico seja demorado quando utilizado LV ou fórmulas. Entre os 6 meses aos 2 anos a digestão proteica do lactente se aproxima a do adulto. Digestão de carboidratos Nos primeiros 6 meses, a concentração de amilase salivar é menor no lactente, porém sua ação é mais longa. Já a amilase pancreática quase não é detectada no intestino do neonato e sua atividade é baixa nesse período. Essa redução não gera nenhum malefício porque o lactente não consome amido, porém, quando o bebê é submetido a farinhas (mucilon, cremogema, maizena), principalmente em grande quantidade, há um risco de cólicas, diarreia, lesão na mucosa intestinal por causa dessa redução enzimática. Em relação às dissacaridases e outras enzimas, elas estão ativas desde o nascimento; a lactase também está em maior quantidade em recém-nascidos a termo, não havendo dificuldade em digerir a lactose. Digestão lipídica No adulto, o intestino é o principal local de digestão lipídica. No RN a concentração de lipase pancreática é mais baixa, por isso as lipases lingual (age em TGCC e TGCM) e gástrica (age em TGCC, TGCM, TCGL) atuam por mais tempo. Ainda assim, elas não são suficientes para suprir a falta da lipase pancreática, dessa forma, no próprio leite materno há duas enzimas que auxiliam nesse processo de digestão lipídica: a lipaselipoproteica e a lipase estimulada por sais biliares. Esse fenômeno ajuda no maior aproveitamento da gordura presente nesse leite materno (5% de perda), enquanto no leite de vaca ocorre perda de até 20%. No leite de vaca tem ácidos graxos saturados de cadeia longa (ácido palmítico) que o lactente não consegue digerir. Assim, o ácido palmítico se complexa com o cálcio e forma sabões de cálcio. A gordura torna as fezes insolúveis, impedindo a entrada de água (fezes ressecadas). Além disso, esse sabão de cálcio impede absorção do cálcio. Absorção de água e eletrólitos Devido a maior permeabilidade da mucosa a absorção de água e eletrólitos é simples. Entretanto, se esse lactente estiver tomando leite de vaca puro ou fórmula muito concentrada ou com diluição inadequada, há risco de aumentar a osmolaridade do intestino, promovendo perda de água nas fezes (diarreia) e desidratação. Função hepática A imaturidade do fígado leva a uma menor produção e liberação de bile, fator dificultoso para digestão lipídica. Algo muito comum em bebês é a icterícia, causada pelo acúmulo de bilirrubina. Para que a bilirrubina seja eliminada, ela precisa conjugar com o ácido glucurônico. Porém, os RN têm deficiência na produção da enzima que realiza essa complexação, originando a icterícia. Ainda, existe um risco de hemorragia neonatal. Isso porque há imaturidade na produção dos fatores de coagulação; para evitar, é administrado vitamina K logo após o nascimento. Função renal O rim, assim como os outros órgãos, ainda está imaturo. O RN tem risco de sobrecarga renal, principalmente se a alimentação for rica em proteína e eletrólitos (aumento da osmolaridade). O órgão tem dificuldade tanto com o excesso, quanto com a deficiência de água. Eliminação fecal As primeiras fezes do RN são chamadas de mecônio, formada por líquido amniótico e resíduos. Sua coloração é escura e tem textura pegajosa, após 3 a 4 dias elas se tornam mais claras. A coloração e textura das fezes é definida pelo tipo de alimentação dessa criança: em uso de leite materno, as fezes são pastosas, cor amarelo- mostarda e odor ácido (devido a fermentação dos oligossacarídeos). Já com uso de leite de vaca ou fórmulas, as fezes têm consistência firme, cor amarelo-claro e odor mais acentuado. Por fim, com a alimentação complementar, o aspecto das fezes é alterado e a cor é variável; também podem ser encontrados pedaços de alimentos. Crianças em aleitamento materno exclusivo, após os 2 meses de vida, podem sofrer com pseudoconstipação. Isso é, a criança fica mais tempo sem evacuar, mas quando chega o momento não sente nenhum desconforto. Microbiota intestinal É fundamental para a saúde, sua alteração está associada a várias doenças. A primeira colonização ocorre ainda no útero, durante a gestação. A segunda colonização ocorre durante o parto: se parto normal, são colonizados Lactobacillus; se cesárea são colonizadas bactérias do ambiente hospitalar ou da mãe (se for levado até ela). Estudos também trazem que o tipo de leite é um dos principais contribuintes para formação da microbiota intestinal. Essa teoria é explicada pela presença de prebióticos e probióticos no leite materno. As bactérias do leite materno podem vir por três vias: seio da mãe, boca do bebê e bactérias da microbiota materna (predomínio de Bifidobactérias e Lactobacillus). Algumas fórmulas infantis têm prebióticos, algumas até probióticos, porém os preços são altos. Os antibióticos são substâncias que provocam grandes prejuízos na microbiota do lactente. Dentre os benefícios de uma microbiota equilibrada com presença das Bifidobactérias estão a contribuição nutricional: no leite materno tem oligossacarídeos (carboidratos não digeríveis) que são utilizados como substrato (prebiótico) para as bactérias benéficas. Quando esses carboidratos são fermentados por essas bactérias benéficas, o pH intestinal diminui, sendo vantajoso nutricionalmente e para o sistema imunológico. O pH reduzido ajuda na absorção de alguns micronutrientes (cálcio, ferro etc.) e na produção de algumas vitaminas (complexo B, K etc.), mas também, impede o desenvolvimento de bactérias patogênicas. Ainda, o fato de as bactérias benéficas utilizarem os oligossacarídeos, impede que as patogênicas os utilizem como substrato para o seu crescimento. Quando a fermentação ocorre são liberados ácidos graxos de cadeia curta que servem como substrato para o crescimento das células epiteliais (enterócitos), promovendo o crescimento e diferenciação do epitélio intestinal. Por fim, as bactérias benéficas e os oligossacarídeos estimulam a produção de anticorpos, auxiliando no desenvolvimento do sistema imune. Palatabilidade Na gestação, o feto engole líquido amniótico e nele estão presentes substâncias voláteis, oriundas da alimentação materna, que mudam seu sabor. Dessa forma, desde a gestação o feto tem contato com sabores diferentes, principalmente no último trimestre gestacional. Essa experimentação de diferentes sabores continua com o leite materno que também tem essas substâncias voláteis presentes. Devido essa experimentação anterior, quando a alimentar complementar é introduzida é como se os sabores já estivessem na memória desse bebê. Já no caso de uso de fórmulas ou leite de vaca, essa variação de sabores não existe, podendo ter maior resistência para aceitar a alimentação complementar. Mastigação A alimentação complementar deve ser introduzida aos 6 meses, porém, quando esse bebê consome leite de vaca essa introdução deve ser aos 4 meses. Entre os 4 e 6 meses, os movimentos da mandíbula na mastigação são de cima pra baixo. Junto a isso há o reflexo de protusão da língua. A partir dos 6 meses o bebê consegue lateralizar o alimento e o reflexo de protusão diminui. Por volta dos 10 a 12 meses a mastigação já é rotatória e os movimentos passam a ser mais completos. A partir dos 2 anos os movimentos atingem maior maturidade e controle. Regurgitamento do lactente O regurgitamento, ou refluxo gastroesofágico, é caracterizado pelo retorno de conteúdo gástrico para o esôfago e, consequentemente, para a boca. Quando ocorrem 2 ou mais episódios diários por 3 semanas ou mais, sem a presença de complicações, consideremos um refluxo gastroesofágico fisiológico (é um regurgitador feliz). Isso ocorre porque o esfíncter esofagiano inferior é imaturo e não consegue aguentar pressões, então, quando o bebê mama em excesso o leite retorna. Além disso, a ingestão de ar durante a mamada e o uso de fórmulas com maior densidade calórica ou maior osmolaridade (retardo do esvaziamento gástrico) são fatores contribuintes. Para saber se é fisiológico deve ser observado se o bebê chora, se está interferindo no sono, se o ganho de peso está normal etc. Quando fisiológico, esse fenômeno desaparece no primeiro ano de vida. Para prevenir, é importante a manutenção ereta da criança (não necessariamente o bebê irá arrotar após todas as mamadas), ter cuidado no manuseio após amamentação (durante a mamada os movimentos peristálticos aumentam, sendo comum a evacuação), evitar uso de roupas apertadas, observar se a prega está correta para evitar a ingestão de ar e, se em uso de fórmulas, preferir aquelas com menor densidade e osmolaridade. Já a doença do refluxo gastroesofágico é caracterizada pelas manifestações clínicas antes inexistente, sendo elas o choro, déficit no ganho de peso, dificuldades durante as mamadas, irritabilidade, alteração do sono, apneia e náuseas. Nesse caso, pode ser preciso o uso de medicamentos. Cólicas no recém-nascido As cólicas infantis são definidas como irritabilidade excessiva, agitação e choro, que começam e cessam sem causa óbvia. Elas podem começar a partirda 2ª semana, ter agravamento entre 1 mês e meio a 2 meses e desaparecer entre 3 e 4 meses. É comum que se inicie no fim da tarde e existe uma “regra dos 3” para crianças saudáveis: 3 horas de cólica por dia, 3 dias/semana e duração de 3 meses. Suas causas podem ser fisiológicas (*) ou não: imaturidade intestinal*, hipermotilidade intestinal*, aerofagia (ingestão de ar), intolerância temporária a lactose (gera gases), hipersensibilidade aos componentes da dieta, resposta adaptativa do organismo ao ambiente*, temperamento da criança*, estresse familiar e ansiedade materna. Para prevenir, é importante reduzir a aerofagia (colocar para arrotar e observar a pega correta), manter o ambiente calmo, procurar acalmar a criança, evitar ou eliminar da dieta materna alimentos suspeitos de hipersensibilidade, tranquilizar a mãe, fazer massagens abdominais, entre outros. Composição do leite materno Dizemos que o leite humano é espécie- específico, ou seja, sua composição nutricional supre as necessidades e garante o crescimento e desenvolvimento adequado do bebê, além de ter fatores que suprem a imaturidade do recém- nascido. Ele é considerado um biofluido (ou fluido vivo) por possuir células vivas. Sua função é promover uma nutrição adequada, oferecer proteção imunológica (auxilia no desenvolvimento do sistema imune e protege com as imunoglobulinas presentes) e proporcionar um vínculo mãe-bebê. A composição do leite pode mudar ao longo da mamada ou ao longo da lactação. Antigamente, era feita uma divisão de leite anterior e posterior ao longo da mamada, porém, isso não é mais usual. No segundo caso, consideramos que tem o colostro (primeiros 5 dias), leite de transição (entre 5º e 7º dia) e leite maduro. Colostro (1º ao 5º dia) Ainda na gestação o colostro é produzido pelas células alveolares, em pequena quantidade, devido a pequena capacidade gástrica do recém- nascido, assim, seu volume é de 2 a 10 ml por mamada. Sua função, além de nutrição, é de proteção a partir do desenvolvimento do sistema imune, função laxativa (importante para eliminação do mecônio), colonização de bactérias saudáveis (maturação intestinal). É um líquido espesso, de coloração amarelada (por causa da maior quantidade de β- caroteno e vitamina A), com maior concentração de proteínas de defesa e de minerais (sódio, potássio, cloro e zinco), baixa concentração de lactose e gordura. É rico em imunoglobulinas, fatores tróficos (fatores de crescimento de células epiteliais, principalmente do intestino), substâncias imunomoduladoras e anti-inflamatórias. Leite de transição (5º ao 14º dia) Nesses casos, a concentração de proteínas de defesa e minerais é menor, mas isso não significa que está tendo menos proteção. O que acontece é que o volume de leite aumenta após a apojadura, assim, ele está mamando mais do que antes. Já a concentração de lactose e de gordura é maior que do colostro. Leite maduro É como se fosse o leite de transição um pouco mais maduro e estável. Vale ressaltar que o leite materno nunca atinge 100% de estabilidade devido a influência da dieta materna. Aspectos nutricionais do leite materno Nesses 6 primeiros meses de vida não há necessidade de dar água para o bebê, pois o leite materno tem 87,5% de água em sua composição, mantendo a hidratação. Sua biodisponibilidade é elevada devido à presença das enzimas digestivas, ao contrário do leite de vaca. Sua densidade energética é de, em média, 67 kcal/100 ml. Carboidratos A principal fonte de energia do feto é a glicose, porém, nos primeiros 6 meses de vida, a gordura passa a ser a principal fonte de energia. Entre os carboidratos do leite materno, 70% é lactose. Após a quebra da lactose, pela lactase, são fornecidas glicose e galactose; a glicose é fonte de energia e a galactose se associa aos lipídeos e forma galactolipídios que são importantes para o desenvolvimento do sistema nervoso. Também há glicoproteínas que funcionam como inibidoras da adesão bacteriana às superfícies epiteliais, além dos oligossacarídeos. Oligossacarídeos do leite humano (HMOs) No colostro tem entre 20 e 25 ng/L de oligossacarídeos, diminuindo gradualmente para 5- 15 ng/L no leite maduro. Essa diferença se dá porque o colostro é a primeira vacina para o recém- nascido. Esses oligossacarídeos são importantes para modular as respostas das células epiteliais intestinais e previne a adesão de patógenos ao epitélio intestinal. Proteínas Sua concentração é menor no leite maduro, mas essa redução só acontece em relação às proteínas de defesa, ele continua tendo uma quantidade adequada de proteínas para o crescimento normal. Comparado com todos os mamíferos, o leite materno é o que tem menor concentração proteica e maior concentração de lactose. Crianças que consomem leite de vaca ou fórmula infantil não são parâmetros comparativos para lactentes que tomam leite materno. Esse crescimento ‘a mais’ pode refletir uma futura obesidade, resistência à insulina e pode provocar sobrecarga renal (devido a maior quantidade proteica). As principais proteínas presentes são caseína, proteínas do soro do leite (- lactoalbumina, lactoferrina, lizosima, imunoglobulinas e albumina) e mucina em menor quantidade. Essa última fica ligada aos glóbulos de gordura e inibe a adesão de bactérias ao epitélio intestinal. o Relação caseína/proteínas do soro: Colostro: 20/80 Leite humano: 40/60 Leite de vaca: 80/20 o Diferenças qualitativas na caseína: Leite humano: predomínio de β-caseína e k-caseína Leite de vaca: predomínio de -caseína *A β-caseína, quando degradada, forma flocos menores e menos resistentes a ação enzimática. Já a -caseína forma flocos maiores e mais resistentes, dificultando a digestão. A k-caseína impede a adesão da H. pylori. o Diferenças qualitativas na proteína do soro do leite: Leite humano: predomínio de -lactoalbumina, lactoferrina e imunoglobulinas Leite de vaca: predomínio de -lactoglobulina *As proteínas do LH fornecem aminoácidos para o processo de crescimento e proteção. Já a - lactoglobulina está associada a alergias. Lipídeos Consiste na maior fonte de energia (50- 60%) durante a amamentação exclusiva (primeiros 6 meses). O leite de vaca tem maior quantidade de ácido graxo saturado enquanto o leite materno tem maior quantidade de AG insaturados (mono e poli- insaturados). Os AG poli-insaturados são importantes no desenvolvimento do processo visual e da mielinização do cérebro. Assim como no leite de vaca, no leite materno também tem ácido palmítico, mas por que ele não forma os sabões de cálcio? Porque no leite materno o ácido palmítico está na posição 2 do triglicerol, assim, a lipase não consegue degradá-lo e ele é absorvido. Já no leite de vaca ele ocupa as posições 1 e 3, sendo degradado pela lipase e complexando com o cálcio. Vale salientar que o leite humano tem duas enzimas que digerem a gordura do leite materno, auxiliando na digestão. Além disso, AG de cadeia curta e monoglicerídeos exercem ação antibacteriana, antivirótica e antifúngica. Vitaminas e minerais A quantidade de cálcio é maior no leite de vaca, porém sua biodisponibilidade é menor. No leite materno a proporção cálcio/fósforo (2:1) facilita a absorção de cálcio, além disso, a não formação dos sabões de cálcio também ajudam nesse processo. Ainda, o cálcio fica em conjunto com a caseína, facilitando sua absorção. No caso do ferro sua quantidade é pequena, porém tem alta biodisponibilidade. Sua absorção é alta (70%) pois está ligado a transferrina. No geral, a quantidade de vitaminas no leite materno é adequada, exceto a vitamina K (recebe suplementação profilática ao nascer) e a vitamina D. Pode haver variação de vitaminas hidrossolúveis a dependerda dieta materna. Aspectos imunológicos do leite materno As proteínas e as células de defesa são essenciais para proteger o lactente, devido a imaturidade do sistema imune que proporciona maior vulnerabilidade a infecções. Além disso, elas auxiliam na maturação desse sistema. Os componentes de proteção são divididos em duas classes: solúveis (lisozima, imunoglobulinas, lactoferrina e fator bífido) e celulares (macrófagos, linfócitos, granulócitos e neutrófilos). Entre as imunoglobulinas que fazem parte do leite materno estão IgA, IgD, IgE, IgG e IgM, dentre elas, a IgA está em maior concentração. Apenas 10% dela é absorvida, pois o restante funciona como a primeira linha de defesa local do sistema imune, atuando nas células epiteliais do intestino para impedir que microrganismos patogênicos consigam aderir aos enterócitos e se replicar. Além disso, também atua no trato respiratório com a mesma finalidade. No colostro é onde há maior concentração dessa IgA secretória. Fator bífido O fator bífido são os oligossacarídeos (prebióticos) que funcionam como fator de crescimento específicos para bactérias do gênero Lactobacillus e Bifidobacterium. São importantes nutricionalmente e para o sistema imune. Lactoferrina É uma das proteínas do soro, constitui cerca de 10-15% do conteúdo proteico total do leite materno. Do ponto de vista nutricional, ela é importante para absorção do ferro, pois se liga a ele e libera em ambiente propício. Do ponto de vista imunológico, uma vez ligada ao ferro, a lactoferrina impede sua utilização por bactérias patogênicas que precisam desse micronutriente como substrato. Além disso, exerce função bactericida junto com a lisozima, desestabilizando a membrana celular das bactérias patogênicas. Por fim, reduz a produção de citocinas inflamatórias que podem prejudicar o lactente. Lisozima Também é uma proteína do soro do leite, sendo responsável por provocar a lise da parede celular bacteriana. Ainda, liga-se a endotoxinas, limitando seu efeito no trato gastrointestinal, aumenta a produção de Iga e contribui para a ativação dos macrófagos. Em resumo, a lisozima atua como defesa local e na modulação do sistema imune estimulando a produção de células de defesa. Componentes celulares São as células de defesa: linfócitos T e B, neutrófilos e macrófagos. Atuam no trato gastrointestinal impedindo o crescimento de bactérias patogênicas e no desenvolvimento do sistema imune. Componentes bioativos: hormônios e fatores de crescimento o Prolactina: estimula o desenvolvimento dos linfócitos T e B e a diferenciação do tecido linfoide intestinal. o Calcitonina e somatostatina: regula o crescimento. o Adiponectina e leptina: regula o metabolismo e a ingestão alimentar. o Cortisol, tiroxina e insulina: maturação da mucosa do TGI e o desenvolvimento dos mecanismos de defesa intestinal. o Fatores de crescimento: são eles EGF, NFG, IGF-1, TGF-, TGF-β; influenciam o crescimento, desenvolvimento e proteção do TGI. o Enzimas: auxiliam na digestão (lipases e proteases). o Antiproteases: são proteínas que preservam as proteínas bioativas. Leite materno das mães de prematuros Tem maior concentração de gordura, proteína e moléculas bioativas (EGF e HMOs), tornando-o mais calórico; menor concentração de lactose, cálcio e fósforo, e maior quantidade de proteínas de defesa. Alimentação artificial Inicialmente deve ser frisado que alimentação artificial não é recomendação! Só é indicada em casos muito específicos, quando há contraindicação de aleitamento materno, devido mãe com HIV, infecção por HTLV 1 e 2 ou galactosemia. Já em casos de infecção herpética, varicela ou doença de Chagas, a amamentação deve ser interrompida apenas temporariamente. Em casos de hanseníase, hepatite B e C, dengue, consumo de álcool, tabagismo e tuberculose (utilizar máscara) não precisa suspender o aleitamento. Por fim, a Academia Americana de Pediatria contraindica a amamentação em mães que usam drogas, enquanto a OMS recomenda apenas intervalos entre o uso e a amamentação. Porém, pessoas viciadas dificilmente conseguem realizar esses intervalos, sendo a melhor opção suspender a amamentação. Características do leite de vaca Tem maior quantidade de proteínas e de caseína do tipo (dificulta a digestão) comparado com proteínas do soro do leite. Em relação aos lipídeos, os níveis de ácidos graxos essenciais são baixos e de AG saturados são altos. Nele, há uma quantidade inadequada de vitamina A, E, C, complexo B, ferro e zinco e quantidade excessiva de eletrólitos, cálcio e fósforo. Crianças que fazem uso de leite de vaca têm maior risco de anemia devido à baixa biodisponibilidade do ferro e da possível irritação da mucosa intestinal causada pelas proteínas do leite de vaca, provocando micro hemorragia intestinal (perdas pequenas de sangue nas fezes). Ainda, há risco alergia (causa: permeabilidade intestinal), infecções do trato gastrointestinal, diabetes na idade adulta, sobrecarga renal, disbiose e outras deficiências. Caso a família precise utilizar o leite de vaca, quando o lactente tiver menos de 4 meses de vida, é importante dilui-lo para diminuir a concentração de proteínas e eletrólitos. Para o leite líquido, essa diluição será 2 3⁄ de leite para 1 3⁄ de água. Por exemplo, se ele irá consumir 90 ml de leite, será 60 ml de leite e 30 ml de água. No caso de leite em pó, será 1 colher de sobremesa rasa para 100 ml, 1 1 2 colher de sobremesa para 150 ml e 2 colheres para 200 ml. A partir dos 4 meses é utilizado a diluição recomendada pelo fabricante. Após a diluição, a densidade calórica diminui, sendo assim, para aumentá-la e aumentar a quantidade de ácidos graxos essenciais, deve ser adicionado óleo de soja. Será adicionado 3% de óleo da quantidade total de leite, assim, a cada 100 ml de leite é adicionado 3 ml de óleo. Já para melhorar a digestibilidade da proteína é indicado aquecer o leite para desnaturar as proteínas. Para saber o volume da mamadeira pode ser feito de duas formas: utilizar a tabela do Ministério da Saúde como base para saber o mínimo e máximo que pode ser trabalhado ou considerar 25 a 30 ml/kg/refeição e utilizar o valor que se encaixa nesse intervalo. Idade Volume/refeição Refeições/dia Até 30 dias 60 a 120ml 6 a 8 30 a 60 dias 120 a 150 ml 6 a 8 2 a 3 meses 150 a 180 ml 5 a 6 3 a 4 meses 180 a 200 ml 5 a 6 > 4 meses 180 a 200 ml 2 a 3 Tipos de fórmulas o Fórmulas de partida: crianças de 0 a 6 meses saudáveis e a termo (identificada pelo número 1). o Fórmulas de seguimento: a partir dos 6 meses (identificada pelo número 2). o Fórmulas à base de soja o Fórmulas isenta de lactose o Fórmulas anti-regurgitação: com adição de amido ou fibras (gomas) para espessar a fórmula. o Fórmulas semi-elementares: proteína está parcialmente hidrolisada; à base de peptídeos. o Fórmulas elementares: proteína totalmente hidrolisada; à base de aminoácidos. o Fórmulas para prematuros *Quanto mais a proteína é hidrolisada, menor o risco de alergias. Um ponto negativo é que o sabor fica desagradável. Higiene dos utensílios o Desprezar restos de fórmulas das mamadeiras; o Lavar bicos e mamadeiras com água e detergente neutro, com auxílio de escovas apropriadas; o Ferver mamadeiras por 15 minutos; o Escorrer os utensílios e guardá-los em recipientes com tampa e papel toalha por baixo do utensílio. Planejamento da alimentação Criança do sexo masculino, idade de 3 meses e pesando 5,7 kg. Milupa 1: 67 kcal/100 ml 1 medida de leite é 4,4g para 30 ml de água 1. Calcular as necessidades energéticas. GET = (89*5,7-100) + 175 GET = 407,3 + 175 GET = 582,3 kcal/dia 2. Determinar a capacidade gástrica da criança. Mínimo: 25 * 5,7 =142,5 ml/ref Máximo: 30 * 5,7 = 171 ml/ref Capacidade gástrica de 150 ml/ref. 3. Verificar a fórmula a ser utilizada em função da idade. Milupa 1: 67 kcal/100 ml 4. Calcular a composição e/ou valor calórico da mamadeira. 67 kcal ------- 100 ml X ------------ 150 ml X = 100,5 kcal/mamadeira 5. Calcular o número de mamadeiras por dia. 582,3 / 100,5 = 5,8 mamadeira/dia = 6 mamadeiras/dia 6. Calcular o número de medidas a serem utilizadas. 1 med. --------- 30 ml X --------------- 150 ml X = 5 medidas/mamadeira 7. Quantas gramas por mamadeira e por dia da fórmula? 1 med. --------- 4,4 5 med. ---------- X X = 22 g/mamadeira 1 mamadeira ------------ 22 g 6 mamadeiras ----------- X X = 132 g/dia 8. Considerando que uma lata tem 400g, quantas latas a mãe irá utilizar por mês? Qual o custo mensal? (1 lata custa R$ 27,35) 132g ---------- 1 dia 400g ---------- X X = 3 dias 30/3 = 10 latas/mês 1 lata ---------- 27,35 10 latas -------- X X = 273,5 reais/mês Considerando a mesma criança, calcule a composição e/ou valor calórico da mamadeira. Leite de vaca líquido = 86 kcal/100 ml Óleo = 900 kcal/100 ml 2/3 de leite de 150 ml= 100 ml de leite 1/3 de água = 50 ml Leite de vaca = 86 kcal Óleo 100 ml* ------ 3 ml 150 ml -------- X X = 4,5 ml 100 ml ------- 900 kcal 4,5 ml --------- X X = 40,5 kcal *Caso esse valor seja diferente de 100 ml, deve ser feita regra de 3 para saber quantas kcal tem o leite e depois somar com a kcal do óleo para saber o valor calórico da mamadeira. Por exemplo, se fosse 80 ml de leite seria: 100 ml -------- 86 kcal 80 ml -------- X X = 68,8 kcal Valor calórico da mamadeira 86 kcal + 40,5 kcal = 126,5 kcal/mamadeira Quantas mamadeiras serão por dia? 582,3/126,5 = 4,6 mamadeiras = 5 mamadeiras Alimentação complementar Alimentação complementar é mais que se alimentar, é um processo de aprendizagem para mãe e para o bebê. Para introduzir a alimentação complementar deve ser considerada a idade e os sinais de prontidão, não podemos levar em consideração apenas um desses fatores. Crianças que estão em aleitamento materno exclusivo ou utilizando fórmula, a alimentação é introduzida a partir dos 6 meses; já crianças que tomam leite de vaca devem começar aos 4 meses, pois o risco de deficiências nutricionais é maior que qualquer outro prejuízo. Os sinais de prontidão são aqueles que demonstram que o lactente está pronto para a introdução alimentar. Relacionam com o nível de maturidade fisiológica e presença de habilidades motoras e neurológicas. São eles: controle total da cervical (pescoço duro), sentar-se com o mínimo de apoio (evitar engasgos), reflexo de protusão diminuído, saber levar brinquedos e objetos na boca, demonstrar interesse pela comida. Alguns fatores também influenciam esse processo, como as condições físicas e desenvolvimento da criança, habilidades orais e sensoriais, emoções e motivações, contexto familiar, social e ambiente e o estilo parental e crença materna/cuidadores. Os problemas de saúde podem impactar negativamente no apetite, conforto e nas habilidades para aprender a comer, por isso, nesses momento a amamentação é muito importante. Sistema gastrointestinal O funcionamento adequado do SGI influencia o desejo de comer e o desenvolvimento alimentar do bebê. A dificuldade em se alimentar pode ser causada por vômitos, dor, “sensação de estômago cheio”, entre outros. Sistema cardíaco e respiratório A dificuldade em respirar diminui o interesse e o consumo alimentar. Condições cardíacas podem dificultar a sucção, deglutição e respiração, assim como a alimentação complementar por provocar cansaço. Habilidade motora e oral As estruturas orofaciais são importantíssimas para a alimentação, por isso seu desenvolvimento deve ser estimulado desde cedo. A integridade das estruturas (lábios, língua, bochecha, palato duro e mole, mandíbula e dentes) é essencial para que o lactente possa alimentar, pois interfere na sucção, deglutição e mastigação. As experiências orais com brinquedos de texturas diferentes ajuda nessa habilidade motora, ajudando nessa introdução. Desenvolvimento e aprendizado da mastigação 1. Aprender: O aprendizado da mastigação começa desde antes, quando a criança começa a levar as coisas na boca. Por isso, colocar brinquedos e as mãos na boca são importantes para esse desenvolvimento. Quanto maior a exposição a texturas diferentes (dos brinquedos e mãos), maior o aprendizado. 2. Ter condições neuromusculares adequadas: Crianças com paralisia cerebral, por exemplo, não tem firmeza muscular, sendo necessário ter cuidado com a introdução alimentar. 3. Estímulos adequados: Permitir que a criança coloque brinquedos na boca. 4. Estruturas orais adequadas: As estruturas desenvolvidas influenciam diretamente na mastigação. 5. Reconhecer e discriminar adequadamente os estímulos na bocas: Crianças que não conseguem lidar com situações simples, como sujar a boca enquanto come, estar sentada sem os pés no chão etc. 6. Modelo: Os pais são grandes exemplos para as crianças, por isso, a alimentação da família reflete diretamente nessa criança. Sensorial Os sentidos também são importantes. Algumas crianças têm disfunção no processamento sensorial, ou seja, indivíduos que não conseguem processar de forma efetiva e integrada as informações sensoriais do ambiente. Sinais de disfunção no processamento sensorial o Dificuldade com tarefas de cuidados pessoais, como escovar, lavar e pentear cabelo, cortar unhas, lavar o corpo etc. o Seletividade para comer: recusar alimentos pela textura (cremosa, crocante ou grumosa) ou resistir a sabores. o Extrema dificuldade em ter rosto e mãos sujas durante brincadeiras ou alimentação. o Não gostar de brincar com areia, tecidos específicos, loções de pele etc. o Demonstrar medo ao tirar os pés do chão. Métodos de introdução alimentar São eles: tradicional, BLW, BLISS e estilo de alimentação responsiva. Tradicional Esse método não é mais recomendado, pois o lactente é passivo no processo de alimentação. A mãe/cuidador determina quando, quanto e o que será consumido pelo bebê. Aqui há muita preocupação com o “comer tudo”, sendo comum chantagens ou recompensas. É comum misturar todos os alimentos em forma de papinha, impedindo que as crianças sintam os sabores individualmente. BLW Aqui, o bebê participa ativamente, com total autonomia para conduzir sua própria alimentação. O cuidador irá apenas cozinhar os alimentos e disponibilizá-los; a criança decide o que, quanto e quando ela comerá. Porém, o BLW não é viável para todas as famílias, pois é necessário que alguém supervisione a criança a todo momento. Os alimentos são servidos em pedaços, tiras, bastões ou formatos ideais para que, com as mãos, o bebê consiga levá-los até a boca. Pode ser disponibilizados frutas com as cascas (banana) para não escorregar nas mãos, mas, para isso, a casca deve ser corretamente higienizada e o supervisor não deve ficar interferindo quando ele colocar a casca na boca. Para ter certeza de que o alimento está corretamente cozido, o cuidador pode tentar amassá-lo com os dedos ou colocá-lo na boca e amassar com a língua no céu da boca. Dentre suas vantagens está a de promover o contato com os alimentos e texturas, permitir que a criança se alimente junto a família, proporcionar que a criança faça suas escolhas em relação aos alimentos etc. Aqui o ritmo para se alimentar é mais lento e deve ser respeitadas as decisões do bebê, sem chantagem, coação ou qualquer tipo de pressão para obrigá-lo a comer. Além disso, a principal forma dessa criança pegar os alimentos é com as mãos. BLISS É como se fosse uma orientação para abranger o queo BLW não traz. Ele recomenda oferecer alimentos cortados grandes para que o lactente consiga pegar sozinho, pois aos 6 meses a criança tem preensão palmar, ou seja, ela pega o alimento como um todo; com 9 meses o bebê começa a ter movimento de pinça. Garantir alimento rico em ferro em cada refeição e rico em calorias; preparar os alimentos de forma que evite o engasgo; evitar alimentos redondos ou em forma de moeda; garantir sempre que o lactente esteja sentado, ereto e sob supervisão contínua de uma adulto. Estilo de alimentação responsiva Consiste em auxiliar diretamente o bebê e assistir crianças mais velhas a alimentarem sozinhas atentando-se aos sinais de fome e saciedade. Aqui, o alimento fica disponível e exposto a criança, mas a mãe também incentiva provar o alimento sem causar imposição. É uma alimentação devagar e paciente; se a criança recusar inúmeros alimentos, tente com diferentes combinações. Informações gerais o Sinais de fome: choro, sons de boca, movimenta as mãos, se aproximada do alimento etc. o Sinais de saciedade: se distrai facilmente, vira o rosto, brinca com a comida, se estressa caso haja insistência. o Não se deve forçar a criança a comer tudo, pois prejudica na sua habilidade de perceber e controlar os sinais de saciedade, podendo levar ao ganho de peso excessivo. o A forma de cuidar e de oferecer a refeição pode ajudar ou dificultar essa aprendizagem. Comer junto, elogiando a comida, incentiva a criança a comer e gostar do alimento. Assim como permitir que a criança participe da preparação da refeição. Por outro lado, dar alimentos em resposta ao choro, apressar ou pressionar a criança a comer toda a comida por meio de ameaças, chantagens e punições, oferecer quantidades excessivas de alimentos, são práticas que influenciam o comer em excesso, contribuindo para uma relação negativa com a comida, provocando momentos de estresse e frustação. o Não é aconselhado oferecer recompensas pelo consumo de alimentos que a criança não gosta ou escondê- los no prato para que ela coma sem perceber. A recompensa pode virar regra para essa criança e ela não aceitar comer quando não houver. o Durante as refeições, a atenção deve ser voltada ao alimento. É desaconselhável que ela seja alimentada enquanto anda e brinca pela casa ou o uso de telas (televisão, tablet, celulares) durante as refeições, pois essas distrações provocam um “comer automático”, sem prestar atenção no alimento e sem ter momento de aprendizado, além de facilitar comer em excesso. No futuro, pode causar perda do controle da fome e saciedade, além de ganho ou perda de peso excessivo. Ainda, as telas possibilitam o acesso às propagandas de alimentos ultraprocessados, causando desejo pelo alimento visto. Evitar essa exposição impede prejuízos à alimentação adequada e saudável e permite a interação com o alimento. o A água deve ser oferecida a partir dos 6 meses. o Para avaliar se a quantidade de alimentos consumidos está sendo o suficiente, deve ser avaliado o desenvolvimento da criança (peso e a altura). o Os alimentos devem ser servidos separados no prato, sem misturar. O prato deve estar atraente, colorido e com texturas. Pode ser usado temperos naturais, mas não pode o sal. O açúcar também não pode ser oferecido antes dos 2 anos, pois dificulta a aceitação de outros alimentos, além de influenciar no excesso de peso. o Não pode ser oferecido mel antes dos 2 anos. Ele tem os componentes do açúcar e há risco de contaminação (Botulismo).
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