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O aleitamento materno atende às necessidades nutricionais, metabólicas, imunológicas e confere estímulo psicoafetivo ao lactente. É considerado um alimento perfeito: possui proteínas, lipídios, carboidratos, minerais e vitaminas, 88% de água. No período inicial da vida humana, a necessidade calórica por kg supera ema proximadamente 3 vezes a dos adultos, chegando a 120kcal/kg de peso corpóreo. No 1º anos de vida, 40% das kcal são para o crescimento e desenvolvimento, caindo 20% no 2º ano. →Aporte dietético inadequado leva a desnutrição proteicoenergértica e atraso no desenvolvimento. Recomendações do Ministério da Saúde (MS), da OMS e Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) são: • Aleitamento materno exclusivo (AME) nos primeiros 6 meses. NÃO é necessário água, chás, sucos ou qualquer outro alimento durante os primeiros 6 meses. Se oferecido outro alimento neste período, o processo de desmame terá sido iniciado. • Aleitamento materno complementado (AMC) de 6 meses até 2 anos de vida. A partir dos 6 meses de vida, o leite materno se torna insuficiente e deve ser iniciado a introdução de alimentação complementar. Não é recomendado nenhum outro tipo de leite (industrializado, de vaca, soja, cabra, etc.). O leite materno continua sendo importante, especialmente como fonte de vitamina C e A, proteínas, energia e elementos imunológicos. • Manter o leite materno, no mín. até os 2 anos Definições OMS AME: criança recebe APENAS leite materno, da própria mãe (direto ou ordenhado) ou de outra fonte (ex.: banco de leite), sem outros líquidos ou sólidos à exceção de vitaminas, sais de hidratação e medicamentos (gotas ou xaropes). Aleitamento Materno predominante (AMP): além do leite materno, a criança recebe água, chás, suco de frutas, e outros fluidos/infusões em quantidades limitadas. AMC: além do leite materno, a criança recebe alimentos sólidos ou semissólidos para complementar o leite materno, mas não o substituir. Os leites de outras espécies não são considerados alimentos complementares. O termo suplemento é usado para água, chás e substitutos do leite materno. Aleitamento materno misto/parcial (AMM): além do leite materno, recebe outros tipos de leite. Vantagens do aleitamento materno Para o bebê: • Composição nutricional ideal, é um alimento completo nos primeiros 6 meses de vida, ideal para o sistema GI e renal em amadurecimento. • Prevenção de doenças: o ↓mortalidade infantil. A amamentação ↓ em média 13% das mortes <5anos. o ↓incidência e gravidade das doenças respiratórias e diarreicas. Proteção > quando AME. o ↓alergias (ex. asma, dermatite atópica) o ↓doenças crônicas: 1) cânceres: leucemias, linfomas e doença de Hodgkin; 2) gastrointestinais: doença celíaca, doença de Crohn, retocolite ulcerativa; 3) metabólicas: diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2; sobrepeso/ obesidade; hipercolesterolemia 4) cardiovasculares: redução da pressão arterial sistêmica. • Melhor desenvolvimento cognitivo, alguns autores acreditam que por conter substâncias que melhoram o desenvolvimento cerebral e outros nos aspectos comportamental e emocional positivos do ato de amamentar. • Estimula o correto desenvolvimento das funções orais, como o adequado crescimento do sistema estomatognático. O uso de chupetas e mamadeiras eleva o palato, e com isso, a cavidade nasal fica menor → ∆ respiração nasal, no processo de mastigação/deglutição e prejuízo da fala. • Fortalecimento do vínculo afetivo mãe-bebê, ↓ incidência de maus-tratos. Para a mãe: • Aleitamento imediatamente após o nascimento favorece a dequitação placentária, promove a involução uterina, a perda de peso e o Reflexo de Fergusson: sucção do mamilo estimula liberação de ocitocina (hormônio responsável pela contração da musculatura uterina) pela hipófise posterior →↓ hemorragia pós-parto • AME ou AMP prolongam amenorreia lactacional → evita anemia e o aparecimento precoce da ovulação, proporciona melhores condições de saúde para mãe e filho. A eficácia anticoncepcional é somente para mães até 6 meses após o parto em AME ou AMP e em amenorreia. A eficácia chega a 98% se estas 3 condições satisfeitas. • Melhora remineralização óssea pós-parto, com ↓fraturas do colo de fêmur no período pós- menopausa. • ↓ risco de câncer de mama e ovário Aleitamento materno e introdução alimentar • Mulheres que amamentam tem 15% menos incidência de diabetes tipo 2 para cada ano de lactação. • Promove perda ponderal, o gasto energético de uma nutriz em AME é de 704 kcal/dia • O leite materno é bom e barato. Estima-se gastos com fórmulas nos primeiros 6 meses de vida de 38% a 133% do salário mínimo, sem contar os demais custos, como mamadeiras, bicos e gás de cozinha. →TODAS as mães devem ser estimuladas a amamentar, deve ser explicado a elas todos os benefícios e vantagens do aleitamento para ela e o filho e ofertado auxílio na resolução das dúvidas/mitos/dificuldades do processo da amamentação. → Durante a assistência pré-natal é necessário orientar a gestante em relação a cuidados para amamentação para evitar problemas futuros: • Não usar sabonetes nos mamilos para evitar rachaduras, evitando retirar oleosidade natural; • Expor a mama ao sol por poucos minutos – diminui sensibilidade do mamilo • Para mamilos planos ou invertidos, fazer um orifício no sutiã durante o 3º trimestre facilita a protrusão do mamilo. Exercícios de Hoffman (massagens circulares ao redor da aréola e do mamilo exercidas do bico em direção para fora) são CONTRAINDICADOS pela possibilidade de induzir parto prematuro. • Após o nascimento, podem ser recomendadas manobras que facilitem a protrusão do mamilo: o Estímulo (toque) do mamilo o Compressas frias nos mamilos o Sucção com bomba manual ou seringa de 10 ou 20 ml adaptada (cortada para eliminar a saída estreita e com o êmbolo inserido na extremidade cortada), com mamilo mantido em sucção por 30-60 segundos. Recomentada antes das mamadas e nos intervalos o Ordenhar seu leite enquanto o bebê não sugar efetivamente → ajuda a manter a produção do leite e deixa as mamas macias facilitando a pega → É necessário que as gestantes participem de reuniões de grupos sobre aleitamento materno, que coloquem em evidência as vantagens do aleitamento, os medos, as facilidades e dificuldades em relação a amamentação. Após o nascimento, durante 1ª hora de vida do RN, deve ser levado ao colo da mãe, para que tenha oportunidade de sugar o seio materno. Causas de desmame precoce: • Falta de informação • Mães adolescentes • 1º filho • Gemelaridade • Baixa escolaridade materna • Prematuridade e baixo peso ao nascimento • Experiência prévia desfavorável com a amamentação • Trabalho materno fora de casa • Uso de chupeta • Confusão dos bicos, criada quando se oferecem à criança bicos, mamadeiras e chupetas, uso CONTRAINDICADO pela OMS, pois: 1)facilita o desmame, porque RN passa a posicionar erroneamente a língua ao sugar a mama, 2) favorece alterações ortodônticas, 3) ↑incidência candidíase oral, 4) servem de veículo para enteroparasitoses. Psicofisiologia da lactação A produção de leite materno decorre de complexa interação neuropsicoendócrina. Durante a gravidez, estrogênio e progestogênio atuam para que as glândulas mamárias fiquem prontas para lactar. O progestogênio estimula o crescimento dos alvéolos e lóbulos, ao passo que o estrogênio estimula a proliferação dos ductos lactíferos e suas ramificações. Outros hormônios como lactogênio placentário, gonadotrofina coriônica e prolactina também participam do crescimento glandular ao longo da gestação. Apesar dos níveis de prolactina estarem elevados durante a gravidez, a mulher não secreta leite graças à inibição pelo hormônio lactogênio placentário. Com o nascimento e a saída da placenta, os efeitos inibitórios do progestogênio e lactogênio placentário sobre a prolactina(secretada pela adeno-hipófise) cessam, e a secreção do leite aumenta (lactogênese fase II). Da mesma forma, inicia-se a síntese de ocitocina (secretada pela neuro-hipófise), que atuará na ejeção ou saída do leite. Entre o 3º e o 4º dia pós-parto, ocorre a “descida do leite” ou “apojadura”, etapa que não depende da sucção do mamilo pelo bebê. Esta fase está sob controle hormonal, e mesmo que não haja sucção (ex.: feto morto, bebês filhos de mães HIV + que não podem amamentar), ela acontecerá. Em seguida, ocorre a galactopoiese ou lactogênese fase III, que é a manutenção da produção e ejeção do leite sob total dependência da sucção do mamilo pelo bebê e esvaziamento das mamas→ quanto mais o lactente suga, mais leite será produzido. Terminações nervosas areolares levam estímulos para a adeno-hipófise (hipófise anterior) que produz prolactina, que atua nas células alveolares mamárias produzindo o leite materno. A continuidade dos estímulos da sucção chegam à neuro-hipófise que libera ocitocina que age sobre as células mioepiteliais promovendo o reflexo de ejeção do leite →a remoção do leite leva a ↓pressão intraductos→também estimula hipotálamo e anedohipófise para secreção de prolactina. O reflexo de ejeção de leite é BLOQUEADO pelo estresse, pela baixa autoestima, pelo medo, dor e falta de apoio. Esta inibição é mediada pela adrenalina na célula mioepitelial e pela noradrenalina no eixo hipotálamo-hipofisário. O RN possui vários reflexos que facilitam a amamentação: • Reflexo dos pontos cardeais ou de busca: Faz com que o bebê se vire em direção a algo que toque sua bochecha (seio materno) e abra a sua boca em antecipação à pega do mamilo. • Reflexo de sucção. O contato do mamilo com a parte posterior da língua e o palato inicia o processo de sucção, ou melhor, ordenha dos seios lactíferos. • Reflexo de deglutição: o leite é levado para a orofaringe e é deglutido. A incoordenação do reflexo de deglutição pode estar presente em prematuros com idade gestacional< 34 semanas. Técnica de amamentação O início da amamentação deve ocorrer ainda na sala de parto, nas primeiras 1-4 horas de vida. O RN permanece acordado e alerta por cerca de 6 horas após o nascimento, dessa forma o contato com o seio materno na sala de parto desencadeia o mecanismo de lactação de forma mais rápida. Após esse período de 6 horas, o lactente entra em sono profundo (“sono reparador”) por cerca de 12 horas, o que o impede de sugar a mama, gerando maior ansiedade para a mãe e dificuldades no processo de lactação. Frequência O esvaziamento gástrico do RN varia de 1-4 horas ao longo do dia. Portanto, as necessidades de mamadas variam também na mesma proporção, obedecendo a este tempo de esvaziamento gástrico. Por isso, o leite materno deve ser oferecido em livre demanda, ou seja, quando ele quiser. O estabelecimento de horários para o aleitamento só gera ansiedade para a mãe. O RN deve sugar a mama até esvaziá-la. O leite materno posterior, é 2 a 3 vezes mais rico em lipídios (fundamental para o ganho calórico) que o primeiro leite (anterior), isto permite que o lactente fique mais nutrido, ganhe mais peso e aumente o intervalo das mamadas, chorando menos (mais saciado) e tranquilizando a nutriz. Nos primeiros dias de vida, o colostro não sacia o recém- nascido como o leite maduro, logo mamadas frequentes e de curta duração são ideais, o que evita a sucção ineficaz. Com o crescimento da criança, o intervalo das mamadas aumenta. Ao final da 1ª semana, RN saudáveis terão uma frequência média de 8-12 mamadas/dia. Um bom parâmetro para avaliar uma progressão de mamadas é a baixa perda de peso ao final da 1ª semana e ganho de peso ao final da 2ª semana. Outras informações importantes além do ganho de peso, que traduzem boa amamentação são o período de sono de 2 a 4 horas entre as mamadas e a troca frequente de fraldas. • O choro intenso NÃO deve ser usado como indício indireto de lactação insuficiente, pois há outras de causas de desconforto para o bebê além da fome, como por exemplo, as cólicas e as fraldas sujas. • O bebê em aleitamento materno costuma evacuar toda vez que mama, podendo ter fezes líquidas, explosivas, amareladas ou mesmo esverdeadas (reflexo gastrocólico exacerbado). Alguns, no entanto, podem ficar de 5 a 7 dias sem evacuar. Ambas as situações são normais. • Regurgitações podem ocorrer após as mamadas, desde que NÃO sejam acompanhadas por obstrução das vias aéreas, choro intenso, palidez e outros sinais clínicos da DRGE. Mamas As duas mamas são oferecidas em todas as mamadas. Como a criança suga mais vigorosamente a 1ª mama, acaba por não esvaziar completamente a 2ª, dessa forma, na próxima mamada essa mama que não foi completamente esvaziada deve ser oferecida 1º. Técnicas e posicionamento e pega: Há várias posições para amamentar, mas o importante é o conforto materno e a execução da técnica adequada. Ao oferecer o seio, o RN deve abocanhar toda/maior parte aréola, com a boca bem aberta e o lábio inferior evertido, com o queixo tocando a mama. Isso evita o aparecimento de fissuras e permite o esvaziamento dos seios lactíferos situados sob a aréola. Cabeça e tronco do bebê devem estar alinhados no mesmo eixo axial (pescoço NÃO pode estar rodado ou lateralizado). A deglutição deve ser visível e audível. São sinais de técnica incorreta: • Bochechas do bebê encovadas durante a sucção • Ruídos da língua • Dor à amamentação. Após a mamada, deve-se deixar a criança posição + elevada, para que ela possa expelir o ar que engoliu durante a amamentação. Extração manual do leite: A mãe deve ficar de pé ou sentada, em posição confortável. Colocar o polegar acima do complexo mamilar e os demais dedos embaixo, como se formasse um “C” com a mão. Pressionar firmemente a mama contra a parede torácica. Não esfregar os dedos sobre a pele. O leite deve ser colocado em recipiente esterilizado. Proceder à expressão de uma mama por 3 a 5 minutos, e passar para outra. Repetir + 1 vez o procedimento em cada mama. O leite armazenado deve ser oferecido em copinho ou colher p/ o lactente após aquecimento em banho-maria e agitá-lo suavemente para homogeneizar a gordura. Armazenamento do leite cru (não pasteurizado): geladeira por até 12 horas; congelador ou freezer (≤ -3ºC) por 15 dias; fora da geladeira NÃO se recomenda armazenar. Armazenamento do leite ordenhado pasteurizado (fervura a temperatura de 62,5ºC por 30min.): congelador ou freezer (≤ -10ºC) por 6 meses. O descongelamento deve ser feito dentro da geladeira. Componentes do leite humano Fatores como época da gestação, horário do dia e início e fim da mamada modificam alguns componentes (como os lipídios e proteínas) do leite → o leite da própria mãe apresenta a composição química ideal para a espécie, tempo de vida (a termo x pré-termo) e para a necessidade diária. As crianças prematuras recebem 20% a mais de nitrogênio que as a termo. De forma geral, o leite materno contém: • Fatores protetores contra infecções, específicos e inespecíficos. Ainda, é limpo e não necessita de manipulação. o Fatores específicos são representados pelas imunoglobulinas (IgA, IgM, IgG). A IgA é sintetizada na própria glândula mamária→ Subpopulações de linfócitos T dos tratos GI e respiratório da mãe entram em contato com os patógenos ambientais, migram para a mama e estimulam a produção de IgA específica contra esses patógenos, que será transferida para o RN. A IgA reveste a mucosa intestinal, impedindo agressão por bactérias, toxinas ou antígenos estranhos. o Fatores inespecíficos: os mais importantes são: ▪ O fator bífido é um substrato para o crescimento do Lactobacillus bifidus, bacilos anaeróbios que compõem a flora intestinal predominante em crianças amamentadas exclusivamente no peito. Constituem uma flora saprófita, impedindo a proliferação de micro-organismos patogênicos.▪ A lisozima (ação bactericida e anti- inflamatória) é produzida por neutrófilos e macrófagos e age através da lise da parede celular de bactérias Gram-positivas e negativas. ▪ A lactoferrina (ação bacteriostática) é uma proteína carreadora de ferro que, por quelação, diminui a biodisponibilidade deste mineral para os patógenos, em especial, Staphylococcus sp., E. coli. e Candidas p., e aumenta sua biodisponibilidade para o lactente, liberando-o em seu sítio de absorção no intestino delgado. A terapia com ferro oral pode inibir esse processo. ▪ A lactoperoxidase é uma enzima ativa contra o Streptococcus. Existe uma série de outros fatores inespecíficos, como o fator de resistência à infecção estafilocócica, frações do complemento, gangliosídeos, interleucinas, glicoproteínas, ácidos graxos, etc. A lipase atua contra parasitas como Giardia lambliae Entamoeba histolytica. O leite materno também contém neutrófilos, macrófagos e linfócitos, que ocorrem predominantemente nas primeiras semanas de vida. Ativam outras células de defesa e produzem imunoglobulinas, além de produzir fatores de crescimento celular e lactoperoxidase. • Proteínas: (1,1g/100ml) em concentração menor que a do leite de vaca (3,5g/100ml), o que é adequado para o crescimento normal do lactente e não provoca sobrecarga renal. A filtração glomerular, a função tubular e a capacidade de concentração urinária são baixas nos RN→ maior carga de solutos (ex.: proteína, sódio) predispõe o RN a risco de desidratação. Ainda, a qualidade da proteína do leite de vaca dificulta a digestão aumentando tempo de esvaziamento gástrico; a principal proteína do leite de vaca é extremamente alergênica, enquanto que a do leite materno tem potencial alergênico praticamente nulo. • Gordura: qtde é maior no final da mamada e no final do dia e há variações de acordo com a dieta materna. Leite humano tem > digestibilidade pois tem lipase→ ativada em contato com os sais biliares no duodeno. Os lipídios em > qtde no leite humano mais importantes são: o os de cadeia longa insaturados → ação primordial no desenvolvimento neuropsicomotor e na formação da retina. Todas as membranas celulares envolvidas no processo de crescimento neural e de milinização são formadas por fosfolipídios e por derivados dos ácidos graxos de cadeia longa. o o colesterol → facilita o desenvolvimento de sistemas enzimáticos que regulam o seu metabolismo na vida adulta. • Carboidratos: a lactose é o carboidrato predominante no leite humano. Por hidrólise fornece glicose e galactose. A galactose é essencial para a formação dos cerebrosídeos; é um açúcar não completamente digerido → facilita o amolecimento das fezes, bom para evacuação. Funciona como substrato para a formação de ácidos orgânicos pela flora saprófita de lactobacilos, o que reduz o pH intestinal, a formação de sabões insolúveis (palmitato), aumentando a absorção de cálcio. Apesar da concentração de cálcio do leite materno ser inferior a do leite de vaca, ele é mais bem absorvido. • Eletrólitos: há < concentração de sódio no leite humano→ impede sobrecarga renal e ↓ risco de desidratação. • Ferro: em baixa concentração em ambos os leites, porém, a biodisponibilidade no leite materno alcança 50% e o de vaca apenas 10%. Contribuem para isso o <pH intestinal dos lactentes alimentados exclusivamente ao seio e a presença da lactoferrina. Possíveis carências • Vitamina K: tem baixa concentração no leite humano, e o intestino do RN só iniciará sua produção através da flora saprófita com 2 semanas de vida. O RN deve receber ao nascimento vitamina K1 na dose de 0,5 a 1 mg via IM OU 1 a 2 mg via oral, a fim de evitar a doença hemorrágica/ sangramentos resultantes da carência dos fatores de coagulação, dependentes de vitamina K (II, VII, IX e X). • Vitamina D: a SBP recomenda que todos os lactentes recebam vitamina D profilática, desde o final da 1ª semana de vida até 2 anos • Flúor: sua ação é predominantemente tópica sobre os dentes, por meio de deposição de fluoreto de cálcio sobre a superfície do esmalte. A concentração de flúor no leite humano depende da sua concentração na água de abastecimento. Suplementação não é indicada nos primeiros 6 meses de vida; é restrita a idade entre 6meses e 3 anos, quando a concentração na água local for < que 0,3ppm. Onde há fluoretação da água para abastecimento não precisa • Desnutrição materna: risco de baixo peso ao nascer, anormalidades fetais e prematuridade. Na lactação, compromete o volume de leite produzido, mas mantém qualidade inalterada. Fases da produção láctea Colostro: Primeiros 3 a 5 dias após o parto, líquido rico em proteínas, minerais, fatores de crescimento e imunológicos. • Composição: comparando-se com o leite maduro, o conteúdo de eletrólitos, proteínas, vitaminas lipossolúveis (principalmente vitamina A, que lhe confere coloração amarelada), minerais e a concentração de imunoglobulinas é maior, destacando-se a alta concentração de IgA e lactoferrina. Por outro lado, possui menos gordura, lactose e vitaminas hidrossolúveis. É um leite imaturo, basicamente um exsudato plasmático. • Facilita eliminação de mecônio nos primeiros dias (↓icterícia) e permite proliferação de lactobacillus bifidus na luz intestinal. Leite de transição: Produzido entre 6-10 dias até 2ª semana pós-parto. • Composição: a concentração de imunoglobulinas torna-se progressivamente menor, assim como o teor de vitaminas lipossolúveis. Ocorre o ↑ das vitaminas hidrossolúveis, lipídios e lactose. Leite maduro: Produzido a partir da 2ª quinzena pós-parto. • Composição: maior teor lipídico e de lactose; menor quantidade de proteínas. O leite anterior (solução) é ralo e doce, ocorrendo predomínio de proteína do soro e lactose. No meio da mamada (suspensão) é maior a quantidade de caseína. O leite posterior (emulsão) tem grande concentração de gordura, necessária para saciar o lactente. Leite de mães de prematuros: • Composição: + rico em proteínas (>concentração de aminoácidos essenciais para o recém-nascido, como cistina, taurina e glutamina) e mais rico em fatores de proteção (IgA, lactoferrina e lisozima), gorduras (colesterol, fosfolipídeos, ácidos graxos de cadeia média, ácidos graxos poli-insaturados), eletrólitos (sódio, cloro e cálcio ionizado), e vitaminas A e E. Em contrapartida, é menos rico em lactose e vitamina C. • No fim do 1º mês, o conteúdo é similar ao de nascidos a termo • Prematuros e neonatos de muito baixo peso: naqueles impossibilitados de receber nutrição enteral devido às complicações clínicas, preconiza-se a administração de 7 a 14 gotas de colostro diretamente na boca a cada 2-3 horas, durante as primeiras 48 horas de vida. Pouco leite A lactante produz leite que suplanta em muito a necessidade alimentar do bebê. Por isso, é possível à nutriz amamentar gêmeos ou ainda, retirar leite para um banco de leite sem afetar a qualidade e a quantidade de secreção láctea para sua prole. Apesar desta suplência láctea, muitas mães queixam-se de que tem “pouco leite” ou “leite é fraco”. Muitas vezes, fatores como depressão puerperal, técnica inadequada de amamentação, chupeta, doenças maternas sistêmicas, afecções mamárias podem levar a ↓ da produção láctea. Se o leite secretado não for retirado da mama, os peptídeos inibidores irão diminuir a secreção láctea, criando assim, um ciclo vicioso no qual a mamada ineficaz acarreta acúmulo de leite e peptídeos que determinam lactogênese, prejudicando ainda mais o processo da amamentação. São sinais clínicos de insuficiência láctea: Ganho de peso insuficiente; O bebê não fica saciado após a mamada; chora muito mesmo após a mamada; Redução da diurese (< 6 vezes/dia); Alteração das evacuações: fezes em pequena quantidade, secas e endurecidas. TTO: 1. Correção da técnica – pega e posicionamento; 2. ↑ a frequência das mamadas;3. Oferecer ambas as mamas em cada mamada; 4. Dieta balanceada; 5. Repouso; 6. Medicações: último recurso para estimular a lactogênese, se as medidas anteriores não forem suficientes. 1ª escolha: domperidona (30 mg VO, 3x/dia), por não penetrar a barreira hematoencefálica e o menos efeitos colaterais extrapiramidais; outra - metoclopramida (10 mg, VO, < 3x/dia). Podem ser utilizadas por tempo indeterminado. AFECÇÕES DA MAMA Ingurgitamento mamário No ingurgitamento mamário fisiológico, que ocorre durante a apojadura entre o 3º e 4º dia após o parto, as mamas encontram-se cheias, pesadas e quentes, mas SEM qualquer sinal de hiperemia ou edema. O leite sai facilmente através da sucção ou expressão manual e, portanto, esta situação fisiológica não requer nenhuma medida terapêutica específica. No ingurgitamento mamário patológico: o leite NÃO é drenado de forma eficiente, há ↑ da vascularização local com congestão e há obstrução linfática. Causas + comuns: 1) técnica de amamentação incorreta; 2) mamadas muito espaçadas; 3) separação entre mãe e bebê. Todas as causas têm um denominador em comum: drenagem insuficiente de leite. Normalmente, é verificada entre o 3º ao 7º dia após o parto, e as mamas encontram-se edemaciadas, doloridas e não drenam o leite com facilidade. Algumas mulheres poderão apresentar febre e mal-estar. Como medidas preventivas, recomendam-se: pega e posicionamento adequados; retirada eficaz de leite alcançada com regime de livre demanda; e não uso de suplementos. TTO: Manter a amamentação, com + frequência e livre demanda. Ordenhar manualmente o excesso de leite. Realizar massagem circular quando as mamas estiverem túrgidas. Ordenhar um pouco de leite antes da mamada. Começar a mamada pelo seio mais túrgido; o bebê com fome suga mais forte, ajudando a esvaziar melhor o seio que está mais cheio. Uso de sutiã apropriado, de alças largas, que sustente bem os seios. Fazer compressas frias nos intervalos entre as mamadas por até 15 minutos, para ↓ produção láctea. Banho morno auxilia na liberação do leite. As compressas mornas não têm mais sido recomendadas pelo risco de queimaduras. Se necessário, usar analgésicos (ex.: paracetamol) ou anti-inflamatórios (ex.: ibuprofeno). Dor mamilar Comum na 1ª semana de pós-parto. Após este período, se intensa e persistente, pode estar sendo provocada por trauma (fissuras, bolhas, equimoses), candidíase ou síndrome de Raynaud. Medidas preventivas: Medidas preventivas: 1) Pega e posicionamento corretos; 2) Manter os mamilo secos, expondo-os ao sol e trocando os forros com frequência; 3) Não usar sabões, óleos e álcool para limpeza dos mamilos; 4) Antes da mamada, ordenhar um pouco de leite para deixar o bico mais macio; 5) Ao fim da mamada, introduzir o dedo mínimo no canto da boca do bebê para desfazer o vedamento, soltando-o do peito sem traumatizar o mamilo. TTO: Orientar a pega correta da aréola e a posição adequada do bebê durante a mamada. Manter a amamentação. Começar o aleitamento pela mama menos afetada, já que no início da mamada o bebê suga mais avidamente o seio. Usar diferentes posições para amamentar. Quando os mamilos já estão rachados, recomenda-se passar o próprio leite materno e deixá-los um pouco ao ar livre. Ordenhar a mama antes da mamada, para que o reflexo de ejeção já esteja presente quando o lactente iniciar a sucção, fazendo com que ele sugue com menos força. Não usar sutiã muito apertado, que impeça o arejamento do mamilo. Lembrar à mãe que, se aparecer sangue na boca do bebê ou em vômitos, não há problema. Não usar pomadas ou antissépticos, pois podem dificultar a cicatrização. Evitar o contato do mamilo com as roupas ou sutiã, a fim de evitar mais trauma. Conchas de silicone com perfurações para ventilação podem auxiliar. Mastite Processo inflamatório da mama causada por estase do leite e infecção. Pode acometer somente a pele ou aprofundar-se pelo parênquima e interstício. Etiologia: principal é o Staphylococcus aureus (95%) e entre outros menos comuns tem estreptococos e E. coli. As medidas preventivas são as mesmas para evitar trauma mamilar e ingurgitamento. TTO: Mesmas orientações destinadas ao ingurgitamento mamário; a ordenha da mama ↓ a tensão sobre o tecido conjuntivo e apressa a cicatrização. Anti-inflamatório: ibuprofeno. Antibioticoterapia indicada quando: 1) quadro clínico significativo desde o início; 2) leucócitos > 106 /ml e bactérias > 103 /ml no leite materno; 3) fissuras visíveis no mamilo; 4) ausência de resposta ao tratamento após 12-24 horas. As escolhas são: 1) tto ambulatorial: cefalexina ou amoxicilina + ácido clavulânico por 10-14 dias; 2) tto hospitalar: oxacilina, IV 10 a 14 dias. NÃO contraindicar amamentação, pois apesar da presença de bactérias no leite, essas não trazem prejuízo à saúde do bebê. Pode ser complicação da mastite ou resultar de seu tto ineficiente: abscesso mamário. Caracteriza-se por intensa dor, formação de nódulo palpável e flutuante de pus e febre. É causada pelo Staphylococcus aureus na maioria dos casos. A drenagem pode ocorrer por algum ducto ou para o exterior. O diagnóstico é sugerido pelo exame clínico e por ultrassonografia da mama (comprova a presença de cavitação). É necessário realizar a drenagem cirúrgica, administrar antibióticos e esvaziar regularmente a mama. Se o dreno ou a incisão cirúrgica estiver longe da aréola, a mãe não precisará necessariamente interromper a amamentação na mama afetada. Porém, é recomendado pela OMS que a amamentação seja suspensa na mama com abscesso até que seja drenado. Candidíase Infecção dos mamilos causada pela Candida albicans, um fungo que gosta de meios quentes, úmidos, escuros e ricos em sacarose. Os sintomas são: dor e sensação de prurido que se irradiam pela mama. A pele torna-se hiperemiada, brilhante e com fina descamação. Raramente ocorrem placas esbranquiçadas. Prevenção: mamilos ventilados e expostos ao sol; fervura de 20min/dia de chupetas e bicos (fonte de contaminação). TTO: aplicação local de nistatina, miconazol ou cetoconazol por 14 dias e tratamento da criança simultaneamente, mesmo que ela não tenha sintomas. Se o tratamento não for efetivo, usa-se fluconazol via oral por 14 a 18 dias para a nutriz. Síndrome de Raynaud Ocorre por isquemia intermitente do mamilo. Causas prováveis: compressão do mamilo, trauma, exposição ao frio. Os sintomas são: palidez, dor, queimação que podem durar de minutos até horas. Prevenção: pega adequada. TTO: compressas mornas. Alguns autores sugerem nifedipina, vitamina B6, suplementação com cálcio, magnésio e ibuprofeno. Medicações na lactação Alguns medicamentos, fitoterápicos, chás e ervas não devem ser utilizados, pois podem passar para o leite e afetar a criança. Muitas vezes podem ser substituídos por outros de menor risco à criança. De acordo com o MS as medicações na lactação são divididas em 3 categorias: • Liberadas: sem efeitos colaterais ao lactente (ex.: dipirona, paracetamol, alguns anticonvulsivantes, antidepressivos e antipsicóticos, alguns bzd) • Usadas com cautela: pensar risco x benefício. O lactente deverá ser observado quanto ao surgimento de efeitos colaterais e a dose da medicação é a mínima necessária e por menor tempo possível. (ex.: AAS, naproxeno, tramadol...) • Drogas contraindicadas: proibidas na lactação. Substâncias na lactação Cafeína: provoca irritabilidade e insônia no lactente. Nicotina: deve ser desestimulada, pois diminui a produção de prolactina; causa vômitos, irritabilidade e insônia. Álcool: promove distúrbio cognitivo no lactente, entorpecimento, astenia e baixo ganho ponderal, além de diminuição do reflexo de ejeção. Cocaína: está associada à taquicardia, irritabilidade, vômitos, convulsões e à Síndrome de Morte Súbita do Lactente. CONTRAINDICAÇÕESà amamentação • Drogas antineoplásicas, imunossupressoras, substâncias radioativas (suspensão temporária, pode se planejar para retirar previamente o leite a ser oferecido a criança durante a interrupção), derivados de ergot (usado pra enxaqueca), sais de ouro (p/ artrite reumatoide), ciclosporina (imussupressora), amiodarona (antiarrítmicos), fenindiona (anticoagulante); androgênios; anticonvulsivantes (zonisamida); antivirais (ganciclovir). • Mães usuárias regulares de álcool ou drogas ilícitas (maconha, cocaína, crack, anfetamina, ecstasy e outras) não devem amamentar seus filhos enquanto estiverem fazendo uso dessas substâncias. Devem receber apoio para ficarem em abstinência e assim poderem amamentar, se for o seu desejo. → Recomenda-se supervisão de profissionais quando interrupção da amamentação temporária, pois o tempo de interrupção sem amamentar varia de acordo com cada situação/substância (de 24h a 2 semanas). Pra manter a produção de leite e garantir o retorno (se aplica a qualquer motivo de interrupção), a mulher deve continuar a retirar regularmente o leite msm sem amamentar. • Mãe HIV+, transmissão do vírus HIV através do leite é comprovada. Em alguns países em desenvolvimento, o risco da não amamentação ou da alimentação artificial são piores que os da transmissão da doença e portanto a OMS considera aceitável o risco da transmissão. No Brasil, é contraindicado e o governo federal garante a essas mães o recebimento da fórmula infantil até que a criança complete 6 meses de idade. • Mães com psicose puerperal grave, eclampsia ou choque • Lesões ativas na mama ou mamilo provocadas por herpes (contraindicado amamentação durante período ativo da doença, após tratada reiniciar amamentação) • Mães HTLV1 e 2 (retrovírus T-linfotrópico humano) positivas, risco de transmissão pelo leite materno de 13 a 22%; HTLV está associado a desenvolvimento de neoplasias e distúrbios neurológicos na criança • NÃO é contraindicação: Tuberculose ativa materna, desde que a mãe use máscara durante o período bacilífero e a criança receba profilaxia • Mulheres com Hepatites A, B e C podem amamentar, porém, as com a C e com mamilos machucados devem procurar profissional de saúde. • Galactosemia (erro inato do metabolismo da galactose causada por deficiência em alguma das principais enzimas – GALT, galactoquinase e GALE). A deficiência de GALT é a +comum, principais manifestações clínicas: baixo ganho ponderal, icterícia colestática (direta), hepatomegalia com evolução para cirrose hepática, retardo mental, catarata e aumento da susceptibilidade a infecções principalmente sepse por E. coli. Nestas crianças apenas o leite de soja pode ser usado, o qual a fonte de carboidrato não é a lacotse. ÚNICA doença da criança que contraindica completamente aleitamento materno; nos outros erros inatos do metabolismo tem-se permitido a amamentação, sob rígido controle clínico e laboratorial. • Fenilcetonúria – contraindicação relativa • MSUD (maple syrup urine disease): Doença do bordo - contraindicação relativa, é uma aminoacidopatia. _________________________________________ DO LACTENTE AOS 2 ANOS Para planejar a alimentação da criança, é necessário considerar as limitações dos vários sistemas dos lactentes. Durante os primeiros meses de vida, os sistemas digestório, renal e imunológico encontram-se em fase de maturação. Por conseguinte, o sucesso das práticas alimentares depende de se suprir a criança com alimentos de qualidade e consistência adequadas, que satisfaçam as necessidades nutricionais definidas pelo seu crescimento e desenvolvimento, que protejam contra a absorção de substâncias alimentares alergênicas e não excedam a capacidade funcional dos sistemas orgânicos (cardiovascular, digestório, renal e neurológico). • A habilidade de mastigar inicia por volta do 5º mês de vida. • Nos RN e lactentes, o carboidrato de maior importância é a lactose. A lactase, enzima produzida pelos enterócitos desde a 12ª semana de vida intrauterina, ↑ rapidamente entre 36ª e 38ª semanas e mantém-se estável até a fase escolar então tende a reduzir-se → justifica altas taxas de má absorção encontrada em adultos • Os RN a termo apresentam proteólise gástrica ineficaz. Na fase intestinal da digestão proteica, a mucosa imatura permite a absorção de macromoléculas proteicas, predispondo o organismo aos processos alérgicos e infecciosos. • A atividade da lipase pancreática é incompleta ao nascimento e só atinge os níveis existentes em adultos por volta dos 2 anos de idade. Os sais biliares apresentam baixos níveis intraluminais. A lipase lingual, gástrica e lipases contidas no leite humano é de fundamental importância para digestão de lipídios nos RN e lactentes • Minerais e vitaminas são adequadamente absorvidos pelo trato digestório desde os primeiros meses. Também considerar aspectos socioculturais. Há ampla evidência científica que fatores nutricionais e metabólicos, em fases iniciais do desenvolvimento humano, tem efeito de longo prazo na programação (programming) da saúde na vida adulta. Ex.: o aleitamento materno tem efeito protetor na ↓ do risco de obesidade na vida adulta. Epigenética→ conjunto de mecanismos como o ambiente e a alimentação que pode influenciar o genoma. Refere-se ao desenvolvimento e programação metabólica (programming). O MS, Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), OMS e SBP estabeleceram, p/ <2anos, 10 passos para alimentação saudável: • Passo 1 – Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou quaisquer outros alimentos. • Passo 2 – A partir dos 6 meses, introduzir gradualmente de forma lenta e gradual outros alimentos (in natura ou minimamente processados), mantendo-se o leite materno até os 2 anos de idade ou mais. • Passo 3 – Após os 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes, leguminosas, frutas e hortaliças) 3 vezes/dia se a criança receber leite materno e 5 vezes/dia se estiver desmamada. o A alimentação oferecida deve ser o +ampla possível, com introdução de proteínas heterólogas e glúten também iniciada, visando a aquisição de tolerância e a ↓ no risco de alergenicidade. o Ovo e carnes (bovina, suína, frango ou peixe) também podem ser introduzidos aos 6 meses. o O óleo vegetal, de preferência de soja ou canola ou azeite de oliva, por conterem proporções adequadas de ômega 3 e 6, deve ser usado em pequena qtde o Sal NÃO deve ser adicionado o Nenhuma fruta é contraindicada. Os sucos devem ser evitados, pois são muito calóricos favorecendo o aparecimento de obesidade e não proporcionam o consumo das fibras das frutas. o Alimentos ultraprocessados são pobres em nutrientes e podem conter muito sal, gordura e açúcar. o Importante oferecer água potável a partir da introdução da alimentação complementar. • Passo 4 – A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança. o Horários rígidos prejudicam a capacidade da criança de distinguir a sensação de fome e de estar satisfeito após a refeição. Naturalmente a criança vai se adaptando aos horários de alimentação da família, que devem ser regulares (intervalos de 2 a 3h). o Zelar para hora da alimentação da criança ser em um ambiente acolhedor, tranquilo → influencia positivamente na aceitação dos alimentos. o É necessário saber distinguir o desconforto da criança por fome de outras situações, como sede, sono, frio, calor, fraldas molhadas ou sujas. o Distrações como TV, celular, pc ou tablet podem dispersar a criança tirando o foco do alimento. • Passo 5 – A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida com colher; começar com consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência até chegar à alimentação da família. o Refeiçõesapresentam > densidade energética quanto + espessas e consistentes, comparadas com dietas diluídas, do tipo sucos e sopas ralas. Como a criança tem capacidade gástrica pequena e consome poucas colheradas no início da alimentação complementar→ é necessário garantir o aporte calórico com papas de > densidade energética. o No início, os alimentos devem ser amassados com o garfo (consistência de purê), nunca liquidificados ou peneirados. • Passo 6 – Oferecer à criança diferentes alimentos todos os dias. Uma alimentação variada é, também, uma alimentação colorida. Passo 7 – Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições. o Só alimentação variada oferece qtde de vitaminas, cálcio, ferro e outros nutrientes necessários. o Se a criança recusar determinado alimento, deve-se oferecer novamente em outras refeições→ são necessárias em média 8 a 10 exposições a um novo alimento para que ele seja aceito pela criança. • Passo 8 – Evitar açúcar (NÃO oferecer até 2 anos de idade), café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinhos e outras guloseimas nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação. o Evitar industrializados pré-preparados e principalmente ultraprocessados, condimentos industrializados o Alguns alimentos não são saudáveis, diminuem o apetite, competem com os alimentos nutritivos e estão associados ao desenvolvimento de anemia, excesso de peso e alergias alimentares o O consumo de açúcar (qualquer tipo, incluindo mel) não é necessário e causa danos à saúde como cáries, obesidade ainda na infância. Acostumar a criança desde cedo ao sabor excessivamente doce pode causar dificuldade de aceitação dos alimentos in natura ou minimamente processados o NÃO oferecer preparações/produtos com açúcar (biscoitos, bolos, iogurtes, entreoutros) o No 1º ano de vida não se recomenda uso de mel de abelha. Nessa faixa etária, os esporos do Clostridium botulinum, capazes de produzir toxinas na luz intestinal, podem causar botulismo. • Passo 9 – Cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos; garantir armazenamento e conservação adequados. o a partir da introdução da alimentação complementar → ↑risco de morbimortalidade, principalmente por doenças infecciosas. o Orientar as mães da higiene adequada das mãos, alimentos e utensílios. Mamadeiras, utensílios do lactente, frutas e verduras devem ser lavados em água corrente e colocados em imersão em água com hipoclorito de sódio a 2,5% (10 gotas para 1litro de água) por 20 minutos (segundo 4ed do tratado da SBP, segundo a 3ª era 20 gotas por 15 min). Para reduzir o risco de contaminação dos alimentos por agrotóxicos, preconiza-se a utilização de bicarbonato de sódio a 1% (imergir as frutas e verduras por 20 minutos em solução de uma colher de sopa para 1 litro de água). o Os alimentos devem ser preparados de preferência em qtde para uma refeição e oferecidos à criança logo após o preparo. Os alimentos preparados armazenados sob refrigeração tem prazo máx. de consumo de 5 dias; se congelados, descongelar dentro da geladeira. o Água para beber deve ser filtrada e fervida ou clorada • Passo 10 – Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo a alimentação habitual e seus alimentos preferidos e respeitando sua aceitação. o A criança doente tem ↓ do apetite e risco de deficiências nutricionais. • Passo 12 – previsto apenas no guia alimentar do MS de 2019: proteger a criança da publicidade de alimentos (evitar ao máx exposição), pois ela confunde facilmente a realidade com a ficção da publicidade, ela não tem desenvolvida a capacidade de julgamento e decisão. As dietary reference intakes (DRI) representam a + recente revisão dos valores de recomendação de nutrientes e energia para diversas faixas etárias. Possui uma tabela que apresenta as recomendações para crianças e adolescentes, com as quantidades específicas de água, carboidratos, proteínas, fibras, gorduras, ácido linoleico, ácido alfa-linolênico, vitaminas e minerais. A pirâmide alimentar brasileira foi criada com o objetivo de transformar e reunir conhecimentos científicos sobre a ingestão alimentar em um instrumento que facilitasse a seleção e o consumo de todos os grupos de alimentos. Em 2013 foi atualizada p/ novos padrões alimentares de nossa população e melhor adaptação à dieta a aos hábitos culturais dos brasileiros, com redução do valor energético diário p/ 2.000kcal (varia conforme grupo etário), fracionamento da dieta em 6 porções diárias, incentivo à prática de atividades físicas. A qtde de cada alimento no prato varia de acordo com a faixa etária e a necessidade calórica (tabela 2 da SBP). Alimentação complementar A alimentação complementar é recomendada a partir de 6 meses. Deve prover alimentos culturalmente aceitos, economicamente acessíveis e agradáveis à criança. Esse período é de elevado risco p/ a criança: pela oferta de alimentos desaconselháveis, risco de contaminação pela manipulação e preparo→ favorecem diarreia, desnutrição, deficiência de micronutrientes ou obesidade. Na idade de 6 a 12 meses, o leite materno ainda contribui com aproximadamente metade da energia requerida nessa faixa etária e 1/3 da energia necessária no período de 12 a 24 meses. A OMS recomenda 2 a 3 refeições ao dia dos 6 aos 8 meses (2 são completas – papas, no almoço e janta), e 3 a 4 para as crianças dos 9 aos 24 meses. Após os 12 meses, são recomendados lanches adicionais. A frequência das mamadas no seio pode ser mantida. Ferro: sua deficiência é a principal causa da anemia em crianças <2anos. Apresenta-se nos alimentos sob duas formas: • Heme, das carnes e vísceras, tem maior biodisponibilidade, são absorvidos 20 a 30% • Não heme, contido em alimentos de origem vegetal, pouco absorvido, cerca de 2 a 10%, e ainda pode ter suas taxas de absorção modificadas por agentes facilitadores (ex. ácido ascórbico) ou inibidores (ex.: cálcio, fosfatos, fitatos, taninos) Alimentação p/ crianças não amamentadas Apesar dos indiscutíveis benefícios da amamentação p/ mãe e a criança e das recomendações, a duração média do aleitamento materno total na população brasileira é de 10 meses, e do AME, de 23 dias. Diante da impossibilidade do aleitamento materno, deve-se utilizar uma fórmula infantil que satisfaça as necessidades do lactente. Todas as fórmulas infantis para lactentes disponíveis no Brasil são consideradas seguras, pois seguem as resoluções da Anvisa. • 1º semestre: utilizar fórmula infantil p/ lactentes, garantindo volume e concentração adequados para as necessidades nutricionais. • 2º semestre: recomenda-se fórmula infantil de seguimento para lactentes. Composição fórmula infantil: usam como referência o leite materno, porém sua composição é extremamente variável e ainda não plenamente elucidada. A quantidade, a biodisponibilidade, a organização e a complexidade das estruturas bioquímicas dos componentes do leite materno não são passíveis de reprodução pela indústria. Para as crianças que usam fórmulas infantis, a introdução de alimentos deve seguir o mesmo padrão preconizado p/ as que estão em AME (a partir dos 6 meses). O LEITE DE VACA NÃO é recomendado para crianças <1ano, pois é nutricionalmente inadequado com elevada qtde de proteínas, sódio, cloretos, cálcio, fósforo; ferro de baixa disponibilidade; qtdes insatisfatórias de carboidratos, de ácidos graxos essenciais, de vitaminas e de minerais para essa faixa etária. Infelizmente, no inquérito nacional entre as crianças que recebiam outros leites, o leite de vaca foi consumido por 62,4%das crianças <6 meses, por 74,6% das crianças de 6 a 12 meses e por aproximadamente 80% das crianças > 12 meses. O consumo de fórmulas infantis foi de 23% em crianças <6 meses, 9,8% na idade de 6 a 12 meses e <1% nas demais idades. Alimentação p/ lactentes entre 1 e 2 anos A amamentaçãodeve prosseguir. As refeições devem assemelhar-se às dos adultos segundo o Guia Alimentar da População Brasileira proposto pelo MS. O consumo de alimentos ultraprocessados deve ser desencorajado ressaltando a importância de preparações caseiras saudáveis. Não amamentadas: recomenda-se ingestão média de 600mL de leite de vaca ou derivados do leite de vaca associada à alimentação balanceada, variada e equilibrada. Consumo > 700mL de leite de vaca integral nessa faixa etária representa importante fator de risco p/ anemia carencial ferropriva. Os alimentos sólidos podem ser oferecidos no prato, com colher pequena, estreita e rasa. Importante que a criança manuseie os alimentos nessa fase. Os líquidos devem ser ofertados em copo ou xícara inquebráveis. O uso dos utensílios estimula à coordenação e à destreza motora→ importante incentivo para desenvolvimento neuropsicomotor. A administração de ferro profilático deve ocorrer para todos os lactentes a partir da interrupção do AME até os e 2 anos de idade. Não é indicado para lactentes nascidos a termo, de peso adequado em uso de fórmula infantil desde o nascimento. A SBP recomenda a suplementação profilática de vitamina D 400 UI/dia a partir da 1ª semana de vida até os 12 meses, e de 600 UI/dia dos 12 aos 24 meses para TODAS as crianças. Essa suplementação é altamente recomendável pois: a exposição ao sol no período das 10 às 15h → associado a ↑ câncer de pele; e antes das 10 e após as 15h → ângulo de incidência do sol leva a pouca síntese da vitamina D3 pela pele. Os nutrientes que provêm energia calórica são as gorduras (9 kcal/g), carboidratos (4 kcal/g) e proteínas (4 kcal/g), e são conhecidos como macronutrientes. As vitaminas e minerais são os micronutrientes, que por sua vez, atuam em diversas vias metabólicas fundamentais na célula. Como regra geral, estima-se que 40 a 50% de todo o aporte calórico da dieta deva ser oferecido com carboidratos. Já a ingestão de gordura deve ser de 30% do aporte calórico da dieta, e sendo < 10% em gorduras saturadas, e ácidos graxos ômega-3 e 6 em aproximadamente 5-10%. A quantidade relativa de proteínas e aminoácidos por peso também é maior em lactentes (1,2 g/kg/dia) do que em crianças maiores e adolescentes (0,8 g/kg/dia), com especial destaque para a histidina e cisteína, aminoácidos essenciais para crianças de até 6 meses.
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