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DESCRIÇÃO Apresentação das formas farmacêuticas cavitárias retais e vaginais: principais excipientes, métodos de fabricação, propriedades relacionadas à liberação do fármaco, seus efeitos locais e sistêmicos. PROPÓSITO Compreender o conceito das formas farmacêuticas cavitárias retais e vaginais e os principais métodos de fabricação e excipientes utilizados, assim como as propriedades que influenciam a liberação do fármaco, os efeitos locais e sistêmicos é fundamental para a atuação do farmacêutico na produção, na pesquisa, na inovação e no desenvolvimento de formulações farmacêuticas. PREPARAÇÃO Antes de iniciar este conteúdo, tenha em mãos papel, caneta e uma calculadora científica ou use a calculadora de seu smartphone ou computador. OBJETIVOS MÓDULO 1 Relacionar as formas farmacêuticas de uso retal e os fatores que interferem na absorção dos fármacos no reto MÓDULO 2 Identificar os métodos de fabricação de supositórios e seu controle de qualidade MÓDULO 3 Reconhecer as formas farmacêuticas de uso vaginal e demais formas farmacêuticas cavitárias INTRODUÇÃO A principal via de administração de fármacos é a oral, pela qual são administrados cerca de 80% dos medicamentos no mundo todo. Entretanto, é preciso que existam alternativas de administração de fármacos por outras vias, além da oral, uma vez que o paciente pode apresentar dificuldades de deglutição ou algum transtorno gastrointestinal. Além disso, pacientes em coma, ou em situação pós- cirúrgica bem como idosos e crianças podem ter que receber o medicamento por outra via. Em alguns casos é necessário proteger o fármaco a fim de melhorar sua estabilidade, como os fármacos sensíveis ao pH ácido do estômago, ou ao efeito de primeira passagem hepática. Uma outra aplicabilidade importante de vias de administração diferentes da oral é quando se faz necessário um efeito local. As apresentações farmacêuticas cavitárias são aquelas utilizadas para inserção nos orifícios corporais, tais como o reto e a vagina. A administração retal não é, certamente, a via de primeira escolha mas, em alguns casos, pode ser bem vantajosa para o paciente. Entre as suas vantagens estão a possibilidade de obter um efeito tanto local quanto sistêmico, podendo ainda apresentar um efeito mecânico, como no caso dos laxantes. As formas farmacêuticas para administração por via retal são as mais conhecidas e utilizadas, entretanto, existem outras apresentações que podem ser administradas pelas cavidades corporais retal e vaginal, como, por exemplo: Óvulos; Enemas; Duchas; Entre outras. Neste conteúdo conheceremos: As formas farmacêuticas cavitárias Os métodos de fabricação Os excipientes utilizados e suas vantagens e desvantagens frente a outras formas farmacêuticas Bons estudos! MÓDULO 1 Relacionar as formas farmacêuticas de uso retal e os fatores que interferem na absorção dos fármacos no reto ANATOMIA E FISIOLOGIA DO RETO Foto: Shutterstock.com Os medicamentos para administração por via retal podem se apresentar na forma de soluções, supositórios e pomadas. Apesar da via retal não ser considerada a principal via para a absorção de fármacos, é possível afirmar que ela é relevante para a administração de medicamentos. O reto é o segmento terminal do intestino grosso e tem cerca de 15 a 19cm de comprimento, podendo ser dividido em duas partes: o reto pélvico e o reto perineal (Figura 1). 15 A 19CM DE COMPRIMENTO O conteúdo on-line é produzido para que você possa acessá-lo como desejar, pelo computador, pelo smartphone, por suportes de diferentes tamanhos. Assim, usamos uma tecnologia para atender a todos. Em nosso material, unidades de medida e números são escritos juntos (ex.: 25km). No entanto, o Inmetro estabelece que deve existir um espaço javascript:void(0) entre o número e a unidade (ex.: 25 km). Logo, os relatórios técnicos e demais materiais escritos por você devem seguir o padrão internacional de separação dos números e das unidades. Imagem: Shutterstock.com Figura 1. Anatomia do reto. O reto pélvico, a chamada ampola retal, é a parte mais volumosa e extensa e a verdadeira terminação do intestino grosso. É seguido pelo reto perineal, chamado de canal anal, que tem cerca de 2 a 3cm de comprimento, sendo mais estreito e fixo que o reto pélvico. Do ponto de vista histológico, o reto pélvico é coberto pelo peritônio, membrana serosa que reveste praticamente todo o órgão, e apresenta pregas transversas e longitudinais. A grande vantagem do reto para a absorção de fármacos é a sua ampla vascularização, pois ele é irrigado por uma rede complexa de nervos e veias que formam o plexo retal, o qual comunica- se diretamente com o sistema porta-cava. Nessa rede é possível observar três grupos distintos de veias: VEIAS RETAIS SUPERIORES VEIAS RETAIS INTERMEDIÁRIAS OU MÉDIAS VEIAS RETAIS INFERIORES Na Figura 2, você pode observar que a veia retal superior está distribuída pela ampola retal e se comunica diretamente com o fígado pela veia porta. A veia retal média recebe também fluxo sanguíneo da ampola retal e se comunica diretamente com a circulação sanguínea pela veia cava inferior por intermédio das veias ilíacas internas. A veia retal inferior também se comunica com a veia cava inferior, entretanto, distribuem-se pela região anal. Além da ampla vascularização, o reto também é irrigado pelo sistema linfático. Neste caso, a rede de vasos linfáticos é formada por três tipos de canais: SUPERIORES MÉDIOS INFERIORES A circulação desta região é efetivamente realizada pelos canais inferiores que são responsáveis por drenar a linfa da ampola retal em direção ao canal torácico através das veias subclávia e jugular internas esquerdas. Imagem: WELLING, D. R.; RICH, N. M. Hemorrhoid veins, the forgotten realm of the vascular surgeon. Journal of Vascular Surgery: Venous and Lymphatic Disorders, 2(2), 226–229. doi:10.1016/j.jvsv.2012.07.009 Figura 2. Anatomia do reto. Uma vez que a mucosa do reto pélvico é muito parecida com a mucosa do intestino delgado, espera-se que os medicamentos administrados por essa via sejam também rapidamente absorvidos por ela. Entretanto, a ampola retal tem apenas cerca de 2 a 3mL de líquido viscoso, o que constitui uma desvantagem frente ao volume de líquidos presentes no trato gastrointestinal. Apesar disso, a alta vascularização da região ainda a torna uma alternativa considerável para a absorção dos fármacos. Diante disso, é possível imaginar que a absorção dos fármacos possa ocorrer na região pélvica do reto, uma vez que tal região é altamente vascularizada. No passado, pensava-se que a via retal evitasse o efeito de primeira passagem dos fármacos pelo fígado, que acontece quando são administrados pela via oral. Todavia, devido justamente à ampla irrigação do plexo retal e à sua comunicação direta com a veia porta, fica muito difícil prever por quais veias os fármacos serão realmente absorvidos. ENTENDA QUE OS FÁRMACOS ADMINISTRADOS PELA VIA RETAL TAMBÉM SOFREM EFEITO DE PRIMEIRA PASSAGEM. Acredita-se, atualmente, que a absorção por via retal é significativamente mais rápida que a por via oral, em função do tempo de permanência do fármaco no estômago, das reações químicas e enzimáticas que podem ocorrer no TGI (Trato gastrointestinal) e do pH local. Já se sabe que, pela via retal é possível obter concentrações plasmáticas de fármacos similares às concentrações obtidas por via oral, porém, num período mais curto. É importante observar alguns cuidados no preparo dos medicamentos por via retal e evitar concentrações de fármaco acima de 500mg. A absorção de fármacos pela via retal é bem parecida com a por via oral em função de algumas similaridades relacionadas à constituição das mucosas intestinal e retal. Desta forma, alguns fatores semelhantes irão interferir na absorção pelo reto, tais como: O pH; O coeficiente de partição O/A (óleo/água); O grau de ionização do fármaco; Entre outros. ATENÇÃO Você devesaber que o pH do líquido presente na ampola retal é entre 6,8 e 7,4, assim, os fármacos pouco ionizáveis são mais rapidamente absorvidos que os fármacos altamente ionizáveis. Outro fator a ser considerado é o coeficiente de partição O/A. Uma vez que a absorção via retal ocorre por transporte passivo, os fármacos mais lipofílicos apresentarão maior velocidade de difusão que os fármacos hidrofílicos. Agora, você já entendeu por que a via retal pode ser uma excelente alternativa frente a outras vias de administração de fármacos, principalmente se comparado à via oral, devido à própria anatomia e fisiologia do reto. O quadro a seguir apresenta algumas vantagens e desvantagens da via retal em relação às demais vias de administração de medicamentos: Vantagens Desvantagens Medicamento que não pode ser alterado pelo pH ácido do estômago. Menor quantidade de fármacos administrados. Alternativa para medicamentos que causem náuseas ou vômitos. Absorção irregular. Evita irritações da mucosa gástrica ou doenças associadas ao estômago. Início da terapêutica mais lento frente a outras vias. Facilidade de administração em crianças, idosos e pacientes em coma ou com dificuldade de deglutição. - Alternativa para problemas de ingestão do paciente ou cirurgia no trato bucal. - ⇋ Utilize a rolagem horizontal Quadro 1: Principais vantagens e desvantagens da administração de fármacos via retal frente às demais vias de administração. Elaborado por: Patrícia de Castro Moreira Dias. SUPOSITÓRIOS A forma farmacêutica mais utilizada para a administração via retal é o supositório, mas existem outras apresentações como cremes, pomadas e enemas, por exemplo. Os supositórios são formas farmacêuticas sólidas, de formato e peso adequados, destinados à inserção em orifícios corporais nos quais amolecem, se dissolvem e exercem efeitos sistêmicos e localizados. Por incrível que pareça, os supositórios são utilizados há muitos anos e as primeiras notícias a respeito da utilização deles são de cerca de 1.500 a. C. É isso mesmo! Foto: Shutterstock.com Desde os tempos mais remotos da humanidade existem registros da utilização dos supositórios para o tratamento das doenças como, por exemplo, no Papiro de Ebers, considerado o tratado sobre fármacos mais antigo do mundo. É claro que, naquela época, eles não eram da forma como são fabricados atualmente. Foto: Shutterstock.com Hipócrates, Dioscórides e Galeno, grandes filósofos e pensadores da Antiguidade, referem-se à utilização dos supositórios constituídos com sabão e mel, ou ainda utilizando suportes cobertos por diversas drogas para a administração via retal. Foto: Shutterstock.com Mas o grande avanço na utilização desses medicamentos veio em 1762 com a descoberta da manteiga de cacau, pelo farmacêutico francês Baumé, e a utilização deste excipiente como principal constituinte dos supositórios. Atualmente, os supositórios podem ser fabricados em escala industrial pelas grandes empresas farmacêuticas (Figura 3) ou ainda em escala artesanal, pelas farmácias de manipulação, utilizando-se formas específicas de aço inoxidável (Figura 4). Foto: Shutterstock.com Figura 3. Modelo de fabricação de supositório em escala industrial. Foto: Shutterstock.com Figura 4. Modelo de forma em aço inoxidável para a fabricação de supositórios em farmácia de manipulação. Os supositórios podem apresentar pesos, formas e tamanhos distintos. Na realidade, eles devem ter peso e formato com padrões adequados que facilitem sua administração no reto: PESO ADULTO E PEDIÁTRICO O peso dos supositórios varia de 1 a 3g, sendo que, geralmente, para adultos o peso médio é de cerca de 2,5g e para o uso pediátrico, entre 1,5 e 2g. PESO PARA BEBÊS Já para bebês o peso dos supositórios não deve ultrapassar 1g. APARÊNCIA Em relação à aparência, é comum encontrarmos os supositórios nas formas de torpedo ou cônica (Figura 5), entretanto, existem algumas variações possíveis. Foto: Shutterstock.com A) Forma cônica Foto: Shutterstock.com B) Forma torpedo Figura 5. Formatos de supositórios. Essas formas são mais anatômicas para o reto e favorecem a absorção sistêmica do fármaco. Em relação ao tamanho, não existem regras tão rígidas, sendo que, geralmente, os supositórios adultos medem, 3,5cm de comprimento e 1,2cm de largura e os de uso pediátrico, 2,5cm de comprimento e 0,8cm de largura. ATENÇÃO Independentemente da forma, peso e tamanho, o mais importante é que os supositórios apresentem uma superfície lisa, de aspecto homogêneo e sem rugosidades, e que evitem a cristalização ou a perda dos fármacos. De acordo com o mecanismo de ação, os supositórios podem ser utilizados para uma ação local ou sistêmica. Alguns autores também classificam os supositórios laxantes com uma ação mecânica. Vejamos a seguir os mecanismos de ação dos supositórios de forma mais detalhada: AÇÃO LOCAL AÇÃO SISTÊMICA AÇÃO MECÂNICA AÇÃO LOCAL Tem por objetivo promover uma ação tópica na mucosa anorretal, geralmente está associada a processos inflamatórios e prurido devido às hemorroidas. Pode ainda ser utilizado para o tratamento de infecção parasitária como, por exemplo, por oxiúros (denominação comum do verme Enterobius vermiculares). AÇÃO SISTÊMICA Tem por objetivo atingir a circulação sanguínea para desempenhar efeitos farmacológicos sistêmicos. A mucosa da região retal e sua ampla vascularização permitem a absorção de muitos fármacos solúveis, tais como: tartarato de ergotamina para o tratamento da enxaqueca; ondansetrona para náuseas e vômitos; indometacina como anti-inflamatório não esteroidal, analgésico e antipirético; proclorperazina e clorpromazina como fármacos antipsicóticos, entre outros. AÇÃO MECÂNICA Tem por objetivo despertar o reflexo de evacuação em função da presença de um corpo estranho no reto por um período prolongado. A presença desse corpo estranho promove o estímulo dos movimentos peristálticos, favorecendo o processo de evacuação. Neste caso, é muito comum a utilização dos supositórios de glicerina devido à sua alta capacidade em reter água, o que promove um processo de desidratação na ampola retal, ocasionando irritação nas mucosas e estimulando os movimentos peristálticos. Agora que compreendemos os fatores envolvidos na produção dos fármacos, vamos compreender quais fatores podem dificultar a absorção. FATORES QUE AFETAM A ABSORÇÃO DE FÁRMACOS PELA VIA RETAL Já vimos anteriormente, algumas das vantagens em utilizarmos a via retal frente às outras vias de administração de fármacos. Entretanto, é preciso observar que alguns fatores afetam diretamente a absorção retal, como, por exemplo, a dose do fármaco administrada. Em função da velocidade de absorção do fármaco no reto ser considerada mais rápida do que pelo TGI, as doses podem variar e ser maiores ou menores que as administradas por via oral, de acordo com a biodisponibilidade do fármaco. Recomenda-se, porém, que não sejam superiores a 500mg. Para isso iremos dividir esses fatores em três grupos principais: FISIOLÓGICOS RELACIONADOS AO FÁRMACO RELACIONADOS AOS EXCIPIENTES Vamos conhecer cada um desses fatores. FATORES FISIOLÓGICOS Alguns fatores anatômicos e fisiológicos podem interferir na absorção dos fármacos no reto. Entre eles estão o pH, a via de circulação e o conteúdo colônico. Foto: Shutterstock.com PH O pH do reto encontra-se na faixa de 6,8 a 7,4, valores considerados muito próximos a um pH neutro. Isso faz com que o local de administração tenha pouca influência na liberação e absorção do princípio ativo, uma vez que não terá uma capacidade tamponante. Na verdade, o tipo de excipiente utilizado irá influenciar mais na liberação do fármaco e na sua absorção do que o pH do meio. Imagem: Shutterstock.com VIA DE CIRCULAÇÃO O reto é amplamente vascularizado e, em função disso, cerca de 50 a 70% da quantidade de fármaco absorvida pela via retal pode alcançar a corrente sanguínea.Isso se deve ao fato de que pela absorção retal é possível evitar em parte o efeito de primeira passagem, uma vez que é possível desviar do fígado através da absorção pelas veias retais médias e inferiores alcançando a veia ilíaca. Foto: Shutterstock.com. CONTEÚDO COLÔNICO O ideal é que o reto esteja vazio para a administração do supositório, pois, dessa forma, o fármaco terá maior contato com as mucosas favorecendo sua absorção. Em alguns casos, pode ser necessário a utilização de um enema (estudaremos esse assunto à frente) para promover a evacuação antes da administração do supositório. Em casos de diarreia ou obstrução colônica deve-se evitar a administração pela via retal. FATORES RELACIONADOS AO FÁRMACO Os fatores relacionados ao fármaco, na verdade, são conhecidos como propriedades físico- químicas do fármaco. Tais fatores incluem uma série de características como grau de solubilidade do fármaco em água, pKa, coeficiente de partição O/A, tamanho de partícula, cristalinidade e polimorfismo. Veremos algumas dessas características a seguir SOLUBILIDADE Para serem absorvidos, os fármacos precisam estar solubilizados no meio fisiológico. Desta forma, fármacos hidrofílicos tendem a ser mais rapidamente absorvidos uma vez que se solubilizam mais velocidade no meio fisiológico do que fármacos lipofílicos. Entretanto, essa é uma característica que não pode ser avaliada isoladamente no caso da absorção retal. Nesses casos, é importante observar a relação do fármaco com o excipiente devido à baixa quantidade de fluidos aquosos presentes no reto. COEFICIENTE DE PARTIÇÃO O/A Esta relação tem por objetivo estabelecer de forma quantitativa a lipossolubilidade (Log P) de um fármaco, ou seja, a razão entre a concentração de fármaco que permanece na fase orgânica e a concentração de fármaco que permanece na fase aquosa. Esse modelo simula o que ocorre em nosso organismo, informando qual será a afinidade do fármaco por óleo ou por água. Tais características são importantes, uma vez que fármacos lipofílicos têm maior facilidade em atravessar as membranas plasmáticas e, por consequência, ser mais rapidamente absorvidos. Todavia, fármacos hidrofílicos tendem a se solubilizar mais rapidamente nos fluidos aquosos e, por isso, também absorvem mais rapidamente. Dessa forma, o equilíbrio entre essas duas características pode apresentar-se como uma alternativa mais viável para a absorção pela via retal. Um outro ponto que merece atenção é a afinidade do fármaco pelo excipiente, o qual estudaremos melhor mais adiante. TAMANHO DE PARTÍCULA Essa característica é determinada por meio da granulometria do fármaco. Nesse caso é possível observarmos que, quanto menor for o tamanho do fármaco, maior será a superfície de contato dele com o meio fisiológico, e consequentemente mais rapidamente será solubilizado. Uma vez que o baixo conteúdo de líquido presente no reto é um fator limitante para a solubilização dos fármacos, a redução do tamanho de partícula pode contribuir significativamente para o aumento da velocidade de dissolução tanto para formulações preparadas por dissolução quanto para as suspensões. FATORES RELACIONADOS AOS EXCIPIENTES Os excipientes utilizados na prática farmacêutica devem apresentar algumas características específicas, tais como: Serem inócuos e inertes Apresentar compatibilidade com os fármacos Não serem tóxicos Não apresentar qualquer irritação sobre as mucosas Imagem: Shutterstock.com. No caso dos supositórios, os excipientes precisam apresentar também outras características relacionadas principalmente ao local de administração e ao tipo de formulação. CONSISTÊNCIA Apesar de serem considerados formas farmacêuticas sólidas, os supositórios devem ter uma consistência firme pois precisam amolecer, fundir, desintegrar e dissolver para que ocorra a liberação do princípio ativo. TEMPERATURA Uma vez que tudo isso deve acontecer dentro de nosso organismo, mais precisamente no reto, a temperatura para a completa fusão dos excipientes não pode ser superior a 37oC, ou seja, os supositórios devem preferencialmente fundir abaixo da temperatura corporal. PONTO DE FUSÃO Baseado nisso, uma característica fundamental para qualquer excipiente que seja utilizado na fabricação dos supositórios é que apresente um baixo ponto de fusão. De acordo com a maioria dos autores, o ponto de fusão deve ficar entre 32oC e 37oC. INFLUÊNCIAS REGIONAIS Todavia, isso pode se apresentar como um problema para países tropicais, como o Brasil, onde as temperaturas médias no verão podem ser superiores a 40oC, o que leva a dificuldades no armazenamento desses medicamentos. ATIVIDADE DE REFLEXÃO VAMOS EXERCITAR UM POUCO A NOSSA REFLEXÃO E CAPACIDADE ANALÍTICA? Além dessa típica característica dos excipientes para a preparação dos supositórios, outras qualidades são importantes. Complemente as frases com as palavras correspondentes a essas características: afinidade Consistência contração Estabilidade fármaco hidrofílico instáveis Viscosidade 1. ---------- firme e adequada para o manuseio e a aplicação. 2. Capacidade de ---------- por arrefecimento (também denominado resfriamento), facilitando a liberação do supositório da embalagem. 3. ---------- adequada no estado líquido após a fusão. 4. Ausência de formas ou modificações ---------- , como no caso da manteiga de cacau. 5. ---------- frente aos agentes atmosféricos e a contaminação microbiana. 6. Maior ---------- pela mucosa retal do que pelo fármaco. 7. Ser ---------- o suficiente para a solubilização nos fluidos aquosos. 8. Ter capacidade de liberar o ---------- no tempo e quantidade adequados. RESPOSTA A sequência correta é: 1. Consistência firme e adequada para o manuseio e a aplicação. 2. Capacidade de contração por arrefecimento (também denominado resfriamento), facilitando a liberação do supositório da embalagem. 3. Viscosidade adequada no estado líquido após a fusão. 4. Ausência de formas ou modificações instáveis, como no caso da manteiga de cacau. 5. Estabilidade frente aos agentes atmosféricos e a contaminação microbiana. 6. Maior afinidade pela mucosa retal do que pelo fármaco. 7. Ser hidrofílico o suficiente para a solubilização nos fluidos aquosos. 8. Ter capacidade de liberar o fármaco no tempo e quantidade adequados. A partir das características apresentadas para os excipientes dos supositórios, iremos dividí-los em três grandes grupos: Excipientes lipossolúveis; Excipientes hidrossolúveis; Excipientes diversos. Esses excipientes podem ser parecidos com os utilizados para o preparo de pomadas e alguns cremes e, como forma de diferenciá-los, a partir de agora iremos chamá-los de bases para supositórios. Entretanto, existem outros tipos de excipientes ou adjuvantes que podem ser adicionados às bases para a melhoria das propriedades dos supositórios, como, por exemplo, agentes antioxidantes, agentes suspensores, agentes de consistência e viscosidade, corretores de ponto de fusão, corantes e conservantes. BASES DE SUPOSITÓRIO As bases para supositórios são geralmente formadas por uma mistura de vários excipientes que conferem propriedades lipofílicas, hidrofílicas ou mistas para cada tipo de base. No passado não existiam muitas variedades de bases e a manteiga de cacau foi, durante muito tempo, o excipiente de escolha para o preparo dos supositórios. Atualmente, isso mudou e o farmacêutico dispõe de variadas alternativas para o preparo das bases de supositórios, desde a variedade de novos excipientes, como: EXEMPLO Glicerídeos semissintéticos, ésteres não glicerídeos, excipientes hidrodispersíveis, até as massas industriais já prontas. ATENÇÃO Como exemplo de massas industriais já prontas e mais conhecidas, temos: Witepsol, Novata ou Suppocire (veremos os detalhes a seguir). Ainda assim, as bases lipofílicas são as mais utilizadas. A escolha da base está diretamente relacionada às característicasfísico-químicas do princípio ativo e à melhoria de sua biodisponibilidade. Conforme vimos anteriormente, o ideal é que uma base de supositórios permaneça sólida a temperatura ambiente, mas que se funda rapidamente à temperatura corporal para que o fármaco possa ser liberado para absorção na mucosa. Outra característica é que ela não deve interagir com o fármaco, ou seja, não deve apresentar alta afinidade por ele, pois, dessa forma, irá retardar sua liberação e diminuir seu tempo de absorção. BASES LIPOFÍLICAS As bases lipofílicas em geral são as mais utilizadas, pois a manteiga de cacau tem a grande vantagem de apresentar seu ponto de fusão entre 30 e 36°C e, dessa forma, favorece sua fusão à temperatura corporal. Ela é obtida a partir das sementes torradas do Theobroma cacao e composta por uma mistura de triglicerídeos como o ácido esteárico, o ácido oleico e o ácido palmítico, e tem alto poder de emoliência. Foto: Shutterstock.com. Ainda que seja muito utilizada, a manteiga de cacau apresenta duas desvantagens: Imagem: Shutterstock.com Primeiramente, ela sofre transformação alotrópica quando aquecida acima de seu ponto de fusão, apresentando formas metaestáveis. As formas metaestáveis mais comuns são α (alfa), β (beta), β' (beta-linha) e γ (gama), e suas presenças alteram significativamente as propriedades da manteiga de cacau e não apenas o seu ponto de fusão, mas também o tempo necessário para que a massa se solidifique. Imagem: Shutterstock.com A segunda desvantagem é que, em países tropicais e em regiões de clima muito quente, é difícil utilizá-la justamente em função de seu baixo ponto de fusão. Outras bases lipofílicas de origem comercial podem também ser utilizadas em substituição à manteiga de cacau. Vejamos algumas delas: WITEPSOL É uma base estearínica composta por triglicerídeos de ácidos graxos saturados C12-C18 com porções variadas dos glicerídeos parciais correspondentes. NOVATA TIPO B É uma base composta por misturas de triglicerídeos saturados de cadeia C12-C18, de origem animal, com ponto de fusão de 33,5 a 35,5°C; pode ser fundida separadamente sem a necessidade de adicionar outro componente, somente o princípio ativo. SUPPOCIRE Esta é uma base pronta, composta por misturas eutéticas de triglicerídeos de origem vegetal com cadeias de C12-C18, e também pode ser usada pura somente para a incorporação do princípio ativo. BASES HIDROFÍLICAS As bases hidrofílicas são aquelas solúveis e miscíveis em água e, para o preparo dessas bases, os principais compostos utilizados são a gelatina glicerinada e o polietilenoglicol (PEG). O PEG é um polímero sintético derivado do óxido de etileno, com cadeias alcoólicas primárias de diversos pesos moleculares diferentes. A variação de seus pesos moleculares é o que determina seu estado físico, sendo classificado por uma numeração relacionada justamente a sua massa molar. Os PEGs 300, 400 e 600 são líquidos, incolores e transparentes, já os PEGs acima de 1.000 apresentam-se na forma sólida, como escamas de cera branca e seu ponto de fusão aumenta com o aumento da massa molar. Sua fórmula molecular básica é: C2nH4n+2On+1 (Figura 6). Imagem: 22Kartika/Wikimedia Commons/ CC BY-SA 3.0 Figura 6. Estrutura química do polietilenoglicol. Os supositórios que utilizam como base o polietilenoglicol apresentam pontos de fusão mais elevados do que a temperatura corporal e não se fundem naturalmente em contato com o organismo. Na verdade, eles se dissolvem nos fluidos corporais e geralmente liberam o fármaco de forma mais lenta que as bases lipofílicas e a manteiga de cacau. Entretanto, é preciso tomar cuidado com a dureza desses supositórios a fim de que eles não permaneçam tempo demais no reto e promovam a irritação da mucosa ou estimulem os movimentos peristálticos e a evacuação. Para isso, utiliza-se uma mistura de PEGs com pontos de fusão variados, como, por exemplo, na tabela abaixo: Componentes Quantidades PEG 1500 70% PEG 4000 10% PEG 400 20% ⇋ Utilize a rolagem horizontal Quadro 2: Massa para supositórios com PEG. Elaborado por: Patrícia de Castro Moreira Dias. Uma outra vantagem em relação aos supositórios à base de PEG frente aos supositórios lipofílicos e de manteiga de cacau é em relação ao armazenamento, já que não necessitam de refrigeração. Os supositórios de gelatina glicerinada são constituídos por uma mistura de gelatina, glicerina e água e são geralmente utilizados para o preparo de óvulos vaginais (serão mais bem estudados no último módulo). Já os supositórios à base de glicerina, utilizados como laxantes, na realidade são constituídos por glicerina e estearato de sódio. BASES MISTAS As bases mistas são misturas de bases lipofílicas e hidrofílicas e podem, na verdade, formar sistemas pré-emulsificáveis, geralmente do tipo água em óleo (A/O). Isto se torna uma vantagem para a liberação de determinados tipos de fármacos, mas, como em qualquer tipo de emulsão, é necessário utilizar um agente tensoativo. Uma das substâncias usada nesses casos é o estearato de polioxil 40, composto por uma mistura de ésteres monoestearato e disestearato de polioxietilenodióis e de glicóis livres. Ele se apresenta como uma cera branca a castanho-amarelada e solúvel em água, com ponto de fusão entre 39 e 45°C. É um tensoativo usado em vários tipos de bases de supositórios comerciais. EXCIPIENTES PARA USO EM SUPOSITÓRIOS Neste vídeo, a especialista Patrícia Dias nos apresenta os principais excipientes utilizados no preparo dos supositórios: VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. COM RELAÇÃO AOS FATORES QUE AFETAM A ABSORÇÃO DOS FÁRMACOS NO RETO, OBSERVE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR: I. NO CASO DO RETO, POR APRESENTAR PH NEUTRO, OS FÁRMACOS SÃO MAIS BEM ABSORVIDOS NA FORMA IONIZADA DO QUE NA FORMA NÃO IONIZADA. II. DENTRE AS PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS RELACIONADAS AO FÁRMACO QUE AFETAM SUA ABSORÇÃO ESTÃO: GRAU DE SOLUBILIDADE, COEFICIENTE DE PARTIÇÃO O/A E GRANULOMETRIA DO FÁRMACO. III. POR APRESENTAR PH PRATICAMENTE NEUTRO, O LOCAL DE ADMINISTRAÇÃO DE SUPOSITÓRIOS TEM POUCA INFLUÊNCIA NA ABSORÇÃO DO PRINCÍPIO ATIVO. ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) I e II estão corretas B) II e III estão corretas C) I e III estão corretas D) Somente a III está correta E) Somente a I está correta 2. COM RELAÇÃO AOS EXCIPIENTES PARA SUPOSITÓRIOS, É POSSÍVEL AFIRMAR QUE: A) O ponto de fusão ideal para excipientes de uso retal deverá ser acima de 60°C. B) Os supositórios devem apresentar alta dureza, como os comprimidos, pois não podem ser quebradiços e precisam permanecer íntegros para a liberação do ativo. C) O ponto de fusão é uma das características mais importantes dos excipientes para supositórios, uma vez que o supositório deverá fundir na temperatura corporal para liberar o princípio ativo. D) A manteiga de cacau é o melhor excipiente para supositórios devido ao seu alto ponto de fusão. E) O polietilenoglicol é um excelente excipiente para supositórios por ser um polímero sintético lipofílico. GABARITO 1. Com relação aos fatores que afetam a absorção dos fármacos no reto, observe as afirmativas a seguir: I. No caso do reto, por apresentar pH neutro, os fármacos são mais bem absorvidos na forma ionizada do que na forma não ionizada. II. Dentre as principais características relacionadas ao fármaco que afetam sua absorção estão: grau de solubilidade, coeficiente de partição O/A e granulometria do fármaco. III. Por apresentar pH praticamente neutro, o local de administração de supositórios tem pouca influência na absorção do princípio ativo. Assinale a alternativa correta: A alternativa "B " está correta. É correto afirmar que o reto apresenta pH neutro, uma vez que encontra-se na faixa de 6,8-7,4. Entretanto, esse fato não exerce grande influência na absorção dos fármacos, pois, neste ambiente, não existe sistema tamponante. Além disso, a absorção de fármacos é favorecida quanto eles estão na forma não ionizada. Quantoaos fatores que afetam a absorção, os principais são aqueles relacionados às características físico-químicas do fármaco: solubilidade, coeficiente de partição O/A e tamanho de partícula. 2. Com relação aos excipientes para supositórios, é possível afirmar que: A alternativa "C " está correta. O ponto de fusão ideal para excipientes de uso retal deverá ser abaixo da temperatura corporal. Os supositórios devem ser sólidos e de consistência mole, pois devem fundir, amolecer, desintegrar e dissolver para que ocorra a liberação do ativo. A manteiga de cacau é um dos excipientes mais utilizados para o preparo dos supositórios devido ao seu baixo ponto de fusão. O polietilenoglicol é um excelente excipiente para supositórios por ser um polímero sintético hidrofílico. MÓDULO 2 Identificar os métodos de fabricação de supositórios e seu controle de qualidade MÉTODOS DE PREPARAÇÃO DOS SUPOSITÓRIOS Foto: Shutterstock.com Os supositórios podem ser preparados por dois métodos principais: moldagem por compressão e fusão. Entretanto, o método mais utilizado tanto para a pequena escala quanto para a escala industrial é a moldagem por fusão. PREPARAÇÃO POR COMPRESSÃO Esta técnica é utilizada somente em escala industrial e depende de um maquinário específico. Neste método, a base e os demais componentes são misturados juntos e, por atrito, vão amolecendo até assumirem a consistência de uma pasta. Em seguida, essa pasta passa por orifícios apropriados (denominado matrizes) do equipamento e podem ser diretamente embalados. A vantagem desse processo é que ele ocorre totalmente a frio e pode ser utilizado para o preparo de supositórios que contenham fármacos termossensíveis. MOLDAGEM POR FUSÃO FUSÃO, MISTURA E DISSOLUÇÃO Este método é relativamente simples e nele ocorre a fusão da base de excipiente, a mistura dos demais componentes e a dissolução dos fármacos no excipiente fundido. TRANSFERÊNCIA, RESFRIAMENTO E SOLIDIFICAÇÃO Em seguida, a mistura líquida é transferida para os moldes, ocorre o resfriamento e a solidificação do supositório e, por fim, a retirada dos supositórios do molde. MOLDES Quando moldes-embalagens são usados, como é o caso da indústria, não é necessário retirar os supositórios dos moldes. Os moldes para a fabricação de supositórios podem ser constituídos de diversos materiais, sendo os mais comuns os de aço inoxidável, para pequenas escalas, e os de PVC em rolo (moldes-embalagem dispensáveis), para a escala industrial (Figura 7). Foto: Shutterstock.com Figura 7. Moldes dispensáveis de supositórios retais fabricados em escala industrial. Os moldes em aço inoxidável (Figura 8) são mais resistentes e duradouros, todavia mais caros, e produzem supositórios mais uniformes. Foto: Shutterstock.com Figura 8. Molde de supositório em aço inoxidável. ATENÇÃO Deve-se tomar cuidado em relação à limpeza e lubrificação dos moldes em aço inoxidável evitando danos e arranhões que possam interferir na qualidade dos supositórios preparados. Tais moldes necessitam de lubrificação a fim de facilitar a retirada dos supositórios e evitar possíveis danos à preparação. A lubrificação é feita na grande maioria dos casos com óleo mineral (vaselina líquida) e geralmente os supositórios à base de PEG não necessitam de lubrificação prévia, devido à sua característica de forte contração. Um outro ponto que merece cuidado na preparação de supositórios é a calibração dos moldes. Uma vez que o peso final dos supositórios pode variar de acordo com cada base utilizada em função da diferença de densidade do material no estado fundido, a calibração dos moldes é um cuidado a ser tomado para a preparação de supositórios com as características ideais de peso e volume, bem como para garantir a dose correta de fármaco. Para a calibração dos moldes, prepara-se uma amostra sem fármaco, somente com a base do excipiente (branco) desejado e, em seguida, determina-se o peso individual e o peso médio de cada supositório. O ponto crítico no processo de fabricação de supositórios por moldagem por fusão está na determinação da quantidade de base necessária para o preparo dos supositórios. Uma vez que o supositório é uma forma farmacêutica sólida, seu preparo e controle de qualidade é feito por peso. Entretanto, por trabalharmos a massa de excipiente no estado fundido, é necessário preenchermos os moldes na condição de volume. Além disso, a maioria dos fármacos encontra-se no estado sólido para ser incorporado na base fundida. Uma vez que base e fármacos apresentam densidades diferentes, o fármaco irá deslocar uma quantidade de base quando adicionado a ela em seu estado fundido. Observe, portanto, que um fármaco de baixa densidade irá deslocar uma maior quantidade de base quando comparado a um fármaco de alta densidade. Este fenômeno é descrito como fator de deslocamento. Na realidade, o fator de deslocamento é definido como a quantidade de base de excipiente em gramas deslocada por 1g de fármaco. É preciso que você entenda que, em função da densidade, para cada tipo de base haverá um fator de deslocamento específico do fármaco. EXEMPLO O ácido bórico apresenta um fator de deslocamento de 0,67 para a manteiga de cacau. Isso quer dizer que, para cada 1g de ácido bórico ocorre o deslocamento de 0,67g de manteiga de cacau. Agora, vejamos a aplicação em um exemplo prático. ATIVIDADE DE REFLEXÃO SUPONHAMOS QUE VOCÊ PRECISE PREPARAR 12 SUPOSITÓRIOS DE 120MG DE FENOBARBITAL E QUE, PARA ISSO, UTILIZARÁ UM MOLDE CALIBRADO COM PESO MÉDIO DE 3G PARA CADA SUPOSITÓRIO. SABENDO-SE QUE O FATOR DE DESLOCAMENTO DO FENOBARBITAL PARA A MANTEIGA DE CACAU É DE 0,81, CALCULE A QUANTIDADE TOTAL DE MANTEIGA DE CACAU NECESSÁRIA PARA O PREPARO DESSA FORMULAÇÃO. PERGUNTA 1: SABENDO QUE 1 SUPOSITÓRIO TERÁ 120MG DE FENOBARBITAL, QUANTOS GRAMAS DE FENOBARBITAL SERÃO NECESSÁRIOS PARA A PRODUÇÃO DOS 12 SUPOSITÓRIOS? 0,144G 1,44G PERGUNTA 2: SABEMOS QUE 1G DE FENOBARBITAL DESLOCA 0,81G DE MANTEIGA DE CACAU, QUANTOS GRAMAS DE MANTEIGA DE CACAU SERÃO DESLOCADOS PELO FÁRMACO? 01,166G 0,1166G PERGUNTA 3: DE ACORDO COM O MOLDE USADO, CADA SUPOSITÓRIO DEVERÁ TER UM PESO MÉDIO DE 3G. DESCONSIDERANDO A MASSA DO FÁRMACO, QUAL A MASSA DE javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) MANTEIGA DE CACAU NECESSÁRIA PARA PRODUZIR OS 12 SUPOSITÓRIOS? 36G 40G PERGUNTA 4: AGORA: SABENDO QUE PARA 12 SUPOSITÓRIOS SERIAM NECESSÁRIOS 36G DE MANTEIGA DE CACAU E QUE O FÁRMACO DESLOCA 1,166G DA BASE, QUANTOS GRAMAS DE MANTEIGA DE CACAU SÃO NECESSÁRIOS PARA A MANIPULAÇÃO DESSES SUPOSITÓRIOS? 34,834G 34,34G QUE PENA! 1 supositório -------- 120mg 12 supositórios ----- X X = 1.440mg = 1,44g de fenobarbital para o preparo de 12 supositórios ISSO MESMO! javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) 1 supositório -------- 120mg 12 supositórios ----- X X = 1.440mg = 1,44g de fenobarbital para o preparo de 12 supositórios ISSO MESMO! 1g de fenobarbital ------- 0,81g de manteiga de cacau 1,44g de fenobarbital --- X X = 1,166g de manteiga de cacau NÃO É BEM ASSIM! 1g de fenobarbital ------- 0,81g de manteiga de cacau 1,44g de fenobarbital --- X X = 1,166g de manteiga de cacau EXATAMENTE! 1 supositório --------- 3g total 12 supositórios ------ X X = 36g de peso total para os 12 supositórios NÃO É BEM ASSIM! 1 supositório --------- 3g total 12 supositórios ------ X X = 36g de peso total para os 12 supositórios ISSO MESMO! 36g - 1,166g = 34,834g de manteiga de cacau para o preparo dos 12 supositórios. NÃO É BEM ASSIM! 36g - 1,166g = 34,834g de manteiga de cacau para o preparo dos 12 supositórios. Você também poderá utilizar a seguinte formulação, se preferir: Quantidade total de excipiente a utilizar (g) Capacidade do molde para o número de supositórios a serem fabricados (g) Fator de deslocamento do princípio ativo num determinado excipiente Quantidade de fármacopara o número de supositórios a serem fabricados (g) Vejamos agora a aplicação do exemplo anterior na fórmula: Atenção! Para visualização completa da equação utilize a rolagem horizontal É possível sempre trabalhar com uma margem de segurança de 5 a 10% a mais de fármacos e excipientes ou fazendo o cálculo para um supositório a mais a fim de minimizar as perdas e erros inerentes ao processo de fabricação. A determinação do fator de deslocamento pode ser feita de forma experimental para cada fármaco e para cada tipo de base diferente. Contudo, as literaturas especializadas já disponibilizam várias tabelas contendo o fator de deslocamento dos principais fármacos utilizados para o preparo de supositórios. M = 36 −(0,81 × 1,44) M = 36 − 1,166 M = 34,834g Essas tabelas estão padronizadas utilizando a manteiga de cacau como base, entretanto, a maioria dos excipientes utilizados como base têm uma densidade muito próxima à da manteiga de cacau e, com algumas exceções, esses valores também podem ser usados para a maioria das bases e excipientes. A tabela a seguir apresenta um exemplo da relação do fator de deslocamento de alguns fármacos: (FD) Valores determinados em relação à base de manteiga de cacau. Fármaco ou adjuvante Fator de deslocamento (fd) Ácido acetilsalicílico 0,63 Ácido bórico 0,67; 0,83 (PEG) Ácido láctico 0,70 Ácido salicílico 0,71 Ácido tânico 0,68 Alúmen 0,57 Aminofilina 0,88 Argirol 0,61 javascript:void(0) Fármaco ou adjuvante Fator de deslocamento (fd) Bálsamo de Peru 0,83 Beladona, extrato 0,78 Benzocaína 0,68 Cafeína 0,48 Cânfora 1,49 Cera branca ou cera de abelha 1,0 Difenidramina, cloridrato 0,77 Dimenidrato 0,77 Espermacete 1,0 Fenobarbital (base) 0,81 Fenol 0,90 Glicerina 0,78 Hamamellis, extrato seco 0,9 Hidrato de cloral 0,67 javascript:void(0) Fármaco ou adjuvante Fator de deslocamento (fd) Ictiol 0,91 Iodeto de potássio 0,25 Iodofórmio 0,28 Mentol 0,7 Morfina, cloridrato 0,85 Óleo de rícino 1,0 Óxido de zinco 0,15-0,25 Papaverina, cloridrato 0,89 Paracetamol 0,66; 0,8 (PEG) Parafina 1,0 Procaína, cloridrato 0,8 Progesterona 0,8; 1,0 (PEG) Protargol 0,48 Quinina, cloridrato 0,83 javascript:void(0) Fármaco ou adjuvante Fator de deslocamento (fd) Resorcina 0,71 Salol (salicilato de fenila) 0,71 Subgalato de bismuto 0,37 Subnitrato de bismuto 0,33 Sulfanilamida 0,6 Sulfatiazol 0,62 Sulfato de zinco 0,5 Teofilina 0,63 ⇋ Utilize a rolagem horizontal Quadro 3: Fator de deslocamento de fármacos e alguns adjuvantes. Extraído de: FERREIRA, A. O. Guia Prático da Farmácia Magistral. 4. Edição. V.1. Ed. Pharmabooks. São Paulo, 2010. P. 404. Caso o fator de deslocamento de determinado princípio ativo não seja conhecido, segundo Prista et al. (1995), é possível usar um fator de deslocamento padrão para a grande maioria dos fármacos, com exceção das substâncias com alta densidade. Este fator ficou conhecido como fator de deslocamento universal e é de 0,7g. A fim de minimizar possíveis erros durante a preparação, é possível acrescentar uma margem de segurança de 10% na quantidade de fármaco e excipientes para esses casos. Antes de seguirmos adiante, não deixe de assistir ao vídeo que detalha os cálculos do fator de deslocamento. javascript:void(0) CÁLCULO DE SUPOSITÓRIOS Desta vez, a especialista Patrícia Dias nos mostra como realizar o cálculo do fator de deslocamento de excipientes para o preparo de supositórios: CONTROLE DE QUALIDADE Com relação ao controle de qualidade dos supositórios, é necessário fazer um ensaio organoléptico, da uniformidade de massa ou peso médio, dureza, ponto de fusão e da determinação do teor do fármaco específico. Outro ponto que merece atenção e cuidado em relação aos supositórios diz respeito ao acondicionamento e armazenamento dessas preparações farmacêuticas. Vejamos a seguir, de forma mais detalhada, cada uma dessas etapas: ENSAIO ORGANOLÉPTICO Os supositórios devem apresentar-se homogêneos, sem deformações na base e sem fissuras. A superfície deve ser lisa, brilhante e homogênea. É importante também que não apresentem cristalização de fármacos, alteração na tonalidade ou manchas. O fundo do supositório deve ser plano e isso pode ser obtido a partir da raspagem junto ao molde. UNIFORMIDADE DE MASSA OU PESO MÉDIO A determinação do peso médio de supositórios é muito parecida com a de cápsulas ou comprimidos; tem como objetivo garantir a correta dose de fármaco por unidade e consta da Farmacopeia Brasileira 6. edição. Neste ensaio deve-se pesar individualmente 20 unidades de supositórios e determinar o peso médio. Pode-se tolerar no máximo duas unidades fora do limite especificado de ± 5% em relação ao peso médio, porém, nenhum pode estar acima ou abaixo de 10% do peso médio. DUREZA É a resistência de um corpo à deformação por uma carga, exercida a uma dada temperatura. No caso dos supositórios, eles devem apresentar dureza suficiente para se manterem consistentes à temperatura ambiente, permitindo sua manipulação e seu uso e acondicionamento. Entretanto, deve-se garantir que, em contato com a temperatura corporal, ele possa se desintegrar (fundir) rapidamente a fim de garantir a correta liberação do ativo. No caso dos supositórios, é permitido fazer o teste de dureza ou de consistência, utilizando-se um equipamento do tipo penetrômetro (instrumento de controle utilizado para avaliar a compactação de um material). PONTO DE FUSÃO Este ensaio é um dos mais importantes no controle de qualidade de supositórios e está relacionado com a natureza do excipiente. Na realidade, o que se faz é determinar o tempo de desintegração do supositório a 37°C e não exatamente o seu ponto de fusão. De acordo com a Farmacopeia Brasileira 6. edição, as bases lipofílicas devem se desintegrar em no máximo 30min, enquanto as bases hidrofílicas devem se desintegrar em no máximo 60min. Outros ensaios de controle de qualidade para supositórios que devem ser realizados dizem respeito especificamente ao princípio ativo. Esses testes são os ensaios de dissolução do fármaco e os testes de dosagem ou determinação do teor do ativo no supositório. Para cada um desses ensaios existe metodologia específica na Farmacopeia Brasileira 6. edição, que deverá ser devidamente seguida ou, no caso da ausência de ensaios, deverá ser desenvolvida a metodologia e validada pelo controle de qualidade. PROBLEMAS ENVOLVIDOS NA PREPARAÇÃO DE SUPOSITÓRIOS Durante a fabricação dos supositórios é possível ocorrerem alguns problemas que estão geralmente relacionados à escolha da base e às características físico-químicas do fármaco. Algumas substâncias, ao serem adicionadas às bases de preparação de supositórios, podem alterar as características deles. As alterações mais comuns são: Alterações Redução do ponto de fusão Aumento do ponto de fusão Contração de volume ⇋ Utilize a rolagem horizontal REDUÇÃO DO PONTO DE FUSÃO Algumas substâncias, quando adicionadas à manteiga de cacau, por exemplo, têm a capacidade de reduzir o seu ponto de fusão, como o hidrato de cloral, a cânfora, o fenol, javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) o salol, entre outras. É preciso ter cuidado quanto à necessidade de adição dessas substâncias, pois a redução do ponto de fusão irá depender do tipo e da quantidade de substância adicionada e poderá afetar a velocidade de liberação do fármaco. Uma forma de evitar este tipo de problema é a adição de cerca de 3 a 5% de cera branca à formulação. AUMENTO DO PONTO DE FUSÃO Em contrapartida, outras substâncias têm a capacidade de aumentar o ponto de fusão das bases acima da temperatura corporal, como, por exemplo, o nitrato de prata. Para evitar este problema, a adição de um óleo vegetal pode ajudar a baixar a temperatura do ponto de fusão novamente. CONTRAÇÃO DE VOLUME Essa característica está relacionada ao resfriamento do supositório. Uma vez que a base líquida está no seu estado fundido, quando resfriar irá solidificar.É comum nesses casos que ocorra uma contração no volume da base fundida. Isso fará com que ocorra a formação de cavidades indesejáveis na parte final dos supositórios, podendo haver a perda do fármaco. Para evitar que isso aconteça, utiliza-se um excesso de base deixando-a transbordar para fora das cavidades dos moldes. ACONDICIONAMENTO As embalagens para supositórios são geralmente de alumínio ou plástico, e em blisters contínuos no caso de escala industrial. Tais embalagens são consideradas ideais, pois podem embalar os supositórios individualmente e de forma contínua, separando-os de acordo com a quantidade desejada. Já na pequena escala e com o uso de moldes de aço inox, os supositórios são usualmente embalados em papel alumínio, individualmente, e podem em seguida ser acondicionados em caixas cartonizadas, em potes ou até em vidros. ARMAZENAMENTO Uma vez que a maior parte dos supositórios lipofílicos é fortemente afetada pelo calor, é necessário armazená-los, na grande maioria das vezes, sob refrigeração (2 a 8°C) e com controle de umidade, contudo não deverão ser congelados. Já as bases hidrofílicas são mais resistentes ao calor e podem ser armazenadas em temperatura ambiente que não ultrapassem os 30°C. ATENÇÃO Os ambientes muito úmidos também devem ser evitados, pois podem absorver água e deixar os supositórios com aspecto esponjoso, principalmente os constituídos à base de PEG, que é relativamente higroscópico. Já os ambientes muito secos também devem ser evitados, pois podem deixar os supositórios quebradiços devido à perda de umidade para o meio ambiente. É importante que o farmacêutico oriente o paciente a retirar o supositório da geladeira alguns minutos antes da aplicação a fim de evitar qualquer desconforto na hora da aplicação por conta de sua maior dureza. VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. O FATOR DE DESLOCAMENTO DE MASSAS DE FÁRMACOS PARA SUPOSITÓRIOS PODE SER DEFINIDO COMO: A) A quantidade de massa em gramas deslocada pelo fármaco em um veículo lipofílico. B) A quantidade de massa em gramas deslocada pelo fármaco em um veículo hidrofílico. C) A quantidade de fármaco em gramas deslocado por um 1g de excipiente lipofílico. D) A quantidade de fármaco em gramas deslocado por um 1g de excipiente hidrofílico. E) A quantidade de excipiente em gramas deslocada por 1g de fármaco. 2. CALCULE A QUANTIDADE TOTAL DE MANTEIGA DE CACAU, EM GRAMAS, A SER UTILIZADA PARA PREPARAR 36 SUPOSITÓRIOS COM 300MG DE AMINOFILINA CADA, PARA ADULTOS (COM PESO MÉDIO DE 3G PARA CADA SUPOSITÓRIO). SABE-SE QUE A AMINOFILINA TEM UM FATOR DE DESLOCAMENTO EM MANTEIGA DE CACAU DE 0,88. O FARMACÊUTICO POSSUI TRÊS MOLDES DE 12 SUPOSITÓRIOS CADA: A) 98,50g B) 9,50g C) 108g D) 9,85g E) 10,8g GABARITO 1. O fator de deslocamento de massas de fármacos para supositórios pode ser definido como: A alternativa "E " está correta. Quando um princípio ativo, que se encontra no estado sólido, é adicionado à base fundida durante a produção de supositórios, ocorre um deslocamento de determinada quantidade da base, a qual está relacionada diretamente com a densidade do fármaco adicionado (quanto menor a densidade do fármaco maior será a quantidade de base deslocada). Este fenômeno pode ser expresso numericamente por um fator, denominado fator de deslocamento, que é definido pela quantidade de excipiente em gramas deslocada por 1g de fármaco. 2. Calcule a quantidade total de manteiga de cacau, em gramas, a ser utilizada para preparar 36 supositórios com 300mg de Aminofilina cada, para adultos (com peso médio de 3g para cada supositório). Sabe-se que a Aminofilina tem um fator de deslocamento em manteiga de cacau de 0,88. O farmacêutico possui três moldes de 12 supositórios cada: A alternativa "A " está correta. 1 sup ------- 300mg de aminofilina 36 sup ------ X X = 10.800mg ou 10,8g De acordo com o molde usado cada supositório deverá ter um peso médio de 3g, portanto: 1 sup ----- 3g 36 sup --- X X = 108g Sabemos que 1g de aminofilina desloca 0,88g de manteiga de cacau, logo: 1g de aminofilina ------- 0,88g de manteiga de cacau 10,8g de aminofilina --- X X = 9,50g Reduzindo do peso total de manteiga de cacau necessário para o preparo dos 36 supositórios o peso de manteiga de cacau deslocado pela densidade da aminofilina teremos: 108g - 9,50g = 98,50g MÓDULO 3 Reconhecer as formas farmacêuticas de uso vaginal e demais formas farmacêuticas cavitárias ANATOMIA E FISIOLOGIA DA VAGINA Imagem: Shutterstock.com Assim como as formas farmacêuticas de aplicação retal são denominadas supositórios, as formas farmacêuticas de aplicação vaginal são denominadas óvulos. Ambos são muito parecidos do ponto de vista farmacotécnico. Entretanto, os locais de administração dessas formas farmacêuticas são muito diferentes do ponto de vista anatômico e fisiológico. A vagina é um órgão altamente vascularizado, com cerca de 8cm de comprimento que vai do colo do útero até a vulva (figura 9). Apesar da alta vascularização por artérias, veias e vasos linfáticos, esses não passam pelo fígado, e os fármacos absorvidos pela mucosa vaginal não sofrem efeito de primeira passagem. Entretanto, este tipo de administração não é muito comum, sendo a aplicação vaginal utilizada principalmente para finalidades tópicas e tratamentos locais. Imagem: Shutterstock.com Figura 9. Anatomia da vagina. A mucosa vaginal forma pregas e saliências bem desenvolvidas, mas não apresenta atividade secretora. O líquido ali presente não se caracteriza como uma secreção, mas como uma transdução sérica do epitélio, tem um pH ácido que varia de 4 a 4,5, mas pode variar de acordo com o período, a idade e os processos fisiológicos. A vagina também tem uma microbiota diferente devido à presença do bacilo de Doderlein, importante bactéria Gram-positiva responsável pela defesa do aparelho reprodutor feminino. As principais formas farmacêuticas administradas pela via vaginal são: Os óvulos Cremes e pomadas Duchas higiênicas Comprimidos vaginais Cápsulas gelatinosas moles Vamos estudar algumas delas a seguir. ÓVULOS VAGINAIS Os óvulos são preparações farmacêuticas de forma ovoide, raramente cônica, de consistência sólida, em geral moles, destinados a serem introduzidos na vagina. Podem variar em peso de 2g a 16g (Figura 10 e 11). Foto: Shutterstock.com Figura 10: Modelo de óvulos vaginais. Imagem: PRISTA, L. N.; ALVES, A. C.; MORGADO, R. Técnica Farmacêutica e Farmácia Galênica. V. III. 5. edição Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. P. 134 Figura 11: Modelo dos tamanhos de óvulos diferentes. No passado, os óvulos eram denominados pessários ou supositórios vaginais e Hipócrates e Dioscórides já se referiam a eles como pessários abortivos, por exemplo. Entretanto, a principal finalidade do uso dos óvulos é para o controle de infecções do trato geniturinário. Entre os fármacos mais prescritos com esta finalidade estão: A nistatina; O clotrimazol; O miconazol; O metronidazol; A sulfametazina; A clindamicina; Entre outros. Tais fármacos são para o tratamento de infecções fúngicas, bacterianas e parasitárias, mais comumente causadas por Trichomonas vaginalis e Candida albicans. SAIBA MAIS Além do tratamento das infecções, é também possível a preparação de contraceptivos de uso local na forma de óvulos, como o nonoxinol-9, bem como a utilização de substâncias estrogênicas, como, por exemplo, o dienestrol para a restauração da mucosa vaginal. É preciso salientar que existem outras apresentações farmacêuticas de uso vaginal na forma de cremes e pomadas; entretanto, os óvulos são mais usados, mesmo apresentando algumas desvantagens. TAMANHO LIBERAÇÃO DE LÍQUIDO BASE DISPERSÍVEL TAMANHO A primeira delas é em relação ao seu tamanho que pode ser muito grande e desconfortável para algumas mulheres. LIBERAÇÃO DE LÍQUIDO Um outro aspecto é que, quando se fundem, liberam muito líquido, que pode escorrer pelo canal vaginal,causando desconforto à mulher. BASE DISPERSÍVEL Além disso, o tipo de base dispersível pode apresentar incompatibilidade com algumas classes de fármacos. Assim como os supositórios, as bases para óvulos podem ser tanto lipofílicas quanto hidrofílicas, sendo a base de gelatina glicerinada uma das mais utilizadas. É possível também encontrarmos muitos óvulos que utilizam o PEG como base, os quais apresentam maior dureza frente aos de gelatina glicerinada e podem ser mais facilmente manuseados para aplicação pelas mulheres. A seguir trazemos uma sugestão de formulação de base de gelatina glicerinada: Componentes Quantidade (g) Gelatina em pó 20 Glicerina bidestilada 69,90 Metilparabeno 0,1 Propilparabeno 0,03 Água destilada 10 ⇋ Utilize a rolagem horizontal Quadro 4: Formulação para base de óvulos de gelatina glicerinada. Elaborado por: Patrícia de Castro Moreira Dias. Esta sugestão de formulação de base para óvulos é muito simples e comum de ser utilizada, mas existem algumas variações que acabam utilizando mais ou menos gelatina e isso interfere na dureza dos óvulos. Quando se usam muitos pós insolúveis ou líquidos muito viscosos no preparo dos óvulos, é preciso reduzir a quantidade de gelatina. Já quando se utilizam substâncias higroscópicas é preciso aumentar a quantidade de gelatina, uma vez que as substâncias higroscópicas diminuem o ponto de fusão da base e a consistência das massas de gelatina glicerinada precisa ser ajustada para se manter a integridade do óvulo. As bases lipofílicas são bem menos utilizadas em óvulos do que as bases hidrodispersíveis e, geralmente, só são escolhidas caso haja alguma incompatibilidade do fármaco em relação à gelatina ou ao PEG. EXEMPLO Um exemplo disso é o caso da penicilina que não pode ser veiculada em uma base de gelatina glicerinada. Nesses casos é possível utilizar a manteiga de cacau ou as bases comerciais de Witepsol. É muito comum que seja solicitada ao farmacêutico a manipulação de óvulos de progesterona em dosagens diversas que pode variar desde 25 a 600mg, por exemplo. Esta é, portanto, a grande vantagem da manipulação dos óvulos frente aos comprimidos vaginais e outras apresentações, uma vez que pode-se ajustar a dosagem de hormônio de acordo com a necessidade da paciente. A utilização da progesterona é muito comum para o tratamento da pré-menopausa, na disfunção lútea, na preparação do endométrio para a implantação do embrião e na reposição hormonal. Para o preparo dos óvulos de progesterona é geralmente utilizada base de PEG, na qual a progestorena micronizada é incorporada a ela. A quantidade e o tipo de PEG deverão ser escolhidos a fim de garantir a integridade e melhor dureza do óvulo para que ele possa fundir à temperatura corporal, assim como no caso dos supositórios. É também muito comum a utilização de aplicadores vaginais para facilitar a administração dos óvulos no interior da vagina (Figura 12). Foto: Shutterstock.com Figura 12. Modelo de aplicador vaginal. PREPARAÇÃO DE ÓVULOS Assim como no caso dos supositórios, a principal técnica de preparo dos óvulos é a moldagem por fusão. Em alguns casos os fármacos podem se dissolver ou se dispersar na glicerina antes de se preparar a base de gelatina glicerinada. A seguir apresentaremos um rápido passo a passo do método de preparo de óvulos por moldagem em fusão, seguindo a formulação da base de gelatina glicerinada apresentada no quadro 4. QUADRO 4 Componentes Quantidade (g) Gelatina em pó 20 Glicerina bidestilada 69,90 Metilparabeno 0,1 Propilparabeno 0,03 Água destilada 10 ⇋ Utilize a rolagem horizontal Quadro 4: Formulação para base de óvulos de gelatina glicerinada. Elaborado por: Patrícia de Castro Moreira Dias. PASSO 1 javascript:void(0) javascript:void(0) Solubilizar o metilparabeno e o propilparabeno na glicerina e levar para a placa de aquecimento. PASSO 2 Adicionar a água destilada e manter sob aquecimento e agitação. PASSO 3 Adicionar os fármacos presentes na formulação. PASSO 4 Adicionar a gelatina em pó, lentamente, sob agitação para evitar a formação de grumos. PASSO 5 Deixar sob aquecimento brando (40°C) e agitação por cerca de 45min. PASSO 6 Verter para os moldes de óvulos. A base de gelatina glicerinada pode ser previamente preparada e novamente fundida para a incorporação dos fármacos necessários para cada formulação. Caso seja necessário um processo anidro (processo no qual a concentração de água no meio é próxima de zero), é possível fundir a base a cerca de 100°C para completa evaporação da água e, em seguida, resfria-se para a incorporação dos ativos. ARMAZENAMENTO E ACONDICIONAMENTO DOS ÓVULOS Os óvulos vaginais são, na grande maioria das vezes, manipulados de acordo com a necessidade da paciente em tamanhos e formas diversificadas. Nos dias atuais, a tendência é javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) substituir os óvulos pelos comprimidos vaginais fabricados em escala industrial, em função de uma melhor estabilidade e maior facilidade de armazenamento dos comprimidos se comparado aos óvulos. O armazenamento dos óvulos segue as mesmas recomendações referentes ao armazenamento dos supositórios, que incluem os cuidados com temperatura e umidade. O acondicionamento pode ser realizado em embalagens individuais de papel alumínio ou em moldes de material plástico os quais devem ser branco leitosos a fim de evitar a passagem de luz. A Farmacopeia Brasileira 6. edição não apresenta um ensaio de qualidade para óvulos, mas, uma vez que sua administração e fabricação são muito semelhantes à dos supositórios, é possível fazer alguns ensaios já conhecidos descritos a seguir: Ensaio de qualidade Uniformidade de massa ou peso médio Tempo de liquefação a 37°C ou desintegração Dosagem do teor de ativos ⇋ Utilize a rolagem horizontal UNIFORMIDADE DE MASSA OU PESO MÉDIO É permitida a variação de ± 5% em relação ao peso médio. TEMPO DE LIQUEFAÇÃO A 37°C OU DESINTEGRAÇÃO javascript:void(0) javascript:void(0) javascript:void(0) No máximo 60 minutos para bases hidrofílicas e, no máximo, 30 minutos para bases lipofílicas. DOSAGEM DO TEOR DE ATIVOS É permitida a variação de ± 10% em relação ao peso nominal. Vamos aprender acerca das características dos compridos? COMPRIMIDOS VAGINAIS Atualmente, os comprimidos vaginais têm sido mais utilizados do que os óvulos fabricados em escala industrial. Isso ocorre porque os comprimidos podem ser produzidos em uma escala maior e com mais facilidade que os óvulos e apresentam maior estabilidade. Os comprimidos vaginais são geralmente redondos ou ovais, apresentam pesos que variam de 0,5 a 3g e são preparados por técnicas de compressão muito parecidas com a dos comprimidos convencionais (Figura 13). Uma vez que precisam se desintegrar em pouca quantidade de líquido, no seu preparo são utilizados, geralmente, excipientes solúveis como a lactose, o amido como um agente de desintegração e o estearato de magnésio como agente lubrificante. Foto: Shutterstock.com Figura 13. Modelo de comprimidos vaginais. Além das vantagens já citadas, os comprimidos vaginais geralmente são mais confortáveis para aplicação, pois são menores, sua aplicação é mais fácil e não se fundem como os óvulos evitando que escorram líquidos ao longo do dia. Ainda assim, a recomendação é de que sejam administrados à noite com o uso do aplicador. ATENÇÃO Nenhuma forma farmacêutica de uso vaginal pode alterar o pH local, de cerca de 4,5. Isso porque o pH vaginal apresenta a acidez como forma de proteção e inibe o crescimento microbiano. Os comprimidos vaginais desintegram mais lentamente que os óvulos e devem liberar o fármaco somente dentro da vagina. Apesar de nem todos os comprimidos vaginais constarem da Farmacopeia Brasileira 6. Edição, a literatura especializada sugere que o tempo de desintegração para os comprimidos vaginais não seja superior a 45 minutos, mas isso pode variarde acordo com o fármaco. No caso, por exemplo, dos comprimidos vaginais de nistatina, o tempo de desintegração é de no máximo 60 min de acordo com a Farmacopeia Brasileira 6. edição. ENEMAS Conforme vimos anteriormente, existem outras formas farmacêuticas para administração cavitária além de supositórios e óvulos. Dentre elas destacam-se os enemas ou clísters ou ainda irrigações retais. Foto: Shutterstock.com Figura 14. Embalagem de enema. Enemas são formas farmacêuticas fluidas destinadas à administração retal, que podem ser soluções, suspensões ou emulsões (Figura 14). Podem ainda apresentar efeito local ou sistêmico. Os enemas podem ser classificados de duas formas: quanto ao seu volume e quanto ao seu efeito. Vamos conhecer cada um deles. CLASSIFICAÇÃO DOS ENEMAS QUANTO AO VOLUME MICROENEMAS São enemas de volume reduzido, geralmente de 1 a 10mL e destinados à administração em dose única. Podem desempenhar um efeito local diretamente na mucosa retal, ou ainda um efeito sistêmico. No passado, eram muito utilizados para a administração de alguns fármacos com atividade anticonvulsivante, antiemética, analgésicos e vitaminas. A grande vantagem é estarem em solução, poderem ser esterilizados, se for o caso, e não estimularem a evacuação. ENEMAS DE GRANDES VOLUMES São enemas administrados desde centenas de mililitros (100mL) até alguns litros (3L). São muito utilizados como laxantes e para diagnósticos, e apresentam como veículo principal a água destilada. Devem estar à temperatura ambiente antes da administração e podem ser utilizados também para uso hospitalar. CLASSIFICAÇÃO DOS ENEMAS QUANTO AO EFEITO EFEITO LOCAL Os enemas para efeito local destinam-se preferencialmente à evacuação, esvaziamento e limpeza do intestino. Podem conter uma série de substâncias com propriedades laxativas, como glicerina, manitol, óleo mineral, fosfato de sódio, entre outras. Geralmente apresentam-se em uma embalagem plástica com aplicadores específicos para administração retal. MEIOS DE CONTRASTE São enemas utilizados para meio de diagnóstico de raios-X, como o sulfato de bário, por exemplo. EFEITO TERAPÊUTICO São enemas que contêm em sua formulação fármacos que desempenhem efeito local para o tratamento de hemorroidas, por exemplo, como anti-inflamatórios e analgésicos, ou fármacos para efeito sistêmico como sedativos, anticonvulsivantes, opioides, analgésicos. Nesses casos o volume de enema deve ser de, no máximo, 150mL para que possa ficar retido no intestino e não haja perda de fármaco. O preparo dos enemas segue as mesmas técnicas de preparo das soluções, suspensões ou emulsões, nos quais se deve observar sempre o volume final da preparação. As embalagens em geral são de plástico transparente, polietileno ou PVC, contendo um aplicador retal. É possível que sejam fabricados em outros tipos de embalagem, mas, nesses casos, deverão ser transferidos para um aplicador retal específico (Figura 15). Foto: Shutterstock.com Figura 15. Aplicador de enemas. DEMAIS FORMAS FARMACÊUTICAS RETAIS E VAGINAIS Neste último vídeo, a especialista Patrícia apresenta as demais formas farmacêuticas cavitárias retais e vaginais: VERIFICANDO O APRENDIZADO 1. OBSERVE AS AFIRMATIVAS ABAIXO E ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: I. OS ÓVULOS VAGINAIS ERAM CONHECIDOS COMO PESSÁRIOS E UTILIZADOS PRINCIPALMENTE COMO ABORTIVOS. II. OS ÓVULOS PRECISAM SER PEQUENOS PARA APLICAÇÃO VAGINAL E COM PESO QUE NÃO ULTRAPASSE OS 3G. III. OS MELHORES EXCIPIENTES PARA ÓVULOS SÃO A MANTEIGA DE CACAU E AS BASES LIPOFÍLICAS. A) Estão corretas as afirmativas I e II B) Estão corretas as afirmativas I e III C) Estão corretas as afirmativas II e IV D) Apenas a afirmativa I E) Apenas a afirmativa III 2. COM RELAÇÃO AOS ENEMAS, OBSERVE AS AFIRMATIVAS A SEGUIR E ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA: A) Os enemas devem ser utilizados apenas para aplicações locais e para a limpeza do intestino B) Os enemas devem se apresentar como soluções medicamentosas límpidas e transparentes C) Os enemas podem apresentar efeitos locais ou sistêmicos e ser usados para fins de diagnósticos D) O volume máximo dos enemas deve ser de 150mL E) O volume máximo dos enemas deve ser de 50mL GABARITO 1. Observe as afirmativas abaixo e assinale a alternativa correta: I. Os óvulos vaginais eram conhecidos como pessários e utilizados principalmente como abortivos. II. Os óvulos precisam ser pequenos para aplicação vaginal e com peso que não ultrapasse os 3g. III. Os melhores excipientes para óvulos são a manteiga de cacau e as bases lipofílicas. A alternativa "D " está correta. Os óvulos vaginais são formas farmacêuticas que eram conhecidas como pessário ou supositório vaginal e já na antiguidade eram conhecidas formulações deste tipo utilizadas para causar aborto (pessários abortivos). Os óvulos vaginais possuem diferentes tamanhos, podendo variar em peso de 2g a 16g. Quanto aos excipientes, a base mais utilizada na preparação de óvulos vaginais é a de gelatina glicerinada, mas podem ser lipofílicas ou hidrofílicas. 2. Com relação aos enemas, observe as afirmativas a seguir e assinale a alternativa correta: A alternativa "C " está correta. Os enemas podem se apresentar como soluções, suspensões ou emulsões e podem variar volume desde poucos mL até vários litros. CONCLUSÃO CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste conteúdo você pode conhecer sobre formas cavitárias de administração de medicamentos: as vias retal e vaginal, pode conhecer melhor as características anatômicas e fisiológicas do reto e da vagina e aprendeu sobre as principais formas farmacêuticas para essa administração. Foi possível perceber que a administração de supositórios apresenta algumas vantagens importantes em relação à administração por via oral, como, por exemplo, permitir a administração de fármacos suscetíveis a degradação no trato gastrointestinal e que ocorra um menor efeito de primeira passagem com um aumento da biodisponibilidade. Além disso, essas apresentações permitem o tratamento local ou sistêmico das patologias. Vimos que os supositórios e óvulos são formas farmacêuticas mais utilizadas nas vias de administração retal e vaginal. Entretanto, os enemas, os comprimidos vaginais, as pomadas, os cremes e os supositórios uretrais também podem ser utilizados como alternativas de administração e tratamento. Embora essas vias de administração apresentem algumas alternativas úteis, principalmente frente à via oral, vale ressaltar que elas também têm algumas limitações em relação à absorção do fármaco, as possíveis irritações nas mucosas, levando à possibilidade de evacuação, ao desconforto de aplicação, no caso dos óvulos, mas principalmente à dificuldade de aceitação por parte dos pacientes devido a questões culturais. AVALIAÇÃO DO TEMA: REFERÊNCIAS ALLEN Jr., L. V.; POPOVICH, N. G.; ANSEL, H. C. Formas Farmacêuticas e Sistemas de Liberação de Fármacos. 9. ed. São Paulo: Artmed, 2013. AULTON, M. Delineamento de Formas Farmacêuticas. 2. ed. São Paulo: Artmed. 2005. BRASIL. Resolução da Diretoria Colegiada - RDC nº 298, de 12 de agosto de 2019 aprova a Farmacopéia brasileira, 6. ed. Diário Oficial da União, Brasília (DF), 13 de agosto de 2019. FERREIRA, A. O. Guia Prático da Farmácia Magistral. 4. ed. v. 1. São Paulo: Pharmabooks, 2010. PRISTA, L. N.; ALVES, A. C.; MORGADO, R. Técnica Farmacêutica e Farmácia Galênica. v. I. 5. Edição Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian, 1995. EXPLORE+ Para ampliar seu conhecimento sobre a técnica de preparo dos supositórios de glicerina, leia o artigo: Elaboração de óvulos para o tratamento de vulvovaginites. Disponível no site Periodicos.ufn.edu.br Leia o capítulo Manipulação de Supositórios, p. 93, do livro: BERMAR, K. C. de O. Farmacotécnica: Técnicas de Manipulação de Medicamentos. 1. ed. São Paulo: Saraiva, 2014. CONTEUDISTA Patrícia de Castro Moreira Dias
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