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. UNIFACEMP - CENTRO UNIVERSITÁRIO CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO DERCIVÂNIA SOARES DE FRANÇA EMANUELA BRAZ SOUZA MARTINS REGINALDO SANTOS OLIVEIRA JUNIOR PROCESSO ADMINISTRATIVO DIREITO ADMINISTRATIVO Santo Antônio de Jesus- BA 2022 DERCIVÂNIA SOARES DE FRANÇA EMANUELA BRAZ SOUZA MARTINS REGINALDO SANTOS OLIVEIRA JUNIOR PROCESSO ADMINISTRATIVO DIREITO ADMINISTRATIVO Trabalho apresentado ao Curso de Bacharel em Direito, noturno, 7º semestre, do Centro Universitário – UNIFACEMP, como requisito parcial à obtenção de nota e aprendizagem acadêmica na disciplina de Direito Administrativo. Orientador: Prof. Felipe Montenegro. SANTO ANTÔNIO DE JESUS-BA 2022 RESUMO O objetivo do presente trabalho é estudar a temática do processo administrativo. A lei de processo administrativo federal é um marco nessa temática, estabelecendo diretrizes gerais e base principiológica, sem ferir a autonomia administrativa da regulação setorial e dos demais entes federativos. Os princípios, enquanto norteadores interpretativos e teleológicos, são elemento-chave desse fenômeno. A Lei nº 9.784, de 29 de janeiro de 1999 regula o procedimento administrativo no âmbito da Administração Pública Federal direta e indireta federal. Além disso, o STJ tem reconhecido a aplicação desta lei federal para entes estaduais e municipais que ainda não aprovaram leis próprias. Em que pese o esforço doutrinário, o presente trabalho busca sistematizar os princípios do processo administrativo, com base nos princípios gerais de processo com os princípios constitucionais da Administração Pública, apresentando o seu conteúdo individualmente, os quais são: a ampla defesa, o contraditório, a gratuidade, a transparência, a oficialidade, o formalismo mitigado, a isonomia, a boa-fé e a proteção da confiança e a razoabilidade SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO 5 2. FINALIDADE DO PROCESSO ADMINISTRATIVO 6 3. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO ADMINISTRATIVO 8 3.1. Princípio da Oficialidade (Impulso Oficial) 8 3.2. Devido Processo Legal 9 3.3. Contraditório e Ampla Defesa 9 3.4. Instrumentalidade das formas 13 3.5. Informalismo ou Formalismo Necessário 13 4. PROCESSO ADMINISTRATIVO FEDERAL 16 4.1. Aplicação subsidiária 17 4.2. Princípios previstos na lei 9.784/99 17 5. DIREITOS E DEVERES DOS PARTICULARES 19 5.1. legitimidade processual 20 6. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR 20 20 6.1. Sindicância 20 6.2.Processo Administrativo Disciplinar Propriamente Dito 21 6.3. Fases do Processo Administrativo Disciplinar 22 7. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR SUMÁRIO 23 7.1. Abandono de cargo 25 7.2. Procedimento a ser adotado em caso de abandono de cargo 26 7.3. Acumulação indevida de cargos públicos 27 8. CONCLUSÃO 28 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 30 1. INTRODUÇÃO O presente trabalho tem como objetivo tratar a temática do processo administrativo. De início, na análise dos processos administrativos, ressalta-se que não há consenso na doutrina acerca de sua conceituação, isso porque alguns doutrinadores diferenciam processos de procedimentos administrativos, sendo estes últimos os trâmites e formalidades obedecidos pelos primeiros, o que não possui qualquer aplicação prática. Segundo Carlos Ari Sundfeld (31ª Editora 2014) Processo ou procedimentos administrativos é uma sucessão de atos que tendem a um resultado final. Portanto para haver um processo administrativo é necessário haver uma sucessão de atos ordenados os quais compõem uma cadeia, sendo cada um destes atos autônomos concomitantes para culminar determinado fim. Através dessa citação, notamos que o ato administrativo nos trás a orientação de que entre a Lei e o ato administrativo existe um intervalo, pois se trata de uma manifestação de vontade do requerente ou de ofício quando verificada a exigência de assim proceder. No entanto, para fins teóricos, é relevante distinguir processos administrativos de procedimentos administrativos. • Processo administrativo - se configura por uma série relacionada de atos administrativos, respeitando uma ordem posta por lei, com uma finalidade específica, ensejando a prática de um ato final. A doutrina costuma dizer que todos os atos administrativos devem ser precedidos de um processo formal que justifica sua prática e serve de base para sua legitimidade, documentando todas as etapas até a formação válida da atuação da Administração Pública. • Procedimento administrativo - se traduz na forma pela qual os atos do processo se desenvolvem. O procedimento é o rito respeitado pela Administração para se alcançar a finalidade do processo. Trataremos neste trabalho a expressão processo administrativo, de forma ampla, sem distinção com o procedimento, ao passo, que o processo administrativo é uma sucessão lógica de atos praticados pela administração pública com a intenção de se alcançar um objetivo final, seja a punição de determinado servidor, seja a contratação ou até mesmo a anulação de atos anteriormente praticados. Enfim, toda atuação do ente estatal depende de um prévio processo que a instrua e fundamente. 2. FINALIDADE DO PROCESSO ADMINISTRATIVO O processo administrativo, no Estado Democrático de Direito, serve para tornar as decisões administrativas do Poder Público previsíveis, organizadas e estruturadas de forma com que as competências dos órgãos, entidades e autoridades sejam claras e eficientes. A atuação do administrador público deve ser pautada na busca do interesse da coletividade. A função administrativa tem como regra basilar o fato de que o administrador público deve exercer atividades em nome do povo. Pode-se dizer, por esses motivos expostos, que a realização de processos administrativos possui quatro finalidades básicas, apontadas pela doutrina quais sejam: o controle da atuação nos processos administrativos estatais, a realização da democracia, a redução dos encargos do Poder Judiciário e a garantia de uma atuação eficiente e menos defeituosa. Primeiramente, se analisa o processo como instrumento de controle da atividade pública. Com efeito, a realização do processo divide o poder entre vários agentes públicos, evitando uma decisão tomada em um único momento, concentrada nas mãos de um único agente. Diante disso, divide-se o poder da prática do ato em uma série de atos administrativos, com uma diluição dessas competências entre diferentes pessoas. Da mesma forma, o controle também se manifesta pelo fato de que a realização do processo, de forma regular e em garantia ao princípio da publicidade, imprime transparência à atividade administrativa, permitindo ao particular interessado ter acesso aos motivos pelos quais os atos foram praticados e todos os trâmites pelos quais passou sua formação. Todos os atos praticados no bojo do processo ficam sujeitos ao controle e fiscalização a ser exercido pela autoridade responsável pela prática do ato subsequente, sendo possível a reconsideração pela própria autoridade que praticou um ato decisório indevido, mediante provocação ou de ofício. O processo ainda é enxergado como garantia da democracia, ou seja, como instrumento hábil a impedir condutas arbitrárias pelo Poder Público. Isso ocorre porque o processo não visa somente a garantir os direitos dos particulares que possam ser prejudicados pelos seus termos, mas também a defesa do interesse público e do patrimônio público, pertencente ao povo em geral. O processo visa a impedir práticas administrativas viciadas e incompatíveis com o Estado democrático. O agente público, ao conduzir o processo, tem o dever de justificar cada um dosatos praticados e os motivos que ensejaram cada uma de suas condutas, evitando abusos e arbitrariedades por parte da autoridade pública. O processo administrativo funciona como consagração do princípio da moralidade, enquanto probidade e honestidade no exercício das atividades estatais, tornando-se um mecanismo de defesa posto ao particular em face da atuação dos agentes públicos. Por fim, pode-se dizer que o processo administrativo se destina a aperfeiçoar a atuação estatal, na eterna busca por uma atividade eficiente. Com efeito, a dialética promovida pelo processo administrativo faz com que a atuação administrativa seja realizada de forma mais eficiente e isenta de defeitos, protegendo, não somente os interesses dos particulares, mas também garantindo o direito fundamental à boa administração pública. 2.1 Obrigatoriedade dos processos administrativos A doutrina moderna enxerga o processo administrativo prévio como condição para edição de atos administrativos, mas não se confunde com o ato propriamente dito que surgirá após a realização do procedimento, não somente a doutrina, mas a jurisprudência dos tribunais superiores está orientada no sentido de que a validade dos atos administrativos que podem repercutir na esfera jurídica dos particulares está condicionada à prévia realização de processo regular, em que se respeite o contraditório e ampla defesa. Existem situações, consoante se demonstrará doravante, em que o contraditório poderá ser postergado, como forma de evitar um prejuízo ao interesse coletivo, em situações emergenciais. Ressalte-se que o processo é mecanismo da função administrativa e não do Estado somente, do que decorre o entendimento de que a realização do procedimento é indispensável para atuação de autarquias e empresas estatais, quando exercendo função pública, seja na prestação de serviços, seja no exercício das atividades de polícia. O processo configura um requisito para formação regular dos atos, além de representar uma garantia aos cidadãos e uma limitação à atividade estatal, evitando ou, ao menos, obstaculizando a prática de atos arbitrários e carentes de justificativa plausível embasada no interesse público. 3. PRINCÍPIOS APLICÁVEIS AO PROCESSO ADMINISTRATIVO A condução dos processos deve respeitar os princípios da legalidade, impessoalidade, publicidade, moralidade e eficiência e todos os demais relacionados à atividade administrativa, sejam eles expressamente definidos ou implicitamente postos na Constituição Federal. 3.1. Princípio da Oficialidade (Impulso Oficial) Diferentemente do que ocorre na função jurisdicional, os processos administrativos podem ser instaurados sem a necessidade de provocação de qualquer particular interessado. Logo, é possível que a Administração Pública seja instada a manifestar-se, inclusive, em decorrência do direito de petição, estampado no art. 5º, XXXIV da Constituição Federal. Ainda que o processo administrativo tenha se iniciado por iniciativa do particular, não depende da manifestação deste para seu impulso, ou seja, a movimentação do processo incumbe ao poder público que deve atuar, independente da provocação do interessado. Com efeito, o processo administrativo se desenvolve em uma série concatenada de atos administrativos, em uma série lógica e legalmente definida e, para a prática desses atos, o particular não precisa ser questionado por qualquer interessado. Isso decorre do entendimento de que o processo tem finalidade pública, mesmo nas situações em que o particular dá início a sua tramitação. Em decorrência deste princípio, os agentes públicos encarregados do processo poderão solicitar pareceres, perícias e laudos, realizar a tomada de depoimentos, efetivar diligências, entre outras. Em resumo, a administração pública pode atuar, de ofício, na condução de todas as fases do processo, inclusive com iniciativa de investigação dos fatos, podendo produzir provas de ofício e proteger os direitos dos cidadãos interessados na regular condução do processo. 3.2. Devido Processo Legal O texto constitucional, em seu art. 5°, LIV estabelece que "ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal". Até a edição da Constituição Federal de 1988, o entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante era de que tal princípio serviria como norte tão somente para os processos realizados na esfera judicial, não se estendendo à atuação processual dentro da Administração Pública. Atualmente, é consenso entre os estudiosos da matéria, que a norma constitucional posta é de eficácia plena e norteia a condução de todos os procedimentos a serem realizados, inclusive na esfera administrativa. Trata-se de princípio de ampla conceituação, abarcando a garantia de transparência na condução do processo, com a finalidade de se evitar o cometimento de abusos e arbitrariedades por parte do administrador, bem como a necessidade de a Administração Pública seguir padrão de conduta na condução de seus processos, sem que haja alteração ou supressão das fases postas legalmente e que são de importância singular a justificar a conduta que será desencadeada pelo procedimento. O processo é indispensável no exercício da autotutela administrativa, sempre que o Poder Público, em observância ao disposto na súmula 473 do Supremo Tribunal Federal, atua na anulação de atos viciados ou revogação de atos inoportunos ou inconvenientes. Acontece que, muitas vezes, a manutenção deste ato enseja direitos a particulares e, consequentemente, sua extinção terá efeitos diretos na esfera jurídica desses cidadãos, razão pela qual não se faz possível que essa retirada se dê sem o devido processo legalmente instituído. Nesse sentido, diversos julgados da Suprema Corte e dos demais tribunais pátrios. 3.3. Contraditório e Ampla Defesa Esses princípios estão expressos, no texto constitucional de 1988, em seu artigo 5º, LV, como garantia fundamental do cidadão. Em síntese, é o direito conferido ao particular de saber o que acontece no processo administrativo ou judicial de seu interesse, bem como o direito de se manifestar na relação processual, requerendo a produção de provas e provocando sua tramitação. Eis o dispositivo constitucional. Art. 5°, LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. A garantia de conhecimento dos atos processuais e a manifestação do particular em sua defesa são decorrência lógica do princípio do devido processo legal, anteriormente analisado. Importante ressaltar que o texto constitucional determina explicitamente a aplicação destes princípios em sede de processos administrativos, sendo que o desrespeito a essas garantias enseja a nulidade do processo e de todos os atos administrativos dele decorrentes. Primordialmente, o contraditório é tema de suma importância na história processual, haja vista ser indiscutível a premissa de que ninguém pode ser processado e julgado sem ter amplo conhecimento dos fatos relatados nesse processo e dos motivos que deram ensejo a sua instauração. Para que o contraditório seja exercido de forma regular, é indispensável o respeito ao princípio da igualdade na relação processual. O particular interessado deve ter o mesmo poder de convencimento que qualquer outra pessoa nesta relação processual e, para tanto, terá direito a ser notificado dos atos a serem praticados, bem como de produzir provas e participar da produção de todas as provas produzidas nos autos. Não é suficiente ter conhecimento do feito, mas sim poder participar e praticar atos de relevância no curso do procedimento. Sendo assim, é importante que o direito à produção de provas não seja meramente formal, sendo necessária a real avaliação da prova produzida peloparticular como instrumento a influenciar a decisão do julgador, sendo vedadas provas ilícitas ou meramente procrastinatórias. Quando se fala em ampla defesa, a doutrina processual a define como indispensável para a concepção de democracia, abarcando o direito de ação e à tutela jurisdicional e administrativa para proteção de direitos. Ao tratar do tema, costuma-se definir como inerente à ampla defesa o direito à defesa prévia, a garantia de defesa técnica e o direito ao duplo grau de julgamento. Defesa técnica: no que tange a essa garantia, a súmula 343 do Superior Tribunal de Justiça define que é indispensável a presença de advogado em todas as fases do processo administrativo disciplinar, impondo uma interpretação garantista ao art. 156 da lei 8.112/90, o qual dispunha ser uma faculdade do acusado a representação por advogado. Essa súmula decorreu da evolução jurisprudencial acerca das garantias constitucionais e do reconhecimento da importância de defesa técnica como forma de evitarem-se abusos por parte das autoridades públicas, diante da ausência de conhecimento específico pelo particular interessado no feito. No entanto, essa orientação não prevaleceu, diante da edição da Súmula Vinculante N°.5 do Supremo Tribunal Federal, em 07 de maio de 2008, que estabelece que "A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a Constituição". Para alguns doutrinadores, a edição desta súmula representa um retrocesso no direito brasileiro e tem caráter de decisão política. É inegável que, com a edição da súmula do STJ, todos aqueles servidores demitidos sem a presença de advogados previamente teriam o direito à anulação do ato praticado com o imediato retorno ao serviço público, em claro prejuízo à Administração Pública. O fato é que, em 2008, com a edição da súmula vinculante ora transcrita, afasta-se a aplicabilidade da súmula 343 do Superior Tribunal de Justiça, restando aos particulares acusados em processos administrativos disciplinares a faculdade de se fazerem à representar por advogado. Defesa prévia: para o exercício pleno da garantia, é imprescindível que o particular possa se manifestar antes de ser proferida decisão administrativa acerca da matéria objeto do processo. Em decorrência dessa prerrogativa, todo o procedimento a ser seguido pela Administração Pública em um processo, bem como todas as penalidades que possam dele resultar precisam ser de conhecimento prévio do particular interessado, para que seja possível traçar planos e estratégias de defesa. Duplo grau de julgamento ou direito ao recurso administrativo: trata-se de prerrogativa que possibilita a reanálise dos atos praticados pela Administração, por provocação do particular, com a finalidade de evitar que se perpetuem injustiças ou decisões ilegais. Nesse sentido, reforça o conhecimento desta garantia a edição da Súmula Vinculante N° 21 pelo Supremo Tribunal Federal dispondo que: "É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.", Analisando este dispositivo, interpreta-se que tal exigência seria inconstitucional por restringir o acesso ao duplo grau e consequentemente inviabilizar o exercício pleno da ampla defesa. Na mesma esteira, o Superior Tribunal de Justiça também editou a Súmula 373, definindo que "é inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévio de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo". Direito à informação: configura-se corolário da garantia do contraditório o direito de todos os interessados de conhecer o conteúdo das decisões do processo, bem como de seus atos e das provas produzidas. Dessa forma, não pode ser negada ao particular interessado do feito o direito de ter vista dos autos e de tirar cópia (sob suas expensas) dos atos processuais considerados, por si, relevantes, quando não for possível a realização de carga dos autos para análise acurada do procedimento. Acerca das garantias do contraditório e da ampla defesa, cabe mencionar a Súmula Vinculante N° 03, abaixo transcrita. "Nos processos perante o tribunal de contas da união asseguram-se o contraditório e a ampla defesa quando da decisão puder resultar anulação ou revogação de ato administrativo que beneficie o interessado, excetuada a apreciação da legalidade do ato de concessão inicial de aposentadoria, reforma e pensão". A súmula, estende os princípios de contraditório e ampla defesa às decisões proferidas pelo Tribunal de Contas, todas as vezes que a atuação do órgão puder afetar os direitos do particular, por meio da retirada de ato administrativo que lhe criou garantias. A súmula é relevante pelo fato de que a anulação do ato, a princípio, decorre de uma relação travada entre o administrador público e o Tribunal de Contas. Ocorre que, mesmo não sendo parte direta no processo que justificou e motivou a anulação do ato, o particular atingido por essa decisão deve ter o direito de manifestar-se previamente, inclusive, com a produção de provas e todos os meios necessários a formar o convencimento do órgão julgador. 3.4. Instrumentalidade das formas Esse princípio se aplica à formação dos atos administrativos e estipula que todas as vezes que o texto legal prevê uma determinada forma para a prática de um ato administrativo, tem a intenção de garantir a busca pelo interesse público que é a finalidade do ato. Logo, a forma é somente o instrumento necessário para alcançar o interesse coletivo. Nesse sentido, a forma é o instrumento para alcance dos objetivos do ato. Por isso, o vício de forma é sanável quando não gerar prejuízo, desde que mantido o interesse público face à aplicação do referido princípio. Este princípio é tratado pela Maria Sylvia Zanella di Pietro in Direito Administrativo, como princípio da economia processual, quando então, ela estipula que "0 processo é instrumento para aplicação da lei, de modo que as exigências a ele pertinentes devem ser adequadas proporcionais ao fim que se pretende atingir". Arremata ainda a referida doutrinadora, estabelecendo que "desse princípio decorre outro, que é o aproveitamento dos atos processuais, que admite o saneamento do processo quando se tratar de nulidade sanável, cuja inobservância não prejudique a administração ou o administrado." 3.5. Informalismo ou Formalismo Necessário O informalismo norteia os atos do processo administrativo praticados pelos particulares visando evitar prejuízos a este, em virtude da exigência de formalidades legais. Portanto, como regra geral, os atos praticados pelos particulares em processos administrativos não dependem de forma prescrita em lei. A não exigência de formalismos desnecessários ou a forma simples do processo visa impedir prejuízos aos particulares, através da exigência de formalismos para a prática A motivação é indispensável ao controle dos atos administrativos pela sociedade, sendo inviável a qualquer cidadão controlar o ato sem ter conhecimento das razões legais e fáticas que justificaram sua prática. De fato, a Constituição Federal reconhece a cidadania como fundamento da República e atribui ao povo a titularidade de todo o poder, no Estado brasileiro, sendo, portanto, indispensável que o titular do interesse público tenha ampla ciência das razões que motivam e justificam a atuação da Administração Pública. Além de se tratar de princípio implícito na Carta Magna, a motivação encontra fundamento, no âmbito federal, no art. 50 da lei 9.784/99 que estabelece que "Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos(...)". 3.6. Verdade Real O princípio da verdade material ou verdade real, vinculado ao princípio da oficialidade, exprime que a Administração deve tomar decisões com base nos fatos taiscomo se apresentam na realidade, não se satisfazendo com a versão oferecida pelos sujeitos. O processo administrativo busca a verdade material em contraponto aos processos judiciais, na esfera cível, que apontam na busca da verdade formal, ou seja, verdade apresentada nos autos. Assim, o processo civil não admite provas extemporâneas e segue um formalismo rígido definido na legislação pertinente. Os processos administrativos, por sua vez, admitem todos os tipos lícitos de provas, apresentados em qualquer fase do processo, ainda que após o encerramento da instrução, bem como admite a produção de provas realizada, de ofício, pela própria Administração Pública condutora do feito. Isso tudo ocorre em respeito à busca pelo conhecimento do fato efetivamente ocorrido, a verdade absoluta. A busca pela verdade real não pode violar o dever de celeridade do processo, ou seja, a verdade tem limites temporais e materiais. A busca pela verdade terá que se adequar aos limites impostos pela limitada estrutura administrativa, bem como deve respeitar a razoável duração do processo. Dessa forma, o art. 5°, LXXVIII, incluído na Constituição Federal pela Emenda Constitucional n. 45/2004, dispõe que "a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação". Tal norma se apresenta como garantia fundamental dos cidadãos e justifica o chamado princípio da celeridade na atuação administrativa. 3.7. Gratuidade Diferente da maioria dos processos judiciais, os processos administrativos são gratuitos, não havendo cobrança de custas, emolumentos ou ônus sucumbencíais aos particulares envolvidos. A atuação administrativa visa, antes de tudo, a alcançar o interesse coletivo e, portanto, deve ser exercida sem ônus para outras partes interessadas, haja vista o fato de que a Administração Pública é a maior interessada na solução da controvérsia. Nesse sentido, dispõe o art. 2°, parágrafo único, XI, da lei 9.784/99, que é vedada à Administração Pública a cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei. 3.8. Princípio da Legalidade A legalidade se caracteriza como a garantia de que todos os conflitos sejam solucionados pela lei. Celso Antônio Bandeira de Mello dispõe que "o princípio da Legalidade é específico do Estado de Direito, é justamente aquele que o qualifica e que lhe dá identidade própria, por isso considerado é basilar para o Regime Jurídico- administrativo". Diferentemente do direito privado em que vigora o princípio de não contradição à lei, estipulando que o cidadão pode fazer tudo desde que não contrarie o texto legal, no Direito Administrativo vigora o princípio da Subordinação à lei, ou seja, o administrador público só pode atuar quando a lei autorizar essa atuação. Não havendo previsão legal, está proibida a atuação do ente público. Todos os atos do processo estão previamente estipulados em lei e são de observância obrigatória do administrador público. 3.9. Princípio da motivação A motivação é o dever imposto ao ente estatal de indicar os pressupostos de fato e de direito que determinaram a prática dos atos administrativos. Dessa forma, a validade da atuação administrativa depende da apresentação formal dos fundamentos fáticos e jurídicos justificadores da decisão adotada. O princípio da motivação impõe à Administração Pública a obrigatoriedade de fundamentar o ato praticado, bem como o dever de indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinaram a decisão do ato nos termos do art. 2º, §único, VII, da Lei n. 9.784/99. Em obediência a este princípio, o parágrafo único do artigo 6° da lei 9784/99 regulamenta que "É vedada à Administração a recusa imotivada de recebimento de documentos, devendo o servidor orientar o interessado quanto ao suprimento de eventuais falhas". Tal princípio encontra-se expresso na Constituição Federal de 1988, prevendo a exigência de motivação apenas para as decisões administrativas dos Tribunais e do Ministério Público. Contudo, o princípio da motivação não deve ser interpretado restritivamente ao que dispõe a Constituição Federal já que lei infraconstitucional regulamenta de forma ampla que os atos administrativos (todos) deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos fundamentos jurídicos tal como dispõe o art. 50 da Lei n. 9.784/99. A motivação também se encontra implicitamente na Constituição Federal, no art. 1º, II, que indica a cidadania como um dos fundamentos da República; no §único do art. 1º, que dispõe que todo poder emana do povo; e no art. 5º, XXXV, que assegura o direito à apreciação judicial nos casos de ameaça ou lesão de direito. Então, nada mais oportuno que o interessado tenha o direito de saber o porquê, o motivo, os fundamentos, que justificam os atos praticados pelo administrador até mesmo para que lhe seja assegurado o princípio do contraditório e da ampla defesa. 4. PROCESSO ADMINISTRATIVO FEDERAL A lei 9784/99 estabelece todas as normas atinentes aos processos administrativos no âmbito da União e será analisada, neste capítulo, em virtude de sua cobrança rotineira em provas de concursos. Saliente-se que as normas estabelecidas neste dispositivo legal não serão aplicadas aos processos administrativos em estados e municípios que não editarão leis próprias para regulamentação da matéria em suas administrações. Saliente-se, porém, que, naqueles estados ou municípios em que não haja lei para tratar da matéria, a lei 9.784/99 poderá ser utilizada. Muitos pontos tratados na referida lei já foram devidamente analisados quando do estudo dos atos administrativos. Isso porque, não obstante a lei se proponha a tratar acerca dos processos administrativos federais, traçam importantes normas acerca dos elementos e princípios atinentes à atuação administrativa. 4.1. Aplicação subsidiária A lei 9784/99 se propõe a evitar lacunas na legislação processual administrativa, sem substituir leis específicas. Por isso, a própria lei determina expressamente sua subsidiariedade. Assim, somente será possível a aplicação deste dispositivo legal, se não houver nenhuma outra legislação específica a tratar a matéria. Toda vez que houver uma legislação específica tratando de determinado processo administrativo, a lei 9.784/99 será aplicada somente de forma subsidiária a este regramento. A aplicabilidade integral da lei ocorrerá nas situações em que não haja lei específica a regular o processo administrativo em curso. Por exemplo, no caso de processos administrativos disciplinares para aplicação de penalidades a servidores públicos, é imposta a aplicação da lei 8.112/90 que é lei específica a regular tais procedimentos. Diante disso, a lei 9784/99 será utilizada subsidiariamente, para sanar as eventuais omissões da lei específica. Nesse sentido, o art. 69 da lei 9.784/99 dispõe que "Os processos administrativos específicos continuarão a reger-se por lei própria, aplicando-se-lhes apenas subsidiariamente os preceitos desta Lei". 4.2. Princípios previstos na lei 9.784/99 As primeiras diretrizes, para a Administração Pública, nas suas mais variadas representações encontram-se fixadas na Constituição Federal de 1988, precisamente no seu art. 37, caput. Podemos afirmar que os princípios auxiliares dos princípios contidos no Art. 37 da CF e por consequência da Administração Pública Brasileira são: a finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica e interesse público. Entretanto, no presente estudo, daremos o destaque para nortear principiológico a partir dos apontamentos explícitos e implícitos da Lei nº 9.784/99. Assim diz a lei: Art. 2º, caput, Lei 9.784/99 - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade,motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência. (Lei nº 9.784/99). O parágrafo único do artigo dispõe que, nos processos administrativos, serão observados, entre outros, os critérios de: I - atuação conforme a lei e o Direito; II - atendimento a fins de interesse geral, vedada a renúncia total ou parcial de poderes ou competências, salvo autorização em lei; III - objetividade no atendimento do interesse público, vedada a promoção pessoal de agentes ou autoridades; IV - atuação segundo padrões éticos de probidade, decoro e boa-fé; V - divulgação oficial dos atos administrativos, ressalvadas as hipóteses de sigilo previstas na Constituição; VI - adequação entre meios e fins, vedada a imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público; VII - indicação dos pressupostos de fato e de direito que determinarem a decisão; VIII - observância das formalidades essenciais à garantia dos direitos dos administrados; IX - adoção de formas simples, suficientes para propiciar adequado grau de certeza, segurança e respeito aos direitos dos administrados; X - garantia dos direitos à comunicação, à apresentação de alegações finais, à produção de provas e à interposição de recursos, nos processos de que possam resultar sanções e nas situações de litígio; XI - proibição de cobrança de despesas processuais, ressalvadas as previstas em lei; XII - impulsão, de ofício, do processo administrativo, sem prejuízo da atuação dos interessados; XIII - interpretação da norma administrativa da forma que melhor garanta o atendimento do fim público a que se dirige, vedada aplicação retroativa de nova interpretação. Note-se que o caput do artigo estabelece os princípios regentes dos processos administrativos e da atuação administrativa como um todo e que os incisos previstos no parágrafo único do dispositivo definem a atuação do Estado no curso do procedimento, de forma a evitar prejuízos aos interessados, bem como ao interesse público. 5. DIREITOS E DEVERES DOS PARTICULARES A lei 9.784/99 em seu artigo 3º prevê os direitos dos administrados, sendo eles: ser tratado com respeito pelas autoridades e servidores, que deverão facilitar o exercício de seus direitos e o cumprimento de suas obrigações; ter ciência da tramitação dos processos administrativos em que tenha a condição de interessado, ter vista dos autos, obter cópias de documentos neles contidos e conhecer as decisões proferidas; formular alegações e apresentar documentos antes da decisão, os quais serão objeto de consideração pelo órgão competente; fazer-se assistir, facultativamente, por advogado, salvo quando obrigatória a representação, por força de lei. Os administrados também possuem deveres, esses estão previstos no artigo 4º da mesma lei supracitada, sendo eles: expor os fatos conforme a verdade; proceder com lealdade, urbanidade e boa-fé; não agir de modo temerário; prestar as informações que lhe forem solicitadas e colaborar para o esclarecimento dos fatos. A grande problemática, quando nos referimos a esses direitos e deveres, está no cumprimento dos mesmos, uma vez que existe um resguardo extremo dos interesses da Administração. Não se pode abster-se do princípio da supremacia do interesse público, porém esse princípio não exclui os direitos dos cidadãos, principalmente visando o devido processo legal, que devem ser sempre respeitados. Quanto ao princípio do Devido Processo Legal Nelson Nery Júnior discorre: “Bastaria a norma constitucional haver adotado o princípio do “due processo of law” para que daí decorressem todas as consequências processuais que garantiam os litigantes o direito a um processo e a uma sentença justa. É, por assim dizer, o gênero do qual todos os demais princípios constitucionais do processo são espécie.” 5.1. legitimidade processual No processo administrativo são legitimados como interessados no processo administrativo: a) pessoas físicas ou jurídicas que o iniciem como titulares de direitos ou interesses individuais ou no exercício do direito de representação; b) aqueles que, sem terem iniciado o processo, têm direitos ou interesses que possam ser afetados pela decisão a ser adotada; c) as organizações e associações representativas, no tocante a direitos e interesses coletivos; d) as pessoas ou as associações legalmente constituídas quanto a direitos ou interesses difusos. 6. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR Sempre que houver alguma irregularidade dentro de uma instituição pública envolvendo um servidor, deverá ser feito, por escrito, uma denúncia de irregularidade com identificação e endereço do denunciante, logo após a autoridade tomar ciência, ela fica obrigada a investigar e possivelmente aplicar uma penalidade naquele servidor, para isso deverá fazê-lo através do Processo Administrativo Disciplinar (PAD) que é dividido em três modalidades: a Sindicância, o Processo Administrativo Disciplinar e o Processo Administrativo Disciplinar Sumário. 6.1. Sindicância É a modalidade de PAD mais simples e com aplicações de penalidade mais leves, ela tem o prazo de 30 dias, podendo ser prorrogada por igual período, antes de mais nada é importante ressaltar que a abertura de sindicância nem sempre antecede o PAD propriamente dito, esta modalidade poderá ser dispensada se for verificado que o fato ocorrido enseja em penalidade mais severas, é formada por uma comissão transitória com 2 ou 3 servidores estáveis que busca apurar os fatos e coletar materiais suficientes para o prosseguimento da sindicância, se não houver irregularidade a denúncia poderá ser arquivada, mas se houver, culminará em advertência ou suspensão de até 30 dias. Considerando que seja necessária uma aplicação de penalidade superior a essa, deverá ser através do PAD. Dessa forma, a sindicância poderá ser dividida em 2 partes: Sindicância Investigativa ou Preparatória: É uma análise preliminar sem nenhuma punição, criada para coletar provas e analisar se a irregularidade denunciada é verídica, o servidor não tem a chance de se defender neste momento, mas não prejudica o procedimento pois é uma fase preliminar. Se houver mais indícios de que o fato realmente ocorreu, deverá ser aberta uma Sindicância Acusatória ou o PAD. Sindicância Contraditória ou Acusatória: Pode começar de imediato ou após a sindicância investigativa, não podendo ser feita pelos mesmos servidores do procedimento anterior, os denunciados são notificados de forma que apresentem sua defesa, observando o princípio da ampla defesa e do contraditório e por serem denunciados por uma infração de menor gravidade que poderá resultar no arquivamento, advertência, suspensão de até 30 dias ou na instauração de um Processo Administrativo Disciplinar. 6.2. Processo Administrativo Disciplinar Propriamente Dito Com previsão estabelecida pelo Estatuto do Servidor Público, Lei 8.112/1990, tem o objetivo de analisar os fatos, é obrigatório em penalidades mais graves e seu prazo para conclusão é de 60 dias, podendo ser prolongado por igual período. O servidor tem a faculdade quanto a constituição de sua defesa técnica, ao mesmo tempo em que é aplicado o afastamento preventivo de até 120 dias, para que o mesmo não atrapalhe nas investigações, por esse ato ser considerado uma mera medida cautelar, ele continuará recebendo seu salário normalmente. O fato será avaliado através de uma comissão formada por 1 presidente, com o cargo efetivo ou nível de escolaridade igual ou maior que o indiciado, em conjunto com mais 2 servidores, em que todos deverão ter cargos estáveis e fazer reuniões de caráter reservado para a deliberação sobre o caso, não podendo o cônjuge, companheiro ou parente de até 3º graudo acusado participar. A comissão deverá elaborar um relatório de forma conclusiva e poderá fazer a aplicação de suspensão de 30 dias, demissão, cassação ou destituição. O servidor que estiver respondendo o PAD não pode fazer pedido de exoneração e nem aposentadoria voluntária, somente após aplicada a penalidade. 6.3. Fases do Processo Administrativo Disciplinar 1. Instauração: É a primeira fase que inicia o PAD, se dá somente com a publicação do ato que constitui a comissão, descreverá os fatos que caracterizam a autoria e a materialidade da suposta infração disciplinar. 2. Inquérito Administrativo: Dotado de ampla defesa, no inquérito vemos 3 partes, a instrução, defesa e relatório a) Na instrução, há verificação se houve algum ilícito penal, e caso seja constatado, deverá ser oficiado ao Ministério Público, o servidor poderá acompanhar este processo pessoalmente ou através de procurador, o acusado é citado para oferecer defesa no prazo de 10 dias, sendo mais de 1 acusado o prazo se estende para o máximo de 20 dias de forma comum, podendo ainda ser citado por edital caso não seja encontrado. b) Na defesa, é o momento em que o servidor poderá utilizar de provas e argumentos através de um advogado, ou não, para contradizer os fatos que lhe foram imputados, caso servidor citado não apresente sua defesa, ele se torna revel e a comissão nomeará um defensor dativo, que deve ter cargo efetivo ou nível de escolaridade igual ou superior ao do acusado. c) Já o relatório, deve ter todas as informações necessárias para o encerramento do PAD, deve ser conclusivo em relação à inocência ou responsabilidade do indiciado com a indicação expressa do dispositivo violado. 3. Julgamento: O julgamento deve acatar o relatório, salvo se houver prova contrária aos autos, sendo feito através da autoridade máxima do setor que aquele servidor está lotado, que tenha poderes suficientes para aplicar legalmente as penalidades dispostas no PAD no prazo de 20 dias. Se houver pluralidade de indiciados e de sanções, a autoridade competente é aquela que pode aplicar a penalidade mais grave. 7. PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR SUMÁRIO O procedimento sumário tem como finalidade propiciar maior celeridade na aplicação de sanções aos servidores públicos em determinadas situações,com prazos menos dilatados para aplicação dessas sanções aos servidores públicos, a Lei 8.112/90 prevê o processo sumário nos casos de aplicação de penalidades por abandono de cargo, inassiduidade habitual (art. 140) e também de acumulação ilegal de cargos (art.133) - hipóteses que ensejam a aplicação da penalidade de demissão. O procedimento é aplicável somente em três situações: apuração de acumulação ilegal de cargos, abandono de cargo e inassiduidade habitual, é mais célere que as outras modalidades, pois visa apurar fatos com materialidade pré- constituída no prazo de 30 dias podendo ser prorrogado por mais 15 dias, mas se houver dúvida quanto a qual procedimento ser instaurado, em regra deve ser feito através do PAD normal. Poderá ser aplicada a demissão, destituição do cargo em comissão ou cassação de aposentadoria ou disponibilidade, observados os princípios do contraditório e da ampla defesa. · Impugnações Administrativas, Julgamentos, Recurso e Pedido de Reconsideração e Revisão: (Primeira Seção, aprovada em 09/05/2018, DJe 14/05/2018.) · SÚMULA N. 635 STJ Os prazos prescricionais previstos no art. 142 da Lei n. 8.112/1990 iniciam-se na data em que a autoridade competente para a abertura do procedimento administrativo toma conhecimento do fato, interrompem-se com o primeiro ato de instauração válido - sindicância de caráter punitivo ou processo disciplinar - e voltam a fluir por inteiro, após decorridos 140 dias desde a interrupção. (Primeira Seção, julgado em 12/06/2019, DJe 17/06/2019.) 7.1. Abandono de cargo O abandono de cargo público consiste na ausência intencional do servidor ao serviço por mais de 30 dias consecutivos. É o que diz o art. 138 da Lei nº 8.112/90. Nesse sentido, se o servidor público faltar ao serviço por mais de 30 (trinta) dias seguidos com a intenção de abandonar o cargo é que se entende por inassiduidade habitual a falta ao serviço, sem causa justificada, por 60 (sessenta dias), interpoladamente, durante o período de doze meses. O art. 132 do mesmo diploma legal determina a aplicação de demissão para tais casos. O texto da lei determina a realização de processo administrativo sumário para aplicação da penalidade de demissão, em face da facilidade de comprovação da materialidade das irregularidades, terá o prazo máximo de duração de 30 (trinta) dias prorrogáveis por mais 15 (quinze) dias. É composta por uma comissão de 2 (dois) servidores estáveis e a fase de instrução será breve, uma vez que a materialidade do fato e da autoria estaria comprovada documentalmente. Importante mencionar, que para que haja o abandono de cargo é indispensável a presença de dois requisitos: a) Ausência do servidor ao serviço por mais de 30 dias consecutivos; b) Ausência intencional do servidor para abandonar o cargo. Nessa linha já julgou o Tribunal Regional Federal da 1º Região (TRF1): Para fins de aplicação do ato de demissão por abandono de cargo, impõe-se averiguar o animus específico do servidor, a fim de avaliar o seu grau de desídia. No caso, restou comprovado que o servidor obteve autorização verbal de sua chefia imediata para as ausências e que houve requerimento de remoção, antes das faltas ao serviço. Tais fatos apontam para a inexistência de vontade de abandonar o cargo e, ainda, o fato de o servidor ter voltado voluntariamente, antes mesmo da instauração do processo administrativo, revela o perdão tácito da Administração. (Ap 2007.35.00.021355-5/GO, Rel. Juiz Federal Renato Martins Prates (convocado), em 05.08.2013.) https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10987534/artigo-138-da-lei-n-8112-de-11-de-dezembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/97937/regime-jur%C3%ADdico-dos-servidores-publicos-civis-da-uni%C3%A3o-lei-8112-90 Caso o servidor público se ausente de forma intencional ao serviço público por mais de 30 dias consecutivos, este poderá ser processado pela infração administrativa de abandono de cargo. Nesse caso, a penalidade a ser aplicada no processo administrativo disciplinar é a demissão conforme o art. 132 da Lei nº 8.112/90: Art. 132. A demissão será aplicada nos seguintes casos: I - crime contra a administração pública; II - abandono de cargo; III - inassiduidade habitual; IV - improbidade administrativa; V - incontinência pública e conduta escandalosa, na repartição; VI - insubordinação grave em serviço; VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular, salvo em legítima defesa própria ou de outrem; VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos; IX - revelação de segredo do qual se apropriou em razão do cargo; X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio nacional; XI - corrupção; XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções públicas; XIII - transgressão dos incisos IX a XVI do art. 117. Por isso, caso o servidor público não tenha mais interesse em permanecer no cargo público, deve pedir exoneração em vez de sofrer eventual demissão que poderá lhe prejudicar para a posse em outros cargos públicos. 7.2. Procedimento a ser adotado em caso de abandono de cargo Para se apurar a infração administrativa de abandono de cargo, deve ser instaurado o processo administrativo disciplinar sumário conforme o art. 140 da Lei nº 8.112/90. O processo administrativo disciplinar sumário se desenvolve nas seguintes fases (Art. 133 da Lei nº 8.112/90): a) Instauração, com a publicação do ato que constituir a comissão, a ser composta por dois servidores estáveis, e simultaneamenteindicar a autoria e a materialidade da transgressão objeto da apuração; b) Instrução sumária, que compreende indiciação, defesa e relatório; c) Julgamento. https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10988607/artigo-132-da-lei-n-8112-de-11-de-dezembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/97937/regime-jur%C3%ADdico-dos-servidores-publicos-civis-da-uni%C3%A3o-lei-8112-90 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10987450/artigo-140-da-lei-n-8112-de-11-de-dezembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/97937/regime-jur%C3%ADdico-dos-servidores-publicos-civis-da-uni%C3%A3o-lei-8112-90 https://www.jusbrasil.com.br/topicos/10988127/artigo-133-da-lei-n-8112-de-11-de-dezembro-de-1990 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/97937/regime-jur%C3%ADdico-dos-servidores-publicos-civis-da-uni%C3%A3o-lei-8112-90 No caso da infração administrativa de abandono de cargo público, a comissão processante, na indiciação, deve identificar o período da suposta ausência ao serviço. Além disso, o servidor deve estar atento quanto aos membros da comissão processante. Isto porque não é incomum que haja servidores comissionados ou efetivos, mas não estáveis. Tais fatos redundam em nulidade do processo administrativo disciplinar sumário tendo em vista que a Lei nº 8.112/90 disciplina que os servidores membros da comissão processante devem ser estáveis. Na elaboração do relatório, a comissão processante, além de identificar o período de ausência do servidor, deve fundamentar a intenção do servidor em abandonar o serviço com provas do alegado. No processo administrativo disciplinar sumário, é possível requerer a coleta de provas, inclusive orais, e o interrogatório do servidor, tendo em vista a efetividade do direito de defesa do servidor público. Dessa forma, o fato do processo administrativo disciplinar sumário ser mais célere que o processo administrativo disciplinar comum não significa que se deve atropelar o direito de defesa do servidor público. O prazo máximo para a conclusão do processo administrativo disciplinar sumário por abandono de cargo é de 50 dias conforme a Lei nº 8.112/90. Portanto, o servidor público e sua defesa, preferível com advogado especialista na matéria, devem estar atentos às disposições da Lei para influir na justiça da decisão de eventual processo administrativo disciplinar sumário por abandono de cargo. 7.3. Acumulação indevida de cargos públicos Na administração pública, a acumulação indevida de cargos públicos pode causar várias penalidades, pois, em geral, a duplicidade de cargos é proibida. Na nossa Constituição Federal de 1988, foram criadas várias regras para os servidores públicos, seja no âmbito federal, estadual ou municipal. Ainda, para os servidores federais, em 1990 foi aprovada a Lei nº 8.112. Inclusive, com diferentes formas de contratação de pessoal para o serviço público: o servidor estatutário, celetista e temporário. Nessa legislação, também foram elaboradas as regras sobre a proibição de acumular cargos. Ou seja, quem já ocupa um emprego, cargo ou função pública, em regra, não pode acumular com outro serviço no governo. https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/97937/regime-jur%C3%ADdico-dos-servidores-publicos-civis-da-uni%C3%A3o-lei-8112-90 https://www.jusbrasil.com.br/legislacao/97937/regime-jur%C3%ADdico-dos-servidores-publicos-civis-da-uni%C3%A3o-lei-8112-90 https://concursos.adv.br/direito-administrativo/ https://www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/CON1988_05.10.1988/art_37_.asp http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8112cons.htm https://concursos.adv.br/regime-estatutario/ https://concursos.adv.br/regime-celetista-servidores-publicos/ https://concursos.adv.br/contratacao-temporaria-excepcional-interesse-publico/ E essa regra da acumulação de cargos se aplica ao servidor que trabalha no âmbito da administração pública: ● direta (União, Estados, Municípios ou Distrito Federal); ou ● indireta (autarquias, fundações, empresas públicas, sociedades de economia mista ou suas subsidiárias); ou ● sociedades controladas, direta ou indiretamente, pelo poder público. O texto constitucional dispõe que é vedada a acumulação remunerada de cargos e empregos públicos, ressalvadas as exceções dispostas na própria carta maior de dois cargos de professor, dois de profissionais de saúde com profissão regulamentada, além da possibilidade de acumulação de um cargo técnico ou científico mais um cargo de professor, sempre que houver compatibilidade de horários para essa acumulação. Ademais, o art. 132 da lei 8.112/90 capitula a acumulação ilegal de cargos como infração punível com demissão. No caso de acumulação ilegal de cargos, o estatuto dispõe que, antes da instauração do processo, o servidor será notificado para fazer a opção entre os cargos ocupados, dentro do prazo legal de 10 (dez) dias. Toda via, caracterizada a acumulação ilegal de cargos e provada a má-fé do agente público, aplicar-se-á a pena de demissão, destituição ou cassação de aposentadoria ou disponibilidade em relação a todos os cargos, empregos ou função públicas em regime de acumulação ilegal. 8. CONCLUSÃO O trabalho proposto para estudo sobre os processos administrativos, abrange desde conceituação, finalidade do processo, as obrigatoriedades, os princípios aplicáveis, os processos e sanções aplicáveis aos servidores e funcionários públicos. Através desse trabalho podemos analisar que os processos administrativos é um dos pilares que pressupõe a legalidade e a legitimidade dos atos realizados pela Administração Pública. O ordenamento jurídico confere à Administração um ônus argumentativo, qual seja, o de justificar e demonstrar a formação de uma vontade administrativa em função dos direitos e garantias fundamentais ou seja, os processos administrativos é de sua importância para administração pública visto que não existe uma lei específica regulamento o limite de atuação dos agentes públicos, faz necessário os procedimentos administrativos para regulamentar o poder do Estado para que não se tornasse arbitrário e disforme, onde cada um agiria de forma conveniente. 9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Carvalho, Matheus. Manual de direito administrativo/ Matheus Carvalho - 4. ed. rev. ampl. e atual. - Salvador: DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. Editora Jurídico Atlas. 19ª Edição - 2006. https://concursos.adv.br/diferenca-entre-sindicancia-investigativa-e- punitiva/#:~:text=A%20sindic%C3%A2ncia%20investigativa%20%C3%A9%20u ma,p%C3%BAblica%20deve%20analisar%20esses%20atos. (Acesso 18/09/2022) https://processo.stj.jus.br/jurisprudencia/externo/informativo/ . (Acesso 18/09/2022) https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/O-servidor-e-o- PAD-a-jurisprudencia-do-STJ-sobre-o-processo-administrativo- disciplinar.aspx#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20S%C3%BAmula,amparo% 20em%20investiga%C3%A7%C3%A3o%20ou%20sindic%C3%A2ncia. (Acesso 18/09/2022) Nohara, Irene, Patrícia e Marrara, Thiago. Processo Administrativo. Lei 9.784/1999 Comentada - 2ª ed. mai 2018. ROSA, Márcio Fernando Elias. Sinopses Jurídicas - Direito Administrativo. Editora Saraiva. 8ª edição - 2006. https://concursos.adv.br/diferenca-entre-sindicancia-investigativa-e-punitiva/#:~:text=A%20sindic%C3%A2ncia%20investigativa%20%C3%A9%20uma,p%C3%BAblica%20deve%20analisar%20esses%20atos https://concursos.adv.br/diferenca-entre-sindicancia-investigativa-e-punitiva/#:~:text=A%20sindic%C3%A2ncia%20investigativa%20%C3%A9%20uma,p%C3%BAblica%20deve%20analisar%20esses%20atos https://concursos.adv.br/diferenca-entre-sindicancia-investigativa-e-punitiva/#:~:text=A%20sindic%C3%A2ncia%20investigativa%20%C3%A9%20uma,p%C3%BAblica%20deve%20analisar%20esses%20atos https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/O-servidor-e-o-PAD-a-jurisprudencia-do-STJ-sobre-o-processo-administrativo-disciplinar.aspx#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20S%C3%BAmula,amparo%20em%20investiga%C3%A7%C3%A3o%20ou%20sindic%C3%A2nciahttps://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/O-servidor-e-o-PAD-a-jurisprudencia-do-STJ-sobre-o-processo-administrativo-disciplinar.aspx#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20S%C3%BAmula,amparo%20em%20investiga%C3%A7%C3%A3o%20ou%20sindic%C3%A2ncia https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/O-servidor-e-o-PAD-a-jurisprudencia-do-STJ-sobre-o-processo-administrativo-disciplinar.aspx#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20S%C3%BAmula,amparo%20em%20investiga%C3%A7%C3%A3o%20ou%20sindic%C3%A2ncia https://www.stj.jus.br/sites/portalp/Paginas/Comunicacao/Noticias/O-servidor-e-o-PAD-a-jurisprudencia-do-STJ-sobre-o-processo-administrativo-disciplinar.aspx#:~:text=De%20acordo%20com%20a%20S%C3%BAmula,amparo%20em%20investiga%C3%A7%C3%A3o%20ou%20sindic%C3%A2ncia https://www.amazon.com.br/Processo-Administrativo-9-784-1999-Comentada/dp/8554947703/ref=sr_1_4?qid=1663610183&refinements=p_27%3AIrene+Patr%C3%ADcia+Nohara&s=books&sr=1-4&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.db68964d-7c0e-4bb2-a95c-e5cb9e32eb12 https://www.amazon.com.br/Processo-Administrativo-9-784-1999-Comentada/dp/8554947703/ref=sr_1_4?qid=1663610183&refinements=p_27%3AIrene+Patr%C3%ADcia+Nohara&s=books&sr=1-4&ufe=app_do%3Aamzn1.fos.db68964d-7c0e-4bb2-a95c-e5cb9e32eb12
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