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TUTORIA 8- ASMA Objetivo 1: definir asma, sua epidemiologia e os fatores de risco Asma é uma doença inflamatória crônica das vias respiratórias caracterizada por hiper-reatividade brônquica (broncoconstrição) e hipersecreção de muco em resposta a estímulos variados. A asma é uma síndrome que se caracteriza por obstrução das vias respiratórias com evolução acentuadamente variável, tanto espontaneamente quanto em resposta ao tratamento. Os pacientes asmáticos apresentam um tipo especial de inflamação das vias respiratórias, que os torna mais sensíveis que os indivíduos normais a uma ampla variedade de estímulos desencadeantes; isso provoca estreitamento excessivo das vias respiratórias, redução do fluxo ventilatório e sinais e sintomas como sibilos e dispneia. Em geral, o estreitamento das vias respiratórias é reversível, mas alguns pacientes com asma crônica podem ter um componente de obstrução ventilatória irreversível. A prevalência crescente de asma em todo o mundo, o ônus expressivo que a doença impõe aos pacientes e os custos elevados da assistência à saúde motivaram pesquisas aprofundadas sobre seus mecanismos e seu tratamento. A asma é doença prevalente, acometendo cerca de 5% da população mundial; estima-se que mais de 300 milhões de pessoas no mundo todo sejam afetadas pela doença. Graças ao sucesso no manejo da doença, no entanto, a mortalidade pela asma diminuiu em cerca de 40% na última década. No entanto, ainda persistem iniquidades, sendo a mortalidade maior em países de média e baixa rendas. A prevalência da asma no Brasil encontra-se ao redor de 20%. A asma é considerada uma reação alérgica de Hipersensibilidade tipo I. Hipersensibilidde tipo 1 É caracterizada como uma reação alérgica que ocorre imediatamente após o contato com o antígeno ou alérgeno. Seus sintomas clínicos incluem asma, eczema, febre, urticária e alergia a comida. Geralmente, ela ocorre em pessoas que apresentam algum histórico familiar de alergia. As reações do tipo I são dependentes de IgE ligadas a mastócitos ou basófilos, pois a partir do momento em que a IgE se liga ao antígeno, ela sensibiliza os mastócitos a degranularem, levando ao processo inflamatório. Ao que parece, quando os mastócitos são ativados há a liberação de citocinas como a IL-3 e IL-4, que atuam nos mastócitos, outras capazes de ativar os linfócitos B a produzirem e secretarem IgE eIL-5, IL-8 e IL-9, que parecem ativar a quimiotaxia e ativação de células inflamatórias ao sítio de inflamação. A produção da IgE depende da apresentação do antígeno por uma APC e da cooperação entre células B e TH2. Assim que a IgE é produzida ela cai na circulação e se liga a receptores específicos para ela, presentes em basófilos e mastócitos (o receptor de Fc presente nestas células). Apesar de a IgE durar alguns dias, os mastócitos e basófilos permanecem sensibilizados para a IgE por meses, isto devido a alta afinidade que a IgE apresenta para o receptor Fc, o qual evita que a IgE seja destruída por proteases séricas. A asma acomete principalmente crianças e adolescentes, embora possa comprometer também adultos. Cerca de 5% dos asmáticos apresentam doença de difícil controle e refratária ao tratamento com corticosteroides. Esses pacientes são os que consomem a maior parte dos recursos da saúde direcionados para a doença, exigem maior número de hospitalizações e têm pior qualidade de vida. Por ser um grupo bastante heterogêneo clinicamente, muito esforço tem sido feito para identificar os diferentes fenótipos da asma grave. Uma vez identificados esses fenótipos, os pacientes beneficiar- se-iam de tratamento individualizado. A melhora do quadro clínico por um anticorpo monoclonal anti- IL-5 em pacientes com asma grave eosinofílica é um bom exemplo disso. A asma é uma das doenças crônicas mais comuns em nível .Nos últimos 30 anos, a prevalência dessa doença aumentou nos países desenvolvidos, mas agora parece ter sido estabilizada com índices de cerca de 10 a 12% dos adultos e 15% das crianças. Nos países em desenvolvimento, nos quais a prevalência de asma era muito menor, os índices crescentes parecem estar associados à urbanização mais ampla. As prevalências de atopia e de outras doenças alérgicas também aumentaram no mesmo período, o que sugere que as razões desse aumento provavelmente sejam sistêmicas, em vez de limitadas aos pulmões. Nos países ricos, a maioria dos pacientes asmáticos é atópica e mostra sensibilização alérgica ao Dermatophagoides pteronyssinus da poeira doméstica e a outros alergênios do ambiente, como pelos de animais e pólens. A asma pode começar em qualquer idade, mas o pico de incidência ocorre aos 3 anos. Na infância, a asma é duas vezes mais comum no sexo masculino, mas a relação entre os dois sexos iguala-se na idade adulta. Estudos de longo prazo acompanharam crianças asmáticas até que completassem a idade de 40 anos e sugeriram que muitos pacientes ficaram assintomáticos na adolescência, mas que a asma reaparecia em alguma fase da vida adulta, sobretudo entre as crianças com sintomas persistentes e asma grave. Os adultos asmáticos, inclusive os que tiveram início da doença na vida adulta, raramente se tornam assintomáticos pelo resto da vida. A gravidade da asma não varia de modo significativo em um determinado paciente; os indivíduos com asma leve raras vezes progridem para as formas mais graves da doença, enquanto os pacientes com asma grave em geral têm manifestações graves desde o início da doença. As mortes causadas por asma não são comuns e têm diminuído continuamente em muitos países desenvolvidos ao longo da última década. Durante os anos de 1960, o aumento da mortalidade por asma observado em vários países estava associado à ampliação da utilização dos agonistas β2-adrenérgicos de ação curta (como tratamento de resgate), mas hoje existem evidências convincentes de que o uso mais difundido de corticoides inalatórios (CIs) pelos pacientes com asma persistente seja responsável pela queda da mortalidade nos últimos anos. Entre os principais fatores de risco para mortalidade por asma, estão doença mal controlada com utilização frequente de broncodilatadores inalatórios; falta de adesão ao tratamento com CI; e internações hospitalares pregressas com asma semiletal. A doença pode ser dividida em duas grandes categorias: (1) atópica, quando há evidências de sensibilização e resposta imunitária a certos antígenos, geralmente em indivíduos que têm história familiar da doença e apresentam também eczema e rinite alérgica; (2) não atópica, quando não se identifica um alérgeno predisponente. Além dessas formas clássicas da doença, há também: (a) asma induzida por medicamentos, como a aspirina e outros anti-inflamatórios não esteroides. Nesses casos, o mecanismo parece ser inibição da ciclo-oxigenase 2, com redução da PGE2, que inibe a produção de leucotrienos (mediadores pró-inflamatórios); (b) asma ocupacional, que se manifesta em indivíduos que se expõem no ambiente de trabalho a certas substâncias (plásticos, madeira, algodão, tolueno, entre outras). Nas várias formas da doença, as manifestações clínicas são desencadeadas por fatores diversos, como infecções respiratórias, poluentes atmosféricos, fumaça do cigarro, frio, estresse e exercício físico. Asma de origem ocupacional é multifatorial e pode ser desencadeada por mais de 300 substâncias, naturais ou sintéticas. A exposição permanente ao agente agressor mantém o processo de inflamação que pode resultar em lesão tecidual crônica e remodelamento das vias aéreas responsáveis pela manutenção dos sintomas e agravamento do quadro. Rinite alérgica Apresenta-se como a doença atópica mais comum, de mais alta prevalência no mundo, afetando de 20 a 25% da população; sendo que 8 entre 10 pacientes asmáticos são também portadores de rinite alérgica. Sintomascomo prurido e obstrução nasal, rinorréia e espirros podem se apresentar de forma intermitente ou persistente e são importante causa de comprometimento da qualidade de vida. A inflamação crônica pode levar a alterações anatômicas que comprometem o resultado do tratamento clínico. Assim como a asma, a rinite pode ser alérgica ou não-alérgica. No exame físico, é possível observar presença de prega acima da ponta nasal, conseqüência do ato de coçar (saudação do alérgico), cianose periorbitária (olheira) em razão da estase venosa, linhas de Dennie-Morgan (segunda prega infraorbitária), respiração bucal e, como conseqüência, fácies alongada. A rinoscopia mostra presença de secreção hialina, palidez de mucosa que pode estar acompanhada de hipertrofia dos cornetos inferiores. Nos casos de obstrução mais intensa, pode- se encontrar palato em ogiva e otite serosa. Bronquite crônica Bronquite crônica é definida clinicamente como tosse persistente com produção excessiva de muco na maioria dos dias de um período de três meses, por pelo menos dois anos consecutivos. Tosse e expectoração são caracteristicamente mais intensas pela manhã e nos meses de inverno. Indivíduos com tosse produtiva sem sinais de obstrução ao fluxo aéreo apresentam bronquite crônica simples. Cerca de 20% dos fumantes desenvolvem obstrução crônica ao fluxo aéreo, geralmente com evidências de enfisema associado, caracterizando a bronquite crônica obstrutiva. Etiopatogênese A doença é causada pela exposição prolongada a agentes irritantes inalados, sobretudo produtos do tabaco (a grande maioria dos bronquíticos crônicos é fumante), além de poluentes atmosféricos. Inflamação das vias aéreas e do parênquima pulmonar secundária a esses agentes é a grande responsável pelas alterações estruturais, clínicas e funcionais observadas nos doentes. Objetivo 2: caracterizar a evolução dos sibilos na infância e sua relação com a asma Referencia: Sibilância na infância O sibilo é um ruído de assobio relativamente agudo produzido pelo movimento do ar em vias respiratórias de pequeno calibre estreitadas ou comprimidas. É comum nos primeiros anos de vida e é normalmente causado por asma ou infecção viral do trato respiratório, mas outras possíveis causas incluem irritantes ou alérgenos inalados, refluxo esofágico e insuficiência cardíaca. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL: fisiológico nos primeiros anos de vida asma infecção viral alérgenos inalados refluxo esofágico cardiomiopatias ( insuficiência cardíaca) hipertrofia de tecido linfoide aspiração de corpo estranho anomalias estruturais ( laringomalácia, broncomalácia, anomalia vascular congênita, fístula traqueoesofágica e malformação pulmonar congênita) Dermatite atópica (eczema atópico) É uma doença inflamatória crônica da pele, intensamente pruriginosa, que acomete todas as faixas etárias, porém é mais comum na infância, principalmente nos primeiros 5 anos de vida, afetando mais de 10% das crianças. Em 80% dos casos, antecede o aparecimento de rinite ou asma. A alergia alimentar está presente em aproximadamente 40% de crianças que apresentam casos de dermatite atópica moderada a grave. Embora de alta prevalência, 15 a 20% nos Estados Unidos, suas causas não estão totalmente esclarecidas. A localização das lesões varia conforme a faixa etária. Na fase aguda, predominam pápulas eritematosas, vesiculação com exsudato seroso, erosão e escoriações tipo crosta; é comum a presença de infecção secundária. Nos processos eczematosos crônicos, observam-se placas descamativas espessadas e liquenificação. Na dermatite atópica, é freqüente a associação com xerose (pele seca), ptiríase alba, ceratose pilar, hiperlinearidade palmar e, nos casos mais graves, catarata e ceratocone. A dermatite atópica é geralmente acompanhada de valores elevados de IgE e eosinofilia. O índice preditivo de asma (IPA) pretende prever a persistência da asma aos 6 anos, baseando-se na presença de fatores de risco existentes até aos 3 anos. Considera-se IPA positivo se à sibilância recorrente se associa pelo menos um dos dois critérios major (asma parental e/ou dermatite ató- pica) ou dois dos três critérios minor (rinite alérgica e/ou sibilância sem infeção e/ou eosinofilia periférica ≥4%). Em algumas crianças, episódios recorrentes de sibilos são as manifestações iniciais da asma, e essas crianças continuarão a ter sibilos mais tarde na infância ou adolescência. Em outras crianças, episódios de sibilos cessam aos 6 anos a 10 anos de idade e não são considerados asma. O que são? Sibilos geralmente resultam de broncoespasmos, que podem ser agravados por inflamação das vias respiratórias de pequeno e médio calibre que provoca edema e mais estreitamento das vias respiratórias. Um episódio de sibilos agudos em lactentes e crianças pequenas é geralmente causado por infecções virais respiratórias, mas a inflamação das vias respiratórias também pode ser causada (ou agravada) por alergias ou irritantes inalados (p. ex., tabagismo). Sibilos recorrentes podem ser causados por infecções virais respiratórias frequentes, alergias ou asma. Tosse e sibilância são sintomas respiratórios muito comuns em crianças e podem ser a expressão clínica de uma grande variedade de problemas localizados nas vias respiratórias. Independentemente da causa, a sibilância é motivo de procura por atendimento médico em serviços de urgência, sobretudo por crianças durante o primeiro ano de vida. Crianças menores de dois anos de vida e que manifestam pelo menos três episódios de sibilância, em espaço de seis meses, são denominados "lactentes sibilantes". Várias podem ser as causas de sibilância nessa faixa etária e, embora a asma seja a mais comum, deve ser sempre diagnóstico de exclusão. A incidência da síndrome do "lactente sibilante" ou de sibilância recorrente é difícil de ser estabelecida. Admite-se que pelo menos 20% das crianças menores de dois anos de idade apresentam sibilância transitória, em parte relacionada ao tamanho das vias aéreas, predeterminado geneticamente, à coexistência de infecções virais das vias aéreas superiores, à exposição passiva ao tabagismo materno e a fatores genéticos. Acredita-se que um terço dos que iniciaram a sibilância antes dos três anos de vida com ela persistirão e dentre estes 60% se manifestarão atópicos aos seis anos de vida. As infecções virais, sobretudo as pelo vírus respiratório sincicial têm sido os principais fatores infecciosos relacionados ao aparecimento de sibilância em crianças, sobretudo não atópicas. O que pode facilitar essa instauração dos sibilos na infância? Os fatores que determinam a instalação, a evolução e o prognóstico da síndrome do "lactente sibilante" não estão bem delimitados, porém, certamente envolvem a imunocompetência do hospedeiro, os fatores de risco e/ou predisponentes, a patogenicidade dos agentes agressores, o diagnóstico imediato e específico e a conduta terapêutica. Vários estudos apontam o tabagismo passivo, a idade, o sexo masculino, a má condição sócio-econômica, a atopia e a poluição como fatores predisponentes para desenvolvimento da sibilância recorrente. Todavia, ainda se desconhece quais seriam os principais marcadores e/ou fenótipos de sibilância capazes de identificar os que desenvolverão asma, a sua prevalência e se o tratamento precoce seria capaz de impedir tal evolução. E ainda mais eles podem ser variáveis na dependência da população em estudo. Como sedivide e classifica os sibilos na infância? O Consenso PRACTALL, documento conjunto elaborado por especialistas das Academias Européia e Americana de Asma, Alergia e Imunologia, recentemente publicado, descreve quatro padrões distintos de sibilância durante a infância assim como sua evolução. São eles: As infeções víricas do trato respiratório são reconhecidamente o desencadeador mais frequente de episódios de sibilância, em crianças pequenas e de crises de asma, geralmente por rinovírus e vírus sincicial respiratório (RSV). a) sibilância transitória (sibilos durante os dois e três primeiros anos de vida e não mais após essa idade), frequentemente associada a prematuridade e exposição ao fumo de tabaco pré e pós-natal b) sibilância não-atópica (sibilância desencadeada principalmente por vírus que tende a desaparecer com o avançar da idade) c) asma persistente, caracterizada por sibilância associada a um dos seguintes itens: • manifestações clínicas de atopia: eczema; rinite e conjuntivite; alergia alimentar; eosinofilia e/ou níveis séricos elevados de imunoglobulina E (IgE) total • sensibilização comprovada pela presença de IgE específica a alimentos na infância precoce e a seguir IgE específica a aeroalérgenos • sensibilização a aeroalérgenos antes dos três anos de idade especialmente se exposto a níveis elevados de alérgenos perenes no domicílio • ter pai e/ou mãe com asma d) sibilância intermitente grave (episódios pouco freqüentes de sibilância aguda associados a poucos sintomas fora dos quadros agudos e com a presença de características de atopia: eczema; sensibilização alérgica; e eosinofilia em sangue periférico). Objetivo 3: compreender a fisiopatologia e o quadro clínico da asma e sua relação com a evolução da alergia na criança FISIOPATOLOGIA Inflamação das vias aéreas é o principal fator responsável pela hiper-reatividade brônquica (broncoconstrição por estímulos com pouco ou nenhum efeito em pessoas não asmáticas) e pela cronicidade da doença. Estudos com biópsias brônquicas e lavado broncoalveolar de pessoas asmáticas mostram que inflamação é constante e está presente inclusive nos intervalos entres as crises, até mesmo nas formas leves da doença e nos casos subclínicos. A inflamação atinge todo o trato respiratório, até o parênquima alveolar. A asma atópica, que geralmente se inicia na infância e tem influência familiar, é a mais estudada e conhecida. Nas pessoas predispostas geneticamente, alérgenos inalados (pó doméstico, pelos de animais, pólen, alguns alimentos etc.) entram em contato com a mucosa respiratória e são capturados por células dendríticas, que reconhecem o antígeno, o processam e apresentam seus fragmentos ligados a moléculas MHC II a linfócitos T auxiliares. Estes produzem citocinas, sobretudo IL-3, IL-4, IL-5, IL-10 e IL-13, levando a uma resposta humoral com proliferação de linfócitos T auxiliares do tipo 2 (resposta Th2). IL-5 é quimiotática para eosinófilos, enquanto IL-4 induz a síntese de IgE, que se liga à superfície de mastócitos. Surge, assim, uma reação de hipersensibilidade do tipo I. Quando mastócitos revestidos por IgE são expostos ao antígeno sensibilizante, há dimerização da IgE, que induz desgranulação de mastócitos e liberação de vários produtos que: (1) causam broncoconstrição, vasodilatação, aumento da permeabilidade vascular e aumento da produção de muco (crise aguda de asma); (2) recrutam e ativam outras células, como eosinófilos, linfócitos, neutrófilos, basófilos e macrófagos para o sítio inflamatório, os quais são capazes de perpetuar a resposta inflamatória mediante a liberação de novos mediadores pró-inflamatórios. Há duas formas de resposta ao alérgeno: (a) reação imediata, que surge minutos após o estímulo e desaparece em 30 a 60 minutos, espontaneamente ou após tratamento; (b) reação tardia, que aparece em cerca de 60% dos pacientes e se manifesta 6 a 8 horas após como nova crise de broncoconstrição, edema e hipersecreção. A resposta tardia é mediada pela chegada de células inflamatórias recrutadas na fase anterior. Numerosas células participam na doença: ■ Células epiteliais. Liberam citocinas (IL-1, IL-6, IL-8, GM-CSF, TGF-β), fibronectina e derivados do ácido araquidônico ■ Células dendríticas. São responsáveis por capturar, processar e apresentar os antígenos aos linfócitos T ■ Linfócitos O número de linfócitos T ativados correlaciona-se com a gravidade da doença. A maioria dos linfócitos tem padrão Th2, os quais liberam IL-4, IL-5, IL-6, TNF-α e GM-CSF (linfócitos de padrão Th1 liberam IL-2, TNF-α e IFN-γ) ■ Mastócitos. Quando mastócitos revestidos por IgE são expostos ao antígeno sensibilizante, há dimerização da IgE, que induz desgranulação de mastócitos e liberação de: (a) histamina; (b) fatores quimiotáticos para neutrófilos e eosinófilos; (c) mediadores lipídicos da inflamação (prostaglandinas e leucotrienos) ■ Eosinófilos. Recrutados na fase tardia da inflamação, sobretudo por IL-5, os eosinófilos estão presentes em número variado nas vias respiratórias (em pessoas normais, são praticamente ausentes). Seus grânulos contêm várias substâncias, entre elas a proteína básica principal (MBP). MBP é capaz de lesar o epitélio brônquico, expondo terminações nervosas sensitivas subepiteliais que respondem com broncoconstrição, vasodilatação e hipersecreção de muco. Além disso, ativação de eosinófilos libera leucotrienos (broncoconstritores) e fator ativador de plaquetas (PAF, broncoconstritor) e aumenta a hiper-reatividade brônquica. PAF é também quimiotático para eosinófilos, o que cria um mecanismo de retroalimentação positiva, perpetuando a reação inflamatória ■ Neutrófilos. Em alguns pacientes, especialmente na forma não atópica da asma, a inflamação das vias aéreas é rica em neutrófilos, que liberam enzimas lisossômicas, leucotrienos e fator liberador de histamina (HRF), que pode amplificar a reação alérgica. Elastase neutrofílica, que induz secreção nas células caliciformes e glândulas submucosas, contribui para a hipersecreção brônquica (nesses pacientes, a obstrução brônquica é mais intensa) ■ Macrófagos. Em asmáticos, macrófagos pulmonares têm maior número de receptores para IgE e liberam citocinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6 e TNF-α). ▶ Sistema nervoso autônomo (SNA). Nos pulmões, existem fibras nervosas colinérgicas (broncoconstrição) e adrenérgicas (broncodilatação); o equilíbrio entre elas mantém o tônus normal das vias respiratórias. O componente não adrenérgico e não colinérgico (NANC) possui fibras que liberam taquicininas (mediadores inflamatórios) capazes de manter a reação inflamatória. As taquicininas liberadas causam broncoconstrição, vasodilatação, edema e secreção de muco. Lesão epitelial (p. ex., por produtos de eosinófilos) estimula fibras nervosas vagais, cuja resposta amplifica a inflamação e causa broncoconstrição. ▶ Fatores genéticos. Vários genes parecem envolvidos na asma, como os relacionados com a síntese de citocinas (cromossomo 5q) e com o receptor de IgE (cromossomo 11q). As várias regiões do genoma que apresentam ligação com os fenótipos de asma e atopia encontram-se principalmente nos cromossomos 2q, 5q, 6p, 11q, 12q e 17q. Seis genes ou complexos potencialmente relacionados com a suscetibilidade à doença foram identificados até o momento: ADAM3, DPP10, PHF11, SETDB2, GPRA e SPINK5. Estudos genéticos poderão eventualmente identificar indivíduos com risco de desenvolver a doença e orientar a introdução de novas medidas terapêuticas. Como acontece a ativação imune? A.Fase de sensibilização. A estimulação antigênica resulta na produção de IgE, que se liga a mastócitos e promove a desgranulação destes. Com isso, há liberação de vários produtos (histamina, citocinas etc.) que causam broncoconstrição e iniciam a respostainflamatória. B. Fase efetora da resposta inflamatória. Eosinófilos exsudados liberam vários produtos lesivos, citocinas e mediadores lipídicos, que amplificam as lesões. A proteína básica principal agride células epiteliais, que liberam citocinas (aumento da permeabilidade vascular e edema da mucosa) e estimulam terminações vagais, cuja resposta é broncoconstrição. O ambiente inflamatório assim criado aumenta o edema da mucosa, a hiperreatividade brônquica e o broncoespasmo. Na asma não atópica, os mecanismos patogenéticos são menos claros, até porque os próprios alérgenos desencadeantes são pouco conhecidos. Em alguns pacientes, poluentes ambientais (fumaça do cigarro, contaminantes atmosféricos) ou infecções virais podem contribuir para a hiper-reatividade brônquica. ▶ Remodelamento brônquico. A persistência da inflamação brônquica pode provocar alterações estruturais irreversíveis nas vias aéreas de asmáticos (remodelamento), as quais são responsáveis pela piora progressiva e irreversível da função respiratória em alguns pacientes. Inflamação persistente causa agressão e reparo inadequado, resultando em espessamento da parede, o que pode contribuir para a hiper-reatividade brônquica. Estudo de biópsias brônquicas mostra que o remodelamento acompanha a inflamação, motivo pelo qual o seu reconhecimento é importante para orientar o tratamento anti-inflamatório o mais precocemente possível. As substâncias liberadas na asma e as alterações morfológicas que surgem têm como denominador comum inflamação nas vias respiratórias e hiper-reatividade da parede brônquica a vários estímulos. Disso resulta obstrução brônquica, que é provocada por: (1) redução da luz por acúmulo de secreções e edema da mucosa e da submucosa; (2) broncoconstrição, causada por várias substâncias, como estimulação colinérgica, leucotrienos, prostaglandinas e histamina. Tais alterações explicam as manifestações clínicas da doença (dificuldade respiratória, sibilos) e a hiperinsuflação pulmonar. Quando ocorrem alterações morfológicas permanentes (remodelamento), além de manter-se o processo todo esse quadro fica ainda mais grave. Nessa fase, a perda de integridade das fibras elásticas também intensifica a broncoconstrição (fibras elásticas fornecem a força de recolhimento necessária para a volta das vias aéreas ao estado pré-constrito). Alguns mecanismos de defesa do pulmão Os principais mecanismos envolvidos na defesa do sistema respiratório estão descritos a seguir. ■ Tosse, reflexo mediado pela estimulação de receptores de irritação existentes sobretudo nas vias aéreas proximais ■ Broncoconstrição, secundária à estimulação das terminações nervosas presentes nas vias aéreas por mecanismos reflexos vagais ou pela secreção parácrina de mediadores inflamatórios ■ Secreção de muco e outras substâncias citoprotetoras, como mucinas, lisozima, lactoferrina e antioxidantes, produzidas por células secretoras existentes ao longo do trato respiratório e parte do sistema imunitário. O fluido das mucosas dos pulmões contém muitos elementos humorais com ação primordial e específica na defesa pulmonar, como as colectinas, entre as quais se inclui o surfactante. Estas proteínas ligam-se a lipopolissacarídeos de bactérias, seja para neutralizá-las, seja para apresentá-las ao sistema imunitário. Uma grande variedade de moléculas, como defensinas e catelicidinas, aderem às bactérias e as destroem mostra os principais agentes antimicrobianos naturais e suas funções ■ Transporte mucociliar, que consiste no batimento ordenado do epitélio ciliar que propele, em direção à orofaringe, as secreções respiratórias. O aparelho mucociliar é responsável pela depuração das partículas inaladas que se depositam nas vias aéreas por impactação inercial e sedimentação gravitacional. A secreção que reveste as vias aéreas possui duas fases: uma epifase gel, descontínua, e uma hipofase sol, contínua desde a traqueia até os bronquíolos. Durante o batimento efetivo, ou seja, feito no sentido de se propelir o muco, o topo do cílio toca a camada gel. O retorno do cílio faz-se de maneira mais lenta e através da camada sol, de menor densidade. Dessa maneira, o movimento retrógrado é minimizado, aumentando a eficiência do sistema. QUADRO CLÍNICO Clinicamente, os pacientes apresentam episódios recorrentes de dispneia, sibilos (chiado) e tosse associados a broncoconstrição, manifestações essas reversíveis, pelo menos em parte, espontaneamente ou por tratamento. Entre as crises, os pacientes são assintomáticos. Contudo, em algumas pessoas as crises são persistentes (dias ou semanas) e podem ser fatais, caracterizando a asma grave ou status asmaticus. É definida pela história de sintomas respiratórios tais como sibilância, respiração rápida e curta, aperto no peito e tosse que variam com o tempo e a intensidade, associados à variação do fluxo expiratório. Objetivo 4: identificar os testes laboratoriais e de função pulmonar utilizados na avaliação e classificação da asma espirometria: É o método de escolha na determinação da limitação ao fluxo de ar e estabelecimento do diagnóstico de asma. São indicativos de asma: obstrução das vias aéreas caracterizada por redução do volume expiratório forçado no primeiro segundo (VEF1) para abaixo de 80% do previsto e da sua relação com a capacidade vital forçada para abaixo de 75% em adultos e de 86% em crianças; obstrução ao fluxo aéreo, que desaparece ou melhora significativamente após o uso de broncodilatador (aumento do VEF1 de 7% em relação ao valor previsto e de 200 mL em valor absoluto, após inalação de beta-2 agonista de curta duração), ressaltando-se que limitação ao fluxo aéreo sem resposta ao broncodilatador em teste isolado não deve ser interpretada como obstrução irreversível das vias aéreas; aumentos no VEF1 superiores a 20% e excedendo a 250 ml de modo espontâneo no decorrer do tempo ou após intervenção com medicação controladora (ex., prednisona 30 a 40 mg/dia VO, por duas semanas). Volume residual (VR): representa o volume de ar que permanece no pulmão após uma expiração máxima. Capacidade pulmonar total (CPT): o volume de gás nos pulmões após a inspiração máxima. Capacidade residual funcional (CRF): é o volume de ar que permanece nos pulmões ao final de uma expiração usual, em volume corrente. Capacidade vital (CV): representa o maior volume de ar mobilizado, podendo ser medido tanto na inspiração quanto na expiração. Capacidade vital forçada (CVF): representa o volume máximo de ar exalado com esforço máximo, a partir do ponto de máxima inspiração. Volume expiratório forçado no tempo (VEFt): representa o volume de ar exalado num tempo especificado durante a manobra de CVF; por exemplo VEF1 é o volume de ar exalado no primeiro segundo da manobra de CVF. Fluxo expiratório forçado máximo (FEFmáx): representa o fluxo máximo de ar durante a manobra de capacidade vital forçada. Esta grandeza também é denominada de pico de fluxo expiratório (PFE). Fluxo (FEFx ou FIFx): representa o fluxo expiratório ou inspiratório forçado instantâneo relacionado a um volume do registro da manobra de CVF. Esta grandeza é expressa em litros/segundo (BTPS). Fluxo expiratório forçado médio (FEFx-y%): representa o fluxo expiratório forçado médio de um segmento obtido durante a manobra de CVF; por exemplo FEF25-75% é o fluxo expiratório forçado médio na faixa intermediária da CVF, isto é, entre 25 e 75% da curva de CVF. Tempo da expiração forçada (TEF): tempo decorrido entre os momentos escolhidos para “início” e “término” da manobra de CVF. Esta grandeza é expressa em segundos. Tempo expiratório forçado médio (TEFx-y%): representa o tempo expiratório forçado médio de um segmento, obtido durante a manobra da CVF; por exemplo TEF25-75% é o tempo expiratório forçado médio entre 25 e 75% da CVF.Esta grandeza é expressa em segundos. Ventilação voluntária máxima (VVM): representa o volume máximo de ar ventilado em um período de tempo por repetidas manobras respiratórias forçadas. Pico de fluxo expiratório (PFE): O PFE é importante para o diagnóstico, monitoração e controle da asma. A variação diurna do PFE pode ser utilizada para se documentar a obstrução do fluxo aéreo. São indicativos de asma: aumento de pelo menos 15% no PFE após inalação de um broncodilatador ou um curso oral de corticosteróide; variação diurna no PFE maior que 20% (diferença entre a maior e a menor medida do período) considerando medidas feitas pela manhã e à tarde, ao longo de um período de duas a três semanas. Objetivo 5: caracterizar o segmento ambulatorial da asma Recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia – 2020 Com base nesses parâmetros, a asma pode ser classificada em controlada, parcialmente controlada e não controlada. A avaliação do controle, em geral, é feita em relação às últimas 4 semanas. Atualmente, além do questionário de controle da asma da Global Initiative for Asthma (GINA). Apesar de a espirometria não fazer parte dos critérios diagnósticos e de controle da classificação da asma, quando disponível, a avaliação funcional deve ser feita a cada 3-6 meses para estimar o risco futuro de exacerbações e de perda acelerada de função pulmonar. A base do tratamento medicamentoso da asma é constituída pelo uso de CI associado ou não a um long-acting β2 agonist (LABA, β2-agonista de longa duração). O tratamento de controle da asma é dividido em etapas de I a V, nas quais a dose do Corticóide Inalatório é aumentada progressivamente e/ou outros tratamentos de controle são adicionados. Corticóides inalatórios- CI Após a obtenção e manutenção do controle da asma por um tempo prolongado (não inferior a 3 meses), a dose do CI pode ser reduzida para uma dose mínima, objetivando utilizar a menor dose para manter o controle da asma. O uso de CI pode causar efeitos adversos locais, como irritação da garganta, disfonia e candidíase. CI + LABA A associação de CI com um LABA ou LABA de ultralonga duração é o tratamento de controle preferencial nas etapas III a V da asma, ou seja, quando o tratamento com CI isolado não é suficiente para atingir e manter o controle da doença. As evidências para o uso da associação CI + LABA como tratamento de controle preferencial nas etapas III-V do tratamento da asma são muito robustas. Em sua mais recente edição, a GINA amplia essa recomendação, indicando a associação de baixas doses de CI + formoterol por demanda como tratamento preferencial para o controle da asma na etapa I. Na etapa II a recomendação de tratamento preferencial é opcional: CI em baixas doses continuamente ou CI + formoterol por demanda. **Beta-agonistas de ação prolongada (LABA): Os LABA são utilizados em associação aos CI em pacientes acima de quatro anos, quando estes forem insuficientes para promover o controle da asma. Estão disponíveis no Brasil o formoterol e o salmeterol. A associação dos LABA ao CI pode ser utilizada como terapia inicial na asma classificada como moderada ou grave. A adição do LABA ao CI reduz o tempo para obtenção do controle da doença. A monoterapia com LABA deve ser sempre evitada. Os efeitos adversos não são comuns e restringem-se aos efeitos causados pelo estímulo cardiovascular, tremores de extremidades e hipocalemia. TTO DE MANUTENÇÃO A introdução precoce do tratamento antiinflamatório com corticosteróides inalatórios (CI) resulta em melhor controle de sintomas, podendo preservar a função pulmonar em longo prazo e, eventualmente, prevenir ou atenuar o remodelamento das vias aéreas. Todos os pacientes com asma persistente moderada ou grave devem ter um plano de ação escrito para uso em caso de exacerbações. A terapia deve focalizar de forma especial a redução da inflamação. Deve-se iniciar o tratamento de acordo com a classificação da gravidade da asma. A manutenção do tratamento deve variar de acordo com o estado de controle do paciente. Havendo dúvida na classificação, o tratamento inicial deve corresponder ao de maior gravidade. O tratamento ideal é o que mantém o paciente controlado e estável com a menor dose de medicação possível. Uma vez obtido o controle sintomático por um período mínimo de três meses, pode-se reduzir as medicações e suas doses, mantendo-se o acompanhamento do paciente. Antagonistas de receptores de leucotrienos cisteínicos (antileucotrienos): Para alguns pacientes com asma persistente, os antileucotrienos (montelucaste e zafirlucaste) podem ser úteis como medicação substitutiva aos LABA e adicional à associação entre LABA e CI. teofilina: A teofilina é um broncodilatador dotado de propriedades antiinflamatórias. Deve ser utilizada apenas como medicamento adicional aos CI, em pacientes não controlados. Omalizumabe: O tratamento com a anti-IgE está indicado para pacientes maiores de doze anos com asma alérgica de difícil controle. A dose empregada (a cada duas ou quatro semanas por via subcutânea) deve levar em conta o peso e o nível de IgE sérica total. TRATAMENTO DE RESGATE Beta-2 agonistas inalatórios de curta duração: São os medicamentos de escolha para alívio dos sintomas de broncoespasmo durante as exacerbações agudas de asma e como pré-tratamento do broncoespasmo induzido por exercício. O aumento da necessidade de beta-2 agonistas inalatórios de curta duração é um sinal de descontrole da asma. Estão disponíveis o salbutamol, o fenoterol e a terbutalina. Glicocorticóides orais: Estão indicados no tratamento das exacerbações graves da asma. Devem ser administrados no domicílio a pacientes em tratamento com CI durante a exacerbação, no momento da alta dos serviços de emergência, e após exacerbação grave, em cursos de cinco a dez dias, na dose média de 1 a 2 mg/kg/dia, com o máximo de 60 mg. Anticolinérgicos inalatórios: O brometo de ipratrópio pode ser usado no tratamento das exacerbações graves de asma, associado ao beta-2 agonista de curta duração ou em sua substituição, no caso de efeitos adversos como taquicardia e arritmia cardíaca. REFERENCIAS - Imunoalergologia- revisão sistemática- compilado - Harrison, medicina interna - IV Diretrizes Brasileiras para o manejo da asma - Sibilância na infância, artigo scielo - clínica médica, volume 7 - Recomendações para o manejo da asma da Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia, 2020, Jornal Brasileiro de Pneumologia - Fisiopatologia Pulmonar, 8 ed, John West - Bogliolo, 7 ed
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