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Pedagogia Lingua Brasileira de Sinais Libras

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Lídia da SilvaLídia da Silva
1Capa.indd 1 13/7/2010 21:21:41
02 CONVALIDAÇÃO - 1 PROVA - 13/07/2010 APROVAÇÃO: NÃO ( ) SIM ( ) ____________
Capítulo 
Língua Brasileira de 
Sinais – Libras
Curitiba
2010
Lídia da Silva
FAEL
Diretor Acadêmico Osíris Manne Bastos
Diretor Administrativo-Financeiro Cássio da Silveira Carneiro
Coordenadora do Núcleo de 
Educação a Distância 
Vívian de Camargo Bastos 
Coordenadora do Curso de 
Pedagogia EaD
Ana Cristina Gipiela Pienta
Secretária Geral Dirlei Werle Fávaro
SiStEmA EDuCACioNAL EADCoN
Diretor Executivo Julián Rizo
Diretores Administrativo-Financeiros Armando Sakata
Júlio César Algeri
Diretora de operações Cristiane Andrea Strenske
Diretor de ti Juarez Poletto
Coordenadora Geral Dinamara Pereira Machado
EDitorA FAEL
Coordenador Editorial William Marlos da Costa
Edição Thaisa Socher
Projeto Gráfico e Capa Denise Pires Pierin
ilustração da Capa Cristian Crescencio
Diagramação Ana Lúcia Ehler Rodrigues
ilustrações Dilmar Kempner Júnior
Ficha Catalográfica elaborada pela Fael. Bibliotecária – Cleide Cavalcanti Albuquerque CRB9/1424
Silva, Lídia da
S586l Língua Brasileira de Sinais – Libras/ Lídia da Silva. – Curitiba: 
Editora Fael, 2010.
164 p.: il.
Nota: conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
1. Educação inclusiva 2. Libras. I. Título.
CDD 371.9
Direitos desta edição reservados à Fael.
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael.
Ao Ronaldo Quirino, intérprete de Libras, que me indicou este caminho.
apresentação
A produção de textos para a disciplina de Língua Brasileira de Sinais 
– Libras, nos cursos de Pedagogia, é crucial e precisa se concretizar.
Antes do Decreto n. 5.262/2002, as entidades da comunidade sur-
da, como as associações de surdos, a Federação Nacional de Educação 
e Integração de Surdos, as igrejas, etc., sempre divulgavam cursos de 
Libras, visando promover a comunicação entre as pessoas, de uma ma-
neira informal e nada padronizada.
Hoje muita coisa mudou. A aprendizagem de Libras é lei em muitos 
cursos. Os alunos desses cursos precisam aprofundar não apenas o co-
nhecimento da língua de sinais, mas conhecer o porquê de a língua ser 
um direito na educação dos surdos, a história e as lutas do povo surdo 
pelo reconhecimento de sua língua. A aprendizagem da língua precisa 
estar dentro de um contexto organizado, que permita diminuir o precon-
ceito com que, em geral, são vistos os surdos. 
A professora Lídia da Silva conseguiu abordar os mais importan-
tes conteúdos necessários ao entendimento dos desafios colocados aos 
professores pela mudança implantada na educação dos surdos, que exi-
ge deles uma atuação esclarecida e interessada. Os assuntos são apre-
sentados de uma forma clara, que reflete muitas pesquisas recentes na 
área, sem diminuir os conteúdos necessários.
Professores esclarecidos quanto à complexa realidade da criança 
surda poderão trabalhar dispensando o carinho merecido a essas crian-
ças, e atuar de forma a fazer avançar as condições de acolhimento na 
escola e na família.
apresentação
Esses avanços são necessários para que se concretize uma real in-
clusão na sociedade e a diminuição dos preconceitos existentes, mesmo 
entre a maioria dos professores.
Marianne Rossi Stumpf* 
* Doutora em Informática na Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 
Atua como coordenadora geral do curso de Letras-Libras e como professora adjunta da 
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Orienta pesquisas na pós-graduação em 
Linguística e tem experiência na área de educação de surdos, língua de sinais, informáti-
ca e escrita de língua de sinais.
apresentação
apresentação
sumário
 Prefácio.........................................................................................9
1 Status linguístico da Libras ........................................................11
2 Estrutura gramatical da Libras ..................................................41
3 Implicações sociais da surdez .................................................127
 Referências...............................................................................161
sumário
Capítulo 
9
prefácio
prefácio
Quando nos deparamos com uma pessoa surda pela primei-
ra vez, algo acontece que faz deste encontro um momento único e 
singular em nossas vidas. Para alguns, esse momento vai significar 
o confronto com suas dificuldades e limites, que ficará apenas na 
memória. Para outros, esse momento vai significar uma mudança de 
vida, devido a uma tomada de decisão quanto às questões relaciona-
das à surdez e à língua de sinais. Uma tomada de decisão que implica 
na proximidade com a pessoa surda e sua língua.
No meu caso, o efeito do encontro foi o segundo. Diante de um 
primeiro contato com uma pessoa surda, fui tomada pelo desejo de me 
desafiar e de tentar uma aproximação com ela, ainda que isso exigisse 
muito esforço e dedicação, pois o processo de aprendizagem de uma 
segunda língua não é uma atividade das mais fáceis da nossa vida.
A entrada nessa nova esfera linguística me motivou a buscar 
cada vez mais conhecimento sobre a Libras e suas implicações para 
os sujeitos surdos, e esta busca foi determinante na minha formação 
acadêmica e profissional. Hoje sou pesquisadora, usuária, tradutora e 
professora de língua de sinais, e me deparo todos os dias com os de-
safios que uma língua espaço-visual impõe às pessoas que são falantes 
nativas de uma língua oral-auditiva. Porém, além dos desafios, me 
deparo também com a beleza, com a completude, com a satisfação de 
poder estabelecer comunicação por meio das mãos, dos olhos, do cor-
po, dos sinais. Assim se constituiu minha busca, e assim espero que 
se constitua a leitura deste livro aos leitores: descobertas recheadas de 
desafios e encantamentos.
10
Julgo que os principais desafios que se encontram neste texto são 
de ordem mais gramatical, já que é uma tarefa árdua esboçar grafi-
camente os detalhes de uma língua “espacial-tridimensional”. Minha 
expectativa é conseguir, minimamente, esclarecer a constituição dos 
aspectos fonológicos, morfológicos, sintáticos e semânticos da Libras, 
sem esgotá-los, é claro. Até porque, espero que esse desafio soe como 
um convite a uma leitura mais aprofundada sobre o tema, que o leitor 
possa – após receber esta introdução – percorrer caminhos mais lon-
gos no conhecimento da estrutura gramatical da Libras.
Além disso, acredito que o leitor será tomado de encantamento 
ao se deparar com o status linguístico da Libras, no sentido de poder 
empregar a característica de “língua” a esta forma de comunicação, 
e de não mais creditar como verdade as falácias sociais ditas sobre 
ela até então. Esse encantamento pela Libras, no seu valor e nas suas 
possibilidades comunicativas, é que gera condições de entender as 
implicações sociais da surdez. Com esse olhar de diferença linguís-
tica, torna-se mais fácil conceber a ideia de uma pessoa viver apenas 
com experiências visuais e assim construir toda sua impressão sobre o 
mundo. É preciso que tenhamos esse encantamento para podermos, 
de alguma forma, contribuir com as discussões sobre os surdos e sua 
língua, mas sempre destacamos que eles – os surdos – também devem 
ter voz neste processo.
A autora.* 
* Lídia da Silva é mestre em Linguística. Atua como orientadora de aprendizagem no 
curso de Letras-Libras e é tradutora de Libras da Universidade Positivo.
prefácio
prefácio
11
Neste primeiro capítulo, apresentaremos uma introdução das 
ideias que serão desenvolvidas posteriormente. Vamos abordar algumas 
definições preliminarese algumas discussões sobre as mudanças das ter-
minologias na área da surdez. Nesse ponto, atentaremos para a forma 
de nomeação da pessoa surda e da sua língua.
Trataremos, de forma mais pormenorizada, sobre a teoria inatista de 
Chomsky, pois ela embasa nossas considerações acerca dos fenômenos lin-
guísticos explanados, tais como aquisição da linguagem e estrutura grama-
tical das línguas naturais, portanto, da Libras. Essa teoria atesta que princí-
pios e parâmetros imperam na constituição de todas as línguas do mundo. 
Por princípios, a teoria entende características iguais entre os idiomas – 
predominantemente, a estrutura sintática – enquanto que os parâmetros 
são as diferenças que existem entre eles – as categorias gramaticais.
Dessa forma, este texto se insere nessas discussões por acreditar que 
a Libras possui os mesmos valores linguísticos que as línguas orais, por 
exemplo, o caso de empréstimos de outra língua – fenômeno recorrente 
nos sistemas linguísticos. Há, porém, parâmetros que a distinguem das 
línguas orais, como a modalidade linguística espaço-visual, as marcas 
para formalidade e informalidade, e outros. Assim, o texto apresenta 
os universais “comprobatórios” da natureza linguística da Libras, bem 
como o refutamento aos mitos sociais que até então circundavam a 
concepção que se tinha sobre ela.
Definições preliminares
Atualmente, tem sido muito comum as pessoas se depararem 
com outras conversando de um modo muito diferente do que estão 
Status linguístico 
da Libras 1
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
12
acostumadas a ver. Quando isso ocorre, num primeiro momento, 
surge um sentimento de estranhamento, mas com o passar do tempo 
esse sentimento se desfaz e dá lugar a uma impressão de normalida-
de, aquilo vai se tornando comum. À medida que estas pessoas vão se 
mostrando à sociedade, mais aceitável a sua forma de expressão passa 
a ser. Porém, infelizmente, nem sempre foi assim.
Houve uma época (século XV) em que as pessoas que não podiam 
ouvir eram atiradas do alto dos rochedos, pois elas não eram conside-
radas humanas. Havia uma exclusão escancarada não só com essas pes-
soas, mas com qualquer uma que apresentasse alguma limitação física 
ou sensorial, sendo considerada improdutiva para a sociedade. Depois, 
a sociedade decide que as pessoas que não ouvem devem ser oralizadas. 
Ser uma pessoa oralizada significa desenvolver sua fala por meio da voca-
lização dos sons, ainda que não pudesse ouvir sua própria voz. Esse tipo 
de concepção e, consequentemente, este método de ensino chamado 
oralismo, prevaleceu por muito tempo, especialmente depois da decisão 
do II Congresso Internacional sobre Instrução de Surdos, que aconteceu 
em Milão, em 1880, que entendia que o método de ensino mais ade-
quado aos surdos seria a oralização. Nesse sentido, o trabalho era de: re-
cuperação auditiva, tratamento de reabilitação, exercícios mecânicos. O 
professor era mero treinador de fonemas e o aluno deveria empreender 
todos os esforços possíveis para realizar uma boa leitura labial.
Após esse período, a integração foi a concepção adotada. A integra-
ção é a fase que compreende a concepção e a prática da pessoa com defi-
ciência a partir de um esforço adaptativo apenas de sua parte, no sentido 
de que ela deve se adequar aos moldes padrões, para então estar integra-
da à sociedade. Porém, no início do ano 2000, começam os rumores de 
uma nova filosofia social e educacional: a inclusão. Nessa perspectiva, 
não apenas as pessoas que não ouvem passam a se integrar e emprenhar 
esforço para tornarem-se normais, como as pessoas que ouvem, mas há 
um duplo envolvimento: por parte deles e por parte da sociedade.
Porém, mesmo havendo um novo paradigma social emergindo, 
ainda há contradições manifestadas nas práticas. Prova disso é a própria 
dificuldade terminológica. De fato, como devemos nos referir a tais pes-
soas? Certamente, o modo como nos reportamos aos outros quer dizer 
alguma coisa, vem impresso de significado. Não fosse assim, não existi-
riam os títulos, os vocativos e os pronomes de tratamento. Normalmen-
te, a forma como nos dirigimos à pessoa revela o valor que damos a ela.
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
13
No caso das pessoas que não podem ouvir, há algumas alternativas 
de tratamento que podem denotar a consideração social a respeito de 
sua condição. É o caso do termo “deficiente auditivo” ou “d.a.”. Quan-
do usamos esse termo para nos referir a uma pessoa, estamos invocando 
aquilo que ela não tem, aquilo que lhe é deficiente, estamos destacando 
o que há de ausente naquela pessoa, aliás, não estamos vendo-a como 
pessoa, mas a informação que mais nos importa é sua patologia e/ou 
sua condição clínica.
Com o acelerar da recepção de informações, a sociedade progride 
e tem sua visão alterada. Foi a partir da década de 90 do século XX que 
inauguraram algumas pesquisas no país sobre a língua de sinais, e isto pro-
piciou um olhar antropológico e cultural sobre a surdez. Esse olhar para 
o surdo como uma pessoa diferente acaba com a concepção de deficiente 
auditivo – anteriormente impregnada nos meios sociais e educacionais – 
e, consequentemente, anula a necessidade de reabilitação para integração. 
De acordo com essa concepção de diferença (ao invés de deficiência), não 
há necessidade de inserção das pessoas, pois todos já fazem parte da so-
ciedade, somos apenas mais uma figura no cenário da diversidade social 
– racial, religiosa, sexual, financeira, política, de gênero, etc.
Nesse sentido, também 
deixam de ser válidos termos 
como “surdo-mudo” ou “mu-
dinho”, pois, além de pejora-
tivos, não estão em sintonia 
com o que já é socialmente 
aceito, a condição de não ou-
vir. Conceitualmente, falar não significa vocalizar, emitir sons, mas ex-
pressar a sua língua. Então, dizer surdo-mudo é duplamente incorreto. 
Primeiro, porque existem muitos surdos que têm domínio da língua 
oral e que se comunicam também com sons da voz, ainda que os fo-
nemas sejam desorganizados por falta do feedback auditivo. Depois, 
porque quando o surdo está sinalizando, ele está pronunciando-se na 
sua língua, está falando.
Então, segundo o Decreto n. 5.626 (BRASIL, 2005), Capítulo I, Ar-
tigo 2º, parágrafo único, os surdos são deficientes auditivos para aquelas 
pessoas que os enxergam com uma visão clínico-terapêutica; surdos-mudos 
para aqueles que não sabem que eles falam; e, para aqueles que os olham 
Há um slogan propagado pela Federação Na-
cional de Educação e Integração de Surdos que 
diz: SURDO-MUDO, apague esta ideia!
Verifique em <http://www.feneis.org.br>.
Saiba mais
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
14
respeitando sua diversidade linguística, são apenas: surdos. Portanto, para 
nos referirmos a essas pessoas neste texto, a partir de agora, usaremos o 
termo “surdo”, porque ele remete a um posicionamento político de res-
peito ao sujeito como um ser social, falante da língua de sinais, e não com 
uma visão clínica ou patológica. Contrariamente, as pessoas que têm a 
capacidade de ouvir são chamadas de ouvintes.
Surdo Ouvinte
Os surdos conversam com as mãos, por meio do estabelecimento 
de uma comunicação visual. De fato, poucas são as pessoas que reco-
nhecem o que significam tantos movimentos e tantas sinalizações. É 
o caso, por exemplo, de quando os surdos chegam a estabelecimentos 
comerciais, a órgãos públicos ou privados e fazem este sinal:
Oi
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
15
As pessoas não sabem o que isso significa e, na maioria das vezes, 
tentam falar mais lentamente ou buscam um papel para escrever, na es-
perança de conseguir estabelecer uma comunicação. Porém, o desejável 
seria que essas pessoas pudessem responder da mesma forma, ou seja, 
com os sinais da Libras, conforme exposto a seguir:Tudo bem? Qual é seu nome?
Qual é o seu sinal?1 Bom dia
 
Boa tarde
 
Boa noite
 
1 Os surdos dão um sinal para cada pessoa e não as chamam pelo nome.
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
16
No entanto, infelizmente, esses e outros tantos sinais necessários 
à comunicação com surdos são desconhecidos pela população ouvinte, 
e o desconhecimento não é só dos vocabulários, mas da própria no-
meação desta modalidade linguística. E o que vem a ser modalidade 
linguística? É a forma como a língua se manifesta. Há, basicamente, 
três modalidades das línguas naturais: língua falada, língua escrita e 
língua sinalizada.
A língua falada é conhecida por possuir uma característica oral e au-
ditiva, enquanto que a sinalizada tem a característica de ser espaço-visual. 
Isso significa que o espaço (lugar a frente do corpo) é o canal de emissão e 
a visão é o canal receptor da mensagem. Portanto, a língua de sinais tem 
modalidade espaço-visual. Porém, vemos que o desconhecimento sobre 
essa modalidade linguística é tanto, que as pessoas a chamam de “lingua-
gem de sinais”. Há outras que a chamam de “gestos” e há, ainda, quem 
pense que são “mímicas”. Posteriormente explicaremos porque esses dois 
últimos termos são inadequados, mas, por ora, vamos pensar na oposição 
língua X linguagem.
A linguística é a área científica que se debruça a conceituar essas 
duas categorias, e a faz sob diferentes perspectivas teóricas. Há, por 
exemplo, pesquisadores que são adeptos a concepções sociais e há ou-
tros que procuram abordagens mais naturalísticas para formular suas 
concepções. Os que entendem que a influência do social é determi-
nante para aquisição da língua, destituem do ser humano as responsa-
bilidades pelo seu desempenho linguístico. Inscrevem-se nesse tipo de 
abordagem as vertentes da linguística estrutural e funcional. Por outro 
lado, há pesquisadores que são mais adeptos aos postulados teóricos de 
Chomsky (1957), do Massachusetts Institute of Techonology – MIT, 
nos Estados Unidos. Para ele, o processo de adquirir a estrutura de uma 
língua natural é universal, pois independe da qualidade interativa que 
se estabelece com a criança, assim também como independe da cultura. 
Essa aquisição é possível devido ao fato de as crianças possuírem um co-
nhecimento linguístico inato que as guia por esse processo. Tais ideias 
deram origem à teoria que vigora até o presente, e que escolhemos para 
construir nosso aporte conceitual. Trata-se da teoria gerativa.
Segundo essa teoria, as crianças já nascem equipadas com vários 
aspectos relacionados à organização sintática das línguas humanas que 
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
17
são geneticamente determinadas. Por isso dizemos que essa teoria é de 
natureza mentalista, pois a mente humana abriga um sistema “compu-
tacional” capaz de gerar representações linguísticas. Isso se comprova, 
segundo Chomsky (1957), devido à discrepância entre input e output 
do falante. Em outras palavras, a criança é exposta a estímulos pobres e 
limitados, porém, devido ao seu inato conhecimento linguístico, é capaz 
de se desenvolver ao ponto de gerar infinitos enunciados bem formados. 
A criança é vista como aprendiz eficiente a despeito da pobreza de estí-
mulos. Esse argumento é comumente tratado por problema de Platão2.
Chomsky (1957) denomina esse conhecimento linguístico prede-
terminado de “Dispositivo de Aquisição de Linguagem – DAL” (em 
inglês: Language Acquisition Device – LAD). O DAL, sistema armaze-
nado na mente, abriga os princípios que são comuns a todas as línguas 
humanas. Esses princípios formam um conjunto de regras linguísticas 
uniformes chamado de Gramática Universal – GU.
Nesse sentido, a aquisição da linguagem vai acontecer naturalmen-
te – sem que haja um aprendizado formal –, apenas pela maturação da 
GU, entendida como um órgão biológico carente de iniciar seu fun-
cionamento que, no caso, fica a cargo da interação social. Esse fator é 
preponderante no princípio do funcionamento do DAL, mas não para 
determinação do seu estágio final. O estágio final são as propriedades 
linguísticas alcançadas pelo adulto. A perspectiva chomskyniana de lin-
guagem está resumida no excerto a seguir, possibilitando um melhor 
entendimento de que a linguagem reflete uma capacidade mental do 
ser humano.
[...] pode-se dizer que o uso criativo da linguagem não se li-
mita ao estabelecimento de analogias, mas reflete a capacidade 
do ser humano de fazer uso dela no seu dia a dia, observando 
propriedades específicas, livre de estímulos, com coerência e de 
forma apropriada a cada contexto, além da sua capacidade de 
evocar os pensamentos adequados no seu interlocutor. [...] Sob 
esta perspectiva, essa capacidade é uma consequência direta do 
fato de sermos humanos. Como diz Descartes, somos huma-
nos ou não somos, pois não existem graus de humanidade, e 
2 O argumento da “pobreza dos estímulos” é tratado por Chomsky (1957) como uma atitude 
platonista, por isso o nome problema de Platão é extraído da questão filosófica, de como 
é que o ser humano pode saber tanto diante de evidências tão passageiras, enganosas e 
fragmentárias? 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
18
não há variação essencial entre os humanos, a não ser no nível 
da superficialidade, isto é, nos aspectos epifenomenais3. Um 
estudo da faculdade da linguagem deve propor propriedades 
específicas e descobrir os mecanismos da mente que as apresen-
ta, além de dar conta destas mesmas propriedades em termos 
da ciência física (QUADROS; FINGER, 2008, p. 47).
Assim, poderíamos dizer que a linguagem é um dispositivo que já 
está acoplado na mente humana desde o nascimento, e que este disposi-
tivo deve ser acionado pelos estímulos externos para poder desenvolver 
a língua. A linguagem é uma função mental superior4, sendo assim, é de 
natureza muito mais individual, enquanto a língua, opostamente, não 
está instalada no cérebro humano, mas está no seio da sociedade e por 
isso precisa ser adquirida. Dessa forma, a Libras não pode ser chamada 
de “linguagem de sinais”, considerando que, se assim fosse, todos seria-
mos sinalizadores, e isso não acontece. Podemos concluir que a Libras 
deve ser aprendida e, se será aprendida, significa que ela é externa a nós, 
ela é social, portanto, é língua.
Apesar de já termos adiantado o conceito de língua, há ainda que se 
colocar que, nesse modelo teórico, ela é entendida como um conjunto 
de regras que geram uma infinidade de sentenças, sendo que cada uma 
é formada por cadeias de elementos. Para o linguista adepto à corrente 
gerativa, o objeto de estudo é postulado como o conhecimento incons-
ciente da língua. Segundo Kato (1997), esse conhecimento tem caráter 
intencional e o uso é inconsciente devido ao uso automático da língua, 
encarado como um sistema “computacional”. Essa é a concepção de 
língua que adotamos. Quer dizer, língua é um conjunto de regras que 
gera uma infinidade de sentenças, caracterizadas como individuais, in-
ternas (inconscientes) e intencionais (automáticas).
Posto o entendimento de que há diferença teórica no conceito de 
língua e no conceito de linguagem, podemos concluir que a termino-
logia “linguagem de sinais” passa a ser cientificamente inapropriada. 
3 Epifenômenos são fenômenos adicionais que se sobrepõem a outros, mas sem modificá-los, 
nem exercer sobre eles qualquer influência, são fatores sociais, econômicos, políticos, cultu-
rais, etc. (QUADROS; FINGER, 2008, p. 47).
4 Função mental superior é sinônima de função psicológica, e elas são: pensamento, memó-
ria, atenção, raciocínio, percepção, inteligência, linguagem e outras.
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
19
A partir dessa concepção, podemos adentrar mais especificamente nas 
considerações sobre a “língua” de sinais.Língua de sinais
Iniciamos pelo signifi-
cado do termo, visto que no 
Brasil há duas terminologias 
correntes para designar a lín-
gua de sinais utilizada pela 
comunidade surda brasileira: 
Libras (Língua Brasileira de 
Sinais) e LSB (Língua de Si-
nais Brasileira). A primeira 
foi oficializada pela Federação 
Nacional de Educação e Integração de Surdos, e é o termo presente 
em documentos legais. A LSB é a sigla utilizada por pesquisadores que 
publicam textos internacionais, já que todas as demais línguas de sinais 
do mundo possuem uma sigla com três letras, desta forma, é possível 
ter uma rápida identificação para LSB. Como Libras é nossa opção ter-
minológica, reproduzimos a seguir o sinal empregado pelos surdos para 
nomear sua própria língua:
Libras
Um dos documentos legais que contempla a sigla Libras é a Lei 
Federal n. 10.436/2002 (BRASIL, 2002b), que oficializou a língua no 
Brasil. A partir dessa aprovação, a Libras passou a ser aceita como língua 
Há pesquisas que discutem a melhor grafia 
para a língua brasileira de sinais, se deve ser 
LIBRAS (todas as letras maiúsculas), libras 
(todas as letras minúsculas) ou Libras (apenas 
a primeira letra maiúscula), já que há diferen-
ça conceitual nestes diferentes registros. Leia 
mais sobre o assunto em: <http://www.fiemg.
com.br/ead/pne/Terminologias.pdf>.
Saiba mais
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
20
usual na comunidade surda. Ter uma lei que oficialize um idioma em 
um país é muito importante, pois demonstra o reconhecimento social 
sobre ela, visto que as minorias linguísticas (imigrantes, índios) relatam 
experiências de segregação e preconceito, já que sua forma de expressão 
não é a mesma da maioria social.
Nesse sentido, deve-se travar uma luta pelo reconhecimento lin-
guístico de tais minorias. Para que isso ocorra, há que se percorrer um 
longo caminho, que vai desde agregar as pessoas até convencer políticos 
a planejar ações disseminadoras. No caso da Libras, essa conquista só 
foi possível mediante a congregação dos surdos em prol dessa causa, e 
pelo fato de muitos pesquisadores terem se empenhado para angariar 
conhecimentos que comprovassem o valor linguístico dessa língua.
A Lei n. 10.436 oficializou a Libras, mas, antes disso, já existiam 
pesquisadores brasileiros de língua de sinais (BRITO, 1995; FELIPE, 
1998; QUADROS, 1997), discutindo e publicando suas investigações 
sobre esta língua, com o intuito de combater os mitos que havia sobre 
ela. Vejamos cada um destes mitos, bem como as asseverações postula-
das pelos pesquisadores pioneiros no assunto.
Mitos sobre a Libras
A língua de sinais seria uma mistura de pantomima e gesticulação 
concreta, incapaz de expressar conceitos abstratos. As línguas de 
sinais derivam da comunicação gestual espontânea dos ouvintes.
Considerando que a pantomima e a mímica são formas artísticas 
de expressão, elas não podem ser comparadas com a Libras, que é uma 
língua gramaticalmente organizada. Não devemos, também, colocar a 
Libras e os gestos na mesma categoria de análise, pois, apesar de ambos 
serem produções visuais, possuem natureza muito diferente. Os gestos 
são as expressões espontâneas das pessoas, são nossas expressividades 
naturais. Por exemplo, quando colocamos a mão no rosto ou na cin-
tura, cruzamos os braços, apertamos os dedos uns contra os outros ou 
passamos as mãos repetidas vezes no cabelo, estamos produzindo ges-
tos. Diferentemente, para produzirmos a Libras, precisamos passar por 
um processo formal de aprendizagem, pois este sistema linguístico é 
abstrato e não faz parte da nossa expressividade natural – se assim fosse, 
todos seríamos falantes natos da Libras.
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
21
É verdade que a Libras é composta por sinais que representam 
manualmente as formas e os movimentos dos objetos do mundo, como 
os sinais a seguir reproduzidos, porém, eles não são o todo da língua, 
há outros que não tem relação alguma com os objetos da realidade, 
conforme podemos verificar nas ilustrações.
Essa possibilidade de o referente linguístico ter relação com os obje-
tos reais – a iconicidade – também é presente nas línguas orais, como é o 
caso do português. Exemplo disso são as palavras “bem-te-vi” e “bumbo”, 
nome de um pássaro e um instrumento musical, respectivamente, que 
representam o som que reproduzem. O primeiro grupo de sinais é o dos 
chamados icônicos, e o segundo é o dos sinais chamados arbitrários.
SinaiS icônicoS SinaiS arbitrárioS
Passar batom Vencer
1
2
Passar roupa Especial
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
22
SinaiS icônicoS SinaiS arbitrárioS
Pentear o cabelo Perigoso
Escovar os dentes Vingar
Dormir Idade
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
23
SinaiS icônicoS SinaiS arbitrárioS
Lavar roupa Organização
Limpar o chão Sofrer
Varrer Opinar
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
24
É bom ressaltar que os sinais icônicos não são iguais no mundo todo, 
pois a representação que cada falante faz da realidade é diferente, por 
exemplo, o sinal de árvore no Brasil é icônico assim como o é na China. 
A diferença é que aqui representamos o tronco da árvore e o balanço dos 
galhos, enquanto lá se faz apenas o tronco, conforme figuras a seguir:
Árvore
Libras
Árvore
Língua de Sinais Chinesa (CSL)
Só essa informação, de que a iconicidade se realiza de acordo com 
a perspectiva referencial de determinado grupo, já é um forte argumen-
to para combater o mito que aponta que a língua de sinais deriva da 
comunicação gestual espontânea dos ouvintes. Se assim fosse, quando 
um surdo sinalizasse o sinal de árvore para um ouvinte, ele rapidamente 
identificaria o significado, mas, como sabemos, não é isso que ocorre. 
Então, fica refutada a ideia de que os sinais da Libras são extraídos da 
expressividade natural dos ouvintes.
Haveria uma única e universal língua de sinais usada por todas as 
pessoas surdas.
Muitas pessoas pensavam que a Libras seria universal, que os sinais 
eram iguais em todos os países. Contudo, essa afirmação não procede, 
pois se Libras é a sigla da Língua Brasileira de Sinais, podemos concluir 
que, se no nome da língua mencionamos sua nacionalidade, é porque 
existem outras línguas de sinais espalhadas por outros países, tais como: 
Língua Holandesa de Sinais, Língua Francesa de Sinais, Língua Ameri-
cana de Sinais, Língua Alemã de Sinais, entre outras.
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
25
Assim, em cada país, há 
uma língua de sinais especí-
fica, que reflete a cultura da 
nação e daquela comunidade 
surda. E não é só pelo nome 
que entendemos haver uma 
língua de sinais para cada país, 
mas, também, baseando-nos 
na teoria gerativa. Segundo 
essa teoria, todas as línguas, 
inclusive as de sinais, apresen-
tam organização sintática com 
os mesmos princípios comuns à linguagem humana, que são diferentes 
apenas em sua natureza e comportamento. Isso significa que as línguas 
de sinais se diferenciam, como qualquer língua, na sua organização se-
mântica e discursiva para atender a aspectos culturais e ideológicos das 
diferentes comunidades de surdos.
Quando a informação de que a Libras não é universal começou a 
percorrer espaços sociais, muitas vezes, havia um questionamento de 
que seria muito mais fácil para comunicação dos surdos se todos sinali-
zassem da mesma forma. Porém, se estamos entendendo que a língua de 
sinais tem o mesmo valor que a língua oral, então um questionamento 
como este também perde sua validade, já que as línguas orais não são 
iguais e ninguém questiona esses fenômenos. Isso porque sabem que, 
devido às colonizações, houve o alastramento de determinados idiomas 
em determinados lugares. O mesmo aconteceu com as línguas de si-
nais, cada uma tem suahistória linguística. No caso da Libras, ela tem 
sua origem na Língua Francesa de Sinais.
Haveria uma falha na organização gramatical da língua de sinais, 
que seria derivada das línguas orais, sendo um pidgin sem estrutura 
própria, subordinado e inferior às línguas orais.
Algumas pessoas acham que a Libras é derivada das línguas orais e 
é um pidgin sem estrutura própria, subordinada e inferior. Cada uma 
dessas proposições pode ser considerada um mito, pois quando as ana-
lisamos, encontramos conceituação diferenciada para os termos empre-
gados. Por exemplo, por pidgin entendemos a mistura de duas línguas, 
como nas expressões (1) e (2) a seguir exemplificadas. O pidgin é utiliza-
do por pessoas que estão em processo de aprendizagem e necessitam de 
Com a difusão das línguas de sinais pelos 
países, pensou-se em sistematizar uma língua 
de sinais universal chamada “gestuno”, assim 
como aconteceu com o esperanto, que era 
uma forma de comunicação oral que reunia os 
termos comuns na maioria das línguas orais. 
Porém, como não era usado em momentos 
naturais, o gestuno – assim como o 
esperanto – deixou de existir.
Saiba mais
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
26
um recurso emergente de comunicação. Mesmo assim, não considera-
mos o inglês e o português como pidgin.
1. Eu love você.
2. I amo you.
Uma manifestação de pidgin sinalizada é, por exemplo, quando 
uma pessoa está conversando com um surdo em Libras e na ausência 
de um sinal resolve oralizar pausadamente, a fim de que o interlocutor 
o entenda. Essa estrutura se caracterizará por um pidgin, pois houve a 
mistura dos sinais com a voz, da oralidade com a sinalização, da Libras 
com o português. Porém, não é a Libras que é um pidgin, é o seu mau 
uso que pode tornar-se um.
A Libras tem uma estrutura gramatical bastante complexa, por-
tanto, alegar que ela é subordinada à língua oral, além de demonstrar 
o desconhecimento da estrutura linguística, também aponta para uma 
postura altamente preconceituosa. Assim como fazer comparativo de 
superioridade ou inferioridade em relação à língua oral é linguistica-
mente inviável, pois as línguas são apenas diferentes entre si, tem cons-
tituição interna própria.
Na linguística, esse tipo de comparação inexiste, pois nenhum sis-
tema linguístico será mais complexo ou superior a outro, já que todos se 
prestam ao mesmo fim: a comunicação. Nesse sentido, a única compara-
ção permitida entre as línguas e em sua realização é o conhecimento dos 
parâmetros de cada sistema, e não um julgamento de valor. Da mesma 
forma, como há uma conscientização ao cessar do preconceito linguístico, 
isto já é assegurado no campo da linguística e já foi transmitido à socieda-
de, o que falta são algumas tomadas de decisão quanto ao tema. Sabemos 
que não podemos criticar uma pessoa porque ela fala porta acentuando 
o r, como fazem os caipiras, ou ainda porque ela fala bicicreta. Esse jeito 
diferente de falar compõe o idioleto de cada um. Na Libras, isso também 
acontece, cada um sinaliza de um jeito. Podemos admirar uma ou outra 
forma, mas nunca taxarmos como “certa” uma única forma.
A língua de sinais seria um sistema de comunicação superficial, 
com conteúdo restrito, sendo estética, expressiva e linguisticamente 
inferior ao sistema de comunicação oral.
Esse é outro apontamento que não procede às descobertas científi-
cas, mas que muitas vezes é verbalizado por desconhecedores da Libras. 
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
27
Levando em conta que um sistema de comunicação superficial é aquele 
criado para atender a comunicação de máquinas, ou seja, é a linguagem 
de programação, a Libras não se enquadra nesta situação.
Toda língua humana – como a língua de sinais falada pelos surdos 
– atende aos critérios de criatividade, de flexibilidade e de versatilidade. 
Portanto, a Libras não é superficial, é uma língua natural, que emerge 
no seio da comunidade e se transforma ao longo do tempo, é dinâmica e 
com conteúdo absolutamente ilimitado. É possível falar qualquer coisa 
em Libras – desde de que o sinalizante tenha fluência –, pois mesmo não 
havendo palavras comuns entre Libras e português, há possibilidade de 
transmissão do conceito da palavra.
As línguas de sinais, por estarem organizadas espacialmente, esta-
riam representadas no hemisfério direito do cérebro, uma vez que 
esse hemisfério é responsável pelo processamento de informação 
espacial, enquanto que o esquerdo, pela linguagem.
Há pessoas que dizem que as línguas de sinais, por estarem orga-
nizadas espacialmente, estariam representadas no hemisfério direito do 
cérebro, uma vez que este hemisfério é responsável pelo processamento 
de informações espaciais. Pessoas que conhecem, minimamente, o cére-
bro humano, sabem que ele é dividido em hemisfério direito e hemisfé-
rio esquerdo, e que cada um deles tem uma função diferenciada.
Ao hemisfério direito cabem as propriedades para o desenvolvimen-
to musical, artístico, emocional, visual, espacial, matemático e outros. 
No hemisfério esquerdo estão algumas funções mentais como atenção, 
memória e outras, mas, especialmente, é identificada a propriedade lin-
guística. Há, nesse hemisfério, duas áreas responsáveis pelo desempenho 
de uma língua: a área de Broca, que determina a expressividade da fala; e 
a área de Wernicke, que determina a compreensão de uma língua.
Diante disso, há que se pensar onde se localiza a Libras, já que é 
uma língua e que, por isso, basicamente, estaria no hemisfério esquerdo. 
Sua modalidade é espacial e visual, e estas são características alocadas no 
hemisfério direito. Nesse sentido, as considerações que se tinha até então 
eram de que a Libras instalava-se no hemisfério direito, para poder dar 
conta dessa modalidade. O que ocorre, na verdade, é que a função de 
visão do hemisfério direito tem uma característica funcional, serve para 
ver no sentido estrito do termo, assim também como a função do espaço 
deste hemisfério se relaciona à questão geográfica. A partir daí, o cérebro 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
28
detecta que a visão e o espaço serão utilizados pela modalidade linguís-
tica, e então realiza uma transferência hemisferial. Então, no hemisfério 
esquerdo, haverá a visão e o espaço, mas com propriedades distintas, 
agora com função linguística que servirá para “ouvir” e “falar” a Libras.
Essas primeiras pesquisas que se prestaram a desmistificar falsas 
considerações sobre a Libras deram origem a outras. Todas elas, entre-
tanto, emergiram a partir do primeiro trabalho conhecido sobre línguas 
de sinais nos Estados Unidos, de William Stokoe, em 1960. Ele foi o 
primeiro pesquisador a sistematizar a estrutura gramatical de uma língua 
de sinais, mas não foi o primeiro a usar esta forma de comunicação, pois 
antes dele já existiam os abades franceses, que burlavam a lei do silêncio 
que imperava nos mosteiros e conversavam por “códigos visuais”. De-
pois disso, houve um período em que eles – um nome bastante conheci-
do desta época é o Ponce de Leon – se dedicavam à instrução de pessoas 
surdas, então começaram a usar uma língua estruturada para transmitir 
conteúdos científicos e teológicos.
Assim, a comunicação espaço-visual se espalhou pela Europa e, pos-
teriormente, para América, chegando ao Brasil no século XX. Por isso, al-
guns sinais da Libras, da Língua Francesa de Sinais e da Língua Americana 
de Sinais são parecidos. São os chamados cognatos. Assim como existem 
palavras muito semelhantes no português e no inglês (baby e bebê, por 
exemplo), há também algumas semelhanças de vocabulário nas línguas de 
sinais do Brasil, EUA e França. Como exemplo dessa similaridade, cita-
mos os sinais de casa em Libras e na Língua Americana de Sinais:
Casa
Libras
Casa
Língua Americana de Sinais
Capítulo 1 
LínguaBrasileira de Sinais – Libras
29
O que Stokoe e os primeiros linguistas brasileiros fizeram – além 
de mostrar o falseacionismo dos mitos – foi apontar a natureza da Li-
bras como ela é. Fizeram isso utilizando-se da “regra geral” para vali-
dação de que uma língua é língua, através dos universais linguísticos. 
Então, passou-se a mostrar a verdade sobre esse sistema de comunica-
ção espaço-visual.
Verdades sobre a Libras: universais linguísticos
Para uma língua ser considerada língua, ela deve passar por todos 
os testes postulados pelos pesquisadores, deve responder positivamente 
às questões levantadas, e a Libras preenche estes requisitos. Vejamos 
cada um deles.
Onde houver seres humanos, haverá língua(s).
A primeira análise feita para atestar o status linguístico da Libras pau-
tou-se numa simples consideração: a de que onde há seres humanos há 
língua. É impossível negar que um grupo de surdos constitui-se como um 
grupo de seres humanos, portanto, isto reitera a existência de uma língua.
Não há línguas primitivas – todas as línguas são igualmente com-
plexas e igualmente capazes de expressar qualquer ideia. O vocabu-
lário de qualquer língua pode ser expandido a fim de incluir novas 
palavras para expressar novos conceitos.
Ao aproximar-se da língua usada pelo grupo de surdos, percebe-se 
que, apesar de se apresentar numa modalidade diferente das línguas 
orais, ela não pode ser considerada como uma língua primitiva, pois 
todas as línguas são igualmente complexas e igualmente capazes de ex-
pressar qualquer ideia. Assim também acontece com o vocabulário das 
línguas orais e sinalizadas que, como o de qualquer língua, pode ser ex-
pandido a fim de incluir novas palavras para expressar novos conceitos. 
No português, por exemplo, as palavras são incorporadas ao sistema 
linguístico de um modo geral, com empréstimos linguísticos vindos 
do sequente aportuguesamento destes termos ou, ainda, por meio da 
inclusão de palavras novas ao repertório individual.
Quanto aos empréstimos linguísticos da Libras, destacamos inicial-
mente o alfabeto manual. Ele é, na verdade, um recurso paliativo, usado 
apenas para se referir a nomes próprios e a objetos que não tenham um 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
30
sinal conhecido na Libras. Os surdos representam por meio das mãos as 
letras do alfabeto português, no caso do Brasil. Em outros países, essa 
representação é feita de acordo com o alfabeto do idioma local. A letra 
“T”, às vezes, pode ser sinalizada de um jeito no Brasil e de outro nos 
Estados Unidos. Além disso, vale ressaltar que esse recurso é externo à 
Libras, ele é considerado como um empréstimo da língua portuguesa, 
portanto, quando a pessoa está usando o alfabeto manual, deixa de usar 
a Libras e faz uma transferência de código, passa a fazer uso do portu-
guês. Por isso, devemos ter muita cautela para usá-lo. É preferível fazer 
um sinal sinônimo a “escrever” a palavra a que se deseja fazer referência, 
pois os surdos não se relacionam com a língua portuguesa como nós nos 
relacionamos. Há toda uma dificuldade que se coloca a eles, pois são 
usuários de uma língua espacial e visual, enquanto precisam aprender 
uma língua oral e auditiva. Posteriormente, explicaremos com mais de-
talhes a questão de o português ser uma segunda língua para os surdos.
Figura 1 Alfabeto manual.
a
f
l
r
x
g
m
s
y
h
n
t
z
i
o
u
j
p
v w
k
q
b c ç d e
O alfabeto manual pode ser sinalizado com qualquer uma das 
mãos, desde que não alternadamente, então, se há preferência pela mão 
esquerda, a palavra toda deve ser sinalizada com a esquerda, e não uma 
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
31
letra com cada mão. Normalmente, se escreve com o braço na vertical, 
bem próximo ao tronco, e as letras são feitas uma após a outra, sem 
necessariamente tirar a mão do lugar.
Para os nomes de pessoas e lugares, é comum os surdos pedirem 
que se escreva a palavra com o alfabeto manual, mas, na sequência, eles 
criam um sinal que será usado dali para frente. Então, a digitalização 
da palavra passará a ser dispensável das próximas vezes, pois a realização 
do sinal vai remeter ao sentido e ao conceito. Caso seja necessário es-
crever mais de uma palavra (nome completo ou palavra composta, por 
exemplo), deve-se fazer uma palavra numa sequência rítmica e dar uma 
pausa na última letra para, então, iniciar a nova série de letras que serão 
feitas com o mesmo ritmo.
Além disso, há também a possibilidade de representação dos acen-
tos das palavras (^, ~, `, ´) por meio de desenho no ar com o dedo indi-
cador. O desenho no ar é feito em um ponto acima de onde se escreveu 
inicialmente, e deve ser feito antes da letra que receberá o acento, por 
exemplo: JOS´E. O mesmo processo ocorre com a produção dos nú-
meros da Libras, os quais estão reproduzidos a seguir:
Figura 2
0
5
1
6
2
7
3
8
4
9
Ainda com relação ao alfabeto manual, devemos ressaltar que dele 
são extraídos os outros empréstimos linguísticos da Libras. Um emprés-
timo linguístico é uma palavra original de um idioma que passa a fa-
zer parte do repertório de um grupo de falantes de outro idioma. No 
português, há muitos exemplos de palavras que não compunham nosso 
verbete e que passaram a fazer parte de nossa fala, por meio da internet, 
pela globalização, ou outros motivos. Na língua portuguesa há muitas 
expressões americanas, francesas, indígenas, que são usadas pelos falantes 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
32
normalmente. Exemplos desses empréstimos são as palavras: stress, delete, 
abajur, diet, ligth, shampoo, lingerie, entre outras.
Os empréstimos linguísticos na Libras ocorrem mediante processo de 
aceleração da escrita do alfabeto manual e, algumas vezes, pela supressão 
de uma das letras.Veja um exemplo de empréstimo linguístico da Libras:
Bar
Em se tratando de termos técnicos e científicos, podemos destacar 
que são criados de acordo com a necessidade. É o caso de quando entra-
mos na faculdade, há uma “enxurrada” de palavras novas as quais não uti-
lizávamos antes, como os termos “paradigma”, “piagetiano”, “demanda 
de mercado”, “psicanálise”, “biomorfologia”, “léxico”, “sintático”, “prag-
mática”, etc. Na língua de sinais, isso ocorre da mesma maneira. Os sur-
dos têm a capacidade de inserir em sua língua palavras novas conforme a 
necessidade. Daí surgem os novos sinais, como os expostos a seguir:
Neurose Mídia
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
33
Ambiente virtual de aprendizagem Condicionamento
Todas as línguas mudam ao longo do tempo.
Podemos verificar que não há permanência vocabular e nem estru-
tural em nenhuma língua, e isto implica dizer que as línguas mudam 
ao longo do tempo. Assim como ocorreu com o vocábulo vossa mercê, 
que passou para vos mice, depois para você e hoje é comumente trata-
do por cê ou vc. Na língua de sinais, isso também acontece.
Os sinais que exigem muito “trabalho” para serem realizados sofrem 
uma economia produtiva e passam a ser realizados de maneira mais sim-
plificada. É o caso, por exemplo, do sinal mulher, que era realizado com 
ambas as mãos postas próximas à cabeça, numa imitação de colocar o 
chapéu. Então descia do rosto em direção ao pescoço, onde era encer-
rado com um movimento que imitava o lançar, o amarrar. Atualmente, 
esse sinal preserva apenas o trajeto do rosto ao pescoço, é sinalizado 
conforme imagem a seguir, passando o polegar na bochecha.
Mulher
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
34
As relações entre sons e significados das línguas faladas e entre ges-
tos (sinais) e significados das línguas de sinais são, em sua maioria, 
arbitrárias.
As palavras e sinais apresentam uma conexão arbitrária entre forma 
e significado,visto que, dada a forma é possível prever o significado, e 
dado o significado é possível prever a forma. Os símbolos utilizados pe-
las línguas são arbitrários. Podemos constatar que não há uma relação 
intrínseca entre a palavra cão e o animal que ele simboliza. Quadros e 
Karnopp (2004) apontam ainda que, a característica de arbitrariedade 
das línguas não se restringe à ligação entre forma e significado, mas 
aplica-se também à estrutura gramatical das línguas, pois elas diferem 
umas das outras. Isso pode ser constatado na dificuldade em aprender 
uma língua estrangeira, pois é um sistema distinto do que estamos ha-
bituados a usar.
Toda língua falada inclui segmentos sonoros discretos, como “p”, 
“n”, ou “a”, os quais podem ser definidos por um conjunto de pro-
priedades ou traços. Toda língua falada tem uma classe de vogais e 
uma classe de consoantes. Línguas de sinais apresentam segmentos 
discretos na composição dos sinais.
Assim como as línguas orais apresentam segmentos sonoros dis-
cretos (p, n, a), as línguas de sinais, igualmente, apresentam segmentos 
discretos na composição dos sinais. Ainda com relação a isso, Quadros 
e Karnopp (2004) apontam que há, em todas as línguas, a característica 
da dupla articulação. Tal característica significa que existe uma gama de 
unidades que são semelhantes, em torno de trinta ou quarenta, mas que 
cada fonema normalmente não tem significado quando está isolado, 
mas ganha um significado quando é combinado com outras unidades 
mínimas. Por exemplo, os sons de f, g, d, o e a não tem um significado 
expresso, porém, quando os combinamos de diferentes maneiras, pode-
mos encontrar significados. É o caso, por exemplo, de fogo, dado, gado, 
fado. Tal organização de língua em duas camadas, camada de sons que 
se combinam e camadas de unidades maiores, expressa a característica de 
dualidade ou dupla articulação comum às línguas orais e sinalizadas.
Universais semânticos, como fêmea ou macho, são encontrados em 
todas as línguas.
Há ainda outra característica encontrada em línguas orais que se manifes-
tam também nas línguas sinalizadas, é a característica de descontinuidade.
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
35
Tal fenômeno está em oposição à variação contínua, isto significa 
que as palavras podem diferir de maneira mínima na forma, mas apre-
sentam diferença considerável no significado. É o caso das palavras faca 
e fada, que são escritas e faladas de maneiras diferentes. Esse fenômeno 
demonstra a característica de descontinuidade da diferença formal en-
tre forma e significado.
Todas as línguas possuem formas para indicar tempo passado, ne-
gação, pergunta, comando, etc. Todas as línguas apresentam cate-
gorias gramaticais (ex: substantivo, verbo).
As línguas não se fixam apenas nos parâmetros fonológicos, pois 
tanto línguas orais como sinalizadas apresentam categorias gramaticais 
(substantivo, verbo e outros), bem como universais semânticos tais 
como a distinção fêmea/macho.
No concernente à sintaxe, sabemos que tanto as línguas orais 
quanto as de sinais podem fazer referência ao passado, presente e fu-
turo, a realidades remotas ou, ainda, a coisas que não existem e que os 
falantes de todas as línguas são capazes de produzir e compreender em 
um conjunto infinito de sentenças.
Quadros e Karnopp (2004) apontam que essa flexibilidade e ver-
satilidade é uma característica comum a todas as línguas, pois podemos 
usar a língua para dar vazão às emoções e sentimentos, para fazer solici-
tações, para fazer ameaças, promessas, ordens, perguntas ou afirmações.
Todas as línguas humanas utilizam um conjunto finito de sons dis-
cretos (ou gestos) que são combinados para formar elementos sig-
nificativos ou palavras, os quais, por sua vez, formam um conjunto 
infinito de sentenças possíveis. Todas as gramáticas contêm regras 
de um tipo semelhante, para formação de palavras e sentenças.
A criatividade e a produtividade são apontadas por Quadros e Karnopp 
(2004) como propriedades que possibilitam a construção e a interpre-
tação de novos enunciados. Todos os sistemas linguísticos têm a possi-
bilidade de construção e compreensão de um número infinito de enun-
ciados, sendo assim, os falantes têm a liberdade de agir criativamente.
Falantes de todas as línguas são capazes de produzir e compreender 
um conjunto infinito de sentenças. Universais sintáticos revelam 
que toda língua possui meios de formar sentenças.
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
36
Assim, revela-se a criatividade que o falante tem para inventar no-
vas palavras e de ter um estilo próprio de fala. Isso ocorre com a Libras, 
pois, mesmo cada país adotando uma língua de sinais própria, não é 
possível estabelecer uma homogeneidade linguística por todo seu ter-
ritório nacional. Sempre que houver a reunião de um grupo de sinali-
zadores, haverá abertura para criação de novos falares ou modificação 
nos falares produzidos, e todos esses novos modos serão carregados de 
peculiaridades da região onde o grupo está localizado.
Esses modos distintos na fala de cada região são os chamados dia-
letos, que existem não só na Libras, mas em todas as línguas de sinais 
e orais, como ocorre com o português, por exemplo, nas palavras ma-
caxeira, aipim e mandioca, que se prestam a designar a mesma coisa. 
Vejamos um exemplo do regionalismo da Libras nas imagens a seguir. 
Trata-se de três sinais diferentes que se referem à palavra verde, nas 
cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba, respectivamente.
Fonte: imagens adaptadas de Strobel e Fernandes (1998).
Podemos, assim, perceber que a Libras é bastante complexa em sua 
estrutura gramatical e que, por meio dela, é possível conversar sobre diver-
sos assuntos, inclusive utilizar-se de diferentes estilos de fala em diferentes 
ocasiões. Então, o modo de sinalizar é diferente se o interlocutor for uma 
autoridade ou se forem colegas na rua, e estes diferentes registros discursi-
vos são manifestados por meio da velocidade dos movimentos e do espaço 
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
37
utilizado para sinalização. Se o surdo quer ser bastante formal em sua fala, 
provavelmente usará o espaço a frente do seu corpo com certo limite. O 
espaço para sinalização se inicia acima do quadril, vai até a cabeça e não se 
estende muito para os lados. Porém, se o contexto de fala é informal, ele 
sinalizará com muita expressão facial, com os braços bastante alargados e, 
provavelmente, vocalizará alguns sons. Dessa forma, podemos ver como é 
possível o falante de Libras transitar entre diferentes estilos discursivos.
Quando os ouvintes veem os surdos conversando, na grande maio-
ria, elas têm a impressão de que estão brigando, pois sinalizam mui-
to rápido e tem bastante expressividade. O fato é que os surdos estão 
tendo uma conversa como outra qualquer. Essa impressão equivocada 
ocorre porque as pessoas não sinalizantes deixam de considerar que, 
quando estamos conversando, também falamos muito rápido, e isto 
ocorre da mesma forma com o surdo.
Ao articular os fonemas da nossa língua portuguesa – um após o 
outro –, não nos damos conta de que são produzidos juntos, ou seja, 
todas as palavras se ligam entre si na constituição da frase e do discurso. 
Assim também acontece na comunicação em Libras. Os surdos sina-
lizam rapidamente um sinal após o outro, sem significar uma briga, 
mas uma fala normal. Além disso, quando nós estamos em contextos 
informais, também falamos muito alto e somos extravagantes. Os sur-
dos igualmente agem assim. Ampliam os movimentos dos sinais, tem 
o espaço de sinalização bastante elevado e produzem muita expressão 
facial. No entanto, isso não denota agressividade ou briga por parte 
deles, mas o “tom” elevado da fala.
Esse dado reitera que a Libras é uma língua que, inclusive, contém 
marcas de formalidadee de informalidade, pois tem tanta completude 
que possibilita ao falante fazer escolhas diferenciadas de sinais, de acor-
do com os tipos de situações experimentadas.
Qualquer criança, nascida em qualquer lugar do mundo, de qual-
quer origem racial, geográfica, social ou econômica, é capaz de 
aprender qualquer língua à qual é exposta.
Um fenômeno elucidativo sobre esse assunto é quando as crian-
ças surdas estão aprendendo a Libras. Inicialmente, elas aprendem 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
38
as unidades mínimas de maneira isolada, como fazem as crianças 
ouvintes, que começam a balbuciar “aaaaa”, depois “babababa”, até 
formar palavras completas. Isso também ocorre com as crianças sur-
das. Tomamos como exemplo uma criança quando estava com dois 
anos e, em diálogo com a mãe, começa a aprender o sinal de sorrir 
(conforme figura a seguir). A mãe ensina, inconscientemente, cada 
um dos três parâmetros – que são a configuração de mão, a locali-
zação e o movimento –, e a criança imita corretamente a localização 
e o movimento, porém, não consegue reproduzir da mesma forma a 
configuração de mão. A mãe age com um input favorável, fazendo a 
intervenção devida. Toca no filho e ajeita sua mão para que realize o 
sinal de forma correta. A criança gosta do sinal, sorri quando a mãe a 
repreende pelo mau jeito na realização do sinal, mas tem dificuldade 
para fazer a configuração apresentada. Solicita à mãe por várias vezes, 
para que a auxilie, até que aprende os três parâmetros e consegue rea-
lizar com precisão o sinal de sorrir.
Esse jogo discursivo, além de mostrar a importância do adulto no 
contexto de aquisição da linguagem, a qualidade do input e outros, nos 
aponta para uma característica das línguas humanas, presente, igual-
mente, na Libras: a regularidade. Conforme já apresentamos, as línguas 
humanas – e, portanto, a Libras também – têm parâmetros de realiza-
ção que não podem ser alterados para sua efetiva comunicação. Assim, 
há exigência de que os elementos fonológicos sejam adequadamente 
produzidos na realização dos sinais.
Capítulo 1 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
39
Da teoria para a prática
Para aderir à ideia da diversidade linguística em sala de aula, o 
professor pode colar cartazes pela sala com o alfabeto manual e com 
os números. Então, pode colocar algumas perguntas no quadro e pro-
mover que dois alunos participem: um pergunta e o outro responde, 
utilizando as letras manuais.
Perguntas:
Qual é o seu nome? ●
Qual é o seu sobrenome? ●
Quantos anos você tem? ●
Qual é o nome da sua rua? ●
Qual é o nome do seu bairro? ●
Qual é o nome da cidade em que você mora? ●
Qual o nome da sua mãe? ●
Qual a idade da sua mãe? ●
Qual o nome do seu pai? ●
Qual a idade do seu pai? ●
Qual o nome dos seus irmãos? ●
Síntese
Neste capítulo, tratamos das definições preliminares e apresenta-
mos ao leitor a fase histórica pela qual a sociedade está passando, a cha-
mada inclusão. Explicamos que, nessa fase, os paradigmas sobre a pes-
soa surda e sua língua passaram por reformas não só no que se refere à 
terminologia – surdo e Libras –, mas na forma de relacionamento com 
esta nova realidade. Muito mais do que saber a forma de tratamento 
dessas questões, é preciso que haja um desprendimento para aprender a 
se comunicar e se relacionar com os surdos. Isso pode se dar por meio 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
40
do alfabeto manual, dos empréstimos linguísticos, de um jeito mais 
informal ou por meio de leituras e pesquisas linguísticas.
Nesses termos, percorremos com o leitor o mesmo percurso ado-
tado no processo de valoração da Libras, pois, para que houvesse todo 
o reconhecimento social e acadêmico que hoje existe quanto ao status 
desta língua, foi preciso muito esforço para desmitificar os mitos que 
havia, assim como foi preciso arrolar alguns pressupostos universais na 
análise desta modalidade expressiva. Atualmente, os surdos foram brin-
dados com a oficialização da sua língua por determinação legal. Dessa 
forma, as pesquisas não mais se prestam a “comprovar” que a Libras 
é uma língua, mas já podem se focar em conhecer o comportamento 
de uma língua espaço-visual e tecer análise gramatical sobre ela, o que 
faremos no próximo capítulo.
Glossário
Input 
É o sinônimo para estímulo linguístico, ou seja, todas as influências 
verbais que são dadas às crianças quando estão aprendendo a falar.
Output 
É a forma como a criança expressa o input que recebeu, é o que ela 
consegue falar.
Pidgin 
É um sistema de comunicação precário. É uma língua emergencial, 
porque aparece em situações extremas de barreiras à comunicação 
(MCCLEARY, 2008, p. 21).
41
Todo sistema linguístico é organizado em níveis de análise, sen-
do os principais: o fonológico, que se ocupa em estudar as unidades 
mínimas da composição das palavras; o morfológico, que se ocupa com 
as escolhas das palavras; o sintático, que se ocupa em organizar as pala-
vras na frase; e o semântico, que busca a relação das palavras e o sentido 
que elas têm. Neste capítulo, apresentaremos cada um destes aspectos 
linguísticos relacionados à Libras.
Aspectos fonológicos
É no nível fonológico que se encontram as considerações acerca 
dos fonemas – conceituados como unidade mínima do som. Nesse sen-
tido, não caberiam considerações fonológicas para a Libras, já que ela 
é uma língua espaço-visual que não tem som. Para resolver tal impasse, 
Stokoe empregou a terminologia “querema”, ao invés de fonema, para 
o estudo das unidades mínimas da língua de sinais. Porém, atualmente, 
os pesquisadores de língua de sinais abandonaram o termo, por enten-
der o apontamento de Saussure (1970) quanto a isto. Para o pai da lin-
guística, a forma do significante refere-se a uma imagem acústica con-
vencional, abstraída de realizações fonéticas concretas e infinitamente 
variáveis; definição que torna o conceito suficientemente abstrato para 
abranger não apenas representações psíquicas de sons, mas também de 
gestos (LEITE, 2008). Assim, quando nos referirmos aos fonemas, es-
tamos fazendo menção às unidades mínimas que compõem a língua.
Além dos fonemas, as línguas naturais também são compostas por 
morfemas e palavras, e estas duas articulações – fonemas e morfemas – é 
que norteiam a dupla articulação apontada por Martinet (1978). Esse 
linguista diz que todas as línguas humanas possuem a dupla articulação. 
Por dupla articulação, entendemos um plano de conteúdos (composto 
Estrutura 
gramatical da 
Libras 2
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
42
por morfemas e palavras) e um plano isento de conteúdos (composto 
por fonemas). É bom lembrar que ambas as articulações são restritas nas 
línguas naturais, mas que sua combinação pode originar um número 
irrestrito de possibilidades significativas. Como a Libras é uma língua 
natural, também é composta pela dupla articulação.
Podemos constatar tal fenômeno, conforme Leite (2008), por meio 
da junção das articulações dos fonemas. Limitando-nos inicialmente 
à segunda articulação – fonemas –, vemos que Stokoe (1960) propôs 
três componentes da estrutura interna dos sinais: configuração de mão 
(CM), localização (L) e movimento (M). Isoladamente, esses parâme-
tros não têm conteúdo significativo (capaz de compor significação), 
porém, quando os unimos, podemos formar conteúdos irrestritos.
Ônibus
Configuração de mão
Movimento
Localização
O mesmo fenômeno ocorre com os sinais: avião e carro.
Carro
Configuração de mão
Movimento
Localização
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
43
Avião
Configuração de mão
Movimento
Localização
Mesmo percebendo que, isoladamente, os parâmetros não trans-
mitem significado, analisaremos cada um deles em sua composição, a 
fim deentendermos melhor a formação dos sinais.
Configuração de mão
O primeiro parâmetro – configuração de mão – refere-se à forma 
que a mão assume na realização do sinal. Algumas dessas configurações 
de mão correspondem às letras do alfabeto manual, mas não se restrin-
gem a elas. Para as configurações de mão da Libras temos o quadro de 
Brito (1995), que registra 46 configurações diferentes.
Quadros e Karnopp (2004), por sua vez, apontam que essas con-
figurações de mão são representações do sistema fonético da língua, 
considerando a inexistência de identificação quanto às configurações 
de mão básicas e às configurações de mão variantes.
Já em Felipe (2001), conforme podemos verificar na figura a 
seguir, encontramos 64 configurações de mão. Essas configurações 
podem dar origem a sinais da Libras se forem produzidas apenas com 
uma mão, com as duas mãos produzindo configurações de mão di-
ferentes ou, ainda, com as duas mãos, mas ambas com configurações 
de mão iguais.
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
44
Figura As 64 configurações de mão da Libras.
Fonte: adaptado de Felipe (2005).
A fim de elucidarmos as possibilidades de formação de sinal a par-
tir da configuração de mão, expomos alguns exemplos a seguir.
Configuração de mão com apenas uma mão: este é o tipo de 
sinal que pode ser produzido com qualquer uma das mãos, pois o seu 
sentido não será alterado.
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
45
Aluno Professor
Lápis Caneta
Cola Tesoura
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
46
Vestibular
 
ou
 
Português
Ciências História
Uniforme Educação
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
47
Duas configurações de mão diferentes.
Curso Pós-graduação
Mestrado Educação artística
Estudos sociais Intervalo
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
48
Redação Apontador
Atendo-nos ao primeiro sinal, vemos que nesse tipo de constru-
ção a primeira configuração de mão é a base que se forma em b, e a 
mão ativa se forma em c. Em outros casos parecidos com esse, outras 
configurações de mão poderão ser realizadas, mas a ordem de predo-
minância será mantida, ou seja, uma mão será a base e a outra ativará 
o movimento.
Sobre a realização de um sinal que contém duas configurações de 
mão diferentes, e que realiza movimentos apenas com uma das mãos, 
encontramos em Battison (1974) duas restrições, que limitam consi-
deravelmente as possibilidades articulatórias dos sinais. A primeira é 
a condição de dominância, e a segunda é a condição de simetria. Por 
condição de dominância o autor entende a ocorrência de sinais nos 
quais uma das mãos assume o papel ativo e, a outra, um papel passivo. 
A mão passiva, nesse caso, serve de base, de apoio para a realização 
do movimento da mão ativa. Antes de falarmos sobre a condição de 
simetria, vejamos a realização de um sinal com as duas configurações 
de mão iguais.
Duas configurações de mão iguais: sinais desta natureza são for-
mados por duas configurações de mão iguais. É o caso dos sinais apre-
sentados a seguir, que se realizam com ambas as mãos moldando-se 
com a mesma configuração de mão e com a realização de um movimen-
to simultâneo e simétrico.
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
49
Sala Geografia 
Caderno Régua
Mochila Prova
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
50
Matemática Educação física
Química Nota
1 2
 
Dividir Multiplicar
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
51
Retomando as restrições articulatórias de Battison (1974), temos 
que, em casos de sinais como os que mostramos, em que as duas 
mãos estão ativas e realizam o mesmo movimento, há a condição de 
simetria estabelecida.
Locação
O segundo parâmetro – a locação – refere-se ao espaço onde o 
sinal será realizado, podendo ser no próprio corpo do sinalizador ou no 
espaço neutro (espaço “vazio” a frente do corpo do sinalizador, precisa-
mente entre a cabeça e o quadril), conforme imagens a seguir.
Sinalização no espaço neutro:
Tartaruga Hipopótamo
Foca Mosca
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
52
Urso Jacaré
Peixe Borboleta
Há, conforme Brito (1995), três pontos principais de locação, a 
saber: cabeça, tronco e mão. Dentro desses pontos principais estão as 
subdivisões, tais como os exemplos que seguem.
Subdivisões dos principais pontos de locação:
Macaco
Sinal com locação na cabeça
Boi
Sinal com locação na testa
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
53
Galinha
Sinal com locação no rosto
Rato
1
2
Sinal com locação na bochecha
Papagaio
Sinal com locação no queixo
Pato
Sinal com locação na boca
Cobra
Sinal com locação no pescoço
Coruja
Sinal com locação nos olhos
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
54
Porco
Sinal com locação no nariz
Sapo
Sinal com locação no braço
Dinossauro
Sinal com locação na mão
Zebra
1
2
Sinal com locação no tronco
Movimento
Movimento, o terceiro – e principal – parâmetro, é bastante com-
plexo, considerando sua vastidão de possibilidades. Em Strobel e Fer-
nandes (1998), vemos que os movimentos podem ser do tipo sinuoso, 
semicircular, circular, retilíneo, helicoidal e angular, sendo possível pro-
duzi-los de forma unidirecional, bidirecional ou multidirecional. Além 
disso, eles podem ser produzidos com diferentes tensões, velocidades e 
frequências. Apresentamos a seguir alguns exemplos de sinais produzi-
dos com diferentes tipos de movimento.
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
55
Espelho
Movimento sinuoso
Telhado
1
2
Movimento sinuoso
Xícara
Movimento semicircular
Porta
2
1
Movimento semicircular
Jardim
2
1
Movimento circular
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
56
Cerca
1
 
2
Movimento retilíneo
Liquidificador
Movimento helicoidal
Eletricidade
Movimento angular
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
57
O primeiro, o segundo e o terceiro parâmetro, quando associados, 
podem formar muitos sinais da Libras e, às vezes, estes sinais se distinguem 
por alteração apenas em um dos parâmetros. Nesses casos, ocorre um fenô-
meno presente também nas línguas orais: os pares mínimos. No português, 
os chamados pares mínimos podem ser exemplificados pelas palavras faca e 
vaca, em que há apenas uma sutil diferença na pronúncia dos fonemas f e 
v. Na Libras, temos muitos casos como estes. Citemos alguns:
Laranja / sábado Aprender
Cantar Comunicar
Além desses parâmetros, destacamos a orientação de mão e as ex-
pressões não manuais. A orientação de mão é a direção que a palma da 
mão assume na realização do sinal. A palma da mão pode estar voltada 
para cima, para baixo ou para o corpo de quem sinaliza, para fora, para 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
58
a esquerda e para a direita. Apresentamos a seguir alguns exemplos de 
sinais produzidos com diferentes orientações para o sinal de ir.
Ir da direita para a esquerda. Ir da esquerda para a direita.
Ir de trás para frente. Ir de frente para trás.
As expressões não manuais, conforme Quadros e Karnopp (2004), 
referem-se às expressões faciais e aos movimentos do corpo produzidos 
durante a realização do sinal. Esses movimentos também podem ser reali-
zados isoladamente para marcar construções sintáticas – marcar sentenças 
interrogativas; relativas; concordância; tópico e foco; referência específica; 
referência pronominal; negação; advérbios; grau ou aspecto, bem como 
para marcar afetividades, assim como ocorre nas línguas naturais. As ex-
pressões faciais não são recursos adicionais ou dispensáveis na Libras, mas, 
sim, obrigatórias nasconstruções sintáticas. A seguir, exemplos de sinais 
isolados com expressão facial, já que neste momento não abordaremos a 
construção das frases.
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
59
Bravo Triste
Feliz Cansado
Bondoso
Humilde
ou
 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
60
Esquisito Tímido
Calmo
Inocente
 
ou
 
Doido Esnobe
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
61
Vaidoso Chato
Chorão Tarado
Podemos perceber que a realização desses sinais fica condiciona-
da ao uso das expressões faciais, até por uma questão de coerência, 
pois não seria muito lógico produzir o sinal de triste com um sorriso 
no rosto ou, então, o sinal de feliz com uma expressão de cansaço e 
tristeza. Certamente, nosso interlocutor questionaria nossa produção 
e precisaríamos definir qual a mensagem a transmitir: a do rosto ou 
a das mãos. Isso porque há sinais produzidos apenas com a expressão 
facial, com a dispensa de qualquer realização manual. Na Libras, há 
dois tipos de expressões faciais: as que se prestam a marcar argumen-
tos gramaticais e as que são de cunho afetivo. Neste texto, abordare-
mos apenas o primeiro tipo e, como exemplo, vejamos os sinais de 
roubar e sexo:
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
62
Roubar Sexo
Assim sendo, passemos a algumas considerações teóricas quanto à 
morfologia e à sintaxe da Libras.
Aspectos morfológicos da Libras
Se estivermos entendendo que o nível morfológico é aquele que 
compreende o trabalho de seleção das palavras, se faz necessário, pri-
meiramente, definirmos o que entendemos por palavra. Segundo San-
dalo (2001, p. 183), “palavra é a unidade mínima que pode ocorrer 
livremente em várias posições sintáticas”.
Entretanto, dentro das palavras, há elementos que carregam sig-
nificado. Esses elementos, chamados de morfemas, é que são as unida-
des mínimas da morfologia (SANDALO, 2001). Na Libras, conforme 
Felipe (1998), os parâmetros fonológicos também podem ser compa-
rados a morfemas, pois, às vezes, eles apresentam significado isolada-
mente. Assim como ocorre com o português, os fonemas podem ter a 
natureza de um morfema, por exemplo, os fonemas /a/ e /o/ podem 
ser artigos ou desinências de gênero, assim como o fonema /s/ pode 
indicar o plural.
Do mesmo modo, na Libras, determinada configuração de mão, 
por exemplo, pode constituir um morfema. A seguir ilustramos alguns 
sinais que podem ser considerados morfemas.
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
63
Dois meses Três meses
Quatro meses Um dia
Dois dias Três dias
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
64
Uma semana Duas semanas
Três semanas
Vemos que, nesses sinais, as configurações de mão carregam o 
significado do numeral. Nesse caso, elas constituem um morfema pre-
so, ou seja, não podem ocorrer isoladamente, mas somente com os 
morfemas que indicam os meses, os dias e as semanas (QUADROS; 
KARNOPP, 2004).
Em alguns sinais, no entanto, os parâmetros – isoladamente – não 
constituem morfemas, mas, quando articulados juntos, resultam em 
uma unidade com significado. Os sinais reproduzidos na sequência são 
exemplos de que a articulação conjunta de cada um dos parâmetros é 
que forma o significado.
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
65
Ontem Hoje
Amanhã Passado
Futuro Ano
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
66
Percebemos que a configuração de mão, o movimento, a loca-
ção e a orientação constituem um único morfema, nesse caso, um 
morfema livre. Ainda, de acordo com Brito (1995), há na Libras 
morfemas lexicais (o sinal de sentar, por exemplo) e morfemas gra-
maticais (movimento).
Dadas as primeiras definições, passemos às considerações dos pro-
cessos de formação e classificação de palavra (BRITO, 1995; FELIPE, 
1998; QUADROS; KARONOPP, 2004; LEITE, 2008). Um dos pro-
cessos de formação de palavras é por meio da incorporação de numeral 
e de negação. No caso da incorporação de numeral, a configuração 
de mão que representa o numeral se combina com outro morfema 
preso para formar um sinal, em que apenas a configuração de mão se 
modifica. Como já discutimos acerca desse ponto quando exploramos 
a constituição de sinais que representam morfemas, passemos a discus-
são da incorporação da negação.
Nesse processo, um dos parâmetros do sinal é alterado, em espe-
cial o parâmetro do movimento. Em alguns casos, altera-se somente 
a expressão facial do sinalizador. A seguir vemos o contraste entre os 
sinais dos verbos e a formação de palavras de negação, via alteração de 
movimento e via alteração da expressão facial.
Ter Não ter
Parâmetro movimento alterado
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
67
Saber
1
2
Não saber
Parâmetro movimento alterado
Gostar Não gostar
Parâmetro movimento alterado
Querer Não querer
Parâmetro movimento alterado
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
68
Poder Não poder
Parâmetro configuração de mão 
alterado
Conhecer Não conhecer
Parâmetro expressão facial alterado
Entender Não entender
Parâmetro expressão facial alterado
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
69
Precisar Não precisar
Parâmetro expressão facial alterado
Aceitar Não aceitar
Parâmetro expressão facial alterado
Além desses processos morfológicos que caracterizam formação de 
palavras, a negação também pode ser formada pela adjunção do sinal 
não ao respectivo sinal, conforme exemplos:
Não responder
 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
70
Não sofrer Não terminar
 
Não resolver
Há, ainda, outro processo morfológico que acontece pela com-
binação de dois morfemas lexicais, resultando em uma composição. 
Vejamos nos exemplos a seguir que um sinal pode ser formado por dois 
sinais independentes que se unem para formar uma palavra composta.
Casa + cruz = igreja Casa + estudar = escola
 
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
71
Casa + carne = açougue
1
2
Casa + pão = padaria
Boi + leite = vaca
1
2
Cavalo + listras = zebra
1
2
Mulher + cruz = enfermeira Mulher + benção = mãe
2
1
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
72
Homem + benção = pai
 
Espaço redondo + lavar corpo = 
banheira
22
1
O mesmo processo morfológico ocorre em relação à formação de 
palavras que denotem gêneros, por meio da combinação de dois morfe-
mas lexicais, um que se refere ao elemento morfológico neutro e outro 
que se refere à marcação de gênero. Isso significa que, na Libras, o gê-
nero é dado pelo processo de composição morfológica.
Homem + cunhado(a) = cunhado
2
1
Mulher + cunhado(a) = cunhada
2
1
Homem + sogro(a) = sogro
2
1
Mulher + sogro(a) = sogra
2
1
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
73
Homem + primo(a) = primo
1
2
Mulher + primo(a) = prima
1
2
Homem + tio(a) = tio
 
Mulher + tio(a) = tia
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
74
Homem + irmão(ã) = irmão
 
Mulher + irmão(ã) = irmã
 
Homem + sobrinho(a) = sobrinho Mulher + sobrinho(a) = sobrinha
Capítulo 2 
Língua Brasileira de Sinais – Libras
75
Não obstante, a formação de palavras que denotam “categorias” tam-
bém passa pelo processo de composição, conforme exemplos a seguir.
Maçã + vários = frutas
1
2
Alface + vários = verduras
1
2
Arroz + vários = cereais
2
1
Leão + vários = animais
Batata + vários = legumes
Língua Brasileira de Sinais – Libras
FAEL 
76
Com relação à classificação das palavras, o que sabemos é que um 
nome pode derivar de um verbo por meio da repetição e do encurta-

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