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Apg 2 e 3 – Hipertensão Arterial Objetivos: 1- Compreender a fisiopatologia e os fatores de risco da HAS; 2- Identificar as categorias da hipertensão arterial e exames de diagnóstico 3- Compreender as consequências morfológicas e histológicas da HAS a longo prazo; (remodelação) 4- Explicar as principais complicações causadas pela HAS; 5- Entender a importância da adesão ao tratamento da HAS. Fisiopatologia A hipertensão se refere a uma condição prolongada de elevação da pressão arterial no interior da circulação arterial. A hipertensão é um fator de risco primário para doenças cardiovasculares e uma causa líder de morbidade e mortalidade em todo o mundo. Etiologia e patogênese A hipertensão é amplamente classificada, com base na etiologia, como hipertensão primária (essencial) ou hipertensão secundária. A hipertensão primária (essencial) se refere à presença clínica de hipertensão sem evidências de uma condição clínica causal específica. Tanto os fatores não modificáveis quanto aqueles relacionados ao estilo de vida são implicados, seja isolada ou coletivamente, como fatores de contribuição para o desenvolvimento da hipertensão primária. Fatores de risco não modificáveis da hipertensão primária: Os fatores de risco de hipertensão primária incluem fatores não modificáveis, como idade, sexo, raça, histórico familiar e genética. o Idade - A hipertensão primária é mais comum em adultos do que em crianças. Historicamente, a hipertensão em crianças é mais provavelmente secundária, muitas vezes em consequência de distúrbios cardíacos congênitos ou doença renal. Entretanto, a incidência de hipertensão primária em crianças e adolescentes está aumentado, acompanhando o aumento da incidência de obesidade e diabetes melito tipo 2 em crianças. Na fase adulta, a probabilidade de hipertensão aumenta com o avanço da idade, assim como aumenta a probabilidade de morbidades cardiovasculares associadas à hipertensão. Revisões sistemáticas da literatura científica demonstraram um claro padrão de evidências que associam as elevações da pressão arterial sistólica e/ou diastólica ao aumento do risco de uma diversidade de distúrbios cardiovasculares, incluindo cardiopatia isquêmica, insuficiência cardíaca, acidente vascular encefálico isquêmico, doença arterial periférica, aneurisma aórtico e doença vascular renal. A elevação da pressão arterial com o envelhecimento está relacionada a um enrijecimento das paredes arteriais, que afeta a pressão sistólica em particular. Evidências mais recentes também indicam que a capacidade renal de excreção do sódio diminui com a idade, e a retenção de sódio também contribui para a hipertensão. o Sexo e raça - Em comparação a outros grupos étnicos nos EUA, a hipertensão é mais prevalente e mais grave em afrodescendentes. Estudos comparativos entre populações também indicam que afrodescendentes tendem a desenvolver hipertensão em uma idade menos avançada do que as demais populações. Os fatores responsáveis por essas diferenças podem incluir aumento da sensibilidade ao sal, aumento dos níveis de obesidade e fatores genéticos. Um estudo de coortes de populações conduzido em 2014, em Manhattan, nos EUA, indicou que a probabilidade de ocorrência de eventos adversos atribuíveis à hipertensão era maior em mulheres do que em homens, bem como em pessoas negras do que brancas. Contudo, a prevalência geral de hipertensão é maior nos homens do que nas mulheres, com essa diferença sendo observada também em coortes de adultos jovens. o Histórico familiar e genética- A hipertensão é observada com mais frequência entre pessoas com histórico familiar de pressão arterial alta. Acredita-se que a contribuição genética para a hipertensão possa se aproximar dos 50%. Embora os geneticistas tenham identificado muitos loci genéticos associados à hipertensão, nenhum deles é responsável por uma grande proporção da incidência de hipertensão. Pesquisadores estão explorando como os efeitos epigenéticos relacionados à metilação do DNA podem influenciar a incidência e a gravidade da hipertensão. Também é importante observar que o ambiente interage com a genética, conforme evidenciado por muitos distúrbios sem um locus genético comumente identificado e que, ainda assim, tendem a recidivar nas famílias. Outra possibilidade é que a influência genética sobre a hipertensão seja mediada por uma via de patogênese comum com outros distúrbios. Por exemplo, a hipertensão é um componente da síndrome metabólica associada ao diabetes tipo 2, e algumas evidências científicas iniciais identificaram que os genes selecionados reguladores do metabolismo lipídico podem ter uma ligação genética comum com a síndrome metabólica. Fatores de risco modificáveis da hipertensão primária: Também foram identificados fatores de risco modificáveis da hipertensão primária, incluindo dieta, níveis de lipídios séricos, consumo de tabaco e álcool, nível de condicionamento físico e atividades, sobrepeso/obesidade e controle glicêmico no diabetes melito. As vias fisiopatológicas que podem ser fatores de contribuição comuns entre esses aspectos do estilo de vida incluem perturbações no sistema renina-angiotensina- aldosterona, alterações dos mecanismos dos peptídios natriuréticos, ativação do SNS e alteração da função das células endoteliais. o Fatores alimentares- Um traço fisiológico da sensibilidade ao sal no que se refere à regulação da pressão arterial parece estar distribuído normalmente em toda a população humana, com algumas pessoas demonstrando sensibilidade ao sal para o controle da pressão arterial, enquanto outras exibem resistência. Pesquisas indicam que as pessoas sensíveis ao sal podem apresentar comprometimento de diversos mecanismos fisiológicos da regulação da pressão arterial, incluindo o mecanismo da renina-angiotensina- aldosterona, mecanismos reguladores do SNS e diversos mecanismos químicos envolvendo o endotélio. Com o objetivo de manter a adequada eliminação renal do sal, ocorre adaptação do sistema de natriurese por pressão, de modo que a pressão arterial é elevada para manter níveis adequados de eliminação renal do sal. Portanto, as atuais recomendações são que as pessoas hipertensas devem restringir sua ingestão alimentar de sódio. Pesquisadores também exploraram possíveis ligações entre a pressão arterial e a ingestão alimentar de potássio; contudo, neste momento, as evidências em relação à influência do potássio sobre a pressão arterial são inconclusivas. A ingestão alimentar de gorduras e colesterol também é um fator que contribui para a hipertensão, em parte porque a ingestão alimentar de gorduras contribui para o desenvolvimento de dislipidemia (gordura no sangue). o Dislipidemia- A dislipidemia contribui para o aumento do risco de hipertensão. Acredita-se que esse efeito seja em grande parte mediado pela associação descrita anteriormente, entre os lipídios no sangue e a aterosclerose. As placas ateroscleróticas no interior das artérias aumentam a resistência ao fluxo sanguíneo por esses vasos, o que contribui para a elevação da pressão arterial para superar o aumento da resistência. A associação ao risco aumentado de hipertensão se dá com presença de níveis mais altos de colesterol, triglicerídios e LDL entre os lipídios sanguíneos; entretanto, níveis baixos de HDL estão associados a um risco maior de hipertensão. o Tabaco- Há muito tempo observa-se que o tabagismo está associado ao desenvolvimento de hipertensão; contudo, as conexões causais ainda não foram claramente identificadas. Teorias atuais propõem que o mecanismo causal pode envolver alterações inflamatórias relacionadas às toxinas químicas dotabaco que contribuem para o desenvolvimento da aterosclerose subclínica. Essa conexão patogenética entre o tabaco e a hipertensão também pode se estender para outros tipos de consumo de tabaco, além do consumo de cigarros. o Consumo de álcool- Foi demonstrado que o consumo de álcool apresenta um efeito direto relacionado à hipertensão, com níveis mais altos de álcool associados à elevação da pressão arterial. Evidências indicam que o consumo excessivo de álcool pode ser responsável por 10% dos casos de hipertensão na população, com a hipertensão relacionada ao álcool sendo mais prevalente entre os homens. Contrariamente, evidências também indicam que níveis modestos de ingestão de álcool estão associados a um efeito protetor contra doenças cardíacas. o Nível de condicionamento físico- Evidências científicas indicam que níveis mais altos de condicionamento físico e exercícios estão associados a pressões arteriais mais baixas e níveis séricos de lipídios mais favoráveis. O risco cardiovascular geral diminui com níveis mais altos de condicionamento físico e exercícios regulares. o Obesidade- O peso corporal excessivo está comumente associado à hipertensão. Reduções do peso a partir de 4,5 kg podem produzir diminuição na pressão arterial em uma grande proporção das pessoas com sobrepeso hipertensas. O padrão de distribuição da gordura foi sugerido como um possível indicador do risco de hipertensão, mais crítico do que o peso real ou o índice de massa corporal. A proporção cintura-quadril é comumente utilizada para diferenciar entre obesidade central ou na parte superior do corpo (em que as células adiposas estão localizadas no abdome e nas vísceras) e obesidade periférica ou na parte inferior do corpo (com depósitos de células adiposas nas nádegas e pernas). Estudos observaram uma associação entre a hipertensão e o aumento da proporção cintura-quadril (i. e., obesidade central), até mesmo quando o índice de massa corporal e a espessura das dobras cutâneas são levados em consideração. A gordura abdominal ou visceral aparenta causar mais resistência à insulina, intolerância à glicose, dislipidemia, hipertensão e doença renal crônica do que a gordura subcutânea. Evidências recentes indicam que a leptina, um hormônio derivado dos adipócitos, pode representar uma ligação entre a adiposidade e o aumento da atividade simpática cardiovascular. Além do seu efeito sobre o apetite e o metabolismo, a leptina atua sobre o hipotálamo e aumenta a pressão arterial por meio da ativação do SNS. Níveis altos de ácidos graxos livres circulantes em pessoas obesas aparentemente também participam na ativação do SNS. Pesquisas apoiam a ativação do sistema renina-angiotensina- aldosterona pelo angiotensinogênio derivado de adipócitos, bem como a capacidade do tecido adiposo de aumentar os níveis de aldosterona por meio da produção de fatores indutores da produção de aldosterona. o Resistência à insulina e anormalidades metabólicas- Conforme discutido na sessão anterior, sobre a fisiopatologia da dislipidemia, a hipertensão é um dos componentes da síndrome metabólica e da resistência à insulina associadas ao diabetes melito tipo 2. o Apneia obstrutiva do sono- A apneia obstrutiva do sono tem sido ligada diretamente à hipertensão. Acredita-se que o mecanismo causal envolva, em parte, a perturbação do sono, a qual interfere na “queda” circadiana noturna normal da pressão arterial. Essa “queda” noturna está associada a níveis de pressão arterial mais baixos. Interrupções repetitivas do sono e diminuição da duração ou da qualidade do sono estão associadas a uma menor “queda” noturna da pressão arterial. Hipertensão secundária Hipertensão secundária é a elevação da pressão arterial em consequência de outra condição patológica. Contrariamente à hipertensão primária, muitas condições causadoras de hipertensão secundária podem ser corrigidas por cirurgia ou tratamento clínico específico. A hipertensão secundária tende a ser observada em pessoas com menos de 30 e mais de 50 anos de idade. Cocaína, anfetaminas e outras drogas ilícitas podem causar hipertensão significativa, assim como os agentes simpaticomiméticos (descongestionantes, anorexígenos), a eritropoetina e o alcaçuz (incluindo alguns tipos de tabaco para mascar contendo alcaçuz como um dos ingredientes). Entre as causas mais comuns de hipertensão, estão a doença renal (i. e., hipertensão renovascular), os distúrbios dos hormônios corticais suprarrenais, o feocromocitoma, a coarctação da aorta e o uso de anticoncepcionais orais. o Hipertensão renal - Com o papel dominante assumido pelo rim na regulação da pressão arterial, não surpreende que a maior causa isolada de hipertensão secundária seja a doença renal. Diminuição na formação de urina, retenção de sal e água, além de hipertensão incluem as complicações comuns dos distúrbios renais agudos, como glomerulonefrite aguda, insuficiência renal aguda e obstrução aguda do trato urinário. A hipertensão também ocorre comumente com pielonefrite crônica, doença renal policística, nefropatia diabética e doença renal em estágio terminal. Em idosos, um início súbito de hipertensão secundária com frequência está associado à doença aterosclerótica dos vasos sanguíneos renais. A hipertensão renovascular se refere à hipertensão causada pela redução do fluxo sanguíneo renal e pela ativação do mecanismo da renina-angiotensina- aldosterona. É a causa mais comum de hipertensão secundária, sendo responsável por 1 a 2% de todos os casos de hipertensão. Como consequência da diminuição do fluxo sanguíneo renal observada com a doença renovascular, o rim afetado libera quantidades excessivas de renina, aumentando os níveis circulantes de angiotensina II. A angiotensina II, por sua vez, atua como um vasoconstritor para o aumento da RVP, e como um estímulo para o aumento dos níveis de aldosterona e da retenção de sódio pelo rim. Um ou ambos os rins podem estar afetados. Com o envolvimento da artéria renal de um dos rins, o rim não afetado fica sujeito aos efeitos deletérios da elevação da pressão arterial. o Dois tipos principais de doença renovascular foram descritos – aterosclerose da artéria renal proximal e displasia fibromuscular, uma doença vascular não inflamatória que afeta as artérias renais e os vasos da sua ramificação. A estenose aterosclerótica da artéria renal é observada com mais frequência em idosos, em particular naqueles com comorbidades da aterosclerose. A displasia fibromuscular é mais comum nas mulheres e tende a ocorrer nas faixas etárias mais jovens, frequentemente entre 30 e 50 anos de idade. Os mecanismos patogênicos não estão claros, contudo a incidência tende a aumentar na presença de fatores ambientais como o tabagismo. o Distúrbios dos hormônios adrenocorticais - O aumento dos níveis de hormônios adrenocorticais também pode ocasionar a hipertensão, em consequência da retenção renal de sal e água induzida por hormônios. O hiperaldosteronismo primário (produção excessiva de aldosterona resultante de hiperplasia adrenocortical ou adenoma) e níveis excessivos de glicocorticoides (doença ou síndrome de Cushing) tendem a elevar a pressão arterial. o Feocromocitoma - O feocromocitoma é um tumor do tecido cromafínico, o qual contém células nervosas simpáticas que são coradas com sais de cromo e liberam catecolaminas. O tumor está mais comumente localizado na medula da suprarrenal, mas pode surgir em outros locais, como os gânglios simpáticos, onde existe tecido cromafínico. Embora seja rara, a presença de um feocromocitoma pode causar crises hipertensivas sérias. o Coarctação da aorta- A coarctação da aorta é uma condiçãocongênita envolvendo um estreitamento na área do arco aórtico. O estreitamento aórtico aumenta a resistência ao fluxo sanguíneo e isso eleva a pressão no ventrículo esquerdo, em uma tentativa de superar a resistência. Como as artérias subclávias tipicamente têm origem acima do ponto de estreitamento, o resultado é o desenvolvimento de hipertensão nos membros superiores e uma pressão arterial normal ou baixa nos membros inferiores. A coarctação pode ser reparada cirurgicamente, com o objetivo de remover a restrição ao fluxo pela aorta e normalizar a pressão arterial. o Anticoncepcionais orais - O uso de anticoncepcionais orais é uma causa comum de hipertensão secundária em mulheres jovens. A causa do aumento da pressão arterial não está muito clara, embora haja indícios de que a causa provável seja a expansão do volume, uma vez que tanto os estrogênios quanto as progesteronas sintéticas contidas nas pílulas anticoncepcionais orais causam retenção de sódio. Felizmente, a hipertensão associada aos anticoncepcionais orais normalmente desaparece após a descontinuação do medicamento, ainda que isso possa demorar 3 meses. Manifestações clínicas da hipertensão A hipertensão primária é tipicamente um distúrbio assintomático. Os sintomas, quando ocorrem, frequentemente estão relacionados aos efeitos da hipertensão a longo prazo sobre outros sistemas de órgãos-alvo, como rins, coração, olhos e vasos sanguíneos. A morbidade e a mortalidade relacionadas à hipertensão progridem ao longo de toda a variação das pressões sistólica e diastólica, com a lesão dos órgãos-alvo variando acentuadamente entre pessoas com níveis de hipertensão semelhantes. Pessoas com hipertensão secundária também apresentam risco para os efeitos sobre esses órgãos-alvo, mas também podem apresentar manifestações clínicas relacionadas ao processo da doença primária causadora da hipertensão secundária. Lesão dos órgãos-alvo- O aumento da pressão de perfusão ocasionada pela hipertensão pode causar lesão direta dos órgãos-alvo. Além disso, o aumento da pressão intravascular pode lesionar as células endoteliais vasculares, o que aumenta o risco de desenvolvimento de doença vascular aterosclerótica (que compromete ainda mais a perfusão dos órgãos). A lesão dos órgãos-alvo afeta em particular os órgãos com estrutura altamente vascularizada ou que dependem fortemente de um suprimento de sangue adequado para a sua função apropriada, incluindo coração, cérebro, rins e retina nos olhos. Portanto, a hipertensão é uma causa líder de cardiopatia e doença cerebral isquêmica, doença renal em estágio terminal e comprometimento visual ou cegueira por retinopatia. A hipertensão é um fator de risco importante para a aterosclerose, porque promove e/ou acelera a formação de placas e sua possível ruptura. Predispõe a todos os principais distúrbios ateroscleróticos, incluindo cardiopatia coronariana, insuficiência cardíaca, acidente vascular encefálico e DAP. O risco de doença arterial coronariana e acidente vascular encefálico depende em grande parte de outros fatores de risco, como obesidade, tabagismo e dislipidemia, bem como da predisposição genética. A elevação na pressão arterial aumenta a carga de trabalho do ventrículo esquerdo, por aumentar a pressão contra a qual o coração precisa bombear o sangue ejetado na circulação sistêmica. Com o passar do tempo, a pressão aumenta a carga de trabalho do coração, e a parede ventricular esquerda sofre remodelamento e hipertrofia para compensar o aumento do trabalho em decorrência da pressão. Essa hipertrofia ventricular esquerda é um fator de risco importante para o desenvolvimento de cardiopatia coronariana, arritmias cardíacas, morte súbita e insuficiência cardíaca congestiva, uma vez que o ventrículo não consegue bombear com eficiência. Remodelamento e hipertrofia e consequências: Nas doenças em que ocorre sobrecarga de pressão como por exemplo a estenose aórtica ou a hipertensão arterial sistêmica, ocorre hipertrofia das paredes do miocárdio com redução das câmaras cardíacas, o que recebe o nome de “hipertrofia concêntrica do miocárdio”. Os novos sarcômeros são depositados “em paralelo” com relação aos pré-existentes, aumentando a força de contração dos cardiomiócitos. A espessura do miocárdio ultrapassa com frequência o limite da normalidade . Na evolução do processo costuma ocorrer diminuição da espessura das paredes cardíacas e diminuição da força de contração, levando á chamada cardiomiopatia dilatada. A insuficiência cardíaca pode ocorrer nas duas fases das adaptações, assim como o óbito, que pode ocorrer por infarto ou parada cardíaca (arritmia grave). Por outro lado, nas doenças em que ocorre sobrecarga de volume, como por exemplo na insuficiência mitral, a hipertrofia do miocárdio é acompanhada de aumento das câmaras cardíacas, caracterizando a “hipertrofia excêntrica do miocárdio”. Os novos sarcômeros são depositados “em série” com relação aos pré- existentes, levando ao alongamento dos cardiomiócitos. Na evolução também ocorrem insuficiência cardíaca, infarto ou arritmia. Artigo: “ Essa remodelação ocorre em resposta a estímulos desencadeados por agentes mecânicos ou humorais sobre o tecido cardíaco1-3. Na prática clínica, observa-se hipertrofia mais freqüentemente associada à sobrecarga hemodinâmica imposta por hipertensão arterial ou aumento de volume. Na sobrecarga de pressão há estímulo para síntese de sarcômeros em paralelo com aumento da espessura da parede ventricular, sendo esse fenômeno denominado de hipertrofia concêntrica. Na sobrecarga de volume ocorre aumento de sarcômeros em série, associado ao deslizamento de feixes de miócitos, resultando em hipertrofia excêntrica. A hipertrofia cardíaca, quando presente, constitui fator independente de maior morbidade e mortalidade por eventos cardiovasculares4,5. No entanto, essa associação é mais estudada e está mais bem estabelecida na sobrecarga crônica de pressão, principalmente na hipertensão arterial sistêmica.” A hipertensão crônica leva à nefroesclerose, causa comum de doença renal crônica. A lesão dos rins é produzida por diversos mecanismos. Uma das formas mais significativas de a hipertensão causar lesão renal é por hipoperfusão glomerular, a qual promove glomeruloesclerose e fibrose tubulointersticial. Outro mecanismo estudado inclui a disfunção endotelial decorrente da elevação da pressão glomerular. A doença renal hipertensiva é mais comum em pessoas negras do que em brancas. Nesse caso, o papel importante da hipertensão está na aceleração da evolução de outros tipos de doença renal, em particular da nefropatia diabética. Demência e comprometimento cognitivo são mais frequentes em hipertensos. A hipertensão, em particular a hipertensão sistólica, é um importante fator de risco para acidente vascular encefálico e hemorragia intracerebral.O estreitamento e a esclerose das artérias penetrantes de pequeno calibre nas regiões subcorticais do cérebro são achados comuns à necropsia de pessoas com hipertensão crônica. Acredita-se que essas alterações contribuam para a hipoperfusão, perda da autorregulação do fluxo sanguíneo e comprometimento da barreira hematencefálica, finalmente levando à desmielinização da substância branca. A terapia anti-hipertensiva efetiva reduz fortemente o risco de desenvolver alterações significativas na substância branca. Entretanto, tais alterações, uma vez estabelecidas, parecem ser irreversíveis. A hipertensão também afeta o olho, em alguns casos de modo devastador. A retinopatia hipertensiva afeta a retina induzindo uma série de alterações microvasculares. O olho de um hipertenso inicialmente apresenta aumento dotônus vasomotor, que causa estreitamento arteriolar generalizado. Com a persistência da hipertensão, as alterações arterioscleróticas se agravam e incluem a hiperplasia da parede média, espessamento da íntima e degeneração hialina. A longo prazo, essas alterações podem causar lacerações arteriovenosas (AV) mais graves e cegueira. Aumentos agudos na pressão arterial podem levar a hemorragias, microaneurismas e exsudatos rígidos. Existe uma forte associação entre retinopatia e hipertensão. Esse órgão-alvo deve ser avaliado regularmente em pessoas hipertensas, para evitar a lesão ocular extensiva. Diagnóstico A hipertensão é diagnosticada por meio de aferições sequenciais da pressão arterial indicando uma elevação consistente da pressão nos vasos arteriais sistêmicos. Os critérios referentes aos limiares para o diagnóstico e o tratamento da hipertensão continuam sendo alterados, à medida em que novas evidências científicas vão surgindo. As diretrizes de tratamento clínico mais recentes para os adultos nos EUA foram emitidas em novembro de 2017, como uma publicação conjunta do American College of Cardiology (ACC) e da American Heart Association (AHA). As diretrizes diagnósticas do ACC/AHA de 2017 e as recomendações para o tratamento clínico estão incluídas na Tabela 26.3 A medida desacompanhada de PA no consultório (MDPAC) usa um aparelho automatizado que o próprio paciente aciona, sem a presença do profissional de saúde. Esse foi o método avaliatório usado no estudo SPRINT (Systolic blood PRessure INtervention Trial). O aparelho permite fazer 2 ou 3 medidas com intervalo de 1 minuto entre elas, sem que seja necessário acionar novamente o aparelho (só precisa de um toque para funcionar), e a média é calculada. Esse método reduz drasticamente (ou até mesmo elimina) o efeito do avental branco, e os valores obtidos são iguais ou até menores que valores de MAPA ou MRPA. A MAPA e a MRPA são métodos de medida de PA utilizados fora do consultório. Na MAPA usa- se um aparelho de PA conectado a um gravador, que fará o registro a cada 15-30 minutos durante o dia, e a cada 15-60 minutos à noite, com o indivíduo realizando (e anotando em um diário) suas atividades normais. Habitualmente, o registro é feito por 24 horas, e com essas medidas pode-se obter a média das pressões por todo o período, assim como separadamente do dia e da noite; o descenso noturno, a relação entre PA diurna e noturna; estimar a variabilidade da PA; e permitir o reconhecimento de hipotensão sintomática. Na MRPA o indivíduo faz medidas da pressão com um aparelho automático, geralmente 3 medidas com intervalo de 2 minutos entre elas, repetidos a cada 12 horas por alguns dias, geralmente 5 dias. Com isso, têm-se várias medidas, com as quais se define a média. A MAPA e a MRPA têm pontos de corte para hipertensão diferentes das medidas em consultório. Classificação para diagnóstico: • Pré-hipertensão: maior risco de hipertensão arterial no futuro. São considerados “pré- hipertensos” aqueles que apresentam pressão arterial sistólica entre 121-139 mmHg e diastólica entre 81-89 mmHg. • Hipertensão: podemos classificar em Hipertensão Primária e Hipertensão Secundária. • Hipertensão do jaleco branco: um grande número de pessoas apresenta PA ≥ 140 x 90 apenas quando um médico ou profissional de saúde afere a sua pressão e valores normais quando aferidos pelo MAPA ou MRPA. • Hipertensão mascarada: valores normais da PA no consultório, porém com PA elevada pela MAPA ou medidas residenciais. Vários fatores podem elevar a PA fora do consultório em relação à PA nele obtida, como idade jovem, sexo masculino, tabagismo, consumo de álcool, atividade física, hipertensão induzida pelo exercício, ansiedade, estresse, obesidade, DM, DRC e história familiar de HAS. • Hipertensão sistólica isolada: a maioria dos hipertensos acima de 65 anos tem apenas elevação da PA sistólica. A hipertensão sistólica isolada, entidade típica do idoso, é definida como PA sistólica maior ou igual a 140 mmHg com PA diastólica menor que 90 mmHg. Efeito do jaleco branco: quando a PA do paciente tem uma diferença PAS maior ou igual a 120 mmHg e/ou PAD maior ou igual a 10 mmHg quando aferida no consultório médico. Complicações ligadas a Hipertensão (Pós-Carga. É a resistência enfrentada durante a ejeção do ventrículo; o sangue enfrenta dificuldades de seguir no momento em que ele é expelido para as respectivas artérias.) A aterosclerose é acelerada, e isso leva à cardiopatia isquêmica com angina de peito e a infartos do miocárdio, acidentes trombóticos e hemorragias cerebrais e in- suficiência renal. Outra complicação da hipertensão grave é a encefalopatia hipertensiva, em que há confusão, consciência desordenada e convulsões. Esta condição, que requer tratamento vigoroso, deve-se provavelmente a espasmo arteriolar e edema encefálico. Em todas as formas de hipertensão, independentemente da causa, a condição pode acelerar subitamente e entrar na fase maligna. Na hipertensão maligna, há necrose fibrinoide disseminada da média com fibrose da íntima em arteríolas, estreitando-as e levando à retinopatia grave progressiva, insu- ficie ̂ncia cardíaca e insuficie ̂ncia renal. Se não tratada, a hipertensão maligna geralmente é fatal em 1 ano. Referências: Norris, Tommie L. Porth - Fisiopatologia. Disponível em: Minha Biblioteca, (10ª edição). Grupo GEN, 2021. Diretrizes Brasileiras de Hipertensão Arterial – 2020. Arq. Bras. Cardiol., 116(3), 516-658. Matsubara, Luiz Shiguero et al. Remodelação miocárdica na sobrecarga crônica de pressão ou de volume no coração de ratos. Arquivos Brasileiros de Cardiologia [online]. 2006, v. 86, n. 2 [Acessado 4 Agosto 2022] , pp. 126-130. Oliveira, Isabela Martins et al. Fatores associados à hipertensão não diagnosticada entre adultos mais velhos no Brasil - ELSI-Brasil. Ciência & Saúde Coletiva [online]. 2022, v. 27, n. 05 [Acessado 4 Agosto 2022] , pp. 2001- 2010. Hammer, Gary, D. e Stephen J. McPhee. Fisiopatologia da doença. Disponível em: Minha Biblioteca, (7ª edição). Grupo A, 2015.
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