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Odontopediatria – 31 de Agosto de 2022 Diagnóstico, conceito de risco/atividade de cárie e controle mecânico do biofilme ➢ Contextualização: • A cárie é a doença crônica mais comum na infância atingindo bebês e crianças em idade pré-escolar e se constitui um problema de saúde pública. • Para as crianças e adolescentes ela tem um impacto negativo na sua qualidade de vida em função da ocorrência de dor, dificuldade de comer e de dormir, irritação, além de afetar sua autoestima, bem-estar e causar um desconforto e constrangimento ao sorrir e se relacionar com outras pessoas. ➢ Cárie dentária – conceito: • É uma doença dinâmica mediada pelo biofilme, modulada pela dieta, multifatorial e não transmissível, que resulta na perda mineral dos tecidos duros do dente. • A lesão é um sinal da doença. • É uma doença crônica de progressão lenta. La é raramente autolimitante, ou seja, sem tratamento vai ocorrer a destruição total da estrutura dentária. • A cárie é considerada uma disbiose, pois se caracteriza pelo desequilíbrio da microbiota residente da cavidade bucal, visto que os microrganismos relacionados à doença estão presentes mesmo em situações de normalidade, não apresentando características de patogenicidade nesses casos. • A cárie é resultado de um desequilíbrio entre biofilme e dieta. Uma dieta rica em carboidratos muda o comportamento de uma bactéria que sempre esteve presente na boca, sem fazer mal algum. ➢ Etiologia: • A cárie dentária ocorre por um conjunto de fatores. Entre eles, existem fatores biológicos, psicossociais e ambientais. • 1960 – Fatores Primários (Bactéria + Dente + Dieta). • Depois disso, foram incluídos os fatores psicossociais e ambientais, que modulam a doença, deixando um indivíduo mais suscetível ou menos suscetível a desenvolver a doença. • A doença cárie é basicamente, comportamental e causada por hábitos. • Fatores: ▪ Anatomia dos dentes – hospedeiro; ▪ Consistência e frequência do alimento – dieta; ▪ Colonização (espécies microbianas) – bactéria; ▪ Capacidade tampão e fluxo salivar; ▪ Fatores socioeconômicos, fatores que podem influenciar o desenvolvimento da cárie e a polarização da doença. ➢ Fatores do Hospedeiro: • Alguns fatores importantes são: o fluxo salivar, os hábitos e costumes. • Anatomia dentária; • Posição dos dentes na arcada; • Idade dentária – maturação pós-eruptiva (até 2 anos após a erupção dentária) – Período crítico. • Importância da orientação aos pais sobre a escovação dos dentes, ensinar a escovar e mostrar a importância. • O primeiro molar permanente demora bastante a atingir o plano oclusal. ➢ Dieta: • Carboidratos como amido, glicose, frutose e sacarose (fermentável) aumentam a chance dos pacientes de desenvolverem lesões de cárie. • Além disso, a forma de ingestão, o horário e a frequência de ingestão desses alimentos são determinantes e muito importantes no controle da cárie. • Entre uma boa dieta e uma higiene adequada, os dois são muito importantes no controle e tratamento, mas devemos sempre incentivar uma alimentação adequada e equilibrada. • Devemos incentivar a ingestão de alimentos protetores: fibras, frutas e legumes. ➢ Microbiota: • A definição de biofilme bacteriano é: “comunidades de microrganismos aderidas a uma superfície” como é o exemplo do biofilme dental. • Uma outra definição pode ser: “Microrganismos espacialmente organizados em uma estrutura tridimensional inclusa em uma matriz de material extracelular derivado das próprias células e do ambiente. • O que pode ser feito em relação ao biofilme dentário é a desorganização mecânica dele, com a escovação manual e a utilização do fio dental. ➢ Formação e estrutura do biofilme dental: • O biofilme demora para ser formado, não é do dia para a noite. Temos um tempo de até duas semanas para que o biofilme desenvolva uma patogenicidade. Por isso a escovação diária é importante. • Primeiro temos a formação da película, depois a adesão de células bacterianas simples, essas bactérias aderidas crescem levando à formação de microcolônias distintas. Depois disso, ocorre a sucessão e coagregação microbiana, com alta diversidade de espécies e um crescimento continuado das microcolônias. Em até duas semanas a comunidade atinge seu clímax e a placa está madura. ➢ Sucessão microbiana: • Sobre a dieta rica em sacarose e o um biofilme maduro, a sacarose facilita a formação da placa dental. • A sacarose torna a placa mais porosa. • A sacarose torna o biofilme dental mais cariogênico. • A sacarose é mais facilmente metabolizada pelas bactérias cariogênicas, tendo ácidos como produtos. ➢ Fatores de risco: • Os fatores de risco (probabilidade de as lesões surgirem ou progredirem) são as características que aumentam a probabilidade de a doença acontecer. São elas: ▪ Idade do paciente; ▪ Acúmulo de biofilme dental; ▪ Alta frequência de ingestão de sacarose; ▪ Não exposição aos fluoretos; ▪ Fluxo salivar e capacidade tampão deficientes; ▪ Experiência anterior de cárie (mais importante pois uma criança que já teve cárie antes mostra que ela não teve hábitos corretos). • Entre os fatores de risco estão a estagnação do biofilme dentário em locais onde os depósitos bacterianos não são frequentemente removidos ou desorganizados por forças mecânicas (mastigação, atrição, abrasão pela escovação e utilização de fio dental). As áreas de acúmulo de biofilme, geralmente são na margem gengival, em fóssulas e fissuras, em dentes em fase de erupção, abaixo do ponto de contato (proximal) e em locais de apinhamento dentário. • Um outro fator de risco é a higiene bucal ineficiente, o que aumenta a suscetibilidade individual do desenvolvimento de lesões de cárie. • Outro fator de risco, como já dito, é a dieta cariogênica, com consumo de carboidratos fermentáveis, consumo de açúcar entre as refeições e sob a forma física retentiva por um período prolongado. • Não existe comprovação científica que diga que um paciente deve retornar ao dentista a cada 6 meses. O que dita o tempo de retorno é o risco que o paciente tem de desenvolver lesões. ➢ Dieta cariogênicas: • A dieta influencia na produção de ácidos, na quantidade e composição do biofilme bacteriano e na quantidade e qualidade da secreção salivar. • Logo, a dieta influencia diretamente na ocorrência de cárie dentária. • Quando um paciente consome uma dieta balanceada convencional, ocorre o equilíbrio do processo de desmineralização e remineralização do dente, que é normal e ocorre o tempo inteiro e mantido pela saliva. • Com a alta frequência de ingestão de carboidratos, o que ocorre é que eles serão fermentados pelas bactérias, resultando na produção de ácidos, tornando ácido o pH da boca e facilitando a proliferação de bactérias acidogênicas e acidúricas. Por conta disso, ocorre o desequilíbrio do processo DES/RE, acarretando da desmineralização do dente, na perda de minerais dos dentes para o meio. ➢ Práticas alimentares saudáveis em relação à saúde bucal: • Estudos mostram que a apresentação precoce do açúcar leva a uma predileção por elementos doces. Por isso, devemos adiar o máximo possível essa introdução. • Estimular o aleitamento materno exclusivo até 6 meses e então iniciar a introdução de alimentos sólidos; • Retardar a introdução da sacarose, preferencialmente, somente após os 12 meses; • Racionalizar o uso do açúcar, quando for inevitável sua introdução na alimentação (sobremesas); • Manter intervalos regulares entre as refeições, gerando um retorno do pH à neutralidade e garantindo o equilíbrio do processo DESxRE. ➢ Funções da saliva (fator protetor): • Lubrificação; • Remineralização; • Neutralização de ácidos; • Gustação; • Excreção de toxinas; • Balanço hídrico;• Digestão; • Ação antimicrobiana; • Autolimpeza. • O fatores protetores da saliva estão realmente atrelados a proteção. • Em relação ao microrganismo, a saliva vai atuar controlando o pH pela sua capacidade tampão, neutralizando os ácidos e com ação antimicrobiana. • Em relação a dieta, o fluxo salivar permite que haja uma limpeza dos resíduos de alimentos. • Em relação a individualidade do hospedeiro e sua suscetibilidade, a saliva faz a reposição de minerais, realizando a remineralização. Isso é potencializado pela exposição dos fluoretos. ➢ Importante – experiência passada de cárie!! • Fator de risco, indicador de risco, fator preditor de cárie: experiência anterior de cárie – cárie precoce. • Cuidado com amamentação noturna e alimentação inadequada. • A experiência passada de cárie é o fator preditor mais importante. Aumenta a probabilidade de crianças ou adolescentes terem novas lesões de cárie no futuro. ➢ Desenvolvimento da lesão: • O dente hígido possui acúmulo microbiano, os microrganismos ali presentes começam a metabolizar restos alimentares e a produzir ácidos, se inicia a diminuição do pH, até eu ele fica menor que o pH crítico (5,5) e ocorre a desmineralização. ➢ Tempo x Alterações no esmalte: • 1ª semana – Acúmulo de biofilme: ▪ Sinais de dissolução direta da superfície externa do esmalte (ultra estrutural). Não conseguimos observar sem o uso do microscópio. • 14 dias: ▪ Alterações esbranquiçadas e opacas causadas pelo aumento da porosidade. Já visível macroscopicamente. • 3-4 semanas: ▪ Aumento do espaço intercristalino; perda mineral mais extensa, em constante aumento. • Se não fizermos nada para controlar a situação da desmineralização, o que vai ocorrer é que passaremos de uma lesão não visível a olho nu, para uma lesão esbranquiçada, para uma lesão que vai ficando cada vez mais visível até a cavitação. ➢ Diagnóstico precoce: • A importância do diagnóstico precoce da lesão de cárie reside na possibilidade de modificar o processo carioso pelo tratamento não invasivo, evitando a progressão da lesão. • Quando identificamos uma lesão precocemente, podemos atuar interferindo no processo de doença e mudando os hábitos da criança, sem necessidade de maiores intervenções, de intervenções menos invasivas. • Quanto mais cedo identificarmos a lesão, mais conservadora a abordagem. ➢ Níveis de diagnóstico das lesões de cárie: • É o limiar de diagnóstico que determina o que é registrado como doente ou sadio. • Utilizando a metáfora da ponta do iceberg, é fácil ver o problema, a cárie quando ela já está instalada, visível e cavitada. O importante é saber identificar o problema quando ele está no início, ainda é apenas uma lesão de mancha branca visível só com o foco e o ente bem seco. • D1 – Nível clinicamente detectável com lesões de esmalte iniciais; • D2 – Ainda estão localizadas no esmalte, mas já tem uma cavidade; • D3 – Lesão branca em dentina, cavitada. • D4 – Lesão que pode atingir a polpa. • Quando temos lesões em esmalte, se não detectarmos, estaremos subestimando a doença e não reconhecendo algo que existe. ➢ Antes não se considerava a atividade da lesão, a cárie era associada a presença de cavidade. E o foco era em restaurar qualquer lesão que houvesse. O tratamento era padronizado para qualquer e, se houvesse dúvida no diagnóstico, abriam para restaurar. ➢ O foco agora é na paralização da doença e restauração apenas das lesões cavitadas ativas. Sempre devemos preservar o remanescente dentário. ➢ Importante nos atentar a porosidade da superfície do esmalte, para não cavitarmos uma lesão inicial. Essas lesões são passíveis de remineralização. ➢ Cárie Oclusal: • Devido a anatomia do dente, pode ocorrer o acúmulo de biofilme em fóssulas e fissuras estreitas e inacessíveis gerando as chamadas “cáries de fissuras”. • Como as lesões iniciam-se nos locais onde acúmulos bacterianos estão mais protegidos contra o desgaste funcional, as fóssulas e fissuras são locais mais vulneráveis à ocorrência de cárie. • Fatores importantes para o acúmulo de placa e início de cárie nas superfícies oclusais: estágio de erupção ou uso funcional dos dentes, anatomia específica do dente. • Muitas vezes, realizamos o selamento oclusal para impedir que novas bactérias penetrem e se instalem ali. Porém, não podemos selar preventivamente, apenas quando o paciente já possui risco de desenvolver a doença. ➢ Progressão da lesão na superfície oclusal: • Inicia através das fissuras e progride como um triângulo, onde a base é voltada para a dentina e o vértice para a superfície externa. Ela evolui em direção ao tecido pulpar. ➢ Cárie de superfícies lisas (vestibular e lingual ou palatina: • Lesões localizadas acompanhando a margem gengival; • Lesões localizadas em áreas de acúmulo de biofilme. ➢ Cárie de superfícies proximais: • Lesões localizadas abaixo do ponto de contato das faces proximais; • Lesões localizadas em áreas de acúmulo de biofilme. • Em primeiro molar decíduo é complicado pois acomete toda uma face. Muitas vezes condenamos um dente mesmo que a cárie nem tenha atingido a polpa. • Na radiografia, a base do triângulo está voltada para a superfície externa e o ápice para a dentina. Isso pois a desmineralização segue os prismas de esmalte. ➢ Progressão da lesão cárie em dentes decíduos: • Nos dentes decíduos, a progressão é mais rápida. Se formos comparar ao dente permanente, os dentes decíduos possuem: ▪ Menor quantidade de mineral; ▪ Menor espessura do esmalte e dentina; ▪ Presença do esmalte aprismático; ▪ Maior amplitude da câmara pulpar. ▪ Menor espaço a percorrer até chegar na polpa. ➢ Diagnóstico de cárie dentária: • “A arte ou o ato de identificar uma doença a partir de seus sinais e sintomas”. • Sempre que formos diagnosticar uma lesão cariosa devemos considerar: ▪ A progressão da lesão de cárie; ▪ O risco e atividade de cárie (ativas ou inativas); ▪ Os métodos de diagnóstico. ➢ Diagnóstico correto: • Para diagnosticar e tratar corretamente as lesões, precisamos ter: ▪ Compreensão dos processos biológicos envolvidos na doença; ▪ Saber quão sensível o método de diagnóstico é; ▪ Conversar com o paciente; ▪ Realizar o exame clínico dos dentes; ▪ Utilizar ferramentas auxiliares de diagnóstico da cárie. • Devemos ter muita atenção ao realizar o diagnóstico pois é ele que irá nortear todo o planejamento do tratamento. ➢ Métodos de diagnóstico: • Métodos tradicionais: ▪ Exame clínico tátil-visual; ▪ Exame radiográfico. • Existe, ainda, transiluminação com fibra óptica, laser... ➢ Métodos de diagnóstico: • Na prática clínica mesmo sem ferramentas especiais para a detecção um dentista é capaz de observar visualmente os desvios iniciais de um esmalte hígido, expressos como mudanças no brilho, cor ou textura da superfície. ➢ Métodos de diagnóstico: • Alterações perceptíveis no esmalte: ▪ “Aumento da porosidade da subsuperfície do esmalte, e diminuição da reflexão da luz na área desmineralizada”. ▪ Para conseguirmos observar isso, os dentes devem estar limpos, secos e sob boa iluminação. • Quando temos uma lesão ativa em progressão podemos precisar lançar mão de um cuidado operatório ou não operatório. • Quando temos lesões estáveis ou inativas, que não precisam de tratamento, é sinal de que a remineralização foi mais forte que a desmineralização. ➢ Critérios para avaliação de atividade e severidade das lesões cariosas: • Critérios de Nyvad – combinação de critérios tátil-visuais após cuidadosa secagem do dente: ▪ Integridade da superfície (cavitada ou não); ▪ Textura (lisa ou rugosa); ▪ Transluscência/opacidade (brilhosa ou opaca); ▪ Local da lesão (área de acúmulo de biofilme);▪ Cor da superfície (parcialmente) – não podemos nos basear apenas pela cor pois a lesão pode estar pigmentada. • “É mais severa a lesão que tem a maior perda de minerais”. ➢ Exame clínico intrabucal: • Diagnóstico da atividade da lesão: • Lesão ativa: ▪ Esmalte – Opaca e rugosa (branca); ▪ Dentina – Consistência amolecida (amarelada e alaranjada). • Lesão inativa: ▪ Esmalte – brilhante e textura lisa; ▪ Dentina – Consistência endurecida. • Lesões ativas comumente estão cobertas por biofilme. ATENÇÃO!!! • Não é possível saber se uma lesão é ativa ou inativa apenas por uma radiografia. Isso é um diagnóstico clínico. ➢ Exame clínico visual: • Devemos fazer uso suave da sonda exploradora (ponta romba) – adição de valiosas informações sobre consistência e textura da superfície de uma lesão cariosa. Também utilizamos a sonda exploradora para realizar a remoção do biofilme que pode estar recobrindo a lesão. • A sonda exploradora pode ter efeitos traumáticos irreversíveis e sua utilização não aumenta a precisão do exame diagnóstico. ➢ Diagnóstico – Métodos mais refinados: • A utilização de métodos auxiliares de diagnóstico mais refinados resulta em um maior número de lesões identificadas. ➢ Exame radiográfico: • É importante na detecção de lesões ocultas clinicamente; • Ajuda na estimativa da profundidade da lesão (pode subestimar o tamanho). • Esse exame deve ser indicado quando necessário e não como exame de rotina. Ele não consegue determinar se há uma cavitação presente ou se a lesão está ativa ou inativa, por exemplo. ➢ Radiografia Panorâmica: • Não utilizamos para detectar a presença ou avaliar cárie; • Radiografia utilizada para ver o desenvolvimento da oclusão e a relação dos permanentes com os decíduos. • Além disso, vemos alterações de supranumerários e ausências dentárias. ➢ Radiografia oclusal: • Muito utilizada para avaliação de traumatismos dentários. • Para vermos para onde o dente foi deslocado, se para lingual, para vestibular ou se intruiu. ➢ Radiografia periapical: • Ideal para analisarmos a relação da cárie com o tecido pulpar. • Analisar profundidade, aspectos relacionados a região das raízes. ➢ Técnica interproximal: • Ideal para analisarmos lesões de cárie, principalmente lesões proximais. • Vantagens: ▪ Análise de superfícies inacessíveis à inspeção visual (subgengival); ▪ Conseguimos ter uma ideia da profundidade e relação da lesão cariosa com a polpa; ▪ É um método não invasivo; ▪ Pode ser arquivada e reexaminada (avaliar progressão); • Desvantagens: ▪ Falta de precisão nos estágios iniciais no esmalte; ▪ Não distingue superfície hígida, lesão cariosa inicial e lesão cavitada e hipoplasias; ▪ Geralmente subestima a profundidade da lesão; ▪ Não informa se determinada lesão está controlada ou não, necessitando de uma segunda tomada. ➢ Outros recursos – separação interdentária: • Vamos supor que fizemos exame clínico e radiográfico. No exame radiográfico detectamos uma lesão superficial em esmalte. Como o paciente já tinha histórico de cárie e não conseguimos uma visão direta e tátil da região em questão (interproximal) podemos lançar mão de uma separação interdentária. • Isto é, introduzir na ameia um elástico ortodôntico com intuito de promover uma separação temporária por determinado período. Com uma visão direta e tátil da lesão, podemos definir se ela é uma lesão ativa, inativa, cavita ou não cavitada e, se ela exige tratamento ou não. • Normalmente se deixa por 48 horas, mas como as consultas são semanais, precisamos deixar por uma semana para visualizarmos. ➢ Métodos auxiliares de diagnóstico: • Radiografias digitais; • Métodos baseados na aplicação de luz (FOTI); • Fluorescência a laser (DIAGNODENT); • Passagem de corrente elétrica. ➢ Diagnóstico adequado: • Exige o conhecimento do processo da doença, sua progressão e controle. • Exame clínico visual-tátil criterioso + exame radiográfico de qualidade é o necessário para a detecção da maioria das lesões. ➢ Diagnóstico diferencial: • Mancha branca x Fluorose; • A fluorose dentária é uma patologia que afeta os dentes e que se desenvolve durante a sua formação, é desencadeada pela presença em excesso de fluoreto (ou flúor). ▪ Distribuição das lesões – simetria; ▪ Padrão – linhas horizontais ou flocos de neve. ▪ Localização – áreas não associadas ao acúmulo de biofilme. ➢ Selamento biológico ou cárie oculta? • Cárie oculta – é uma cárie que não foi detectada clinicamente, mas que apareceu em uma proporção significativa de acometimento do exame radiográfico. • Selamento biológico – Não é cárie. É uma deposição de microbiota nos sulcos e fissuras que foi pigmentado. • Não é porque existe selamento biológico que não possa haver uma cárie por baixo. Tudo depende de mudanças de hábito do paciente. • A cárie oculta pode se mostrar com opacidades e translucidez do esmalte delineando o sulco, associado a microcavidades. Existe uma maior prevalência devido aos fluoretos (dentifrícios). • O selamento biológico ocorre por conta da mineralização do biofilme em fissuras, obliterando-as e causando a pigmentação escura característica. • As fissuras que permanecem isentas de cárie nos 1ºs anos após a erupção são, posteriormente, menos susceptíveis à cárie. ➢ Prevenção da cárie dentária e controle da progressão da doença. • Para realizar a prevenção e o controle podemos atuar nos fatores biológicos. • Com uma boa instrução de higiene, adequada para a faixa etária, estimulando o uso de dentifrícios etc. • Podem atuar no: ▪ Controle do biofilme: o Escovação + fio dental; ▪ Controle da dieta: o Recomendar a redução do consumo de carboidratos e açúcares fermentáveis. ▪ Uso de fluoretos: o Dentifrícios (domiciliar); o Gel, verniz (profissional). ▪ Selantes: o Ionoméricos; o Resinosos (em oclusão). ➢ Controle de biofilme dentário: • O biofilme dental é o acúmulo de microrganismos nas superfícies dentais formando colônias bacterianas distintas envoltas em uma matriz extracelular composta de glicoproteínas e polissacarídeos. Tanto a cárie quanto a doença periodontal são mediadas pela presença de microrganismos. • O controle mecânico consiste na remoção do biofilme dental a níveis aceitáveis através de meios mecanizados, principalmente escova e fio dental. • Temos que promover a desorganização do biofilme dental para um bom controle. Dessa forma, a instrução de higiene oral deve ser parte da educação do paciente. ➢ Seleção da escova em odontopediatria: • Selecionar escovas infantis de acordo com a faixa etária da criança, entretanto respeitando-se a regra básica: ▪ Cabeça pequena (compatível com a boca da criança); ▪ Cabo longo (facilita a empunhadura); ▪ Cerdas macias. • Nos preocupar sempre com o contexto social daquela família. ➢ Preocupação: 1º molar permanente em erupção: • A maior suscetibilidade ao desenvolvimento de cárie nessa faixa deve- se ao maior acúmulo de biofilme porque o dente está abaixo do plano oclusal, sendo inacessível à escovação convencional. • Alternativas para limpar adequadamente o dente nessa época são: ▪ Uso de escovas uni ou bitufos; ▪ Implementação da escovação diferenciada para molares permanentes. ➢ Fio dental: • Seleção do fio: Fios encerados com sabor (menta, tutti-frutti etc.) são bem aceitos pelas crianças. • O fio é indispensável para a remoção do biofilme localizado abaixo dos pontos de contato interproximais. • Crianças de 3 a 6 anos não possuem coordenação motora adequada para o uso do fio, por isso os responsáveis são importantes. • A utilização do fio dental é um hábito que deve ser ensinado para toda a família, pois é a família que vai escovaros dentes da criança nessa fase. ➢ Quem deve realizar a escovação? • Até a idade escolar a escovação deve ser, idealmente, realizada pelos responsáveis. Isso ocorre porque as crianças ainda não desenvolveram uma coordenação motora adequada. ➢ Posição para a escovação: • 0 a 3 anos – posição joelho a joelho; • Crianças com mais de 3 anos – Posição de Starkey (a criança em pé olhando para o espelho e o responsável escovando por trás da criança); • A grande vantagem da realização da escovação pelos responsáveis é o melhor acesso às áreas críticas para o acúmulo de biofilme, como as superfícies oclusais. ➢ Técnicas de escovação: • Fones – Preconizada para bebês e crianças em idade pré-escolar. Movimentos circulares para as faces vestibular/lingual/palatina e vai e vem para a oclusal. • Stillman modificada – indicada para crianças com certa habilidade manual – escova é colocada com longo eixo das cerdas lateralmente contra a gengiva deslocando para oclusal e movimento ântero-posterior para oclusal. • Bass – Semelhante a Stillman, mas com movimentos vibratórios. • Importante sempre adequar a linguagem para melhor compreensão dos pais e responsáveis. ➢ Como fazer a higienização das crianças em cada idade? • 0 a 6 meses – Higienização com a utilização de dedeiras (não são mais preconizadas), pelo responsável que vai fazendo uma massagem na gengiva e higienizando a língua. • 6 meses a 3 anos – Higienização com a utilização de escovas e fio dental (nos contatos) feita pelo responsável. • 3 a 6 anos – Higienização com escova e fio dental realizada pela própria criança com o responsável supervisando e complementando (quando necessário). • A partir dos 7 anos utilizar escovas convencionais e fio dental. A escovação deve ser feita pela própria criança com a supervisão de um adulto até os 9 anos de idade. ➢ Dentifrícios: • “Os dentifrícios na forma de pastas, cremes ou géis, são considerados a forma mais racional de uso de fluoretos, pois complementam a deficiências mecânicas da escovação, controlando físico-quimicamente a cárie.” – Kramer, 1998. • Todas as crianças devem utilizar pasta de dentes contendo flúor. Há pastas de dentes com diferentes formulações. Porém, o flúor é um medicamento e todo medicamento tem uma dose certa. • Crianças devem usar pastas de dentes com 1000 a 1100 ppm de fluoreto de sódio (nem mais, nem menos). • Também são indicadas para crianças as pastas contendo 1450 a 1500 ppm de monoflúorfosfato de sódio (MFP). ➢ Quantidade de pasta de dente fluoretada x idade: • 0-3 anos de idade devemos utilizar uma quantidade de “grão de arroz”. • Para crianças maiores de 3 anos de idade podemos utilizar a quantidade de um “grão de ervilha”. • Nunca devemos colocar pasta de dente em excesso na escova, nunca fazer como nos comerciais de pasta de dentes. ➢ Motivação do núcleo familiar: • A participação do núcleo familiar é indispensável para o sucesso do tratamento; • As orientações fornecidas pelo profissional são de fundamental importância para a implementação dos métodos de higienização; • As orientações incluem: ▪ Discussão a respeito da importância de dentes decíduos e permanentes; ▪ Importância da saúde bucal para a qualidade de vida; ▪ Ênfase para dentes em erupção devido ao maior risco de cárie.
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