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145 Tradução & Comunicação Revista Brasileira de Tradutores Nº. 25, Ano 2012 Dennys da Silva Reis Universidade de Brasília - UnB reisdennys@gmail.com TRADUÇÃO: HISTÓRIA, TEORIAS E MÉTODOS Translation: history, theory and methods OUSTINOFF, Michaël. Tradução: história, teorias e métodos. (Tradução de Marcos Marcionilo). São Paulo: Parábola, 2011, 143p. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Resenha Recebido em: 21/06/2011 Avaliado em: 10/10/2012 Publicação: 11 de abril de 2013 146 Tradução: história, teorias e métodos Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores ® Nº. 25, Ano 2012 ® p. 145-148 Michaël Oustinoff atualmente leciona na Universidade de Paris III - Sorbonne La Nouvelle e suas linhas de pesquisa são: tradução como energeia, tradução e autotradução, tradução e intertextualidade, tradução e semiótica e tradução e globalização. Apesar de o autor francês ter uma forte ligação com Portugal – visto que passou toda a sua infância em terras lusitanas – é a primeira vez que um de seus livros é traduzido para o português. O livro Tradução: história, teorias e métodos faz, de maneira sucinta, um apanhado geral das reflexões mais relevantes em relação à tradução passando pela história, pelas teorias, pelos tipos de operações e até mesmo pelos novos rumos que a tradução segue mundialmente. O primeiro capítulo, intitulado “Diversidade das línguas”, começa por assinalar o mito da Torre de Babel como a concepção mítica do fenômeno da Tradução. Daí em diante o autor evoca a tradução da Bíblia para vários idiomas dizendo que esse importante fato comprova a possibilidade de tradução entre línguas diferentes. O episódio de Babel, por sua vez, sustenta a tese da diversidade das línguas e a tese de que cada língua forma uma visão de mundo nos seus falantes. Consequentemente, a tradução não se aplica somente à língua, a unidades linguísticas, mas às unidades de pensamento e lexicológicas, que formam as unidades de tradução, as equivalências. No segundo capítulo, “História da Tradução”, Oustinoff, ao invés de fazer um panorama da história da tradução de maneira cronológica, prefere escolher paradigmas a respeito do tema desde a Antiguidade até os dias atuais. Tal escolha permite-lhe falar da tradução palavra por palavra, remetida aos gregos; da tradução de ideia por ideia, referente ao pensar de São Jeronimo; da tradução como imitação, proposta por Cícero; da tradução como adaptação, que remete ao Renascimento e às Belles Infidèles; da tradução como apropriação, na Idade Média, e como tradução livre nos séculos XVIII e XIX; e da tradução mista entre fiel e infiel que “que fecunda o Próprio pela mediação do Estrangeiro” (p. 51) na Idade Contemporânea. O terceiro capítulo, denominado “Teorias da Tradução”, debate todas as teorias da tradução mais conhecidas até a atualidade, com ressalva de quatro aspectos fundamentais para os quais Oustinoff chama atenção: o dualismo “pró-fonte” e “pró- alvo”, a contribuição da linguística, a poética da tradução e a crítica de tradução. A respeito do primeiro, há quem seja a favor de deixar o texto fluente para o receptor e há quem seja a favor de trazer o autor do texto para o receptor, ocasionando o estranhamento: tudo depende da postura do tradutor. A segunda menciona as grandes contribuições da linguística para a formação da tradução como teoria, ciência e método, explicitadas especialmente por Catford e J.-P. Vinay e J. Darbelnet. A terceira traz à tona a Dennys da Silva Reis 147 Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores ® Nº. 25, Ano 2012 ® p. 145-148 supervalorização do texto literário como o único possuidor da poética e do signo, o único elemento a ser operado no texto a ser traduzido, ideia fortemente marcada por Henri Meschonnic. Por fim, esse capítulo menciona a grande contribuição da crítica da tradução para o crescimento desse domínio como teoria e ciência. Todas essas abordagens, segundo Oustinoff, estão diretamente ligadas a três coisas: a posição tradutória, o projeto de tradução e o horizonte do tradutor. Em “Operações da tradução”, o quarto capítulo, o autor chama atenção para os tipos de procedimentos mais comuns na tradução, a saber: as transposições e modulações. Embasado pelas reflexões de J.-P. Vinay e J. Darbelnet, Oustinoff cita vários exemplos de traduções chegando à conclusão de que a tradução sempre requer transformação e reformulação mesmo nos casos de autotradução. Referindo-se a vários escritores como André Gide e Jorge Luís Borges, o autor sustenta sua tese de tradução reformulação/transformação mesmo em textos literários nos quais as operações de tradução são as mesmas em voga dos textos “não-literários”. Segundo Oustinoff, entre textos não-literários e textos literários “só a função difere: num caso, a intenção dominante será informativa, no outro, a intenção estética; e tais funções combinam-se diversamente segundo a natureza do texto a ser traduzido” (p. 72). Já em “Tradução e Interpretação”, o quinto capítulo livro, Oustinoff nos convida a algumas reflexões sucintas e bem fundamentadas a respeito da interpretação e de sua fundamental importância no ato de traduzir. O autor menciona que, acima de tudo, quando se faz um trabalho de intérprete a clareza é primordial, visto que se traduz um discurso em tempo real e, nesse caso, a tradução oral se utilizará dos significantes e significados, mas não de maneira tão determinante e marcada como na tradução escrita. Citando muitos exemplos e a teoria da deverbalização, muito difundida por Danica Seleskovitch e Marianne Lederer, o autor afirma que há diferentes operações na tradução escrita e na tradução oral, algumas operações desta última também ajudam a explicar o processo mental da primeira, mas ambas, diz Oustinoff, sempre serão sujeitas a reformulação e reenunciação, atos que a tradução automática não é capaz de fazer, embora ela seja bem útil para se entender algumas passagens de uma língua para outra. Para Oustnouff, “a TA1 permanece, portanto, abaixo das ‘operações de tradução’ analisadas pelas obras de tradutologia que pressupõem uma verdadeira reenunciação, algo de que uma máquina é incapaz por definição, por mais sofisticada que ela seja” (p.113). No último capítulo, “Os signos da tradução”, o autor explica brevemente o que é a tradução intersemiótica que “consiste na interpretação de signos linguísticos por meio 148 Tradução: história, teorias e métodos Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores ® Nº. 25, Ano 2012 ® p. 145-148 de sistemas de signos não linguísticos” (p. 114) e menciona que ela está mais presente em nosso cotidiano do que imaginamos. Oustinoff também discorre sobre a tradução como exercendo um papel fundamental no âmbito da crescente globalização, na qual uma língua também faz parte da identidade de uma nação. Segundo o autor, a tradução é, sobretudo, uma das grandes mantenedoras da diversidade cultural no que tange a evitar a proliferação de conflitos decorrentes de choques culturais no século XXI. Para Michaël Oustinoff a tradução tem a função primeira de “ser a grande mediadora da diversidade, simultaneamente contra e pró Babel”, ou seja, pouco a pouco o domínio da tradução ganha mais importância no âmbito da linguagem, das relações sociais, culturais e identitárias. Negar a tradução como domínio, arte e ação seria negar a globalização e seus avanços contemporâneos. Tradução: história, teorias e métodos é um livro muito denso e sobrecarregado de informações que nos levam a fazer muitos questionamentos ou mesmo a refletir sobre várias questões nem tanto usuais e cotidianasda tradução. A intenção do autor é bem clara no livro: não aprofundar o assunto, mas questioná-lo e levar o leitor à pesquisa aprofundada do tema para que ele mesmo ache suas respostas ou levante suas hipóteses. Isso é comprovado pela extensa bibliografia que é colocada ao final do livro, para o caso de o leitor querer saber mais a respeito do assunto abordado. O livro aborda de maneira breve, sucinta e didática praticamente todos os temas da tradução mais discutidos na atualidade. Para quem deseja mergulhar nas mais diferentes escalas da tradução de uma só vez, a leitura da obra é obrigatória. O livro é introdutório, atual e tem uma postura totalmente a favor da visibilidade dos tradutores, além de mostrar que a tradução é um dos grandes desafios do homem no que tange à linguagem e um dos altos pilares da humanidade no que toca à diversidade cultural. Dennys da Silva Reis Mestrando em Estudos de Tradução pela Universidade de Brasília (POSTRAD/UnB) e integrante do Grupo de Pesquisa Victor Hugo e o Século XIX. 1 Sigla do texto que significa Tradução Automática.
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