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Sala de Recursos Multifuncionais 02 1. Sala de Recursos Multifuncionais 5 Recursos educacionais para acessibilidade 6 Organização e Funcionamento das Salas Multifuncionais 6 Sala de Recursos Multifuncionais: Inclusão ou Exclusão? 7 Atividades Curriculares Específicas nas SR 9 Características dos alunos atendidos na sala de recursos multifuncionais 9 Características do professor da sala de recursos multifuncionais 10 Implantação da Sala de Recursos Multifuncionais 10 A distribuição do programa às escolas 11 Atribuições do MEC quanto a distribuição do programa 12 O contrato de doação 12 Tipos de salas de recursos multifuncionais 13 Regiões contempladas 14 Proporção de salas de recursos Tipo I e Tipo II no país 14 O programa nas escolas da rede pública e instituições privadas 15 Funções dos professores na execução do programa 17 O Funcionamento, Abertura ou Renovação do Programa 21 Recursos existentes em salas de recursos 22 Tipo de transcrições na SR 23 Atribuições dos profissionais da SR 27 2. Avaliação Pedagógica e/ou Psicológica 32 Procedimentos que antecedem a reavaliação 32 Avaliação pedagógica 33 O que avaliar 33 3 Como avaliar 33 Instrumentos de Avaliação 33 Observação do aluno 34 Análise da produção do aluno 34 Áreas do desenvolvimento 35 Áreas do conhecimento 35 Avaliação psicológica (exclusiva do Psicólogo) 35 Área emocional 35 Área intelectual 35 Avaliação da equipe multiprofissional 35 Relatório 36 3. Referências Bibliográficas 38 04 5 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS 1. Sala de Recursos Multifuncionais Conceito das SR s salas de recursos multifun- cionais são ambientes dotados de equipamentos, mobiliários e materiais didáticos e pedagógicos para a oferta do atendimento educacional especializado que tem como objetivos: Prover condições de acesso, participação e aprendizagem no ensino regular aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, matriculados na rede pública de ensino regular. Garantir a transversalidade das ações da educação especial no ensi- no regular. Fomentar o desenvolvi- mento de recursos didáticos e pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem. Assegurar condições para a continuidade de estudos nos demais níveis de ensino. O conjunto de atividades, recursos de acessibilidade e pedagógicos que caracterizam o Atendimento Educacional Especiali- zado são organizados institucio- nalmente e prestados de forma complementar ou suplementar à formação dos alunos no ensino regular. A 6 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS Recursos educacionais pa- ra acessibilidade A produção e distribuição de recursos educacionais para a acessibilidade incluem livros didá- ticos e paradidáticos em Braille, áudio e Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS, laptops com sintetizador de voz, softwares para comunicação alternativa e outras ajudas técnicas que possibilitam o acesso ao currículo escolar. Organização e Funciona- mento das Salas Multifun- cionais O Ministério de Educação e Cultura – MEC, no ano de 2008, publicou um documento para enfatizar a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva. Sendo este, um grande passo para a implantação da política pública de educação inclusiva nos estados e município. A partir deste documento, outros, decretos, resoluções e leis começam a aparecer em prol dessa caminhada para incluir TODOS no sistema educacional, indepen- dente das limitações e diferenças apresentadas por cada sujeito. Em 2 de outubro de 2009, é homologada a Resolução de nº 4 que garante aos portadores de necessidades especiais o direito a dupla matrícula nas redes do ensino regular e nas Salas de Recursos Multifuncionais, bem como a garantia ao Atendimento Educacio- nal Especializado – AEE como complemento a escolarização dimi- nuindo as barreiras da exclusão na sala de aula do ensino regular e na sociedade, salienta o art. 2 desta resolução: Art. 2º - O AEE tem como função complementar ou suplementar a formação do aluno por meio da disponibilização de serviços, recur- sos de acessibilidade e estratégias que eliminem as barreiras para sua plena participação na sociedade e desenvolvimento de sua aprendi- zagem. (BRASIL, 2009) O Atendimento Educacional Especializado – AEE aos alunos com necessidades educativas especiais ocorrem em Salas de Recursos Multifuncionais, que tratam de espaços implantados na própria unidade escolar em parceria com as 7 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS esferas de governo: federal, estadual e municipal. As Salas de Recursos Multifuncionais são espaços da escola onde se realiza o atendimento educacional especializado para os alunos com necessidades educacio- nais especiais, por meio de desen- volvimento de estratégias de apren- dizagem centradas em um novo fazer pedagógico que favoreçam a construção de conhecimentos pelos alunos, subsidiando-os para que desenvolvam o currículo e partici- pem da vida escolar (BRASIL, 2007). O trabalho realizado com as pessoas portadoras de necessidades especiais acontecem, quase que sempre com o auxílio da tecnologia assistiva por meio de contribuições dirigidas nas limitações dos porta- dores de deficiências. O Atendimen- to Educacional Especializado com- plementa o atendimento às neces- sidades específicas de cada educan- do, assegurando a garantia de uma melhor assistência nas limitações e contribui na integração social e educacional destes edu-candos. Sala de Recursos Multi- funcionais: Inclusão ou Exclusão? Os movimentos de reformas sociais e educacionais proporcio- naram um avança na educação, ao destacar o direito da criança com deficiência de frequentar a escol regular e de nela progredir, dentro de seus limites e possibilidades. Porém, garantir u espaço na sala de aula e promover a integração entre os/as alunos/as não é suficiente para garantir a escolarização deste/a aluno/a. É preciso ensinar e dar sentido aos conteúdos. Essa é uma tarefa para o/a professor/a de diferentes níveis de ensino. Pensar em práticas que provocam mudanças e que possibi- litem o aprendizado e o convívio social de alunos/as e professores/as com e sem deficiência não é uma tarefa fácil. Todos/as são capazes de aprender e isto requer reconhece que cada um aprende de uma forma e num ritmo próprio. Compreender a diversidade significa dar oportu- nidades para todos/as aprenderem os mesmos conteúdos, construindo propostas curriculares flexíveis que atendam as diferenças. 8 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS As pessoas com necessidades educacionais especiais têm assegu- rado pela Constituição Federal de 1988, o direito à educação (escola- rização) realizada em classes comuns e ao atendimento educaci- onal especializado complementar ou suplementar à escolarização, que deve ser realizado preferencial- mente em salas de recursos na escola onde estejam matriculados, em outra escola, ou em centros de atendimento educacional especial- zado. Esse direito também está assegurado na LDBEN – Lei nº 9.394/96, no parecer do CNE/CEB nº 17/01, na Resolução CNE/CEB nº 2, de 11 de setembro de 2001, na lei nº 10.436/02 e no Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. O Atendimento Educacional Especializado é uma forma de garantir que sejam reconhecidas e atendidas as particularidades de cada aluno com deficiência, altas habilidades ou superdotado. Este pode ser em uma Sala de Recursos Multifuncionais, ou seja, um espaço organizado com materiais didáticos, pedagógicos, equipamentos e profis- sionais com formação para o atendi-mento às necessidades educacionais especiais, projetadas para oferecer suporte necessário às necessidades educacionais especiais dos alunos, favorecendo seu acesso ao conhe- cimento. Esse atendimento deverá ser paralelo ao horário das classes comuns. Uma mesma sala de re- cursos, conforme cronograma e ho- rários pode atender alunos com deficiência, altas habilidades/super- dotação, dislexia, hiperatividade, déficit de atenção ou outras neces- sidades educacionais especiais. “[...] uma nova gestão dos sistemas educacionais prevê a prioridade de ações de am- pliação do acesso à Educação Infantil, o desenvolvimento de programas para professores a adequação arquitetônica dos prédios escolares para a acessibilidade. Preconiza tam- bém a organização de recursos técnicos e de serviços que promovam a acessibilidade pedagógica e nas comunicações aos alunos com necessidades educacionais especiais em todos os níveis, etapas e modalidades da educação. (ALVES, 2006, p. 11)” Os princípios para organiza- ção das salas de recursos multifun- cionais partem da concepção de que a escolarização de todos os alunos, com ou sem necessidades educa- cionais especiais, realiza-se em classes comuns do Ensino Regular, quando se reconhece que cada criança aprende e se desenvolve de maneira diferente e que o atendimento educacional especial- zado complementar e suplementar a escolarização pode ser desenvol- vidos em outro espaço escolar. 9 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS Frequentando o ensino regular e o atendimento especial- zado, o aluno com necessidades educacionais especiais tem asse- gurado seus direitos, sendo de responsabilidade da família, da Escola, do Sistema e da sociedade. “As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica, 2001, em seu artigo 2° orientam que: “Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidades para todos”. (Alves, 2006, p.11) O atendimento educacional especializado constitui parte diver- sificada do currículo dos alunos com necessidades educacionais especia- is, organizado institucionalmente para apoiar, complementar e suplementar os serviços educa- cionais comuns. Atividades Curriculares Espe- cíficas Nas SR Dentre as atividades curricula- res específicas desenvolvidas no atendimento educacional especial- zado em salas de recursos se destacam: o ensino de Libras, o sistema Braille e o soroban, a comunicação alternativa, o enriquecimento curricular, dentre outros. Esse atendimento não pode ser confundido com reforço escolar ou mera repetição dos conteúdos programáticos desenvolvidos na sala de aula, mas devem constituir um conjunto de procedimentos específicos mediadores do processo de apropriação e produção de conhecimentos. Características dos alunos atendidos na sala de recursos multifuncionais Os alunos atendidos na Sala de Recursos Multifuncionais são aque- les que apresentam alguma necessidade educacional especial, temporária ou permanente. Entre eles estão os alunos com dificuldades acentuadas de aprendi- zagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultam o acompanhamento das atividades curriculares, os alunos com dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais, os alunos que evidenciem altas habilidades/superdotação e que apresentem uma grande facilidade ou interesse em relação a algum tema ou grande criatividade ou talento específico. Também fazem parte destes grupos, os alunos 10 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS que enfrentam limitações no processo de aprendizagem devido a condições, distúrbios, disfunções ou deficiências, tais como: autismo, hiperatividade, déficit de atenção, dislexia, deficiência física, paralisia cerebral e outros. Características do professor da sala de recursos multifun- cionais O professor da Sala de Recursos Multifuncionais deve atuar, como docente, nas atividades de complementação ou suplemen- tação curricular específica que constituem o atendimento educa- cional especializado; atuar deforma colaborativa com o professor da classe comum para a definição de estratégias pedagogias que favo- reçam o acesso do aluno com necessidades educacionais especiais ao currículo e a sua interação no grupo; promover as condições de inclusão desses alunos em todas as atividades da escola; orientar as famílias para o seu envolvimento e a sua participação no processo educacional; informar a comuni- dade escolar acerca da legislação e normas educacionais vigentes que asseguram a inclusão educacional; participar do processo de identi- ficação e tomada de decisões acerca do atendimento às necessidades especiais dos alunos; preparar material específico para o uso dos alunos na sala de recursos; orientar a elaboração de material didático- pedagógico que possam ser utiliza- dos pelos alunos nas classes comuns do ensino regular; indicar e orientar o uso de equipamentos e materiais específicos e de outros recursos existentes na família e na comunidade e articular, com gestores e professores, para que o projeto pedagógico da instituição de ensino se organize coletivamente numa perspectiva de educação inclusiva. Também, na Sala de Recursos Multifuncionais, devem estar à disposição dos alunos um arsenal de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades funcionais de pessoas com deficiência e, consequente- mente promover vida independente e inclusão, que são chamadas de Tecnologias Assistivas. Implantação da Sala de Recursos Multifuncionais O “Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifun- cionais” vem sendo, junto aos outros programas criados pelo Governo Federal, âncora das ações para a educação especial nos últimos anos no país. Conforme a legislação em 11 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS vigor, esse programa se responsa- biliza pela provisão dos meios para que seja oferecido o Atendimento Educacional Especializado (AEE), suplementar e/ou complementar ao ensino regular/comum. Apesar do papel de destaque dado ao programa entre as ações do governo para a educação especial, ainda é pequeno o conhecimento sobre ele, atual- mente sob o controle da Secretaria de Educação Continuada, Alfabe- tização, Diversidade e Inclusão (SECADI). Alguns trabalhos tem se voltado para a investigação do Atendimento Educacional Especiali- zado em diferentes municípios no âmbito da deficiência intelectual, da educação ambiental e educação infantil (CHIESA, 2009; DIAS, 2010; DA SILVA, 2008), tratando especificamente da prática nas salas de recursos. No entanto, também se faz necessário o empreendimento de pesquisas voltadas à elaboração, implantação e operacionalização do programa, que avancem no conhecimento de sua realidade e no encaminhamento de propostas consistentes para a ação política. Iniciado em 2005 e instituído legalmente através da Portaria Normativa n° 13 de 24 de abril de 2007 (BRASIL, 2007a), o “Pro- grama de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais” integra o Plano de Desenvolvimento da Edu- cação (PDE) buscando apoiar o sistemas de ensino na implantação de salas de recursos multifun- cionais, com materiais pedagógicos de acessibilidade para a realização do Atendimento Educacional Espe- cializado, complementar ou suple- mentar à escolarização. A intenção é atender os alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvi- mento e altas habilidades/su- perdotação, matriculados nas classes comuns do ensino regular. O programaé destinado às escolas das redes estaduais e municipais de educação, desde que os alunos com as características citadas estejam registrados no Censo Escolar (MEC/INEP). A distribuição do programa às escolas A SECADI disponibiliza equipamentos, mobiliários e mate- riais pedagógicos e de acessibilidade para a organização das salas de recursos multifuncionais (entre 2005 e 2011, essa função foi dessem- penhada pela extinta Secretaria de Educação Especial - SEESP), cuja implantação depende da apresen- tação da demanda no Plano de Ações Articuladas (PAR), da indicação de escola para implementação do programa pelas Secretarias de 12 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS Educação no Sistema de Gestão Tecnológica do Ministério da Educação (SIGETEC), da licitação, aquisição e distribuição dos equi- pamentos e demais recursos pelo Fundo Nacional de Desenvol- vimento da Educação (FNDE), autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC) para prestar assistência financeira e técnica e executar ações que contribuam para a qualificação da educação. A Secretaria de Educação efetua a adesão, o cadastro e a indicação das escolas contempladas por meio do SIGITEC. No ato de solicitação das salas, as Secretarias de Educação assumem o com- promisso com os objetivos do programa e realizam no sistema os seguintes passos: adesão e cadastro do gestor do município (Prefeito), estado ou Distrito Federal (Secre- tário de Educação), indicação das escolas conforme os critérios do programa, confirmação de espaço físico para a sala e confirmação de professor para atuar no Atendi- mento Educacional Especializado (BRASIL, 2010a). Atribuições do MEC quanto a distribuição do programa De acordo com o manual de implantação do programa, o MEC se responsabiliza por adquirir os recursos que compõem as salas, informar sobre a disponibilização das salas e critérios adotados, monitorar a entrega e instalação dos itens às escolas, orientar aos sistemas de ensino para a organi- zação e oferta do Atendimento Educacional Especializado, cadas- trar as escolas com salas de recursos multifuncionais instaladas, promo- ver a formação continuada de professores para nelas atuar, encaminhar, assinar e publicar os contratos de doação, atualizar os recursos das salas criadas pelo programa e apoiar à acessibilidade nas escolas com salas implantadas. Estão previstas também visitas de técnicos do MEC nas salas de recursos multifuncionais, bem como o encaminhamento da “Revista Inclusão” e demais publicações do MEC às escolas. Para tanto, todas as salas de recursos multifuncionais deverão manter atualizado seu registro de funcionamento no Censo Escolar e preencher formulários enviados pelo MEC para atualização de cadastro (BRASIL, 2010a). O contrato de doação A doação dos itens se configura em entrega de bens do patrimônio público para guarda e cuidados dos beneficiários. O 13 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS “Contrato de Doação” dos bens das salas de recursos multifuncionais é formalizado pelo Ministério da Educação, que encaminha este em três vias para assinatura do titular da Secretaria de Educação, estipulando prazo de 30 dias para seu retorno. Após o ato de assinatura do titular da SEESP (papel atualmente desempenhado pelo titular da SECADI), os contratos são publicados no Diário Oficial da União, sendo efetivada a devolução das cópias referente às respectivas Secretarias de Educação (BRASIL, 2010a). Após a confirmação da indica- ção da escola e da disponibilização das salas pelo programa, as Secretarias de Educação devem: informar às escolas sobre sua indicação, monitorar a entrega e instalação dos recursos nas escolas, orientar quanto à institucional- lização da oferta do Atendimento Educacional Especializado no proje- to político pedagógico, acompanhar o funcionamento da sala conforme os objetivos, validar as informações de matrícula no Censo Escolar INEP/MEC, promover a assistência técnica, a manutenção e a segurança dos recursos, apoiar a participação dos professores nos cursos de formação para o Atendimento Educacional Especializado, assinar e retornar ao MEC o Contrato de Doação dos recursos (BRASIL, 2010a). No período de 2005 a 2011 foram disponibilizadas 37.801 salas de recursos multifuncionais em 5.019 municípios. Do total de salas implantadas no período, 36.385 são do Tipo I e 1.416 são do Tipo II, com recursos adicionais para o atendimento aos alunos com deficiência visual. Até 2010, esta ação contemplou 83% dos muni- cípios brasileiros, sendo implemen- tada em 43% das escolas públicas com matrícula de alunos público- alvo da educação especial no ensino regular. Tipos de salas de recursos multifuncionais As salas Tipo I são compostas por microcomputador com gravador de CD, leitor de DVD e terminal, monitor LCD 32 polegadas, fones de ouvido e microfones, scanner, im- pressora laser, teclado com colmeia, mouse com entrada para acionador, acionador de pressão, bandinha rítmica, dominó, material dourado, esquema corporal, memória de numerais, tapete quebra- cabeça, software para comunicação alterna- tiva, sacolão criativo, quebra- cabeças sobrepostos (sequência lógica), dominó de animais em Língua de Sinais, memória de 14 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS antônimos em Língua de Sinais, conjunto de lupas manuais (aumento três, quatro e cinco vezes), dominó com textura, plano incli- nado (estante para leitura), mesa redonda, cadeiras para computador, cadeiras para mesa redonda, armário de aço, mesa para computador, mesa para impressora e quadro melanínico (lousa para sala de aula feita de compensado de 12 mm, multilaminada revestida na cor branca, possui bordas em perfil de alumínio e suporte para parede medindo 1,20 x 2,20m). As salas Tipo II além dos recursos anteriores são acrescidas de outros recursos voltados ao atendimento de crianças com deficiência visual, os quais são: impressora Braille, máquina Braille, lupa eletrônica, reglete de mesa, punção, soroban, guia de assinatura, globo terrestre adap- tado, kit de desenho geométrico adaptado, calculadora sonora e software para produção de desenhos gráficos e táteis. Regiões contempladas Entre os anos de 2005 e 2011, 37.774 escolas foram contempladas com salas de recursos multi- funcionais, localizadas em sua maior parte nas regiões Nordeste e Sudeste: As regiões Centro Oeste e Norte respondem pelo menor número de salas implantadas. Abaixo, na Figura 1 podemos comprovar isso, observando a localização atual das salas de recursos multifuncionais no país: Proporção de salas de recur- sos Tipo I e Tipo II no país Através do gráfico abaixo, temos a proporção de salas de recursos multifuncionais Tipo I e II. Conforme as informações disponibi- lizadas, as de Tipo II correspondem a uma proporção ínfima das salas no país, tendência que veremos adiante ter se mantido em todo o período 2005-2011. Esse fato é justificado 15 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS em vários documentos e no site do MEC, que afirmam que os tipos de salas de recursos são adequados à demanda dos tipos de características dos alunos. Ao disponibilizar os recursos de duas formas distintas (Tipo I e Tipo II) para os diversos municípios do país, fica o questionamento sobre a possibilidade de um modelo, sob a forma de “pacotes” de recursos para a acessibilidade, ser passível de responder às inúmeras necessidades de municípios e públicos tão dis- tintos, mesmo com a previsão de atualização dos itens das salas já implantadas e conversão entre os tipos de sala, a partirdas matrículas de alunos público-alvo da educação especial que passem a constar no Censo Escolar (MEC/INEP) (BRA- SIL, 2010a). Tal modelo ao mesmo tempo em que equipa/prepara a estrutura das escolas (e centros especializados) para atender a essas crianças, é calcado na “multi- funcionalidade” atendendo aos alunos com deficiências, altas habi- lidades/superdotação num mesmo local, o que pode pretender legitimar a racionalização de recursos dentro de uma divisão do trabalho já existente. O programa nas escolas da rede pública e instituições privadas O Edital n° 1/2007 que disseminou o programa e estabeleceu a primeira chamada para a criação de salas de recursos multifuncionais em larga escala pelo país (antes do estabelecimento da Imsolicitação via SIGITEC), afirmava ser objetivo do mesmo “apoiar os sistemas de ensino na organização e oferta do Aten- dimento Educacional Especializado, por meio da implantação de salas de recursos multifuncionais nas escolas de educação básica da rede pública, fortalecendo o processo de inclusão nas classes comuns de ensino regular” (BRASIL, 2007b, p. 1, grifo nosso). Assim, o direcionamento inicial dado ao programa era implantar salas de recursos multifuncionais nas escolas de educação básica da rede pública de ensino. Entretanto, pelo gráfico abaixo podemos perceber que, apesar do objetivo apresentado ser o fortalecimento da rede pública de ensino e as redes estaduais e 16 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS municipais responderem pelo maior número de matrículas na sala de recursos multifuncionais, o número de salas implantadas em instituições privadas de caráter filantrópico também foi significativo entre os anos de 2009 e 2010: Prieto (2010) nos adverte que ao permitirem a execução do aten- dimento complementar e suplemen- tar fora da rede pública, em instituições de caráter comunitário, confessional ou filantrópico, as normativas atuais mantêm os riscos de não ampliação da estrutura de serviços de atendimento edu- cacional especializado pelos sis- temas públicos de ensino. Por outro lado, Garcia (2009) aponta que com a tendência em se ter mais serviços complementares que substitutivos à escolarização, mesmo que com concessões financeiras às insti- tuições privado-assistenciais, o “Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais” vem gerando um clima político de publicitação do atendimento educa- cional à pessoa com deficiência no país. Pesquisas como as de Michels e Garcia (2008) vêm mostrando um ascendente de iniciativas municipais na organização do atendimento educacional especializado, com alguns deles contando exclusi- vamente com os recursos do Governo Federal para executar suas ações: [...] mais recentemente o que estamos presenciando é uma gestão regulada por editais, por meio dos quais o poder central define a política, a execução, os recursos e sua distribuição, as metas, os objetivos e as unidades executoras, quer sejam redes estaduais e/ou municipais de educação, escolas ou universidades, submetem-se ao crivo central para desenvolver ou não projetos pouco compartilhados na sua concepção. Tal possibilidade implica, muitas vezes, em fontes indispensáveis de liberação de recursos para as chamadas unidades executoras (GARCIA, 2009, pp. 9 e 10). Mesmo com a política definida pelo poder central, como explica Garcia (2009), cada município acaba assumindo diferentes confi- gurações na oferta do atendimento educacional especializado, de acordo com suas condições próprias. Assim alguns municípios por 17 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS possuir maior experiência adquirida na escolarização dos alunos com deficiência acabam por ter mais êxito ao colocar em prática os programas educacionais, enquanto outros fazem ainda suas primeiras movimentações nesse sentido. Caiado e Laplane (2009) afirmam que em alguns municípios, inclusos nas áreas de abrangência do programa “Educação Inclusiva: direito à diversidade” (responsável pela formação continuada de professores para a educação espe- cial), é contabilizada a existência de salas multifuncionais que, na realidade, funcionam como salas especiais em turno diferente ao da escola regular. Através de suas pesquisas puderam constatar que os governos municipais não sabem o número de alunos atendidos nem da demanda que não pode ser atendida pelo programa. A simples instalação da sala de recurso, o fato de ter começado a funcionar, ou a presença de um gestor do município nas ações de capacitação do município-pólo servem como sinônimo de que os sistemas de ensino estão executando as políticas de inclusão escolar a contento. Funções dos professores na execução do programa Em relação às funções dos professores na execução do programa, tanto a Nota Técnica SEESP/GAB/n° 9/2010 que propõe a organização das instituições privado-assistenciais em Centros de Atendimento Educacional Especiali- zado quanto a Nota Técnica SEESP/GAB/n° 11/2010 que trata sobre a implementação do programa nas escolas regulares dizem que cabe ao professor do Atendimento Educacional Especiali- zado: Desenvolver atividades pró- prias do AEE, de acordo com as necessidades educacionais específicas dos alunos: ensino da Língua Brasileira de Sinais – Libras para alunos com surdez; ensino da Língua Portuguesa escrita para alunos com surdez; ensino da Comunicação Aumentativa e Alternativa – CAA; ensino do sistema Braille, do uso do soroban e das técnicas para a orientação e mobilidade para alunos cegos; 18 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS ensino da informática acessível e do uso dos recursos de Tecnologia Assistiva – TA; ensino de atividades de vida autônoma e social; orientação de atividades de enriquecimento curricular para as altas habilidades/superdotação; e promoção de atividades para o desenvolvimento das funções mentais superiores (BRASIL, 2010b, p. 4; 2010c, p. 5). Cabe ainda ao professor do Atendimento Educacional Especiali- zado seja dos Centros de AEE ou das salas multifuncionais em escolas regulares uma série de atribuições, dentre elas “elaborar, executar e avaliar o Plano de AEE do aluno, contemplando: a identificação das habilidades e necessidades educa- cionais específicas dos alunos; a definição e a organização das estratégias, serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade” (BRASIL, 2010b; 2010c, p. 4). Não bastasse a responsabilidade de todas as atribuições dadas ao professor responsável pelo Atendimento Educacional Especializado nesse documento, ao colocar sob seu encargo “elaborar, executar e avaliar” a natureza dos serviços e recursos pedagógicos (BRASIL, 2010b, 2010c, p. 4) demonstra que para a legislação, ele deve ser o agente motriz desse processo. Essa delegação de funções gera uma grande expectativa sobre o papel dos professores nesse processo, pois a mera atribuição de funções não se torna garantia de efetivação de atendimento, já que esta passa pela necessidade de se proporcionar além de uma formação consistente para a atuação dos profissionais envolvidos, também deve estar atrelada à promoção de várias mudanças desde ampliação de quadro, mudança de proposta pedagógica, de contrato de professores, etc. Por isso mesmo, vem tomando corpo uma legítima preocupação com a formação dos profissionais que já atuam ou irão atuar no programa, preocupação que inclu- sive foi pauta na Conferência Nacional de Educação (CONAE) realizada em 2010 que promoveu discussões sobre o novo Plano Nacional de Educação (2011-2020) e suas respectivas implicações para a educação especial (LAPLA- NE; PRIETO,2010). No que diz respeito à alocação de recursos para a formação acadêmica dos professores que irão atuar nessas salas, o Decreto n° 7.611/2011 atualmente em vigor, garante a formação continuada dos profissionais envolvidos na execução do programa citando o apoio técnico e financeiro para a 19 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS formação continuada de professores dos sistemas públicos de ensino e das instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas e formação de gestores, educadores e demais profissionais da escola para a educação na perspectiva da educação inclusiva, “particular- mente na aprendizagem, na participação e na criação de vínculos interpessoais” (BRASIL, 2011, art. 5°, § 2°, III, IV). A qualificação da formação dos profissionais que atuam na execução do programa se faz cada vez mais necessária, pois pesquisas como a de Mori e Brandão (2009) vêm apontando que o trabalho pedagógico nas salas de recursos multifuncionais vem se caractere- zando por um ecletismo das práticas docentes, com ênfase na socialização e nas atividades básicas, em detrimento de uma prática que esteja voltada para a transmissão de conhecimentos científicos. A crítica de que as práticas ocorridas nessas salas não se voltam à transmissão dos conhecimentos científicos é pertinente, mas o fato é que é exatamente isto que a normatização delas indica: o AEE não deve se confundir com o trabalho pedagógico da sala regular. Portanto, incrivelmente, situações como estas estão previstas pela política educacional: “As atividades desenvolvidas no atendimento educacional especializado diferenci- am-se daquelas realizadas na sala de aula comum, não sendo substitutivas à escolarização. Esse atendimento complementa e/ou suplementa a formação dos alunos com vistas à autonomia e independência na escola e fora dela” (BRASIL, 2008a, p. 10, grifo nosso), indicando, como já foi visto, alguns procedimentos (Libras, Braille, etc.). Em relação às deficiências sensoriais pode-se explicar que o que se ensina para esses alunos é a própria utilização desses recur- sos/procedimentos. Mas o mesmo não se pode dizer em relação aos alunos com deficiência intelectual, assim resta à dúvida sobre o que deveria ser desenvolvido para eles nas salas de recursos multifun- cionais. Bueno e Meletti (2010, p. 7) afirmam que na atual Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva (2008), ao se reportar a diferentes níveis de ensino, a única referência a trabalho pedagógico diz respeito aos alunos com altas habilida- des/superdotação, e quando aborda especificamente a educação infantil acontece o mesmo: “[...] as duas únicas atividades que envolvem o currículo escolar dizem respei- 20 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS to [...] ao enriquecimento curricular para alunos com altas habilidades e a adequação e produção de materiais didáticos e pedagógicos, ou seja, a preocupação com a apropriação do conteúdo escolar se volta, de um lado, exatamente àqueles que possuem todas as condições para sua apropriação, enquanto que aos alunos que apresentam dificuldades específicas para apropriação do acervo cultural fornecido pela escola bastaria, segundo o documento, a ade- quação e produção de material didático e pedagógico.” Como se vê, não há qualquer referência a atividades conjuntas do professor especializado com o professor da sala comum, como apoio ao processo pedagógico, tal como desenvolvido em outros países. Fala-se apenas que o AEE se trata de um “conjunto de ativi- dades, recursos de acessibilidade e pedagógicos” (BRASIL, 2008b, art. 1°, §1°; 2011, art. 2°, § 1°) e não sobre ser trabalho ou processo pedagógico. Como resultado, isso vem acarretando inúmeras confusões didáticas sobre o que deve ser desenvolvido no AEE. Os estudos de Mendes, Silva e Pletsh (2011) apontam que nas salas de recursos observadas e entre os diferentes grupos de alunos com deficiência mental que as compõem, as atividades parecem ser previa- mente escolhidas de um rol que pode se repetir durante a semana, com objetivos que transitam entre a lógica da sala de aula comum e as dificuldades dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática, sem o trabalho com outras disciplinas durante o período de observação. As práticas se fundam em jogos pedagógicos, formação do alfabeto móvel e construção de palavras, registro em folhas específicas, registro livre e no caderno. O diferencial se assenta no acréscimo dos jogos pelo computador e dispositivos que se acoplam à televisão. Porém, o que vem definindo as atividades e práticas guarda relação apenas com a proposta organizativa de flexibilização curricular, que engloba o agrupamento de alunos, a organização didática da aula, a disposição do mobiliário e materiais didáticos e os tempos flexíveis. Assim, as salas de recursos e as salas de recursos multifuncionais, como espaços do AEE, vêm se constituindo o espaço tempo preferencial de materialização da inclusão de alunos com deficiência na escola comum (MENDES, SILVA; PLETSH, 2011). Entremeado por contradições em sua implantação, o programa parecia de início tentar “forçar” as redes públicas a receber aos alunos 21 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS público-alvo da educação especial, criando condições, disponibilizando meios para que isso acontecesse. No entanto o recuo representado pela disponibilização de recursos públi- cos para o terceiro setor (aqui representado pelas instituições privadas de caráter filantrópico) historicamente por eles beneficiado previsto em lei (BRASIL, 2011), demonstra que ainda há um longo caminho para que se ampliem as condições de acesso e permanência dessas pessoas na escola regular. O Funcionamento, Abertu- ra ou Renovação do Pro- grama § 1o Para a concessão de autorização de funcionamento, de abertura ou renovação de curso pelo Poder Público, o estabelecimento de ensino deverá comprovar que: I - Está cumprindo as regras de acessibilidade arquitetônica, urba- nística e na comunicação e infor- mação previstas nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT, na legislação específica ou neste Decreto; II - Coloca à disposição de pro- fessores, alunos, servidores e em- pregados portadores de deficiência ou com mobilidade reduzida ajudas técnicas que permitam o acesso às atividades escolares e administra- tivas em igualdade de condições com as demais pessoas; e III - seu ordenamento interno contém normas sobre o tratamento a ser dispensado a professores, alunos, servidores e empregados portadores de deficiência, com o objetivo de coibir e reprimir qual- quer tipo de discriminação, bem como as respectivas sanções pelo descumprimento dessas normas. Uma queixa recorrente das professoras de SR entrevistadas foi referente à falta de um maior apro- fundamento na sua formação. Embora sendo especialistas respon-sáveis por SR específicas para o suporte a alunos com deficiência visual, nenhuma delas dominava ou utilizava em seu trabalho algum software leitor de tela ou outro software com o recurso de síntese de voz. Ambas mencionavam o soft-ware Dosvox, porém, reconhecendo não o dominar por isso, não utilizavam em seus trabalhos, apesar de uma das SR já dispusesse de computador e de 22 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS uma impressora Braille, além de 5 notebooks recebidos já a 8 meses, do Governo Federal. Recursos existentes em salas de recursos Os principais recursos existen- tes nessas SR e que foram mencionados nas entrevistas, são: Duas máquinas Braille em cada SR; Kits para deficiência visual recebidos do MEC,com bengala, reglete, punção e soroban; Papel para escrita em Braille; Impressora Braille, em uma das SR; Computador, em uma das SR; Cinco notebooks fornecidos pelo MEC, em uma das escolas; Materiais para a confecção de gráficos, mapas etc., em alto relevo: cordão, lixa, camurça, tintas etc. Sobre os notebooks foi mencionado que alguns alunos já sabiam utilizá-los com o software Dosvox, e podiam levá-los para a sala de aula. Outros alunos ainda estavam aprendendo a utilizar. Os notebooks eles podem levar para a sala de aula, fazerem anotações. Aqui nós temos 5 notebooks. Tem os alunos que já tem muita intimidade com a informática e então eles usam tranquilamente. Mas tem aqueles que ainda estão aprendendo a manusear. No caso, eles têm atendimento no “nome da instituição pública”. (PR1) Os aprendizados desses alunos referentes ao uso do computador para o trabalho na sala de aula eram sempre feitos em instituições de apoio, fora da escola. Foram mencionadas duas instituições especializadas em deficiência visual, uma pública e outra privada, filantrópica, que forneciam esse apoio, não só na formação referente à informática, mas também em outros conteúdos e habilidades, em horários diferentes da escola. Pesquisador: O que eles fazem na “instituição”? Eles têm apoio pedagógico, tem aula de mobilidade, os que necessitam de orientação e mobilidade, AVDs, escrita cursiva e várias outras. (PR1) Nesse caso, a sala de recurso não cumpre a sua finalidade e o aluno tem dois tipos de apoio educacional especializado, o fornecido pela escola, que se restringe a transcrição para o Braille e para a letra cursiva e da instituição especializada que atende as demais necessidades especiais desse aluno. Sobre a finalidade de uma sala de recursos com materiais específicos para suporte a alunos 23 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS com deficiência visual, Bruno (1997, p. 18) já descrevia de forma pertinente em 1997 da seguinte forma: Proporciona o atendimento de professor especializado a alunos portadores de cegueira e visão subnormal matriculados no sistema comum de ensino ou em classes especiais. Dispõe de recursos específicos e materiais pedagógicos adequados ao processo ensino aprendizagem, oferecendo apoio suplementar para superação das dificuldades dos alunos e orientação para integração em classe comum. Esse atendimento é prestado prioritariamente a alunos da própria escola; havendo vagas, a alunos de outras unidades escolares. As atribuições das professoras da SR, conforme são entendidas pelos profissionais das duas esco- las estudadas, englobam ativida- des bem específicas e limitam-se a transcrição, as quais ocupam, segundo eles, a quase totalidade do tempo disponível para o trabalho: Os alunos com deficiência visual não têm nenhuma atividade específica na SR, devido ao horário de aula deles. Só tem 20 minutos de intervalo. Não têm horário previsto para cá. Então, aqui é uma sala para converter material. É isso. Adapta- ção de material. Agora, as outras coisas que eles precisam, geral- mente fazem no turno oposto, na outra instituição que frequentam. (PR1) Tipo de transcrições na SR Na Sala de Recursos estudada, são feitos dois tipos de transcrições: 1. A transcrição dos textos, provas etc., fornecidos impres- sos com tinta pelos professo- res, para o Braille. Para a realização dessa transcrição, os profissionais da SR utilizam a Máquina Braille, para possibilitar o acesso dos alunos a esses textos. 2. A transcrição dos textos em Braille, escritos pelos alunos na sala de aula utilizando reglete e punção, ou eventualmente na SR usando a Máquina Braille, para tinta. Essa transcrição do Braille para tinta é feita principalmente para que os professores das disciplinas, os quais não sabem Braille, possam ler essas produções dos alunos. O básico aqui na SR é o Braille, a transcrição deles. O aluno está na sala com sua reglete, o professor da sala não sabe o Braille, o que é uma pena. O ideal seria toda a equipe munida pelo menos do Braille para a inclusão ser eficiente... Aí, os alunos 24 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS escrevem lá na sala, trazem aqui, e eu transcrevo. A transcrição é feita com caneta em cima do que o aluno escreve em Braille, é fidedigna, todos os erros que eles têm, todas as dificuldades que eles tiveram na escrita e na interpretação, a gente não sonega, a agente transcreve como eles fizeram. (PR2) Os alunos vêm aqui na SR nos intervalos, para tirar dúvidas, entregar material, pegar material. [...]. Eles entregam o material em tinta e as avaliações, apostilas, tudo é traduzido aqui para o Braille. Nós usamos a máquina Braille e algumas vezes o programa de computador. Eu digito o texto que é transformado em Braille pelo programa e imprime na impressora Braille. (PR1) Quando é uma coisa muito urgente a gente grava e põe para eles ouvirem. Temos aqui um gravador. Mas essa escuta tem que ser mais em casa, porque aqui eles não têm muito tempo. A dificuldade está nisso, porque muitas vezes se faz a gravação aqui, mas em casa eles não têm o aparelho para ouvir a fita, e em casa eles não tem a possibilidade de continuar o estudo. (PR2) Somente em uma das SR estudadas são utilizados o compu- tador e a impressora Braille para a conversão dos textos. Entretanto, mesmo nessa sala, a profissional informou desconhecer os softwares que fazem a conversão automática de textos no formato digital direto para o Braille. Por esse motivo essa profissional informou que tem que redigitar todos os textos para que os softwares fossem convertidos grada- tivamente para posterior impressão em Braille. O software que existe para isso é o Dosvox [...]. Existe toda a dinâmica da informática que eu não tenho domínio porque eu não uso. Estou aqui só com a máquina Braille. (PR2) Também é feita na SR a adaptação em alto-relevo de dife- rentes materiais didáticos, aos quais, de outra forma, os alunos cegos não poderiam ter acesso. Por exemplo, nós fazemos a adaptação de mapas. Nós usamos tinta em alto relevo. Tudo em alto-relevo. E nós podemos usar também materiais como cordão, lixa, camurça, todo material que seja fácil de diferenciar pelo tato. (PR1) É o desenho de uma figura, um mapa, uma célula, um desenho que ele tenha que ter a ideia de como é. Nós fazemos em alto-relevo, com tinta, com cordão, com cola, com variadas texturas e, antes dele ir para a sala, a gente dá a ideia de como é a figura, para que, quando ele for assistir à aula, ele já tenha feito o mapa mental dele sobre a figura. (PR2) 25 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS E para os alunos com baixa visão (antes chamada de visão subnormal) é feita, na SR, a transcrição dos textos impressos comuns, para textos com os caracteres ampliados, impressos ou manuscritos. Para os alunos com baixa visão, nós utilizamos a escrita em tinta, ampliada. Temos aluno que tem que usar a fonte 22. Temos que ver o tamanho correto da fonte para cada aluno. Quando o professor já dá no CD direitinho, a gente só faz ampliar a fonte e imprimir já configurado. (PR1) Para essa garota de baixa visão, a escola com essa história de inclusão, pecou, porque não tem o CCTV, então eu amplio tudo a mão, porque a escola diz que não tem tinta de impressora, não dispõe de tinta para ampliar tudo. Só imprimo a prova. Então, eu tenho que fazer apostila, essas coisas, tudo na mão, manuscrito mesmo, com piloto, ampliando em letra maiúscula, porque a fonte dela é muito alta, tipo 36, 40. (PR2) Foram mencionados, portan- to, outros recursos de TA que poderiam auxiliar, até com mais eficáciae autonomia, aos alunos com baixa visão, porém os profes- sores informaram que as escolas não dispunham dos mesmos, como as lupas e o aparelho do CCTV. Essas foram, portanto, as principais atividades de TA realizadas nas SR, segundo foram apontadas pelos profissionais entrevistados. Tam- bém houve professores de sala de aula do ensino regular que apontaram dificuldades quanto ao suporte que é fornecido pela SR, por considerarem ser um suporte muito limitado, conforme relatado nos seguintes diálogos com o pesqui- sador: Quando às vezes eu não tenho material em Braille, eles (os a- lunos) praticamente não com- seguem acompanhar a parte escrita do meu trabalho (P2). Pesquisador: - Por que eles não têm esse material em Braille, às vezes? Não tem porque não dá tempo. Tem uma só pessoa aqui na escola para isso. A pessoa passa para o Braille e eles levam para a aula. Mas às vezes ela tem um contra- tempo. Eu também às vezes não tenho tempo de entregar na hora exata que eu deveria. Porque eu tenho 14 turmas... (P2) Uma apostila à gente passa para a sala de Braille. E aí ela transcreve para o Braille para os meninos. Um problema em particular é que não vem a tempo. (P1) Pesquisador: - Você tem pro- blemas com essa demora? Demais. Por causa do volume, são muitos alunos [...] trans- creve todo o material, mas ela 26 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS é humana e infelizmente tam- bém ocorrem erros de trans- crição, em algumas coisas não consegue ser fiel. Já aconteceu inúmeras vezes comigo. (P1). Aqui são apontados problemas para a eficácia do trabalho e para o aprendizado dos alunos. Porém, também é possível perceber que grande parte desses problemas apontados provavelmente poderia ser superada com a conjunção de alguns fatores os quais seriam: melhor organização no traba- lho de fornecimento e trans- crição do material; melhor formação dos respon- sáveis pela SR, principalmente quanto ao uso das tecnologias; uma otimização no uso das tecnologias apropriadas dis- poníveis. Quanto à dinâmica do trabalho da SR, foi referido por diferentes entrevistados que, princi- palmente o material em tinta a ser transcrito para o Braille, como textos, apostilas, avaliações, etc., o que configura o volume maior de trabalho a ser realizado, muitas vezes não era repassado com antecedência pelos professores para os responsáveis pela SR, e que somente eram fornecidos ao longo do semestre, na mesma ocasião em que eram entregues aos demais alunos da sala. Com um melhor planejamento e priorização ao atendimento a esses alunos com deficiência visual, grande parte desse material poderia ser repassado, antes do início do semestre, junto com a informação sobre a data prevista para o seu uso em sala de aula, para que esse trabalho de transcrição pudesse ser realizado de forma mais planejada e gradativa, pelos profissionais responsáveis, evitando acúmulos de serviços e atrasos no fornecimento do material aos alunos. E, finalmente, se esses profissionais fossem capacitados para o uso dos recursos computa- cionais, tal utilização poderia ser otimizada nas SR, facilitando mui- to e automatizando todo o trabalho de transcrição de textos, que é feito, até agora, manualmente, um por um, com a máquina Braille, pelos profissionais da sala. Hoje existem diferentes softwares gratuitos que fazem a conversão automática de um texto comum no formato digital, para o Braille, além do Dosvox, citado anteriormente. Os professores da sala de aula do ensino regular poderiam fornecer os textos em meio digital para a SR, como alguns já fazem, os quais seriam convertidos automaticamente para 27 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS o Braille. Esse processo computadorizado reduziria em muito o tempo gasto, em relação à conversão manual que é feita até agora com a máquina Braille, otimizando todo o trabalho desenvolvido pelos profissionais da SR, e beneficiando os alunos com deficiência visual em seu aprendizado. Essa melhor organização das atividades e economia de tempo, possibilitaria uma qualificação mai- or do trabalho desenvolvido pelos profissionais da SR, podendo ser reforçado o suporte aos professores e demais profissionais da escola, além do desenvolvimento de ou- tras tarefas e um melhor cumpri- mento das atribuições específicas de uma SR. Cabe registrar que, as duas escolas estudadas, já dispunham de laboratórios de informática com- pletos, para o trabalho educacional. Entretanto, nenhum dos labora- tórios de informática existentes nessas escolas era acessível para os alunos com deficiência. Não dispunham nem de adaptações físicas ou órteses, para o uso dos computadores por parte de alunos com deficiências motoras, nem de adaptações de hardware, nem, tampouco, softwares especiais de acessibilidade instalados, com os softwares leitores de tela, para os alunos cegos, mesmo que muitos desses softwares sejam gratuitos. As atividades realizadas pelas SR, portanto, segundo foi relatado pelos entrevistados, ainda são muito poucas em relação às possibilidades de apoio que as mesmas poderiam oferecer a escola. Dentre as diferentes atribuições e funções possíveis dos profissionais da SR, destacam-se como referências as que são estabelecidas pela Resolução nº 4 de 2 de outubro de 2009 que institui diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na educação básica, modalidade educação especial, no artigo 13: Atribuições dos profissionais da SR Art. 13. São atribuições do professor do Atendimento Educacional Especializado: I - Identificar, elaborar, produzir e organizar serviços, recursos pedagógicos, de acessibilidade e estratégias considerando as necessi- dades específicas dos alunos público-alvo da Educação Especial; II - Elaborar e executar plano de Atendimento Educacional Especiali- zado, avaliando a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagó- gicos e de acessibilidade; 28 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS III - organizar o tipo e o número de atendimentos aos alunos na sala de recursos multifuncionais; IV - Acompanhar a funcionalidade e a aplicabilidade dos recursos pedagógicos e de acessibilidade na sala de aula comum do ensino regular, bem como em outros ambientes da escola; V - Estabelecer parcerias com as áreas Inter setoriais na elaboração de estratégias e na disponibilização de recursos de acessibilidade; VI - Orientar professores e famílias sobre os recursos pedagógicos e de acessibilidade utilizados pelo aluno; VII - ensinar e usar a tecnologia assistiva de forma a ampliar habili- dades funcionais dos alunos, promovendo autonomia e participação; VIII - estabelecer articulação com os professores da sala de aula comum, visando à disponibilização dos serviços, dos recursos pedagó- gicos e de acessibilidade e das estratégias que promovem a participação dos alunos nas atividades escolares. De acordo com as atribuições elencadas pode-se ter um panorama sobre o amplo leque de possibi- lidades de apoio que uma SR pode proporcionar ao aluno com deficiência visual e do muito que ainda há para ser trabalhado nas SR das escolas estudadas. A Educação Inclusiva, como uma dimensão fundamental do projeto global da escola, gera um processo que deve envolver e responsabilizar a toda a comunidade escolar. Segundo Mantoan (2007, p. 47), comentando sobre o Projeto Político Pedagógico da escola: Esse projeto implica em um estudo e em um planejamento de trabalho envolvendo todos os que compõem a comunidade escolar, com objetivo de estabelecer prioridades de atuação, objetivos, metas e respon- sabilidades que vão definiro plano de ação das escolas, de acordo com o perfil de cada uma: as especi- ficidades do alunado, da equipe de professores, funcionários e num dado espaço de tempo, o ano letivo. Os professores especialistas em um tipo de deficiência, com a Tecnologia Assistiva e os recursos pedagógicos específicos a ela, 29 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS certamente têm o seu papel particular e importante nesse projeto. Entretanto, ainda são muito fortes as sequelas do modelo tradicional, por tanto tempo hegemônico, que percebia as pessoas com deficiência como uma responsabilidade da atenção única dos especialistas, os quais deveriam ter as respostas para os seus pro- blemas, ou até mesmo responder por elas. Por isso, é possível perceber sinais de que a SR também seja utilizada para que os gestores e professores das salas comuns não se sintam corresponsáveis pela busca de soluções para as dificuldades de seus alunos com deficiência, remetendo automaticamente essa busca de soluções unicamente para os especialistas da SR. Por exemplo: Pesquisador: - Com relação a esses recursos para os alunos com deficiência visual, você acredita que os professores da escola estão aptos para utilizá-los com seus alunos? Eu acredito que não. Esses recursos básicos de ordem didática e pedagógica eu acredito que muitos não têm conhecimento, até porque eles têm uma segurança dessa SR, dos professores que atendem essa demanda. (D2) Pesquisador: - Você poderia quantificar os alunos por tipo de deficiência na escola? Quantos alunos com cada tipo de deficiência? Não. Aí é com a professora “Maria”, da Sala de Recursos. (D1) Estas e outras manifestações revelaram que, para alguns educa- dores, a busca de respostas e de soluções de acessibilidade relacio- nadas aos estudantes com deficiên- cia não eram consideradas como temáticas que lhes diziam respeito, tanto quanto diziam respeito aos “especialistas”, e sobre as quais não parecia que sentiam necessidade de saber muito mais, para poderem exercer suas atividades na escola. As inferências relativas a essa realidade percebida não devem levar a um julgamento sobre as intenções ou da capacidade dos profissionais das escolas estudadas, nem, certa- mente, a conclusões fechadas sobre o efeito das SR nessas escolas. Porém, essa situação verificada pode servir de alerta para possíveis efeitos, nem esperados nem desejados, da presença permanente de especialista ou de SR nas escolas, 30 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS em projetos e processos de inclusão de alunos com deficiência. Uma SR certamente é pensada como um importante apoio para o projeto de inclusão de uma escola. Porém, deve haver o cuidado para que esse apoio não se torne, inadvertidamente, um fator de reforço das sequelas do modelo tradicional, baseado no conheci- mento dos especialistas, que desresponsabiliza, que destitui o restante da comunidade escolar do seu papel de corresponsável por todo o processo, podendo tornar-se, portanto, um fator de exclusão e de alheamento de toda a comunidade escolar da participação nesse processo de inclusão. Ao contrário, tomando-se os devidos cuidados, a SR pode ser um privilegiado espaço de difusão dos princípios da Educação Inclusiva na escola, responsabilizando e esclare- cendo a cada um sobre o seu papel no processo, para o qual todos devem também conhecer mais, aprender, atuar, criar soluções, sugerir, enfim, envolver-se global- mente, a partir de suas funções específicas. 3 1 32 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS 2. Avaliação Pedagógica e/ou Psicológica Procedimentos que ante- cedem a reavaliação s profissionais das escolas (equipe pedagógica, professo- res da classe comum, professores especializados, entre outros) e e- quipe pedagógica do NRE, deverão analisar detalhadamente todos os instrumentos utilizados no processo de avaliação, anteriormente realiza- dos, existente na escola que ora subsidiaram o encaminhamento do aluno para a Sala de Recursos. Esta análise tem como objetivo justificar a necessidade de complementação da avaliação, resultando nas seguintes situações: a. Alunos com dificuldades acentuadas de aprendizagem. b. Alunos com indicativos de distúrbio de aprendizagem. c. Alunos com indicativos de deficiência mental d. Alunos indicados para fre- quentar a SR em 2008, sem avaliação no contexto escolar. O 33 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS Avaliação pedagógica O processo de avaliação peda- gógica no contexto escolar compre- ende diversas etapas envolvendo procedimentos sistemáticos, através de instrumentos, tais como: observações, entrevistas, jogos, análise da produção do aluno, entre outros, permitindo confrontar dados, resultados e também efetuar uma análise minuciosa. Todas as informações possíveis, no decorrer do processo avaliativo devem ser registradas priorizando-se os aspectos qualitativos sobre os quantitativos. O que avaliar Contexto sociocultural em que se encontra inserido o aluno. Desenvolvimento motor, cog- nitivo, sócio afetivo e escolar do aluno. Estratégias de aprendizagem utilizadas pelo aluno. Metodologia utilizada pelo professor, nas intervenções no dia-a-dia. Conhecimentos tácitos (pré- vios) que o aluno manifesta na sala de aula, assim como as dificuldades/necessidades in- dividuais, em relação aos novos conteúdos de aprendi- zagem. Como avaliar A utilização de instrumentos, permite oferecer subsídios à prática pedagógica, podendo ser formais e/ou informais como jogos, testes pedagógicos envolvendo aspectos: cognitivos, acadêmicos, psicomotores, motores, entre outros. Existe no mercado, uma diversidade de instrumentos de avaliação já padronizados e que têm sua importância e utilidade. Não se pretende desconsiderá-los, mas através desses, oferecer diferentes caminhos que possam subsidiar a prática pedagógica. Instrumentos de Avaliação Entrevistas: poderão ser realizadas com todos os envolvidos, professor (es), direção, equipe pedagógica, familiares e o aluno em questão, com intuito de se obter o máximo de informações acerca da dificuldade apresentada. Devem 34 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS ocorrer em clima de reciprocidade, sob forma de relações dialógicas. a. Com professores e equipe pedagógica – deverá fornecer informações fidedignas sobre a interação do aluno no com- texto escolar, o desenvolvi- mento do processo de ensino e aprendizagem, as interven- ções pedagógicas, estratégias metodológicas e avaliativas adotadas. b. Com a família – objetiva sistematizar os dados relativos à origem, desenvolvimento em que o aluno se apresenta, assim como a estrutura e característica do ambiente familiar (condições físicas da moradia, valores em que acreditam, atitudes frente à vida e expectativas de futuro). c. Com o aluno – para obser- vação, conhecimento, aproxi- mação do aluno e reconhe- cimento das características individuais (capacidades/ po- tencialidades/possibilidades/ preferências/interesses/habili dades/dificuldades e neces- sidades individuais), que definem a forma como o aluno enfrenta as tarefas no âmbito escolar e familiar. Observação do aluno Permite a análise do problema no contexto, sendo a sala de aula, o prioritário, pois é os lócus onde o aluno está apresentando dificul- dades. Pode-se considerar uma estratégia essencial para a coleta de informações e análise dos dados do contexto educacional. As observa- ções, devem ser sistemáticas envolvendo outros espaços de aprendizagem, tanto no coletivo quanto no individual, na sala de aula, biblioteca, recreio, entrada e saída doaluno na escola, educação física, isto é, em todos os momentos em que o aluno permanece na escola. Os registros devem ser feitos imediatamente após a observação. Análise da produção do aluno Aponta dados valiosos em relação aos métodos de trabalho, atitudes e interesses referentes a diversos campos do conhecimento e da adaptação em geral do aluno no ambiente escolar. As informações significativas podem ser coletadas 35 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS nos cadernos, folhas de registro, textos, relatórios, desenhos e outras produções realizadas no âmbito escolar, sem perder de vista a necessidade de contextualizá-las. Áreas do desenvolvimento Investigar as áreas cognitiva, motora, afetiva e social, bem como conhecer as estratégias utilizadas para aprendizagem, como por exemplo: resolução de problemas, organização conceitual. Áreas do conhecimento Deverá enfocar aspectos relativos a aquisição da língua oral, escrita (expressiva e receptiva), interpretação, produção, cálculos, sistema de numeração, medidas, entre outros, com objetivo de levantar os conteúdos defasados no processo de aprendizagem. Avaliação psicológica (exclu- siva do Psicólogo) Esta etapa do processo de avaliação no contexto escolar deverá ser investigada de maneira formal através de testes padronizados e informal com observações, jogos, questionários, desenhos, entre outros. Área emocional São utilizados testes formais e informais (questionários, desenhos, entre outros) que favorecem indicações sobre a dinâmica do desenvolvimento global do aluno. Área intelectual Utiliza-se quase sempre testes formais que são padronizados por terem recebido tratamento estatís- tico e aplicação em uma amostragem representativa da população. Avaliação da equipe multi- profissional Quando houver suspeita de distúrbios de aprendizagem, o aluno deverá ser encaminhado para complementação da avaliação pedagógica no contexto escolar, aos profissionais da área psicológica, fonoaudiológica, especialista em 36 SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS psicopedagogia e outras que se fizerem necessárias. Relatório O relatório da avaliação se constitui na descrição de todo o trabalho realizado pela equipe avaliadora, após discussão e análise qualitativa das informações coleta- das. Deve apresentar linguagem clara e objetiva, evidenciando a natureza e a extensão da dificuldade apresentada pelo aluno e seu perfil de desenvolvimento. Devem estar registrados os encaminhamentos e as intervenções que deverão ser desenvolvidas pelo professor de sala de aula, do apoio pedagógico especializado e os compromissos que a família terá que assumir. As intervenções indicadas com os resultados obtidos durante todo o processo de avaliação no contexto escolar, tem como objetivo orientar o processo educacional do aluno, atender as características indivi- duais do mesmo, assim como ajudar na reorganização da prática docente, até como uma ação preventiva. O Relatório deverá ser datado e assinado por todos os avaliadores. SALA DE RECURSOS MULTIFUNCIONAIS 3. Referências Bibliográficas ALVES, Denise de Oliveira et al. Sala de Recursos Multifuncionais: espaços para atendimento educacional especializado. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial,2006, 36p. 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