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AULA 1 GESTÃO POR PROCESSOS E A INTEGRAÇÃO ESTRATÉGICA Profª Anelí Martins 2 TEMA 1 – ORGANIZAÇÕES DOS SÉCULOS XX E XXI Antes de iniciar efetivamente nossa conversa sobre evolução e mudança das organizações, é necessário buscar algumas definições sobre o termo. A definição é importante para entender o impacto que as organizações têm na vida cotidiana, para nós e para a sociedade como um todo. Essas definições objetivam explicar alguns termos que serão utilizados no decorrer da nossa aula, de modo a equalizar nosso conhecimento. Para iniciar, Coltro (2015, p. 26) esclarece que as organizações são: entidades dinâmicas, em contínuo movimento, e as mudanças decorrentes desse processo nem sempre são promissoras para o seu futuro socioeconômico. As organizações, por sua natureza de imersão e participação no ambiente de operação, sofrem as mais diversas consequências advindas do contexto no qual estão inseridas. Ao analisar a atualidade, deparamo-nos com grandes mudanças nas organizações, nos comportamentos e nos valores. Tudo novo e talvez diferente do que conhecemos e vivemos até agora em nossas organizações. Essa afirmação talvez possa parecer, em um primeiro momento, um tanto forte ou excessivamente contundente, mas vamos a alguns fatos relevantes: 1. Algumas décadas atrás as empresas, preocupadas com um cenário cada vez mais competitivo, voltaram suas ações para a economia de escala, ou seja, para rever processos, usar mais tecnologia, diminuir custos de produção, enfim, organizar todo o processo de produção para produzir mais, com menor custo (linha de produção); 2. Mais conhecimento e competência em marketing e vendas tendo como referência padrões mundialmente estabelecidos; 3. Movimentos de qualidade caracterizados pela gestão sistêmica e científica, utilizando medidas de controle e verificação, implantando dessa forma conceitos fundamentais para o planejamento estratégico; 4. Foco no cliente, ou seja, toda a empresa deve estar voltada para atender às necessidades dos clientes, superando suas expectativas, buscando assim sua fidelização. Com acesso irrestrito à internet, a informação não tem mais fronteiras provocando, assim, maior desenvolvimento das sociedades – leia-se aqui, universidades, empresas, organizações em geral. Esse desenvolvimento está demonstrando que o valor do conhecimento dos indivíduos é mais valioso do que o dinheiro. 3 Voltando à afirmação que consideramos talvez contundente, vale lembrar a mais recente mudança de valores e comportamentos, causada pela pandemia do covid-19. A alteração que esse vírus causou no ambiente das organizações em um tempo extremamente curto foi avassaladora, e não podemos afirmar que avassalador se deve ao fato de ter causado prejuízos, mas, sim, ao fato de causar um repensar de estratégias, projetos, processos, relacionamentos, comportamentos, ou seja, economia, política e relações sociais tiveram impactos que perdurarão por muito tempo. Hall (2004, p.177) afirma que “ambientes também exercem efeitos duradouros sobre o futuro das organizações”. Nesse sentido, tanto as empresas quanto as pessoas terão de se reinventar e rápido, pois novas competências serão exigidas de todos, vide o exemplo do home office implantado por algumas empresas de maneira a atender uma determinação de governos estaduais e municipais. Home office, já previsto por Lozano (1989, citado por Hall, 2004, p. 6), é “outra tendência é o trabalho a distância, no qual as pessoas trabalham a partir de suas residências e usam dispositivos de comunicação eletrônica para se comunicar com seus empregadores”. Para entender como a pandemia mudou o ambiente, os comportamentos e os valores e nos colocou em novo modelo de gestão, é necessário conhecer e entender o contexto das organizações e seus modelos tradicionais de gestão. TEMA 2 – MODELOS TRADICIONAIS DE GESTÃO Modelo de gestão é a forma de gerir uma organização, de definir como tarefas e recursos (pessoas) são organizadas, quais procedimentos (tecnologia) são utilizados, quais normas e regras (estrutura) são seguidas. O modelo de gestão reflete a cultura organizacional, seus valores, sua missão e visão, seu core business. O modelo de gestão também define como a empresa atuará perante o mercado, como conduzirá seu trabalho, quais estratégias utilizará para alcançar objetivos, como manterá a integração de todos os seus processos e como agirá em situação de não conformidade; enfim, é o modelo de gestão que define como a empresa se organiza. Os modelos de gestão buscam, de maneira geral, alcançar altos níveis de eficiência, efetividade e eficácia. Ser eficiente significa “desempenhar tarefas de maneira racional, otimizando a relação dos recursos despendidos com os resultados alcançados e obedecendo às normas e aos regulamentos aplicáveis. 4 Uma atividade eficiente é, portanto, aquela que é bem-feita” (Ferreira, 2006. p. 21). A eficácia está relacionada, segundo Ferreira (2006. p. 21), ao “alcance dos objetivos adotados pela organização. Uma tarefa é considerada eficaz quando produz resultados relevantes, tendo como parâmetros os planos estabelecidos”. Para a efetividade, parece adequado o significado apresentado no Dicionário Michaelis: “qualidade do que resulta em algum fim utilizável” ou ainda a “capacidade de concretizar-se em efeitos reais”. Os ambientes organizacionais têm evoluído em seus modelos de gestão, passando por diversas transformações, conforme nos mostra a Figura 1. Figura 1 – Ondas de transformação Fonte: Silva, 2021. Em uma primeira análise, temos a era da produção em massa, em que modelos tradicionais de gestão foram amplamente utilizados (alguns perduram até hoje em várias organizações), entre eles: administração científica, administração das relações humanas (1920), era da eficiência com a administração burocrática (1950), era da qualidade (1970) e era da competitividade (1990), que terão suas características apresentadas a seguir. • Administração científica (modelo clássico): tem seu estilo de trabalho dividido em funções, seguindo um padrão vigente até hoje. Esse modelo 5 de gestão nas organizações tem por objetivo otimizar o serviço e reduzir tarefas consideradas não essenciais, às vezes em detrimento da satisfação de seus recursos humanos. A preocupação máxima dos gestores é focada na supervisão dos operários para que as tarefas sejam executadas conforme determinadas e com a máxima produtividade. O filme Tempos Modernos, de Charlie Chaplin, é um clássico do cinema que demonstra claramente como a administração científica focava no trabalho acelerado, nos movimentos repetitivos, na carga horária extenuante, na rígida disciplina, enfim, em uma linha de produção sem grandes preocupações com segurança e saúde dos operários. • Administração das relações humanas (comportamental): nesse modelo, o foco sai da tarefa e passa a ser nas pessoas (trabalhador), que passam a ser percebidas como parte extremamente importante da organização. A satisfação, o envolvimento e o senso de pertencimento (vestir a camisa) passa a ser preocupação de gestores. Os funcionários deixaram de ser considerados apenas operários e iniciaram-se aqui os processos de gestão de pessoas, de qualidade de vida no trabalho e de oferta de benefícios como forma de motivação. Nesse modelo de gestão, o trabalhador deixou de ser o homem econômico para ser considerado o homem social, surgindo, assim, a necessidade da humanização e democratização da administração. • Administração burocrática: essa administração não se caracteriza pela burocracia, conforme conhecida popularmente, mas, sim, pelo termo criado por Max Weber, sociólogo, cientista e economista que definiu a burocracia como estrutura formal das organizações, em que as atividades são realizadas seguindo determinado nível de autoridade oude hierarquia. O grande foco da administração burocrática é a manutenção da estrutura formal, seus cargos, suas funções, suas regras e suas normas. Para Weber, esse modelo garante a consistência e consequentemente a eficiência da organização. As organizações com modelos tradicionais normalmente apresentam organogramas funcionais, conforme demonstrado na Figura 2. 6 Figura 2 – Modelo de organograma tradicional Fonte: Silva, 2021. Agora que já conhecemos alguns modelos tradicionais de gestão, conseguimos perceber que para algumas organizações é essencial que os modelos sejam aperfeiçoados, alterados, atualizados. Em contrapartida, em outras organizações os modelos devem permanecer quase iguais, vistos os resultados desejados, como afirma Rocha-Pinto et al. (2007, p. 17): No conjunto de transformações ocorridas, principalmente no final do século XX, as mudanças políticas, tecnológicas, econômicas e sociais contribuíram para subverter os modelos de gestão autocráticos, ensejando formas de gerenciamento e de estruturação organizacional mais participativas, integradas, grupais, descentralizadas, autônomas, envolventes e flexíveis (Machado, 1994) que propiciaram, além das inovações produtivas, o surgimento dos trabalhadores do conhecimento Cabe a cada um de nós, como gestores, analisar as estratégias e o mercado, para saber o que devemos fazer. A distinção entre as empresas tradicionais e as novas organizações são as respostas que estas têm oferecido às pressões das mudanças no macro ambiente organizacional. Essas respostas revelam a tentativa de mudança de escopo: do saber como fazer para o saber por que fazer. (Rocha-Pinto, 2007, p. 17) Para que decisões possam ser tomadas, devemos também conhecer outros modelos disponíveis e possíveis de serem aplicados, senão totalmente, mas pelo menos parcialmente, visando sempre a maior competitividade. Assim, poderíamos resumir nossos modelos tradicionais de gestão em: 7 • Modelo clássico: foco na estrutura e nas tarefas. Exemplo: empresas familiares – o que se faz? • Modelo comportamental: foco nas pessoas e nas relações. Exemplo: hospitais – quem faz? • Modelo pragmático ou neoclássico: foco na eficiência, nos objetivos e na eficácia) Exemplo: montadoras/indústrias. TEMA 3 – NOVOS MODELOS DE GESTÃO • Administração japonesa: após a Segunda Guerra Mundial, a necessidade de evitar desperdício e a busca pela melhoria contínua fizeram com que nascesse no chão de fábrica o modelo de administração japonesa. Com esse modelo, produtos japoneses adquiriram diferenciais competitivos no mercado internacional. O foco na qualidade total dava ênfase ao trabalho em equipe, valorizando o potencial de cada colaborador, na cultura japonesa e na economia de recursos. As principais características desse modelo são: just in time, Kanban, Kaizen, planejamento estratégico forte, produtividade, tecnologia e padronização, limpeza e arrumação, cultura organizacional, entre outras. Quem de nós nunca ouviu o termo toyotismo? • Administração participativa: é considerada ainda hoje um paradigma, pois valoriza a participação das pessoas nos processos de decisão. Nesse modelo todas as pessoas que integram a organização podem expressar suas opiniões de maneira livre; cada um é responsável pelo desempenho e pelo comportamento. Existe um processo de confiança entre superiores e subordinados, pelo qual a informação se dá em todos os sentidos e as metas são definidas com a participação e aceitação de todos. O conhecimento das pessoas é aproveitado e valorizado desenvolvendo maior nível de motivação e satisfação, gerando maior competitividade das organizações. Organizações com esse modelo são também chamadas de empresas orgânicas em que existe grande liderança, autonomia, responsabilidade e prática do empowerment. • Administração empreendedora ou gestão empreendedora: incentiva a criatividade e a inovação com objetivo primordial de se reinventar. Capacidade de adaptação às mudanças, flexibilidade e resiliência são importantes competências organizacionais e pessoais. A administração 8 empreendedora é uma prática de extrema modernidade que proporciona excelentes resultados, pois motiva e engaja os colaboradores. Para que tenha bons resultados é necessário que a cultura organizacional esteja preparada para esse tipo de gestão/transformação. Imprimir mentalidade empreendedora no dia a dia dos processos da empresa é essencial para desenvolver novas soluções, novos produtos e novos serviços. • Administração holística: para entender as características da administração holística, vamos inicialmente buscar a definição de holismo, que, segundo o Dicionário Michaelis, significa “abordagem científica que dá prioridade ao entendimento global dos fenômenos, descartando o procedimento analítico em que seus componentes são analisados ou tomados isoladamente”. A gestão holística, portanto, tem como base ver a empresa não em partes, mas sim como um todo. Os objetivos da organização são totalmente integrados aos objetivos individuais e consequentemente à autorrealização pessoal e profissional. A estrutura organizacional não depende de formalidade, as pessoas desenvolvem visão sistêmica, ou seja, uma visão do todo. Os colaboradores são polivalentes (e não especialistas), já que pode haver rodízio de funções. Em relação a outros modelos organizacionais, o modelo holístico exige mudança comportamental com alto comprometimento de cada indivíduo, que devem desenvolver habilidades técnicas e humanas de relacionamento, integração e trabalho em equipe. • Empresa virtual: também chamada de empresa do futuro, tem como principais características estrutura reduzida, processos altamente automatizados, recursos físicos reduzidos, alta capacidade de entregar produtos globalmente, ambientes virtuais de trabalho, enfoques inovadores de gestão, banco de dados de extrema abrangência. Há inúmeros exemplos de empresas virtuais: Peixe Urbano, Submarino, Americanas, Evino, Amazon, Mercado Livre, Submarino, Ebay, AliExpress, Zattini, Netshoes e Wish. • Empresas de gestão do conhecimento: primam por tornar abundante as informações organizacionais, permitindo assim mapear todos os ativos de conhecimento. Esse modelo de gestão facilita e estimula os processos de criação e compartilhamento dos conhecimentos individuais e da organização como um todo. Entre as principais características das 9 organizações de gestão do conhecimento estão o aprendizado, os relacionamentos, a busca pelo desenvolvimento de competências. Todo o conhecimento das pessoas, nos processos, nos departamentos, nos produtos e nos serviços pertence à organização e deve como tal ser gerenciado. Peter Drucker em seus estudos sempre afirmou que os principais frutos da produtividade acontecerão para empresas que fizerem a gestão do seu conhecimento. Como exemplo, podemos citar Petrobras, Sebrae, Banco do Brasil, Accor e Ambev com suas universidades corporativas. Os novos modelos de gestão podem ser resumidos em: • Modelo sistêmico: foco nos relacionamentos, no ambiente e nos processos. Exemplo: universidades – por que se faz? • Modelo contingencial ou competitivo: foco na capacidade de adaptação e flexibilidade. Exemplo: multinacionais – quando se faz? TEMA 4 – SOCIEDADE INDUSTRIAL VERSUS SOCIEDADE DO CONHECIMENTO Na sociedade industrial, a realidade econômica se concentra em grandes empresas (fábricas), com orientação para a economia nacional, primando pela especialização da mão de obra, a hierarquia, a conformidade, a padronização, a centralização de poder, a ênfase em conteúdos extremamente quantitativos, na maximização da riqueza, na segurança e na eficiência. Em contrapartida, a sociedade do conhecimento se caracteriza por conceitos contundentemente diversos, entre eles a igualdade, termovisto e ouvido incessantemente: igualdade de salários, de direitos, de gênero, de liberdade. Outras características que definem essa sociedade são individualidade, criatividade, diversidade, autoexpressão e autorrealização – nesse caso, quando nos referimos às pessoas. Ainda temos como característica descentralização de poder e de decisão, busca da eficácia, visão sistêmica, qualidade de vida e conservação dos recursos materiais, e como não poderia deixar de ser, a busca pela qualidade do resultado. Para ter sucesso, as empresas terão de aprender a gerenciar conhecimento, não apenas dados e informações. Para Macêdo et al. (2007, p. 18), “o mundo está assistindo, ao vivo e em cores, ao ‘choque do futuro’ 10 descrito por Toffler (1970), para quem o conhecimento e o computador tornaram- se os grandes ícones da chamada sociedade pós-industrial”. O autor nos lembra ainda que: independente da vontade de cada um, as pessoas terão que encarar seus próprios desafios na busca de melhor qualidade de vida, até porque será impossível sobreviver à “cultura 24/7, que é como Wood Jr. 2002 designa essa convivência 24 horas por dia, sete dias por semana, com a erosão de fronteiras entre trabalho e lazer, dia e noite, produção e consumo. Mediante o uso de tecnologias que possibilitem a “invasão” da organização nos lares, nas noites, nos fins de semana e nas férias de seus trabalhadores. A vida hiperconectada está cada vez mais simulando condições de trabalho muito próximas daquelas vigentes na revolução industrial. TEMA 5 – SOCIEDADE 5.0 Com o conhecimento adquirido no decorrer de décadas e com a busca pela qualidade de vida tão necessária, surgiu recentemente um novo conceito: a sociedade 5.0. Mas que sociedade é essa? A sociedade 5.0 é também chamada de sociedade superinteligente, pois representa uma nova era, totalmente conectada, centrada no ser humano, com grande volume de dados, com a internet das coisas, a inteligência artificial (IA) e a robótica extremamente avançadas. Saiba mais Para ampliar seus conhecimentos acerca desse assunto, acesse o vídeo disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=syOHoMJbapg>. Acesso em: 15 abr. 2021. Pouco tempo atrás não seria possível imaginar fazer tudo que fazemos em tão pouco tempo e de forma tão ágil. A tecnologia nos possibilita realizar tarefas das mais simples às mais complexas com o auxílio de nossos smartphones, ou seja, estamos falando de uma proposta de sociedade que tem por objetivo desenvolver organizações que utilizam a tecnologia com vistas ao bem-estar do ser humano e ao atendimento das suas necessidades. A principal característica da sociedade 5.0 é criar cidades com total conectividade, uma maravilhosa integração entre o espaço físico e o virtual. Outra característica fantástica da sociedade 5.0 é a utilização da tecnologia para aumentar qualidade de vida e longevidade e para possibilitar resolver problemas de maneira rápida. O Japão tem adotado esse modelo de sociedade em sua vida cotidiana, pois com certeza é um passo a mais na evolução da civilização 11 humana. Iniciamos com a sociedade agrícola, passamos pela sociedade industrial, pela sociedade da informação e do conhecimento, agora devemos utilizar todo esse conhecimento para nosso benefício e de toda a sociedade. Devemos, sim, nos beneficiar de toda a tecnologia desenvolvida para buscar avanços jamais imaginados, tanto econômicos quanto relacionados à sustentabilidade, ao meio ambiente, ao bem-estar social, à inclusão de pessoas e povos em lugares longínquos, ao aumento das habilidades e competências humanas e à prevenção e solução de problemas futuros, principalmente relacionados ao consumo de energia, água e alimentos. A seguir, vamos conhecer algumas das principais tecnologias atreladas à sociedade 5.0, bem como seus benefícios. • Internet das coisas: a ideia é que todo e qualquer item utilizado por você durante o seu dia esteja conectado à rede mundial de computadores: ônibus, carros, eletrodomésticos etc. • Cloud computing (computação em nuvem): Dropbox, Icloud, Google Docs são exemplos de computação na nuvem. Esses serviços permitem que seus usuários editem, atualizem, criem em tempo real (on-line) documentos, reduzindo tempo, custos e espaço, já que possibilitam acesso às informações por meio de qualquer dispositivo, desde que esteja conectado à rede. O melhor exemplo de uso dessa ferramenta é o momento atual, em que grande parte das empresas globais tiveram que, em tempo recorde, colocar seus colaboradores em home office. • Saúde: possibilidade de grande avanço na medicina e em pesquisas científicas, realização de diagnósticos mais precisos, tratamentos e condições adequados que ainda são considerados enormes desafios. • Casas conectadas ou smart home: esse conceito está cada vez mais próximo; casas eficientes, confortáveis, aconchegantes e funcionais propiciando aos seus moradores melhor monitoramento de serviços e tarefas do dia a dia. • Veículos aéreos não tripulados (drones): a utilização desses aparelhos para recebimento e entrega de encomendas auxiliam e facilitam a logística, além de auxiliar no monitoramento e nos atendimentos em acidentes e emergências em áreas de difícil acesso. 12 • Veículos autônomos: carros que não necessitam de condutores já estão sendo testados e em breve você poderá, quem sabe, utilizar um deles em um transporte coletivo de passageiros. Enfim, devemos nos preparar para pensar e atuar de diferentes formas nessa sociedade 5.0: novas competências, habilidades e maneiras de realizar um mesmo trabalho. Com o objetivo de levantar questionamentos em relação às nossas organizações e tendências, sugerimos a leitura do texto a seguir. As Organizações do Século XXI: Tendências e Incertezas Um assunto que, atualmente, tem chamado atenção de estudiosos, de diversas áreas, é o futuro das organizações, sejam elas instituições privadas ou públicas. Isto, obviamente, tem ligação direta com os problemas que enfrentam os países com as suas estruturas, em relação ao estágio atual do capitalismo, no mundo. Considerando que a estrutura da organização, e o seu funcionamento, é função do modo de produção em que está inserida, de fato, a configuração atual do capitalismo não dá pistas de como será esse futuro. Este problema das organizações atuais é muito bem apresentado por Wagner Siqueira, quando diz que a “teoria das organizações se encontra num beco sem saída. A humanidade constata no cotidiano que o aumento indefinido da produção de mercadorias e o progresso tecnológico indiscriminado não conduzem, necessariamente, ao desenvolvimento do potencial do homem”. Por mais que haja uma grande esperança das pessoas e intervenções da grande mídia mundial constatando uma grande revolução nas organizações do século XXI, vemos que os futuros paradigmas, as tendências, as proposições e as ideias, ainda estão em descompasso com essa realidade. Podemos listar algumas características dessas ideias: • Predominância do saber como o capital mais importante das organizações produtivas; • As empresas competitivas são aquelas que aprendem a aprender; • A administração de empresas caminha para a teoria das redes neurais (modificará toda a estrutura do capitalismo nos próximos 20 anos); • A autonomia do trabalhador é fundamental para o aumento da produtividade das empresas; • O poder do trabalho coletivo é cada vez mais decisivo para que as empresas possam enfrentar os novos mercados e usar corretamente as modernas tecnologias; • A “capacidade de acessar o espírito e a inteligência coletiva que caracterizam o melhor de se trabalhar em equipe” (Senge; 2005); • A importância da ecologia e principalmente a sustentabilidade como fatores decisivos na diferenciação e competitividade nos negócios; • A colaboração, o consumo colaborativo e a influência das redes sociaisnas operações e nos negócios da organização surgem como fatores reais da competição, nos mercados; • Cada vez mais é fator preponderante a democratização do controle por toda a extensão da empresa. Outros Muitas coisas concorrem para que essas tendências possam ser assimiladas e implantadas nos ambientes organizacionais do século XXI. Porém, como não podia deixar de existir, existem algumas barreiras que as pessoas vão ter que enfrentar. Entre elas é possível vislumbrar: o risco de não fazer as mudanças corretas, as práticas internalizadas da escola neoclássica e a incapacidade de crer que os novos sistemas não vão subverter o poder constituído e sim torná-lo 13 mais humano. Na primeira barreira, podemos observar que o mundo das organizações que ultrapassaram o século XX, e que hoje tratam seus negócios nesse século, ficou viciado em enxergar seus problemas com base em eventos de curto prazo e, assim, tentam adiar (“comprar tempo”) a realização de mudanças inevitáveis na sua estrutura, torcendo para que algo inesperado aconteça. Desta forma, elas acham que será possível “mudar de mentalidade”, sem que isto exija esforços e sofrimentos maiores que os já vividos no século passado. Na segunda barreira, temos nítida impressão que as organizações, em geral, ainda resistem em abandonar os princípios básicos da teoria da escola neoclássica (divisão do trabalho, especialização, hierarquia e distribuição da autoridade e responsabilidade) que foi a sustentação da administração do século XX, inclusive dos modelos de gestão mais recentes como a qualidade e a reengenharia, simplesmente, por que eles ainda funcionam. E funcionam, em certos aspectos, muito bem. Elas consideram que todo o aprendizado é válido desde que não vá de encontro a esses princípios. Na terceira, é fato que as propostas, tendências e sistemas que envolvem as mudanças inevitáveis (redes neurais, complexidade, empresas inteligentes, HIM, redes sociais, consumo colaborativo, sustentabilidade, autonomia, dimensão múltipla, etc.) vão exigir esforços gerenciais, investimentos financeiros e cessão de poderes que ainda não foi muito bem absorvido pela grande massa dos empresários e donos de processos de negócios nas empresas comerciais e instituições públicas. O controle (centralizado) da produtividade e do desempenho ainda é um valor decisivo para essas organizações. A democratização da estrutura dá, em geral, a sensação de perda de poder e, portanto, a perda do negócio. Sabemos que antes da virada do milênio vários estudos já apontavam mudanças radicais na estrutura das organizações. Sabemos que a crise financeira do início do século XXI (2008) desestruturou, de forma marcante, várias iniciativas dessas mudanças. Sabemos também, que esta crise poderá exigir outras ações ainda não experimentadas. Por outro lado, é possível pensar que as organizações vão procurar de alguma forma, se estruturar, fazendo as mudanças necessárias para sobreviver. Diante desses fatos, ficam as seguintes reflexões: a) Os empresários e administradores terão motivação e segurança para dar flexibilidade, e até descontinuar, em determinados casos, algumas práticas fixadas no século XX? b) Terão a motivação e segurança para ceder espaço no processo decisório (estratégico) para os seus colaboradores? c) As novas exigências dos mercados terão força para derrubar o poder da burocracia, que “reina” em determinadas organizações, em detrimento do mérito e do conhecimento? d) As novas práticas darão valor real ao ser humano e não mais enxergarão os colaboradores como peças na engrenagem das operações das empresas? e) Será que finalmente poderemos ter um ambiente organizacional em que a fragmentação do trabalho seja abandonada e o todo seja reorganizado de forma sustentável? Disponível em: <https://espacoopiniao.adm.br/as-organizacoes-do- seculo-xxi-tendencias-e-incertezas/>. Acesso em: 14 abr. 2021. 14 REFERÊNCIAS COLTRO, A. Teoria Geral da Administração. Curitiba: InterSaberes, 2015. FERREIRA, V. C. Modelos de Gestão. Rio de Janeiro: FGV, 2006. HALL, R. Organizações: Estruturas, processos e resultados. São Paulo: Prentice Hall, 2004. MACÊDO, I. I. Aspectos Comportamentais da Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2007. MICHAELIS. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/>. Acesso em: 14 abr. 2021. ROCHA-PINTO, S. R. Dimensãoes Funcionais da Gestão de Pessoas. Rio de Janeiro: FGV, 2007. SANTOS, L. F. Evolução do pensamento sistêmico. Curitiba: Intersaberes, 2013. VIZEU, F. Teorias da Administração: Origem, desenvolvimento e implicações. Curitiba: InterSaberes, 2020.
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