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Preenchendo a cavidade abdominal, temos a camada serosa que recobre os órgãos abdominais chamada peritônio. O espaço entre o peritônio e os órgãos é preenchido pelo líquido peritoneal. Agora vamos observar várias patologias que podem interferir na produção desse líquido e se correlacionar a diversos sistemas do organismo, considerando o tamanho da cavidade em questão e os vários órgãos que ela alberga. Formação e composição do líquido peritoneal O líquido peritoneal é produzido a uma taxa constante pelas células do peritônio. Em condições normais, existem 50mL de um ultrafiltrado de plasma, com cor amarela e aspecto límpido na cavidade que protege os órgãos abdominais. No entanto, em algumas condições pode ocorrer o acúmulo desse líquido na cavidade peritoneal, condição chamada de ascite. Patologias envolvidas no derrame peritoneal As patologias associadas a esses derrame se assemelham muito àquelas dos exsudatos de líquido pleural, sendo as de maior importância as neoplasias e os processos infecciosos. No entanto, como a cavidade abdominal faz contato direto com o intestino (rico em microbiota bacteriana), os processos infecciosos peritoneais são classificados em: Peritonite bacteriana 1ª - Bactérias da microbiota intestinal colonizam o peritônio. Autolimitada. Responsiva aos tratamentos. Peritonite bacteriana 2ª - A perfuração intestinal extravasa o conteúdo intestinal no peritônio. Costuma ser mais grave, podendo evoluir para a sepse. A infecção e o trauma abdominal devem ser tratados. Peritonite tuberculosa- Causada pelo M. tuberculosis. Peritonite bacteriana espontânea- Envolve participação de bactérias de outros sítios (como o fígado, pulmão etc.) que alcançam a cavidade abdominal. Além dos quadros infecciosos bacterianos, algumas infecções parasitárias, como o rompimento de cisto hidático (hidatidose), a amebíase extra intestinal e o hiperparasitismo por helmintos podem levar à peritonite. Logo, o diagnóstico diferencial deve ser feito. Pacientes renais crônicos, com perda considerável de proteínas pela urina, fazem recorrentes derrames peritoneais, podendo ser mais suscetíveis a infecções, visto que a diálise peritoneal é parte da terapêutica, aumentando o risco de contaminação. Líquido Peritoneal A pancreatite aguda também pode ser diagnosticada a partir do estudo do derrame, pois parte do conteúdo pancreático e biliar se encontra na cavidade. Diagnóstico laboratorial do líquido peritoneal Exame macroscópico A coloração esverdeada do líquido pode indicar comprometimento da árvore biliar (pancreatite aguda), e a coloração escura/turva indica peritonite infecciosa. A presença de restos alimentares pode indicar perfuração intestinal. A tuberculose (TB) peritoneal pode acarretar líquido hemorrágico. O derrame quiloso e pseudoquiloso também pode acontecer no peritônio, principalmente associado à cirrose ou a infestações parasitárias. Caracteriza-se por sobrenadante leitoso após centrifugação do derrame. Citologia global e específica Não serve como critério para classificar um líquido como exsudato, mas na análise do lavado peritoneal é útil para avaliar uma hemorragia abdominal (ratio >0.6) usando a fórmula que avalia os leucócitos e as hemácias no soro e no líquido peritoneal, de acordo com a fórmula: Na peritonite bacteriana espontânea e na pancreatite aguda, os leucócitos estão >200 células/mm3. Já na peritonite 1ª os leucócitos estão >500 células/mm3 com 50% de neutrófilos. A eosinofilia (>10%) é observada em geral em pacientes com processos inflamatórios crônicos ou com câncer. Exames microbiológicos As peritonites bacterianas 1ª em geral são monobacterianas sendo os principais agentes envolvidos: E. coli, Klebsiella pneumoniae e Enterococcus spp. A coloração de Gram apresenta baixa sensibilidade durante a pesquisa direta de bactérias no líquido. No entanto, as culturas são mais sensíveis quando o material é inoculado numa garrafa de hemocultura logo após a paracentese. A pesquisa de bacilos álcool ácidos resistentes (BAAR) pela coloração de Ziehl-Neelsen para pesquisa direta de TB peritoneal também apresenta baixa sensibilidade. Nesse caso, a cultura deve ser preconizada sempre que possível, podendo o médico inocular o material diretamente em meio líquido para crescimento de micobactérias se este estiver disponível. Exames bioquímicos O critério de Light de proteínas totais (>3g/L) não é capaz de diferenciar efusões transudativas de exsudativas. Dessa forma, o mais usado para líquido peritoneal é o gradiente de albumina sérica/líquido (GASA), verificado pela fórmula: Em que transudatos apresentam GASA >1.1g/dL, e exsudatos <1.1g/dL. O critério do GASA vai nortear quais outras dosagens bioquímicas e análises deverão ser feitas no derrame. O quadro seguinte mostra algumas quantificações:
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