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Formação e composição do líquido pleural Produzido diariamente pela pleura parietal e reabsorvido pelos capilares linfáticos, o líquido pleural é um transudato de ultrafiltrado de plasma. Apresenta coloração amarelo claro, aspecto límpido, inodoro e composição similar ao plasma. A imagem mostra a cavidade pleural, diferenciando os folhetos envolvidos. Assim como outros líquidos cavitários, o líquido pleural pode ser classificado em exsudato e transudato no intuito de auxiliar o clínico na investigação daquele derrame. Os transudatos são autorresolutivos e não requerem exames adicionais. Apresentam-se de forma bilateral e têm como causa patologias sistêmicas, como doença renal crônica (DRC), insuficiência cardíaca, diabetes mellitus etc. Por isso, daremos foco aos derrames exsudativos e às doenças associadas a ele. Patologias envolvidas nos derrames pleurais exsudativos Em geral, os derrames pleurais exsudativos são unilaterais, de volume médio a grande. Dentre as principais causas estão aquelas de etiologia infecciosa, traumas com acometimento da caixa torácica ou de ruptura de esôfago, doenças autoimunes e malignidades. Para pacientes imunossuprimidos, também se deve ter uma atenção às infecções fúngicas, com destaque para o gênero Aspergillus, em que a multiplicação de suas estruturas ocorre com frequência no parênquima pulmonar, contida dentro de uma estrutura visível em exames de imagem e conhecida como “bola fúngica” ou “aspergiloma”. A formação de tumores no espaço pleural ocorre no mesotelioma, tipo de câncer em que há crescimento descontrolado dos tecidos que revestem alguns órgãos, principalmente as serosas chamadas mesotélio. Dessa forma, o mesotelioma acomete a pleura, peritônio e pericárdio, estando os casos malignos frequentemente associados à pleura, com a ocorrência de derrames nesses casos. É cientificamente comprovado que o asbesto (amianto) é o principal agente cancerígeno associado à geração do mesotelioma, sendo seu uso proibido no Brasil. É possível ainda que focos metastáticos de carcinoma de pulmão, mama, linfoma e leucemias estejam envolvidos no derrame pleural. Líquido Pleural Avaliação laboratorial do líquido pleural O líquido pleural, após a coleta pela toracocentese, chega ao laboratório em uma seringa heparinizada ou em uma garrafa a vácuo para ser distribuído entre os principais setores: • Bioquímica • Hematologia • Microbiologia • Anatomia patológica para a pesquisa de células neoplásicas Ao exame macroscópico é possível ver coágulos ou fibrina, quando não é usado EDTA em nenhum frasco do material. Tais achados impossibilitam a realização da contagem total e específica de células do líquido, pois os coágulos irão reter diversos componentes celulares que seriam considerados na contagem total de células. Amostras turvas, leitosas ou sanguinolentas deverão ser centrifugadas antes de ser processadas. O aspecto do líquido pós-centrifugação indica a ocorrência de uma efusão quilosa ou pseudoquilosa quando o sobrenadante se mantém turvo ou leitoso. Se, após a centrifugação, o sobrenadante ficar límpido, sugere-se que a turbidez no líquido seja devido à elevada quantidade de células nesse material. Derrame quiloso - Ocorre quando há um processo inflamatório obstrutivo com vazamento de linfa pelo ducto torácico. Nesse caso, a dosagem de triglicerídeos no líquido fica superior a 110mg/dL e há a presença de quilomícrons na eletroforese de lipoproteínas. Derrame pseudoquiloso - O sobrenadante pós-centrifugação pode assumir cor leitosa a esverdeada, aparecendo em quadros clínicos em que o derrame seja de pequeno a médio volume, mas em efusões de longa duração, logo, está presente em patologias de curso crônico, como na pleurite reumatoide, tuberculose ou mixedema. Nesse caso, a dosagem de triglicerídeos no líquido estará abaixo de 50mg/dL. Para pesquisa de células neoplásicas, é preconizado o uso de pelo menos 100mL de amostra, pois é necessária sua concentração para a realização de esfregaços. As colorações de Papanicolaou e Romanowsky são úteis para visualização de células do mesotelioma. Para diagnóstico de adenocarcinoma do pulmão e outras malignidades, deve-se priorizar análises neoplásicas combinadas como a dosagem de marcadores como antígeno carcinoembrionário (CEA), CA- 15.3 etc. no líquido pleural. A contagem celular não é eficaz para diferenciar tipos de efusões, no entanto, alguns padrões celulares são mais encontrados em determinadas patologias: Linfócitos: Derrames tuberculosos, linfomas, pleurite reumatoide e LES. Neutrófilos: Derrames bacterianos não tuberculosos e em pleurite idiopática. Eosinófilo: Efusão eosinofílica (> 10% de eosinófilos). Algumas malignidades e na abestose benigna. Hemácias: Contagem superior a 100.000 células/μl é sugestivo de malignidade. Técnicas de imunofenotipagem devem ser usadas para confirmar as celularidades indicativas de linfoma e leucemias. Devido às altas concentrações de células nesses casos, a citometria de fluxo é comumente usada, combinando os marcadores celulares para diagnóstico mais acurado. A imagem a seguir mostra o funcionamento de um citômetro de fluxo. Os critérios mais tradicionais para classificação de derrames pleurais levavam em consideração apenas a dosagem de proteínas, no valor de corte de 3g/dL. Valores acima desses indicariam efusão exsudativa. Entretanto, o mais aplicado na prática laboratorial atual é análise conjunta de enzimas como a LDH, que aumenta junto ao processo inflamatório; dosagem de lipídeos como o colesterol, que inclusive tem mostrado melhor especificidade na classificação dos derrames do que apenas a dosagem de proteínas. Os níveis de glicose são equivalentes aos do soro, e estes estão reduzidos na infecção bacteriana e nos quadros de malignidades (< 50mg/dL). Como é comum que o líquido pleural seja enviado em seringa heparinizada ao laboratório clínico, a análise de lactato e pH, por exemplo, pode ser feita de forma simples e rápida em equipamento de gasometria No diagnóstico da pleurite reumatoide, também se pode associar a dosagem de anticorpos antinucleares (ANA), o fator reumatoide (FR) e o complemento C4 diretamente no líquido de derrame, onde as duas primeiras dosagens se encontrarão aumentadas, enquanto o C4 estará diminuído. Já as análises microbiológicas devem ser feitas considerando, sempre que possível, a realização de culturas para fungos e micobactérias, além da pesquisa direta desses patógenos no líquido de derrame. A tuberculose é uma infecção bacteriana ocasionada pelo Mycobacterium tuberculosis, um bacilo aeróbio facultativo e, devido a essa característica e forma de transmissão (inalação de partículas infecciosas), tem seu sítio alvo nos pulmões, sendo a forma clínica clássica, a tuberculose pulmonar. A principal forma de TB extrapulmonar é a tuberculose pleural, que ocorre principalmente devido à proximidade entre a cavidade pleural e o sítio primário (o pulmão). Após o envolvimento do sistema imunológico, é comum que células de defesa sejam recrutadas e fagocitem o bacilo a fim de promover o desenvolvimento de uma resposta imune efetiva contra o patógeno, por isso, na tentativa do sistema imune de conter a infecção, as células de defesa podem levar a bactéria para outros sítios, sendo um desses os linfonodos, que são centros de desenvolvimento da resposta imune adaptativa. Os principais linfonodos acometidos são os mediastinais, também devido à proximidade do sítio primário. Portanto, devido à alta prevalência da tuberculose na população brasileira, não é atípico que um paciente apresente derrame pleural e pericárdico causado pela tuberculose.
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