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Resenha Vigiar e Punir (2)

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Pontifícia Universidade Católica Do Paraná
Escola De Direito
Professor Dr. Rodrigo S. Rios
Professor Dr. Luiz G. Pujol
Teoria Da Pena e Processo Penal
Aluna Clara Lopes - 4° A Matutino
Qualificadora
Resumo Vigiar e Punir - Michel Foucault
A obra de 1975 elaborada pelo filósofo social alemão Michel Foucault se
divide em quatro partes: suplício, punição, disciplina e prisão.
O livro inicia com uma cena bem descritiva de tortura, mostrando e fazendo o
leitor sentir a crueldade e agonia de um suplicio – O suplício é a punição corporal
pública, com o objetivo de propor dor física concomitante com a exposição de um
espetáculo daquela situação punitiva, comum nos Estados absolutistas até o século
XVIII.
Michel Foucault observa durante as décadas uma transformação na forma de
punir, ele acredita que isso se deu como consequência da forma pública em que se
davam as punições, pois faziam as pessoas sentirem empatia pelo condenado que
estava sendo torturado, invertendo os papéis e transformando o Estado no vilão.
Essa reforma do paradigma penal fica evidente com a transição da
pena-suplício à pena enquanto resultado de um processo de desenvolvimento
teórico-prático da modernidade, de uma tecnologia política do corpo. A guilhotina
revela-se parte desse conjunto tecnológico moderno, pois diminui o contato do
público com o indivíduo condenado e também com o carrasco, que passa do papel
de expressão física do poder punitivo ao meramente operativo, além de diminuir o
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tempo e tamanho da violência. Em tempos mais modernos, é a sociedade e as
normas sociais que triunfam na reforma, e não na punição, do criminoso.
Isso significa que as instituições de julgamento, como os tribunais e o sistema
penal, ficam “emaranhadas” com um número maior de outras instituições, como
científicas e acadêmicas, ou seja, não podemos apenas estudar a lei isoladamente
para entender as mudanças na punição. Também temos que olhar para discussões
em muitas outras áreas, o que Foucault chama de discurso. A tarefa do historiador é
agarrar-se a esses discursos de uma só vez e ver como eles se relacionam e
contribuem para os mesmos objetivos sociais. Assim, Foucault falará sobre coisas
como o “complexo científico-jurídico”, em que os discursos se misturam.
A segunda parte, intitulada “punição”, entra em mais detalhes históricos sobre
a transformação mais ampla que Foucault discutiu na parte anterior, que vai de
aproximadamente 1750-1850. Ele começa observando um aumento nas petições,
no final de 1700, contra tortura, execuções e outros espetáculos públicos de dor.
Isso tornava tais espetáculos um “perigoso confronto entre a violência do soberano
e a violência do povo”. Uma execução deve ser uma violência soberana, ou um
exercício do controle do monarca sobre a vida e a morte. Mas enfrenta cada vez
mais a ira do povo, ou do público em geral, quando sentem que o monarca está
agindo injustamente.
Além disso, o público começou a conceber os crimes como danos a si
mesmo, não apenas ao monarca. Grande parte disso foi o aumento de crimes
contra a propriedade. Mais do que assassinato, as pessoas se preocupavam com
coisas como roubo ou crimes de fraude. Uma das coisas que tornaram isso possível
foi o surgimento de um senso de propriedade privada. Em uma sociedade
capitalista, a terra é propriedade de cidadãos privados e não, como em uma
sociedade feudal, do monarca. Agora, esses cidadãos querem proteger suas
propriedades e estão especialmente preocupados com crimes que atingem seus
bens materiais.
A prisão surge como uma grande instituição para atender a esses princípios.
Você pode definir com precisão sentenças diferentes para delitos diferentes, por
exemplo, desenvolvendo assim uma ciência de punição proporcional ao crime. Você
não poderia realmente fazer isso com tortura. E em uma sociedade onde o que as
pessoas mais valorizam é sua propriedade e liberdade, a prisão é, na verdade, a
punição final, porque é um vedação de propriedade e liberdade. Portanto, é uma
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punição especialmente “ideal”, ou que existe mais nas ideias do que no corpo. É por
isso que a prisão emerge quando isso acontece. Como admite Foucault, leva algum
tempo para que a prisão venha a ser pensada como punição para todos os crimes.
Observe que o objetivo principal desta reforma na punição, da tortura à
prisão, é econômico e não humanitário. Não é que as pessoas, por motivos morais
profundamente arraigados, se oponham à tortura. Em vez disso, é que as pessoas
querem proteger suas propriedades e afirmar sua autonomia em relação ao rei, e a
tortura não parece ser a maneira de fazer isso. Se você está tentando moldar uma
sociedade inteira, precisa de normas que as pessoas sigam: eu não vou roubar de
você e você não vai roubar de mim. A prisão surge como algo que impede as
pessoas de quebrar essas normas e que reforma as pessoas quando o fazem.
Com os avanços nas transformações disciplinares, o caminho para o
aprisionamento é construído nos séculos XVII e XVIII. Uma penalidade pessoal não
foi mais mostrada como um aviso para a sociedade em geral. Pelo contrário, os
criminosos foram convertidos em submissos, para serem "sujeitos, usados,
transformados, melhorados”. A disciplina é uma gama de técnicas pelas quais as
funções do corpo podem ser governadas.
Havia quatro características principais desta nova técnica de disciplina:
Em primeiro lugar vem a “arte das distribuições”. Isso incluiu a distribuição
dos corpos dos condenados em tipos específicos de áreas. Isso começou com o
cerco; a utilização de áreas como dormitórios era amplamente comum. O coletivo foi
fragmentado, e as pessoas foram divididas em áreas menores. A arquitetura pode
ser utilizada para esse fim. Basta considerar as células do mosteiro.
Em segundo lugar, a dominação da função era uma peça do instrumento
disciplinar. Em outras palavras, tratava-se de horários. Eles forneciam ritmo, rotina e
continuidade. Instituições religiosas, como mosteiros, foram pioneiros valiosos no
controle do tempo e da disciplina.
Em terceiro lugar, havia uma organização de formação, em que as
características do indivíduo são progressivamente moldadas por métodos e ações
rígidas. A única maneira de subir os degraus de uma hierarquia fundada era
contribuir e alcançar um acabamento de tarefas meticulosamente especificado.
Os horários de treinamento foram alguns exemplos. Os alunos passam por
etapas de antiguidade por um caminho estritamente especificado de educação e
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avaliação. Em conclusão, as pessoas foram classificadas em um corpo maior por
meio de construções organizacionais.
No final, ocorre uma combinação de poderes. A questão era que os métodos
de disciplina não seriam utilizados apenas para controlar o comportamento das
pessoas e a forma como seu tempo é agendado. A disciplina também dominaria sua
atitude como seres sociais. A construção do poder de cada pessoa proporciona,
assim, uma máquina fecunda que funciona como um ser coletivo.
Isso estava ligado a opiniões que haviam sido expostas pela primeira vez na
época da Revolução Industrial, no final do século XVIII. Os corpos das pessoas
eram considerados como engrenagens da construção estruturada da manufatura. O
importante era o número de pessoas que existiam no local em vez do poder pessoal
ou galanteria. A nova estrutura disciplinar implementou essa noção em novos
termos.
Ademais, diferente do exposto nos suplícios, em que há uma hiper exposição
de poder, a disciplina tem um poder comedido, que funciona a modo de uma
economia calculada, mas permanente. As ferramentas empregadas para realizar um
bom adestramento são: vigilância hierárquica, sanção normalizadora e o exame.
A vigilância se torna fundamental para o funcionamento do processo
produtivo. O poder da vigilância, em princípio, não utiliza força bruta e sim princípios
da física para controlar de forma contínua e integral os indivíduos.
A sanção normalizadora torna penalizaveis as frações mais tênues da
conduta,tenta assegurar que cada indivíduo fique preso a uma universalidade
punível-punidora. No entanto, prioriza-se a aplicação de gratificações a
comportamentos positivos. A sanção é meramente normalizadora, sem caráter de
expiação ou repressão. Também há uma articulação entre classes, ou filas, em que
enquadrados os indivíduos e o tipo de punição a que estão submetidos.
O exame é uma combinação entre as técnicas de hierarquia que vigia e as
sanções que normalizam. Trata-se de vigilância, ou controle, que permite a
normalização, a qualificação, classificação e punição, Promove um deslocamento do
holofote do poder, que antes voltava-se para o seu detentor, agora impõe
visibilidade ao subordinado. Assim o poder fica invisibilizado. O exame está no
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centro dos processos que constituem o indivíduo como efeito e objeto de poder,
como efeito e objeto do saber. Na sociedade moderna, a difusão do poder inviabiliza
atribuir um rosto para quem pune, são os súditos os individualizados e os indivíduos
que têm que ser vistos .
Em face disso, Michel Foucault o próximo capítulo falando sobre as formas
de coerção que o governo utilizava em períodos de peste. Nesse cenário existia a
segregação de pessoas com lepra, para isso havia meios de vigilância constante:
médicos, policiais, síndicos, cada qual responsável pela fiscalização e notificação a
respeito das suas ações e comportamentos, ocorrendo assim a segregação e
individualizações de “leprosos” por meio da disciplina. Panóptico foi um projeto
idealizado por Bentham, sendo uma réplica arquitetônica desse sistema de vigia e
controle. Este é uma espécie de presídio circular em que por meio de um sistema
óptico os prisioneiros seriam observados, no entanto não tinham como enxergar
quem os observava.
Consequentemente, o indivíduo se auto controlava por tempo integral, pois
não tinha como entrever se alguém o observava. A generalização do poder
panóptico significou que indivíduos e organizações foram mantidos sob um controle
que muitas vezes parecia invisível. As entidades disciplinares se alongaram com
metas de defender uma sociedade pacífica controlando os marginais, e aqueles que
nutriam uma compreensão divergente do regime central, por meio de controle militar
e modelação de conduta. Desta forma o objetivo principal do panóptico é alcançado,
pois com esses órgãos de controle em que a qualquer momento, ou a qualquer
momento, podemos estar sob vigilância, fazendo-nos evitar atos passíveis de
sanção.
Na última parte do livro, Foucault faz críticas ao modelo punitivista das
prisões, expondo que as prisões não diminuem a criminalidade, favorece a
reincidência e cria a figura do delinquente. A prisão ainda fabrica indiretamente o
delinquente, na medida que encarcera o arrimo da família, forçando, de certa forma,
os outros membros às atividades relacionadas ou delito e ao desvio.
Entretanto, a princípio, a prisão parece uma pena coerente, Destinado
principalmente à “privação de liberdade” em vez de infligir dor, é a melhor pena para
uma sociedade que valoriza a liberdade acima de tudo. E mais importante, porque a
liberdade é um valor universal, privá-la afeta a todos igualmente.
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A prisão opera em três níveis distintos: moral, econômico e médico.
Moralmente, o criminoso é isolado da sociedade e colocado em uma hierarquia de
depravação moral, baseada na gravidade do crime. Economicamente, o criminoso é
colocado para trabalhar por meio do trabalho prisional, que tanto beneficia a
sociedade quanto fornece treinamento para ser produtivo uma vez devolvido à
sociedade. E medicamente, o criminoso é tratado como um delinquente a ser
“curado”, ou seja, religado às normas sociais que facilitarão seu bom funcionamento
na sociedade em geral.
A prisão passa a ser concebida menos como uma punição legal e mais como
uma “técnica punitiva”, uma forma de reformar e remodelar toda a vida de um
criminoso. O indivíduo, por sua vez, torna-se, como em outras instituições, uma
interseção de poder e conhecimento. Toda a sua vida deve ser conhecida, e esse
conhecimento é parte de sua submissão à sociedade contra a qual ele transgrediu.
As prisões, portanto, trabalham para reforçar as normas sociais, e este é o
efeito mais importante. Porque quando somos governados por normas ainda mais
do que por leis, vamos nos policiar para um comportamento correto da mesma
forma que imaginamos que as prisões corrigem os delinquentes. As prisões
produzem uma sociedade na qual constantemente examinamos nossas vidas e as
moldamos em normas.
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