Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Anemia ferropriva em pediatria 1 Anemia ferropriva em pediatria Anemias carenciais Condição patológica, não é normal em nenhuma faixa etária. Gera hipóxia tecidual devido à menor capacidade de oxigenação tecidual. Geralmente associada à múltiplas causas, mas deficiência de ferro é a principal causa e a principal carência nutricional do Brasil. Piora a qualidade de vida e aumenta morbidade e mortalidade. Ferropenia É a deficiência nutricional mais comum na infância. Prevalência mundial estimada (2010) = 32%. Mais frequente em países em desenvolvimento. Faixa de maior acometimento → <2 anos e gestantes. Ferro Ferro é um nutriente essencial do organismo: 75% → ligado a proteínas do grupo Heme (hemoglobina e mioglobina); 22% → ligado a proteínas de estoque (Ferritina e hemossiderina) 3% → ligado a sistemas enzimáticos criticos (catalase e citocromos) ADULTOS → 95% é obtido do reaproveitamento da destruição de hemáceas antigas por macrófagos no baço; 5% das necessidades diárias (1mg) é obtido pela dieta. CRIANÇAS → 30% de ferro deve ser obtido pela dieta; necessidade de incorporação de ferro na massa muscular A homeostase do ferro é regulada principalmente pela absorção intestinal e transporte. A absorção duodenal é regulada pelo peptídeo hepcidina, produzida pelos hepatócitos. A hepcedina liga a uma proteína de transmembrana denominada de ferroportina, que controla a absorção duodenal de ferro e liberação pelas células de estoque. ABSORÇÃO DO Fe NO DUODENO (ENTERÓCITO): Anemia ferropriva em pediatria 2 A absorção depende de: FORMA: Heme → deriva da hemoglobina, mioglobina e outras hemeproteinas; presentes em alimentos de origem animal - 10-30% de absorção (carnes, vísceras, vegetais escuros) Não Heme → 1-7% de absorção (vegetais); sofre influência de fatores inibidores. ALIMENTOS CONSUMITOS CONCOMITANTEMENTE → podem ser facilitadores ou inibidores da absorção do ferro: obs.: lavar feijão retira fitatos EXCREÇÃO DO Fe: Fezes (ferro não absorvido na dieta) Transpiração Esfoliação das células do TGI Esfoliação de células da pele. AÇÕES DO Fe: Participa de reações de oxidação e redução Interage com o oxigênio e forma produtos intermediários que podem agir como radicais livres; Age no transporte sanguíneo de oxigênio e CO2 Cofator de enzimas responsáveis pela formação de ATP Regula etapas do sistema imunológico → com a redução do Fe, há redução da atividade bactericida dos macrófados, produção de linfócitos e IL-2 e IL-6 e da função de neutrófilos = aumento de infecções ❗❗ Anemia ferropriva em pediatria 3 Age em alguns processos do SNC como a mielinização Deficiência de Fe Em <5 anos, a deficiência de Fe gera efeitos marcantes no SNC, como baixos escores em testes de desenvolvimento mental e limitações funcionais motoras e cognitivas. Causa alterações socioemocionais de comportamento e afetividade, gerando dificuldades de relacionamento e criação de vínculos afetivos. Pode causar sequelas irreversíveis proporcionais ao tempo de duração, idade de instalação e intensidade da anemia. Além de trazer reduções do potencial intelectual do adulto, dificultando sua inserção na sociedade. Anemia ferropriva Deficiência de ferro é 2,5 vezes maior que a prevalência de anemia (OMS). Anemia ferropriva em pediatria 4 24,8% da população mundial. 10% das crianças dos países desenvolvidos, 50% das crianças em países em desenvolvimento. Crianças em idade pré-escolar são as mais afetadas (47,4%). Outros fatores → desnutrição, falta de saneamento básico, alta mortalidade infantil, distribuição de renda desigual Com a redução de Fe, reduz-se o transporte de O2 e, logo, a respiração celular. Sinais e sintomas Determinados pelos estágios de deficiência de ferro. Fome oculta Alterações de pele, mucosas e anexos (palidez, glossite, atrofia de papilas linguais e unhas quebradiças) Fadiga, inapetência, fraqueza, perversão do apetite (pica → desejo intenso por item não alimentares tais como argila, pedra, papel, arroz cru e sabonete; pagofagia → desejo intenso por gelo; 1° item que melhora após reposição de Fe), disfagia, estomatite angular, taquicardia e sopro cardíaco Redução da função cognitiva Atraso do desenvolvimento neuropsicomotor Disfunção da termoregulação Déficit de crescimento Suscetibilidade a infecções Diagnóstico laboratorial TRIAGEM → 1-1,5 ano e 2 anos ❗ESTÁGIOS: 1. 1° ESTÁGIO → redução dos estoques de Fe = diminuição dos depósitos de ferro no fígado, baço e MO. O diagnóstico é feito a partir ferritina sérica: Crianças <5 anos → <12 microgramas/litro Crianças 5 -12 anos → <15 microgramas/litro Sem nenhuma ação fisiológica. Ressalta-se que a concentração de ferritina é influenciada pela presença de doenças hepáticas e processos infecciosos e inflamatórios. 2. 2° ESTÁGIO → deficiência de Fe = redução do ferro sérico, aumento da capacidade de ligação da transferrina (>250- 390 microgramas/litro) e diminuição da saturação da transferrina e zincoprotoporfirina Função fisiológica comprometida. 3. 3° ESTÁGIO → anemia ferropriva = redução da massa de hemácias com queda dos niveis de Hb = anemia Hipocromica e microcitica e anisocitose RDW >14% obs.: ferritina pode aumentar com inflamação; para diferenciar, pedir PCR Anemia ferropriva em pediatria 5 Ferritina Transportador intracelular de Fe e principal forma de reserva. Ferritina circulante no sangue está diretamente relacionada aos estoques totais de ferro no organismo. Depleção dos estoques: <5 anos → <10-12 mcg/L 5-12 anos → <15 mcg/L AVALIAÇÃO → junto com a dosagem de marcadores inflamatórios (proteína C reativa e a alfa-1-glicoproteína ácida) = aumento na inflamação, infecção, doença hepática e malignidade. Na presença de infecção, VN >30 mcg/L. obs.: hipotireoidismo e deficiência de vit C podem causar redução da ferritina Prevenção da deficiência de Fe Educação alimentar e nutricional Incentivo ao aleitamento materno Contra indicação do leite de vaca in natura antes dos 12 meses Orientação da introdução de alimentos complementares ricos em ferro biodisponível (carnes e vísceras) Restrição de alimentos inibidores (chás, cafés refrigerantes e leites) Estímulos de alimentos facilitadores da absorção (carnes, vitamina C) Fortificação dos alimentos Uso de alimentos de fácil acesso, baixo custo e pertencente á dieta habitual, sem ter seu paladar ou aspecto alterados, adicionados com compostos com boa biodisponibilidade Uso de fórmulas lácteas e leites fortificados em crianças menores de anos. Controle de infecções Monitoramento de infecções agudas → respiratórias/TGI e vias urinárias Solicitação de exames e profilaxia com vermífugos polivalente. Ampliação de rede de saneamento básico e acesso á agua tratada. Outras estratégias - políticas nacionais e internacionais NutriSUS → sachês com 15 micronutrientes em pó para acréscimo às preparações da criança na rotina escolar Fortificação da água potável com Fe Fortificação das farinhas de trigo e milho com fumarato e sulfato ferroso → 4-9mg/100g de farinha (RDC n°150 de2017) Anemia ferropriva em pediatria 6 Clampeamento oportuno do Cordão Umbilical (entre 1 a 3 min) PNSF → Programa Nacional de Suplementação de Ferro → 3 e 24 meses → sulfato ferroso na dosagem de 1mg/kg/dia Uso de Fe profilático Fatores de risco BAIXA RESERVA MATERNA → gestações múltiplas com pouco intervalo entre elas, dieta materna deficiente em ferro, perdas sanguíneas, não suplementação de ferro na gravidez e lactação AUMENTO DA DEMANDA METABÓLICA → prematuridade e baixo peso ao nascer (< 2.500g), lactentes em crescimento rápido (velocidade de crescimento > p90), meninas com grandes perdas menstruais, atletas de competição DIMINUIÇÃO DO FORNECIMENTO → clampeamento do cordão umbilical antes de um minuto de vida, aleitamento materno exclusivo prolongado (superior a 6 meses) Alimentação complementar com alimentos pobres em ferro ou de baixa biodisponibilidade Consumo de leite de vaca antes de um ano de vida Consumo de fórmulainfantil com baixo teor de ferro ou quantidade insuficiente Dietas vegetarianas sem orientação de médico/nutricionista Ausência ou baixa adesão à suplementação profilática com ferro medicamentoso, quando recomendada PERDA SANGUÍNEA → traumática ou cirúrgica, hemorragia gastrintestinal (ex: doença inflamatória intestinal, polipose colônica, drogas anti-inflamatórias não esteroides, infecção por Helicobacter pylori, verminose – estrongiloides, necatur, ancilostoma – enteropatias/colites alérgicas, esquistossomose), hemorragia ginecológica (menorragia, dispositivos intrauterinos), hemorragia urológica (esquistossomose, glomerulonefrite, trauma renal), hemorragia pulmonar (tuberculose, mal formação pulmonar, hemossiderose pulmonar idiopática, síndrome Goodpasture, etc), discrasias sanguíneas, malária MÁ ABSORÇÃO DE Fe → síndromes de má-absorção (doença celíaca, doença inflamatória intestinal), Gastrite atrófica, cirurgia gástrica (bariátrica, ressecção gástrica), redução da acidez gástrica (antiácidos, bloqueadores H2, inibidores de bomba de prótons) ❗Suplementação de Fe Lactentes sem fatores de risco RN termo, peso adequado para IG, em AME até 6° mês → 1 mg/kg/dia, dos 6m-2a Lactentes com fator de risco RN termo, peso adequado para IG, em AME até 6° mês → 1 mg/kg/dia, dos 3m-2a Anemia ferropriva em pediatria 7 RN prematuros que receberam mais de 100 mL de concentrado de hemácias durante a internação devem ser avaliados individualmente, pois podem não necessitar de suplementação de ferro com 30 dias de vida, mas sim posteriormente. obs.: mãe sem pré-natal e sem Fe → 3m obs.: mãe com anemia, mas com tto e Hb>10 no parto → 6m Princípios do tto da deficiência de Fe Reconhecimento e correção da(s) causa(s). Orientação nutricional Reposição de ferro → VO ou EV (nunca IM!) Rastreamento A SBP recomenda o rastreamento universal de anemia por ser uma doença silenciosa, altamente prevalente, possibilidade de sequelas graves e/ou irreversíveis, diagnóstico relativamente fácil, tratamento fácil e econômico. Recomenda-se que se faça hemograma para todas as crianças entre 9 e12 m, aos 18m e anual até 5 anos. Tto com Fe VO Anemia ferropriva em pediatria 8 FERRO ELEMENTAR: Dose → 3-6 mg/kg/dia, 5m Oferecer entre as refeições (estômago vazio); oferecer com agua e sucos (15%); nunca oferecer com leite e derivados Corrigir o valor da Hb circulante e repor os depósitos de ferro Dieta balanceada para garantir o requerimento de ferro e o fornecimento de aminoácidos essenciais para a formação de Hb Medicamento a base de ferro por, no mínimo, 8 semanas até 6 meses (ferritina >15 mcg/L, meta 30-300mcg/L) SAIS FERROSOS: SAIS FÉRRICOS: Ferro polimaltosado, aminoquelato e carbonila Melhor perfil de adesão e padrão de absorção mais fisiológico (taxa de absorção de cerca 50%) Não sofrem alterações com a dieta (uso nas refeições) Provocam menos efeitos adversos (10% a15%) obs.: sais férricos tem menos EA e não tem interferência da dieta - 1/2 gota/kg Ferro quelato Alta biodisponibilidade (união do ferro ao aminoácido impede a formação de compostos insolúveis) Não é prejudicado por fatores inibidores da dieta Não é exposto diretamente à mucosa intestinal (reduz os riscos de toxicidade local e de efeitos adversos) Anemia ferropriva em pediatria 9 PARA UMA BOA RESPOSTA: Colher controle após 3 meses Colher ferritina para avaliar estoque Tempo de tratamento → até 1 mês após normalização da Hb; Mínimo de 3 meses de tratamento EM CASOS DE MÁ RESPOSTA: Verificar dose, aderência e mudanças dietéticas Considerar outros diagnósticos (talassemia, doenças crônicas, anemias mistas) e perdas crônicas Controle do tratamento depende da gravidade: Hb entre 9,0 e 11,0 → colher controle em 4 semanas Hb <9.0 → colher controles em 2 semanas Expectativas neste período → elevação de, pelo menos, 1g/dL em relação ao Hb inicial obs.: reticulócitos se recuperam em 72 hs após inicio do tratamento Tto com Fe EV EM CASOS DE: Intolerância ao ferro oral Falha de resposta ao ferro oral Resposta terapêutica mais rápida Recusa à transfusão de hemácias Anemia ferropriva em pediatria 10 Recomendações Avaliação clínica não é suficiente para detecção de casos precocemente. ❗Os exames laboratoriais de rotina para o diagnóstico de anemia e profilaxia são preferencialmente hemograma, reticulócitos e ferritina. Em alguns casos → ferro sérico, transferrina, capacidade total de ligação do ferro Atenção à ferritina como marcador inflamatório. Saturação de transferrina (>16%) Diagnóstico de anemia por valor de Hb para a idade e não valor absoluto
Compartilhar