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PLANEJAMENTO TRIBUTÁRIO Profª Ivanes da Glória Mattos AULA 1 2 INTRODUÇÃO Crédito: Tarikvision/Shutterstock. Essa é a disciplina de Planejamento Tributário, que demonstrará os principais aspectos e técnicas relacionados ao sistema tributário e aos tributos das pessoas jurídicas, de modo a oferecer uma visão ampla das obrigações legais e fiscais que influenciam na apuração dos resultados e no cálculo dos tributos. Planejar significa a “organização de uma tarefa com a utilização de métodos apropriados”, ou, a “determinação de ações para atingir as metas estipuladas por uma empresa, órgão do governo etc.” (Michaelis, 2021). O planejamento estratégico é “o uso de técnicas, métodos e ferramentas que criam o futuro da organização” (Cruz, 2017). 3 Neste contexto, o planejamento tributário pode ser conceituado como um conjunto de ações organizadas previamente, criteriosas e legais para a escolha das formas de tributação e recolhimento dos tributos, com objetivo de obtenção da redução da carga tributária e resultados mais favoráveis à empresa. Nos dizeres de Anélio Berti (2016), o planejamento tributário é “o processo de escolha a priori da empresa na forma de tributação que leve à obtenção de uma carga tributária correta, como o melhor resultado econômico”. Para as empresas é de fundamental importância conhecer todos os componentes da carga tributária e adotar as normas vigentes, uma vez que tendo informações contábeis e fiscais mais confiáveis e, utilizando-se das boas técnicas de planejamento, terá mais vantagens econômicas e melhoria dos resultados, pois terá um rumo a ser seguido pela organização. Nesta primeira aula estudaremos os seguintes temas: 1. Conceito de tributo e espécies tributárias; 2. Sistema Tributário Nacional; 3. Princípios constitucionais tributários; 4. Fato gerador da obrigação tributária; 5. Incidência e não incidência tributária – exemplos na prática. TEMA 1 – CONCEITO DE TRIBUTO E ESPÉCIES TRIBUTÁRIAS 1.1 Tributo O vocábulo “tributo” muitas vezes é confundido com imposto ou taxa e, quase sempre, não sabemos distinguir um conceito do outro. O contribuinte recolhe valores, mensal ou anualmente, sem saber o que está pagando e a que se destinam os recursos financeiros recolhidos pelo Governo. Mas entender os conceitos e a diferença entre eles diminui a probabilidade de erros no recolhimento das obrigações tributárias. Podemos comparar os tributos a um grande guarda-chuva, e sob ele estão as cinco espécies tributárias: 4 I Crédito: Pixel Embargo/Shutterstock. Segundo Paulo de Barros (2021), o vocábulo tributo tem seis significações diversas, quando utilizados nos textos de direito, nas doutrinas e jurisprudências, são eles: a) Tributo, como quantia em dinheiro; b) Tributo, como prestação correspondente ao dever jurídico do direito passivo; c) Tributo, como direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo; d) Tributo, como sinônimo de relação jurídico-tributária; e) Tributo, como norma jurídico-tributária; f) Tributo, como norma, fato e relação jurídica. Entretanto, a Constituição Federal, quando estabeleceu competências tributárias, as limitações estatais ao poder de tributar e a divisão das receitas tributárias, deliberou também em seu próprio texto qual o conceito de tributo para ela. E assim o define Leandro Paulsen (2021): Cuida-se de prestação em dinheiro exigida compulsoriamente, pelos entes políticos ou por outras pessoas jurídicas de direito público, de pessoas físicas ou jurídicas, com ou sem promessa de devolução, forte Impostos Taxas Contribuições Contribuições de melhoria Empréstimos compulsórios 5 na ocorrência de situação estabelecida por lei que revele sua capacidade contributiva ou que consubstancie atividade estatal a elas diretamente relacionada, com vista à obtenção de recursos para o financiamento geral do Estado, para o financiamento de fins específicos realizados e promovidos pelo próprio Estado ou por terceiros em prol do interesse público. Nesse mesmo sentido, pode-se extrair do art. 3º do Código Tributário Nacional a acepção de tributo: Art. 3º Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada. Trata-se de uma prestação pecuniária compulsória, pois independe da vontade do sujeito passivo, no caso, o contribuinte, que deve efetuar seu recolhimento ainda que seja contra seu interesse. Uma vez realizado e concretizado o ato previsto em lei, o chamado fato gerador, gera-se automaticamente a relação jurídico-tributária, na qual, o contribuinte, fica obrigado e vinculado ao Estado, até que realize o pagamento integral de seu débito. Ainda, é importante ressaltar que a obrigação tributária sempre será instituída em Lei. Seguindo o disposto no art. 150, I, da Constituição Federal, é vedado à União, Estados, Distrito Federal e Municípios instituir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça. Ou seja, toda cobrança de tributo deve ser sempre prevista em lei e anterior a sua exigência. A referência feita pelo art. 3º do CTN de “cobrança mediante atividade administrativa plenamente vinculada” significa dizer que apenas pessoas jurídicas de direito Público (ou seja, União, Estados, Distrito Federal e Municípios) podem ser consideradas sujeitos ativos de uma obrigação tributária, uma vez que o objetivo dos tributos é gerar renda para os entes federados. 1.2 Espécies tributárias A Constituição Federal, quando tratou de legislar sobre o Sistema Tributário Nacional, criou algumas espécies tributárias, que são submetidas às regras gerais comuns e são também ordenadas por normas específicas, como é o caso dos impostos, das taxas, das contribuições de melhoria, dos empréstimos compulsórios e das contribuições. 6 É importante observar que nem sempre o tributo, que é chamado de taxa, é realmente uma taxa, mas constitui verdadeiramente uma contribuição, ou também uma contribuição que na verdade trata-se de imposto. Para melhor compreensão, traz-se aqui a definição dada por Paulo de Barros Carvalho (2019) às espécies tributárias: I. Imposto - é espécie do gênero tributo porque também consiste num vínculo entre o Estado e o contribuinte decorrente de um fato lícito previsto em lei, tendo por objeto uma prestação pecuniária. Distingue-se das demais espécies tributárias pelo seu “fato gerador”, que será sempre um comportamento do contribuinte ou uma situação na qual ele se encontre. Em outros falares, a hipótese de incidência do imposto não pode consistir numa atuação estatal. Dispõe o art. 16 do CTN: “Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte”. Imposto é a espécie tributária que tem por hipótese de incidência (fato gerador em abstrato consubstanciado na lei) um comportamento do contribuinte ou uma situação na qual ele se encontre. Como exemplo podemos citar o IPVA (imposto sobre a propriedade de veículos automotores), o IPI (imposto sobre produtos industrializados) e o IPTU (imposto sobre a propriedade territorial urbana). II. Taxa - é espécie de obrigação tributária que decorre de uma prestação estatal. Noutras palavras, taxa é um tipo de tributo que tem por hipótese de incidência uma atuação estatal consistente na prestação de serviço público ou na realização de atos de polícia. A atividade pública distingue-se da privada porque sujeita-se ao regime jurídico de direito público. A atribuição de caráter público a determinada atividade é feita pelo legislador. Nesse sentido, a Constituição de 1988 permite que apenas duas espécies de atividades possam ser remuneradas, ou seja, tributadas pormeio de taxas, são elas: serviço público e ato de polícia. Como exemplo de taxas temos a taxa de coleta de lixo, as taxas judiciárias, a taxa de esgoto etc. 7 III. Contribuição de melhoria – é uma espécie de tributo que tem por hipótese de incidência uma atuação estatal consistente na realização de obra pública que valoriza o imóvel adjacente. A contribuição de melhoria é um tipo de tributo que, assim como as taxas, também tem como fato gerador uma atuação estatal. É exemplo de contribuições de melhoria a pavimentação de uma rua. IV. Contribuições – são aquelas que se destinam a determinado grupo de contribuintes. São destinadas a atividades e ações voltadas a finalidades específicas, que se referem a grupos de contribuintes específicos, de modo que se busca esse custeio por meio das contribuições, conforme se extrai do art. 149 da Constituição. Os exemplos de contribuições são o PIS, o Cofins, a CSLL etc. V. Empréstimos compulsórios – são tributos cujo critério está na sua finalidade, qual seja, gerar recursos frente a uma situação de calamidade ou guerra externa ou para investimento relevante e urgente, conforme se extrai do art. 148 da CF. TEMA 2 – SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL O sistema tributário do Brasil tem uma longa e intrincada lógica, estrutura e legislação, o que o torna um dos mais complexos e extensos do mundo, no que tange à apuração, hipótese de incidência e recolhimento desses tributos, bem como na sua carga tributária e quantidade de tributos. Compreender esta engrenagem exige dos profissionais da área e dos contribuintes um aprofundamento constante das técnicas e da legislação aplicável (que não é unificada), eis que o funcionamento do Sistema Tributário Nacional é baseado no recolhimento de tributos, individualmente analisados, tanto no seu objetivo de financiar e gerar renda para atividades do Estado, como de melhorias de estrutura (saúde, educação, saneamento básico), infraestrutura e, também, dos salários dos servidores que ali estão vinculados. A Constituição Federal atribui competência aos entes da Federação para criar tributos, estando estabelecida na Carta Magna a atribuição de cada um deles, ou seja, os tributos de competência da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Assim, temos que são de competência da União os seguintes tributos: 8 • IOF – Imposto sobre operações financeiras; • IPI – Imposto sobre produto industrializado; • IR – Imposto de renda, podendo esse ser de pessoas físicas ou jurídicas; • CSLL – Contribuição social sobre o lucro líquido; • PIS – Programa de integração social (destinado apenas aos trabalhadores do setor privado); • Pasep – Programa de formação do Patrimônio Do Servidor Público (destinado apenas aos trabalhadores do setor público); • Cofins – Contribuição para o financiamento da seguridade social. Já de competência estadual, a Carta Magna estabelece os seguintes tributos: • ICMS – Imposto sobre circulação de mercadorias e serviços; • IPVA – Imposto sobre a propriedade de veículo automotor; • ITCMD – Imposto de transmissão causa mortis e doação; E, por fim, é de competência municipal a arrecadação dos seguintes tributos: • IPTU – Imposto predial territorial urbano; • ISS – Imposto sobre serviços; • ITBI – Imposto sobre transmissão de bens imóveis. Dessa forma, a Constituição Federal atribuiu aos seus entes a competência exclusiva para cobrar e arrecadar os impostos de acordo com o estabelecido constitucionalmente, para que seja possível financiar as atividades de cada um deles. TEMA 3 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS TRIBUTÁRIOS Crédito: Appreciate/Shutterstock. 9 Assim como todo o ordenamento jurídico e ramos do direito, o Direito Tributário também tem princípios, definidos na Constituição Federal, que regem o Sistema Tributário Nacional. Princípios Jurídicos são regras que, por sua grande generalidade, ocupam posição de destaque no mundo do direito, e por esta razão, permitem o correto entendimento e a boa aplicação dos demais preceitos normativos (Carraza, 2019). Os princípios tributários são a máxima constitucional dirigidos a esta área e servem como base para a correta interpretação das normas jurídicas tributárias. Além disso, são norteadores do poder de tributar, dentro dos limites estabelecidos pela Constituição Federal para cada ente público tributante. Cabe dizer, ainda, que os princípios tributários são responsáveis pela correta aplicação do uso do tributo como fonte geradora dos recursos públicos. 3.1 Princípio da legalidade O princípio constitucional da legalidade está previsto no art. 150, da Carta Magna. Temos, no entanto, que estabelecer a ligação deste dispositivo com o art. 5º, II, que trata da obrigatoriedade da conduta somente quando previsto em lei. Vejamos: Art. 5º [...] [...] II – Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude lei; [...] Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, Estados, Distrito Federal e Municípios: I – Exigir ou aumentar tributo sem lei que o estabeleça; Segundo o princípio da legalidade, a criação e a majoração de tributos sempre dependem de lei que os definam. Dessa maneira, todos os elementos que integram a obrigação tributária, bem como as hipóteses de incidência e seu fato gerador, devem estar previstos nas suas respectivas leis, para a sua exigência. Via de regra, os tributos devem ser sempre criados por lei ordinária, e apenas de forma excepcional, pode ser criado por meio de lei complementar, como é o caso dos empréstimos compulsórios e do imposto residual. Quanto à criação e majoração dos tributos por Medida Provisória, muito embora haja divergências na doutrina, o entendimento prevalecente, inclusive no STF, é de que é possível. 10 Além disso, a Emenda Constitucional após a EC 32/2001 firmou os entendimentos anteriores a sua edição e tornou possível a adoção das Medidas tributárias em matéria tributária, com exceção do Imposto de importação e exportação, do Imposto sobre produtos industrializados e o IOF – Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários, conforme previsão no parágrafo 2º, do art. 62, da Carta Magna, que determina: Art. 62. Em caso de relevância e urgência, o Presidente da República poderá adotar medidas provisórias, com força de lei, devendo submetê-las de imediato ao Congresso Nacional. [...] § 2º Medida provisória que implique instituição ou majoração de impostos, exceto os previstos nos arts. “153, I, II, IV, V, e 154, II, só produzirão efeitos no exercício financeiro seguinte se houver sido convertida em lei até o último dia daquele em que foi editada.” 3.2 Princípio da anterioridade Este princípio traz a garantia aos contribuintes de que não serão surpreendidos pela cobrança ou majoração de tributos de forma instantânea, eis que a lei que cria ou majora tributo (impostos, taxas ou contribuições de melhoria) somente pode incidir sobre fatos que ocorrerem no exercício financeiro seguinte à data de sua publicação. Dispõe a Constituição Federal Art. 150. Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, Estados, Distrito Federal e Municípios: [...] III – Cobrar tributos [...] B) no mesmo exercício financeiro em que haja sido publicado a lei que os instituiu ou aumento. No entanto, este princípio comporta exceções, diante do caráter regulatório da economia do país, e diz respeito aos tributos previstos no art. 153, I, II, IV e V; art. 148, I e 154, II: a) impostos de importação (II); b) Imposto de exportação (IE); c) Imposto sobre produtos industrializados (IPI); d) Empréstimo Compulsório (despesas de guerra externa, sua iminência ou calamidade pública); e) Imposto sobre Operações Financeiras (IOF); f) ImpostoExtraordinário de Guerra. 11 Dentro deste tópico comporta traçarmos as regras do Princípio da anterioridade especial ou nonagesimal, que vem previsto no parágrafo 6, do art. 195 da Constituição Federal, que dispõe: Art. 195 [...] § 6º. As contribuições sociais de que trata este artigo só poderão ser exigidas após decorridos 90 (noventa) dias da data da publicação da lei que houver instituído ou modificado, não se lhes aplicando o disposto no art. 150, III, “b”. Aqui, deve-se associar a regra da anuidade do exercício financeiro com o prazo de 90 dias para o início da cobrança do tributo pelo Fisco, o qual só pode exigir uma contribuição social instituída ou majorada decorridos 90 dias da data em que foi publicada a lei que os instituiu ou aumentou. Ressalta-se que este dispositivo é aplicável somente no caso das contribuições sociais. Observe o exemplo a seguir: Princípio da Anterioridade Princípio da Anterioridade Nonagesimal Lei promulgada em 01/12/2020 Tributo pode ser exigido no dia 01/01/2021. Tributo pode ser exigido a partir do dia 01/03/2021. Assim, a cobrança pelo Fisco deve ser imposta ao contribuinte no intervalo definido pela Constituição (exercício seguinte e após o prazo de 90 dias), ou será considerada inconstitucional. 3.3 Princípio da igualdade tributária A premissa prevalente no Direito Tributário é que a lei tributária deve “tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida das suas desigualdades”. É o que diz a Constituição Federal, em seu art. 150, II: Artigo 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, Estados, Distrito Federal e Municípios: I - [...] II – Instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontrem em situação equivalente, proibida qualquer distinção em razão de ocupação profissional ou função por eles exercida, independentemente da denominação jurídica dos rendimentos, títulos ou direitos [...]; Este princípio decorre da igualdade de forma ampla, prevista no art. 5º da Constituição, que determina que: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. 12 Cita-se como exemplo o Enunciado n. 37 do Tribunal de Justiça do estado do Paraná, no qual o estado do Paraná está sendo tratado igualmente a todos os demais contribuintes que devem pagar as custas processuais: “O fato de o Estado do Paraná deter a competência tributária para instituir tributos, tais como as taxas judiciárias (custas processuais), não o exime da obrigação de pagá-las, em eventual condenação judicial”. Conforme se observa, este princípio não deixa margem para privilégios fiscais concedidos em favor de um ou outro contribuinte que se encontrar em situações iguais. 3.4 Princípio da capacidade contributiva É o princípio que se refere à criação ou majoração dos impostos e decorre do princípio da igualdade tributária, em que aquele que tem mais, economicamente falando, deve pagar proporcionalmente mais do que quem tem menos. Esta previsão de graduação dos impostos está expressa art. 145, parágrafo 1º, da Constituição Federal: Art. 145. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão instituir os seguintes tributos: [...] § 1º Sempre que possível, os impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultado à administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos, identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte. Tem-se, portanto, que este princípio orienta o ente tributante à instituição de tributos impondo a observância da capacidade do contribuinte de recolher aos cofres públicos. Como exemplo, temos a tabela progressiva do Imposto de Renda Pessoa Física, na qual quem aufere maior renda, recolhe um valor maior do tributo. 3.5 Princípio da irretroatividade O princípio da irretroatividade tributária trabalha com a impossibilidade de uma lei abranger fatos geradores anteriores a sua edição. A regra é que a lei alcançará apenas fatos geradores futuros, ou seja, ela não pode retroceder com 13 a finalidade de alcançar situações pretéritas, sob pena de se verificar uma retroatividade. Temos como respaldo deste princípio o art. 150, III, da Constituição Federal, e o art. 144, caput, do Código Tributário Nacional, os quais assim determinam: Artigo 150 - Sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é vedado à União, Estados, Distrito Federal e Municípios: [...] III – Cobrar tributos. a) Em relação a fatos geradores ocorridos antes do início da vigência da lei eu os houver instituído ou aumentado. Artigo 144 - O lançamento reporta-se à data da ocorrência do fato gerador da obrigação e rege-se pela lei então vigente, ainda que posteriormente modificada ou revogada. TEMA 4 – FATO GERADOR DA OBRIGAÇÃO TRIBUTÁRIA Crédito: Apriliyandi Tami/Shutterstock. O Código Tributário Nacional tratou de definir, em seu texto, entre os arts. 114 e 118, as acepções e conceitos de fato gerador. A lei descreve em seu texto situações que, ao acontecerem na vida real e deixarem de ser apenas abstratas, fazem com que ocorra o fato gerador e se fixe o momento do nascimento da obrigação tributária. As hipóteses previstas na lei e que indicam que o tributo irá incidir ou que o tributo deverá ser cobrado, é o que se chama de fato gerador da obrigação tributária. Os arts. 114 e 115 do Código Tributário Nacional trazem dois conceitos de fato gerador, um para a obrigação principal e outro para a acessória: 14 Artigo 114 - Fato gerador da obrigação principal é a situação definida em lei como necessária e suficiente à sua ocorrência. Artigo 115 - Fato gerador da obrigação acessória é qualquer situação que, na forma da legislação aplicável, impõe a prática ou a abstenção de ato que não configure obrigação principal. Quanto aos conceitos de obrigação principal e acessória, o próprio Código Tributário as define em seu art. 113: Artigo 113 - A obrigação tributária é principal ou acessória. § 1º A obrigação principal surge com a ocorrência do fato gerador, tem por objeto o pagamento de tributo ou penalidade pecuniária e extingue- se juntamente com o crédito dela decorrente. § 2º A obrigação acessória decorre da legislação tributária e tem por objeto as prestações, positivas ou negativas, nela previstas no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos. Em relação à ocorrência dos fatos geradores, de novo, o Código Tributário Nacional é que define, em seu art. 116: Art. 116. Salvo disposição de lei em contrário, considera-se ocorrido o fato gerador e existentes os seus efeitos: I - Tratando-se de situação de fato, desde o momento em que o se verifiquem as circunstâncias materiais necessárias a que produza os efeitos que normalmente lhe são próprios; II - Tratando-se de situação jurídica, desde o momento em que esteja definitivamente constituída, nos termos de direito aplicável. Do exposto, diz-se que o fato gerador ocorre quando o ato definido na lei, de forma genérica e abstrata, ocorre no mundo dos fatos e nasce a obrigação tributária, tendo o ente federado como sujeito ativo e o contribuinte como sujeito passivo da obrigação. TEMA 5 – INCIDÊNCIA E NÃO INCIDÊNCIA TRIBUTÁRIA Denomina-se hipótese de incidência o momento abstrato escolhido pelo legislador em que um fato da vida real dará ensejo ao fenômeno jurídico tributário. Exemplos: circular mercadorias; transmitir bens; prestar serviços etc. (Sabbag, 2020). A contrario sensu, a não incidência corresponde aos fatos que não constam na lei para dar nascimento à obrigação tributária. Neste caso, ocorre uma situação jurídica que não se constitui em uma obrigação, uma vez que tal fato não está previsto anteriormente, para gerar uma obrigação.Como exemplo da não incidência traz-se o caso de um município que não poderá exigir o pagamento do IPTU de um imóvel situado em outro município contíguo por não existir a lei que o autorize. 15 Trazemos aqui, ainda, os conceitos de imunidade e isenção tributária, por também estarem ligadas ao não pagamento de tributos. Nos falares de Eduardo Sabbag (2020), as imunidades tributárias apresentam-se como normas constitucionais de desoneração tributária e são mandamentos que distanciam a tributação, por vontade do legislador constituinte, tais como a liberdade religiosa, a liberdade política, a liberdade sindical, a liberdade de expressão, os direitos sociais, o acesso à cultura, o incentivo à assistência social etc. No tocante à isenção, o inciso I do art. 175 do Código Tributário Nacional ensina que é uma causa de exclusão do crédito tributário. A diferença entre a imunidade e a isenção tributária é que esta está prevista em uma lei, enquanto àquela tem respaldo constitucional. A isenção é a dispensa do pagamento do tributo, ou seja, há uma previsão legal de pagá-lo, mas posteriormente, uma nova lei, dispensa o contribuinte do seu pagamento. 16 REFERÊNCIAS BRASIL. Lei n. 5.172/1966, de 25 de outubro de 1966. Dispõe sobre o Sistema Tributário Nacional e institui normas gerais de direito tributário aplicáveis à União, Estados e Municípios. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l5172compilado.htm>. Acesso em: 7 out. 2021. CARRAZA, R A. Curso de direito constitucional tributário. 32. ed. São Paulo: Malheiros. 2019. CARVALHO, P. de B. Curso de direito tributário. 30. ed. São Paulo: Saraiva, 2019. CRUZ, T. Manual de planejamento estratégico: ferramentas para desenvolver, executar e aplicar. São Paulo: Atlas, 2017. PAULSEN, L. Curso de direito tributário completo. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2021. PLANEJAMENTO. Dicionário Eletrônico Michaelis. Disponível em:https://michaelis.uol.com.br/moderno-portugues/busca/portugues- brasileiro/planejamento/>. Acesso em: 7 out. 2021. SABBAG, E. Direito tributário essencial. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2020.
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