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AULA DE DIREITO PENAL II Professor Roberto Mongelos Wallim Júnior 1 TEORIA GERAL DA PENA 1. INTRODUÇÃO A infração penal se constitui em um ato contrário a uma norma de conduta jurídico-social, sendo apenada com penas ou medidas de segurança. As penas são reservadas ao imputáveis enquanto as medidas de segurança são destinadas ao inimputáveis ou aos semi-imputáveis. As penas, recaem tanto para os crimes quanto para as contravenções penais e segundo o art. 5º, XLVI da CRFB são de três ordens: Privativas de Liberdade; Restritivas de Direito; Pecuniárias. As penas restritivas de direitos podem ensejar uma série de consequências penais, tais como confisco de bens ou instrumentos ilícitos objetos da infração ou utilizados na infração, perda do cargo ou função pública, perda da capacidade de exercer mandato eletivo, perda do exercício do poder familiar, dentre outros. 2. ETIMOLOGIA A palavra pena, vem da palavra latina “poena”, a qual significa castigo, suplício. Porém, a palavra “poena” vem da palavra grega “ponos” que significa trabalho forçado, fagida, cansaço pelo trabalho. O significado técnico-jurídico da palavra de pena significa sanção legal àquele que cometeu crime ou infração legal. No sentido jurídico-sociológico, a pena possui caráter aflitivo, em decorrência da perda ou restrição de um direito, cuja aplicação decorre de um injusto culpável. 3. HISTÓRICO DA PENAS As penas sempre estiveram ligadas ao próprio Direito Penal. Há quem diga que o primeiro ramo do Direito foi o Direito Penal. E as penas sempre estiveram ligadas ao próprio conceito de sociedade. AULA DE DIREITO PENAL II Professor Roberto Mongelos Wallim Júnior 2 A civilização necessita instituição de Penas, pois sem elas, uma sociedade civilizada emerge no caos. Ex. Brasil da lava jato. A história das penas segue as seguintes fases: Vingança Privada (Gens e Clãs); Vingança Privada Proporcional (Código de Hammurabi ou Lei do Talião); Vingança Divina (Código de Manu); Vingança Pública (Sistema Romano – certos crimes eram julgados pela Cidade de Roma); Fase Humanitária da Aplicação das penas (Marquês de Beccaria) Fase Científica (Escolas Penais) O Marquês de Beccaria (Cesare Bonesanna), em sua obra “Dos Delitos e das Penas”, vocifera em contrariedade a todo o tipo de pena abusiva, processo penal inquisitivo, “prova ilícita”, pena desumana, degradante ou resultante de tortura. Beccaria, defendia um processo penal público, imparcial, com penas proporcionais ao delito, que observem as fáticas do delito e que fundadas em leis previamente estabelecidas. As teorias de Beccaria foram superadas e até mesmo contestadas pelos adeptos das Escolas Penais, os quais inauguraram a chamada fase científica do Direito Penal, onde foi abandonado o estudo da pena como objeto do Direito Penal e se passou a estudar o criminoso. A principal escola penal é a Escola Positivista a qual teve como grandes precursores Enrico Ferri, Rafaele Grarofalo, Cesare Lombroso. Outra escola bastante famosa foi a chamada Terceira Escola que busca a junção dos principais pontos de estudo das duas escolas anteriores. 3.1 HISTÓRIA DAS PENAS NO BRASIL As Ordenações do Reino (Alfonsinas, Manuelinas e Filipinas), não assumiam qualquer critério científico de aplicação das penas, eram resultado de pura vingança do julgador. A pena mais comum era a pena de morte, com execuções no estilo da Alta Idade-Média. AULA DE DIREITO PENAL II Professor Roberto Mongelos Wallim Júnior 3 Com a Independência do Brasil, foi sancionado o Código Criminal do Império (1830), o qual continha as seguintes penas: Pena de Morte; Pena de Prisão Perpétua; Pena de Banimento – expulsão do território nacional (não era específica para nenhum crime, ficava a critério do julgador); Pena de Degredo – obrigação de residir em local determinado; Pena de Desterro – obrigação de deixar determinado local e não retornar, por um certo período de tempo. Pena de Galés – pena privativa de liberdade onde o apenado era obrigado a usar correntes nos pés e realizar trabalhos forçados. Pena de Prisão com Trabalho; Pena de Prisão Simples; Pena de Multa – calculada pelo sistema dias- multa. O primeiro Código Penal republicano em vigor a partir de 1890, continha as seguintes penas: Reclusão com pena privativa de liberdade, mediante prisão com trabalho; Reclusão com pena privativa de liberdade, mediante prisão disciplinar; Pena de interdição, suspensão ou perda de emprego público; Pena de Multa – não era específica para nenhum crime, ficava a critério do julgador. AULA DE DIREITO PENAL II Professor Roberto Mongelos Wallim Júnior 4 O Código penal vigente (1940), oriundo do período do Estado Novo, contém as seguintes penas: Penas Privativas de Liberdade – com regime penal divido em Reclusão e Detenção; Penas Restritivas de Direito – originalmente não eram previstas no Código Penal; Penas de Multa. 5. FINALIDADE DA PENA 5.1 Teoria Absoluta, Retributiva ou da Repressão Para esta teoria, a pena tem caráter eminentemente retributivo, ou seja, a pena serve para retribuir o mal cometido (punitur quia pecatum est). A sociedade devolve o mal sofrido. 5.2 Teoria Relativa, Finalista, Utilitária ou da Prevenção Para esta teoria a pena seria necessária para prevenir as práticas de crimes. A pena não teria caráter retributivo, mas teria um caráter preventivo, pois afastaria a sociedade do cometimento de crimes (punitur ne peccetur, ou seja, pune-se para não delinquir) A Teoria Prevenção se subdivide em: Prevenção Geral – a intimidação é dirigida contra toda a sociedade. Prevenção Especial – a intimidação é dirigida contra o delinquente que após vir a sofrer a punição, entende que não deve voltar a delinquir por medo de sofrer nova punição. 5.3 Teoria Mista, Eclética, Intermediária ou Conciliatória Para esta teoria, a pena possui duas características, retribuir e prevenir o crime (punitur quia pecatum est et ne peccetur). É a teoria adotada pelo Código Penal (art. 59). 5.4 Teoria da Prevenção Geral Positiva AULA DE DIREITO PENAL II Professor Roberto Mongelos Wallim Júnior 5 Para esta teoria, a pena é um instrumento balizador social da civilidade. As pessoas cumprem a lei, pois acreditam em sua eficácia. Sendo que a eficácia legal é a punição pelos crimes. 5.5 Teoria Especial Positiva Esta teoria busca reeducar o apenado, a fim de promover uma verdadeira ressocialização do indivíduo. É a teoria transcrita no art. 1º da Lei de Execução Penal – LEP. 6. PRINCÍPIO ORIENTADORES DA APLICAÇÃO DA PENA 6.1 Princípio da Dignidade da Pessoa Humana – por este princípio, mesmo que um indivíduo esteja cumprindo pena, ele não perde sua condição humana. Portanto, o Estado deve preservar a condição humana e humanizadora do indivíduo (art. 5º, XLVI e XLVII, CRFB). 6.2 Princípio da Legalidade – todas as penas devem necessariamente estarem previstas em lei (art. 5º, XXXIX, CRFB e art. 1º, CP). 6.3 Princípio da Retroatividade da Lei Penal Mais Benéfica – Em via de regra, a lei penal não retroage, exceto se for para beneficiar o apenado (art. 5º, XL da CRFB e art. 2º do CP). 6.4 Princípio da Individualidade, Personalidade ou Intranscendência da Pena – A pena não pode passar da pessoa do condenado (art. 5º, XLV, CRFB). As penas de caráter pecuniário atingem apenas o patrimônio do apenado. A ação ex delicto, ou seja, a ação que tem natureza cível e jamais poderá atingir o patrimônio pessoal dos sucessores do apenado. 6.5 Princípio da Individualização da Pena – A pena será individualizada a cada apenado, por esta razãoproíbe-se penas de caráter genérico (art. 5º, XLVI, CRFB). A execução penal também deve ser individualizada. 6.6 Princípio da Proporcionalidade da Pena – a pena deve ser proporcional ao delito cometido (poena commensurari debet delicto), ou seja, os delitos graves ensejarão penas mais graves quanto os delitos mais leves ensejarão penas mais brandas (art. 5º, XLVI e XLVII, art. 98, I, art. 227, § 4º da CRFB). 7. PENAS PROIBIDAS NO BRASIL AULA DE DIREITO PENAL II Professor Roberto Mongelos Wallim Júnior 6 Por força do Direito Constitucional são penas proibidas no Brasil: Pena de Morte – exceto em caso de guerra declarada; Pena de Caráter perpétuo – por esta razão que o tempo máximo que alguém poderá ficar privado de sua liberdade é por 30 anos (art. 75, CP). Pena de Banimento Pena de Trabalho Forçado – o trabalho forçado é diferente do trabalho obrigatório. Penas Cruéis – são penas vexatórias, torturantes, humilhantes. 8. REGRAS GERAIS DE CUMPRIMENTO DAS PENAS A Constituição da República Federativa do Brasil determina que as penas obedecerão às seguintes regras gerais: As penas deverão ser cumpridas em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, idade e sexo do apenado (art. 5º, XLVIII, CRFB); A execução penal deverá assegurar o respeito a integridade física ou moral do apenado (art. 5º, XLIX, CRFB); É assegurado às mulheres presas a permanência com seus filhos, durante o período de amamentação (art. 5º, L, CRFB).
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