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1 #00 - Público ATIVIDADE INDIVIDUAL Disciplina: Falências e Recuperação de Empresas Aluno: Maria Corado Nogueira Matriz de resposta 1. INTRODUÇÃO Trata-se de um parecer, com objetivo de prestar esclarecimentos, bem como indicar melhor estratégia jurídica para solucionar uma grave crise financeira sofrida pela sociedade empresária denominada VFC Comércio e Indústria de Material Esportivo LTDA, que está na eminência de encerrar suas atividades em definitivo. Nesse contexto, ressaltamos que em nosso ordenamento jurídico temos a Lei de Falências e Recuperação Judicial de nº 11.101/20051 , que apresenta meios para solucionar situações de colapso de uma empresa, e com base neste dispositivo legal é que iremos abordar pontos importantes e chegar numa solução viável para todos. Importante salientar que atualmente os débitos da empresa VFC Comércio estão discriminados da seguinte forma: • R$ 1.000.000,00 de débitos trabalhistas; • R$ 3.500.000,00 de débitos para fornecedores – não garantidos; • R$ 6.500.000,00 de débitos bancários, garantidos por hipoteca; • R$ 1.500.000,00 de débitos de ME ou EPP – não garantidos – e • R$ 100.000,00 de débitos de serviço de energia elétrica. 1 LEI Nº 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005 - Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.101-2005?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.101-2005?OpenDocument 2 #00 - Público Diante desse cenário, o presente parecer apresentará soluções e recomendações mais aderentes para contornar essa situação calamitosa. Vejamos: 2. DESENVOLVIMENTO: 2.1 Soluções para o endividamento No intuito de se evitar maiores prejuízos e mitigar riscos para as empresas que enfrentam dificuldades financeiras, a Lei 11.101/05, apresenta alguns remédios para superação de crise econômica, sendo um deles, a recuperação extrajudicial. Tal mecanismo está regulamentado nos artigos 1612 e 1673, é uma ferramenta que permite negociação direta entre o credor e o devedor, no intuito de facilitar a quitação da dívida, sem envolver o poder judiciário. Porém, na atual situação em que a empresa VFC se apresenta, bem como em razão da natureza das dívidas, não é recomendado se utilizar dessa via extrajudicial. Um dos principais motivos em que não se recomenda essa alternativa é pela existência de débitos trabalhistas, que necessidade de negociação com o sindicato da categoria profissional, sendo incompatível com esse procedimento pela via extrajudicial, nos termos do art. 161 da Lei de Falências e alterado na Lei 14.112/214, visto se tratar de direito indisponível. Art. 161 § 1º Estão sujeitos à recuperação extrajudicial todos os créditos existentes na data do pedido, exceto os créditos de natureza tributária e aqueles previstos no § 3º do art. 49 e no inciso II do caput do art. 86 desta Lei, e a sujeição dos créditos de natureza 2 Art. 161. O devedor que preencher os requisitos do art. 48 desta Lei poderá propor e negociar com credores plano de recuperação extrajudicial. 3 Art. 167. O disposto neste Capítulo não implica impossibilidade de realização de outras modalidades de acordo privado entre o devedor e seus credores. 4 LEI Nº 14.112, DE 24 DE DEZEMBRO DE 2020 - Altera as Leis n os 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, 10.522, de 19 de julho de 2002, e 8.929, de 22 de agosto de 1994, para atualizar a legislação referente à recuperação judicial, à recuperação extrajudicial e à falência do empresário e da sociedade empresária https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11101.htm#art161%A71.0 http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2014.112-2020?OpenDocument #00 - Público trabalhista e por acidentes de trabalho exige negociação coletiva com o sindicato da respectiva categoria profissional. Ainda, é importante destacar que, a negociação individual com cada um dos credores, não tem qualquer proteção quanto ajuizamento de ações judiciais, tampouco irá suspender eventuais ações judiciais em curso contra o devedor, o que prejudicaria geral o andamento da solução5. 1.1 Procedimentos mais adequados Considerando que nesse momento o mais importante é manter a fonte produtora e garantir o emprego dos seus trabalhadores, que está ameaçado diante do alto risco de encerramento da atividade econômica, em razão da grave crise financeira, recomenda-se como melhor alternativa um pedido de recuperação judicial, conforme previsto no artigo 47 da lei 11.101/05, a saber: Art. 47. A recuperação judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica. Com a utilização dessa medida, teremos a preservação da empresa, manutenção dos seus trabalhadores, cumprindo assim a função social da sociedade empresária que é se manter e gerar empregos. Sobre o princípio da preservação da empresa, o professo Fábio Ulhôa fez as seguintes considerações: 5 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e Recuperação de Empresas 13. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. 4 #00 - Público “O princípio da preservação da empresa, o que se tem em ira é a proteção da atividade econômica, como objeto de direito cuja existência e desenvolvimento interessam não somente ao empresário, ou aos sócios da sociedade empresária, mas a um conjunto bem maior de sujeitos. Na locação identificadora do princípio, “empresa” é o conceito de sentido técnico bem específico e preciso. Não se confunde nem com o seu titular (“empresário”) nem com o seu lugar em que explora “estabelecimento empresarial”, o que se busca preservar, na aplicação do princípio da preservação da empresa, é, portanto, a atividade, o empreendimento”6 Destaca-se que a justiça competente para julgar essas ações de recuperação judicial é a justiça estadual, sendo esse entendimento pacificado nas jurisprudências dos tribunais superiores, sendo o competente o juízo universal da falência, tendo a justiça laboral competente apenas para dirimir conflitos decorrentes da relação de trabalho, nos termos do julgado da Supremo Tribunal Federal - RE 583955 7. Com a decretação da falência, constitui um novo estado jurídico, produzindo assim vários efeitos sobre os devedores e credores. O objetivo é garantir universalidade falimentar, assim, todas as ações judiciais dos credores em face do devedor são suspensas e eventuais juros vencidos após a sentença que decretou a falência não serão mais exigíveis, dentre outras prerrogativas nos termos do art. 77 e 115 da Lei 11.101/05: Art. 77. A decretação da falência determina o vencimento antecipado das dívidas do devedor e dos sócios ilimitada e solidariamente responsáveis, com o abatimento proporcional dos juros, e converte 6 COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direto Empresarial: Direito de empresa São Paulo: Saraiva, 2014. 7 (RE 583955, Relator: ministro Ricardo Lewandowski, Tribunal Pleno, Julgamento: 28/05/2009. Repercussão Geral – Mérito DJe-162 Divulg. 27/08/2009 public. 28/08/2009) #00 - Público todos os créditos em moeda estrangeira para a moeda do País, pelo câmbio do dia da decisão judicial, para todos os efeitos desta Lei. Art. 115. A decretação da falência sujeita todos os credores, que somente poderão exercer os seus direitos sobre os bens do falido e do sócioilimitadamente responsável na forma que esta Lei prescrever. Ainda, de acordo com o professor Fábio Ulhôa, “a falência é causa de dissolução da sociedade empresária. O processo falimentar, no qual se realizam o ativo e passivo, é uma forma específica de dissolução- procedimento”. Ademais, o juiz poderá decretar a falência durante o processo de recuperação judicial, especialmente se houver descumprimento de qualquer obrigação assumidas no plano de recuperação judicial, tudo conforme previsto no art. 73 da referida lei de falências8. Enquanto perdurar essa situação de vulnerabilidade da empresa em débito, poderá resultar em falência por pedido de terceiros ou até mesmo pelos próprios representantes legais, após constatado agravamento de situação financeira da empresa que está em situação difícil ou inviável reversão. 1.2 Pagamento de credores Uma vez instaurado o plano de recuperação judicial, para viabilizar que a empresa recupere sua saúde financeira, a assembleia geral, será composta por classes de credores que obedecerão a ordem de preferência previstas no art. 41 da Lei 11.101/05.9 Assim, nos moldes do citado artigo os débitos da referida empresa deverão ser quitados na seguinte ordem: 8 Art. 73. O juiz decretará a falência durante o processo de recuperação judicial: 9 Art. 41. A assembléia-geral será composta pelas seguintes classes de credores: I – titulares de créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidentes de trabalho; II – titulares de créditos com garantia real; III – titulares de créditos quirografários, com privilégio especial, com privilégio geral ou subordinados. IV - titulares de créditos enquadrados como microempresa ou empresa de pequeno porte 6 #00 - Público 1 pagamento do débito trabalhista na ordem de R$1.000,000,00 (um milhão de reais), visto se tratar de verba de natureza alimentar, sendo priorizado em detrimento dos demais, previsto no inciso I do art. 41. 2 Pagamento dos débitos bancários, garantia real, na monta de R$ 6.500.000,00 (seis milhões e quinhentos mil reais), conforme inciso II do art. 41. 3 Pagamento dos fornecedores, sem garantia real, no valor de R$ 3.500.000,00 (três milhões e quinhentos mil reais) e a dívida de fornecimento de energia de R$ 100.000,00 (cem mil reais), previsto inciso III do art. 41. 4 Pagamento dos débitos das microempresas e empresa de pequeno porte, no valor de R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais), nos moldes do inciso IV, art. 41 3. CONCLUSÃO Diante todo exposto, a via mais aderente e eficaz é a Recuperação Judicial, dentre outros benefícios podemos citar a renegociação do pagamento de dívidas, acordos e convenção coletiva de trabalho. Desta forma, a sociedade empresária se mantém na sua função social. #00 - Público 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS LEI Nº 11.101, DE 9 DE FEVEREIRO DE 2005 - Regula a recuperação judicial, a extrajudicial e a falência do empresário e da sociedade empresária - Lei nº 11.101 (planalto.gov.br) – acesso em 10/09/2022 LEI Nº 14.112, DE 24 DE DEZEMBRO DE 2020 - Altera as Leis n os 11.101, de 9 de fevereiro de 2005, 10.522, de 19 de julho de 2002, e 8.929, de 22 de agosto de 1994, para atualizar a legislação referente à recuperação judicial, à recuperação extrajudicial e à falência do empresário e da sociedade empresária L14112 (planalto.gov.br) - acesso em 10/09/2022 COELHO, Fábio Ulhoa. Comentários à Lei de Falências e Recuperação de Empresas 13. Ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2018. COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direto Empresarial: Direito de empresa São Paulo: Saraiva, 2014. MARQUES, Leonardo. Falências e Recuperação de Empresas. FGV-Fundação Getúlio Vargas. São Paulo, 2021. http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.101-2005?OpenDocument http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.101-2005?OpenDocument https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/Lei/L11101.htm http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2014.112-2020?OpenDocument https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2019-2022/2020/Lei/L14112.htm
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