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P1 História dos Movimentos Sociais


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Primeira avaliação escrita da disciplina História dos Movimentos Sociais
 Questões:
01) De acordo com o texto de Ângela Alonso, quais as principais teorias dos movimentos sociais do século XX e quais os desafios temáticos para a compreensão dos movimentos sociais no século XXI?
Conforme apresenta Ângela Alonso, há três principais teorias dos movimentos sociais no século XX, sendo elas a Teoria da Mobilização de Recursos (TMR), Teoria do Processo Político (TPP) e a Teoria dos Novos Movimentos Sociais (TNMS) formuladas a partir dos anos 1960 e 1970, diantes das mudanças ocorridas desde a década de 1930. A TMR propõe a análise dos movimentos com foco em seu processo de organização em detrimento da ação propriamente dita, a mobilização nesses movimentos sociais surgiriam a partir de uma racionalidade, conforme a identificação e principalmente da capacidade de apropriação de recursos financeiros e humanos. Passível de comparação a uma estrutura empresarial, envolvendo processo de burocratização e que disputa espaço com outros movimentos com a pretensão de viabilizar seus objetivos. A TPP, em contrapartida, busca analisar os movimentos também pelo aspecto cultural, trata dos conceitos de estrutura de oportunidades políticas e de repertório, na qual a ação política se dá em um contexto de disputa entre detentores de poder e excluídos, voltados para a reivindicação por mais direitos, na qual sua atuação é baseada no acúmulo histórico das experiências que formam seu repertório. A TNMS ainda que tenha leituras específicas conforme cada autor, a ideia geral considera a mudança estrutural do capitalismo e nova forma de dominação pela via cultural, propondo que os movimentos então reivindicam questões referentes a melhores condições de vida, identidades e valores, não mais ao poder de Estado. A identidade coletiva seria construída no processo do movimento e suas demandas simbólicas. Entretanto, no século XXI, as novas configurações estruturais da sociedade, principalmente em virtude do processo de globalização, ocorreu a expansão do ativismo e transbordamento das temáticas para além das fronteiras nacionais, representando um desafio às teorias que se limitava ao antagonismo perante ao Estado nacional, agora a atuação passa a ser no âmbito da sociedade civil e na arena global. Além disso, as pautas “pós-materiais” desses movimentos esmaecem diante da ascensão de movimentos religiosos e conservadores. Outro desafio colocado parte do engessamento dos movimentos com a profissionalização, tornando-se por vezes burocracias institucionalizadas. Também considera-se a questão após o 11 de setembro que encerrou o ciclo de protestos pacíficos, e novos movimentos como mobilizações coletivas terroristas, elemento que contribuiu para a necessidade de reformulação das teorias dos movimentos sociais.
02) Conforme Ilse Scherer-Warren, como se caracterizam as novidades que configuram os movimentos sociais em redes no novo milênio, na sociedade brasileira?
De acordo com Ilse Scherer-Warren, as Redes de Movimentos Sociais se apresentam como a novidade no cenário da organização da sociedade civil no novo milênio na sociedade brasileira, facilitadas pelas inovações tecnológicas e de comunicação, contribuíram com esse processo de articulação das mais diversas organizações da sociedade que compartilham de uma identidade com o propósito de ganhar força perante a esfera pública e na ampliação de direitos. A Rede de Movimento Social é uma síntese articulatória da atuação coletiva de diversos atores, desde organizações de base (ONGs, terceiro setor e movimentos sociais de base), de articulação política (associações, fóruns e redes de redes) e também de mobilizações na esfera pública (articulação entre os atores para pressionar o Estado e influenciar a opinião pública), que recebem apoio de agências nacionais, internacionais e políticos, a qual compartilham objetivos e projetos por meio de uma identificação coletiva. Nota-se o crescimento dessas articulações no século XXI, tanto em espaços institucionais como também fora deles, em busca de empoderamento dos grupos e também resolução de problemas estruturais, por meio da produção de conhecimento, ativismo e prestação de serviço. Essas redes ao assumirem responsabilidade social em relação aos grupos marginalizados, distanciam-se da militância revolucionária, se alicerçam em valores de solidariedade e democráticos e consequentemente contribuem no espraiamento do capital social. 
03) De acordo com o texto discutido em sala de sala, quais foram as principais formas de luta que assumiram os movimentos de resistência à escravidão e pela liberdade no Brasil do século XIX?
No texto de João José Reis, o autor aponta a rebelião como uma das principais formas de luta que assumiram os movimentos de resistência à escravidão, ainda que nem todas as rebeliões pretendessem a destruição do regime escravocrata, considerando as limitações impostas e as dificuldades que enfrentavam no período. Formas de resistência e luta como a fuga sistemática e formação de quilombos ocorreram durante todo os mais de 300 anos de escravidão e se mantiveram ainda com as leis do século XIX. O autor associa a questão das rebeliões a fatores como a concentração e o pertencimento etnico dos escravizados a culturas aguerridas de África como a etnia nagô e haussás por exemplo na Bahia, onde ocorreram diversas revoltas principalmente no século XIX, muitas emblemáticas como a Revolta dos Malês. Outra forma de luta e resistência negra à escravidão, particularmente atrelada aos escravos nascidos no Brasil, apresentava-se a tendência à associação a lutas de movimentos mais amplos, influenciados por ideologias liberais, experiências como a revolução haitiana que alcançara a independência pela tomada do poder pelos pretos, que a exemplo de sua influência foi a Conjuração Mineira, principalmente o discurso anticolonial atrelado a ideia de liberdade em sua amplitude que envolve também o fim da escravidão. As resistências religiosas e culturais também foram formas de luta e que em muitos casos ajudaram na preparação de rebeliões.
04) Faça um resumo sobre a experiência da Guerra do Contestado, conforme exposição em artigo de Paulo Pinheiro Machado.
A Guerra do Contestado (1912-1916) ocorreu na região central de Santa Catarina e parte do Paraná, local historicamente marcado por conflitos sociais relacionados ao coronelismo e experiências de guerra anteriores, pelo abandono do Estado e da Igreja, também por conflitos territoriais entre os dois estados. Outro elemento do contexto foi a construção da estrada de ferro que passava pela região, ligando São Paulo ao Rio Grande do Sul, onde sertanejos foram expulsos de suas terras conforme o acordo do governo de Santa Catarina com a empresa Brazil Railway que lhe concedera vastas propriedades. O movimento messianico fazia parte também do contexto da época, na região já haviam passado figuras emblemáticas como São João Maria e João Maria de Jesus que desapareceram anos antes do aparecimento de José Maria, este que está diretamente relacionado ao conflito, responsável por liderar os seguidores até a comunidade de Taquaruçu onde estabeleceram o assentamento para a Festa do Bom Jesus. O conflito teve início com a perseguição policial catarinense ao grupo dos seguidores de José Maria, expulsos para a região do Irani sob administração paranaense, onde a repressão levou à morte do curandeiro. Um ano após esse episódio, um grupo retorna ao território de Taquaruçu conforme a profecia para formarem a “Santa Religião” a espera do retorno de José Maria que teve sua trajetória canonizada, espalhando-se também para outros territórios e conquistando adeptos. Os anos que se seguiram a partir de 1914 foram de intensa repressão a esse movimento e massacres na região, além de medidas como cerco e desabastecimento das regiões de resistência foram marcadas pela violência e também pela fome, até a caça sistemática dos remanescentes perdurou até o ano de 1916.
05) Apresente os principais acontecimentos e seus protagonistasda Revolta da Vacina, ocorrida na cidade do Rio de Janeiro, em 1904, conforme texto do historiador José Murilo de Carvalho.
A Revolta da Vacina ocorreu em 1904 no Rio de Janeiro, cidade que passava por uma série de transformações escolhida pelo presidente Rodrigues Alves para ser a vitrine do país e iniciou uma série de reformas. As transformações não se deram apenas na questão territorial que destruiu o que era considerado indesejável principalmente relacionado às classes populares para dar lugar a esse novo espaço, também parte desse processo ocorreu a Reforma Sanitária encabeçada pelo médico Oswaldo Cruz que definiu o plano de intervenção contra a febre amarela, peste bubônica e a varíola, e ainda regulações sobre comportamento e postura da população. A massa popular impactada por tais medidas autoritárias promovidas pelo governo, demonstrou sua desaprovação mais expressiva e organizada após a aprovação do projeto que previa obrigatoriedade da vacina e inclusive aplicá-la à força invadindo os domicílios, rejeitado no Senado apenas por Lauro Sodré e como na Câmara pelo major Barbosa Lima e do ex-cadete Alfredo Varela, positivistas que empenharam esforços para denunciar. A articulação das massas foi feita no Centro das Classes Laboriosas, mas contou com a participação de diversos grupos, atuaram por meio da assinatura de petições contra o projeto de obrigatoriedade da vacina e também planejaram a mobilização popular. Com o apoio da exposição do projeto na mídia, o primeiro dia de manifestações ocorreu por parte de estudantes na Praça Tiradentes. No dia seguinte, uma reunião com 4 mil pessoas reunidas no Centro das Classes Laboriosas tomou novos encaminhamentos para o enfrentamento, as estratégias de confronto direto se espalharam pela cidade nos dias que se seguiram. Até a Escola de Cadetes da Praia Vermelha foi convocada, por parte dos militares oposicionistas, para o enfrentamento junto às camadas marginalizadas, que foram afetadas diretamente pelas políticas do governo, e dos operários que se somaram, além de outros grupos afetados, como comerciantes e pequenos proprietários. Foram convocados reforços por parte do governo, o exército de São Paulo e Minas Gerais, para conter os manifestantes e declarado estado de sítio para encerrar o conflito que terminou com inúmeros presos.