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012 - Módulo Direito - Teoria dos direitos fundamentais

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Conceito de Constitucionalismo
NESTE TÓPICO SERÁ ESTUDADO O CONCEITO DE CONSTITUCIONALISMO E O SURGIMENTO DO ESTUDO DO DIREITO CONSTITUCIONAL.
AUTOR(A): PROF. JULIANO APARECIDO RINK
Direito Constitucional
O Direito Constitucional consiste no ramo do Direito Público, resultado do movimento de limitação do poder através do surgimento do constitucionalismo moderno, que se destina ao estudo do Texto Constitucional. As Teorias estudas são: a Teoria da Constituição, a Teoria da Federação, a Teoria da Separação dos Poderes, a Teoria dos Direitos Fundamentais e, mais modernamente, a Teoria do Controle de Constitucionalidade.
As primeiras Constituições escritas surgiram durante as Revoluções Liberais Burguesas no século XVIII, como forma legal-normativa de limitar o exercício do poder por um documento escrito, são elas: a Constituição dos Estados Unidos da América de setembro de 1787 e a Constituição francesa de setembro de 1791.
O termo Direito Constitucional teve seu emprego pela primeira vez no fim do século XVIII, mais, precisamente, em 26 de setembro de 1791, quando a Assembleia Constituinte francesa determinou que as faculdades de Direito passassem ministrar aulas sobre a Constituição francesa recém-elaborada. (BULOS,2013, p. 55)
Alguns autores dividem o estudo do Direito Constitucional em Direito Constitucional Material e Direito Constitucional Formal. O primeiro refere-se ao conjunto de normas jurídicas que estabelecem a estrutura, as atribuições e as competências dos órgãos componentes do Estado, já o segundo, trata-se do conjunto de normas e princípios presente em um texto elaborado dentro de uma formalidade, que somente pode ser elaborado e modificado mediante a observação de um procedimento técnico e cerimonioso específicos
Conceito de Constitucionalismo
O termo constitucionalismo apresenta uma polissemia de sentidos ( TAVARES,2013, p.22-23), podendo expressar:
Sentido lato sensu o movimento político-social de limitação do poder arbitrário, assim, podendo ter suas raízes desde a antiguidade – constitucionalismo primitivo- até aos dias atuais.
Sentido stricto sensu a existência de cartas constitucionais escritas, surgindo no final do século XVIII fruto das Revoluções Liberais Burguesas.
O significado da função e a posição da constituição dentro de uma determinada sociedade A evolução histórica constitucional de um Estado específico.
Para o doutrinador Luís Roberto Barroso o constitucionalismo representa a supremacia da Lei ( Estado de Direito, rule of the law, Rechtsstaat) e a limtação do poder, que no Estado constitucional moderno se dá em três ordens:
Em primeiro lugar , as limitações materiais: há valores básicos e direitos fudamentais que hão de ser sempre preservados , como a dignidade da pessoa humana, a justiça, a solidariedade e os direitos à liberdade de religião, de expressão, de associação. Em segundo lugar, há uma específica estutura orgânica exigível: as funções de legislar, administrar e julgar devem ser atribuídas a órgãos distintos e independentes, mas que ao mesmo tempo, se controlem reciprocamente (checks and balances). Por fim, há as limitações processuais: os órgãos do poder devem agir não apenas com fundamento na lei, mas também observando o devido processo legal, que congrega regras tanto de caratér procedimental ( contraditório, ampla defesa, inviolabilidade do domícilo, vedação de provas obtidas por meios ilícitos) como de natureza substantiva ( racionalidade , razoabilidade, proporcionalidade, inteligibilidade). Na maior parte dos Estados ocidentais instituíram-se, ainda, mecanismos de controle de constitucionalidade das leis e dos atos
do Poder Público. BARROSO, 2011, P. 5-6
De forma resumida, o constitucionalismo consiste no movimento social-político de limitação do poder de quem exercer.
Evolução do Constitucionalismo
NESTE TÓPICO SERÁ ESTUDADO A EVOLUÇÃO DO MOVIMENTO DO CONSTITUCIONALISMO, DESDE O PERÍODO PRIMITIVO AOS DIAS ATUAIS
AUTOR(A): PROF. JULIANO APARECIDO RINK
Constitucionalismo Primitivo
O constitucionalismo primitivo é considerado dentro do emprego do termo no sentido lato sensu (amplo), ao se referir a uma forma de limitação do poder dos chefes familiares ou líderes dos clãs por meio dos costumes e preceitos religiosos. Importante ressalvar que não está atrelado apenas período histórico primitivo, podendo existir até mesmo no período contemporâneo, como por exemplo, o caso de certas etnias da Nigéria e da Zâmbia (BULOS, 2012, p. 66-69).
Características:
Ausência de uma constituição escrita, somente existência de normas consuetudinárias. Influência da religião no campo jurídico.
Legenda: TRIBO INDIGINA
Constitucionalismo Antigo
O estudo do constitucionalismo antigo, também encontrado dentro do sentido amplo do termo, pode-se destacar sua manifestação em três grupos: os hebreus, os gregos e os romanos.
O constitucionalismo dos hebreus que ocorreu no seio do Estado teocrático (limitação do governo pelos dogmas religiosos contidos nos livros sagrados).
O constitucionalismo dos gregos que partiu do desenvolvimento do sentido de democracia como forma de limitação do poder. Exemplo: Constituição de Sólon.
O constitucionalismo dos romanos que foi marcado pelo o ideal de liberdade, que era considerada um bem (objeto) e indestrutível, independente da vontade do indivíduo, e não uma qualidade da pessoa. Nota: o termo constituição (constitutio) era empregado, na época, para se referir as normas criadas pelo Imperador, diferenciando do sentido moderno do vocábulo.
Características:
Ausência de constituição escrita, apenas normas de caráter constitucional; As normas constitucionais não possuem rigidez normativa.
Inexistência de controle de constitucionalidade dos atos do Parlamento. Presença da tese do grau zero de eficácia constitutiva do direito constitucional
Legenda: MANIFESTAçãO NA ÁGORA GREGA - DEMOCRACIA
Constitucionalismo Medieval
O constitucionalismo medieval é marcado pelo desenvolvimento do sistema jurídico inglês de governança, ao substituir o governo dos homens pelo governo das leis ( rule of law), assim, o texto normativo torna-se uma forma de limitação do poder. Inicia-se com Magna Charta Libertatum, de 15 de junho de 1215, outorgada pelo Rei João Sem Terra, que representou um pacto de governança limitando o poder real pelos direitos da nobreza britânica. Outros documentos com caráter constitucional também se destacam no constitucionalismo britânico, tais como: Estatuto ou Nova Constituição de Merton, 1236, Petition of Rigths de 1628, Habeas Corpus Act de 1679, Bill of Rights de 1689 e Act of Settlement de 1701.
Não apenas os pactos tiverem natureza de caráter constitucional na Idade Média, mas, também os forais e os contratos de colonização.
Os forais ou cartas de franquia tinham como finalidade a garantia de direitos individuais dos súditos e sua participação no governo local.
Os contratos de colonização predominaram, principalmente, no processo de colonização da América do Norte, marcados pelo ideal puritano de igualdade entre todos. Destaca-se: Compacto of Mayflower de 1620 e as Fundamental Orders of Connecticut de 1630.
Características:
Amadurecimento da ideia do Rule of Law (governo da lei), por meio da afirmação dos governados frente ao governante;
Instituição da forma do poder judiciário, como órgão independente;
Presença da concepção jusnaturalística de constituição; Existência de documentos garantidores de liberdades públicas; Ausência de um sistema formal administrativo.
Legenda: MOMENTO DA ASSINATURA DA MAGNA CARTA PELO REI JOãO SEM TERRA EM 1215
Constitucionalismo Moderno ou Clássico ou Liberal
O constitucionalismo moderno está atrelado ao sentido stricto do termo, pois neste período que surgem as primeiras Constituições escritas, dentro do sentido vigente do documento. Iniciou-se no final do séc. XVIII no seio das Revoluções Liberais Burguesas (Revolução Francesa e Norte Americana). Por isso, o aparecimento de duas matrizes: o constitucionalismo americano e o constitucionalismo francês. Experiências ocorridas nesta fase:Constitucionalismo Americano
Surgido durante o processo de independência das trezes colônias americanas, o constitucionalismo americano é marcado pelo espírito democrático e republicano moderno, impostos através da supremacia da Constituição e da ideia da garantia judicial.
O texto constitucional, de 1787, é sintético e rígido com apenas sete artigos, que estabelecem claramente as competências dos três poderes: Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como a importância hierárquica do texto constitucional, constituindo a norma suprema do ordenamento jurídico pátrio.
Duas contribuições importantes do constitucionalismo americano:
O Poder Judiciário desempenhando a função de responsável pela guarda do controle da supremacia da Constituição;
O ideal de Democracia, que não deve ser apenas um governo da vontade da maioria, mas um regime que
deve proteger os direitos e respeitar as regras constitucionais, assim, impedindo um governo autoritário da maioria sobre as minorias.
A	Constituição	de	1787
(http://www.uel.br/pessoal/jneto/gradua/historia/recdida/ConstituicaoEUARecDidaPESSOALJNETO.pdf) é vigente até hoje e sua Declaração de Direitos consiste nas 10 primeiras Emendas Constitucionais realizadas posteriormente.
Características:
Primeira constituição escrita e dotada de rigidez ocidental. Ideal da supremacia constitucional.
Distinção entre poder constituinte e poder constituído.
Instituição do controle de constitucionalidade (1803 - caso “Marbury VS Madison”). Implantação da forma federativa de estado.
Forma republicana de governo e o sistema presidencialista. Regime político democrático.
Presença de rígida separação e o equilíbrio entre os poderes estatais. Fortalecimento do Poder Judiciário.
Declaração de direitos da pessoa humana (as dez primeiras Emendas Constitucionais).
Legenda: CONSTITUIçãO DOS ESTADOS UNIDOS DE 1787
Constitucionalismo Francês
O constitucionalismo francês é fruto da Revolução francesa no século XVIII, fortemente influenciável pelos ideais iluministas, apresenta o primeiro texto constitucional escrito da Europa – a Constituição francesa de 1791. Desenvolve a Teoria do Poder Constituinte, marcada nos discursos no Abade Siéyès, colocando que o poder está nas mãos do povo (terceiro estado) e o governante (o Rei- primeiro estado) seria subordinado a esse, e não mais ao absolutismo divino, sendo a Constituição o texto garantidor dessa relação.
Uma das principais contribuições do constitucionalismo francês refere-se à estrutura do texto constitucional ao estabelecer as relações de limitação do poder: garantia de direitos (para os governados); e a separação dos poderes (para os governantes). Algo tão marcante para os franceses que já estava presente na Declaração	dos	Direitos	do	Homem	e	do	Cidadão	de 1789
(http://revolucoes.org.br/v1/sites/default/files/matdidatico/Declara%C3%A7%C3%A3o%20dos%20Direitos
%20do%20Homem%20e%20do%20Cidad%C3%A3o%201798.pdf), que antecedeu o texto constitucional e foi o preâmbulo da Constituição de 1791:
Art. 16 “Toda sociedade na qual não é assegurada a garantia dos direitos, nem determinada a separação dos poderes, não possui Constituição” DECLARAçãO DOS DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADãO DE 1789
Distinguiu do constitucionalismo americano por conceber a Constituição como sendo um projeto político que visa promover uma transformação política e social da sociedade, por isso, chamando-a de Lex Fundamentallis - Lei fundamental.
Características:
Manutenção da monarquia constitucional; Limitação do poder real pela Constituição;
Separação de poderes, porém mais branda que nos EUA;
Distinção entre poder constituinte originário e poder constituinte derivado - Abade Emmanuel Joseph Sieyès ( Qu'est-ce que Le Tiers Etat?)
Legenda: DECLARAçãO DE DIREITOS DO HOMEM E DO CIDADãO DE 1789
Constitucionalismo Contemporâneo, Moderno ou Social
Inicia-se a partir do fim da 1a Guerra Mundial, com o reflexo das reivindicações fruto das demandas sociais que marcaram o século. XIX, Revolução Industrial- via Constitucionalismo Liberal Moderno.
O autor italiano Biscaretti di Ruffia divide o Constitucionalismo Moderno Social em 4 ciclos constitucionais:
1º ciclo - Constituições da Democracia Marxista ou Socialista (na Rússia);1918- Constituição Russa; 2º ciclo - Constituições da Democracia Racionalizada; 1917-1937- Constituição do México de 1917, Constituição de Weimar de 1919, Constituição da Áustria 1920;
3º ciclo - Constituições da Democracia Social (1946 até os dias atuais), Constituição da França de 1946,
Constituição da Itália de 1947, Constituição da Alemanha de 1949, Constituição de Portugal de 1976 e a Constituição da Espanha de 1978;
4º ciclo - Constituições dos Países Subdesenvolvidos.
Constitucionalismo Contemporâneo ou Neoconstitucionalismo (da 2ª metade do século XX aos dias atuais)
Consiste em um reflexo no campo jurídico dos atos ocorridos durante a Segunda Guerra Mundial. O neoconstitucionalismo é marcado pelo afastamento do mero preceito do texto positivo da Constituição para buscar uma valorização do conteúdo moral da norma, principalmente, através da primazia da concretização da dignidade da pessoa humana.
Principais fatores do surgimento do Neoconstitucionalismo:
A consagração do princípio da dignidade humana como valor supremo dos Textos Constitucionais, como por exemplo, a Constituição Alemã de 1949. Todos os indivíduos são possuidores de dignidade, sendo assim, o indivíduo é um fim em si mesmo e o Estado tem o dever de garantir o alcance deste fim.
A rematerialização da Constituição, por meio da consagração dos direitos fundamentais e sua função
dentro das diretrizes políticas do Estado. Os textos constitucionais passaram a serem mais analíticas, extensas, com um grande número de direitos fundamentais para garantir a dignidade da pessoa humana, além do papel de destaque desses dentro da geografia normativa das Constituição, como sendo as primeiras regras constitucionais estabelecidas, para somente depois se referirem a Estrutura e Organização do Estado.
O reconhecimento da força normativa da Constituição, dando à norma constitucional a máxima
efetividade em conexão com a realidade social, como defendido por Konrad Hesse:
As principais consequências do Neoconstitucionalismo:
Altera a relação na Teoria da norma, aos estabelecer uma importância fundamental aos princípios dentro
a força normativa da Constituição não reside, tão-somente, na adaptação inteligente a uma dada realidade. A Constituição jurídica logra converter-se, ela mesma, em força ativa, que se assenta na natureza singular do presente (individuelle Beschaffenheit der Gegenwart). Embora a Constituição não possa, por si só, realizar nada, ela pode impor tarefas. A Constituição transforma-se em força ativa se essas tarefas forem efetivamente realizadas, se existir a disposição de orientar a própria conduta segundo a ordem nela estabelecida, se, a despeito de todos os questionamentos e reservas provenientes dos juízos de conveniência, se puder identificar a vontade de concretizar essa ordem.
Concluindo; pode-se afirmar que a Constituição converter-se-á em força ativa se fizeram- se presentes na consciência geral — particularmente, na consciência dos principais responsáveis pela ordem constitucional —, não só a vontade de poder (Wille zur Macht), mas também a vontade de Constituição (Wille zur Verfassung).
HESSE, KONRAD. A FORçA NORMATIVA DA CONSTITUIçãO . P. 4
do campo normativo.
Modifica a estrutura clássica da Teoria das Fontes, principalmente, nos países de sistema civil law, ao destacar uma extrema importância a atuação do Poder Judiciário na produção normativa interna, assim, quebrando o monopólio legiferante do Poder Legislativo como produtor das Fontes normativas. Por exemplo, no caso do Mandado de Injunção 670/ES (http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp? numero=670&classe=MI&origem=AP&recurso=0&tipoJulgamento=M) sobre o direito de greve do Servidor Público.
Alto índices de judicialização das relações políticas e sociais. No Brasil, a partir da décadade 90 do século passado, o STF tem decidido sobre poderes e limites da Constituição, fidelidade partidária e verticalização, que são também questões políticas. No campo social constata-se uma participação ativa da Corte ao decidir, por exemplo, concessão de medicamentos e leitos nos hospitais, sobre pesquisas com células tronco (ADI 3.510 (http://www.stf.jus.br/portal/geral/verPdfPaginado.asp? id=611723&tipo=AC&descricao=Inteiro%20Teor%20ADI%20/%203510)), aborto no caso de anencéfalo (ADPF 54 (http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticianoticiastf/anexo/adpf54.pdf)), casamento entre pessoas do mesmo sexo (ADPF 132 (http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp? docTP=AC&docID=628633) e ADI 4277 (http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp? docTP=AC&docID=628635)) , sistema de quotas(ADPF 186 (http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=6984693) e ADI 3330 (http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=3530112)) ,reservas indígenas(PETIÇÃO 3.388 (http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp? docTP=TP&docID=5214423)).
Altera o sistema clássico de força normativa, bem como o controle normativo das leis, ao introduzir a força supralegal para os tratados internacionais. A supralegalidade representa um status normativo colocado entre a força do Texto Constitucional e o ordenamento jurídico interno que fora atribuído aos tratados de
direitos humanos já incorporados após a promulgação da Emenda Constitucional 45/04, pelo STF no julgamento dos RE 349.703 (http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp? docTP=AC&docID=595406) e RE466.343 (http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp? docTP=AC&docID=595444) , entre outros.
Estabelece mudanças na Teoria da Interpretação constitucional ao determinar que além dos princípios materiais, positivados no texto constitucional, devem ser observados os princípios de interpretação oriundos da jurisprudência, os chamados postulados ? normas interpretativas que orientam do sistema normativo estabelecido ? como os postulados da Supremacia da Constituição, da presunção de constitucionalidade das leis e da dignidade da pessoa humana
Características:
Textos constitucionais amplos e analíticos.
Salvaguarda do indivíduo frente a coações autoritária ? com a presença de uma democracia política e a primazia da Dignidade da pessoa humana, não apenas sendo um mero princípio ou regra constitucional, mas também um postulado norteador do todo sistema jurídico.
Propagação das ideias do totalitarismo constitucional (Uadi Lammêgo Bulos) e constituição dirigente ( J.J. Gomes Canutilho).
Enriquecimento da teoria geral da constituição como forma norteadora da interpretação constitucional. Presença maior de um ativismo judicial.
Busca por uma sociedade mais justa e igualitária fundamentada nos direitos e garantias fundamentais -
constitucionalismo globalizado ( André Ramos Tavares).
Conceito de Constituição, estrutura e classificação
NESTE TÓPICO SERÁ ESTUDADO AS TRÊS PRINCIPAIS CONCEPÇÕES PARA O CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO, SUA CLASSIFICAÇÃO E A ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988
AUTOR(A): PROF. JULIANO APARECIDO RINK
Concepções de Constituição
Um mesmo fenômeno pode ser visto por diversas perspectivas, como o caso da Constituição. Assim, pode-se destacar 3 (três) formas diferentes de abordar o conceito de Constituição:
Concepção Sociológica
A Constituição deveria representar o efetivo poder social dentro de um Estado, caso contrário seria ilegítima, uma simples folha de papel em branco. O defensor desta perspectiva foi Ferdinand Lassalle em sua obra: Qué es uma constitución (http://norcolombia.ucoz.com/libros/Lassalle_Ferdinand- Que_Es_Una_Constitucion.pdf)?	(http://norcolombia.ucoz.com/libros/Lassalle_Ferdinand- Que_Es_Una_Constitucion.pdf) em 1862 durante uma conferência em Berlim De acordo com a sua concepção existiria 2 (dois) tipos de Constituição dentro de um Estado: Constituição Real ou Efetiva e Constituição Escrita.
Concepção Política
No sentido político busca-se o fundamento nos atos e escolhas que antecedem a própria formação do Estado e da Constituição, ou seja, aquela decisão sem a qual não se organiza ou cria-se um Estado. Como, por exemplo: Será um Estado unitário ou federação? Um Estado Democrático ou não? O regime politico será parlamentarismo ou presidencialismo? Quais serão os direitos fundamentais? etc. O principal defensor dessa corrente foi Carl Schmitt, que em sua obra Teoria da Constituição, afirma existir a Constituição propriamente dita, que seria somente aquilo que decorre de uma decisão política fundamental, ou seja, representa a unidade política de um povo, os valores de um povo.
Na perspectiva schmittiana, os assuntos que consistem nos frutos de decisão política fundamental do povo são: Direitos Fundamentais; Estrutura do Estado; e Organização dos Poderes. Portanto, sendo as normas que tratam das matérias DEO normas materialmente constitucionais e imitáveis. Assim, uma Constituição Propriamente Dita ( Constituição Material) somente teria matéria DEO, como no caso dos Estados Unidos
ou Inglaterra, já uma Constituição Formal, possuem além de dispositivos DEO, também dispositivos formalmente constitucional - normas fins para o Estado, como por exemplo, a Constituição do Brasil de 1988.
Concepção Jurídica
Nessa concepção sobre os parâmetros da doutrina filosófica do positivismo jurídico, principalmente, os ideias do jurista austríaco Hans Kelsen, defende que a Constituição pertence à esfera do Dever-ser, ou seja, estaria única e exclusivamente no campo normativo positivado.
No positivismo jurídico kelseniano tem-se dois planos distintos no âmbito da fundamentação da Constituição: o plano lógico-jurídico e o plano jurídico-formal.
No plano lógico-jurídico consiste na fundamentação da validade da Constituição através da Norma fundamental-hipotética – GRUDNORM - que expressa um único comando: “todos devem obedecer à constituição, pois é válida”. A norma fundamental é hipotética, isto é, não está expressa no ordenamento jurídico. Importante, ressalvar que a Norma Fundamental não deve ter nenhum conteúdo, caso contrário manifestaria já um juízo de valor sobre a ordem normativa.
No plano jurídico-formal, a Constituição refere-se ao conjunto de normas que regulamenta a produção das demais normas, assim, sendo a norma positiva do Estado que dá validade as demais normas do ordenamento jurídico. Ao estudar a estrutura hierárquica da ordem jurídica, Kelsen, distingue a constituição no sentido material e formal, em sua obra Teoria Pura do Direito expressa:
A Constituição é aqui entendida num sentido material, quer dizer: com esta palavra significa-se a norma positiva ou as normas positivas através das quais é regulada a produção das normas jurídicas gerais. Esta Constituição pode ser produzida por via consuetudinária ou através de um ato de um ou vários indivíduos a tal fim dirigido, isto é, através de um ato legislativo. Como, neste segundo caso, ela é sempre condensada num documento, fala-se de uma Constituição “escrita”, para a distinguir de uma Constituição não escrita, criada por via consuetudinária. A Constituição material pode consistir, em parte, de normas escritas, noutra parte, de normas não escritas, de Direito criado consuetudinariamente. As normas não escritas da Constituição, criadas consuetudinariamente, podem ser codificadas; e, então, quando esta codificação é realizada por um órgão legislativo e, portanto, tem caráter vinculante, elas transformam-
se em Constituição escrita. Da Constituição em sentido material deve distinguir-se a Constituição em sentido formal, isto é, um documento designado como “Constituição” que - como Constituição escrita – não só contém normas que regulam a produção de normas gerais, isto é, a legislação, mas também normas que se referem a outros assuntos politicamente importantes e, além disso, preceitos por força dos quais as normas contidas neste documento, a lei constitucional, não podem ser revogadas ou alteradas pela mesma forma que as leis
simples,mas somente através de processo especial submetido a requisitos mais severos. Estas determinações representam a forma da Constituição que, como forma, pode assumir qualquer conteúdo e que, em primeira linha, serve para a estabilização das normas que aqui são designadas como Constituição material e que são o fundamento.
KELSEN, TEORIA PURA DO DIREITO, 1999, P 155
Analisando sobre a perspectiva kelseniana, no sentido jurídico-formal, a Constituição brasileira de 1988 tem-se o sentido formal expresso no art. 60 do Texto, ao prever o processo diferenciado legislativo para a produção das Emendas Constitucionais, e o sentido material presente no Título IV, seção VIII – Processo Legislativo, ao estabelecer as regras para a produção dos tipos normativos reconhecido na ordem jurídica constitucional em vigor.
Classificação das Constituições
O texto constitucional pode ser classificado em diversos aspectos:
Quanto à origem
Outorgada – quando o texto constitucional é imposto unilateralmente pelo grupo ou por quem detém o poder estatal, se denomina de Carta. Exemplo: Magna Carta de 1215 na Inglaterra e a Carta Constitucional do Brasil Império de 1824.
CONSTITUIçõES CESARISTAS
Algumas Constituições outorgadas costumam ser submetidas a um referendo (consulta popular posterior à produção do texto) ou plebiscito (consulta popular anterior à produção do texto), as chamadas de Constituições Cesaristas. Elas não podem ser consideras democráticas, apesar da presença de instrumentos de participação popular, pois o resultado final é imposto de forma unilateral. Também, podem ser chamadas de bonapartistas, em referência a Constituição de Napoleão Bonaparte, ou pinochestas, como referência, a Constituição do general Pinochet, no Chile. Exemplos: a Constituição de 2008 da Bolívia do presidente Evo Morales, a Constituição Socialista de 2008 do Equador presidente Rafael Correa, a Constituição da ALBÂNIA de1998 e a GÂMBIA de 1996.
Promulgada (democrática, votada ou popular) - quando o texto constitucional consiste no resultado da manifestação da vontade do provo, geralmente, expressa através dos trabalhos da Assembleia Constituinte, formada pelos representantes do povo, se denomina de Constituição. Exemplo a Constituição de 1988 do Brasil.
CONSTITUIçõES BRASILEIRAS QUANTO à ORIGEM
Promulgadas: 1891; 1934; 1946 e 1988 (dica para memorizar: só a de 1891 é impar, as outras todas são pares)
Outorgadas: 1824; 1937; 1967 e 1969 (dica para memorizar: só a de 1824 é par, as outras todas são impares).
Observação: Carta de 1967 foi SEMI-OUTORGADA, ou seja, teve uma aparência de PROMULGADA, mas na realidade foi mera outorgada pela Junta Militar.
Pactuada – quando a Constituição resulta de um pacto (acordo) entre quem irá exercer o poder, como exemplo, o Rei, a nobreza ou, modernamente, o parlamento. Exemplos: a Magna Carta de 1215 na Inglaterra, a Constituição francesa de 1791 e a Constituição espanhola de 1830.
Quanto à forma
Escrita (ou instrumental) - quando o texto constitucional representa um único documento formal, produzido de forma solene, sendo o conjunto de regras e princípios do Estado. Exemplo a Constituição brasileira de 1988
Costumeira (não escrita ou consuetudinária) – representa um conjunto de regras e princípios constitucionais presentes em textos “esparsos” do ordenamento jurídicos . Típicas de sistemas jurídicos de matriz “Common Law”. Exemplo a Constituição da Inglaterra, que se trata de um compêndio de normas constitucionais relacionadas com o direito costumeiro.
Quanto à Sistemática
Codificada (reduzida, unitária) – apresenta-se como um único Código (possui uma sistematização de suas normas). Exemplo a Constituição brasileira de 1988.
Não codificada (variada) - Consiste em várias leis esparsas tratando de matéria constitucional, mas com ausência de sistematização. Exemplos: a Constituição belga de 1830, a Constituição francesa de 1875, a Constituição da Alemanha Nazista (de 1933 a 1945).
Quanto à extensão
Sistemática (concisa, breve, sumária, básica ou sucinta) – O texto constitucional dispõe de forma sucinta apenas os fundamentos e a estrutura do Estado. Exemplo: a Constituição dos Estados Unidos em vigor desde 1787, com apenas 7 artigos.
Analítica- O texto é extenso, amplo, por tratar tanto da estrutura e organização do Estado, como também dos direitos fundamentais dos cidadãos de forma detalhada, marca típica do Neoconstitucionalismo. Exemplo a Constituição brasileira de 1988, com 250 artigos.
Quanto ao conteúdo
Materialmente constitucional - O textos constitucional traz as normas fundamentais e estruturais do Estado, a organização de seus órgãos, e os direitos e garantias fundamentais dos seus tutelados. Como por exemplo, a Constituição do Brasil Império de 1824, que estabelecia no art. 178 – “É só constitucional o que diz respeito aos limites e atribuições dos poderes políticos, e aos direitos políticos e individuais dos cidadãos; tudo o que não é constitucional pode ser alterado, sem as formalidades referidas, pelas legislaturas ordinárias”.
Formalmente constitucional – Quando o texto exige um procedimento formal e solene para produção da norma constitucional. Como, por exemplo, a Constituição brasileira de 1988.
Quanto ao modo de elaboração
Dogmática ou sistemática – O texto constitucional, produzido pelo órgão constituinte, transmite os valores políticos e ideológicos predominante em um determinado momento histórico da sociedade, podendo, assim, identificar com precisão a ruptura da ordem constitucional anterior. Por exemplo, a Constituição brasileira de 1988, como os ideais democráticos e a primazia dos direitos fundamentais.
Histórica – Quando o texto constitucional é fruto de um lento processo de evolução histórica da sociedade, tipo das constituições do sistema “Common Law”, Como, por exemplo, a Constituição inglesa.
Quanto à dogmática
Ortodoxa – Quando o texto constitucional apresenta uma única ideologia dominante. Como, por exemplo, a Constituição soviética de 1977 ou a Constituição da China marxista.
Eclética- Quandoo texto constitucional apresenta uma pluralidade de ideologias. Como, por exemplo, a Constituição portuguesa de 1976 ou a Constituição brasileira de 1988.
Quanto à alterabilidade – mutabilidade – estabilidade - consistência
Rígida – Quando a Constituição prevê um procedimento específico e mais rigoroso para a alteração da norma constitucional. Como, por exemplo, a Constituição americana de 1787 e a Constituição brasileira de 1988.
Flexível (plástica) – Quando a Constituição não prevê nenhum procedimento específico para alteração da norma constitucional, ou seja, o mesmo procedimento que se produz ou altera a legislação infraconstitucional, se altera o texto constitucional. Não existindo uma hierarquia normativa entre as normas infraconstitucional e a Constituição. Como, por exemplo, as Constituições francesas de 1814 e 1830 e a Imperial italiana de 1848 (Estatuto Albertino).
Semirrígida (Semiflexível) – Quando a Constituição que prevê dois procedimentos para alteração da norma constitucional, sendo um mais dificultoso, para determinada parte do texto, e outro igual da produção da norma constitucional, para restante do texto constitucional. Como, por exemplo, estabelecia a Constituição do Brasil Império de 1824 no seu art. 178 (vide redação do dispositivo na classificação quanto ao conteúdo). Imutável ou utópica (granítica) – Quando a Constituição não possibilita a alteração da norma constitucional, denominação criada por Hans Kelsen.
Super-rígida - Quando a Constituição, conforme Alexandre de Moraes (2010,p 10), além de estabelecer um procedimento diferenciado para alteração do texto constitucional, como as rígidas, possue dispositivos que não podem ser alterados, devido a previsibilidade no texto de cláusulas pétreas.
Fixa (silenciosa) – Quando a Constituição somente podem ser alterada pelo mesmo poder que a criou, ou seja, apenas pelo poder constituinte originário. Como, por exemplo, Constituição da Espanha de 1876.
Estrutura do Texto Constitucional de 1988
O textoconstitucional de 1988 está divido em três partes: o preâmbulo, o corpo normativo propriamente dito e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).
O Preâmbulo
Consiste no texto que antecede o corpo da Constituição propriamente dito, expressa os valores da sociedade que irão nortear todo o trabalho de elaboração do texto constitucional pela Assembleia Constituinte. Veja o preâmbulo em vigor:
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
BRASIL. CONSTITUIçãO (1988). CONSTITUIçãO DA REPúBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
BRASíLIA, DF: SENADO, 1988.
O jurista português Jorge Miranda estabelece três teses para fundamentar a natureza do preâmbulo:
Tese da irrelevância jurídica - seria o Preâmbulo pertencente ao campo da política, por representares os valores da sociedade, mas sem relevância no campo jurídico.
Tese da plena eficácia – teria o Preâmbulo à mesma força normativa que as normas pertencentes ao corpo
do texto constitucional.
Tese da relevância jurídica indireta - o Preâmbulo representa as características jurídicas da Constituição Federal, contudo, não deve ser confundido com as demais normas jurídicas do texto constitucional.
A tese adotada pelo Supremo Tribunal Federal foi da irrelevância jurídica, como se pode observar:
Outro destaque na jurisprudência da Corte é sobre a reprodução da expressão “sob a proteção de Deus” do Preâmbulo federal pelas Constituições dos Estados-membros:
Embora não pertencendo ao campo normativo e nem sendo considerada norma de reprodução obrigatória
Devem ser postos em relevo os valores que norteiam a Constituição e que devem servir de orientação para a correta interpretação e aplicação das normas constitucionais e apreciação da subsunção, ou não, da Lei 8.899/1994 a elas. Vale, assim, uma palavra, ainda que brevíssima, ao Preâmbulo da Constituição, no qual se contém a explicitação dos valores que dominam a obra constitucional de 1988 (...). Não apenas o Estado haverá de ser convocado para formular as políticas públicas que podem conduzir ao bem-estar, à igualdade e à justiça, mas a sociedade haverá de se organizar segundo aqueles valores, a fim de que se firme como uma comunidade fraterna, pluralista e sem preconceitos (...). E, referindo-se, expressamente, ao Preâmbulo da Constituição brasileira de 1988, escolia José Afonso da Silva que ‘O Estado Democrático de Direito destina-se a assegurar o exercício de determinados valores supremos. ‘Assegurar’, tem, no contexto, função de garantia dogmático-constitucional; não, porém, de garantia dos valores abstratamente considerados, mas do seu ‘exercício’. Este signo desempenha, aí, função pragmática, porque, com o objetivo de ‘assegurar’, tem o efeito imediato de prescrever ao Estado uma ação em favor da efetiva realização dos ditos valores em direção (função diretiva) de destinatários das normas constitucionais que dão a esses valores conteúdo específico’ (...). Na esteira destes valores supremos explicitados no Preâmbulo da Constituição brasileira de 1988 é que se afirma, nas normas constitucionais vigentes, o princípio
jurídico da solidariedade. BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADI 2.649, VOTO DA REL. MIN. CáRMEN LúCIA,
JULGAMENTO EM 8-5-2008, PLENáRIO, DJE DE 17-10-2008
Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo
força normativa BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADI 2.076, REL. MIN. CARLOS VELLOSO,
JULGAMENTO EM 15-8-2002, PLENáRIO, DJ DE 8-8-2003
pelo STF, destaca o importante papel do Preâmbulo no campo da hermenêutica constitucional pela própria Corte, ou se referir as suas diretrizes como fundamentação de várias decisões (por exemplo: RMS 26.071
	(http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=506599),
	HC
	94.163
	(http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=604586),
	HC
	92.435
	(http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=555545)),
	como	ressalva
	Gilmar
	Mendes:
O Corpo Normativo
	
	
O Corpo normativo do texto constitucional está dividido em nove Títulos da seguinte forma:
Não se pode recusar ao Preâmbulo um relevante papel, todavia, no âmbito da interpretação e aplicação do direito constitucional. Ao desvendar as linhas estruturantes da Constituição, os objetivos que movem a sua concepção, o Preâmbulo se torna de préstimo singular para a descoberta do conteúdo dos direitos inscritos na Carta e para que se descortinem as finalidades dos institutos e instituições a que ela se refere; orienta,
enfim, os afazeres hermenêuticos do constitucionalismo.
MENDES, 2013. P. 78
Título I - Dos Princípios Fundamentais (arts. 1º a 4) – estabelece os princípios do Estado democrático brasileiro, os objetivos da República e os princípios que regem as relações internacionais do Estado.
Título II - Dos Direitos e Garantias Fundamentais (arts. 5º a 17) – dividido em cinco capítulos, estabelece os principais direitos fundamentais dos indivíduos sobre a tutela do Estado brasileiro. Importante observar que a Constituição de 1988, inverteu a posição geográfica dos direitos fundamentais em relação aos textos anteriores que dedicavam os últimos capítulos para fixa-los.
Título III - Da Organização do Estado (arts. 18 a 43) – dividido em sete capítulos, estabelece estrutura da Federação e as normas pertinentes a Administração Pública.
Título IV - Da Organização dos Poderes (arts. 44 a 135) – dividido em quatro capítulos – estabelece a separação dos poderes e a competência e atribuições de cada uma deles. Destaque para o capítulo IV que no texto constitucional de 1988 dedicou uma parte especifica para tratar das funções essenciais à justiça, separadamente do capitulo do Poder Judiciário.
Título V - Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas (arts. 136 a 144) –dividido em três capítulos
- estabelece as normas e regras para os estados emergências de defesa do país, bem como as regras e estrutura das Forças Armadas e da Segurança Pública.
Título VI - Da Tributação e do Orçamento (arts. 145 a 169) – dividido em dois capítulo, estabelece as principais normas referentes aos Sistema Tributário Nacional, dos impostos dos Entes Federativos e do orçamento público.
Título VII - Da Ordem Econômica e Financeira (arts. 170 a 192) – dividido em três capítulos, estabelece os princípios gerais da atividade econômica, a política urbana, a política agrícola, os ditames da reforma agrária e as regras do sistema financeiro nacional.
Título VIII - Da Ordem Social (arts. 193 a 232) – dividido em oito capítulos, estabelecem as regras e princípios que regem os direitos sociais em espécies, além dos que tutelam os grupos vulneráveis como as crianças, os adolescente, os idosos e os índios.
Título IX - Das Disposições Constitucionais Gerais (arts. 233 a 250) em parte única, estabelece normas de caráter gerais do texto.
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT)
A ADCT consiste na parte do texto constitucional responsável pela normatização da transição entre a ordem jurídica anterior e a nova ordem jurídica que se inicia com a Constituição posterior. Por isso, todas as Constituições brasileiras possuem, como exceção da Constituição de 1824, já que foi a primeira.
Em parte destacada do texto principal, mas de igual importância, suas normas geralmente possuem um caráter temporal de validade. Uadi Lammêgo Bulos (2012, p. 483) classifica como normas de eficácia exauridas. No entanto, possui normas que dependem de legislação ede execução infraconstitucional, normas asseguradoras de benefícios e direitos e normas de recepção.
Assim, como o corpo da Constituição a ADCT também pode ter alterada suas disposições, até mesmo, o aumentando o número de artigos. As modificações serão realizadas via Emendas Constitucionais, por isso, estão sujeitas as regras de atuação dos poder constituinte derivado reformador, previsto no art. 60 da CF/88, neste sentido manifestou o Supremo Tribunal Federal:
Os postulados que informam a teoria do ordenamento jurídico e que lhe dão o necessário substrato doutrinário assentam-se na premissa fundamental de que o sistema de direito positivo, além de caracterizar uma unidade institucional, constitui um complexo de normas que devem manter entre si um vínculo de essencial coerência. O Ato das Disposições Transitórias, promulgado em 1988 pelo legislador constituinte, qualifica-se, juridicamente, como um estatuto de índole constitucional. A estrutura normativa que nele se acha consubstanciada ostenta, em consequência, a rigidez peculiar às regras inscritas no texto básico da Lei Fundamental da República. Disso decorre o reconhecimento de que inexistem, entre as normas inscritas no ADCT e os preceitos constantes da Carta Política, quaisquer desníveis ou desigualdades quanto à intensidade de sua eficácia ou à prevalência de sua autoridade. Situam-se, ambos, no mais elevado grau de positividade jurídica, impondo-se, no plano do ordenamento estatal, enquanto categorias normativas subordinantes, à observância compulsória de todos, especialmente dos órgãos que
integram o aparelho de Estado BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RE 160.486, REL. MIN. CELSO DE MELLO, JULGAMENTO EM 11-10-1994, PRIMEIRA TURMA, DJ DE 9-6-1995.
Formas de Estado e o Estado Federado
NESTE TÓPICO ESTUDARÁ A ORIGEM DO ESTADO FEDERADO E NOÇÕES DE CONCEITOS CORRELATOS
AUTOR(A): PROF. JULIANO APARECIDO RINK
Origem dos Estados Federados
A origem dos Estados Federados moderno está no constitucionalismo norte-americano do século XVIII, inaugurado em de 1787, pela promulgação da primeira constituição escrita da Era moderna, a Constituição dos Estados Unidos da América. As antigas 13 colônias norte-americanas se opuseram a Coroa inglesa declarando, assim, a independência e criando um novo Estado Soberano a partir de suas uniões (os Estados Unidos da América - United States of America, ou simplesmente, Estados Unidos - United States). No novo Estado seria preservada a autonomia política dos Estados (States), como se pôde observar, na Declaração de Independência de 1776 que estabeleceu a vontade de serem "Estados livres e independentes". O mesmo preceito no ano seguinte esteve presente no "Ato de Confederação" de 1777, ao estabelecer no art. 1 º - que cada Estado-membro preserva a sua soberania no âmbito da Federação, apesar de entregarem determinadas competências à Federação.
No Brasil, a adoção da forma federativa de Estado ocorreu com a Proclamação da República, sendo adotada a partir de 1889. Após o fim da monarquia, foi proclamada, por decreto, como forma de organização política do país, a "República Federativa". Segundo o mesmo ato, cada Estado-membro exerceria a sua "legítima soberania". O "Império do Brasil", da Constituição de 1824, foi substituído, de acordo com a denominação empregada no decreto de 1889 e no art.1 º da Constituição de 1891, pela Federação brasileira - "República dos Estados Unidos do Brasil". Já indicando a denominação uma clara influência recebida do sistema federal dos Estados Unidos da América.
A federação brasileira sofreu um forte golpe nos anos 30, durante o período Varga, que com o Decreto n.º 19.398, de 11/11/1930, restringiu a autonomia administrativa e politicas dos Estados-membros, com a dissolução do Congresso Nacional, das Assembleias Legislativas Estaduais e das Câmaras Municipais. Além da cassação dos mandatos de todos os Governadores e Prefeitos, nomeando interventores para cada Estado- membro, como também, possibilitando a esses nomearem interventores aos Municípios. Assim, neste período, houve um retrocesso voltando a quase um Estado centralizado. A Constituição de 1937, outorgada por Getúlio Vargas, também manteve a centralização do Estado durante o Estado Novo, apenas com a Constituição de 1946 que a forma federativa voltou a ser concretizar, porém após o Golpe Militar de 1964, com advento das Constituições de 1967 e 69, o federação brasileira sofreu um outro forte golpe. Somente,
com o processo de redemocratização do país desencadeado pelas campanha das "Diretas Já", que com a promulgação da Constituição de 1988, a forma federativa volta se instaurar no Brasil, perdurando até hoje, sendo considerada pelo texto constitucional como uma das cláusulas pétreas vigentes.
Conceitos correlatos
Formas de Estado:
Legenda: FORMAS DE ESTADOS
Estado unitário ou simples – consiste na forma de estruturar o Estado através da centralização de poder no ente intraestatal, ou seja, concentrada nas mãos de uma única pessoa ou órgão. Geralmente, divide o território em meras repartições administrativas, podendo ser chamadas de províncias, cantões ou regiões. Ele se apresenta de duas formas:
1. Estado unitário centralizado – todo o poder se concentra no ente principal.
2. Estado unitário descentralizado ou regional – descentralização administrativa e política das províncias ou regiões, podendo ser:
Estado regional Integral- todas as regiões são autônomas. Exemplo: Áustria (antes de 1920), África do Sul. Estado regional Parcial – somente algumas regiões possuem autonomia política. Finlândia (devido a Alândia) Dinamarca (devido as Ilhas Feroé e a Groelândia), Portugal ( devido aos Açores e da Ilha da
Madeira) a China ( devido Honcongue e Macau)
Estado regional Homogêneo- a organização das regiões é uniforme, idênticas, de forma simétrica. Estado regional Heterogêneo – a organização das regiões é de forma diferente, podendo regiões ter Estatutos comuns e outras de Estatutos especiais. Exemplo: a Itália, devido aos estatutos da Sicília, Sardenha, Vale de Aosta, Trentino, a Espanha devido à região da Catalunha.
No Brasil o Estado unitário perdurou desde 1500 até 1889, com a Proclamação da República e a adoção da forma federativa de Estado.
Estado federado ou composto – consiste na forma de estruturar o Estado por meio da descentralização de poder, dando autonomia política-administrativa aos entes políticos, geralmente, chamados de Estados- membros. A Federação é formada pela união, aliança, pacto entre os Estados-membros. O documentos constitutivo é a Constituição Federal.
Estado Confederado – consiste na forma de Estado cujos Entes políticos formadores da Confederação são dotados de Soberania e, por isso, podem se separarem a qualquer tempo. O documento constitutivo é, usualmente, um Tratado e não uma Constituição, como na Federação. Exemplo: A República Árabe Unida (1958-1961).COMPARAÇÃO ENTRE A FEDERAÇÃO E CONFEDERAÇÃO
	
	FEDERAÇÃO
	CONFEDERAÇÃO
	ATO CONSTITUTIVO
	Constituição
	Tratado
	PODERES DOS ENTES
	Autonomia
	Soberania
	DIREITO DE SECESSÃO
	Não-secessão
	Secessão
Formas de Governo:
Tem-se duas formas de exercício da governancia: a Monarquia e a República. Suas principais características são:
	MONARQUIA
	REPÚBLICA
	Governo concentrado nas mãos de poucos – o Monarca
	Participação democrática na ordenação do Poder
	Irresponsabilidade do Governante
	Responsabilidade política do governante
	Vitaliciedade
	Temporariedade
	Hereditariedade
	Caracterizada pela eletividade
Sistemas de Governo:
Presidencialismo – Sistema de governo que teve sua origem no século XVIII nos Estados Unidos. No presidencialismo, o Presidente da República acumula as funções de Chefe de Estado (pessoa jurídica de direito público externa - representa o país nas relações diplomáticas) e de Chefe de Governo (pessoa jurídica de direito público interno - traça diretrizes políticas internas do país).
São características do sistema presidencialista:
Estabilidade de mandato de governo, exercido por tempo certo, preestabelecidono texto constitucional. Só podendo perder seu cargo se praticar crime comum (como previsto no art. 86, § 4º CF/88) ou de responsabilidade (processo de impeachment), assim, não depende confiança do Poder Legislativo para exercício e permanência no cargo.
A chefia do poder é exercida de forma unilateral, cabendo somente o Presidente da República a fixação das diretrizes políticas, com auxilio do Ministério, composto pelos Ministros de Estado, que são nomeados pelo Presidente e podem ser exonerados a qualquer tempo.
O Presidente da Republica é eleito de pelo povo, seja de forma direta (como, no Brasil) ou de forma indireta pelo colégio eleitoral (como, nos Estados Unidos), dentro de um regime democrático de direito. Consiste no sistema de governo típico da República.
O Presidente da República desempenha importante papel no processo legislativo ordinário, através do
poder de Veto (como o previsto no art. 66 da CF/88), de forma que, obstando a criação de uma ditadura do Poder Legislativo.
O Poder Legislativo (que no Brasil é: Congresso Nacional, Assembleias Legislativas, Câmara Distrital e Câmaras de Vereadores) não está sujeito à dissolução e não é Parlamento no sentido estrito, pois seus membros (embora chamados parlamentares) são eleitos pelo povo e por um período fixo de mandato; A separação dos Poderes (Poder Executivo, Legislativo e Judiciário) é mais rígida, predominando o princípio da autonomia e independência e da harmonia entre os poderes constituídos.
No Brasil o sistema presidencialista foi adota destes a Constituição de 1891 até a Constituição atual, mesmo durante os regimes autoritários, porém, alguns autores, como Dalmo de Abreu Dallari e José Afonso da Silva, consideram que durante estes períodos o presidencialismo se desfez, pois a chefia do Poder Executivo não foi eleita pelo povo.
Legenda: SISTEMA PRESIDENCIALISTA
Parlamentarismo – Sistema de governo que teve sua origem na Inglaterra no século XIII. No parlamentarismo há uma distinção entre o Chefe de Estado e o Chefe de Governo, sendo que o primeiro não tem força participativa nas decisões políticas internas no país, apenas exerce função de representação externa de seu Estado; já o segundo é o chefe do poder executivo, entretanto, esse, via de regra, é indicado por aquele e aprovado o nome pelo Parlamento.
Se o parlamentarismo for republicano, o chefe de Estado é o Presidente da República (ex. Alemanha – Angela Merkel); se for monárquico, o chefe de Estado é o Monarca (ex. Inglaterra e Espanha). No que tange ao chefe de Governo, tal função é exercida pelo Primeiro-Ministro.
	
Parlamentarismo Republicano
	Chefe de Estado – Presidente da República Chefe de Governo – Primeiro Ministro
	
Parlamentarismo Monárquico
	Chefe de Estado – O Monarca
Chefe de Governo – Primeiro Ministro
São características do sistema parlamentarista
No Parlamentarismo, o Chefe de Governo (Primeiro-Ministro) não possui estabilidade de mandato de governo, nem prazo determinado de exercício. Podendo ser desconstituído do cargo por duas formas:
a. meio de moção (ou voto) de desconfiança do parlamento, estaria o Primeiro Ministro contrariando a vontade do povo, expressa pelo maioria do Parlamento. Qualquer parlamentar pode solicitar a votação do
voto desconfiança.
b. por perda da maioria do Parlamento, seja no sistema bipartidário ou pluripartidário ( com as coligações), geralmente destituído neste caso pelo Chefe de Estado
O Primeiro-Ministro governa com a ajuda do Gabinete.
No parlamentarismo tem-se a possibilidade de dissolução do Parlamento pelo Chefe de Estado de ofício ou por solicitação do Chefe de Governo (Primeiro-Ministro).
A separação dos Poderes não é muito rígida, visto que o Chefe de Governo somente é empossado e permanece no cargo se tiver aprovação da maioria do parlamento,
O Brasil adotou o sistema parlamentarista durante o Império e na República no período entre os anos de
1961 a 1963, como a renuncia do Presidente Jânio Quadros e a investidura de seu vice-presidente, João Goulart, que tinha ideias reformistas. Interessante notar que o projeto da Constituinte de 1986, elabora por Afonso Arinos, estabelecia como sistema de governo o parlamentarismo, mas durante as discussões na Assembleia Constituinte tal proposta não foi aprovada, imperando o presidencialismo na Constituição de 1988. Entretanto, no art. 2 º da ADCT previu a possibilidade de alteração por plebiscito do sistema presidencialista para o parlamentarismo em 1993, porém, não foi aprovada pela população.
Das Funções Essenciais à Justiça
NESTE TÓPICO ESTUDARÁ OS PRINCIPAIS ASPECTOS DOS ORGÃOS COMPONENTES DA FUNÇÃO ESSENCIAL À JUSTIÇA.
AUTOR(A): PROF. JULIANO APARECIDO RINK
O constituinte dedicou o capítulo IV, do Título IV, as pessoas e os órgãos que atuam perante o Poder Judiciário, que são essenciais para o acesso à justiça e a imparcialidade do Judiciário, são eles:
A. O Ministério Público
B. A advocacia Pública
C. A Defensoria Pública
D. A Advocacia Privada
DO MINISTÉRIO PUBLICO OU PARQUET
Conceito
Consiste na instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, cuja incumbência é defender a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e coletivos, prevista no art. 127 da CF/88.
Buscando concretizar o texto constitucional, foram editados pelo legislador os seguintes diplomas:
a. Lei n. 8625/93 ? que instituiu a Lei Orgânica Nacional do Ministério Público, dispondo sobre normas gerais para a organização do Ministério Público dos Estados.
b. Lei Complementar n. 75/93 ? que dispões sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União.
c. Leis Complementares Estaduais ? cada ente federativo elaborou suas normas concretizando seus Ministérios Públicos estaduais.
O Ministério Público da União possui como chefe o Procurador Geral da República que será nomeado pelo Presidente da República entre os integrantes da Instituição com mais de trinta e cinco anos e sabatinado pelo Senado Federal, sendo aprovado pela maioria absoluta da Casa Legislativa, para mandato de 2 anos, sendo possível a recondução ao cargo (art.128, §1º, da CF/88). Sua destituição do cargo pelo Presidente da Republica deve ser autorizada pela maioria absoluta do Senado Federal (art.128, §2º, da CF/88). Sua participação é obrigatória em todos os processos que tramitam perante o Supremo Tribunal Federal (art. 103, §1º, da CF/88).
Já no âmbito estadual, a chefia do Ministério Público será exercida pelo Procurador-Geral de Justiça, com mandato de dois anos sendo permitida uma única recondução. Sua escolha será feita pelo Governador em lista tríplice indicada pela Instituição, dentre integrantes da carreira. (art. 103, §3º, da CF/88). Sua destituição do cargo pelo Governador, igualmente no âmbito federal, dependera de autorização prévia pela maioria absoluta do Poder Legislativo Estadual (art. 103, §4º, da CF/88). Ressalva-se que o Procurador-Geral de Justiça do Distrito Federal e Territórios será nomeado pelo Presidente da República (art. 156, caput, da LC n. 75/93), e sua destituição será autorizada pela maioria absoluta do Senado Federal (art. 156, §2º, da LC
n. 75/93). Observa-se que na esfera estadual ou distrital não existe a exigência de sabatina do Poder Legislativo para investidura no cargo.
Da estrutura do Ministério Público
Dos Princípios
A Constituição assegurando a independência e autonomia do Ministério Público estabeleceu no art. 127,
§1º, igualmente como o Poder Judiciário, os seguintes princípios institucionais:
Unidade – Consiste no fato do Ministério Público ser único, ou seja, um órgão só com todos os seus membros administrativamente chefiados por um único Procurador-Geral. A unidade deve ser compreendida como aplicável internamente no âmbito de cada ramo do Ministério Público, e não entre os diferentes ramos, tipo entre o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Trabalho, por exemplo, mas são únicos em si.
Indivisibilidade – as práticas efetuadas pelo Ministério Público são imputadas, dentro de cada ramo, a Instituiçãoe não aos seus membros, assim, formando um todo indivisível.
Independência funcional – trata-se de uma garantia institucional devido ao fato que seus membros do Parquet no desempenho de suas atribuições não se subordinam a nenhum dos três Poderes, nem mesmo ao Procurador-Geral, visto que a ligação com esse é meramente administrativa. Assim, os membros do MP estão subordinados exclusivamente à Constituição Federal e às Leis, que disciplinam sua atuação, trata-se de autonomia de convicção (art. 127, §2º, da CF/88). O texto constitucional reafirma a independência funcional da Instituição ao fixar como crime de responsabilidade do Presidente da República, no art. 85, II, da CF/88, a interferência do chefe do Poder Executivo na atuação do Ministério Público.
Sobre o princípio da autonomia funcional do MP, que o Supremo Tribunal Federal reconheceu, pela maioria absoluta, a legitimidade do Ministério Público estadual de interpor Reclamação direta na Corte sem a necessidade de requerimento ao Procurador-Geral da República, neste sentido ver a Rcl. 7.358 e a Rcl. 4.453.
Promotor Natural – refere-se ao fato que atuação dos membros do MP não ocorrer de forma casuística, ou seja, designados para um caso específicos, mas, sua atuação é determinada conforme as regras constitucionais e legais. (arts. 5º, LII; 129, I e 129, §2º, da CF/88).
Autonomia financeira e administrativa – trata-se de garantias institucionais, ao atribuir ao Ministério Público à competência de elaborar a sua própria proposta orçamentária que comporá a Lei de Diretrizes Orçamentaria, nos mesmo molde que estabelecido para o Poder Judiciário (art. 127, §§3º ao 6º, da CF/88); além da competência de solicitar ao Poder Legislativo, observando as disposições do art. 169 da CF/88, a criação, extinção de seus cargos e serviços auxiliares, bem como a política remuneratória e planos de carreira (art. 127, §2º, da CF/88).
Das Garantias funcionais
Aos membros do Ministério Público gozam das seguintes garantias constitucionais, prevista no art. 127, §1º, da CF/88:
Vitaliciedade – Após o estágio probatório de 2 anos de exercício funcional, os membros do Ministério Público somente perderão o cargo por meio de sentença condenatória transitada em julgado.
Inamovibilidade – os membros do Ministério Público somente poderão ser movidos com seus respectivos
consentimentos, entretanto, tal garantia não é absoluta, podendo em nome do interesse público e por decisão da maioria absoluta do órgão colegiado (Conselho Nacional do Ministério Público) ser transferidos.
Irredutibilidade de subsídios – assim, como para os magistrados, os subsídios dos membros do Ministério Público não podem ser reduzidos, ressalva-se que a garantia a irredutibilidade nominal, não se assegurando a corrosão inflacionária.
Das funções do Ministério Público
As funções desempenhadas pelo Ministério Público estão estabelecidas no art. 129 da Constituição Federal, sendo elas:
promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; Ressalva-se a posição da Segunda Turma do STF sobre a Teoria dos Poderes Implícitos aos reafirmar o poder de investigação do Ministério Público, neste sentido ver RHC 97.926, matéria pendente de analise pelo plenário da Corte.
zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia;
promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio
ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição;
defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas;
expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;
exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no artigo anterior;
requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos
jurídicos de suas manifestações processuais;
exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.
Das Vedações
O constituinte estabeleceu algumas vedações quanto aos membros do Ministério Público, no art. 128, §5º, II, são elas:
receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais; exercer a advocacia. (Ressalvado os que manifestaram pela disposição do art. 29, §3º, do ADCT); exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério; exercer atividade político-partidária, salvo exceções previstas na lei.
exercer atividade político-partidária. (Redação foi alterada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004, assim, os membros do MP que já estavam em exercício com o advento da Emenda, e manifestaram pela disposição do art. 29, §3º, do ADCT, garantem a possibilidade de exercício dos direitos políticos de forma passiva, por se tratar uma questão de direito adquirido, segundo o STF, neste sentido ver RE 594.154 e RE 597.994);
receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. Essa vedação foi incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004, buscando uma maior moralidade e imparcialidade da atuação do MP.
Da atuação do Ministério Publico junto aos Tribunais de Contas
A existência de atuação do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas está estabelecida no art. 130 da Constituição federal, ao determinar que membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as mesmas disposições destinadas aos demais membros do Ministério Publico referente aos direitos, vedações e forma de investidura. Entretanto, trata-se de um Ministério Público especial, que atua exclusivamente junto ao Tribunal (ADI 3.192), cujo seus membros não são oriundos do Ministério Público comum (ordinário), estabelecido no art. 128, da CF/88. Por isso, não sendo possível a conversão do Procurador do Tribunal de Contas em Procurador de Justiça (ADI 3.315).
Apesar do Ministério Público do Tribunal de Contas não estar previsto na estruturação do Ministério Publico, no art. 128, da CF/88, o Conselho Nacional do Ministério Público deliberou na Consulta n. 0.000.000.000843/2013-39 que os membros do Ministério Público dos Tribunais de Contas estão sujeitos ao seu controle administrativo, financeiro e disciplinar.DA PRERROGATIVA DE FORO DO MINISTéRIO PúBLICO
	Membros do MP
	Crime de Responsabilidade
	Crime Comum
	Procurador-Geral da República
	Senado Federal
	STF
	Que atuam perante juízes federais
	TRF
	TRF
	Atuam perante os Tribunais de Justiça
	STJ
	STJ
	Que atuam perante os juízes de primeira instância
	Tribunal de Justiça
	Tribunal de Justiça
	Membros do Conselho Nacional do Ministério Público
	Senado Federal
	Competência é fixada individualmente conforme a origem do Conselheiro.
Do Conselho Nacional do Ministério Público
O Conselho Nacional do Ministério Público foi criado com advento da Reforma do Judiciário realizada pela EC n. 45, de 2004, e regulamentado pela Lei n. 11.372/2006, tendo entre suas atribuições funcionais controlar a atuação administrativa e financeira da Instituição e fiscalizar o cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, através do desempenho de suas atribuições constitucionais. Sua função está elencada no art. 130-A §2º, da CF/88:
zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;
zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da Uniãoe dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas;
receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e correcional da instituição, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;
rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros do Ministério Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano;
elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação do Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem prevista no art. 84, XI.
Os Conselheiros são nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução. Sendo composto, por:
o Procurador-Geral da República, que o preside;
quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a representação de cada uma de suas carreiras, sendo indicados pelos seus pares
três membros do Ministério Público dos Estados, sendo indicados pelos seus pares através do Procurador-
Geral de Justiça;
dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro pelo Superior Tribunal de Justiça;
·dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
·dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.
O Corregedor Nacional do Ministério Público será eleito pelo Conselho dentro os membros do MP que o integram, para mandato de 2 (dois) anos, em votação secreta pela maioria absoluta dos conselheiros. Assumindo a função imediatamente a divulgação do resultado, ficando deste, então, afastado do órgão do Ministério publico a que pertence. Sua função é, segundo o art. 130-A, §3º, da CF/88:
receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos membros do Ministério Público e dos seus serviços auxiliares;
exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correição geral;
requisitar e designar membros do Ministério Público, delegando-lhes atribuições; requisitar servidores de órgãos do Ministério Público.
As ações contra os atos do Conselho são de competência do Supremo Tribunal Federal apreciar originariamente (art. 102, I, ?r?, da CF/88).
DA DEFENSORIA PÚBLICA
Criada pela Constituição de 1988, a Defensoria veio fortalecer o acesso à Justiça das camadas mais necessitadas do país. Consiste em uma instituição permanente e independente das demais, cuja função é amparar o cidadão carente na relação jurisdicional, assim, concretizado o direito fundamental previsto no
Abordagem constitucional do Direito à Segurança Jurídica
NESTE TÓPICO ESTUDARÁ OS ASPECTOS GERAIS DO DIREITO À SEGURANÇA JURÍDICA, SOBRE A ÓTICA CONSTITUCIONAL
AUTOR(A): PROF. JULIANO APARECIDO RINK
Introdução
Uma das marcas do Estado Constitucional de Direito moderno é a observância do princípio da segurança jurídica nas relações jurídico-sociais geradas sobre a regulamentação do Direito. A necessidade da garantia da segurança jurídica foi um dos pilares das Declarações de Direitos do século XVIII, sendo um direito de primeira geração, em oposição ao autoritarismo do governante.
Na ordem constitucional de 1988, o princípio da Segurança Jurídica não está expressamente positivo no texto, mas da leitura sistemática da Constituição, compreende-se estar presente à garantia da segurança jurídica como um dos sustentáculos do Estado Democrático de Direito Brasileiro. Sendo considerado por alguns ministros do Supremo Tribunal Federal e por parte da doutrina como um postulado norteador da interpretação normativa, como por exemplo, pelo Ministro Celso de Mello:
Os postulados da segurança jurídica, da boa-fé objetiva e da proteção da confiança, enquanto expressões do Estado Democrático de Direito, mostram-se impregnados de elevado conteúdo ético, social e jurídico, projetando-se sobre as relações jurídicas, mesmo as de direito público, em ordem a viabilizar a incidência desses mesmos princípios sobre comportamentos de qualquer dos poderes ou órgãos do Estado (os Tribunais de Contas, inclusive), para que se preservem, desse modo, situações administrativas já
consolidadas no passado. STF. MANDADO DE SEGURANçA (MS) 25805.
Equivocadamente, parte da doutrina nacional, ao tratar da segurança jurídica apenas relaciona-a ao princípio da irretroatividade da lei, porém o princípio é muito mais abrangente dentro do universo jurídico devido a sua importância para manutenção da ordem. De modo que, pode-se observar sua presença em pelo menos três vertentes diferentes:
A necessidade de certeza, de conhecimento do Direito vigente e de acesso ao conteúdo do Direito, através do principio da publicidade e da legalidade.
A previsibilidade das consequências pelas atividades e pelos atos adotados dentro do universo jurídico,
através do princípio do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, da não admissão de provas ilícitas.
Estabilidade da ordem jurídica, por meio do principio da legalidade e da irretroatividade.
Também, se pode analisar sua manifestação em relação ao sujeito (indivíduo), ou seja, a quem se direciona:
Segurança em geral (legalidade e irretroatividade) direcionada ao Estado;
Segurança à vida íntima ou direitos de personalidade, segurança em matéria judiciária, segurança em matéria penal e segurança pública (poder de polícia, policiamento civil e militar, GCM, e Forças Armadas), como forma garantidora ao indivíduo.
policiamento civil e militar, GCM, e Forças Armadas), como forma garantidora ao indivíduo.
Segurança em Geral
Princípio da Legalidade e Reserva Legal
O princípio da legalidade tem sua origem como um dos pilares elementares do Estado Democrático de Direito, positivado historicamente, na relação moderna, na Declaração dos direitos do homem e do cidadão francês, de 1789, em seu dispositivo 4º, em oposição ao Estado de Polícia, de cunho autoritário e antidemocrático.
Na ordem constitucional de 1988, o texto estabelece como sendo um dos direitos fundamentais do indivíduo que "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei" (artigo 5º, II, da CF/88). Da máxima constitucional pode-se extrair que apenas os atos que estão previstos em lei que poderão ser cobrados do indivíduo, sendo que aquilo que a lei não obriga, expressamente, está permitindo implicitamente. Porém, não exige que tudo esteja expresso na lei, pois admite que outros atos normativos (decretos, portarias, instruções, etc.) criem direitos e obrigações em virtude de uma lei já editada.
O princípio da legalidade tutela não somente os atos dos particulares (esfera privada), mas também os atos do Poder Público (esfera pública). Entretanto, sua força de limitação da conduta é diferenciada, cabendo todos os atos dos Poderes Públicos (Executivo, Legislativo e Judiciário) estarem sempre amparados na previsão legal, sejam eles de natureza positiva (atuação) ou de natureza negativa (abstenção); já os atos dos particulares baseiam-se na presença do princípio da autonomia da vontade, ou seja, aquilo que na forma da lei não for proibido, será permitido.
Para a efetivação do princípio da legalidade, via de regra, exige a elaboração de Lei no sentido estrito, ou seja, comandos normativos oriundos do Poder Legislativo, entretanto, não é absoluto, gasalhando sobre si também os atos normativos que, mesmo não integrando o processo legislativo, constituem aquilo que a doutrina chama de atos equiparados às leis formais, no caso concreto, as Medidas Provisória ( art. 62, da CF/88); a lei delegada( art. 68, da CF/88) e osestados de legalidade extraordinários, representados no Estado de Defesa( art. 136, da CF/88) e no Estado de Sítio (art.137, da CF/88). Neste sentido manifestou o STF:
O princípio da reserva de lei atua como expressiva limitação constitucional ao poder do Estado, cuja competência regulamentar, por tal razão, não se reveste de suficiente idoneidade jurídica que lhe permita restringir direitos ou criar obrigações. Nenhum ato regulamentar pode criar obrigações ou restringir direitos, sob pena de incidir em domínio constitucionalmente reservado ao âmbito de atuação material da lei em sentido formal. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL . AC 1.033-AGR-QO, REL. MIN. CELSO DE MELLO, JULGAMENTO EM 25-5-2006, PLENáRIO, DJ DE 16-6-2006
O princípio da legalidade relaciona-se com o princípio da reserva legal (ou cláusula da reserva de lei) presentes nas normas constitucionais ao estabelecer que determinadas matérias específicas devam ser regulamentados por lei no sentido formal, resultando do ato do legislador infraconstitucional ou da administração pública.
O princípio da reserva legal pode se manifestar de quatro modos diferentes:
reserva legal absoluta - quando o dispositivo constitucional necessita obrigatoriamente da presença da lei para regulamentação integral do comando constitucional. Usualmente, na redação constitucional aparecem as expressões: a lei estabelecerá ou a lei fixará.
reserva legal relativa - quando o dispositivo constitucional somente autoriza ao legislador infraconstitucional a produção normativa para fixar parâmetros de atuação da previsão constitucional, geralmente empregam a expressão: nos termos da lei, na forma da lei, no prazo da lei, com base na lei, nos limites da lei, nos parâmetros da lei,
reserva indelegável legal - quando o dispositivo constitucional, em alguns casos, não possibilita delegação normativa, como por exemplos, assuntos competentes somente ao Congresso Nacional, como caso da delegação legislativa na processo legislativa da Lei Delegada (art. 68, § 1º da CF/88), ou fixa qual a modalidade normativa que deverá complementar o texto constitucional( exemplo:: art 7º, I e 14, § 9º da CF/88,
reserva legal qualificada - quando o dispositivo constitucional além de se exigir lei, prevê uma determinada finalidade específica. Como por exemplo, no caso do art. 5º,XII, ao estabelecer sobre a violabilidade das comunicações telefônicas : "na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal."
O princípio da legalidade mantém um estreito vínculo com a outorga constitucional do poder de regulamentar dos Poderes Públicos, pois esse é limitado pela competência executiva (art. 84 IV e VI da CF/88). Sobre essa relação, observa o STF:
O princípio constitucional da reserva de lei formal traduz limitação ao exercício das atividades administrativas e jurisdicionais do Estado. A reserva de lei – analisada sob tal perspectiva – constitui postulado revestido de função excludente, de caráter negativo, pois veda, nas matérias a ela sujeitas, quaisquer intervenções normativas, a título primário, de órgãos estatais não legislativos. Essa cláusula constitucional, por sua vez, projeta-se em uma dimensão positiva, eis que a sua incidência reforça o princípio, que, fundado na autoridade da Constituição, impõe à administração e à jurisdição a necessária submissão aos comandos estatais emanados, exclusivamente, do legislador.
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL . ADI 2.075-MC, REL. MIN. CELSO DE MELLO,
JULGAMENTO EM 7-2-2001, PLENáRIO, DJ DE 27-6-2003
PRINCIPAIS SúMULAS DO STF SOBRE O PRINCíPIO DA LEGALIDADE
“A lei penal mais grave aplica-se ao crime continuado ou ao crime permanente, se a sua vigência é anterior	à	cessação	da	continuidade	ou	da	permanência.”	(Súmula	711 (http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp? s1=%28%28711%2ENUME%2E%29%29+NAO+S%2EFLSV%2E&base=baseSumulas&url=http://tinyu
rl.com/og9wto4).)
"Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público." (Súmula	686	(http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp? s1=%28%28686%2ENUME%2E%29%29+NAO+S%2EFLSV%2E&base=baseSumulas&url=http://tinyu
rl.com/mvx2g6t).)
"Não cabe recurso extraordinário por contrariedade ao princípio constitucional da legalidade, quando a sua verificação pressuponha rever a interpretação dada a normas infraconstitucionais pela	decisão	recorrida."	(Súmula	636
(http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?
s1=636.NUME.%20NAO%20S.FLSV.&base=baseSumulas).)
Princípio da Irretroatividade – art. 5º, XXXVI
O legislador constituinte garantiu ser uma relação de Direitos Fundamentais que "a Lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada." (art. 5º XXXVI, da CF/88). Previsões similares existem em outros dispositivos constitucionais, tais como: o art. 5º, XL e o art. 150, III, a.
A expressão “Lei” compreende todos os atos normativos, inclusive emendas, exceto atos do Poder
Constituinte Originário, que não se sujeita ao referido princípio, como por exemplo, os arts. 17 e 51, do ADCT.
Em princípio, as leis podem retroagir se forem benéficas, porém, mesmo se benéficas à regra geral é a de que não retroagem, em face do princípio "tempus regit actum”, salvo nos casos de: matéria penal (art.5º, XL da CF/88); matéria de punição tributária, tais como multa (art. 106, I e II da CF/88) e em matéria eleitoral.
 Direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada.
Ato jurídico perfeito é aquele pronto, acabado ou consumado segundo a legislação vigente ao tempo em que foi praticado. Não há ato jurídico perfeito contrário à lei. Uma vez celebrado, resta apenas exaurir o direito já exercido.
O direito adquirido contempla, na realidade, as seguintes situações correlatas:
A – expectativa de direito: indivíduo inicia o cumprimento de requisitos para adquirir direito, mas, antes de adquiri-lo, a legislação se altera. A nova legislação será aplicada a esse indivíduo, que, no entanto, tem direito ao justo regime de transição.
B – direito adquirido: é aquele cujos requisitos foram integralmente cumpridos antes da alteração normativa, embora não tenham sido exercidos (se tivessem, seria ato jurídico perfeito).
C – nenhum direito: corresponde à situação daquele que sequer iniciou o cumprimento dos requisitos. Se sujeita, integralmente, à nova legislação.
D – teoria do fato consumado: em certas situações decisões judiciais criam uma situação que, com o passar do tempo, convém não alterá-las, pois isso trará prejuízo desproporcional a deixá-la como está.
TEORIA DO FATO CONSUMADO E A POSIçãO STJ
A teoria do fato consumado consiste em algo bastante invocado nas relações processuais pelas partes, ou trazida nas teses dos julgados que chegam ao STJ, para que o Poder Judiciário decidam, de maneira definitiva, no campo infraconstitucional, sobre a sua aplicação.
Os ministros do STJ têm um pensamento já firmado em relação ao tema, afirmando que "a teoria aplica-se apenas em situações excepcionalíssimas, nas quais a inércia da administração ou a morosidade do Judiciário deram ensejo a que situações precárias se consolidassem pelo decurso do	tempo",	conforme	expressou	o	ministro	Castro	Meira	no	RMS	34.189 (http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp? tipo=num_pro&valor=RMS%2034189).
Porém, a teoria "visa preservar não só interesses jurídicos, mas interesses sociais já consolidados, não se aplicando, contudo, em hipóteses contrárias à lei, principalmente quando amparadas em provimento judicial de natureza precária" – conforme ressalvou a ministra Eliana Calmon no REsp	1.189.485	(http://www.stj.jus.br/webstj/processo/justica/jurisprudencia.asp? tipo=num_pro&valor=REsp%201189485).
Coisa Julgada
A coisa julgada corresponde a uma qualidade dos efeitos das decisões do Poder Judiciário, estabelecendo imutabilidade e indiscutibilidade do conteúdo da decisão judicial transitada em julgada, pois há , via de regra, a presunção absoluta de que o direito foi

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