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PROFESSORAS Dra. Giseli Minatto Schmitz Dra. Juliane Berria Quando identificar o ícone QR-CODE, utilize o aplicativo Unicesumar Experience para ter acesso aos conteúdos online. O download do aplicativo está disponível nas plataformas: Acesse o seu livro também disponível na versão digital. Google Play App Store DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA 2 NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jd. Aclimação Cep 87050-900 - Maringá - Paraná - Brasil www.unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 DIREÇÃO UNICESUMAR Reitor Wilson de Matos Silva, Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho, Pró-Reitor Executivo de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva, Pró-Reitor de Ensino de EAD Janes Fidélis Tomelin, Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi. NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA Diretoria Executiva Chrystiano Mincoff, James Prestes, Tiago Stachon Diretoria de Graduação e Pós-graduação Kátia Coelho Diretoria de Cursos Híbridos Fabricio Ricardo Lazilha Diretoria de Permanência Leonardo Spaine Diretoria de Design Educacional Paula R. dos Santos Ferreira Head de Graduação Marcia de Souza Head de Metodologias Ativas Thuinie M.Vilela Daros Head de Recursos Digitais e Multimídia Fernanda S. de Oliveira Mello Gerência de Planejamento Jislaine C. da Silva Gerência de Design Educacional Guilherme G. Leal Clauman Gerência de Tecnologia Educacional Marcio A. Wecker Gerência de Produção Digital e Recursos Educacionais Digitais Diogo R. Garcia Supervisora de Produção Digital Daniele Correia Supervisora de Design Educacional e Curadoria Indiara Beltrame Coordenador(a) de Conteúdo Mara Cecília Rafael Lopes, Projeto Gráfico José Jhonny Coelho, Editoração Bruno Luiz de Rezende Finhana, Caroline Casarotto Andujar , Juliana Oliveira Duenha, Lucas Pinna Silveira Lima, Nivaldo Vilela de Oliveira Junior, Designer Educacional Vanessa Graciele Tiburcio, Curadoria Gisele da Silva Porto, Revisão Textual Ariane Andrade Fabreti, Ilustração Eduardo Aparecido Alves, Fotos Shutterstock. C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância. BERRIA, Juliane; SCHMITZ, Giseli Minatto. Desenvolvimento e Aprendizagem Motora. Juliane Berria; Giseli Minatto Schmitz. Maringá - PR: Unicesumar, 2022. 164 p. “Graduação em Educação Física - EaD”. 1. Desenvolvimento 2. Aprendizagem 3. Motora. 4. EaD. I. Título. CDD - 22ª Ed. 152.3 Impresso por: Bibliotecário: João Vivaldo de Souza CRB-9-1679 ISBN: 978-65-5615-987-4 A Unicesumar celebra os seus 30 anos de história avançando a cada dia. Agora, enquanto Universidade, ampliamos a nossa autonomia e trabalhamos diaria- mente para que nossa educação à distância continue como uma das melhores do Brasil. Atuamos sobre quatro pilares que consolidam a visão abrangente do que é o conhecimento para nós: o intelectual, o profissional, o emocional e o espiritual. A nossa missão é a de “Promover a educação de quali- dade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desen- volvimento de uma sociedade justa e solidária”. Neste sentido, a UniCesumar tem um gênio importante para o cumprimento integral desta missão: o coletivo. São os nossos professores e equipe que produzem a cada dia uma inovação, uma transformação na forma de pensar e de aprender. É assim que fazemos juntos um novo conhecimento diariamente. São mais de 800 títulos de livros didáticos como este produzidos anualmente, com a distribuição de mais de 2 milhões de exemplares gratuitamente para nossos aca- dêmicos. Estamos presentes em mais de 700 polos EAD e cinco campi: Maringá, Curitiba, Londrina, Ponta Grossa e Corumbá, o que nos posiciona entre os 10 maiores grupos educacionais do país. Aprendemos e escrevemos juntos esta belíssima história da jornada do conheci- mento. Mário Quintana diz que “Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas”. Seja bem-vindo à oportunidade de fazer a sua mudança! Wilson Matos da Silva Reitor da Unicesumar minha história meu currículo Dra. Juliane Berria Olá! Meu nome é Juliane Berria. Sou apaixonada por cachorros (tenho um peludinho) e amo estar em contato com a natureza. Cada vez mais, minhas escolhas de passeios aos finais de semana são para locais em que posso estar em contato com a natureza. Viajar é outra das minhas paixões, pode ser para qualquer lugar, conhecer novos lugares, pessoas e novas culturas me encanta. O exercício físico sempre fez parte da minha vida, na infância, fiz aulas de ballet e jazz, ginástica artística e voleibol e, na adolescência, fiz aulas de dança tradicionalista, natação, hidroginástica e musculação. Todas essas experiências me levaram a, muito cedo, escolher a minha profissão. Sou praticante de yoga há nove anos e, recentemente, concluí a formação para professores, desde então, tenho ministrado aulas de yoga presencial e online e me sinto, a cada dia, mais realizada nas minhas escolhas. http://lattes.cnpq.br/6234797342184228 Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre mim, além das informações do meu currículo. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14271 minha história meu currículo Dra. Giseli Minerato Schmitz Olá, eu sou a Giseli, filha de José e Lenita Maria e esposa do Rafael. Apaixonada pelos estudos. Após completar todas as formações acadê- micas na área, dei espaço para outros conhecimentos em minha vida. Foi quando conheci os Movimentos Essenciais, um saber que ensina uma nova forma de estar e de atuar na vida, o qual sigo estudando e ensinando outras pessoas como é se perceber na vida além do que a mente acha que somos. Com esse conhecimento, veio, também, o Desenho Humano, um outro saber que me permitiu compreender e me reconhecer como um ser além da mente também. Conectada com o corpo, para que ele me informe, é que, hoje, costu- mo tomar as decisões que preciso diante dos convites que chegam. Outra paixão que tenho é em artes manuais, confeccionar peças decorativas em MDF, uma prática que tem me possibilitado a conexão com o corpo e com a intuição, materializando, intuitivamente, um dom que esteve presente e foi estimulado desde a infância. Sabe qual é a atividade física (ou o tipo de exercício) que, atualmente, pratico e tenho me identificado muito? O yoga, com a professora Juliane Berria! Essa prática, também, conecta- me com o meu corpo e me possibilita perceber quais são as necessidades e os limites a serem trabalhados. http://lattes.cnpq.br/3953446306697706 Aqui você pode conhecer um pouco mais sobre mim, além das informações do meu currículo. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/14272 provocações iniciais DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM MOTORA Era uma vez, um ser que se chamava Humano. Uma criatura muito diferente de todas aquelas presentes no planeta. Um ser incapaz de sobreviver sozinho após seu nascimento até os primeiros anos de vida. Um ser que nasce, cresce, desenvolve-se e aprende. Um ser moldado pelo tempo, limitado pelo tempo e lapidado pelo tempo. O tempo de nascer, de crescer, de se desenvolver e de aprender. Acontece que, nas possibilidades de começo na vida, definidas pelo tempo, nem tudo tem idade para terminar. E como isso se dá? Que tempo é esse? Qual das etapas da vida do ser humano é dependente do tempo? Há algum processo que ocorre ao longo da vida desse ser que é independente do tempo? Há tempo certo para se aprender algo? Embora o crescimento físico cesse até o início da vida adulta, com o desenvolvimento e a aprendiza- gem motora, não é assim. Eles iniciam no começo da vida, na concepção, e finalizam com a morte. Quem já teve algum parente ou amigo que, mesmo jovem, precisou fazer uma cirurgia e ficou dias na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e, quando se recuperou, precisou aprender, novamente, a caminhar? Ou pas- sou pela experiência de uma cirurgia simples que teve complicações e foram necessáriosvários dias de internamento em UTI e, quando saiu, não sabia mais como escrever seu próprio nome? Se você ou alguém próximo a você passou pela experiência, sabe do que estamos falando. Mesmo que haja uma idade prevista para o desenvolvimento motor acontecer, não significa que nunca mais isso será possível caso o indivíduo não tenha recebido estímulos necessários na janela de tempo esperada. O mesmo acontece com a aprendizagem motora. O “desuso” do movimento humano pode acontecer em qualquer momento da vida, seja por uma limitação física constante, seja por uma limitação física tem- porária, causado por acidentes ou cirurgias neces- sárias por problemas congênitos, pela própria rotina de trabalho (por exemplo, pessoas que trabalham prioritariamente sentada) e, até mesmo, pela idade (por exemplo, idosos). Contudo sempre é tempo de se colocar no caminho do desenvolvimento e da aprendizagem motora. Convidamos você, neste momento, a perceber essas experiências em si. Em que contexto da sua vida ou que habilidade motora já esteve presente no seu dia-a-dia e, hoje, você não coloca mais em prática ou percebeu ter perdido a habilidade? Experimen- te repetir essa atividade que, talvez, era praticada diariamente, mas, hoje, não faz mais parte da sua rotina, e perceba o que mudou com o tempo. Agora que você experimentou o efeito do tem- po e do “desuso” ou a falta de prática de alguma atividade em que você se reconhecia habilidoso(a), observe o que mais existia em torno dessa prática que lhe proporcionava tamanha habilidade. Reflita sobre o que você deixou de fazer ou o motivo de ter interrompido a prática que resultou na redu- ção da habilidade. Reconhece se algo relacionado à aprendizagem dessa habilidade esteve presente? Não existem respostas certas ou erradas para essa pergunta. É apenas um convite para reconhecer e refletir sobre os fatos. A idade cronológica é uma métrica importante nos processos da vida do ser humano, contudo nem 7 tudo depende, necessariamente, dela. O crescimen- to é um dos processos que tem a idade cronológica como parâmetro para acompanhamento, mas não é o único determinante. Com o crescimento físico, o desenvolvimento motor também acontece, concomi- tantemente. Os processos de maturação biológica, especialmente o desenvolvimento do sistema neu- romuscular, possibilita, o ganho e o refinamento das diferentes habilidades motoras, sejam em movimen- tos de locomoção, estabilização ou manipulação. Com o desenvolvimento, processos relacionados à aprendizagem motora, também, tornam-se pre- sentes, e é o aprendizado que possibilita práticas, cada vez mais, complexas bem como o refinamento das habilidades motoras adquiridas. Compreender esses conteúdos, os aspectos fisiológicos e compor- tamentais do controle motor bem como as teorias e os processos da aprendizagem motora e do controle motor é fundamental para embasar a intervenção do profissional de Educação Física. Nesse sentido, a participação de um profissional de Educação Física, ao longo desses processos da vida do ser humano, pode proporcionar a otimi- zação dos recursos disponíveis em cada uma das etapas. Ao final desta disciplina, você conhecerá esses processos e as etapas do desenvolvimento e da aprendizagem motora e saberá como ensinar as habilidades motoras nas diferentes práticas fí- sicas. A proposição de estímulos coerentes com a etapa de crescimento, desenvolvimento e/ou de aprendizagem pode representar uma vanta- gem para o indivíduo, no contexto das aulas de Educação Física na escola, em clubes esportivos, no contexto recreativo, na academia e em outros que envolvam o movimento humano. Os conhe- cimentos relacionados ao desenvolvimento e à aprendizagem motora fazem parte do dia a dia da prática do profissional de Educação Física, dessa forma, é fundamental que você os compreenda para que possa aplicá-los, adequadamente, nos seus planejamentos e nas duas aulas. Diante do exposto, observe quais foram os ter- mos-chave abordados até agora. É sobre isso que vamos falar ao longo deste material. A sua dedicação nas atividades propostas no decorrer das unidades, o aprofundamento nos conteúdos indicados e o compromisso com o aprendizado são o que trará o diferencial na sua formação. Estamos aqui para o(a) auxiliar, seja o(a) protagonista, o(a) responsável pela construção da sua formação. provocações iniciais sumário UNIDADE I 10 CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR UNIDADE II 44 APRENDIZAGEM MOTORA: CONSIDERAÇÕES INICIAIS UNIDADE II 66 ASPECTOS FISIOLÓGICOS DO CONTROLE MOTOR UNIDADE II 98 TEORIAS E PROCESSOS DE APRENDIZAGEM MOTORA E CONTROLE MOTOR UNIDADE II 124 APRENDIZAGEM MOTORA E A INTERVENÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA Dra. Giseli Minerato Schmitz Dra. Juliane Berria Oportunidades de aprendizagem Nesta unidade, você terá a oportunidade de entender que o crescimento, a maturação e o desenvolvimento motor são eventos interdependentes que se iniciam e terminam em momentos distintos da vida. Você poderá diferenciar os aspectos de cada um, incluindo as etapas da vida nas quais eles ocorrem, conhecimento necessário para o desenvolvimento do seu trabalho como profissional de Educação Física. Por fim, conhecerá e distinguirá as terminologias empregadas, as teorias, as fases do desenvolvimento motor e os fatores que os afetam, possibilitando um olhar ampliado sobre as experiências as quais o profissional pode ter. CRESCIMENTO E DESENVOLVIMENTO MOTOR unidade I 12 Você já se perguntou como o desenvolvimento dos se- res humanos acontece? Parou para pensar que somos muito mais do que uma carga genética? Talvez isso seja um dos maiores avanços da neurociência! O de- senvolvimento dos seres humanos também depende do ambiente onde se está inserido e da qualidade das relações, além da genética. Nesse sentido, para que possamos iniciar a cons- trução do conhecimento nesta disciplina, é essencial e necessário assistir ao documentário O Começo da Vida (produzido por Maria Farinha Filmes, em 2016). Este filme nos convida a sermos agentes de mudança na sociedade, pois nos instiga a pensar se estamos cui- dando bem dos primeiros anos de vida de uma criança, os quais deter- minam o presente e o futuro da hu- manidade. É só acessar o QRCode ao lado e vir conosco! Os mil primeiros dias de vida são o melhor mo- mento para o desenvolvimento motor da criança, pois é o período no qual o cérebro está se moldando, se desen- volvendo. As crianças são ultrassensíveis aos padrões de informação e nunca param de prestar atenção. As co- nexões neurais são, extremamente, rápidas e as rotas dos neurônios não utilizadas vão desaparecendo. No início do desenvolvimento motor, a criança erra muito e ela precisa continuar tentando. As crianças com autoestima elevada não têm medo de errar e tendem a seguir repetindo a tarefa, contudo o mesmo pode não acontecer com aquelas que não apresentam a mesma autoestima. É a estimulação por parte das pessoas que convivem com o bebê que pode dar o suporte necessá- rio para ele não desistir da tarefa, estimulando-o a se- guir alimentando as rotas dos neurônios. O conhecimento dos conteúdos contidos nesta unidade pode proporcionar o estabelecimento de ob- jetivos, conteúdos e métodos de ensino coerentes com as características de desenvolvimento de cada indiví- duo. Outros pontos importantes são a observação e a avaliação dos movimentos de cada indivíduo, per- mitindo, ao longo do desenvolvimento dele, melhor acompanhamento das mudanças ou dificuldades no comportamento motor. As crianças aprendem por imitação. A brincadeira é o principal veículo e, por meio dela, é possível explorar a criatividade. Agora, é com você! Te convido a visitar um Centro de Educação Infantil onde seja possível que você passe um período do dia observando os aspectos do desenvolvimento motor dos alunos, com base nos con- teúdos trazidos pelo documentário. Caso conviva com uma criança, façaesta atividade com ela: proponha-se a observar como o desenvolvimento acontece enquanto a criança brinca. Fique atento(a) aos detalhes. Agora que você sabe, um pouco mais, como o de- senvolvimento de uma criança inicia e o que é impor- tante para ele acontecer, registre, no Diário de Bordo, as experiências que você tem ou já teve sobre o que foi abordado até aqui. O desenvolvimento motor é estimulado por meio de brincadeiras? É possível perceber as diferenças em relação a ele, quando duas crianças da mesma idade re- alizam a mesma atividade? Reflita sobre as suas atitudes perante o desenvolvimento da criança e destaque se fo- ram favoráveis ou não a esse amadurecimento. https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15395 13 EDUCAÇÃO FÍSICA Antes de abordarmos o assunto do desenvolvimento motor, há vários processos que acontecem na vida do ser humano desde a concepção e que influenciam ou são determinantes neste progresso, portanto, devem ser conhecidos por você. Iniciaremos falando da idade cro- nológica, seguido do crescimento físico, da maturação e, por fim, do desenvolvimento motor. Estes conceitos são úteis na compreensão de como as etapas do desenvolvi- mento motor se apresentam e de como eles se relacio- nam e interagem entre si. A idade cronológica é uma medida de tempo im- portante à compreensão de como o crescimento, a ma- turação e o desenvolvimento interagem entre si, afinal, esses processos são medidos em dado momento (ou em vários pontos) do tempo. Isso significa dizer que o ponto de referência para a observação do crescimento, da ma- turação e do desenvolvimento é, sempre, a idade crono- lógica da criança. Por exemplo, todas as crianças nasci- das em 5 de agosto de 2012 terão 10 anos em 5 de agosto de 2022, contudo elas podem se encontrar em processos biológicos diferentes, os quais possuem a sua tabela de tempo própria, sem comemoração de aniversário (MA- LINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). Como o tempo biológico pode não acompanhar o tempo do calendário, crianças com a mesma idade cro- nológica estão, às vezes, em níveis de maturidade bioló- gica diferentes. Este fato é, frequentemente, observado durante a adolescência, quando acontece a maturação sexual. Há meninas que, aos 12 anos de idade, estão ma- duras, sexualmente, enquanto outras ainda estão no pro- 14 cesso ou ainda não o iniciaram; mesmo assim, todas elas têm os mesmos 12 anos de idade cronológica. Isso também é observado nos meninos, só que um pouco mais tarde, por volta dos 14 anos (MALINA; BOU- CHARD; BAR-OR, 2009). Nos meninos também é fre- quente observar essas diferenças de processos bioló- gicos em idades cronológicas semelhantes na variável de estatura. O estirão de crescimento costuma iniciar em idades diferentes, então, expressivas discrepâncias na estatura são observadas em garotos de 13 anos, por exemplo. Neste caso, a velocidade de crescimento, com frequência, importa, representando diferenças de esta- tura nas idades subsequentes. A idade cronológica é, frequentemente, dividida em faixas de tempo que caracterizam os processos predomi- nantes de cada faixa (Tabela 1). O início da infância é o primeiro período do crescimento pós-natal que corres- ponde ao primeiro ano de vida, excluindo o primeiro ani- versário. Esse período é caracterizado pelo rápido desen- volvimento do sistema neuromuscular e da maioria dos outros sistemas, das dimensões corporais, assim como do crescimento físico. A infância subdivide-se em períodos denominados: perinatal (hora do nascimento até a pri- meira semana), neonatal (primeiro mês de vida) e pós- -natal (restante do primeiro ano). A infância subdivide-se em primeira (anos pré-esco- lares: 1,0 a 4,99 anos) e segunda (anos de “escola funda- mental”, até o quinto ou sexto ano). Na primeira infân- cia, o crescimento continua rápido, o desenvolvimento também acontece, enquanto que, na segunda infância, o progresso é, relativamente, estável tanto para o crescimen- to físico e a maturação quanto para o desenvolvimento comportamental. A pré-adolescência abrange o período do final da segunda infância (primeiro aniversário) até o início da adolescência. Em termos de idade cronológica, a adolescência é o período complexo de ser definido devi- do às variações no tempo em relação ao seu início e à sua finalização (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO, 2007), a adolescência corresponde às idades de 10 a 19 anos. É neste momento que os principais siste- mas do corpo alcançam a maturidade, ou seja, se tor- nam adultos em estrutura e função (MALINA; BOU- CHARD; BAR-OR, 2009). Na Tabela 1, podem ser mais bem observadas as classificações etárias cronológicas convencionais, desde a concepção até a idade adulta avançada (idosos). Período Faixa etária aproximada I Vida pré-natal (Da concepção ao nascimento) A. Período do zigoto Concepção - 1 semana B. Período embrionário 2 semanas - 8 semanas C. Período fetal 8 semanas - nascimento II O bebê (Do nascimento aos 24 meses) A. Período neonatal Nascimento - 1 mês B. Início do período de bebê 1 - 12 meses C. Restante do período de bebê 12 - 24 meses III Infância (Dos 2 aos 10 anos) A. Período entre 2 e 3 anos 24 - 36 meses B. Início da infância 3 - 5 anos C. Meio/final da infância 6 - 10 anos 15 EDUCAÇÃO FÍSICA Período Faixa etária aproximada IV Adolescência (Dos 10 aos 20 anos) A. Pré-puberdade 10 - 12 anos (meninas) 11 - 13 anos (meninos) B. Pós-puberdade 12 - 18 anos (meninas) 14 - 20 anos (meninos) V Juventude (Dos 20 aos 40 anos) A. Período inicial 20 - 30 anos B. Período de consolidação 30 - 40 anos VI Meia-idade (Dos 40 aos 60 anos) A. Transição da meia-idade 40 - 45 anos B. Meia-idade 45 - 60 anos VII Adulto mais velho (60 anos +) A. Velho jovem 60 - 70 anos B. Velho mediano 70 - 80 anos C. Velho mais velho 80 anos + Tabela 1 - Classificações etárias cronológicas convencionais Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 28). Agora que temos uma base da informação da medida de tempo universal que nos ajuda a compreender os eventos ocorridos desde a concepção, avançaremos nos demais conceitos de crescimento, maturação e desenvolvimento. O crescimento físico (Figura 1) refere-se ao aumen- to do tamanho de partes específicas do corpo ou o au- mento no tamanho do corpo como um todo. O início do crescimento físico ocorre na concepção e termina no final da adolescência ou no início da segunda década de vida. Durante o crescimento, o aumento no número de células (mitose) costuma ocorrer, processo que é denominado hiperplasia. Outro processo é o crescimento no tama- nho das células, chamado de hipertrofia (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). Tal termo é, comumen- te, ouvido nos espaços de treinamento físico, como em academias de musculação. Isso significa que a hipertrofia acontece durante o crescimento físico, no início da vida, até que se atinja a estatura máxima, mas também nas de- mais idades, por meio da prática de atividades físicas. Outro processo que acontece durante o crescimen- to físico é a acreção. Este termo é usado para descrever o aumento na capacidade das substâncias intercelulares em agregar células, ou seja, é uma espécie de ligação entre células. Todos esses processos, muitas vezes, não ocor- rem, concomitantemente, pelo contrário, a predominân- cia de um ou outro varia em função da idade ou do tecido envolvido (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). 16 Os níveis de crescimento físico de crianças e adolescen- tes são considerados um importante indicador de qua- lidade de vida de um país. Observa-se que há variações nesses níveis entre populações, pois são determinados pelos componentes genéticos e pelas características do ambiente. Aliás, o ambiente é um forte agente de mu- danças, capaz de superar as características genéticas, principalmente no que se refere às doenças e ao estilo de vida (ZEFERINO et al., 2003).Para exemplificar esta questão, trago o caso de crian- ças que não possuem herança genética de obesidade, mas, ao serem expostas, diariamente, a alimentos de alto valor energético e pobre em nutrientes, como os alimen- tos processados e ultraprocessados, ao passarem tempo excessivo em comportamentos sedentários, por exem- plo, se mantendo muito tempo sentadas, e por não prati- carem atividades físicas, passam a apresentar um quadro de obesidade. O mesmo podemos observar no sentido inverso: indivíduos com histórico familiar de obesidade e que cultivam alimentação saudável, praticam ativida- des físicas, diariamente, e são pouco expostos a compor- tamentos sedentários podem não apresentar um quadro de excesso de peso (sobrepeso e obesidade). A maturação corresponde ao tempo e ao controle temporal do progresso pelo estado biológico maduro. É o progresso em direção à maturidade física, o estado ótimo de integração funcional entre os sistemas corpo- rais de um indivíduo e a capacidade de reprodução. A maturação é um processo, enquanto que a maturidade é um estado. A primeira ocorre em todos os sistemas, órgãos e tecidos do corpo, ao passo que a segunda varia segundo o sistema biológico estudado. Por exemplo, a maturidade sexual é alcançada quando a capacidade re- produtiva funcional está completa; a maturidade esque- lética é atingida quando o esqueleto adulto é ossificado por completo; a maturação dos sistemas neuroendócri- no (nervoso e endócrino) é o agente mais importante na maturação somática (crescimento), sexual e esquelética (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). É possível observar variações individuais no ritmo e no grau dessas mudanças, mas a ordem sucessiva em que ocorrem é a mesma, tanto num sexo quanto no outro. Por exemplo, duas crianças podem ter o mesmo nível de crescimento alcançado (mesmo tamanho), contudo po- dem estar em lugares diferentes do caminho para a maturi- dade esquelética (alcance do tamanho adulto). Assim, a es- Descrição da Imagem: a figura refere-se ao crescimento físico infantil, por meio uma ilustração sequencial com dez imagens de uma criança. A primeira imagem é de um recém-nascido envolvido numa manta, a segunda é de um bebê deitado de barriga para cima. A terceira imagem é de uma criança deitada de bruços. Na quarta imagem, a criança está de joelhos, uma das mãos toca o chão. Na quinta imagem, ela está sentada. Na sexta, a criança está com os joelhos e as mãos no chão. Na sétima imagem, ela está com os pés e mãos tocando o chão. Na oitava, a criança está com o tronco ereto, com os joelhos no chão. Na nona imagem, ela está em pé, se equilibrando. Na décima e última imagem, a criança está em pé. Figura 1 - Ilustração do crescimento físico de uma criança 17 EDUCAÇÃO FÍSICA tatura final é diferente entre essas crianças e o alcance dessa estatura ocorre, talvez, em períodos de tempo diferentes, também (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). Esta é a diferença essencial entre o crescimento e a maturação: o crescimento enfatiza o tamanho atingido num determinado ponto do tempo; a maturação eviden- cia o progresso para atingir o tamanho adulto e a maturi- dade. Portanto, crescimento e maturação são eventos, al- tamente, relacionados e dinâmicos. O objetivo é atingir o estado adulto (maturidade), e as etapas caminham em di- reção a esse objetivo desde o momento da concepção até que a maturidade seja alcançada. Nesse sentido, o cresci- mento e a maturação são processos biológicos com fim e direção (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). O desenvolvimento é um conceito mais amplo, pode ter um contexto biológico ou comportamental e, também, contempla uma variedade de domínios que se inter-rela- cionam conforme a criança interage com o meio cultural. Crescimento Físico Maturação Crescimento Físico Maturação Focalizado no tamanho Aumento quantitativo Focalizado no progresso Avanço qualitativo na constituição biológica Os conceitos de referência, maturidade esquelética, alvo parental, escore z, baixa estatura, velocidade de crescimento, índice de massa corporal, os seus pressupostos e limitações são conteúdos importantes na atuação profissional. A seguir, uma revisão narrativa aborda estes temas e ressalta os aspectos da avaliação do indivíduo. É só acessá-la pelo seu leitor de QRCode. Não perca esta oportunidade de conhecimento! Descrição da Imagem: a figura refere-se ao crescimento físico e a maturação, representando-os por meio de um esquema horizontal em setas sequenciais. A primeira seta sequencial na cor azul refere-se ao crescimento físico, indicando que ele é focalizado no tamanho bem como no aumento quantitativo. A palavra “tamanho”, no interior da seta, está em negrito e a palavra “quantitativo” está em caixa alta. A segunda seta sequencial na cor verde refere-se à maturação, indicando que ela é focalizada no progresso bem como no avanço qualitativo na constituição biológica. A palavra “progresso”, no interior da seta, está em negrito e a palavra “qualitativo” está em caixa alta. Figura 2 - Crescimento físico e maturação https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15396 18 No contexto biológico, o desenvolvimento está relacio- nado aos processos de diferenciação e especialização de células embrionárias. A diferenciação completa é alcançada quando a sua função em um tecido específico inicia, embo- ra o progresso da função prossiga de acordo com o sistema do corpo, até que ela seja refinada. No contexto comporta- mental, diz respeito ao crescimento de competência rela- cionado aos domínios cognitivo, emocional, social, moral e motor. Aqui, focalizaremos o desenvolvimento no domí- nio motor, cujo progresso está relacionado à aquisição e ao refinamento de comportamentos, tais como: o desenvolvi- mento da competência motora, a aquisição e o refinamento de habilidades em atividades motoras variadas (MALINA; BOUCHARD; BAR-OR, 2009). No documentário indicado no início da unidade (O Começo da Vida), foram abordados todos os domínios do desenvolvimento da criança e situações que o exem- plificam. Talvez você não tenha percebido essa aborda- gem e, se isso aconteceu, te convido a ver o documen- tário, novamente, mas, dessa vez, atente-se ao conteúdo exposto sobre cada domínio do desenvolvimento no contexto comportamental. Na sua essência, o desenvolvimento motor é observado a partir de alterações no comportamento motor. Trata- se de um processo de aquisição de padrões (movi- mentos utilizados para desempenho específico, como pular, correr) e habilidades de movimento (precisão, exatidão e economia de energia). O desenvolvimento de um padrão motor está relacionado ao alcance de níveis aceitáveis de habilidade com uma mecânica corporal eficiente para diferentes situações motoras. Não requer, especificamente, conquista do alto grau de habilidade (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Em geral, o desenvolvimento motor é influenciado por fatores do próprio indivíduo (biologia), do ambien- te (experiência) e da própria tarefa em si (aspectos físi- cos e mecânicos) (ROSA NETO, 2015). Conforme vimos no documentário O Começo da Vida, a criança precisa ser estimulada para o desenvolvimento acontecer. Este estímulo é no sentido de oferecer a ela oportunidades de explorar o meio com objetos simples que podem ganhar vida, e quem dá vida aos objetos é a própria criança. O desenvolvimento motor também pode ser visto a partir de um modelo teórico que serve para testar os fa- tos. A formulação de modelos teóricos que conduzem ex- plicações do comportamento ao longo da vida é recente, pois o interesse pelo desenvolvimento motor deixou de ser descrição e catalogação de dados, apenas, a partir da década de 80. Os modelos teóricos abrangentes, os quais explicam o processo de desenvolvimento motor, são es- cassos, enquanto são poucas as teorias amplas sobre o tema (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Focaremos em um modelo abrangente para o desen- volvimento motor, modelo este que parte de dois pontos devista teóricos: a teoria das fases-estágios descritiva e a teoria dos sistemas dinâmicos explicativa. Esse modelo teórico não é perfeito, isto é, também lhe falta algo, contudo ele tem sido a base para compreender melhor o que e por que cada etapa do desenvolvimento motor ocorre. Aquilo “Crescimento, maturação e desenvolvi- mento são processos que operam em uma estrutura de tempo e que interagem entre si para moldar a forma pela qual as crianças evoluem. As interações entre esses conceitos tendem a ser mais aparentes na transição para a adolescência, momento no qual há conside- rável variabilidade no ritmo e no grau de cres- cimento e de maturação sexual, por exemplo”. Fonte: Malina, Bouchard e Bar-Or (2009, p. 23, grifos dos autores). 19 EDUCAÇÃO FÍSICA que as pessoas são em faixas etárias específicas corresponde à descrição, e o motivo da ocorrência dessas características diz respeito à explicação (GALLAHUE; OZMUN; GOO- DWAY, 2013). As fases do desenvolvimento motor que serão apre- sentadas, posteriormente, provêm de uma base dedutiva, ou seja, têm como base a inferência e servem de modelo para a formulação de teorias. O método dedutivo é com- posto por três características: i) integra os fatos existentes e esclarece os indícios empíricos que têm ligação com o conteúdo da teoria; ii) dedica-se à formulação de hipóte- ses que podem ser testadas; iii) passa por testes empíricos, isto é, as hipóteses testadas de forma experimental devem gerar resultados que confirmem, ainda mais, a teoria. Esse método nos permite identificar as informações necessá- rias ao preenchimento de lacunas na teoria (o que ainda não é conhecido) bem como o esclarecimento ou o aper- feiçoamento da mesma (GALLAHUE; OZMUN; GOO- DWAY, 2013). As mudanças no comportamento dos movimentos ao longo do tempo é o que caracteriza o processo de de- senvolvimento motor (GALLAHUE; OZMUN; GOO- DWAY, 2013). Desde o momento em que ocorre a con- cepção, o organismo tem uma organização, segue uma lógica biológica, possui um calendário evolutivo e matu- rativo bem como uma porta aberta à estimulação e à inte- ração (ROSA NETO, 2015). Durante toda a vida, estamos envolvidos nesse processo. Bebês, crianças, adolescentes, adultos e idosos, segundo Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), passam pelo processo de aprender como se movi- mentar, com competência e de forma controlada, respon- dendo às mudanças enfrentadas, todos os dias, uma vez que o ambiente muda, constantemente. As possibilidades de desenvolvimento motor da criança avançam, de for- ma significativa, com a idade, e as oportunidades se tor- nam cada vez mais diversificadas, complexas e completas (ROSA NETO, 2015). Temos a capacidade de observar as diferenças no desenvolvimento do comportamento dos movimentos. O estudo das mudanças no comportamento dos mo- vimentos ao longo do ciclo da vida é uma das formas de observar o desenvolvimento motor. Abre-se uma janela que permite ver o processo desse desenvolvimento pelo comportamento dos movimentos possíveis de observa- ção, fornecendo pistas de como os procedimentos moto- res ocorrem. Nesse sentido, tal processo é visto como fase e estágio (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Ao longo de todas as fases do desenvolvimento motor, o movimento possível de ser observado é ca- tegorizado de três formas diferentes, segundo a sua fi- nalidade. Elas são denominadas tarefas de movimento de estabilidade, locomoção e manipulação ou são a combinação de todas elas (GALLAHUE, OZMUN, GOODWAY, 2013). No documentário sugerido no iní- cio da unidade, foram ilustradas as diferentes tarefas de movimento, desde o início da vida, por exemplo, um bebê engatinhando (3min30seg), manipulando objetos (de 3min34seg até 4min30seg), sustentando-se em algu- ma postura (5min21seg). Os movimentos de estabilidade, segundo Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), são aqueles que necessitam de certo grau de equilíbrio ou postura (ex.: ficar em pé). O equilíbrio é a base para que toda a ação diferenciada do cor- po (e das suas partes) possa acontecer (ROSA NETO, 2015). Especificamente, são aqueles que não são nem de locomo- ção, nem de manipulação, portanto, incluem movimen- tos de virar, torcer, puxar, empurrar. A estabilidade, como uma categoria do movimento, corresponde a qualquer movimento que aconteça como ganho ou manutenção do equilíbrio do indivíduo em relação à força da gravidade, ou seja, a capacidade de se sustentar em alguma postura (ex.: posturas invertidas e de rolamento do corpo, apoiar-se em um único pé, manter-se na posição ereta em pé ou sentado) (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). 20 Os movimentos de locomoção são aqueles que en- volvem mudança de um ponto a outro na localização do corpo, seja correndo, seja caminhando, pulando ou salti- tando. Dessa forma, os movimentos de rolar para frente e para trás também são consideradas atividades de lo- comoção, tendo em vista que o corpo se movimenta de um ponto a outro (e de estabilidade devido à necessida- de de manutenção do equilíbrio na realização da tarefa que apresenta uma oscilação incomum) (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). A manipulação é uma categoria de movimentos a qual envolve a força. Em movi- mentos amplos, refere-se a conferir força a objetos ou receber força deles, por exemplo, lançar, pegar, chutar, rebater bem como o voleio e o drible. Em movimentos finos, diz respeito ao uso dos mús- culos da mão e do punho, nas tarefas como: digi- tar, costurar e cortar com tesouras (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Na combinação de movimentos das catego- rias de locomoção, estabilidade e manipulação, há inúmeras atividades. Por exemplo, a atividade de pular cordas envolve o pulo (locomoção), a ma- nutenção do equilíbrio do corpo (estabilidade) e o giro da corda (manipulação); o jogo de futebol requer habilidades de correr e pular (locomoção), esquivar-se, alcançar, girar e girar (estabilidade) e driblar, chutar, passar e cabecear (manipulação). Por fim, considerando que o movimento é uma janela para o processo de desenvolvimento motor, uma das formas de estudar esse processo é anali- sar como as habilidades de movimento progridem, sequencialmente, ao longo da vida (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). No início do documentário, foram ilustra- das diferentes situações de movimentos de lo- comoção, estabilidade e manipulação que são realizados pelos bebês de forma combinada (até o minuto 8). Isso significa que a combinação dos movimentos acontece desde os primeiros meses de vida. Retome o documentário com o objetivo de visualizar os exemplos ou o acesse, no QRCo- de do início da unidade, para ver, novamente, as cenas que ilustram o movimento combinado (de 29min40seg até 29min58seg também pode ser disponibilizado para exemplificar). 21 EDUCAÇÃO FÍSICA OLHAR CONCEITUAL Movimentos de manipulação: envolve a força no sentido de conferir força a, ou receber força de, objetos (ex. lançar, pegar, chutar, rebater objetos, voleio e drible) Movimentos de estabilidade: necessitam de certo grau de equilíbrio, dando a capacidade de sustentar-se em alguma postura (ex. ficar em pé). Movimentos de locomoção: envolvem mudança de um ponto a outro na localização do corpo, quer seja correndo, caminhando, pulando ou saltitando. Combinação de movimentos: pular cordas envolve o pulo (locomoção), a manutenção do equilíbrio do corpo (estabilidade) e o giro da corda (manipulação). Fonte: Gallahue, Ozmun, Goodway (2013, p. 67-68). Agora, falaremos, um pouco mais, sobre as fases e os estágios do desenvolvimento motor, por meio de um modelo teórico desenvolvido por Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), apresentado na Figura 3 e defini- do como uma ampulheta heurística, isto é, como um processo fase-estágio descontínuo e sobreposto. Nesse modelo, o desenvolvimento motor de cada indivíduo passa por quatro fases: movimento reflexo, rudi- mentar, fundamental e especializado. Em cada uma delas, há de dois a trêsestágios com faixa etária apro- ximada para os seus períodos de desenvolvimento. A última fase, no seu último estágio, indica a utilização dos movimentos na rotina diária, de forma recreativa e/ou competitiva, ao longo da vida. 22 Utilização na rotina diária ao longo da vida Utilização recreativa ao longo da vida Utilização competitiva ao longo da vida FAIXA ETÁRIA APROXIMADA NOS PERÍODOS DO DESENVOLVIMENTO 4 meses a 1 ano Desde o útero até 4 meses 14 anos ou mais 11 a 13 anos 7 a 10 anos 5 a 7 anos 3 a 5 anos 2 a 3 anos 1 a 2 anos Do nascimento a 1 ano Estágio de decodi�cação de informações Estágio de codi�cação de informações FASE DO MOVIMENTO ESPECIALIZADO FASE DO MOVIMENTO FUNDAMENTAL FASE DO MOVIMENTO RUDIMENTAR FASE DO MOVIMENTO REFLEXO ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO MOTOR Estágio da utilização ao longo da vida Estágio de aplicação Estágio de transição Estágio pro�ciência Estágios elementares emergentes Estágio inicial Estágio pré-controle Estágio de inibição do re�exo A fase do movimento reflexo é a primeira forma do movimento humano, a primeira realizada pelo feto. Os movimentos realizados, aqui, não são aprendidos, como o próprio termo sugere, eles são reflexos, por isso, não são considerados “habilidades”, e sim “capacidades” (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Nesta fase, os movimentos são involuntários, ou seja, a ação motora é processada, automaticamente, pelo sistema nervoso, tanto para sons, tato e visão quanto para pres- são e formam a base de cada uma das fases do desenvol- Descrição da Imagem: a figura refere-se a fases e estágios do desenvolvimento motor. Compreende a ilustração de uma ampulheta de tempo composta por dois recipientes cônicos que se comunicam entre si, por meio de um pequeno orifício. Na parte superior da ampulheta, há três tópicos: “Utilização na rotina diária ao longo da vida”, “Utilização recreativa ao longo da vida” e “Utilização competitiva ao longo da vida”. As três utilizações estão ligadas às quatro fases do movimento que estão na parte inferior da ampulheta. Na base da ampulheta, está a fase do movimento reflexo e indica que, na faixa etária aproximada desde o útero até os 4 meses e dos 4 meses a 1 ano, o estágio do desenvolvimento motor é de codificação e decodificação de informações, respectivamente. Logo acima, está a fase do movimento rudimentar, o qual indica que, na faixa etária aproximada do nascimento a 1 ano e de 1 a 2 anos, o estágio do desenvolvimento motor é de inibição do reflexo e pré-controle, respectivamente. Em cima da fase do movimento rudimentar está a fase do movimento fundamental e indica que, na faixa etária aproximada de 2 a 3 anos, 3 a 5 anos e 5 a 7 anos, os estágios do desenvolvimento motor são, respectivamente: inicial, elementares emergentes e de proficiência. Por fim, próxima à parte central da ampulheta está a fase do movimento especializado. Ela indica que, na faixa etária aproximada de 7 a 10 anos, 11 a 13 anos e 14 anos ou mais o estágio do desenvolvimento motor é de transição, de aplicação e de utilização ao longo da vida, respectivamente. Figura 3 - Fases e estágios do desenvolvimento motor / Fonte: adaptada de Gallahue, Ozmun e Goodway (2013). 23 EDUCAÇÃO FÍSICA vimento motor (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013; ROSA NETO, 2015). A partir do quarto mês da vida fetal até o quarto mês pós-nascimento, aproxi- madamente, a maioria dos movimentos realizados são reflexos e as reações involuntárias dos bebês variam de acordo com os estímulos recebidos (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Os movimentos reflexos podem ser divididos em primitivos e posturais (foram ilustrados, principalmente, no início do documentário). Os reflexos primitivos são respostas de busca por nutrição, proteção e coleta de informações. Um exemplo são os movimentos reflexos de sucção e fixação, con- siderados mecanismos de sobrevivência do bebê. Eles são fundamentais para a nutrição do recém-nascido (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Os refle- xos primitivos de sobrevivência incluem o reflexo de Moro (Figura 4), busca e sucção, preensão palmar (Fi- gura 5), preensão plantar (Figura 6) e tônico assimétrico (Figura 7) (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). No Reflexo de Moro, também conhecido como re- flexo do susto, a estimulação acontece quando o bebê é colocado na posição supino e alguma sensação de inse- gurança de apoio é produzida. Uma forma de fazer isso é deixando a cabeça do bebê cair um pouco para trás de re- pente. Esse reflexo também pode ser autoinduzido a par- tir de um som alto, provocado pela tosse ou pelo espirro da criança (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Os bebês abrem os seus braços e mãos, rapidamente, com as palmas das mãos voltadas para cima no momento em que sentem falta de apoio, conforme ilustrado na Figura 4 (a). Esse reflexo ocorre desde o nascimento e continua ao longo dos seis primeiros meses; tem sido utilizado como uma das formas de avaliar o desenvolvimento neurológi- co infantil: a sua presença após essa idade costuma indicar um quadro de disfunção neurológica (GALLAHUE; OZ- MUN; GOODWAY, 2013). a) b) A nutrição é o principal estímulo para o reflexo de busca e sucção, presente em todos os bebês com desenvolvimento esperado. O reflexo de busca é mais forte nas três primei- ras semanas e pode se manifestar até o final do primeiro ano, enquanto o de sucção tende a desaparecer ao final do terceiro mês, contudo, persiste, voluntariamente. O reflexo de busca é mais, facilmente, observado quando o bebê está dormindo, quando está com fome ou na posição de ama- mentação. O reflexo de sucção ocorre a partir da estimu- lação feita nos lábios, nas gengivas, na língua ou no palato duro, sendo, ritmicamente, repetitiva. A estimulação para ambos os reflexos acontece, considerando um recém-nasci- do saudável, de forma diária, nos horários de amamentação (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Descrição da Imagem: a figura refere-se ao Reflexo de Moro. Compreende uma ilustração com duas imagens de um bebê. A Figura 4 (a), que indica a fase de extensão, mostra um bebê deitado de barriga para cima, com os membros inferiores e superiores esticados. A Figura 4 (b), que indica a fase de flexão, mostra um bebê deitado de barriga para cima com os membros inferiores e superiores flexionados próximos ao corpo. Figura 4 (a) - Reflexo de Moro: fase de extensão; Figura 4 (b) - Fase de flexão / Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 144). 24 O reflexo de preensão palmar consiste na forte pegada que o bebê apresenta do nascimento até os qua- tro primeiros meses. Nos dois primeiros meses, as mãos do bebê se mantêm bem fechadas, ao estimular a palma da mão com um objeto, o órgão, instintivamente, se fe- cha em torno dele com força (Figura 5), se for exercida força contra os dedos flexionados, a pegada fica mais apertada. Quando suspenso, o bebê consegue sustentar o próprio peso do corpo devido à tamanha força da pe- gada. A intensidade da resposta, neste reflexo, aumenta durante o primeiro mês e tende a diminuir, gradativa- mente. Se o reflexo persistir até o primeiro ano ou se a resposta ao estímulo for fraca no primeiro mês, certo atraso no desenvolvimento motor pode estar presente (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). O toque na sola dos pés em recém-nascidos provoca o Reflexo de Babinski, enquanto a pressão exercida no toque refletirá na extensão dos dedos do pé. Esse reflexo cede lugar ao reflexo plantar quando o sistema neuro- muscular amadurece, então, certa contração dos dedos é observada como resposta ao estímulo realizado na sola do pé (Figura 6). Uma forma de estimular, facilmente, o reflexo plantar de preensão é pressionando os polega- res contra o terço anterior do pé do bebê. Isso ocorre por volta do quarto mês e continua até o 12° mês, aproxima- damente. Quando o Reflexo de Babinski persiste até o sexto mês, tem-se um indicativo de falha no desenvol- vimento (GALLAHUE;OZMUN; GOODWAY, 2013). O reflexo tônico assimétrico do pescoço, mostra- do na Figura 7 (a), corresponde ao posicionamento do bebê em supinação. O pescoço é girado, de modo que a cabeça fica voltada ora para um lado, ora para outro. Descrição da Imagem: a figura refere-se ao reflexo palmar de preensão. Compreende a ilustração de uma mão humana seguran- do a ponta de um objeto fino e roliço. Na outra extremidade, uma mão humana pequena agarrando o objeto com todos os dedos. Figura 5 - Reflexo palmar de preensão Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 145). Descrição da Imagem: a figura refere-se ao reflexo plantar. Com- preende a ilustração de uma mão humana segurando a ponta de um objeto fino e roliço. Na outra extremidade, há um pé humano pequeno agarrando o objeto com todos os dedos. A figura tam- bém mostra as pernas e abdômen da criança, que se encontra deitada de costas. Figura 6 - Reflexo de preensão plantar Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 146). 25 EDUCAÇÃO FÍSICA A posição dos braços é em assimetria, conforme ilustra a Figura 7 (a): braço estendido do lado do corpo para onde a cabeça está voltada, o outro braço é mantido numa posição flexionada, e a posição das pernas segue o posicionamento dos braços. No reflexo tônico simé- trico, apresentado pela Figura 7 (b), os membros supe- riores e inferiores assumem posição similar. Ao flexio- nar a cabeça e o pescoço, os braços são flexionados, mas as pernas ficam estendidas, como mostra a Figura 7 (c) (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). a) b) c) Nesta fase são desenvolvidos, também, involuntariamen- te, os reflexos posturais: estes são como dispositivos de teste neuromotor. Por meio deles, é possível observar os mecanismos de estabilidade, locomoção e manipulação — tipos de movimentos que se desenvolvem, posterior- mente, com controle consciente —. Para exemplificar, os reflexos primários de engatinhar e dar passos se apro- ximam muito dos comportamentos voluntários poste- riores de engatinhar e andar (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Fazem parte dos reflexos posturais os reflexos labirínticos apresentados pelas Figuras 8; e visuais, os quais são de levantamento (Figura 9); os de amortecimento e apoio, como o paraquedas, apresenta- do na Figura 10 (a); o reflexo de engatinhar da Figura 10 (b); o reflexo primário de caminhar/pisar da Figura 10 (c) e o de natação. Descrição da Imagem: a Figura 7 (a) refere-se ao reflexo tônico assimétrico. A ilustração mostra um bebê deitado de barriga para cima com o pescoço inclinado para o lado direito do corpo. A Figura 7 (b) refere-se ao simétrico do pescoço. A ilustração mostra um bebê com os braços esticados, sendo segurado por duas mãos na parte de trás da cintura, fazendo-o ficar numa posição como se estivesse sentado em uma cadeira, as suas pernas estão flexionadas e o seu pescoço está ereto. A Figura 7 (c) também se refere ao simétrico do pescoço. A ilustração apresenta um bebê com os braços flexionados junto ao corpo e tocando o queixo. Ele está sendo segurado por duas mãos na parte de trás da cintura. As suas pernas estão esticadas para frente, enquanto o seu pescoço está inclinado para baixo. Figura 7 (a) - Reflexo tônico assimétrico; Figura 7 (b) - Simétrico do pescoço; Figura 7 (c) - Simétrico do pescoço Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 147). 26 a) b) c) a) b) c) Descrição da Imagem: a Figura 8 (a) refere-se aos reflexos labirínticos na posição ereta. A ilustração mostra um bebê sendo segurado por duas mãos na parte de trás da cintura. Ele está ereto, com pernas e braços flexionados. A Figura 8 (b) refere-se aos reflexos labirínticos na posição inclinada para trás. A ilustração apresenta o bebê sendo segurado por duas mãos na parte de trás da cintura, inclinado para trás, com pernas e braços flexionados. As pernas estão erguidas, os braços estão junto ao corpo. A Figura 8 (c) refere-se aos reflexos labirínticos na posição pronada. A ilustração mostra o bebê sendo erguido por duas mãos, ele está na horizontal, com a barriga para baixo, pernas e braços um pouco flexionados. A cabeça do bebê está erguida e voltada para frente. Figura 8 (a) - Reflexos labirínticos na posição ereta; Figura 8 (b) - Inclinada para trás; Figura 8 (c) - Pronada Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 148). Descrição da Imagem: a Figura 9 (a), duas mãos adultas seguram ambas as mãos do bebê. A imagem mostra as pernas dele flexionadas para baixo e a cabeça inclinada, levemente, para trás. Na Figura 9 (b), a cabeça do bebê se inclina para frente, enquanto as pernas flexionadas sobem. Na Figura 9 (c), o tronco do bebê está arqueado com o movimento das pernas flexionadas para cima. Figura 9 (a) - Primeiro tipo de reflexo de flexão; Figura 9 (b) - Segundo tipo de reflexo de flexão; Figura 9 (c) - Terceiro tipo de reflexo de flexão / Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 148). 27 EDUCAÇÃO FÍSICA a) b) c) Essa primeira fase do desenvolvimento motor é dividida em dois estágios que se sobrepõem: o de codificação e o de decodificação de informações. O primeiro, o estágio de codificação de informações, inicia no útero e dura até os 4 meses pós-nascimento (Figura 3). É caracteriza- do pela atividade de movimentos involuntários do bebê que podem ser observados e que servem de recurso pri- mário para a coleta de informações, a busca de nutrição e a procura, por meio dos seus movimentos, pela prote- ção. Aqui, os centros cerebrais inferiores comandam os movimentos fetais e neonatais, portanto, são bem mais desenvolvidos do que o córtex motor (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). O segundo, o estágio de decodificação de infor- mações, também chamado de processamento, se inicia por volta do quarto mês e vai até os 2 anos de idade (Fi- gura 3). À medida que os centros cerebrais vão se desen- volvendo, os movimentos reflexos vão sendo inibidos. Gradualmente, os centros cerebrais inferiores renun- ciam ao controle dos movimentos esqueléticos, dando No vídeo disponível no QRCode, a seguir, você terá a oportunidade de visualizar cada um dos movimentos reflexos presentes nessa fase do desenvolvimento motor. Venha ver! Descrição da Imagem: na Figura 10 (a), a ilustração mostra o bebê sendo segurado por duas mãos. Ele está de barriga para baixo, horizontal- mente ao chão, os braços e pernas estão esticados. Na Figura 10 (b), o bebê está deitado de barriga para baixo, com a cabeça inclinada para cima e voltada ao lado esquerdo do corpo. Uma mão adulta toca a planta do pé esquerdo dele. Na Figura 10 (c), há duas ilustrações, lado a lado. A primeira, à esquerda, mostra o bebê sendo segurado por duas mãos na cintura, ele está em pé, ereto. Uma perna levanta enquanto a outra apoia, de modo que, nessa primeira imagem, a perna direita está levantada e, na segunda imagem, à direita, a perna levantada é a esquerda. Figura 10 (a) - Reflexos de paraquedas; Figura 10 (b) - Reflexos de engatinhar; Figura 10 (c) - Reflexos primários de caminhar Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 149-152). https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15397 28 espaço para o movimento voluntário acontecer. Isso significa dizer que o estágio de decodificação substitui a atividade sensório-motora pela perceptivo-motora. Esta substituição é mediada pela área motora do córtex cerebral (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). A fase do movimento rudimentar compreende as primeiras formas de movimentos voluntários, presentes desde o nascimento até por volta dos 2 anos de idade (Fi- gura 3). Os movimentos nesta fase se caracterizam por apresentarem uma sequência previsível de surgimento e são determinados pela maturação bem como repre- sentam as formas básicas de movimentos voluntários necessários à sobrevivência do bebê. Segundo Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), incluem os movimentos es- tabilizadores (ex.: adquirir o controle dos músculos do tronco e do pescoço e o controle sobre a cabeça), loco- motores (ex.: engatinhar, arrastar-se,caminhar) e mani- pulativos (ex.: pegar, soltar, alcançar). Conforme estes autores, o aumento do controle motor e da competência de movimento do bebê resulta no domínio das capaci- dades de movimento rudimentar, uma vez que recebe estímulos do ambiente, da própria tarefa e do indivíduo. Esta fase do desenvolvimento motor foi ilustra- da no documentário O Começo da Vida e pode ser revisto naquele QRCode apresentado no início da unidade, nos seguintes recortes: 1. 8hmin40seg -10min08seg. 2. 20min25seg - 20min30seg. 3. 27min37seg - 27min59seg. 4. 42min00seg - 42min52seg. 5. 49min00seg - 50min28seg. 6. 43min20seg - 47min40seg. O desenvolvimento ocorre a partir de um proces- so dinâmico, dentro de um sistema auto-organizado (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Esta fase subdivide-se em dois estágios, os quais representam ordens do comportamento motor, progressivamente, mais eleva- das: estágio de inibição do reflexo e estágio pré-controle. Durante a fase do movimento rudimentar, a sequên- cia na qual as habilidades de movimento são adquiridas é fixa, ou seja, todos os bebês seguirão a mesma sequência, contudo a taxa de avanço, muitas vezes, varia entre os be- bês (alguns executam mais cedo ou mais tarde do que ou- tros), conforme Gallahue, Ozmun e Goodway (2013). O estágio de inibição do reflexo (do nascimento a 1 ano) começa, ainda, quando o repertório dos movi- mentos é reflexo. Aos poucos, os movimentos passam a ser influenciados pelo córtex em desenvolvimento. Como consequência, os reflexos vão sendo inibidos e, pouco a pouco, desaparecem, assim, todos os movimentos que, até então, aconteciam de forma involuntária, dão espaço para os comportamentos motores voluntários. Neste nível da inibição do reflexo, o aparato neuromotor do bebê está num estágio de desenvolvimento rudimentar, portan- to, o movimento voluntário pouco pode ser distinguido, dando a impressão de que os movimentos são descontro- lados, sem refinamento (GALLAHUE; OZMUN; GOO- DWAY, 2013). Um exemplo disso é observado quando o bebê deseja pegar um brinquedo no chão: o processo de se agachar ou sentar, estender o membro superior e movi- mentar a mão para pegar o objeto, mesmo que de forma voluntária, é pouco controlado. No estágio pré-controle (1 a 2 anos), as crianças começam a apresentar mais controle e precisão sobre os movimentos. As capacidades de movimentos rudimen- tares evoluem, rapidamente, devido ao acelerado desen- 29 EDUCAÇÃO FÍSICA volvimento dos processos cognitivos e motores. Neste estágio, os movimentos relacionados ao equilíbrio (aqui- sição e manutenção), à manipulação de objetos e à loco- moção no ambiente, realizados de forma descontrolada no estágio anterior, ganham precisão e controle. A rapi- dez bem como a extensão do desenvolvimento do con- trole motor adquirido, neste estágio, num curto espaço de tempo, pode ser explicada, em partes, pelo processo de maturação (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Conheceremos um pouco mais das capacidades de movimento rudimentar do bebê, nesta fase do desenvol- vimento motor, os quais são alicerces do desenvolvimento das habilidades nas fases fundamental e especializada. A estabilidade diz respeito à capacidade de estabelecer controle sobre a musculatura contra a força da gravidade, a fim de atingir e manter uma postura ereta (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). A sequência de desenvolvi- mento das capacidades de estabilidade rudimentar é previ- sível, conforme ilustrado nas imagens, a seguir. As tarefas de estabilidade incluem o controle da cabeça e do pescoço, o controle do tronco e da posição sentada (Figuras 11) bem como o alcance na postura em pé (Figuras 12). a) b) c) Descrição da Imagem: a Figura 11 (a) refere-se aos estágios da conquista do sentar independente no terceiro mês. A ilustração mostra o bebê sentado, em posição ereta, sendo segurado na cintura por duas mãos adultas. A Figura 11 (b) refere-se ao sexto mês e apresenta o bebê sentado sozinho, com o tronco e a cabeça inclinados para frente. A Figura 11 (c) apresenta o oitavo mês. A ilustração mostra o bebê sentado sozinho, com o tronco e a cabeça eretos e as mãos, levemente, esticadas. Figura 11 (a) - Estágios da conquista do sentar independente no terceiro mês; Figura 11 (b) - No sexto mês; Figura 11 (c) - No oitavo mês Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 161). 30 a) b) c) A habilidade da locomoção depende de como o bebê consegue lidar com a força da gravidade, não há como ela se desenvolver sem que a estabilida- de esteja, proporcionalmente, desenvolvida. A habilidade de se movimentar, livremente, será alcançada quando o bebê realizar as tarefas desenvolvimentais rudimentares da estabilidade com êxito. As formas mais frequentes de loco- moção nas quais a criança se envolve, enquanto aprende a lidar com a força da gravidade, são os movimentos horizontais: rastejar, como na Figura 13 (a); o rastejar sentado, o engatinhar, como na Figura 13 (b); o andar de quatro e os movimentos de marcha ereta: andar com apoio, com alguém segurando as mãos, com a condução de alguém, sozinho com mãos para cima e com as mãos para baixo (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Descrição da Imagem: aa Figura 12 (a) refere-se aos estágios da conquista da posição em pé no sexto mês. Na ilustração, o bebê encontra-se em pé apoiando as duas mãos numa barra horizontal. A Figura 12 (b) refere-se ao 10º mês. Nela, o bebê encontra-se em pé, apoiando as duas mãos nas mãos de um adulto. A Figura 12 (c) refere-se ao 12º mês. O bebê encontra-se em pé, sozinho, sem o apoio das mãos. Figura 12 (a) - Estágios da conquista da posição em pé no sexto mês; Figura 12 (b) - No 10º mês; Figura 12 (c) - No 12º mês Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 161). 31 EDUCAÇÃO FÍSICA a) b) As capacidades manipulativas do bebê avançam por uma série de estágios, assim como acontece com a estabi- lidade e a locomoção. Na fase dos movimentos rudimen- tares, apenas o alcance, o pegar/pressão e o soltar (Figura 14), aspectos básicos na manipulação, são considerados. Estas capacidades são, fortemente, influenciadas pela ma- turação, que, quando atingida, faz a criança se beneficiar das oportunidades que surgem para praticar e melhorar as capacidades rudimentares de manipulação cuja urgên- cia na aquisição possibilita ao bebê em desenvolvimento o primeiro contato com objetos presentes no ambiente (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). a) c)b) Descrição da Imagem: a Figura 13 (a) refere-se ao rastejar. Na ilustração, o bebê encontra-se deitado de barriga para baixo. O joelho direito está flexionado e a cabeça está para frente, enquanto os braços estão esticados no chão. A Figura 13 (b) refere-se ao engatinhar. O bebê encontra-se de joelhos e mãos apoiadas no chão. Figura 13 (a) - Rastejar; Figura 13 (b) - Engatinhar / Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 163). Descrição da Imagem: a Figura 14 (a) refere-se às capacidades rudimentares de alcançar objetos. A ilustração mostra a criança sentada próxi- ma a um pequeno cubo, com a mão direita esticada em direção ao cubo. A Figura 14 (b) refere-se à capacidade rudimentar de pegar objetos. A criança está sentada tocando os cubos empilhados à sua frente. A Figura 14 (c) refere-se à capacidade rudimentar de soltar objetos. A criança está sentada próxima a três cubos, a mão esquerda tocando o peito e a mão direita esticada. Figura 14 (a) - Capacidades rudimentares de alcançar; Figura 14 (b) - Pegar; Figura 14 (c) - Soltar Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 166). 32 Similarmente ao que foi observado nas fases anteriores, a fase do movimento fundamental (padrão de movi- mento), nos primeiros anos de vida, resulta da fase an- terior, a do movimento rudimentar. Nesta nova fase, as crianças mais novas estão envolvidas, de forma ativa, na exploração e experimentação do que o corpo é capaz de fazer em relação aos movimentos. A criança passa a des- cobrir a forma de executar inúmeros movimentos de es-tabilidade, locomoção e manipulação, experimentando os movimentos de maneira isolada e, posteriormente, com- binando-os a outros, com o objetivo de adquirir cada vez mais controle sobre o desempenho de movimentos dis- tintos, seriais e contínuos, segundo a própria capacidade de acolher as mudanças nas exigências das tarefas. Con- forme Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), os exemplos de atividades que correspondem ao padrão de movimen- to, nesta fase, são: equilibrar-se com uma perna só, andar sobre o meio fio (estabilizadoras), correr, pular (locomo- toras), pegar e arremessar (manipulativas). O desenvolvimento dessas habilidades pode ser in- fluenciado pela maturação, contudo essa não é a única influência recebida. As demandas da tarefa e os fatores ambientais, como oportunidades de prática, incenti- vo e instruções e o contexto do ambiente (ecologia) são fortes influenciadores do desenvolvimento das habilidades do movimento fundamental. A utilidade dessas habilidades é para toda a vida bem como re- presentam componentes importantes do dia a dia dos adultos e das crianças (GALLAHUE; OZMUN; GOO- DWAY, 2013). Visando a exemplificar esta colocação, pensaremos no deslocamento a pé que fazemos para ir ao trabalho ou até o comércio, ou ainda, como forma de prática de atividade física; subir escadas para acessar cômodos da casa ou salas comerciais em edifícios; equi- librar-se em estruturas estreitas de passagens ou em um pé só, a fim de realizar alguma tarefa, o que exige a ma- nutenção do corpo em posições dinâmicas ou estáticas. Considerando o modelo da ampulheta, para com- preender as fases e os estágios do desenvolvimento motor (Figura 3), é importante ponderar que toda a fase do mo- vimento fundamental possui estágios separados, mas eles, comumente, se sobrepõem: o estágio inicial, o elementar emergente e o estágio proficiente. O estágio inicial (2 a 3 anos) representa as primeiras tentativas voltadas para o alvo de executar uma habilidade fundamental. Aqui, o movimento é marcado pela ausência de algumas partes ou por uma sequência inapropriada, por má coordenação e fluxo rítmico, pelo uso reduzido ou demasiado do corpo, com insatisfatória integração espacial e temporal do movi- mento (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Nos estágios elementares emergentes (3 a 5 anos), há mais controle motor e coordenação rítmica bem como melhor sincronização dos elementos temporais e espaciais. No entanto os padrões de movimento ao lon- go desses estágios, em geral, continuam reduzidos ou exagerados, mesmo que melhor coordenados. É comum muitos indivíduos, não, somente, crianças, não conse- guirem ir além dos estágios elementares emergentes em uma ou mais habilidades (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Os estágios de proficiência (5 a 7 anos) são os úl- timos da fase dos movimentos fundamentais. Costumam ser marcados pelo desempenho eficiente, coordenado e controlado, mais maduros em relação a estes três aspec- tos do processo. As habilidades de manipulação que re- querem o acompanhamento visual com cruzamento de objetos em movimento, como é o caso de movimentos de rebater e pegar, podem se desenvolver um pouco mais tarde. Para a eficiência no seu desenvolvimento, essas ha- bilidades requerem o desenvolvimento da maturação, as oportunidades de prática, o incentivo e um ambiente favo- rável ao aprendizado. Sem as oportunidades, o desenvol- vimento dessas habilidades fica comprometido e se torna difícil alcançar a proficiência, comprometendo, também, 33 EDUCAÇÃO FÍSICA a fase posterior: a do movimento especializado (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Agora que as crianças apresentam condições de explorar os seus potenciais ao vencer a força da gravidade (estabilidade), exercendo controle sobre a musculatura quando realizam movimen- tos com o corpo em determinado espaço (loco- moção) e evoluem, gradualmente, na habilidade de estabelecer contatos com objetos, de forma precisa e controlada (manipulação), no ambiente onde estão interagindo, o desenvolvimento motor se encaminhará ao refinamento (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). A partir desta fase, o desenvolvimento é direcionado, mais fortemen- te, às habilidades locomotoras e manipulati- vas. O foco continua na aquisição de vivências de movimentos que aumentem o repertório e permi- tam a evolução das habilidades motoras dos mo- vimentos fundamentais. Ainda não é o momento de direcionar a criança para a fase de especializa- ção, neste ponto, o profissional de Educação Física tem contribuição ímpar. Continuar estimulando a criança a desenvolver a competência motora bá- sica, a partir de uma mecânica corporal eficiente, nas diferentes práticas de movimentos que reque- rem habilidades distintas, é o melhor caminho. Veremos alguns exemplos de como ocorre o desenvolvimento das habilidades motoras fun- damentais de locomoção e manipulação ao longo dos seus estágios. Nos exemplos de habilidades de locomoção (Figuras 15) e de manipulação (Figuras 16), o estágio 1 corresponde ao estágio inicial, os estágios 2 e 3 aos estágios emergentes, enquanto o estágio 4 refere-se ao estágio proficiente. A sequência de duas das cinco habilidades de locomoção, nos seus respectivos estágios, está ilustrada nas Figuras 15. 34 a) b) Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Estágio 4 Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Estágio 4 Para que você possa compreender, de forma mais clara, o desenvolvimento das habilidades motoras, no vídeo disponível no QRCode, a seguir, você visualizará a execução da habilidade motora de locomoção (corrida), executada por três crianças que, de acordo com a idade cronológica, espera-se que estejam nos estágios inicial, emergente e proficiente. Observe, com atenção, a diferença de execução da mesma habilidade motora ao longo dos estágios de desenvolvimento. Descrição da Imagem: as figuras apresentam sequências ilustradas, uma embaixo da outra, separadas em estágios 1, 2, 3 e 4. Na Figura 15 (a), há uma sequência de movimentos de corrida que inicia na fase de bebê, quando a criança cai no final, e termina na fase adulta, com a corrida estabelecida. Na Figura 15 (b), há uma sequência de movimentos de corrida que se inicia na fase infantil, quando a criança salta, moderadamente, e finaliza na fase adulta, com o salto estabelecido. Figura 15 (a) - Sequências desenvolvimentais da corrida; Figura 15 (b) - Do salto horizontal / Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 251-259). https://apigame.unicesumar.edu.br/qrcode/15398 35 EDUCAÇÃO FÍSICA Nesse momento, observaremos, nas Figuras 16, qual é a sequência de desenvolvimento do chute, do voleio e da rebatida, três das cinco habilidades motoras fundamen- tais de manipulação, nos seus respectivos estágios. a) b) c) Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Estágio 4 Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Estágio 4 Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 Estágio 4 Descrição da Imagem: as figuras apresentam sequências ilustradas, uma embaixo da outra, separadas em estágios 1, 2, 3 e 4. A Figura 16 (a) refere-se às sequências desenvolvimentais do chute, por meio de uma sequência de movimentos de chutes curtos no estágio 1 até chegar a movimentos mais estabelecidos no estágio 4. Na Figura 16 (b), há uma sequência de movimentos de voleios curtos no estágio 1 até chegar a movimentos de voleio mais estabelecidos no estágio 4. Na Figura 16 (c), há uma sequência de movimentos curtos de rebatida com um taco no estágio 1 até chegar a movimentos de rebatida estabelecidos no estágio 4. Figura 16 (a) - Sequências desenvolvimentais do chute; Figura 16 (b) - Do voleio; Figura 16 (c) - Da rebatida Fonte: Gallahue, Ozmun e Goodway (2013, p. 235-241). 36 O alcance da proficiência nas diferentes modalidades esportivas, ou ainda, na dança e nos jogos presentes nas diversificadas culturas, é influenciada pelo desen- volvimento das habilidades motoras fundamentais. O repertório adquirido nessa fase em que se combinam habilidades motoras possibilitaàs crianças realizar movimentos com habilidade nas práticas desportivas e na dança. Porém se os princípios básicos não forem assimilados, o desenvolvimento motor não será efi- ciente. Isso significa dizer que, quando não acontece a capacidade de se movimentar com facilidade, com- binando as diferentes habilidades motoras fundamen- tais, a competência motora básica adquirida nos pri- meiros anos foi deficiente. Crianças que desenvolvem a competência motora em diferentes habilidades e movimentos estarão mais propensas a ter êxito na manifestação das próprias ha- bilidades na fase seguinte do modelo da ampulheta, isto é, na fase do movimento especializado (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Existe um modelo sinergista da competência motora e da atividade física capaz de auxiliar no entendimento da real importância do “bom êxito” no desenvolvimento motor ao longo de todas as fases. Vimos que, quando o desen- volvimento é deficiente em alguma das etapas, o esperado para a fase seguinte fica comprometido, o que impacta mais do que o comprometimento da próxima fase. Segundo Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), a relação entre a competência motora e a atividade físi- ca se fortalece ao longo das fases, então, as crianças que apresentam níveis mais elevados de competência mo- tora tendem a escolher para si níveis mais elevados de atividade física, também. Sabe o que acontece com as crianças com menor competência nas habilidades motoras? Elas se engajarão em níveis mais baixos de atividade física quando forem obrigadas a se envolver, ou preferirão ficar de fora, se houver a possibilidade de escolha. Isso te trouxe algu- ma lembrança das aulas de Educação Física? Ao mesmo tempo em que a baixa competência motora conduz a criança a baixos níveis de atividade física, o menor en- volvimento nessas atividades resultará em menos opor- tunidades de aumentar a competência motora. Interes- “É um equívoco pensar que as crianças apren- dem as habilidades de movimento fundamental ‘naturalmente’, pois muitas crianças sequer al- cançam o estágio de proficiência e, portanto, não possuem a competência motora necessá- ria para aplicação dessas habilidades em jogos e esportes durante a infância e a adolescência”. (David L. Gallahue, John C. Ozmun e Jacqueline D. Goodway)No vídeo disponível no QRCode, a seguir, você visualizará a execução da habilidade manipulativa (chute), executada pelas crianças do vídeo anterior. É possível verificar o desenvolvimento da habilidade ao longo dos três estágios de desenvolvimento na fase do movimento fundamental. 37 EDUCAÇÃO FÍSICA sante, não?! É um ciclo que se retroalimenta e que tende a permanecer nas fases posteriores, conduzindo o indi- víduo a um estilo de vida menos ativo. As consequências passam a ser severas não mais, somente, no contexto do desenvolvimento motor, mas na saúde como um todo. Há evidências, na literatura, as quais enfatizam, também, a importância do profissional de Educação Física para o de- senvolvimento de habilidades motoras e a promoção dos níveis de atividade física. Um estudo realizado por Rodri- gues et al. (2013) com 50 crianças, de 4 a 6 anos de idade, teve por objetivo verificar os efeitos de diferentes contextos no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais e no crescimento somático de alunos no Ensino Infantil. Das 50 crianças de ambos os sexos, 25 tiveram Educação Fí- sica com um professor da área e 25 tiveram atividades com o professor responsável pela turma ao longo do ano letivo. As atividades conduzidas nas aulas de Educação Físi- ca seguiram o conteúdo sugerido pelo sistema educacio- nal, ajustadas à realidade profissional e estrutural da es- cola. As crianças do grupo que tiveram aulas de atividade motora ministradas pelo professor polivalente, responsá- vel pela turma, foram compostas por atividades recreati- vas, realizadas em um playground instalado na escola. Os alunos passaram por uma bateria de testes que mensuram habilidades motoras de locomoção e manipulativas (con- trole de objeto) em dois momentos, denominados de pré Vimos, também, no documentário O Come- ço da Vida (42min00seg - 42min52seg), que o professor deve construir contextos interes- santes para o desenvolvimento do aluno. O adulto em si tem este papel, o de estimular a criatividade da criança, de propiciar ambien- tes favoráveis e permitir que o aluno os explo- re (42min00seg - 47min40seg). e pós-teste. No início do ano letivo (pré-teste), as avalia- ções revelaram semelhanças nos aspectos motores entre os grupos (RODRIGUES et al., 2013). Ao final do ano letivo (pós-teste), entretanto, as crian- ças que tiveram atividades com o professor da sala apre- sentaram redução no nível de atividade física, enquanto que as crianças que tiveram aulas de Educação Física com o professor especialista apresentaram manutenção no nível de atividade física e melhor desenvolvimento das habilidades motoras. No crescimento somático (físico), o envolvimento em diferentes contextos de aulas de Educa- ção Física ao longo do ano letivo não foi suficiente para promover alterações, isto é, os grupos apresentaram cres- cimento físico semelhante (RODRIGUES et al., 2013). O que se concluiu neste estudo (RODRIGUES et al., 2013) é que as aulas de Educação Física ministradas por um professor especialista contribuíram na melhora no desenvolvimento das habilidades motoras fundamentais bem como promoveram a manutenção do nível de ativi- dade física em crianças no Ensino Infantil. A última fase do modelo da ampulheta é a fase do movimento especializado (Figura 3), onde ocorre o refinamento (exatidão, precisão e controle) das habili- dades fundamentais de estabilidade, locomoção e mani- pulação bem como a combinação e a reelaboração para uso nas diferentes demandas da vida (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). Podemos dizer que são movimentos fundamentais ma- duros e que passaram por um processo de adaptação para a aplicação em contextos específicos, como a prática de ativi- dades esportivas e recreativas, ou ainda, para as demandas do cotidiano. Portanto, também é uma fase para toda a vida. Com o objetivo de exemplificação: os movimentos de pu- lar e saltar, realizados na fase do movimento fundamental, agora, podem ser combinados, resultando nas atividades de pular corda, executar saltos do atletismo e praticar dança folclórica (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). 38 Três estágios compõem a fase do movimento especiali- zado, a saber: o estágio de transição, de aplicação e de utilização ao longo da vida (GALLAHUE; OZMUN; GOODWAY, 2013). As características de cada estágio es- tão apresentadas no Quadro 1. Estágio Idade Características Transição 7 a 10 anos Aplicações mais complexas e específicas dos padrões de mo- vimento fundamental. Combina- ção e aplicação de habilidades de movimento para posterior execução em espaços esporti- vos e recreativos. Ex.: pular corda (mesmos ele- mentos da fase anterior — fun- damental — com mais precisão, forma e controle). Obs.: pais e professores preci- sam estar atentos para não re- querer que a criança se especia- lize ou restrinja o envolvimento nas atividades. Este é um está- gio de transição e focar, estrita- mente, em certas habilidades, neste momento, pode produzir resultados desfavoráveis ao de- senvolvimento. Em síntese, os padrões de movimento em que se baseiam as habilidades específicas no esporte são os mesmos presentes nas habilidades de movimento fundamental. Isso significa que, segundo Gallahue, Ozmun e Goodway (2013), o domínio, a competên- cia motora das habilidades de estabiliza- ção, locomoção e manipulação na fase de movimentos fundamentais favorece o aprendizado das habilidades específicas. Estágio Idade Características Aplicação 11 a 13 anos O adolescente começa a tomar decisões conscientes sobre a sua prática, baseadas, frequen- temente, na forma como ele se percebe em relação às chances de diversão e de sucesso a par-
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